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Signos identitários do Sámi e Sateré-Mawé: fatores de indução para o turismo étnico indígena

Identity signs of Sámi and Sateré-mawé: induction factors for the indigenous ethnic tourism

Signos identificativos del Sami y Sateré-mawé: factores de iducción para el turismo étnico indígena

Resumo

Este estudo tem como objetivo analisar os signos identitários da cultura dos povos indígenas Sateré-Mawé (Amazonas – Brasil) e Sámi (Tromsø – Noruega), como possíveis contribuições para o turismo étnico, partindo da complexa relação cultural advinda de cada povo. Levantando os traços simbólicos empregados nessas duas culturas, o estudo atende a uma perspectiva metodológica e teórica de cunho descritivo e exploratório, tendo por base a dialógica sugerida por Edgar Morin (2007), que nos permitiu tecer uma rede de conversa com outros saberes de abordagem etnográfica, a partir de estudos de caso. A coleta dos dados ocorreu em duas fases. Na primeira, foi realizada a pesquisa bibliográfica nas plataformas de Bases de dados Ebsco host e Scielo, para respaldo do embasamento teórico. A segunda fase foi realizada no lócus da pesquisa com 30 participantes de faixa etária entre 18 e 80 anos, divididos em grupos provenientes dos povos Sateré-Mawé e Sámi. Tais povos estão concentrados na zona metropolitana da cidade de Manaus e em Tromsø/ Noruega, respectivamente. As narrativas coletadas nesse período foram interpretadas a partir do marco teórico adotado, no qual utilizamos a Análise de Conteúdo (Bardin, 2016). Dessa forma, concluímos que os signos usados em rituais, artesanatos, grafismos, bebidas e alimentos são potencializadores do turismo étnico com foco no desenvolvimento sustentável. Isso decorre da cosmologia indígena ancorada no ambiente natural da floresta como meios de sobrevivência. Nessa direção, apontamos para a necessidade para salvaguardar o patrimônio material e imaterial dos indígenas das regiões em estudo.

Palavras-chave
Turismo étnico; Semiótica; Indígenas; Cultura

Abstract

This study aims to analyze the identity signs of the culture of the indigenous peoples Sateré-Mawé (Amazonas-Brazil) and Sámi (Tromsø-Norway), as possible contributions to the ethnic tourism, starting from the complex cultural relationship arising from each people. Taking into consideration the symbolic traits of these two cultures, the study proposes a methodological and theoretical perspective of a descriptive and exploratory nature, based on the dialogic suggested by Edgar Morin (2007), which allowed us to weave a network of conversation with another knowledge of ethnographic approach, based on case studies. The data collection took place in two phases. At first, a bibliographic research was carried out on the Ebsco host and Scielo database platforms to support the theoretical basis. The second phase was carried out locally, where the research is conducted, with 30 participants aged between 18 and 80 years, divided into groups from the Sateré-Mawé and Sámi peoples. Such peoples are concentrated in the metropolitan area of the city of Manaus and in Tromsø, Norway, respectively. The narratives collected in this period were interpreted from the theoretical framework adopted, in which we used Content Analysis (Bardin, 2016). Thus, we conclude that the signs used in rituals, crafts, graphics, drinks and food are driving forces of ethnic tourism with a focus on sustainable development. This arises from indigenous cosmology anchored in the natural environment of the forest as a means of survival. In this direction, we point to the need to safeguard the material and the intangible heritage of the indigenous people of the regions under study.

Keywords
Ethnic tourism; Semiotics; Indigenous people; Culture

Resumen

Dicho estudio tiene como objetivo analizar los signos identificativos de la cultura de los pueblos indígenas Sateré-Mawé (Amazonas – Brasil) y Sami (Tromsø – Noruega), cono posibles contribuciones para el turismo étnico, partiendo de la compleja relaci-ón cultural advenida de cada pueblo. Levantando los trazos simbólicos empleados en estas dos culturas, el citado estudio atiende a la perspectiva metodológica y teórica de cuño descriptivo y exploratorio, tomando como base la dialógica sugerida por Edgar Morin (2007) que nos ha permitido tejer un abanico de conversaciones con otros saberes de abordaje etnográfico, partiendo de los estudios de tal caso. La reco-lección de datos sucedió en dos atapas: en la primera fue realizada una pesquisa bibliográfica en las plataformas de Bases de datos Ebsco host y Scielo, para respaldo del embasamiento teórico. La segunda etapa se llevó a cabo en el locus de la pes-quisa con 30 participantes de la escala etaria entre 18 y 80 años, divididos en grupos provenientes de los pueblos Sateré-Mawé y Sami. Tales pueblos están concentrados en la zona metropolitana de Manaos y en Tromsø, Noruega; respectivamente. Las narrativas recolectadas en ese período fueron interpretadas a partir del marco teóri-co adoptado, en la cual utilizamos el análisis del contenido (Bardin, 2016). De esta forma concluimos que los signos usados en rituales, artesanías, grafismos, bebidas y alimentos son potencializadores del turismo étnico con enfoque en el desarrollo sostenible. Esto discurre de la cosmología indígena anclada en el ambiente natural de la foresta como medios de supervivencia. En ese rumbo, apuntamos para la nece-sidad de salvaguardar el patrimonio material e inmaterial de los indígenas de las regiones de tal estudio.

Palabras clave
Turismo étnico; Semiótica; Indígenas; Cultura

1 INTRODUÇÃO

Pelo pujante saber xamânico, inquerimos: quem são esses indígenas de tradição ancestral, amazônicos e noruegueses que primam pelo turismo étnico pautado na sustentabilidade em solo indígena? Quais os saberes e fazeres milenares indutores e atrativos para os turistas? Nessa direção, apresentamos este estudo como parte dos resultados alcançados em conformidade com o recorte da pesquisa doutoral.

Nesse viés, nos permitimos analisar o segmento do turismo étnico a partir da cultura dos povos indígenas Sateré-Mawé (Amazonas – Brasil) e Sámi (Tromsø – Noruega). Essa trajetória seguiu a direção da complexa relação simbólica que os une, sendo componente indutor presente nas práticas ritualísticas, revelando suas contribuições para o turismo étnico. Longe de terminar, vimos que a compreensão das culturas é algo ilimitado e incompleto, conforme preconizado por Edgar Morin (2007)Morin, E. (2007). O Método 3. conhecimento do conhecimento. (Juremir Machado da Silva, Trad., 4 ed.). Sulina..

A imersão pelos ventos nórdicos gelados e a aventura pelos exuberantes fiordes moldurados pelas paisagens míticas de Tromsø nos convidaram a pensar o planeta como único universo que alimenta os seres terrestres dos quais devemos cuidar. A relação entre Sámi e natureza vai além dos modos de subsistência, das técnicas utilizadas e da sua localização. Essa relação ficou assente em lendas e histórias, tornando-se cultura do ambiente; foco do mundo Sámi. Em todas as narrativas a natureza apresenta cenários convidativos demonstrando a força da mitologia deixada pela ancestralidade (Faur, 2014Faur, M. (2014). Mistérios Nórdicos, Deuses, Runas, Magias, Rituais. Editora Pensamento.). Conhecemos a cultura Sámi e as respectivas trajetórias no cenário do Ártico, conforme figura 1, bem como suas preocupações com as costeiras e com as geleiras do referido país. Sámi ganhou liberdade de expressão por meio de diálogos com o governo norueguês, vencendo uma árdua e dolorosa luta que persistia por anos, a fim de garantir a tradição cultural, a língua e os costumes (Dorsch, 2017Dorsch, L. L. P. (2017). A objectificação da cultura Sámi: adaptabilidade no tempo e reconhecimento da identidade no norte da Sápmi norueguesa. [Dissertação de Mestrado em Antropologia, Instituto Universitário de Lisboa]. Recuperado de: http://hdl.handle.net/10071/14594.
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).

Figura 1
Localização da cidade de Tromsø – Noruega

À vista disso, os pressupostos deste estudo buscam responder aos questionamentos norteadores relativos aos aspectos simbólicos presentes na tradição de ambos os povos: Quais os principais elementos sígnicos da ritualística dos povos Sateré e Sámi? Quais contribuições expressam para o turismo étnico? Nessa direção, procuramos o que une os povos em estudo, considerando o do polo Ártico e o outro que vive no Brasil, Amazonas.

No Brasil, o estado do Amazonas se apresenta com cenário de múltiplos adjetivos, os quais remetem à rica diversidade linguística e étnica ancoradas na fauna e flora amazônicas. As pessoas que nele habitam manifestam bravuras e felicidades nas andanças pelas estradas e sobre as águas dos rios, lagos e igarapés. No sopro dos ventos, singram nas suas pequenas embarcações, ora em tempestades amazônicas, ora na calmaria.

A presença da mitologia amazônica dialoga com as vidas indígenas, seja com as formigas tucandeiras ou com o alentado pajé pelas curas que vêm da floresta. A cada dia, o povo Sateré-Mawé se reafirma com as práticas do ritual que mexe com o imaginário das populações indígenas e não indígenas. A mística revigora-se a cada amanhecer, de forma inovadora, na prospecção de um Amazonas sem desmatamento e sem queimadas.

O povo Sateré-Mawé, habitante da região metropolitana de Manaus, Amazonas, Brasil, figura 2, tem se afirmado pela tradição cultural que é transmitida de geração a geração, desde a fase de curumim1 1 Termo indígena designado para criança do sexo masculino. e de cunhatã2 2 Termo designado para criança do sexo feminino. , conforme expressado pelos líderes indígenas.

Figura 2
Localização da área de estudo do povo Sateré-Mawé

As duas nações, Sateré e Sámi, enfrentaram muitos preconceitos ao migrarem para as cidades em busca de segurança, educação, saúde e melhores condições de vida. Concordamos, em um tempo pretérito, com o canônico Max Weber (2009)Weber, M. (2009). From Max Weber: essays in sociology. Routledge., que enfatizou a capacidade de o homem tecer sua própria teia, ancorada e rica de significados, que se constrói na cultura de forma diária e interpretativa. Estudos recentes realizados por Dos Santos et al. (2020)Dos Santos, D. M. A., de Carvalho, J. M., & Tricárico, L. T. (2020). Patrimônio imaterial e o turismo étnico em comunidade indígena, em Iranduba, Amazonas. Turismo e Sociedade, 12(3), 16 -35. http://doi.org/10.5380/tes.v12i3.69779.
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apontam a promoção do turismo étnico como um fator decisivo na prospecção dos saberes e do protagonismo no segmento. É a partir dos conhecimentos ancestrais que os turistas imergem na cultura em busca de conhecer as tradições culturais.

Nessa direção, este artigo tem como objetivo analisar os signos identitários dos indígenas Sateré-Mawé (Amazonas – Brasil) e do povo Sámi (Tromsø – Noruega), como possíveis contribuições para o turismo étnico. Trata-se de uma a pesquisa de cunho qualitativo, descritivo e exploratório, imbuída de questões que provocaram conexões com outras ciências, no rebojo da interdisciplinaridade, na perspectiva de Morin (2007)Morin, E. (2007). O Método 3. conhecimento do conhecimento. (Juremir Machado da Silva, Trad., 4 ed.). Sulina.. A técnica de coleta de dados utilizada foi a observação participante junto a 30 (trinta) indígenas, sendo 15 (quinze) Sámi e 15 (quinze) Sateré-Mawé, moradores de áreas metropolitanas. No geral, esses participantes estão na faixa etária de 18 a 80 anos, e se dispuseram a participar das rodas de conversas e entrevistas (Creswell, 2010Creswell, J. W. (2010). Projeto de pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto; tradução Magda Lopes. Artmed.). Nesse percurso, procedemos com a aplicação de entrevistas abertas com os líderes das comunidades, acendendo “as memórias vivas no tempo da narrativa histórica e poética” (Ricoeur, 2010Ricoeur, P. (2010). Do texto à acção: ensaios de hermenêutica II. Rés-Editora., p. 113).

No campo do turismo étnico, não se trata de se apropriar da identidade ou de colocar a cultura de um povo como mercadoria comercial, mas sim o reconhecimento e a valorização dos povos indígenas em espaço global. Como exemplo, desde a década de 90 os Sámi vêm se afirmando no turismo como forma de garantir e divulgar a sua cultura. Para Pettersson (2002)Pettersson, R. (2002). Sámi tourism in northern Sweden: Measuring tourists’ opinions using stated preference methodology. European Tourism Research Institute. http://doi.org/10.1177/146735840200300407
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, a Noruega é um exemplo de sucesso do turismo étnico há várias décadas, pois eles procuraram agregar elementos de sua cultura e de outras atividades que exercem para desenvolver atividades turísticas de forma responsável.

Em Manaus, desde 1998, com incentivo dos hotéis de selva, as comunidades indígenas procuraram se reinventar para alcançar o sustento econômico fora das tradicionais Terras Indígenas (TI), conforme acenou Santos (2015)Santos, C. L. (2015). Etnografia Sateré-Mawé – Sahu-Apé – Turismo e cultura. Valer.. Assim, culturas de povos tradicionais têm despertado o interesse de turistas, principalmente em virtude de sites que ofertam a procura em títulos como: “Conheça a Amazônia e Ritual Indígena”, ou “conheça a Noruega: alimente as renas; venha conhecer a Aurora Boreal”. Frases convidativas de endereços virtuais, como o do blog de André Garcia Bonotto.

Para tanto, apoiamo-nos no enfoque etnográfico, semiótico e em abordagens de outras perspectivas interdisciplinares, a partir de um estudo entrelaçado por várias áreas do conhecimento, como a história, a antropologia, a geografia e a semiótica aplicada ao turismo, sem a disrupção de todo o processo. Entretanto, não queremos nos deter em tecer críticas sobre o tema, mas sim acenar para um novo momento do turismo cultural. Nesse sentido, Tromsø e Manaus entrelaçam diálogos com a finalidade de garantia dos povos indígenas e sua inserção como protagonistas no turismo.

2 ASPECTOS CONCEITUAIS

2.1 Turismo étnico indígena: pelo olhar semiótico

Atualmente, o turismo conta com muitos segmentos ou tipos de turismo; desde os mais evidentes, aos mais exóticos e até mesmo os que instigam a curiosidade e saciam o ego. De acordo com Panosso Netto et al., (2009)Panosso Netto, A. e Ansarah, M. G. dos R. (Eds). (2009). Segmentação do mercado turístico: estudos, produtos e perspectivas. Manole., a ciência, no uso das suas atribuições, tem como papel sistematizar esses novos tipos de turismo, sem limitar as possibilidades de expansão e inovação dos novos segmentos. O Ministério do Turismo (Brasil, 2010Brasil. Ministério do Turismo. (2010). Programa de Regionalização do Turismo. Roteirização Turística – Módulo Operacional 07. Brasília., p. 20), ao conceituar turismo étnico, determina-o como “atividades turísticas envolvendo a vivência de experiências autênticas e o contato direto com os modos de vida e a identidade de grupos étnicos”. Nesse conceito paira um breve entendimento sobre o termo “autêntico”, que pode ser compreendido como nativo ou aquele que tem antecedentes indígenas e se reconhece como tal, firmado pela etnicidade, diferente de indígenas isolados, sem contato com o não indígena.

Do ponto de vista conceitual, sobre turismo étnico, Berghe (1992, p. 223)Van den Berghe, P. L. (1992). Turismo e divisão étnica do trabalho. Annals of Tourism Research. 19 (2), 234-249. https://doi.org/10.1016/0160-7383(92)90079-5
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afirma que “é uma forma de turismo onde a cultura e o exotismo dos nativos são o principal atrativo turístico”, sendo realizado num espaço preservado. Esse pensamento é gerado principalmente pelo interesse do turista por experiências culturais excêntricas, no desejo de estabelecer uma interação com grupos étnicos, agregando um manancial de conhecimentos.

Nesse sentido, Cardozo (2006, p. 145)Cardozo, P. F. (2006). Considerações preliminares sobre produto turístico étnico. PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 4(2), 143-152. https://doi.org/10.25145/j.pasos.2006.04.010
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enfatiza que o “turismo étnico se configuraria como uma tendência e forte apelo de atração”, como um produto turístico agregado de subjetividade e símbolos da etnicidade, como fio condutor da visitação aos indígenas nativos ou interculturalizados, que já receberam carga cultural do não indígena. As ações desenvolvidas no turismo étnico ocorrem principalmente pelas visitas às comunidades indígenas, com apresentações de celebrações – rituais, cantos, danças e atrações típicas, bem como com a aquisição de souvenires, artesanato, pinturas corporais e grafismos (Greenwood, 1992 citado em Corbari, et al., 2016Corbari, S. D., Bahl, M., & Souza, S. D. R. D. (2016). Reflexões sobre conceitos e definições atinentes ao turismo envolvendo comunidades indígenas. Revista Investigaciones Turísticas, 12, 50-72. https://doi.org/10.14198/INTURI2016.12.03
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).

Tecer essa relação desvela estudos para discussões acadêmicas e como proposição para ações governamentais do Estado do Amazonas, para fins de melhor posicionamento do produto turístico ofertado. Com isso, destacamos a prospecção de novas rotas e percursos turísticos, ainda sem visibilidade no planejamento e gestão do Estado. No que diz respeito à cidade de Tromsø, há contínua manutenção e valorização do protagonismo indígena. Atualmente, dialogando com Bauman (2007)Bauman, Z. (2007). Tempos líquidos. (Carlos Alberto Medeiros, Trad). Zahar., o mundo está globalizando os saberes e sabores dos povos indígenas como fatores determinantes para a indução. Dito isso, levantamos a carência de investimentos acessíveis aos produtores da cultura amazônica.

Para Urry (2001, p. 30)Urry, J. (2001). O Olhar do turista. Studio Nobel. SESC., o “turismo envolve, necessariamente, o devaneio e a expectativa de novas e diferentes experiências”, ou seja, a cada vivência, o participante é instigado a novos sentidos. Nessa direção, MacCannell (1978)MacCannell, D. (1978). The Tourist. Schocken. considera que o turismo é carregado de um sistema semiótico em que cada objeto apresenta um símbolo de modo interpretativo para aquele que aprecia ou vivencia qualquer momento.

O turismo étnico se apresenta de forma atrativa e complexa, estabelecendo relações interétnicas em trocas de vivências. Assim, em contextos urbanos, é possível estabelecer um convívio harmonioso que agregue valor de subsistência aos povos. Abre, então, “possibilidade de reorganização imaginária e simbólica de si, do outro e dos alhures” (Amirou, 2007Amirou, R. (2007). Imaginário turístico e sociabilidades de viagem. Porto: Editora Estratégias Criativas., p. 11), dentro do imaginário turístico. Para a líder indígena Sateré-Mawé, Sra. Midian Silva (2020): “nós vivemos da comercialização dos artesanatos e das apresentações do ritual da Tucandeira”. Para Leach (2009)Leach, E. (2009). Cultura e Comunicação (2 ed.). Portugal., o ritual não é um tipo de ação e sim qualquer tipo de ação rotinada. A cerimônia do ritual de passagem gera mudanças significativas no grupo e, sobretudo, para o iniciante. Um momento de aprendizagem passado de geração a geração, com o mesmo sentimento de pertencimento do povo, isto é, de ser guerreiro Sateré, incluso dentro da nação, de forma “recuperadora e reguladora” (Turner, 2005Turner, V. (2005). Floresta de símbolos. EdUFF., p. 78). O turismo voltado a esse tipo de atividade é promissor no estado do Amazonas e considerado de extrema necessidade para o empoderamento e para o protagonismo dos indígenas que vivem na área metropolitana de Manaus.

As práticas bem-sucedidas no turismo da cidade de Tromsø, cuja tradição cultural, ao longo do tempo, se reinventou para garantir a memória e a cultura do povo, bem como seus signos linguísticos e não linguísticos, tem se tornado cada vez mais evidente, como destacou Pettersson (2002)Pettersson, R. (2002). Sámi tourism in northern Sweden: Measuring tourists’ opinions using stated preference methodology. European Tourism Research Institute. http://doi.org/10.1177/146735840200300407
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. Vimos expressões por meio de canções tribais, pinturas rupestres, grafismos, vestimentas, alimentação e, sobretudo, no ato de pastorear e ser pessoa Sámi, valorizando os aspectos humanos da natureza, dos costumes, hábitos, como marcas identitárias indígenas daquele país. O turismo étnico, segundo Corbari et al. (2016)Corbari, S. D., Bahl, M., & Souza, S. D. R. D. (2016). Reflexões sobre conceitos e definições atinentes ao turismo envolvendo comunidades indígenas. Revista Investigaciones Turísticas, 12, 50-72. https://doi.org/10.14198/INTURI2016.12.03
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, está ancorado no turismo cultural e, de acordo com pesquisadores das áreas das ciências sociais, do turismo e da antropologia, os impactos são positivos e refletem para o desenvolvimento do turismo cultural. No entanto, a transformação de bens e serviços da cultura facilita a preservação das tradições culturais que talvez se extinguissem, se não fossem inseridas no turismo, como destacou Corbari et al. (2016)Corbari, S. D., Bahl, M., & Souza, S. D. R. D. (2016). Reflexões sobre conceitos e definições atinentes ao turismo envolvendo comunidades indígenas. Revista Investigaciones Turísticas, 12, 50-72. https://doi.org/10.14198/INTURI2016.12.03
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.

Trilhando, pois, pelos achados teóricos sobre signos e sua relação com o objeto e o interpretante, temos uma visão axial, mas que precisa ser relacionada com o todo (Morin, 2007Morin, E. (2007). O Método 3. conhecimento do conhecimento. (Juremir Machado da Silva, Trad., 4 ed.). Sulina.). Na premissa de Peirce (2017)Peirce, C. S. (2017). Semiótica (3 ed.). Perspectiva., buscaremos interrelacionar o turismo étnico à luz da semiótica como um dos principais fatores de estímulos e de circulação para a mobilidade humana em contexto contemporâneo. Para Mello (2019, p. 69)Mello, C. (2019). Semiótica do Turismo Aplicada. Editora Appris., “o Turismo é, também, um modelo exemplar de sistema sígnico” que possibilita um conjunto de representação. Dessa forma, configura-se como uma atividade cultural impulsionada pelo desejo dos grupos sociais em vivenciar experiências diferenciadoras de seu cotidiano, seja em espaços indígenas ou não indígenas, destacando que o turismo cumpre seu papel histórico, social e cultural.

No mundo pós-moderno, vários sistemas de tradições de distintos grupos estão em risco de extinção, seja por questões linguísticas ou pelo desaparecimento das populações indígenas. As causas são apontadas como rupturas ligeiras das transformações nos ambientes naturais e culturais, além de aceleração no ritmo das alterações econômicas, sociais, ambientais e políticas que ocorrem no planeta por exigência do mercado, num discurso globalizado.

Sob a Teoria da Complexidade (Morin, 2007Morin, E. (2007). O Método 3. conhecimento do conhecimento. (Juremir Machado da Silva, Trad., 4 ed.). Sulina.), este estudo navega em um tempo presente, que instiga novas discussões para o campo de estudo do turismo, apontando para o turismo étnico indígena alicerçado no turismo cultural, características que inserem variados elementos sígnicos dentro de um sistema simbólico de interpretações. Esses, por sua vez, contemplam os valores éticos, sociais e culturais – arquétipos de vivências, hábitos, saberes, modos de fazer, modos de viver e percepções que dão sentido à essência do indígena. Destacamos que, nesse novo campo de turismo, precisamos evitar que ocorram bruscas alternâncias e estreitar a visão êmica e ética.

Entendemos que identidade étnica não se caracteriza como algo estático, pois faz interculturalidade entre os povos. Barth e Lask (2000)Barth, F. (2000). O guru, o iniciador e outras variações antropológicas. Contra Capa Livraria. Recuperado de: https://ria.ufrn.br/123456789/1607
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consideram que esta pode ser construída a partir das interações dos grupos sociais. No entanto, ele afirma que a influência mútua com outros grupos não leva ao desmoronamento ou aniquilamento da cultura em espaços híbridos, mas contribui para o empoderamento das populações. Nesse sentido, é concebível que a fricção étnica persista.

É sabido que, para a cosmovisão indígena, o meio ambiente se apresenta como gerador de vida harmônica com a natureza “numa espiritualidade ecológica”, conforme mencionou Boff (2016, p. 183)Boff, L. (2016). A Terra na palma da mão: uma nova visão do planeta e da humanidade. Vozes.. Nesse ambiente, o indígena se realiza, pois a partir de uma crença animista interage com a natureza numa relação de apaziguamento com seus deuses, e neles e com eles se realizam e se projetam com pessoas no mundo numa semiose que, segundo Mello (2019, p. 88)Mello, C. (2019). Semiótica do Turismo Aplicada. Editora Appris., “representa várias possibilidades para o turismo”.

Segundo Brito (2009)De Brito, R. M., & de Brito Braga, G. (2015). Identidade e diversidade cultural na construção de conhecimentos no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Amazonas. Educación, 24(46), 27-46. Recuperado de: https://dialnet.unirioja.es/descarga/articulo/5061322.pdf
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, para compreendermos melhor o turismo étnico, precisamos adotar procedimentos, a fim de evitarmos influências, ou mesmo modificar os usos e costumes dos povos. Por essa razão, um dos aspectos fundamentais para a realização do turismo étnico está relacionado à preocupação com a perda da identidade cultural, marcadas pelos elementos de representações de cada povo (Bahl et al., 2009Bahl, M. (2009) Dimensão cultural do turismo étnico. In: A. PANOSSO NETTO; M. G. R. ANSARAH. (Eds.). Segmentação do mercado turístico: estudos, produtos e perspectivas. Barueri: Manole, p. 121 -140.). O turismo com responsabilidade agrega valores culturais, morais, interétnicos e interculturais, em prol do bem-estar social e econômico de um grupo.

3 METODOLOGIA

A complexidade das pesquisas sociais realizadas nos ambientes dos povos indígenas caminha por meio das relações de contrastes. Transitamos nesse campo e percebemos o quanto é diversificado e complexo, ao mesmo tempo que carrega encantos mágicos e sentimentos que nos envolvem. Questões de respeito às diferentes culturas são elementos primordiais para adentrar no campo.

A partir disso, destacamos que nossa abordagem é qualitativa, apoiada no pensamento de (Morin, 2007Morin, E. (2007). O Método 3. conhecimento do conhecimento. (Juremir Machado da Silva, Trad., 4 ed.). Sulina.), com estratégias etnográficas e semióticas do tipo descritiva e exploratória, a partir de estudos de caso comparativos (Yin, 2015Yin, R. K. (2015). Estudo de Caso: Planejamento e métodos. Bookman editora.). A etnografia se ancora nos aspectos antropológicos e sociais e, conforme descreve Geertz (2008, p. 4)Geertz, C. (2008). A interpretação das culturas. LTC., “orienta o pesquisador na seleção de informantes, no estabelecimento das relações com a comunidade, além de direcionar quanto ao mapeamento e construção do diário das atividades de campo”. Nesse sentido, o conhecimento dos povos indígenas Sateré-Mawé e Sámi não são lineares, isto é, possuem singularidades que os identificam e exigem inferências e interpretações. Esses saberes não podem ser ignorados no cenário do turismo, pois revelam uma carga semântica de natureza ancestral que contribui com o espaço vivido (Morin, 2007Morin, E. (2007). O Método 3. conhecimento do conhecimento. (Juremir Machado da Silva, Trad., 4 ed.). Sulina.).

O universo de participantes da pesquisa é composto por 30 indígenas, sendo 15 deles advindos da área metropolitana de Manaus/Amazonas, Brasil, e 15 do município de Tromsø/Noruega, os quais realizam atividades turísticas. Esses estão na faixa etária de 18 a 80 anos. Vale destacar que, “por participação, queremos dizer envolvimento de agentes ativos” (Olsen, 2015Olsen, W. (2015). Coleta de dados: debates e métodos fundamentais em pesquisa social. Penso Editora., p. 103). A assertiva do autor demonstra que a pesquisa participante é colaborativa entre as partes envolvidas, permite um melhor entrosamento tanto entre os membros da pesquisa, quanto com o objeto pesquisado, por meio do processo de reflexão e ação contínua entre seus participantes.

Do ponto de vista etnográfico, De Brito e De Brito Braga (2015, p. 51)De Brito, R. M., & de Brito Braga, G. (2015). Identidade e diversidade cultural na construção de conhecimentos no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Amazonas. Educación, 24(46), 27-46. Recuperado de: https://dialnet.unirioja.es/descarga/articulo/5061322.pdf
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destacaram que “a investigação se refere à análise descritiva da sociedade humana”, visa a conhecer, descrever, explicar e interpretar com profundidade o modo de vida e a cultura de um povo. Desse modo, Geertz (2008)Geertz, C. (2008). A interpretação das culturas. LTC. ressalta a questão da etnografia enquanto uma experiência interpretativa na qual o pesquisador não irá perceber aquilo que seus informantes percebem, mas através do que os outros percebem. No que tange à seleção dos participantes, essa foi do tipo intencional, por acessibilidade, constituídas por lideranças indígenas que aceitaram participar da construção dialógica (Olsen, 2015Olsen, W. (2015). Coleta de dados: debates e métodos fundamentais em pesquisa social. Penso Editora.).

Quanto à coleta dos dados, essa se deu em duas fases. Na primeira, recorremos aos estudos por meio de pesquisas bibliográficas em livros, nas plataformas de bases de dados Ebsco, Scielo, Google Acadêmico, além de repositórios digitais de universidades e portais de periódicos internacionais. Na segunda fase, entramos no campo da pesquisa em duas comunidades indígenas Sateré-Mawé, localizadas na região metropolitana da cidade de Manaus, e em uma comunidade Sámi, na cidade de Tromsø, ao norte da Noruega. A entrada ocorreu após realizarmos contatos telefônicos, mensagens de e-mails, participação em eventos nacionais e internacionais, rodas de conversas, oficinas e participação em assembleias nas comunidades. Segundo Creswell (2010, p. 42)Creswell, J. W. (2010). Projeto de pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto; tradução Magda Lopes. Artmed., um dos principais aspectos da coleta dos dados é “observar os comportamentos dos participantes”.

Na coleta dos dados, gravamos as entrevistas abertas e realizamos a captura de imagens fotográficas junto aos participantes, relacionando a trajetória específica de cada um deles, observando e ouvindo as suas posições e preocupações (Olsen, 2015Olsen, W. (2015). Coleta de dados: debates e métodos fundamentais em pesquisa social. Penso Editora.).

Em Tromsø, foram necessários tradutores digital e presencial para aplicação das técnicas de entrevistas, em norueguês e sámi. Coletamos os dados e construímos o texto no mesmo local do campo, a fim de evitar duplo sentido na interpretação dos dados. Recorremos ao caderno de campo com as anotações e nos debruçamos sobre a produção de mapas. Também vivenciamos as memórias registradas em fotografias, as gravações das histórias relatadas, as entrevistas, bem como todos os registros possíveis que utilizamos como recursos e técnicas para o compósito deste estudo.

Os contatos para as entrevistas foram realizados com o uso de roteiros. Essas tiveram a participação de líderes tuxauas, comunitários residentes nas cidades, líderes de associações, organizações públicas e privadas, turistas e visitantes, bem como pesquisadores. Todas essas foram realizadas no Brasil e em Tromsø.

Dialogando com Bardin (2016)Bardin, L. (2016). Análise de Conteúdo (3 ed.). Edições 70. , os dados coletados foram organizados por categorias mediante critérios preestabelecidos e comparáveis, transcritos à luz da Análise de Conteúdo. Em seguida, realizou-se a interpretação dos dados e a produção textual, além de “classificar elementos em categorias que impõe a investigação do que cada um deles tem em comum com o outro” (Bardin, 2016Bardin, L. (2016). Análise de Conteúdo (3 ed.). Edições 70. , p. 148). A categorização das narrativas proporcionou organizar e compreender os dados com o intuito de revelar informações sobre os signos identitários, dos dois povos estudados. Nessa direção, seguimos as etapas propostas por Bardin (2016)Bardin, L. (2016). Análise de Conteúdo (3 ed.). Edições 70. , denominadas: pré-análise, exploração do material e tratamento dos dados e, por fim, a inferência e a interpretação.

Na pré-análise, os documentos foram organizados de acordo com a intenção, como sinalizador para a fase posterior para a interpretação. Nessa fase, entramos em contato com os discursos, com os quais estabelecemos as primeiras interconexões (Bardin, 2016Bardin, L. (2016). Análise de Conteúdo (3 ed.). Edições 70. ). A exploração do material foi realizada com a leitura das respostas, sistematização e análise dos resultados da fase anterior, organizados em categorias. Na fase da interpretação dos dados, selecionamos os dados encontrados, agrupando-os de acordo com o povo indígena estudado, construindo resultados com as informações do objetivo geral.

Por fim, realizamos as inferências e interpretações em relação aos objetivos elencados para a pesquisa, encontrando os elementos intersectivos à luz da semiótica, entre Sateré-Mawé e Sámi, os quais apresentamos nesse artigo (Peirce, 2017Peirce, C. S. (2017). Semiótica (3 ed.). Perspectiva.). Partindo dessa assertiva, como propósito mais geral, este estudo postula que o turismo étnico tem contribuição para o entendimento das questões de tradição cultural na contemporaneidade. Os resultados foram analisados e organizados em categorias a partir do mito de origem, base da cultura dos povos.

Quanto aos aspectos éticos, este estudo está registrado no Comitê de Ética com o Certificado de Apresentação de Apreciação Ética (CAAE) n.º 14818919.2.0000.5016, parecer de nº 4.270.019, atendendo às exigências das resoluções do Comitê (Creswell, 2010Creswell, J. W. (2010). Projeto de pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto; tradução Magda Lopes. Artmed.). Para a aplicabilidade do termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE), usamos uma linguagem de fácil entendimento para os comunitários pertencentes ao povo Sateré-Mawé e Sámi, utilizando a tradução simultânea como estratégia de comunicação.

4 RESULTADOS

4.1 O contexto

A cultura dos povos Sateré-Mawé e Sámi faz uma viagem pela ritualística simbólica sob o olhar do turismo étnico. O recorte do estudo está no minucioso levantamento dos signos usados em práticas ritualísticas dos dois povos, e que tem acordado para o potencial econômico, social e cultural, como partes agregadoras ao turístico.

De tal modo, ao fazer a imersão nos estudos sobre este povo, nos deparamos com vários elementos identitários de representações empregados nos rituais, e que são indutores para o turismo. Isso não significa dizer que sejam apenas os elementos de ligação que os unem, mas também os processos de valorização da tradição cultural, quando nos propomos a realizar estudos comparativos, como evidenciou Durkheim (1985)Durkheim, E. (1985). As regras do método sociológico. Editora Nacional.. Sendo assim, os registros encontrados durante a imersão são contribuições para a garantia dos Sámi e dos Sateré (Boff, 2016Boff, L. (2016). A Terra na palma da mão: uma nova visão do planeta e da humanidade. Vozes.).

Em contextos amazônicos, Santos (2015)Santos, C. L. (2015). Etnografia Sateré-Mawé – Sahu-Apé – Turismo e cultura. Valer. enfatizou que o fortalecimento econômico e a crescente expansão do turismo foram acompanhados pelo aceleramento do fluxo em destinos turísticos diferenciados. Esses fatos permitiram que a etnia Sateré-Mawé buscasse alternativas de realizar as manifestações culturais sem descaracterizar a cultura. Assim, para o pajé Freitas (comunicação pessoal, 19 de maio, 2020), “o turista quando põe a mão na luva está valorizando a nossa cultura, além de promover renda remuneratória para a comunidade”. Com esse sentimento, o pajé tem o desejo de compartilhar os saberes de forma responsável dentro do turismo étnico. É também o momento de compreender semioticamente a essência de viver e conviver em empatia e no intimismo com a Mãe Natureza, aflorando sentimentos, desejos, em harmonia com um universo geosemântico poetizado pelos cosmos espirituais.

Da mesma forma, o povo Sámi que vive do pastoreio atrai visitantes de várias partes do mundo, tendo o elemento sígnico da rena como representante, numa relação harmônica, conforme destacou (Alves, 2011Alves, K. J. V. D. C. R. (2011). Educação artística numa sociedade multicultural: estudo da cultura material do povo Sámi. [Dissertação de Mestrado, Instituto Politécnico de Viana do Castelo, Portugal]. Recuperado de: http://repositório.ipvc.pt/bitstream/20.500.11960/1609 .
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). Nessa direção, também o povo Sateré-Mawé carrega um dos seus maiores símbolos, a formiga tucandeira, usada num ritual de passagem masculino, no qual o neófito passa ao status de guerreiro, tornando-se, de acordo com as tradições do povo, um verdadeiro Sateré. Outra contribuição é a sinalização do turismo étnico em áreas metropolitanas, para um turismo sustentável no contexto social, ambiental e cultural com a finalidade de permanência da tradição, conforme mosaico de signos identitários da cultura Sateré-Mawé, figura 3. Esses signos identitários expressam os artesanatos, a luva da Tucandeira, utensílios e as bebidas tarubá3 3 Tarubá – bebida preparada da fermentação da mandioca, usada em rituais. e guaraná (waraná)4 4 Um dos signos do Sateré-Mawé por onde nasce o mito do povo, associado ao guaraná (Paulinia cupana). Conforme dados do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), em outubro de 2020, o produto ganhou selo que “concedeu a Terra Indígena Andirá-Marau como indicação geográfica (IG) para o guaraná (waraná) nativos dos Sateré-Mawé” (Brasil, 2020). para a ritualística.

Figura 3
Mosaico dos signos Sateré-Mawé utilizados no turismo étnico indígena

A preocupação global em manter o crescimento econômico sem destruir o meio natural e social também é uma inquietação dos indígenas. Todo o material para a produção dos artesanatos que vem da floresta está baseado na sustentabilidade com foco na cultura e no meio ambiente. A finalidade desse pensamento é garantir o patrimônio para as futuras gerações, não agredindo o meio ambiente nas referidas produções.

Posto isso, sugerimos diálogos com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN, 2000Brasil. Instituto do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural Nacional (IPHAN). (2000). Decreto nº 3551, 04 de agosto de 2000. Recuperado em ago. 20, 2020 de: http://portal.iphan.gov.br/página/detalhes/234.
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) para assegurar “as formas de expressão; os modos de criar, fazer e viver; as criações científicas, artísticas e tecnológicas; as obras, objeto (...) paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico” (IPHAN, 2018Brasil. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional ( IPHAN). Portaria nº 375, de setembro de 2018. Institui a Política de Patrimônio Cultural Material do Iphan e dá outras providências. Recuperado em ago. 20, 2020 de: http://portal.iphan.gov.br/página/detalhes/234.
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, p. 20), como saberes científicos que devem ser zelados na garantia dos registros e ofícios do saber fazer. Observamos que, em contexto híbrido, é quase impossível a não convivência com outras culturas, mas a essência étnica deve ser preservada. Por isso, concordamos com a portaria n.º 375, de 19 de setembro de 2018, capítulo I, artigo 2º, VIII, que trata do Princípio sobre o Desenvolvimento Sustentável. Nessa, está deliberado que: “a geração atual deve ser capaz de suprir suas necessidades, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras gerações” (IPHAN, 2018Brasil. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional ( IPHAN). Portaria nº 375, de setembro de 2018. Institui a Política de Patrimônio Cultural Material do Iphan e dá outras providências. Recuperado em ago. 20, 2020 de: http://portal.iphan.gov.br/página/detalhes/234.
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).

Figura 4
Artesanato Sámi
Figura 5
Utensílio Sámi

No cenário mundial, há uma grande preocupação com a vida dos seres humanos no que diz respeito aos costumes, modo de viver e com a natureza que fornece o sustento. “A utilização de recursos culturais como atrativos para o turismo é uma atividade antiga e mundialmente reconhecida” (Thomaz, 2010Thomaz, R. C. C. (2010). A revalorização e difusão do patrimônio cultural como meio desenvolvimento do turismo rural e cultural: estudo de caso da rede galega do patrimônio arqueológico. Revista Tópos, 4(2), 33-59., p. 33). Assim, é necessário garantir a vida planetária em equilíbrio para fortalecer a cultura na propagação e continuação dos saberes.

A matéria prima para a confecção dos artesanatos é retirada da natureza e cada uma tem valor sígnico, carregado de sentimentos históricos. Esses signos/símbolos são atrativos aos turistas que visitam a cidade de Tromsø, conforme as figuras 04 e 05.

Sem dúvida, o turismo étnico tem que ocorrer de forma responsável e respeitosa, porém, em pleno século XXI, não se pode isolar ou deixar no anonimato as vivências ritualísticas dos povos indígenas. Assim, os signos, símbolos e grafismo são destacados nos hotéis, lojas de artesanatos e museus que remetem à cultura do povo Sámi, reminiscência das tradições xamânicas. Faur (2014, p. 570)Faur, M. (2014). Mistérios Nórdicos, Deuses, Runas, Magias, Rituais. Editora Pensamento. destacou que “Os Sámi consideram os espíritos da natureza seus ancestrais, se comunicavam com eles por meio do noajddes, aqueles que enxergam no escuro”. No quadro 01, estão organizados os signos da tradição utilizados na vida diária:

Quadro 1
Tipologia dos Signos identitário do povo Sámi

Os signos estão representados em vários espaços, nos “locais de trabalho, de lazer e socialização, … na nossa vida privada”, como destacou (Santaella, 2012Santaella, L. (2012). Percepção: fenomenologia, ecologia, semiótica. Cengage Learning., p. 9). Do ponto de vista semântico, “a Semiótica é uma ciência formal que tem por objetivo estabelecer como devem ser todos os signos para uma inteligência capaz de aprender através da experiência” (Silveira, 2007Silveira, L. F. B. (2007). Curso de semiótica geral. Quartier Latin., p. 38).

No turismo, a semiótica tem sido uma nova teia de conhecimento, pensada a partir das ideias de Culler (2001)Culler, J. (1981). Semiotics of tourism. American Journal of Semiotics, 1(1-2), 127-140. http://doi.org/10.5840/ajs198111/25
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, visando a apoiar o discurso, amparado no seu artigo “Semiótica do Turismo”. “O turista se interessa por tudo como um sinal da coisa em si” Culler (1981Culler, J. (1981). Semiotics of tourism. American Journal of Semiotics, 1(1-2), 127-140. http://doi.org/10.5840/ajs198111/25
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, p. 18, citado em Urry, 2001Urry, J. (2001). O Olhar do turista. Studio Nobel. SESC.). Sendo assim, na atualidade o turista se interessa em cultura autêntica, na qual seja possível vivenciar momentos memoráveis.

4.2 Patrimônio cultural ancorado na mãe natureza

Nesta pesquisa apresentamos parte do legado da cultura indígena Sateré-Mawé e Sámi através da cosmovisão indígena ancorada na tradição, mediante rituais desses povos e do mito de origem que move a trajetória histórica e cultural. Em nossa percepção, verificamos que os marcadores sígnicos, além do espaço, se integram de forma harmônica com a Mãe-Terra e com o meio ambiente, o que contribui com o desenvolvimento econômico e social em áreas metropolitanas (Boff, 2016Boff, L. (2016). A Terra na palma da mão: uma nova visão do planeta e da humanidade. Vozes.).

Reforçamos a necessidade de falar sobre o turismo étnico no estado do Amazonas, haja vista sua dimensão geográfica no país, bem como sua expressividade linguística e cultural relativas às populações indígenas. Acerca disso, a migração foi decisiva para adequar a etnicidade com o modelo das cidades. Então, forçosamente, o estereótipo indígena transplantou e adequou modelos de subsistência em prol de melhores condições de vida, saúde e educação. Desse modo, nas pequenas e grandes cidades onde ocorre o turismo, os indígenas tiveram que se reinventar e assegurar o sustento das famílias, mantendo vivo o legado cultural.

Sahu-Apé foi a primeira comunidade que se ajustou ao mercado turístico por ocasião da implantação do hotel de Selva Ariaú (Dos Santos et al., 2020Dos Santos, D. M. A., de Carvalho, J. M., & Tricárico, L. T. (2020). Patrimônio imaterial e o turismo étnico em comunidade indígena, em Iranduba, Amazonas. Turismo e Sociedade, 12(3), 16 -35. http://doi.org/10.5380/tes.v12i3.69779.
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). Segundo os líderes indígenas, nessa época o turismo era intenso e agregava um valor comercial aos comunitários a partir dos serviços prestados ao hotel. A comunidade se sustentava por meio do Ritual da Tucandeira, da comercialização do espaço, da venda de adereços como bijuterias, cuias e abanadores em palha. Porém, com o fechamento do hotel, a comunidade teve que buscar alternativas inovadoras para atrair os turistas, organizando-se de forma independente, tendo apoio dos pesquisadores e de algumas ações organizadas pela Fundação Estadual do Índio (FEI), em Manaus. Atualmente, a comunidade tem enfrentado desafios para manter as atividades culturais, sem perder a visão da etnicidade.

Também identificamos que, para os dois povos, Sateré-Mawé e Sámi, a natureza é um elemento intersubjetivo que tonifica e oportuniza não somente a atração turística, mas também a união interétnica entre seres que dependem e se interligam para se reafirmarem no território. Essa indissociabilidade, homem e natureza, é uma necessidade emergente de valorizar e garantir os elementos simbólicos como atrativo turístico etnocultural nos municípios de Tromsø e Manaus5 5 Ritual da Tucandeira é uma iniciação masculina do povo Sateré-Mawé, Amazonas/Brasil, que representa a passagem da fase da infância para fase adulta. .

As memórias podem promover a cultura étnica indígena e atrair visitantes como ponto focal de renda econômica e empregos, e, sobretudo, prospectar, valorizar e garantir a tradição dos povos. Assim, Barros (2019, p. 111)Barros, A. L. (2019). Sinalizadores de Empreendedorismo Indígena para o Turismo: a ressignificação da cultura do povo Guajajara no espaço vivido da aldeia Zutiwa/MA-Brasil. [Tese de Doutorado, Programa de Pós-Graduação em Turismo e Hotelaria, Balneário Camboriú/SC, não publicada]. Biblioteca Municipal - UNIVALI- Balneário de Camoriú/SC. destaca que os indígenas “revelam um conjunto de conhecimentos adquiridos dos seus antepassados pela tradição, por meio de mitos e símbolos, que transferidos de geração em geração, pela oralidade, os conduzem ao uso dos ecossistemas naturais de forma sustentável”.

4.3 Século XXI: um tempo ameaçador e de transformações sociais

O início do século XXI está sendo marcado por um extermínio de pessoas acometidas pela doença Covid-19. Consequentemente, muitos saberes indígenas foram perdidos com os mais de trezentos e sessenta e dois óbitos dentro das comunidades no território brasileiro, de acordo com dados do mês de agosto dispostos no portal da Funai (2020)Brasil. Fundação Nacional do Índio (FUNAI). (2020). Covid, 2020. Recuperado de: https://www.gov.br/saude/pt-br
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. Comunitários, pajés e tuxauas6 6 Tuxaua – Líder político dentro de uma organização indígena. das comunidades não estavam preparados para a temerosa doença. Porém, os que resistiram seguem as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e as sábias orientações do pajé Sateré-Mawé, com uso das práticas ritualísticas, plantas medicinais, isolamento social, cura espiritual e de banhos com plantas aromatizantes e não aromatizantes, como cipó-alho7 7 Cipó-alho é uma trepadeira perenifólia, de pequeno porte, usada na medicina indígena. . Sobre isso, Vilácio8 8 Sônia Vilácio – Presidente da Associação das Mulheres Indígenas Sateré-Mawé (AMISM). (comunicação pessoal, 10 de março, 2020), presidente da AMISM, comenta: “aqui em casa todos estão sendo curados com a medicina tradicional, as ervas têm um poder de cura e afastar o que não presta da doença, que é boa para a saúde”, esse último termo é definido pela OMS como o estado completo de bem-estar físico, mental e social – conceito que transcende à ausência de afecções.

Consideramos que o turismo étnico, enquanto mecanismo indutor e estratégico para a economia dos municípios em estudo, necessita de divulgação e planejamento de roteiros que incluam os serviços desenvolvidos pelo protagonismo indígena. A capital manauara se configura como um forte destino cultural por apresentar uma vasta biodiversidade linguística e cultural. Em Tromsø, na Noruega, os indígenas já se estabeleceram no turismo por meio de diálogos com o próprio Parlamento Sámi e com o governo do mesmo país. O que se observou entre os dois povos, foi a existência de preconceitos contra as atividades culturais para fora das comunidades.

No Brasil, a falta de esforços públicos para fomentar e despertar olhares para o turismo étnico indígena e nos aspectos da etnocultura, sobretudo em Manaus - AM, ainda é incipiente. Os investimentos giram em torno de museus, centros históricos e festivais. Os roteiros turísticos de Manaus excluem as comunidades indígenas nas ações turísticas, diferentemente de Tromsø, onde o governo dialoga com o parlamento Sámi, promovendo a inclusão desses na sociedade, de forma autônoma.

Como impacto positivo, nas narrativas memoráveis de Silva (comunicação pessoal, 19 de maio, 2020), tuxaua sateré, o líder destaca: “desde 1998 entramos em parcerias com o hotel Ariaú9 9 Hotel de Selva Ariaú, no entorno de Manaus na década de 1998. , e realizamos um projeto na Fundação Estadual dos Povos Indígenas (FEPI), hoje é a Fundação Estadual do índio, FEI, sobre o etnoturismo e tivemos a visão da importância do turismo na comunidade, na valorização da nossa cultura e no envolvimento intercultural”. Para o tuxaua Sateré (comunicação pessoal, 19 de maio, 2020), “na cidade, nossos filhos têm acesso à saúde, educação e melhores condições de vida, e é por meio do turismo que conseguimos nos manter”.

A senhora Maria Silva Sateré (comunicação pessoal, 19 de maio, 2020) salientou em suas narrativas a seguinte alusão:

“temos boas lembranças do nosso roçado, da falta da nossa farinha, das frutas saudáveis, das pescarias ... na cidade tudo depende de muito dinheiro, além que não vivenciamos nossa cultura original”. Acerca disso, “a cultura é mais bem vista não como complexos de padrões concretos de comportamento-costumes, usos, tradições, feixes de hábitos, como tem sido agora, mas como um conjunto de mecanismos de controle-planos receitas, regras, instruções”

(Geertz, 2008Geertz, C. (2008). A interpretação das culturas. LTC., p. 56).

Vivências na cidade requerem um novo planejamento dentro dos espaços das comunidades, além de controle para não dispersar a tradição cultural, que pode ser considerado como aspecto negativo. Nesse viés, o que se percebe é um sentimento pela falta do território original, as Terras Indígenas, onde ficaram boa parte dos familiares, mas, por outro lado, busca-se o protagonismo nas áreas não demarcadas pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI).

Assim, percebemos a “emancipação e a autodeterminação na busca de espontaneidade; reforço das relações interpessoais e criatividade” (Weaver, 1991Weaver, D. B. (1991). Alternatives to mass tourism in Dominica. Annals of Tourism Research […], Sidney, AUS, v.18, n. 3. https://doi.org/10.1016/0160-7383(91)90049-H.
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, p. 415). Para tanto, o turismo étnico em comunidades indígenas traz benefícios quando realizado com responsabilidade, ancorado no tripé da sustentabilidade: cultura, economia e meio ambiente.

5 DISCUSSÃO

O Estado do Amazonas precisa criar políticas públicas para apoiar as atividades promovidas pelos indígenas, a fim de garantir a sustentabilidade por meio da educação e do turismo étnico, além de resguardar por mais tempo as práticas dos rituais das populações, de forma sustentável. Nesse contexto, vimos que os povos indígenas, ao migrarem para as áreas urbanas, passam a comercializar produtos derivados das Terras Indígenas (TI), pois os produtos são fontes de geração de renda para as famílias indígenas (Bernal, 2009Bernal, R. J. (2009). Índios Urbanos: processo de reconformação das identidades étnicas indígenas em Manaus. EDUA, Editora da Universidade Federal do Amazonas.).

No caso dos indígenas, a cosmologia é marcada por rituais que expressam os valores sociais, culturais e históricos, conforme Turner (2005)Turner, V. (2005). Floresta de símbolos. EdUFF.. Cada ritual carrega variados signos como elementos de comunicação identitária que marcam a tradição cultural e que têm atraído pessoas por meio do turismo étnico na imersão cultural. Essas formas de comunicação dentro das comunidades indígenas promovem a curiosidade no turista. No campo do turismo étnico indígena, para se compreender um grupo é necessário conhecer a tradição cultural e o patrimônio cultural de uma região que se consolida como a identidade de um lugar e de um povo, sem meramente prestar serviços mercadológicos (Barretto, 2007Barretto, M. (2007). Turismo y Cultura. Relaciones, Contradicciones y Expectativas. Universidad de La Laguna Laguna/Asociación Canaria de Antropología. Recuperado em jan. 09, 2021 de: http://www.pasosonline.org.
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).

Diante disso, elencamos os signos dos povos em estudo, pautado no mito de origem, base da cultura, e, a partir disso, seccionamos em: rituais, xamanismo, espiritualidade, astronomia, ambiente, Sol, Terra e territórios, conforme a figura 6, a seguir. Esses elementos sígnicos fazem parte da vida diária dos povos Sateré-Mawé e Sámi numa relação intersemiótica e intersectiva nas vivências (Peirce, 2017Peirce, C. S. (2017). Semiótica (3 ed.). Perspectiva.).

Figura 6
Signos presente no cotidiano dos povos estudados

Após a análise dos signos, estabelecemos a interconexão para os dois povos, sinalizando os elementos simbólicos que induzem o turista às vivências com povos de tradição cultural no turismo étnico. Em seguida, agrupamos em 4 categorias: 1) Ambiente, natureza, sol; 2) Ritual, Xamanismo Espiritualidade; 3) Astronomia e 4) Território – elementos atrativos e motivacionais como possibilidades para o turismo cultural, conforme Quadro 02.

Quadro 02
Quadro de Interconexão dos dois povos para o turismo étnico

Diante dos signos intersticiais dos povos, percebemos que as motivações dos turistas estão pautadas no encantamento, na empatia, na busca de um benefício para o bem-estar e no fator espiritual como busca de cura. No item 01, as questões relacionadas ao ambiente englobam os seguintes componentes: ecológicos, sociais, econômicos e culturais, que movem o turista pelo encantamento, sentimento, prazer, cura, além de momentos contemplativos. No item 02, consideramos o grupo do ritual, xamanismo e espiritualidade, os quais envolvem os fatores da história do povo e a cosmovisão, na cura física, espiritual e em mudança de hábitos (status). Já no item 3, destacamos a astronomia como uma atividade muito procurada em toda a região da Noruega, em especial em Tromsø, sendo motivada pela contemplação dos astros, Sol da meia-noite e Aurora Boreal.

No estado do Amazonas, segundo Bueno et al. (2019)Bueno, M. A., Oliveira, E. A. G., Nogueira, E. M. L., & Rodrigues, M. D. S. (2019). Astronomia cultural um levantamento bibliográfico dos saberes sobre o céu de culturas indígenas. Revista Areté, 12(25), 27- 40. Recuperado de: http://repositorioinstitucional.uea.edu.br//handle/riuea/2752
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, a astronomia indígena é pouco estudada e os saberes sobre o céu se fazem presentes nas constelações e nos astros interpretados pelos povos indígenas. “De acordo com a nossa tradição, o mundo bom Deus levou para o céu, e o mundo que temos hoje surgiu de uma pessoa, cujo corpo foi transformado em terras” (Oliveira, 1998Oliveira, J. P. D. (1998). Uma etnologia dos índios misturados? Situação colonial, territorialização e fluxos culturais. Mana, 4(1), 47-77. http://doi.org/10.1590/S0104-93131998000100003.
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, p. 33).

Nesse sentido, a astronomia indígena é escassa à sua aplicabilidade no turismo. No entanto, os sábios indígenas Sateré informaram que há procura de turistas em contemplar o pôr-do-sol, o amanhecer do dia, caçadas noturnas e a contemplação das fases da lua, as quais têm um valor simbólico, sendo usadas para pescar, caçar e até mesmo atividades ligadas às questões biológicas. A exemplo, nos dias de lua nova, é permitido cortar o cabelo na cosmologia indígena, conforme senhora Maria Sateré (comunicação pessoal, 20 de agosto, 2020). Outro exemplo é o mês de novembro, considerado um mês de produtivo, fértil e de poder, propício para a realização dos rituais, momento de reverberar a tradição e o cosmo (Turner, 2005Turner, V. (2005). Floresta de símbolos. EdUFF.).

Assim, os signos convergentes encontrados entre os dois povos para o turismo étnico estão pautados no mito de origem, no território, na terra, no sol, no ambiente, na astronomia, na espiritualidade, no xamanismo e nos rituais. Esses elementos são geradores de significados e a cada dia têm sido indutores para o turismo étnico. O turista, ao entrar em contato com os indígenas, compartilham saberes em via de mão dupla, interagindo com a tradição cultural. Para o tuxaua Sateré-Mawé (2020), “é uma forma de divulgar nosso modo de vida e nossos trabalhos com responsabilidade, agregando renda para os moradores das comunidades”.

O sentido de compartilhar saberes entre Sámi e Sateré-Mawé é estreitado por muitos signos identitários que carregam significados de cada nação (Peirce, 2017Peirce, C. S. (2017). Semiótica (3 ed.). Perspectiva.). Esses estão ancorados no mito de origem, expressos pelos cantos, adereços, alimentos e rituais. Cada estação do ano é estabelecida pelo calendário lunar, uma estratégia de uso para plantar, fazer roçado, podar as árvores, falar das marés, lua cheia, lua nova e coleta das formigas Tucandeiras. Esses atos ritualísticos são alimentados pelo viés ancestral. Para o tuxaua Sateré Ramãw (comunicação pessoal, 12 de setembro, 2020), “fazer um novo plantio deve esperar a terra limpar a cada dois anos, no período em que a terra está propícia, além do verão Amazônico”. Assim, a narrativa expressa que a astronomia indígena reafirma o território entre a terra, sol e origem da noite (Pereira, 2003Pereira, N. (2003). Os índios maués. Valer Editora.).

Nessa direção, “na percepção do mundo, do tempo meteorológico, terra e céu não se opõem como real a imaterial, mas estão inextricavelmente ligados como um campo indivisível” (Ingold, 2011Ingold, T. (2011). Estar vivo: ensaios sobre movimento, conhecimento e descrição. Editora Vozes Limitada., p. 97). Para Silva (2013, p. 135)Silva, F. A. dos S. da. (2013). Turismo na natureza como base do desenvolvimento turístico responsável nos Açores. [Tese de Doutorado, Universidade de Açores]. Recuperado de: http://hdl.handle.net/10451/8742
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, desses “modelos muito abrangentes têm surgido muitos outros que propõem maior ou menor abordagem holística ao fenômeno do turismo e procuram evidenciar ou direcionar-se para aspetos mais particulares, como a qualidade, a competitividade ou a sustentabilidade”. Essa abordagem remete a um novo olhar no planejamento turístico, considerado inovador, o qual trata de aspectos diferenciados.

No item 4, destacamos o território como marca identitária, que para um povo étnico é seu espaço de vivência, lugar onde esse povo expressa sua cultura e constrói suas tradições a partir dos elementos naturais que este território contém. Nesse contexto, destacamos o povo Sámi que habita o território no Círculo Polar Ártico em meio às geleiras típicas da região, e o povo Sateré, habitante da Amazônia, na região da linha do equador. Esse último se encontra em meio à floresta densa e cheia de encantos, e tem conquistado destaque nacional e internacional, tanto pela riqueza do bioma, quanto pelos fatores ambientais que ocasionam o desmatamento e, consequentemente, enchentes.

As atividades turísticas dentro das comunidades indígenas devem ocorrer de modo planejado para a geração de renda dos comunitários. O que percebemos no cotidiano é que a hibridização dos saberes indígenas está sendo mediada com apelo comercial. No entanto, a líder da comunidade Sahu-Apé (comunicação pessoal, 19 de maio, 2020) enfatiza: “respiramos a floresta, somos o rio e aqui na comunidade marcamos nosso território, com tudo que precisamos”. Acerca dessa afirmação, “os indígenas fazem do seu cotidiano e da interação com a natureza, materializado em sua adunação com o rio, nas relações com as matas; no abraçar do seu chão, a representação do espaço vivido” (Barros, 2019Barros, A. L. (2019). Sinalizadores de Empreendedorismo Indígena para o Turismo: a ressignificação da cultura do povo Guajajara no espaço vivido da aldeia Zutiwa/MA-Brasil. [Tese de Doutorado, Programa de Pós-Graduação em Turismo e Hotelaria, Balneário Camboriú/SC, não publicada]. Biblioteca Municipal - UNIVALI- Balneário de Camoriú/SC., p. 170).

A relevância em descortinar um universo enigmático das práticas ritualísticas dos povos, está em garantir e reafirmar o fortalecimento das respectivas culturas na vida social, histórica e cultural e de representações imagéticas. No entanto, todo o estudo foi desafiador e precioso do ponto de vista pessoal e profissional. A pesquisa despertou momentos para novas reflexões sobre a temática, no turismo, que consideramos desafiador, pois ainda se tem o discurso do colonizador “indígena não pode residir nas cidades”. Destarte, apresentamos um estudo etnográfico, descritivo e reflexivo sobre o universo indígena. Observamos aqui suas vivências no tempo e na história Amazônica, bem como na construção histórica do povo Sámi do Círculo Polar Ártico, e do Sateré-Mawé, da floresta Amazônica, os quais sofreram preconceitos ao longo da história.

A sofisticação e a complexidade sobre os estudos indígenas nos ofereceram uma pluralidade sobre os povos da floresta. De um lado, os amazônicos; do outro, as cercaduras Tundras e Taigas no Ártico; lugares fertilizados e imagéticos, os quais se articulam em prol da tradição cultural (Morin, 2014Morin, E. (2014). O Método 4: as ideias: habitat, vida, costumes, organização. (Juremir Machado da Silva, Trad., 5 ed.). Sulina.). Nesse sentido, ambos apresentam preocupações com a natureza e com o universo planetário, tendo como finalidade a sobrevivência, o fortalecimento das respectivas tradições.

Os estudos sobre povos indígenas nos permitiram uma visão crítica sobre os construtores de identidade e de empatia. Neste estudo, buscamos a alteridade, contrastando as relações de semelhanças e as diferenças na construção, com o intuito de incluir os povos indígenas nas práticas do turismo étnico, como construção de empoderamento. Diante disso, pretendemos sair da visão romântica de que o indígena não pode prosperar no modelo contemporâneo de sociedade.

A partir deste estudo, verificamos que a tradição cultural do povo Sateré-Mawé, por meio das práticas ritualísticas, tem um potencial evidente para o turismo étnico. Logo, é necessário delimitar uma política governamental para garantir a divulgação cultural e o emprego/renda para os povos que vivem em áreas urbanas e metropolitanas de Manaus.

Quanto ao povo Sámi, percebemos que eles já realizam atividades turísticas a partir dos elementos culturais, do canto, passeio pelos fiordes, alimentar de renas e venda dos artesanatos. Percebe-se o desejo de protagonismo e empoderamento nas atividades turísticas, sem agressão à tradição cultural.

Nesse sentido, foi durante a imersão nas comunidades que percebemos a participação de turistas nas atividades desenvolvidas pelos comunitários. Não se trata de turismo de massa, mas sim um tipo de turismo em que o interessado se apresenta como responsável social, com forte tendência a contemplar uma cultura diferenciada, voltada para a ecologia e planejada pelos próprios indígenas, em equilíbrio com a natureza (Boff, 2016Boff, L. (2016). A Terra na palma da mão: uma nova visão do planeta e da humanidade. Vozes.).

Mello (2019)Mello, C. (2019). Semiótica do Turismo Aplicada. Editora Appris. reflete sobre os diversos signos presentes no universo turístico, e que estão presentes na comunicação, na linguagem e na publicidade turística, ancorados no mito e em rituais. Assim, a semiótica é um marco contemporâneo para no turismo, e o ajuda a entender e compreender o fenômeno cultural. Nessa direção, os interessados neste tipo de turismo ainda interpretam e tematizam os “elementos não familiares da vida de outras pessoas, até então, supostamente familiares” (Urry, 2001Urry, J. (2001). O Olhar do turista. Studio Nobel. SESC., p. 29).

Dessa forma, promover o turismo étnico gerador de recursos, por meio da cultura, de seus signos, como artesanato, ritual, grafismos, cantos, natureza, que os identificam, para os comunitários não é uma tarefa fácil, precisa de equilíbrio, ponderações e planejamento. No entanto, os interessados devem ficar atentos aos impactos que, quando não administrados com responsabilidade, podem causar um rompimento da cultura dos povos que costumam migrar para as cidades em busca de melhor qualidade de vida, pela urdidura do complexus (Morin, 2014Morin, E. (2014). O Método 4: as ideias: habitat, vida, costumes, organização. (Juremir Machado da Silva, Trad., 5 ed.). Sulina.).

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao limar a pesquisa, aprendemos que os povos indígenas almejam mudança social e educacional, sem perder a linhagem ancestral. Porém, quando falamos em turismo étnico, ainda encontramos pessoas com discursos contrários, tais como: “eles não têm estudos”, “eles não têm estrutura”, “eles são espertos”. Mas foi com a pandemia da Covid-19 que a natureza nos enviou muitos recados desafiadores. Foram as populações indígenas que nos ensinaram a importância de plantar e cuidar da floresta, manter a floresta viva e que os rios têm vidas e vidas que falam.

Assim, no universo científico, esperamos que este estudo possa promover novas pesquisas com o povo do Ártico e do Amazonas, num árduo percurso, e compreender os saberes de tradição cultural. Ressaltamos que o estudo não esgotou todos os saberes da cultura, mas destacamos que os poderes ancestrais, na visão cosmogônica indígena, devem ser respeitados e garantidos. A hipótese básica desta pesquisa é de que o turismo que acontece nas duas comunidades Sateré-Mawé e Sámi, têm por base atividade turistica não convencional, envolvendo o ritual da Tucandeira ou pastorear renas, como signos identitários, com possibilidade para o incremento do turismo cultural, diferenciado e exótico.

Em escala mundial, corroboramos o segmento do turismo étnico para Manaus e Tromsø, num enfoque para um mundo sustentável e para os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), que propõe tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusos, com segurança, resiliência e sustentáveis, numa perspectiva ecológica (Boff, 2016Boff, L. (2016). A Terra na palma da mão: uma nova visão do planeta e da humanidade. Vozes.). Pretendemos com esse manancial de conhecimentos, contribuir para a abertura de novos estudos no campo do turismo étnico.

Como limites da pesquisa, sinalizamos aspectos bem peculiares deste estudo. Nesse contexto, nem todas as narrativas foram postas na íntegra por questões de respeito aos povos. Sendo assim, vemos a impossibilidade de revelar e discutir com profundidade os signos identitários étnicos, pelo fato de resguardar os saberes ancestrais, respeitando a tradição e o sagrado, sem ultrapassar os limites dos saberes íntimos, xamânicos pertencentes aos pajés Sateré-Mawé, aos Noaidi Sámi e aos sábios anciões.

Também consideramos que as administrações públicas brasileiras, federal, estadual e municipal, não conseguem compreender que a cultura de um povo reflete a história de uma sociedade sem respeito à saúde, à educação e ao meio ambiente, que sofre com o desmatamento e queimadas, indo na contramão do Artigo 3º da OIT/Convenção 169, que preceitua ao indígena: “gozar plenamente dos direitos humanos e liberdades fundamentais, sem obstáculos nem discriminação”. Esperamos que este estudo possa contribuir com os povos indígenas partícipes para as questões atuais e para salvaguardar o patrimônio cultural das futuras gerações.

O estudo nos permitiu perceber o universo fértil das culturas e a possibilidade de tecer diálogos com as várias áreas do conhecimento, intercalando-as no viés da interdisciplinaridade, sob a ótica da economia, associada à sustentabilidade das comunidades estudadas e das pessoas indígenas. A similaridade entre os dois povos reside no modo de saber fazer os ofícios ancestrais, sejam nas práticas ritualísticas ou nas preocupações em garantir o seu território para a continuidade da cultura. Nessa direção, nossas reflexões primam pela sobrevivência da tradição cultural dos povos, descortinando e estimulando novos conhecimentos ancorados nos direitos humanos da pessoa indígena, incluindo-os nos roteiros e festividades turísticas tradicionais, regulados pela legislação vigente de cada povo e de cada país.

  • 1
    Termo indígena designado para criança do sexo masculino.
  • 2
    Termo designado para criança do sexo feminino.
  • 3
    Tarubá – bebida preparada da fermentação da mandioca, usada em rituais.
  • 4
    Um dos signos do Sateré-Mawé por onde nasce o mito do povo, associado ao guaraná (Paulinia cupana). Conforme dados do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), em outubro de 2020, o produto ganhou selo que “concedeu a Terra Indígena Andirá-Marau como indicação geográfica (IG) para o guaraná (waraná) nativos dos Sateré-Mawé” (Brasil, 2020Brasil. Fundação Nacional do Índio (FUNAI). (2020). Covid, 2020. Recuperado de: https://www.gov.br/saude/pt-br
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    ).
  • 5
    Ritual da Tucandeira é uma iniciação masculina do povo Sateré-Mawé, Amazonas/Brasil, que representa a passagem da fase da infância para fase adulta.
  • 6
    Tuxaua – Líder político dentro de uma organização indígena.
  • 7
    Cipó-alho é uma trepadeira perenifólia, de pequeno porte, usada na medicina indígena.
  • 8
    Sônia Vilácio – Presidente da Associação das Mulheres Indígenas Sateré-Mawé (AMISM).
  • 9
    Hotel de Selva Ariaú, no entorno de Manaus na década de 1998.
  • Como Citar: Carvalho, J. M.; Tricárico, L. T. (2022). Signos identitários do Sámi e Sateré-Mawé: fatores de indução para o turismo étnico indígena. Revista Brasileira de Pesquisa em Turismo, São Paulo, 16, e-2263.http://dx.doi.org/10.7784/rbtur.v16.2296
  • Fonte de financiamento: Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq – Processo nº: 305125/2016-8.

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Editado por

Editor:

Leandro B. Brusadin.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    06 Maio 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    23 Out 2020
  • Aceito
    05 Fev 2021
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