Acessibilidade / Reportar erro

Padrões sintáticos e semânticos do verbo stellen, com enfoque em seu uso como verbo suporte: uma análise baseada na gramática de construções

Syntactic and semantic patterns of the verb stellen with focus on its use as a light verb: an analysis based on the construction grammar

Resumo

O presente artigo tem por objetivo apresentar os principais resultados de uma análise sintático-semântica do verbo stellen, com principal enfoque em sua ocorrência como verbo suporte. Como base teórica nos utilizamos da gramática de construções, mais especificamente da abordagem construcional de Goldberg (1995; 2006) sobre as construções argumentais que, segundo a autora, seriam por si só portadoras de sentido, independente de outros itens lexicais que compõem as sentenças. Para análise de construções com verbo suporte deverbais, levamos em conta os trabalhos de Wittenberg e Piñango (2011) e Wittenberg (2016), que analisam o processamento desse tipo de construções. A análise em corpus confirmou o princípio da economia semântica postulado pela gramática de construções, já que os sentidos atribuídos tradicionalmente somente ao verbo, podem ser entendidos como resultado das relações entre stellen e as construções argumentais que ele pode integrar. Os resultados da análise das construções com verbo suporte deverbais indicam que o sentido global sofre influência da estrutura argumental tanto do verbo suporte, quanto do componente nominal. As construções com verbo suporte altamente lexicalizadas formadas por stellen, por sua vez, são consideradas unidades armazenadas como um todo no léxico.

Palavras-chave:
Gramática de construções; construções com verbo suporte; construções de estrutura argumental; verbo stellen

Abstract

This article aims at exposing the main results of a syntactic and semantic investigation of the verb stellen, emphasizing its use as a light verb. This analysis was carried out according to the principles of construction grammar - more specifically following Goldberg's perspective (1995). The author assumes that the argument structure constructions carry meaning regardless of other lexical items in the sentence. The analysis of the light verb constructions is based on the scientific research of Wittenberg and Piñango (2011) and Wittenberg (2016): They investigate how the light verb constructions are processed. The analysis, which is based on corpus, confirmed the principle of the semantic economy because the meanings, which are traditionally assigned to the verb stellen, can be understood as the result of the relations between the verb and the argument structure constructions that it can integrate. The results of the analysis of deverbal light verb constructions suggest that both the argument structure of the light verb and the argument structure of the nominal element influence the entire meaning of the construction. In turn, the highly lexicalized light verb constructions are considered as units included in the lexicon.

Keywords:
Construction grammar; light verb constructions; argument structure construction; verb stellen

1 Introdução

No presente artigo, apresentamos os principais resultados de uma análise que visou encontrar e descrever padrões sintáticos e semânticos para o verbo stellen, com ênfase em seu uso como verbo suporte.

Construções com verbo suporte são expressões verbais formadas por um verbo suporte, que sofre perda de informações semânticas no nível lexical e por um componente nominal, que pode ou não ser precedido por preposição. Juntos, o verbo suporte e o componente nominal formam uma unidade semântica, que não pode ser dissociada. Como exemplos de CVS do alemão podemos citar eine Frage stellen “fazer uma pergunta1 1 Todos os exemplos em alemão presentes no artigo foram traduzidos pela autora e consistem em traduções livres. Da mesma maneira, todas as citações de textos teóricos em língua estrangeira foram traduzidas pela autora. ”, einen Antrag stellen “fazer um pedido”, (verbo suporte + grupo nominal), in Frage stellen, “colocar em questão”, in Abrede stellen “contestar” (verbo suporte + grupo preposicional).

As CVS pertencem à categoria dos fraseologismos parcialmente esquemáticos, porque apresentam, por um lado, elementos lexicais fixos e, por outro, dispõem de uma sintaxe interna (Dobrovol’skij 2011Dobrovol’skij, Dmitrij. Phraseologie und Konstruktionsgrammatik. In: Lasch, Alexander; Ziem, Alexander (Eds.). Konstruktionsgrammatik III: Aktuelle Fragen und Lösungsansätze. Tübingen: Staufenburg, 2011, p. 111-130.). Além disso, as CVS permitem certa variação no preenchimento de suas lacunas. Como verbo suporte, o verbo stellen apresenta um grau considerável de produtividade, por justamente permitir tal variação, podendo ser classificado como um dos dez verbos suporte mais produtivos em alemão (Kamber 2008Kamber, Alain. Funktionsverbgefüge - empirisch: Eine korpusbasierte Untersuchung zu den nominalen Prädikaten. Tübingen: Niemeyer, 2008.).

As características das CVS fazem com que, muitas vezes, esse fênomeno linguístico seja considerado por perspectivas téoricas não construcionais como irregularidades da língua, localizadas na periferia da gramática. Mesmo dentro da fraseologia, as CVS são com frequência entendidas como elementos periféricos, por não serem fraseologismos “idiomáticos em sentido estrito” (Hundt 1994Hundt, Christine. Untersuchungen zur portugiesischen Phraseologie. Wilhelmsfeld: Egert, 1994.: 46). Como base teórica, nos pautamos nos princípios da gramática de construções, pois essa perspectiva teórica apresenta justamente uma alternativa para o tratamento de fenômenos linguísticos que geralmente são considerados irregulares ou periféricos. Ao adotar o princípio da não separação entre gramática e léxico, a gramática de construções permite que tanto construções gramaticais quanto construções lexicais fixas sejam consideradas objetos da língua. Por esse motivo, essa perspectiva teórica se mostra adequada para a análise aqui realizada, já que as CVS se encontram justamente no continuum entre o léxico e a gramática, estando ora mais próximas das construções mais abstratas, ora mais próximas das construções fixas, dependendo do seu grau de variação lexical.

Embora o nosso enfoque recaia sobre as CVS, a nossa análise se inicia com exemplos de uso em que stellen ocorre como verbo pleno. Segundo a gramática de construções, a gramática de uma língua natural constitui um sistema organizado em que as construções formam uma rede de associações (Goldberg 1995Goldberg, Adele E. A Construction Grammar Approach to Argument Structure. Chicago: The University of Chicago Press, 1995.; Ziem; Lasch 2013Ziem, Alexander; Lasch, Alexander. Konstruktionsgrammatik Konzepte und Grundlagen gebrauchsbasierter Ansätze. Berlin/Boston: de Gruyter, 2013.: 36). Assim, acreditamos que construções do tipo ich habe einen Teller auf den Tisch gestellt “eu coloquei um prato em cima da mesa”, em que o verbo é pleno, e CVS como in Rechnung stellen “cobrar”, zur Verfügung stellen “colocar à disposição”, zur Diskussion stellen “colocar em discussão”, possam estar de alguma forma relacionadas entre si, seja no que diz respeito à sua forma, ou ao seu significado.

Para a análise consultamos em um primeiro momento os principais dicionários de alemão, mas por se tratar de uma pesquisa baseada nos usos do verbo, procuramos expandir os exemplos, elaborando um corpus a partir de excertos de textos contidos no arquivo Wikipedia Artikel und Diskussionen, fornecido pelo banco de dados COSMAS II, do Institut für Deutsche Sprache, da Universidade de Mannheim.

Antes de nos concentrarmos na análise de exemplos de uso de stellen, apresentaremos na seção 2 a fundamentação teórica, que consiste nos principais princípios da gramática de construções e nas principais características das CVS. Depois disso, no item 3, dedicado à metodologia, mostraremos a forma pela qual a coleta de dados e a elaboração do corpus foram realizadas. Na seção 4 “Análise de padrões de stellen”, apresentaremos as construções de estrutura argumental que o verbo stellen pode integrar. Por fim, serão discutidos em 5 os resultados e a principal contribuição da presente pesquisa, a saber, uma sugestão de mapeamento sintático-semântico do verbo stellen.

2 Fundamentação Teórica

Na presente seção, exporemos as principais características da gramática de construções, com enfoque na abordagem de Goldberg (1995Goldberg, Adele E. A Construction Grammar Approach to Argument Structure. Chicago: The University of Chicago Press, 1995.) para as construções de estrutura argumental. Ademais, apresentaremos as características definitórias das CVS, bem como a sua forma de processamento segundo estudos empíricos desenvolvidos por Wittemberg e Piñango (2014) e Wittemberg (2016).

2.1 A Gramática de Construções

A gramática de construções se ocupa em analisar a gramática de uma língua natural, que por sua vez é composta por construções (Ziem; Lasch 2013Ziem, Alexander; Lasch, Alexander. Konstruktionsgrammatik Konzepte und Grundlagen gebrauchsbasierter Ansätze. Berlin/Boston: de Gruyter, 2013.). A principal contribuição dessa perspectiva teórica em relação a outras que também se dedicam ao estudo da gramática e se utilizam do termo “construção”, reside no tratamento dado a esses conceitos fundamentais, como apresentaremos brevemente na presente seção.

O ponto de partida da gramática de construções foi a análise da língua inglesa, mais precisamente, a tentativa de desenvolver uma abordagem construcional que abrangesse o funcionamento dessa língua como um todo, sem ser necessário fazer distinção entre fenômenos linguísticos “centrais” e “periféricos”, como era típico de outras correntes linguísticas, entre elas a linguística gerativa transformacional (Boas 2011: 2-4). Não distinguir os fenômenos regulares daqueles considerados exceções da língua, traz como consequência o fato de a gramática passar a ser considerada uma estrutura holística, ou seja, uma estrutura em que “nenhum nível da gramática é autônomo ou apresenta um âmbito central em relação a outros” (Traugott 2008Traugott, Elizabeth Closs. Grammatikalisierung, emergente Konstruktionen und der Begriff der „Neuheit“. In: Stefanowitsch, Anatol; Fischer, Kerstin (Eds.). Konstruktionsgrammatik II. Von der Konstruktion zur Grammatik. Tübingen: Stauffenburg, 2008, p. 5-32.: 7)2 2 Original: […] keine einzelne Ebene der Grammatik ist autonom oder stellt gegenüber anderen einen „Kernbereich“ dar. . Assim, diferentemente da gramática gerativa transformacional, que entende a gramática como algo modular, para a gramátia de construções, fonologia, morfologia, sintaxe, semântica e pragmática não são categorias separáveis. (Traugott 2008: 7; Ziem; Lasch 2013Ziem, Alexander; Lasch, Alexander. Konstruktionsgrammatik Konzepte und Grundlagen gebrauchsbasierter Ansätze. Berlin/Boston: de Gruyter, 2013.: 33).

Enquanto perspectiva teórica, a gramática de construções não pode ser caracterizada como uma corrente teórica homogênea, (Rostila 2011Rostila, Jouni. Phraseologie und Konstruktionsgrammatik: Konstruktionsansätze zu präpositionalen Funktionsverbgefügen. In: Prinz, Michael.; Richter-Vapaatalo, Ulrike (Eds.). Idiome, Konstruktionen, „verblümte rede“. Beiträge zur Geschichte der Phraseologie. Stuttgart: S. Hirzel Verlag, 2011, p. 263-282.; Ziem; Lasch 2013Ziem, Alexander; Lasch, Alexander. Konstruktionsgrammatik Konzepte und Grundlagen gebrauchsbasierter Ansätze. Berlin/Boston: de Gruyter, 2013.; Diedrichsen 2014Diedrichsen, Elke. Zur ‚Inventarisierung‘ von idiomatischen und Argumentstruktur-Konstruktionen im Deutschen. In: Ziem, Alexander; Lasch, Alexander (Eds.). Grammatik als Netzwerk von Konstruktionen? Sprachwissen im Fokus der Konstruktionsgrammatik. Berlin/Boston: de Gruyter, 2014, p. 175-194.). Apesar disso, é possível observar que todos os estudos da gramática de construções partem do princípio de que a gramática de uma língua é composta por construções, que por sua vez, são entendidas como um pareamento entre forma e função/significado. Goldberg (2006______. Constructions at Work: The Nature of Generalization in Language. Oxford: Oxford University Press, 2006.) define construções da seguinte maneira:

Qualquer padrão linguístico é reconhecido como uma construção, contanto que algum aspecto da sua forma ou função não seja estritamente previsível a partir de suas partes ou de outras construções reconhecidas como existentes. Além disso, padrões são armazenados como construções, mesmo que eles sejam completamente previsíveis, desde que eles ocorram com frequência suficiente. (Goldberg 2006______. Constructions at Work: The Nature of Generalization in Language. Oxford: Oxford University Press, 2006.: 5)3 3 Original: Any linguistic pattern is recognized as a construction as long as some aspect of its form or function is not strictly predictable from its component parts or from other constructions recognized to exist. In addition, patterns are stored as constructions even if they are fully predictable as long as they occur with sufficient frequency.

Os termos forma e significado devem ser entendidos de maneira ampla, pois os aspectos relacionados à forma da construção compreendem características fonológicas, morfológicas e sintáticas, e os aspectos ligados ao seu significado, abrangem características semânticas, pragmáticas e discursivas. Além da definição de pareamento entre forma e função, comum a todas as vertentes da gramática de construções, a definição de Goldberg (2006______. Constructions at Work: The Nature of Generalization in Language. Oxford: Oxford University Press, 2006.) considera que construções não são estritamente composicionais, o que significa que nenhum aspecto da sua forma ou do seu conteúdo pode ser derivado de outras construções já existentes. A autora utiliza o termo “estritamente”, pois reconhece o problema de se pressupor um fenômeno linguístico que não seja nem um pouco recuperável em outros fenômenos já existentes da língua (Goldberg 2003).

Como apontam De Knop e Mollica (2013De Knop, Sabine; Mollica, Fabio. Die Konstruktionsgrammatik für die Beschreibung romanischer Sprachen. In: De Knop, Sabine; Mollica, Fabio. Konstruktionsgrammatik in den romanischen Sprachen. Frankfurt am Main: Peter Lang, 2013, p. 5-23.), a não-composicionalidade não se aplica a todos os tipos de construções, por isso Goldberg (2006______. Constructions at Work: The Nature of Generalization in Language. Oxford: Oxford University Press, 2006.) acrescenta o fator frequência. Assim, até mesmo unidades linguísticas previsíveis podem adquirir o status de construção, desde que ocorram com frequência considerável. A adoção da frequência como critério é uma contribuição da vertente cognitiva da gramática de construções e implica que uma análise seguindo essa perspectiva teórica seja baseada no uso real e na apreensão que os falantes fazem do conhecimento linguístico.

A definição de construções como pareamentos entre forma e significado permite que diferentes tipos de unidades linguísticas possam ser considerados como construções, como, por exemplo, morfemas, palavras inteiras, expressões gramaticais, expressões altamente lexicalizadas.

Quadro 1
Diferentes tipos de construções. (Baseado em Ziem; Lasch 2013Ziem, Alexander; Lasch, Alexander. Konstruktionsgrammatik Konzepte und Grundlagen gebrauchsbasierter Ansätze. Berlin/Boston: de Gruyter, 2013.: 19)

A partir dos exemplos apresentados no Quadro 1, observamos que tanto construções gramaticais quanto lexicais com diferentes graus de abstração podem ser consideradas objetos da língua. Isso é possível, porque para a gramática de construções não há separação entre léxico e gramática, mas muito mais um continuum entre esses dois polos. O princípio do contiuum entre léxico e gramática permite definir como construção tanto construções com alto grau de esquematicidade, ou seja, que apresentam lacunas a serem preenchidas por elementos lexicais, como, por exemplo a construção bitransitiva [SUJ [V OBJ OBJ2]], quanto morfemas e palavras, pois em todas elas é possível identificar uma determinada forma que se combina a um significado específico (Ziem; Lasch 2013Ziem, Alexander; Lasch, Alexander. Konstruktionsgrammatik Konzepte und Grundlagen gebrauchsbasierter Ansätze. Berlin/Boston: de Gruyter, 2013.).

Para a gramática de construções as mais diferentes construções compõem um inventário que, por sua vez, está organizado como um sistema taxonômico em que as construções estão relacionadas entre si. A figura a seguir ilustra exatamente essa rede de associações, a exemplo da construção de movimento causado do alemão, com o verbo stellen.

Figura 1
Exemplo de construções relacionadas entre si (Baseado em Ziem; Lasch 2013Ziem, Alexander; Lasch, Alexander. Konstruktionsgrammatik Konzepte und Grundlagen gebrauchsbasierter Ansätze. Berlin/Boston: de Gruyter, 2013.: 97)

No nível mais alto da figura temos uma construção com alto grau de abstração e de esquematicidade, pois a construção de movimento causado abre lacunas que são preenchidas por itens lexicais, como por exemplo, pelo verbo stellen. Construções mais específicas, que apresentem elementos lexicais fixos, podem se relacionar à construção mais abstrata. A CVS in Abrede stellen “contestar”, por exemplo, pode ser considerada uma generalização da construção de movimento causado, pois se relaciona a essa construção mais abstrata no que diz respeito à sua forma. Quanto ao seu significado, a CVS possui aspectos semânticos idiossincráticos específicos e por essa razão, ocupa um lugar próprio na rede de associações, sendo, nesse sentido, armazenada como um todo (Ziem; Lasch 2013Ziem, Alexander; Lasch, Alexander. Konstruktionsgrammatik Konzepte und Grundlagen gebrauchsbasierter Ansätze. Berlin/Boston: de Gruyter, 2013.; Goldberg 2003______. Words by Default the Persian Complex Predicate Construction. In: Francis, Elaine; Michaelis, Laura (Eds.). Mismatch: Form-Function Incongruity and the Architecture of Grammar. Stanford: CSLI Publications, 2003, p. 83-112.).

Levando em consideração a hipótese da gramática como um inventário de construções estruturado em forma de uma rede de associações, optamos por analisar contextos de uso do verbo stellen não somente como verbo suporte, mas também como verbo pleno e como integrante de outras expressões fixas. Assim, embora o nosso enfoque seja as CVS, acreditamos que uma análise baseada na gramática de construções não exclui a análise de contextos em que o verbo ocorre como integrante de construções argumentais, pois como ilustrado pela figura 1, construções com aspectos idiossincráticos também podem se relacionar a construções mais abstratas e esquemáticas da língua.

Por fim, acreditamos que adotar a gramática de construções como base teórica apresenta como vantagem o fato de não ser necessário considerar fraseologismos como irregularidades, exceções ou fenômenos linguísticos periféricos, possibilitando uma análise de padrões sintáticos e semânticos que englobe as mais diversas ocorrências do verbo stellen, sem necessariamente considerar algumas delas como exceções.

2.2 A abordagem construcional de Goldberg (1995Goldberg, Adele E. A Construction Grammar Approach to Argument Structure. Chicago: The University of Chicago Press, 1995. )

Goldberg (1995Goldberg, Adele E. A Construction Grammar Approach to Argument Structure. Chicago: The University of Chicago Press, 1995.) foca o seu trabalho nas construções de estrutura argumental e defende a tese de que construções são, por si só, portadoras de sentido. Para exemplificar a sua afirmação, a autora apresenta exemplos em que o verbo pode vir acompanhado de argumentos que geralmente não são atribuídos a ele:

  • (a) She baked him a cake.

  • (b) He sneezed the napkin off the table. (Goldberg 1995Goldberg, Adele E. A Construction Grammar Approach to Argument Structure. Chicago: The University of Chicago Press, 1995.: 9)

Se tomarmos como base uma abordagem linguística centrada no verbo e nos complementos que ele pode exigir, então será necessário entender a construção em (a) como uma ocorrência especial do verbo bake, que, embora originalmente exija somente os argumentos agente (she) e paciente (a cake), no contexto específico em (a), ocorre com um argumento recipiente (him).

Goldberg (1995Goldberg, Adele E. A Construction Grammar Approach to Argument Structure. Chicago: The University of Chicago Press, 1995.) explica a ocorrência de bake a partir de uma abordagem construcional, para a qual os argumentos que ocorrem em (a) seriam uma contribuição do próprio significado da construção argumental bitransitiva, que possui a leitura semântica x causa y a receber z, designando, assim, transferência intencional.

Da mesma forma, os argumentos que acompanham o verbo sneeze em (b) não precisariam ser atribuídos a um sentido novo do verbo intransitivo que, nesse caso, designaria movimento, pois a sua presença poderia ser entendida como uma contribuição da construção argumental de movimento causado, que pressupõe um deslocamento provocado por um agente causador até um determinado alvo.

Abordagens teóricas que não compartilham do conceito de construção teriam de formular um novo sentido para cada novo contexto de uso dos verbos bake. Como mencionado na seção anterior, para a gramática de construções, o inventário de construções está estruturado de forma sistemática. Segundo Goldberg (1995Goldberg, Adele E. A Construction Grammar Approach to Argument Structure. Chicago: The University of Chicago Press, 1995.), princípios psicológicos influenciam a organização do sistema linguístico, entre eles, podemos citar o princípio da economia maximizada, que sugere que o número de construções distintas deve ser diminuído ao máximo (Goldberg 1995). Levando em consideração esse princípio, podemos afirmar que a formulação de inúmeros novos sentidos para um verbo é considerada implausível, uma vez que a memória humana é limitada e não poderia armazenar inúmeros sentidos para cada nova ocorrência de cada verbo existente na língua.

Os exemplos apresentados anteriormente mostram como na abordagem construcional o verbo deixa de ser o centro para compreensão do sentido global de uma construção. Entretanto, Goldberg (1995Goldberg, Adele E. A Construction Grammar Approach to Argument Structure. Chicago: The University of Chicago Press, 1995.) não exclui a importância do verbo para a composição do significado, pois ele está associado a sentidos básicos que devem ser integrados à construção. Nesse sentido, devemos entender o sentido global de uma construção como o resultado da combinação entre contribuições da sua estrutura argumental e contribuições do verbo. Ao utilizar essa abordagem construcional como base para análise, procuramos tentar compreender de que forma as contribuições sintáticas e semânticas tanto do verbo stellen quanto das construções argumentais em que ele pode ocorrer colaboram juntamente para a composição do sentido global das construções com esse verbo.

As principais construções com que Goldberg (1995Goldberg, Adele E. A Construction Grammar Approach to Argument Structure. Chicago: The University of Chicago Press, 1995.) trabalha e seus significados podem ser observadas no quadro 2. Com exceção da construção intransitiva, todas as outras podem ser encontradas na análise aqui apresentada sobre o verbo stellen.

Quadro 2
Construções de estrutura argumental e suas leituras semânticas (Goldberg 1995Goldberg, Adele E. A Construction Grammar Approach to Argument Structure. Chicago: The University of Chicago Press, 1995.; Ziem; Lasch 2013Ziem, Alexander; Lasch, Alexander. Konstruktionsgrammatik Konzepte und Grundlagen gebrauchsbasierter Ansätze. Berlin/Boston: de Gruyter, 2013. 4 4 Os exemplos presentes no quadro 2 foram retirados de Ziem e Lasch 2013. ).

2.3 As construções com verbo suporte

Como mencionado anteriormente, o conceito de construção pode abranger diversos fenômenos linguísticos, como morfemas, expressões gramaticais, expressões altamente fixas etc., sem fazer distinção entre estruturas regulares e irregulares da língua. Dessa maneira, é possível assumir que as CVS formadas por stellen, que são o enfoque do presente trabalho, constituem, juntamente com as construções em que o verbo ocorre como verbo pleno, um objeto de estudo adequado para uma análise com base na gramática de construções.

Segundo Mellado Blanco (2015Mellado Blanco, Maria. Phrasem-Konstruktionen und lexikalische Idiom-Varianten. Der Fall der komparativen Phraseme des Deutschen. In: Engelberg, Stefan et al. (Eds.) Argumentstruktur zwischen Valenz und Konstruktion. Tübingen: Narr Francke Attempto, 2015, p. 217-235.), os fraseologismos parcialmente esquemáticos seriam um objeto de estudo interessante para estudos baseados na gramática de construções, pois eles apresentam certo grau de variação lexical. Rostila (2011Rostila, Jouni. Phraseologie und Konstruktionsgrammatik: Konstruktionsansätze zu präpositionalen Funktionsverbgefügen. In: Prinz, Michael.; Richter-Vapaatalo, Ulrike (Eds.). Idiome, Konstruktionen, „verblümte rede“. Beiträge zur Geschichte der Phraseologie. Stuttgart: S. Hirzel Verlag, 2011, p. 263-282.) caracteriza as CVS como construções desse tipo e considera que uma análise fraseológica que se baseie na gramática de construções poderia ser interessante para tentar compreender o comportamento de padrões fraseológicos.

A partir da perspectiva da pesquisa fraseológica deve ser interessante, que construções parcialmente esquemáticas coincidam em grande parte com padrões fraseológicos, enquanto as construções totalmente esquemáticas podem ser consideradas representantes extremamente abstratas dessa classe. A gramática de construções empreende de certo modo a tentativa de explicar até que ponto a ideia de padrões fraseológicos pode ser expandida. (Rostila 2011Rostila, Jouni. Phraseologie und Konstruktionsgrammatik: Konstruktionsansätze zu präpositionalen Funktionsverbgefügen. In: Prinz, Michael.; Richter-Vapaatalo, Ulrike (Eds.). Idiome, Konstruktionen, „verblümte rede“. Beiträge zur Geschichte der Phraseologie. Stuttgart: S. Hirzel Verlag, 2011, p. 263-282.: 266)5 5 Original: Aus der Sicht der Phraseologieforschung dürfte interessant sein, dass partiell schematische Konstruktionen weitgehend mit Phraseoschablonen zusammenfallen, während die gänzlich schematischen Konstruktionen als extrem abstrakte Vertreter dieser Klasse betrachtet werden können. Die KxG unternimmt daher gewissermaßen den Versuch zu erörtern, wie weit die Idee von Phraseoschablonen sich ausdehnen lässt.

Segundo o autor, as CVS estariam provavelmente relacionadas tanto aos padrões fraseológicos cujo sentido é armazenado como um todo, quanto às construções gramaticais (por exemplo, a construção bitransitiva). Essa hipótese estaria de acordo com o princípio da gramática de construções que entende o sistema linguístico como uma rede de associações. Assim, partimos da hipótese de que uma análise com enfoque nas CVS não exclui suas relações com ocorrências de stellen como verbo pleno e, também, como integrante de outros fraseologismos. A seguir, apontaremos brevemente as principais características das CVS e como CVS formadas por substantivos deverbais são processadas pelos falantes, segundo a perspectiva teórica da predicação conjunta.

2.3.1 Definição e principais características das CVS

As CVS do alemão (em alemão, Funktionsverbgefüge) são formadas por um verbo suporte e por um componente nominal. O componente nominal pode ser preenchido por um grupo preposicional, ou por um substantivo no acusativo, como por exemplo, zur Verfügung stellen “colocar à disposição” (verbo suporte + grupo preposicional) e Angst haben “ter medo” (verbo suporte + substantivo no acusativo).

O verbo suporte sofre um esvaziamento semântico no seu nível lexical e carrega informações morfológicas como número, pessoa, tempo e modo (Athayde 2001Athayde, Maria F. Construções com verbo-suporte (Funktionsverbgefüge) do Português e do Alemão. Cadernos do CIEG, n. 1. Coimbra: CIEG, 2001, p. 300-447.). Embora sofra perda de significado, o verbo suporte é portador de funções semânticas, verificadas nas mudanças da Aktionsart (Helbig; Buscha 2001Helbig, Gerhard; Buscha, Joachim. Deutsche Grammatik - Ein Handbuch für den Ausländerunterricht. Berlin/München: Langenscheidt, 2001.; Kamber 2008Kamber, Alain. Funktionsverbgefüge - empirisch: Eine korpusbasierte Untersuchung zu den nominalen Prädikaten. Tübingen: Niemeyer, 2008.). A Aktionsart6 6 Ataliba de Castilho (1967) desfaz o que o autor chama de “conflito (ou confusão)” entre os termos aspecto e Aktionsart. Como aponta o autor, o termo Aktionsart designa uma compreensão mais ampla do que o conceito de aspecto, geralmente relacionado à noção bipolar perfectivo/imperfectivo ligada à morfologia verbal das línguas eslavas. (literalmente, “modo de ação”) de um verbo diz respeito à gradação do evento denotado por ele e à maneira pela qual o percurso desse evento se dá (Helbig; Buscha 2001). Assim, uma CVS pode expressar um estado (durativo), o início de uma mudança de estado (incoativo) ou a causa de uma mudança de estado (causativo), como podemos aplicar aos seguintes exemplos:

  • (a) in Bewegung sein (durativo) “estar em movimento”

  • (b) in Bewegung kommen (incoativo) “entrar em movimento”

  • (c) in Bewegung setzen (causativo) “colocar em movimento”

De forma semelhante ao que ocorre com o verbo suporte, o substantivo do componente nominal perde informações semânticas, deixando de fazer referência a um objeto na realidade (Neves 2002Neves, Maria Helena M. A delimitação das unidades lexicais: o caso das construções com verbo-suporte. In: Neves, Maria Helena M. A gramática: história, teoria e análise, ensino. São Paulo: Editora UNESP, 2002, p.189-206; Duden 2009). Dessa forma, tanto o verbo quanto o sintagma nominal trabalham juntos para a composição do significado da construção como um todo, o que traz como consequência o fato de a construção não fazer sentido se ocorrer somente com um desses elementos (Athayde 2001Athayde, Maria F. Construções com verbo-suporte (Funktionsverbgefüge) do Português e do Alemão. Cadernos do CIEG, n. 1. Coimbra: CIEG, 2001, p. 300-447.; Helbig; Buscha 2001Helbig, Gerhard; Buscha, Joachim. Deutsche Grammatik - Ein Handbuch für den Ausländerunterricht. Berlin/München: Langenscheidt, 2001.).

A unidade semântica formada pelo verbo suporte e pelo componente nominal é perceptível na possibilidade de correspondência da CVS com um verbo base:

(a) Diese Formulierung bringt unsere Zielsetzung nicht zum Ausdruck.

“Essa formulação não traz o nosso objetivo à expressão.”

(b) Diese Formulierung drückt unsere Zielsetzung nicht aus. (Duden 2009: 589)

“Essa formulação não expressa o nosso objetivo.”

Essas construções formadas por um substantivo deverbal ou deadjectival são geralmente consideradas as CVS mais prototípicas. Entretanto, é possível verificar na literatura dedicada às CVS uma série de construções que se afastam desse modelo mais prototípico e que compartilham semelhanças com outros fraseologismos como, por exemplo, com as expressões idiomáticas e as colocações. Kamber (2008Kamber, Alain. Funktionsverbgefüge - empirisch: Eine korpusbasierte Untersuchung zu den nominalen Prädikaten. Tübingen: Niemeyer, 2008.) destaca o fato de não haver uma única definição irrestrita e correta para o fenômeno linguístico CVS, podendo variar, tanto os subcritérios definitórios utilizados, quanto o número de construções definidas como CVS, de acordo com cada autor.

Em razão da heterogeneidade da definição das CVS e do fato de as fronteiras entre CVS e outras construções serem tênues, autores como Athayde (2001Athayde, Maria F. Construções com verbo-suporte (Funktionsverbgefüge) do Português e do Alemão. Cadernos do CIEG, n. 1. Coimbra: CIEG, 2001, p. 300-447.), Neves (2002Neves, Maria Helena M. A delimitação das unidades lexicais: o caso das construções com verbo-suporte. In: Neves, Maria Helena M. A gramática: história, teoria e análise, ensino. São Paulo: Editora UNESP, 2002, p.189-206) e Welker (2003Welker, Herbert A. Zweisprachige Lexikographie: Vorschläge für deutsch-portugiesische Verbwörterbücher. München: Utz, 2003.) optam por adotar um continuum para construções compostas por um verbo e por um objeto. Nas extremidades desse continuum se encontrariam as construções gramaticais de um lado, e as expressões cristalizadas, de outro. Entre essas duas extremidades haveria uma série de graus, de acordo com a integração entre verbo e seus objetos. Nesse continuum entre léxico e gramática estariam as CVS, que poderiam apresentar um grau maior ou menor de lexicalização.

Segundo Helbig e Buscha (2001Helbig, Gerhard; Buscha, Joachim. Deutsche Grammatik - Ein Handbuch für den Ausländerunterricht. Berlin/München: Langenscheidt, 2001.), uma das maiores relevâncias do uso de CVS e, consequentemente, da análise dessas construções, reside nas possibilidades de variação da Aktionsart. Além disso, esses autores mencionam relevâncias comunicativas ligadas ao preenchimento de lacunas do sistema linguístico alemão e à facilitação e recepção de sentenças formuladas na voz passiva. Por fim, podemos ainda citar como relevância comunicativa o caráter formulaico das CVS, que facilita a expressão de conceitos próprios de textos científicos e técnicos.

2.3.2 O processamento das construções com verbo suporte

As CVS constituem um fenômeno linguístico que desperta interesse por pesquisadores de diversas vertentes linguísticas, pois elas podem ser analisadas a partir de diferentes perspectivas, entre elas, segundo a forma pela qual são processadas e armazenadas pelos falantes. Na presente seção apresentamos a análise de CVS deverbais proposta por Wittenberg e Piñango (2011Wittenberg, Eva; Piñango, Maria M. Processing light verb constructions. In: Jarema, Gonia; Libben, Gary (Eds.). The Mental Lexicon, v. 6, n. 3. Amsterdam: John Benjamins, 2011, p. 393-413.) e Wittenberg (2016), que consideram que o sentido global dessas construções estaria intimamente relacionado ao seu processamento.

Para Wittenberg (2016Wittenberg, Eva. With Light Verb Constructions from Syntax to Concepts. Potsdam: Universitätsverlag Potsdam, 2016.), haveria um desencontro entre os níveis de representação sintático e semântico das CVS formadas por substantivo deverbal, isto é, não seria possível verificar nessas construções uma correspondência entre as posições sintáticas e seus papéis argumentais. Esse desencontro é perceptível no próprio componente nominal que não funciona como um objeto como em construções com verbo pleno, mas denota o evento de toda a CVS.

Em sua análise, Wittenberg (2016Wittenberg, Eva. With Light Verb Constructions from Syntax to Concepts. Potsdam: Universitätsverlag Potsdam, 2016.) parte do princípio de que no plano sintático, tanto CVS quanto construções formadas pelo verbo base correspondente, seriam semelhantes. Ao compararmos a CVS The woman is giving the man a kiss à construção formada por verbo pleno the woman is giving the man a book, é possível verificar que ambos os exemplos seguem a estrutura da construção bitransitiva. Entretanto, a estrutura semântica da CVS se assemelha à estrutura argumental do verbo base, do qual o substantivo deverbal deriva (Wittenberg 2016).

Durante o processamento de CVS como The woman is giving the man a kiss ocorreria uma partilha de argumentos (Wittenberg 2016Wittenberg, Eva. With Light Verb Constructions from Syntax to Concepts. Potsdam: Universitätsverlag Potsdam, 2016.). Assim, na CVS, tanto o verbo give quanto o evento nominal descrito por kiss atribuem papéis semânticos ao sujeito, que não é entendido apenas como um sujeito de give, mas também, como sujeito de kiss, isto é, esse argumento agente é tanto um doador quanto um agente que desempenha a ação de beijar. Da mesma forma, o argumento the man não é somente o argumento que é beijado (paciente de kiss), mas também, o argumento para quem algo é dado (recipiente de give) (Wittenberg 2016; Wittenberg; Piñango 2014).

O sentido global das CVS estaria relacionado às contribuições tanto do verbo quanto do componente nominal durante o processo chamado pela autora de predicação conjunta. Durante esse processo, haveria a “(...) reconciliação do desencontro entre a sintaxe e a semântica (...)” (Wittenberg 2016Wittenberg, Eva. With Light Verb Constructions from Syntax to Concepts. Potsdam: Universitätsverlag Potsdam, 2016.: 35)7 7 Original: […] it involves reconciling the mismatch between semantic and syntactic argument structure […]. da CVS, por meio de uma sobreposição da estrutura argumental do verbo base à estrutura argumental do verbo suporte.

Para confirmar o processo de predicação conjunta Wittenberg e Piñango (2011Wittenberg, Eva; Piñango, Maria M. Processing light verb constructions. In: Jarema, Gonia; Libben, Gary (Eds.). The Mental Lexicon, v. 6, n. 3. Amsterdam: John Benjamins, 2011, p. 393-413.) e Wittenberg (2016) se valem de estudos empíricos que visam analisar o esforço mental necessário para o processamento de CVS deverbais. Valendo-se do teste behaviorista cross-modal, que consiste na realização de tarefas lexicais, a autora chega à conclusão de que o tempo de reação para decisões lexicais foi maior para as CVS, quando a tarefa lexical foi designada 300ms após a construção ser ouvida. Esse resultado indicaria que o acesso à interpretação de uma CVS tem como consequência um maior esforço de memória (Wittenberg; Piñango 2011; Wittenberg et al. 2014; Wittenberg 2016). O maior gasto de memória, por sua vez, seria o indicador de que a compreensão do sentido global de CVS deverbais envolveria um processo de sobreposição das estruturas argumentais do verbo e do sintagma nominal.

A principal vantagem em se utilizar a predicação conjunta para a análise de CVS deverbais, consiste no fato de essa perspectiva de análise levar em consideração tanto a estrutura argumental do verbo suporte quanto do complemento nominal, sem afetar a sua estrutura sintática (Wittenberg et al. 2014). Além disso, essa perspectiva teórica encontra embasamento em estudos empíricos.

3 Metodologia

Na presente seção discorremos sobre as duas etapas da catalogação dos dados: primeiramente, apresentamos o levantamento dos sentidos do verbo stellen realizado a partir da consulta a dicionários de alemão e, em um segundo momento, expomos os procedimentos utilizados para a composição do corpus que serviu como base para a análise dos dados.

3.1 Dados coletados em dicionários

Em um primeiro momento, optamos por consultar obras de referência que pudessem oferecer uma visão geral dos sentidos do verbo stellen. Por esse motivo, iniciamos a catalogação dos dados pela consulta aos principais dicionários em língua alemã, são eles:

  • Duden 10 Bedeutungswörterbuch (2002)

  • Duden Universalwörterbuch (2003)

  • Wahrig Deutsches Wörterbuch (2006)

  • Duden 11 Redewendungen (2008)

  • Langenscheidt Power Wörterbuch (2009)

  • Pons Großwörterbuch Deutsch als Fremdsprache (2015)

Os dicionários escolhidos abrangeram datas de publicação diferentes e diferentes públicos-alvo. A consulta foi feita às entradas dedicadas ao verbo stellen. A partir da associação de todos os dados encontrados nas entradas desses dicionários extraímos 21 acepções diferentes para o verbo stellen.

Durante a consulta aos dicionários foi possível notar soluções diferentes adotadas para o tratamento das CVS, como a criação de uma categoria especial para essas construções ou a tentativa de associá-las a ocorrências com verbo pleno. O dicionário Duden Universalwörterbuch (2003), por exemplo, coloca, por um lado, essas construções em uma categoria chamada verblasst (literalmente: “pálido”, “desvanecido”), que indica a perda de informação semântica sofrida pelo verbo, mas, por outro, cita a CVS eine Frage stellen como exemplo para a acepção “levar alguma coisa a um determinado lugar, a uma posição específica, de modo que fique lá parado”.

Se levarmos em consideração o número de sentidos distintos para o verbo stellen encontrados nos dicionários podemos questionar de que maneira esse alto número de acepções encontra embasamento na cognição humana. Como apresentado na seção 2.2, um dos princípios da gramática de construções recai justamente na não proliferação de sentidos, pois assume que a memória humana não seria capaz de armazenar listas de sentidos para cada verbo ou palavra que existe em uma língua. Seguindo tal princípio, poderíamos pressupor que os sentidos de stellen estariam, de certa forma, relacionados ao sentido de cada construção que ele pode integrar.

Embora os dicionários ofereçam uma perspectiva geral dos usos do verbo stellen, geralmente os exemplos de contextos de usos fornecidos por eles, são bastante limitados. Em razão da escassez de exemplos de uso contidos nos dicionários consultados e do fato de a gramática de construções partir do uso real que os falantes fazem da língua, optamos pela elaboração de um corpus formado por excertos de textos obtidos a partir do COSMAS II, do Institut für Deutsche Sprache (IDS), da Universidade de Mannheim, como será melhor explicado a seguir.

3.2 Elaboração do corpus

Para a elaboração do corpus foi utilizado o banco de dados COSMAS II, do Institut für Deutsche Sprache (IDS). Entre os diferentes arquivos disponíveis para busca, optamos pela utilização do arquivo Wikipedia Artikel und Diskussionen, que contém artigos publicados no site Wikipédia e discussões entre os autores cadastrados sobre a veracidade das informações inseridas nos artigos. A escolha por esse arquivo permite partir da hipótese de que a linguagem observada no corpus abrangerá dois registros distintos: um mais formal, utilizado nos artigos, e outro não muito elaborado, com elementos que o aproximam da língua falada, presente nas discussões.

As etapas até o levantamento dos dados consistiram em primeiramente, realizar uma busca pela forma lematizada do verbo. Em um segundo momento, na opção Suchbegriff-Expansionslisten, foi necessário excluir manualmente ocorrências com o substantivo Stelle no plural (Stellen). Por fim, trabalhamos com dados em linhas de concordância, geradas pelo próprio COSMAS II. Em um primeiro momento obteve-se 467.224 ocorrências, contudo, a fim de que os dados pudessem ser analisados em tempo viável, optamos por realizar um recorte, trabalhando com as primeiras 10 mil ocorrências disponibilizadas, que foram, por sua vez, organizadas de forma aleatória, em uma tentativa de contemplar a totalidade do corpus, a partir de amostras distintas.

Cabe ainda citar que, durante a organização do corpus, foi necessário descartar sentenças em que o verbo stellen ocorreu como verbo separável. Ao final da elaboração do corpus foi possível trabalhar com 36.653 palavras. Embora possa ser considerado um corpus pequeno, acreditamos que os exemplos encontrados complementam os primeiros dados obtidos nos dicionários, fornecendo exemplos reais da interação entre os falantes, o que é adequado para uma análise qualitativa dos padrões sintáticos e semânticos do verbo stellen.

4 Análise de padrões do verbo stellen

Na presente seção apresentamos uma análise dos padrões mais recorrentes no uso de stellen. Em cada um dos subitens a seguir discorremos brevemente sobre as principais características de cada construção argumental em que o verbo stellen ocorreu, inicialmente como verbo pleno e, depois, procurando relacionar as informações relevantes à forma e ao conteúdo dessas construções argumentais aos contextos em que o verbo integrou CVS.

4.1 A construção de movimento causado

O padrão mais frequente de stellen diz respeito à construção de movimento causado, que possui como significado central a ideia de deslocamento do argumento tema para uma nova posição, provocado por um argumento “causador”. No corpus, foram encontradas construções desse tipo, que expressam tanto movimento concreto como abstrato:

(1) Wenn man in den Mittelpunkt einer gläsernen Erdkugel eine Glühlampe stellen würde, ist der Himmelsäquator gerade die Projektion des Erdäquators an die scheinbare Himmelskugel. [WPD13/A00.12322: Äquator, In: Wikipedia - URL: http://de.wikipedia.org/wiki/Äquator: Wikipedia, 2013]

“Se uma lâmpada incandescente fosse colocada no centro de um globo terrestre de vidro, o equador do céu seria justamente a projeção do equador na bola celeste.”8 8 Todas as traduções dos exemplos retirados do corpus consistem em traduções livres.

(2) Die Entwicklung der Menschheit stellte er in den Kontext einer kosmischen Evolution, in deren Verlauf unser gesamtes Planetensystem und mit ihm die Menschheit eine Reihe von „Wiederverkörperungen“ durchmacht.

(WPD13/A00.12578: Anthroposophie, In: Wikipedia - URL: http://de.wikipedia.org/wiki/Anthroposophie: Wikipedia, 2013)

“O desenvolvimento da humanidade, ele coloca no contexto de uma evolução cósmica, em cujo curso do nosso sistema planetário como um todo, e com ele, a humanidade experimenta uma série de novas encarnações.”

A construção (1) é formada por argumentos concretos e expressa o deslocamento concreto de se colocar uma lâmpada no meio de um globo terrestre. Além da leitura concreta de deslocamento, stellen pode integrar construções de movimento causado que expressam movimento abstrato, como se observa em (2). No corpus foram encontrados outros argumentos alvo preenchidos por substantivos que expressam conceitos abstratos assim como em (2), são eles: (etwas/jemand stellt etwas/jemanden) in einen größeren Zusammenhang, in den Kontext e in den Rahmen “(algo/alguém coloca algo/alguém) em um contexto/em uma relação maior, no contexto e no âmbito”.

Em relação ao argumento alvo das construções de movimento causado com stellen e, consequentemente, ao deslocamento do tema, foi possível verificar características distintas. Em uma série de construções, o argumento tema é deslocado para posições de destaque: (etwas/jemand stellt etwas/jemanden) an den Anfang, ins Zentrum, in den Mittelpunkt, an die Spitze, in den Vordergrund “(algo/alguém coloca algo/alguém) no início, no centro, no centro, na ponta, no primeiro plano”.

O deslocamento do tema pode, ainda, indicar que ele passa a ser considerado parte de um grupo, de uma categoria ou de um conceito, como se observa a seguir:

(3) Ein gewisses Maß an Unsicherheit drückt der deutsche Name Asselspinnen aus. Lange Zeit wurden sie zu den Krebsen gestellt, da sie aber auch spinnenförmig aussehen und auch einige Gemeinsamkeiten aufwiesen, reihte man sie in die Klasse der Spinnentiere ein [WPD13/A00.00315: Asselspinnen, In: Wikipedia - URL: http://de.wikipedia.org/wiki/Asselspinnen: Wikipedia, 2013]

“Um certo grau de incerteza expressa o nome alemão aranha-do-mar. Por muito tempo elas foram colocadas junto aos caranguejos, mas como elas também possuem a aparência de aranhas e também apresentavam algumas semelhanças, elas foram agrupadas na classe dos aracnídeos.”

Na construção (3) o conceito de aranha é entendido como parte da categoria dos caranguejos. Essa leitura é reforçada pelo próprio contexto do qual o excerto foi retirado, que menciona o fato de se tratar de uma classe específica (in die Klasse der Spinnentiere “na classe dos aracnídeos”). Outros argumentos alvo presentes no corpus que expressam a ideia de pertença a um grupo, categoria ou conceito são: (etwas/jemand stellt etwas/jemanden) zu den Krebsen, in eine Reihe, in eine Familie, neben die schon existierende Theosophie, an die Seite der großen Schriftsteller “(algo/alguém coloca algo alguém) junto aos caranguejos, em uma série, em uma família, ao lado da teosofia já existente, ao lado dos maiores escritores.”

O verbo stellen pode integrar construções que seguem a forma da construção de movimento causado, mas nas quais esse verbo sofre esvaziamento semântico, funcionando apenas como verbo suporte de CVS. Nessas construções, o verbo suporte stellen perde parte do seu significado original de “colocar” e o evento denotado pela CVS como um todo é fortemente influenciado pelo seu componente nominal. Como exemplo, podemos citar a CVS zur Diskussion stellen “colocar em discussão”:

(4) Es gibt hier also einiges zu ändern. Bevor ich aber den gesamten Artikel umkremple oder neu schreibe, wollte ich hier erst mal diese Punkte zur Diskussion stellen. [WDD13/F05.67285: Diskussion: Fundamentalgruppe, In: Wikipedia - URL: http://de.wikipedia.org/wiki/Diskussion:Fundamentalgruppe: Wikipedia, 2013]

“Há, aqui, algumas coisas para serem alteradas. Mas antes de eu reformular radicalmente o artigo ou escrever algo novo, gostaria de colocar aqui primeiramente esses pontos em discussão.”

A CVS (4) segue a forma das construções de movimento causado, sendo formadas por um sujeito (ich), um objeto (diese Punkte) e por um sintagma direcional com preposição (zur Diskussion). No plano semântico, a estrutura argumental de (4) difere consideravelmente das construções de movimento causado formadas por verbo pleno, pois, aqui, o verbo sofre perda semântica e a CVS expressa um significado muito próximo ao do verbo base correspondente diskutieren “discutir”.

Seguindo os princípios da partilha de argumentos e da predicação conjunta como proposto por Wittenberg (2016Wittenberg, Eva. With Light Verb Constructions from Syntax to Concepts. Potsdam: Universitätsverlag Potsdam, 2016.), podemos argumentar que a combinação entre os argumentos do verbo suporte stellen e do seu componente nominal, determina as características dos papéis argumentais da CVS. No caso da CVS zur Diskussion stellen, ocorre uma violação na uniformidade do mapeamento sintático-semântico, observada em duas estruturas argumentais que influenciam ao mesmo tempo a composição do significado: a estrutura da construção de movimento causado, que é originalmente composta por três argumentos, e a estrutura do verbo simples correspondente (diskutieren), que expressa um evento transitivo e influencia o evento denotado pela CVS.

O processo de predicação conjunta possibilita determinar a estrutura argumental da CVS, que é formada por um agente, tanto de stellen quanto de diskutieren, e por um paciente que sofre a ação de ambos os verbos, já que é colocado em um lugar abstrato (zur Diskussion), e é, também, discutido. Segundo Wittenberg e Piñango (2014) e Wittenberg (2016), o compartilhamento de argumentos como acontece com a CVS zur Diskussion stellen influencia diretamente a forma de processamento de CVS desse tipo, pois exigem um maior custo de memória.

A sobreposição de argumentos como ocorre em zur Diskussion stellen não foi facilmente verificada em outras CVS que seguem a forma da construção de movimento causado. Em in Rechnung stellen “cobrar”, por exemplo, não podemos afirmar que haja uma correspondência semântica entre o verbo rechnen “calcular” e o significado global da CVS. Embora haja correspondência morfológica entre o verbo rechnen e o substantivo Rechnung “conta”, o verbo anrechnen “pôr na conta, creditar” é o mais adequado para recuperar o sentido da CVS. Em in Abrede stellen “contestar” não é sequer possível encontrar correspondência com um verbo base. Embora a forma dessa CVS seja semelhante à forma da construção de movimento causado, o seu sentido é altamente específico e fixo. Diferentemente de outras CVS em que é possível observar influências semânticas provenientes da estrutura argumental do verbo suporte e do componente nominal, em in Abrede stellen o sentido global não é composicional. Por esse motivo, a forma e o sentido da CVS são armazenados como um todo no continuum léxico-gramática, assim como as palavras da língua e as construções gramaticais. Outras CVS analisadas por Castilho (2017Castilho, Thaís D. de. Análise sintático-semântica do verbo stellen com ênfase no seu uso como verbo-suporte: um estudo com base na Gramática de Construções. Dissertação de Mestrado. FFLCH/USP, São Paulo, 2017.), que seguem a forma da construção de movimento causado são: unter Beweis stellen “comprovar, dar prova”, unter Beobachtung stellen “colocar sob observação”, unter Schutz stellen “colocar sob proteção”, unter Strafe stellen “punir”, zur Verfügung stellen “colocar à disposição”, in Frage stellen “colocar em questão”, zur Erörterung stellen “colocar em discussão”, zur Schau stellen “expor”, zur Rede stellen “pedir satisfações, interpelar e in Dienst stellen “colocar em serviço”.

Cabe ainda mencionar a presença no corpus de construções que seguem a forma da construção de movimento causado, mas cujo sentido global remonta a uma imagem metafórica, como em (5):

(5) Eines seiner Lieblingsmotive stellte er auf den Kopf: Am Ende entpuppt sich der „unschuldig Verfolgte“ als der wahre Mörder. (WPD13/A00.00077: Alfred Hitchcock, In: Wikipedia - URL: http://de.wikipedia.org/wiki/Alfred_Hitchcock: Wikipedia, 2013).

“Ele inverte um dos seus temas preferidos: no final, o “inocente perseguido” se revela como o verdadeiro assassino.”

De Knop (2013De Knop, Sabine; Mollica, Fabio. Die Konstruktionsgrammatik für die Beschreibung romanischer Sprachen. In: De Knop, Sabine; Mollica, Fabio. Konstruktionsgrammatik in den romanischen Sprachen. Frankfurt am Main: Peter Lang, 2013, p. 5-23.) destaca o fato de o critério da não-composicionalidade ser fundamental para a apreensão do sentido de construções como essa, já que em (5) embora a ideia de movimento possa, de certa maneira, ser recuperável pela imagem metafórica, o significado global da construção não é composicional. Assim, a construção deve ser entendida como uma unidade idiomática que expressa a subversão dos sentidos, algo que não é feito de forma usual.

4.2 A construção transitiva

O segundo padrão em que stellen ocorreu com maior frequência diz respeito à construção transitiva. Nessas construções, as contribuições semânticas do verbo são fundamentais para compreender o sentido global da construção. Assim, dependendo dos argumentos que acompanharam o verbo e do contexto em que ele ocorreu, stellen teve diferentes significados, como por exemplo, representar, fornecer e capturar:

(6) Nach den USA stellt Deutschland die zweitgrößte Besuchergruppe. (WPD13/A00.08610: Antarktis, In: Wikipedia - URL: http://de.wikipedia.org/wiki/Antarktis: Wikipedia, 2013).

“Depois dos EUA a Alemanha representa o segundo maior grupo de visitantes.”

(7) Nach Alexanders Tod erwies sich die Loyalität zu seiner Familie, die keinen herrschaftsfähigen Nachfolger stellen konnte, als sehr begrenzt.

(WPD13/A00.00107: Alexander der Große, In: Wikipedia - URL: http://de.wikipedia.org/wiki/Alexander_der_Große: Wikipedia, 2013).

“Depois da morte de Alexandre, comprovou-se que a lealdade à sua família, que não pôde fornecer nenhum sucessor com capacidade de liderança, era bastante limitada.”

As construções transitivas em (6) e (7) chamam a atenção para a sua leitura semântica. Em (6) o argumento agente não parece agir de alguma forma sobre o paciente, mas ele deve ser entendido como sendo o próprio paciente. Isso fica evidente se substituirmos o verbo stellen pelo verbo sein. Assim poderíamos afirmar que a Alemanha é o segundo maior grupo de visitantes. Em (7) verifica-se a presença de um paciente correferencial, que não corresponde à totalidade do agente, mas somente a uma parte dele, pois faz referência a somente um sucessor. A leitura de stellen como “fornecer” está, aqui, ligada à ideia de fazer surgir uma figura de dentro de um grupo, que é colocada em uma posição de liderança. Esse mesmo sentido é recuperado de maneira inversa em português, já que nessa língua o paciente assumiria a posição do agente , que não é fornecido, mas que surge de um determinado grupo.

Embora não enumere todos os sentidos possíveis para a construção transitiva, Goldberg (1995Goldberg, Adele E. A Construction Grammar Approach to Argument Structure. Chicago: The University of Chicago Press, 1995.) afirma que essa construção é altamente polissêmica e forma uma rede de construções associadas ao sentido central x age sobre y. Assim, consideramos que as diferenças nos sentidos de stellen podem ser entendidas como sentidos subordinados à leitura semântica geral da construção transitiva.

Os critérios definitórios de construção foram fundamentais para o entendimento da construção die Weichen stellen, que segue a forma sintática da construção transitiva e que apresenta duas leituras possíveis. Essa construção pode apresentar um significado literal, resultado da somatória dos sentidos de seus constituintes: o verbo stellen mantém informação semântica relacionada ao evento de “colocar”, expressando nesse caso a mudança da direção das agulhas (die Weichen), isto é, do conjunto de peças do aparelho de mudança da linha férrea, a fim de que os veículos que se deslocam sobre os trilhos possam passar sem interromper a viagem9 9 Fonte: Glossário Técnico Ferroviário. Disponível em: <https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/idiomas/glossario-tecnico-ferroviario/56006> (Acesso em 07.06.2018). . Essa construção não pode ser considerada uma construção parcialmente esquemática como as CVS, já que a forma nominal die Weichen ocorre somente em combinação com verbo stellen. Nesse caso estamos diante de uma colocação verbal fixa, que não permite variação lexical e que se fixou como uma unidade cognitiva, adquirindo, assim, o status de construção, por ocorrer com frequência considerável na língua.

A mesma construção pode possuir uma interpretação não-composicional quando expressa uma mudança de rumos metafórica, como se observa a seguir:

(8) Der „kalte Krieg“ in Rest-Deutschland hatte die Weichen gestellt: im Westen wurden die Abschlüsse nicht anerkannt und so blieb in der jungen DDR, die damals für viele „auf andere Art so große Hoffnung“ war, auch literarisch. (WDD13/H03.06050: Diskussion: Hanns Cibulka, In: Wikipedia - URL: http://de.wikipedia.org/wiki/Diskussion:Hanns_Cibulka: Wikipedia, 2013)

“A “Guerra Fria” havia mudado os rumos da situação no restante da Alemanha: no Oeste os diplomas não foram reconhecidos e assim permaneceu na jovem Alemanha Oriental, que antigamente para muitos era “de outra maneira tão grande esperança”, também literariamente.”

No corpus foram encontrados exemplos em que stellen integra CVS com a forma sintática da construção transitiva, são eles: einen Antrag stellen “fazer um pedido”, eine Frage stellen “fazer uma pergunta”, einen Beitrag stellen “fazer uma contribuição”, Diagnose stellen “fazer diagnóstico”, Anforderungen stellen “fazer exigências”, Ansprüche stellen “fazer reivindicações” e eine/die Forderung(en) stellen “fazer uma/as exigência(s)” (Castilho 2017Castilho, Thaís D. de. Análise sintático-semântica do verbo stellen com ênfase no seu uso como verbo-suporte: um estudo com base na Gramática de Construções. Dissertação de Mestrado. FFLCH/USP, São Paulo, 2017.).

Seguindo o princípio de análise da predicação conjunta, podemos considerar a semântica das CVS como resultado da sobreposição das estruturas argumentais do verbo base do qual o componente nominal deriva e do verbo suporte que forma a construção. Tomando como exemplo a CVS einen Antrag stellen, verificamos que o evento expresso pelo componente nominal possui um sentido próximo ao sentido do evento denotado pelo verbo base correspondente beantragen “solicitar”. Esse verbo, assim como stellen, pode ocorrer com dois argumentos.

Os argumentos de stellen e do verbo do qual o substantivo Antrag deriva são alinhados. Dessa maneira, o sujeito da CVS pode ser considerado tanto sujeito do verbo stellen, quanto da CVS como um todo, pois o evento descrito pela CVS determina que esse agente seja entendido como aquele que realiza a ação de fazer um pedido.

Na CVS einen Antrag stellen o componente nominal (Antrag) ocupa superficialmente a posição que seria de argumento paciente da sentença, não podendo ser dissociado da CVS. Essa característica do componente nominal da CVS ressalta a complexidade envolvendo a correspondência entre sintaxe e semântica das CVS.

4.3 A construção bitransitiva

Como brevemente citado a partir do exemplo com o verbo bake, a construção bitransitiva expressa o sentido de transferência, realizado por um agente que pretende causar a transferência de um paciente a um recipiente (Goldberg 1995Goldberg, Adele E. A Construction Grammar Approach to Argument Structure. Chicago: The University of Chicago Press, 1995.). Essa construção apresenta uma baixa frequência no corpus, sendo encontrada em construções que apresentam a forma da construção bitransitiva, mas que são altamente convencionais, como se observa no exemplo a seguir:

(9) Am 2. Mai 1945 stellte sich Wernher von Braun den Streitkräften der Vereinigten Staaten und wurde zusammen mit anderen Wissenschaftlern aus seinem Mitarbeiterstab ebenfalls in die USA gebracht. (In: Wikipedia - URL: https://de.wikipedia.org/wiki/Wernher_von_Braun: Wikipedia, 2013)

“Em 2 de maio de 1945 Wernher von Braun entregou-se às forças armadas dos Estados Unidos e foi juntamente com outros cientistas da sua equipe igualmente trazido aos EUA.”

A construção (9) é formada por um agente e por um paciente correferencial, que é transferido para um argumento recipiente no dativo (den Streitkräften). Entretanto, a sua leitura semântica deve ser entendida no nível idiomático como “estar preparado para enfrentar algo/alguém”.

No corpus também foram encontradas CVS que apresentam um argumento recipiente como parte de sua estrutura argumental externa:

(10) Dort wurden den Studenten Modelle zur Verfügung gestellt, deren Haltung sie frei bestimmen konnten. (WPD13/A00.09569: Amedeo Modigliani, In: Wikipedia - URL: http://de.wikipedia.org/wiki/Amedeo_Modigliani: Wikipedia, 2013)

“Lá foram colocados modelos à disposição dos estudantes, cuja pose eles podiam determinar livremente.”

Nesse caso, o argumento den Studenten funciona como o argumento que recebe a ação denotada pela CVS.

4.4 A construção resultativa

A principal característica da construção resultativa consiste no fato de ela ser composta por um argumento paciente que sofre uma mudança de estado, pelo menos potencial. O argumento sujeito, por sua vez, não precisa ser necessariamente um agente, uma vez que nesse tipo de construção a volitividade não é obrigatória. Por fim, a construção resultativa ainda conta com um terceiro argumento que representa a consequência da mudança de estado, isto é, o resultado ou objetivo alcançado.

O número de ocorrências no corpus não foi grande, consistindo apenas em sete construções resultativas, dentre as quais nenhuma foi considerada uma CVS. As construções resultativas com stellen expressam tanto sentido concreto ou figurado como se observa a seguir:

(11) Ölbronn kann den Sekt kalt stellen. Spitzenreiter nach 2:1 gegen Verfolger Mühlacker kaum noch aufzuhalten. (http://www.fupa.net/berichte/oelbronn-kann-den-sekt-kalt-stellen-437937.html acesso em 20/02/2017).

“Ölbronn já pode colocar o espumante para gelar. Líder da tabela, depois do 2:1 contra o segundo colocado, Mühlacker, pode ser dificilmente batido.”

(12) Venezuelas Regierung stellt Gegner kalt. (http://www.heute.de/venezuelas-regierung-stellt-gegner-kalt-henrique-capriles-darf-15-jahre-nicht-fuer-oeffentliche-aemter-kandidieren-46938692.html).

“O governo da Venezuela neutraliza o opositor.”

A construção den Sekt kalt stellen é formada por um sujeito agente (Ölbronn), por um objeto direto que desempenha a função de paciente (Sekt) e por um sintagma resultativo, que corresponde ao sintagma adjetival. O adjetivo kalt pode ser caracterizado como uma propriedade, já que sua presença determina a característica que o objeto apresentará depois da mudança de estado. Nesse caso, há uma mudança potencial concreta, pois ela se refere às propriedades interiores do espumante. Em (12), no entanto, estamos diante de uma leitura figurada de stellen que remete à ideia de matar, já que podemos interpretar um corpo gelado como sendo um corpo sem vida. Como se trata de um contexto político, a construção em (12) deve ser entendida como neutralizar o opositor, que estará “morto” no cenário político.

Além dessas ocorrências mais prototípicas, foram encontradas construções resultativas que apresentam certas nuances no sentido principal da construção referente à mudança de estado. Como exemplo, podemos citar a construção Kannst du die Heizung wärmer stellen? “você pode aumentar a potência da calefação?”, em que a mudança de estado se refere à mudança da regulagem de um aparelho. Nesse exemplo, uma parte do todo é regulada a fim de se obter uma mudança no produto do seu funcionamento, isto é, na potência do calor produzido pela calefação.

Foi ainda possível encontrar uma construção que no plano da forma se assemelha à construção resultativa por ser formada por um sintagma adjetival, mas cujo sentido é altamente fixo:

(13) Im ersten Jahr zu Weihnachten schenkte ihr Maria eine teure Seife, weil wir uns gut stellen wollten mit ihr. (Duden 11)

“No primeiro ano Maria a presenteou no Natal com um sabonete caro, porque nós queríamos nos dar bem com ela.”

Embora a construção (13) possua a estrutura sintática própria da construção resultativa, o seu sintagma adjetival não pode ser interpretado como resultativo, uma vez que a construção como um todo é altamente idiomática e seu significado específico: “tentar ganhar a simpatia de alguém”. Nesse contexto de uso, o significado específico da construção, substitui o sentido mais geral e abstrato da construção resultativa. Esse significado é armazenado combinado à forma da construção sich mit jemandem gut stellen como uma unidade no léxico.

5 Resultados

A principal contribuição da análise sintático-semântica do verbo stellen com base na gramática de construções consiste no fato de que os diferentes sentidos do verbo são resultado da junção dos significados tradicionalmente atribuídos somente ao verbo com o sentido das quatro construções de estrutura argumental que ele pode integrar. Essa forma de análise corrobora o princípio da economia semântica, já que não se faz necessário postular uma série de acepções para o verbo stellen, mas somente compreender as relações entre esse verbo e as construções argumentais em que ele pode ocorrer. Assim, o levantamento sintático-semântico de stellen pode ser resumido nos seguintes padrões gerais, apresentados, na sequência, segundo sua frequência no corpus:

  1. Construção de movimento causado (x causa y a mover para z)

  2. Construção transitiva (x age sobre y)

  3. Construção bitransitiva (x causa y a receber z)

  4. Construção resultativa (x causa y a tornar z)

Como visto durante a análise, o verbo stellen pode apresentar nuances de sentido em cada uma dessas construções argumentais, de acordo com fatores como, por exemplo, os argumentos que preenchem suas lacunas, os contextos de uso e o caráter fraseológico das construções. Retomando os exemplos analisados no presente artigo, podemos inserir, dentro de cada uma dessas construções argumentais principais, as seguintes informações:

Quadro 3
Levantamento de padrões sintáticos e semânticos do verbo stellen

Embora o quadro não apresente todos os sentidos possíveis de stellen10 10 O quadro apresenta somente os principais resultados de um levantamento de padrões de stellen. Para informações mais detalhadas recomendamos consultar Castilho (2017: 141-146). , ele nos fornece uma boa perspectiva de como o conhecimento linguístico está organizado de forma esquemática. Nesse sentido, a análise com base na gramática de construções permitiu que construções completamente esquemáticas, parcialmente esquemáticas como as CVS e unidades altamente fixas fossem analisadas como objetos da língua, sem ser necessário considerar alguma delas como exceções. A perspectiva teórica da gramática de construções torna possível associar usos de stellen, que não tenham sido contemplados na análise, às quatro construções argumentais mencionadas no Quadro 3, sem ser necessário elaborar novas acepções para esse verbo.

No que diz respeito às CVS e às expressões metafóricas, foi possível notar que essas construções se assemelham às construções argumentais formadas por stellen no plano sintático, mas diferem no que diz respeito à sua interpretação semântica. Assim, o uso desses fraseologismos está relacionado à forma como os falantes se utilizam de conceitos concretos presentes no mundo, como, por exemplo, a ideia de deslocamento concreto de um objeto de um determinado lugar para outro, a ideia de transferência de um objeto para uma entidade, a ação sobre um objeto e a causação de mudança de estado de um objeto concreto ou ser animado, para conceptualizar eventos muito mais abstratos (Castilho 2017Castilho, Thaís D. de. Análise sintático-semântica do verbo stellen com ênfase no seu uso como verbo-suporte: um estudo com base na Gramática de Construções. Dissertação de Mestrado. FFLCH/USP, São Paulo, 2017.).

A hipótese da gramática como um inventário estruturado de construções, como postulado pela gramática de construções, permitiu que CVS fossem associadas a construções mais abstratas da língua, nas quais o verbo stellen ocorre como verbo pleno. Essa relação se deu fundamentalmente a partir da forma das construções e, no caso das CVS deverbais, também foi possível recuperar algumas informações semânticas provenientes do verbo e do componente nominal.

A análise de CVS deverbais levou em consideração o processo de predicação conjunta e revelou que o desencontro no mapeamento sintático-semântico das CVS do corpus que seguem a forma da construção transitiva pode ser considerado não tão aparente, pois há um alinhamento dos argumentos do verbo suporte e do verbo base, do qual o componente nominal deriva, como vimos no caso da CVS einen Antrag stellen. Já nas CVS que seguem a estrutura de superfície da construção de movimento causado, foi possível notar uma discrepância mais evidente. Nessas construções observamos a presença de duas estruturas argumentais distintas ativas ao mesmo tempo: o componente nominal contribui com um argumento agente e um argumento paciente, que participam da predicação conjunta juntamente com os argumentos causador, tema e alvo do verbo stellen. O evento expresso pela CVS como um todo, é, no entanto, processado como um evento transitivo, graças à estrutura argumental fornecida pelo complemento nominal.

Embora a predicação conjunta se mostre relevante para a análise de CVS deverbais, ela não é aplicável a casos de CVS com alto grau de fixidez, como, por exemplo, etwas in Abrede stellen, o que confirma a heterogeneidade das CVS. Como o significado da CVS não pode ser facilmente depreendido a partir do significado de seus componentes, o seu sentido (“contestar”) é armazenado combinado à sua forma como uma unidade. No continuum entre léxico e gramática, construções como essa estão localizadas mais próximas ao polo do léxico.

6 Considerações Finais

No presente artigo, procuramos apresentar os principais padrões sintáticos e semânticos do verbo stellen, com ênfase na sua ocorrência como integrante de CVS. A partir da análise com base na gramática de construções, foi possível concluir que os sentidos tradicionalmente atribuídos somente ao verbo stellen são resultado das relações entre verbo e construção de estrutura argumental em que ele pode ocorrer. Dessa maneira, o princípio da economia semântica foi confirmado, já que o falante não armazena cada um dos sentidos possíveis de stellen isoladamente, mas os relaciona a modelos construcionais armazenados no léxico mental.

No que diz respeito à análise de CVS, foi possível notar uma diferença no armazenamento dos aspectos referentes à sua forma e ao seu conteúdo, de acordo com os graus de lexicalização sofridos por essas construções. Construções com verbo suporte formadas por substantivo deverbal sofrem um processo de partilha de argumentos durante seu armazenamento, sendo o significado dessas construções fruto da predicação conjunta. Já as CVS altamente lexicalizadas possuem sentido não-composicional, constituindo, portanto, uma construção que é armazenada como um todo no léxico, assim como as construções de estrutura argumental, morfemas e demais palavras da língua.

Referências bibliográficas

  • Athayde, Maria F. Construções com verbo-suporte (Funktionsverbgefüge) do Português e do Alemão. Cadernos do CIEG, n. 1. Coimbra: CIEG, 2001, p. 300-447.
  • Castilho, Ataliba T de. Introdução ao Estudo do Aspecto Verbal na Língua Portuguesa. Alfa, v. 12, 1967, p. 11-134
  • Castilho, Thaís D. de. Análise sintático-semântica do verbo stellen com ênfase no seu uso como verbo-suporte: um estudo com base na Gramática de Construções. Dissertação de Mestrado. FFLCH/USP, São Paulo, 2017.
  • De Knop, Sabine. Eine Untersuchung von Kausalkonstruktionen mit Farbbezeichnungen im Rahmen der Konstruktionsgrammatik. In: De Knop, Sabine; Mollica, Fabio. (Eds.) Konstruktionsgrammatik in den romanischen Sprachen. Frankfurt am Main: Peter Lang, 2013 p. 111-136.
  • De Knop, Sabine; Mollica, Fabio. Die Konstruktionsgrammatik für die Beschreibung romanischer Sprachen. In: De Knop, Sabine; Mollica, Fabio. Konstruktionsgrammatik in den romanischen Sprachen. Frankfurt am Main: Peter Lang, 2013, p. 5-23.
  • Diedrichsen, Elke. Zur ‚Inventarisierung‘ von idiomatischen und Argumentstruktur-Konstruktionen im Deutschen. In: Ziem, Alexander; Lasch, Alexander (Eds.). Grammatik als Netzwerk von Konstruktionen? Sprachwissen im Fokus der Konstruktionsgrammatik. Berlin/Boston: de Gruyter, 2014, p. 175-194.
  • Dobrovol’skij, Dmitrij. Phraseologie und Konstruktionsgrammatik. In: Lasch, Alexander; Ziem, Alexander (Eds.). Konstruktionsgrammatik III: Aktuelle Fragen und Lösungsansätze. Tübingen: Staufenburg, 2011, p. 111-130.
  • Duden Bedeutungswörterbuch. Band 10. Mannheim: Brockhaus, 2002.
  • Duden Deutsches Universalwörterbuch. Mannheim: Brockhaus, 2003.
  • Duden Grammatik der deutschen Gegenwartsprache. Band 4, Mannheim: Bibliographisches Institut, 2009.
  • Goldberg, Adele E. A Construction Grammar Approach to Argument Structure. Chicago: The University of Chicago Press, 1995.
  • ______. Words by Default the Persian Complex Predicate Construction. In: Francis, Elaine; Michaelis, Laura (Eds.). Mismatch: Form-Function Incongruity and the Architecture of Grammar. Stanford: CSLI Publications, 2003, p. 83-112.
  • ______. Constructions at Work: The Nature of Generalization in Language. Oxford: Oxford University Press, 2006.
  • Helbig, Gerhard; Buscha, Joachim. Deutsche Grammatik - Ein Handbuch für den Ausländerunterricht. Berlin/München: Langenscheidt, 2001.
  • Hundt, Christine. Untersuchungen zur portugiesischen Phraseologie. Wilhelmsfeld: Egert, 1994.
  • Kamber, Alain. Funktionsverbgefüge - empirisch: Eine korpusbasierte Untersuchung zu den nominalen Prädikaten. Tübingen: Niemeyer, 2008.
  • Langenscheidt. Power-Wörterbuch Deutsch. Berlin/München/Warschau/Wien/Zürich/New York: Langenscheidt, 2009.
  • Mellado Blanco, Maria. Phrasem-Konstruktionen und lexikalische Idiom-Varianten. Der Fall der komparativen Phraseme des Deutschen. In: Engelberg, Stefan et al. (Eds.) Argumentstruktur zwischen Valenz und Konstruktion. Tübingen: Narr Francke Attempto, 2015, p. 217-235.
  • Neves, Maria Helena M. A delimitação das unidades lexicais: o caso das construções com verbo-suporte. In: Neves, Maria Helena M. A gramática: história, teoria e análise, ensino. São Paulo: Editora UNESP, 2002, p.189-206
  • Pons Großwörterbuch Deutsch als Fremdsprache. Stuttgart: Pons Verlag. 2015
  • Rostila, Jouni. Phraseologie und Konstruktionsgrammatik: Konstruktionsansätze zu präpositionalen Funktionsverbgefügen. In: Prinz, Michael.; Richter-Vapaatalo, Ulrike (Eds.). Idiome, Konstruktionen, „verblümte rede“. Beiträge zur Geschichte der Phraseologie. Stuttgart: S. Hirzel Verlag, 2011, p. 263-282.
  • Traugott, Elizabeth Closs. Grammatikalisierung, emergente Konstruktionen und der Begriff der „Neuheit“. In: Stefanowitsch, Anatol; Fischer, Kerstin (Eds.). Konstruktionsgrammatik II. Von der Konstruktion zur Grammatik. Tübingen: Stauffenburg, 2008, p. 5-32.
  • Wahrig Deutsches Wörterbuch. 7. ed. München: Wissen, 2002.
  • Welker, Herbert A. Zweisprachige Lexikographie: Vorschläge für deutsch-portugiesische Verbwörterbücher. München: Utz, 2003.
  • Wittenberg, Eva. With Light Verb Constructions from Syntax to Concepts. Potsdam: Universitätsverlag Potsdam, 2016.
  • Wittenberg, Eva et al. The Processing and Representation of Light Verb Constructions. In: Bachrach, Asaf et al (eds.). Structuring the Argument. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins, 2004, p. 61-80.
  • Wittenberg, Eva; Piñango, Maria M. Processing light verb constructions. In: Jarema, Gonia; Libben, Gary (Eds.). The Mental Lexicon, v. 6, n. 3. Amsterdam: John Benjamins, 2011, p. 393-413.
  • Ziem, Alexander; Lasch, Alexander. Konstruktionsgrammatik Konzepte und Grundlagen gebrauchsbasierter Ansätze. Berlin/Boston: de Gruyter, 2013.
  • 1
    Todos os exemplos em alemão presentes no artigo foram traduzidos pela autora e consistem em traduções livres. Da mesma maneira, todas as citações de textos teóricos em língua estrangeira foram traduzidas pela autora.
  • 2
    Original: […] keine einzelne Ebene der Grammatik ist autonom oder stellt gegenüber anderen einen „Kernbereich“ dar.
  • 3
    Original: Any linguistic pattern is recognized as a construction as long as some aspect of its form or function is not strictly predictable from its component parts or from other constructions recognized to exist. In addition, patterns are stored as constructions even if they are fully predictable as long as they occur with sufficient frequency.
  • 4
    Os exemplos presentes no quadro 2 foram retirados de Ziem e Lasch 2013.
  • 5
    Original: Aus der Sicht der Phraseologieforschung dürfte interessant sein, dass partiell schematische Konstruktionen weitgehend mit Phraseoschablonen zusammenfallen, während die gänzlich schematischen Konstruktionen als extrem abstrakte Vertreter dieser Klasse betrachtet werden können. Die KxG unternimmt daher gewissermaßen den Versuch zu erörtern, wie weit die Idee von Phraseoschablonen sich ausdehnen lässt.
  • 6
    Ataliba de Castilho (1967) desfaz o que o autor chama de “conflito (ou confusão)” entre os termos aspecto e Aktionsart. Como aponta o autor, o termo Aktionsart designa uma compreensão mais ampla do que o conceito de aspecto, geralmente relacionado à noção bipolar perfectivo/imperfectivo ligada à morfologia verbal das línguas eslavas.
  • 7
    Original: […] it involves reconciling the mismatch between semantic and syntactic argument structure […].
  • 8
    Todas as traduções dos exemplos retirados do corpus consistem em traduções livres.
  • 9
    Fonte: Glossário Técnico Ferroviário. Disponível em: <https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/idiomas/glossario-tecnico-ferroviario/56006> (Acesso em 07.06.2018).
  • 10
    O quadro apresenta somente os principais resultados de um levantamento de padrões de stellen. Para informações mais detalhadas recomendamos consultar Castilho (2017: 141-146).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Maio 2019

Histórico

  • Recebido
    07 Jul 2018
  • Aceito
    18 Set 2018
Universidade de São Paulo/Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas/; Programa de Pós-Graduação em Língua e Literatura Alemã Av. Prof. Luciano Gualberto, 403, 05508-900 São Paulo/SP/ Brasil, Tel.: (55 11)3091-5028 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: pandaemonium@usp.br