Acessibilidade / Reportar erro

OS BRASILEIROS E A COPA NO BRASIL: O ANTES, DURANTE E DEPOIS DA COMPETIÇÃO SOB AS LENTES DE O GLOBO

BRAZILIANS AND THE WORLD CUP IN BRAZIL: BEFORE, DURING AND AFTER THE COMPETITION ACCORDING TO NEWSPAPER O GLOBO

LOS BRASILEÑOS Y LA COPA EN BRASIL: EL ANTES, DURANTE Y DESPUÉS DE LA COMPETICIÓN DESDE LA MIRADA DE O GLOBO

Resumo

O artigo descreveu e analisou as narrativas identitárias sobre o Brasil veiculadas pelo jornal O Globo antes, durantes e depois da realização da Copa do Mundo no país. A apreciação se deu por meio de uma análise interpretativa, com foco nas narrativas não esportivas. As notícias foram analisadas à luz dos polos da tradição e da modernidade, dualidade que marcou os discursos identitários brasileiros no século XX. Como resultados, as narrativas oscilaram ao longo do evento, de ênfase em nossa modernidade inacabada a outro extremo circunscrito às belezas das nossas características naturais. Os discursos foram ambivalentes e singulares, ao mesmo tempo em que reafirmaram alguns aspectos simbólicos do povo brasileiro. Como balanço, O Globo reatualizou imagens de um Brasil freyreano, cuja confluência entre a miscigenação racial, a cultura e o ambiente geográfico constituía uma modernidade brasileira particular.

Palavras-chave
Construção social da identidade; Futebol; Meios de comunicação; Características culturais

Abstract

The article described and analyzed identity narratives about Brazil conveyed by newspaper O Globo before, during and after the 2014 World Cup. We conducted interpretative analysis focused on non-sports narratives. Our analysis was based on the tradition/modernity duality present in Brazilian identity discourses in the 20th century. As a result, narratives changed throughout the event from an emphasis on our unfinished modernity to another extreme limited to the beauty of our natural characteristics. The discourses were ambivalent and unique while reaffirming some symbolic aspects of the Brazilian people. In summary, O Globo updated images of a Freyrean Brazil whose confluence between race miscegenation, culture, and the geographic environment constituted a particular Brazilian modernity.

Keywords
Social construction of identity; Soccer; Media; Cultural characteristics

Resumen

El artículo describió y analizó las narrativas identitarias sobre Brasil publicadas por el diario O Globo antes, durante y después de la realización de la Copa del Mundo en el país. La apreciación se dio por medio de un análisis interpretativo, enfocado en las narrativas no deportivas. Las noticias fueron analizadas a la luz de los polos de la tradición y de la modernidad, dualidad que marcó los discursos identitarios brasileños en el siglo XX. Como resultados, las narrativas oscilaron a lo largo del evento, desde el énfasis en nuestra modernidad inacabada al otro extremo, circunscripto a nuestras bellezas naturales. Los discursos fueron ambivalentes y singulares, al mismo tiempo que reafirmaron algunos aspectos simbólicos del pueblo brasileño. Como balance, O Globo reactualizo imágenes de un Brasil freyreano, cuya confluencia entre mestizaje racial, la cultura y el ambiente geográfico constituía una modernidad brasileña particular.

Palabras clave
Construcción social de la identidad; Fútbol; Medios de comunicación; Características culturales

1 INTRODUÇÃO

O fenômeno esportivo já foi diversas vezes o objeto por meio do qual se examinaram questões das identidades nacionais (DAMO, 2006DAMO, Arlei Sander. O ethos capitalista e o espírito das copas. In: GASTALDO, Édison; GUEDES, Simoni. (Org.). Nações em campo: Copa do Mundo e identidade nacional. Niterói: Intertexto, 2006. p.39-72.; GASTALDO, 2002GASTALDO, Édison. Pátria, chuteiras e propaganda: o brasileiro na publicidade da Copa do Mundo. São Paulo: Annablume, 2002., 2009GASTALDO, Édison. “O país do futebol” mediatizado: mídia e Copa do Mundo no Brasil. Sociologias, v. 11, n. 22, p. 352-369, 2009.; GUEDES, 1999GUEDES, Simoni Lahud. O Brasil no campo de futebol. Niterói: EDUFF, 1999., 2002GUEDES, Simoni Lahud. De Criollos e Capoeiras. In: ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM CIÊNCIAS SOCIAIS (ANPOCS). 26., 2002. Anais.... Caxambú: ANPOCS, 2002., 2014GUEDES, Simoni Lahud. Dádiva e os diálogos identitários através das copas do mundo no Brasil. In: CAMPOS, Flávio; ALFONSI, Daniela (Org.). Futebol objeto das ciências humanas. São Paulo: Leya, 2014. p.57-70.; HELAL, 2010HELAL, Ronaldo. As Novas Fronteiras do ‘País do Futebol. Pesquisa Rio/Faperj, v. 11, p. 37-40, 2010., 2011HELAL, Ronaldo. Mitos e verdades do futebol (que nos ajudam a entender quem somos). Insight Inteligência, v. 52, p. 68-81, 2011.; HELAL; SOARES, 2003HELAL, Ronaldo; SOARES, Antonio Jorge. O declínio da pátria de chuteiras: futebol e identidade nacional na Copa do Mundo de 2002. In: ENCONTRO ANUAL DA COMPÓS. 12., 2003. Anais... Recife: Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação, 2003. p. 1-15.; PIRES, 2011PIRES, Giovani Lorenzo (Org.). O Brasil na Copa, a Copa no Brasil: registro do agendamento para 2014 na cobertura da midiática da Copa da África do Sul. Florianópolis: Tribo da Ilha, 2011.). Sua difusão pelo mundo transformou-o numa espécie de idioma universal moderno e ao mesmo tempo repositório da constituição das singularidades continentais, nacionais, regionais e locais (GUEDES, 2002GUEDES, Simoni Lahud. De Criollos e Capoeiras. In: ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM CIÊNCIAS SOCIAIS (ANPOCS). 26., 2002. Anais.... Caxambú: ANPOCS, 2002.). A amplitude de possibilidades de identidades forjadas a partir do futebol contribui para o olhar sobre elas em constante processo de transformação, disputas, constituídas de ambiguidades, hibridismos e/ou fragmentações.

As narrativas identitárias dão sentido e nos localizam no tempo como povo ou coletividade (REIS, 1999REIS, José Carlos. As identidades do Brasil de Varnhagen a Fernando Henrique Cardoso. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1999.). A partir delas, constituem-se laços de solidariedade, formando sentimentos de comunidade em determinado território (SOUZA, 2015SOUZA, Jessé. A tolice da inteligência brasileira. São Paulo: Leya , 2015.), de modo que compartilhá-las torna-se também aderir aos mesmos objetos, símbolos, rituais e costumes, mas que, todavia, não é algo permanente, fixo e imutável (DAMATTA, 2004DAMATTA, Roberto. Nação e região: em torno do significado cultural de uma permanente dualidade brasileira. In: SCHÜLER, F. L.; BORDINI, M. (Org.). Cultura e identidade regional. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2004. p.19-30. (Coleção Memória das Letras).). No âmbito da nação, a comunidade é imaginada, uma vez que os laços que os reúnem não são dados pelo conhecimento do próximo, embora, como afirmou Anderson (2008ANDERSON, Benedict. Comunidades imaginadas: reflexões sobre a origem e a difusão do nacionalismo. São Paulo: Companhia da Letras, 2008., p. 32), “[...] todos tenham em mente a imagem viva da comunhão entre eles”. Neste contexto, as comunidades devem ser distinguidas pelas características como são imaginadas.

Quando se trata da identidade nacional, é necessário compreendê-la como “[...] um dispositivo discursivo” que se apropria das diferenças para representá-las como uma unidade (HALL, 2006HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2006., p. 62). Esse dispositivo discursivo não deixa de possuir um caráter relacional, de modo que a identidade de um povo é contextual e historicamente situada. Por conseguinte, a narração da identidade pode implicar pontos de partidas distintos1 1 De acordo com DaMatta (2004, p. 24), “[...] as identidades, como as narrativas, têm muitos pontos de partida”, cuja a escolha depende da linha de discurso que se quer seguir. Por isso, a construção de identidades “é um jogo entre o que deve ser necessariamente lembrado e o que deve ser necessariamente esquecido em certas situações”. , uma vez que esta é produto de diferentes tempos, espaços, instituições, relações, discursos e contextos (DAMATTA, 2004DAMATTA, Roberto. Nação e região: em torno do significado cultural de uma permanente dualidade brasileira. In: SCHÜLER, F. L.; BORDINI, M. (Org.). Cultura e identidade regional. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2004. p.19-30. (Coleção Memória das Letras).). Segundo DaMatta (2004DAMATTA, Roberto. Nação e região: em torno do significado cultural de uma permanente dualidade brasileira. In: SCHÜLER, F. L.; BORDINI, M. (Org.). Cultura e identidade regional. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2004. p.19-30. (Coleção Memória das Letras)., p. 24), quando a identidade brasileira é descrita em comparação às outras nações ditas modernas, o resultado é a visão do “trem perdido da modernidade”. Por outro lado, quando olhamos para o Brasil lido pelos seus rituais, tal como o carnaval, apontamos uma terra bonita, com relações igualitárias e alegres. Além dessas, poderíamos listar diversas outras leituras identitárias do Brasil, como as regionalizadas, ou mais recentemente, as étnicas. Elas servem para ilustrar a fragmentação, instabilidade e o caráter relacional da dimensão da identidade.

A Copa do Mundo de 2014 no Brasil foi “[...] um momento propício para perceber ancoragens, contornos e variações que flagram o país se dizendo e sendo dito” (ALMEIDA, 2013ALMEIDA, Júlia Maria da Costa de. Preliminares iconotextuais da Copa De 2014: O (contra) discurso da logomarca. Revista (Con)textos Linguísticos, v. 7, n. 9, p. 131-146, 2013., p. 2). Como afirma Smith (2000SMITH, Anthony. O nacionalismo e os historiadores. BALAKRISHNAN, G. (Org.). Um Mapa da Questão Nacional. p.185-208. Rio de Janeiro: Contraponto, 2000., p. 199),

[...] as nações são criadas na imaginação histórica e sociológica, através da identificação com heróis comunitários; embora nunca possamos encontrá-los, podemos ‘conhecer’ nossos concidadãos, os membros de nossas nações culturais através das descrições em jornais, revistas, romances, peças teatrais e óperas.

Por essa via, as notícias veiculadas pela mídia oferecem uma visão particular sobre o Brasil no jogo de tensões sobre a identidade deste país que recebia a Copa, utilizando-se não somente dos fatos ocorridos em “campo”, mas de todos os processos cotidianos que circundaram a efetivação do evento. Nesse contexto, o objetivo deste artigo foi descrever e analisar as narrativas identitárias sobre o Brasil veiculadas pelo jornal O Globo antes, durantes e depois da realização da Copa do Mundo no país, interpretando os discursos sobre a identidade nacional reatualizados por esta mídia impressa.

2 METODOLOGIA: “ESCALANDO O TIME”

O presente estudo caracteriza-se como uma pesquisa documental de análise interpretativa. Foi utilizado como fonte deste estudo o jornal do Rio de Janeiro O Globo em sua versão impressa e de circulação diária. De acordo com o Infoglobo2 2 INFOGLOBO. IVC Total Circulação Impressa. Disponível em:<https://www.infoglobo.com.br/anuncie/circulacao.aspx>. Acesso em: 29 abr.2015. , no período da investigação (maio a julho de 2014), a média de circulação do jornal foi de 200.492, 202.715, 203.595 exemplares, respectivamente, de segunda a sábado e de 281.135, 281.153, 281.500 exemplares aos domingos, demonstrando o elevado grau de alcance das edições.

Cabe ressaltar dois esclarecimentos sobre a intenção e o alcance da investigação sobre um veículo de comunicação particular. Em primeiro lugar, esta pesquisa centra-se em interpretar a visão particular e situada do jornal O Globo, sem a ingenuidade de generalizar seus discursos como se representassem uma única identidade capilarizada em todo território nacional e incorporada por toda a população do país. Em segundo lugar, o critério para a escolha do O Globo, dentre outros tantos veículos, não foi guiado pela pretensão de que seu conteúdo representasse a unidade do que narram os meios de comunicação, uma vez que estes em si são plurais. Tampouco essa escolha representou uma pretensão de que haveria uma neutralidade nos discursos do veículo, de modo que o critério foi o alcance de sua versão impressa. Aliás, na medida em que ressaltamos a não neutralidade e parcialidade do conteúdo do jornal e descrevemos os sentidos imanentes a seus discursos, pretendemos contribuir para a compreensão da disputa que existe em torno da ideia de uma identidade nacional e a visão que este veículo atualizou no momento de organização da Copa do Mundo no país.

O corpus de análise foi constituído por 230 matérias publicadas no caderno “O Brasil na Copa” nas edições publicadas entre 29 de maio e 28 de julho de 2014. Optou-se por analisar as reportagens e matérias relacionadas à cobertura da realização da Copa do Mundo que não estivessem diretamente arroladas ao desempenho esportivo. Assim, deslocamos o foco do caráter simbólico, por vezes metonímico, da seleção nacional de futebol, para o contexto da organização do evento esportivo, no qual a economia simbólica poderia envolver as dimensões econômicas, políticas, geográficas, culturais, de sociabilidade, étnicos, organizacionais, turísticas dentre outros que poderiam se tornar relevantes no percurso de análise. A análise foi guiada pelos polos conceituais “modernidade” e “tradição”, típicos das interpretações da singularidade cultural brasileira presentes na obra de Roberto DaMatta3 3 A obra de DaMatta se caracteriza pela tentativa de descrever uma gramática profunda do universo social brasileiro. Neste contexto, ele desenvolve a teoria do “dilema brasileiro”, estruturado entre dualismos (a rua e a casa, indivíduo e pessoa, estado e nação) que, em sua interpretação, articulariam o que ele considera a modernização inautêntica brasileira. .

Ancorados em Pinto (1999PINTO, Milton José. Comunicação e discurso: introdução a análise de discursos. São Paulo: Hacker, 1999.) para realizar a análise, consideramos os detalhes de superficialidade do texto, os indicativos do contexto social da produção daquele discurso e sua possível repetição.

Uma vez que trabalhamos com a hipótese de que o desenrolar das atividades durante a Copa do Mundo produziria efeitos sobre as narrativas sobre o país, dividimos a análise em secções temporais: antes da Copa (29 de maio a 11 de junho), durante a Copa (12 de junho a 13 de julho) e depois da Copa (14 de julho a 28 de julho), a fim de verificar se houve deslocamento dos discursos jornalísticos entre os polos de análise durante esse período investigado.

3 O ANTES: VAI TER COPA? DILEMAS DA MODERNIDADE INACABADA

O 2013 testemunhou algumas das maiores manifestações populares da história do país. Entre as muitas pautas reivindicatórias, a forte oposição aos gastos e à realização da Copa do Mundo no Brasil. Algumas frações dos protestos adotaram o lema “não vai ter Copa”, enquanto outros pediam, de maneira irônica, escolas e hospitais no “padrão FIFA” 4 4 Uma referência crítica e irônica às exigências da FIFA quanto às características dos estádios para a Copa do Mundo, as quais obrigaram ao dispêndio de elevadas quantidades de dinheiro na construção e reforma dos estádios. Por trás dessa ironia estava contida uma ideia de que o “padrão FIFA” era sinônimo de “boa qualidade”. Paradoxalmente, apesar de o “padrão FIFA” dar contorno a essas críticas sociais advindas do uso do dinheiro público, dentro do universo do futebol, ele tem um sentido contrário no processo de remodelação dos estádios, sendo um poderoso instrumento de controle social e de estímulo ao consumo (REIS et al., 2014). .

O fato de o país sediar o evento, em vez de apenas ser um participante, trouxe implicações inéditas na relação entre a população e o futebol. Em vez do espetáculo inclusivo, ritualizado pela seleção brasileira, a festa in loco havia demonstrado que apenas alguns torcedores poderiam dela participar, aquela parcela que poderia pagar pelos valorizados ingressos cobrados nas novas arenas. Tal cenário contribuiu para projetar, por meio da Copa, uma nação excludente (DAMO, 2014DAMO, Arlei Sander. A Copa das Manifestações-afinidades eletivas entre megaeventos. In: ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM CIÊNCIAS SOCIAIS (ANPOCS).37, 2013. Anais... Águas de Lindóia: ANPOCS, 2014. ). Tal percepção foi vislumbrada nos noticiários brasileiros:

As manifestações ficaram muito claras como um momento em que o povo brasileiro gritou ‘não somos estúpidos!’[...] ‘Eu [jornalista francesa] vim para falar da cultura do Brasil, e o futebol faz parte disso. Então, a Copa me interessa. Porém, como um momento em que brasileiros dizem o que querem, não pelo futebol em si. O Brasil é definitivamente um país de contradições e elas precisam aparecer para o mundo (MARINHO, 2014MARINHO, Rafaela. Jornalistas de diferentes nações mostram que país vai muito além da bola. O Globo. Rio de Janeiro, 31 maio 2014. Disponível: <Disponível: https://oglobo.globo.com/brasil/jornalistas-de-diferentes-nacoes-mostram-que-pais-vai-muito-alem-da-bola-12676457 > Acesso em: 5 jun. 2017.
https://oglobo.globo.com/brasil/jornalis...
, online).

Criou-se, assim, uma tensão em torno da possibilidade do caos que poderia se instaurar nas cidades-sede durante a realização do Mundial de 2014. Havia apreensão acerca da possibilidade de atos violentos em razão da revolta em torno dos gastos excessivos nas obras do Mundial e as polêmicas de corrupção da entidade organizadora do evento, a FIFA, e do governo brasileiro.

O Globo noticiava que “O Mundial trouxe o despertar da nação de chuteiras para os problemas que ocorrem fora dos gramados” (LAVOR, 2014LAVOR, Thays. Cidades-sede: Atrasos nos projetos, obras entregues às vésperas e gastos excessivos desanimam moradores de Fortaleza. O Globo. Rio de Janeiro, 1º. jun. 2014. Disponível em: <Disponível em: https://extra.globo.com/noticias/brasil/cidades-sede-atrasos-nos-projetos-obras-entregues-as-vesperas-gastos-excessivos-desanimam-moradores-de-fortaleza-12802635.html > Acesso em: 5 jun. 2017.
https://extra.globo.com/noticias/brasil/...
). Apesar dos esforços governamentais o “momento pré-Copa não fez bem à imagem do país” (PADRÃO..., 2014PADRÃO Brasil. O Globo, Rio de Janeiro , p. 4, 31 maio 2014., p. 4). Nesta visão, na dualidade entre a modernidade e a tradição, tornava-se visível o Brasil da tradição, de relações sociais petrificadas e de mazelas cotidianas.

Os discursos veiculados pelo jornal trataram desses eventos tendo por base a prerrogativa da segurança, alertando que “[...] nos poucos dias que restam para o início da Copa do Mundo, o Rio tem assistido ao fenômeno da multiplicação das manifestações” (BRISO, 2014BRISO, Caio Barreto. Vias nem tão públicas. O Globo, Rio de Janeiro , p. 12, 31 maio 2014., p. 12). A segurança era uma grande preocupação de O Globo: “[...] se for necessário, lançaremos mão do uso progressivo da força”, “forças armadas terão quatro mil homens em São Paulo”, “[...] vamos reforçar o efetivo de Polícia Federal nos dois aeroportos, o policiamento extra vai contar também com homens das polícias Militar e Civil”, “Marinha deve pôr bateria de mísseis antiaéreos no alto de prédio na Tijuca” (BRISO, 2014BRISO, Caio Barreto. Vias nem tão públicas. O Globo, Rio de Janeiro , p. 12, 31 maio 2014., p. 12).

A preparação para a realização de um megaevento como a Copa do Mundo exigia do país-sede elevados esforços de organização, de acordo com o jornal. Por isso, o avanço da infraestrutura para o esporte e de serviços públicos, como o de transportes e comunicações, por exemplo, tornara-se uma questão central, gerando um número significativo de matérias e comentários sobre a (in)capacidade de organização nacional. De certa forma, tais apelos eram vistos como alguns dos possíveis legados a serem ofertados pela realização do evento no Brasil, que se estenderiam mesmo para aqueles que fossem “excluídos da festa” (RODRIGUES; PINTO, 2008RODRIGUES, Rejane Penna; PINTO, Leila Mirtes Magalhães. Subsídios para pensar os Legados de Megaeventos Esportivos em seus tempos presente, passado e futuro. In: DACOSTA, Lamartine et al. (Org.). Legados de Megaeventos Esportivos. Brasília: Ministério do Esporte, 2008.).

De um modo geral, as notícias acerca do planejamento para a Copa permitiram vislumbrar alguns pontos. De um lado, citações consideradas otimistas e afirmativas que indicavam as obras e benfeitorias, como a modernização dos aeroportos e os investimentos em mobilidade urbana nas cidades-sede; a reforma e a construção de novos hotéis. Elementos estes que apontavam, de maneira implícita ou explícita, para um sentido da modernização.

Por outro lado, no momento pré-Copa, destacava-se um discurso que representava o Brasil como aquele que “deixa tudo para a última hora”, enfatizando uma dificuldade com a disciplina e o planejamento e o caráter negativo do improviso e do “jeitinho”. Esta narrativa é ilustrada pelas notícias que versavam sobre “atrasos” e “indefinições”, responsabilizando o governo brasileiro pela desorganização no andamento das obras para a Copa:

Às vésperas da Copa, a presidenta inaugurou no Rio duas das mais importantes obras prometidas para o Mundial: a ampliação do terminal 2 do Galeão e o BRT, no entanto, as obras estão inacabadas, sem data para conclusão (MAGALHÃES; RODRIGUES, 2014MAGALHÃES, Luis Ernesto; RODRIGUES, Alexandre. Obras em progresso. Inacabadas e inauguradas. O Globo, Rio de Janeiro , p. 8, 2 jun. 2014., p. 8).

Ao mesmo tempo em que torciam pelo sucesso dos jogos, os jornais noticiavam que os moradores das 12 cidades-sede achavam que a competição traria mais prejuízos do que vantagens ao país. O pessimismo era causado por vários fatores: a percepção da falta de verba para a saúde e educação, o baixo investimento em segurança pública e desvio de dinheiro público na realização do Mundial, além do setor do transporte público, noticiado como um dos piores pontos da infraestrutura local.

A cobertura jornalística considerou a Copa como “alavanca para o turismo no Brasil”, “podendo alcançar um novo patamar na rota turística internacional”, estando o Brasil “na vitrine do mundo”. Neste contexto, “[...] se a Copa do Mundo é uma lente de aumento tanto para as qualidades como para os problemas do país-sede, os correspondentes internacionais são os que podem projetar esta ampliação para o mundo” (MARINHO, 2014MARINHO, Rafaela. Jornalistas de diferentes nações mostram que país vai muito além da bola. O Globo. Rio de Janeiro, 31 maio 2014. Disponível: <Disponível: https://oglobo.globo.com/brasil/jornalistas-de-diferentes-nacoes-mostram-que-pais-vai-muito-alem-da-bola-12676457 > Acesso em: 5 jun. 2017.
https://oglobo.globo.com/brasil/jornalis...
, p. 14). Nesse sentido, tratava-se de informar que a Copa “reinventaria” a ideia da nação brasileira para outros povos, ressaltando a possibilidade de uma visão estrangeira contribuir para a releitura das identidades nacionais locais. Esse fluxo entre o global e o local demonstra a complexidade dos processos identitários contemporâneos, uma vez que eles não se constituem necessariamente a partir da polifonia local. Ou ainda, a polifonia local pode utilizar-se de outras vozes estrangeiras, de modo que o global também está presente no local, reconfigurando-o, desafiando ainda mais os olhares homogeneizadores (APPADURAI, 1997APPADURAI, Arjun. Soberania sem territorialidade: notas para uma geografia pós-nacional. Novos Estudos CEBRAP, v. 49, p. 33-49, 1997.).

As favelas, antes um dos estereótipos que limitavam a imagem do Brasil, tornaram-se um exotismo atraente. As comunidades do Pavão-Pavãozinho, Cantagalo e Vidigal, no Rio de Janeiro, foram espetacularizadas e se tornaram objeto de turismo: “[...] o cotidiano das favelas, sua peculiar topografia e, em alguns casos, a vista deslumbrante são alguns dos trunfos” (COSTA, 2014COSTA, Celia. “Bed and breakfast” nas comunidades. Para “gringo” ver e ficar. O Globo, Rio de Janeiro , p. 8, 4 jun. 2014., p. 8). A atenção do olhar estrangeiro estava direcionada à natureza, seja humana do morador ou física do ambiente, tal como a reportagem também relatada por Giannetti (2016GIANNETTI, Eduardo. Trópicos utópicos. São Paulo: Companhia das Letras, 2016., p. 160), da BBC inglesa, sobre as favelas, que a registrou como “[...] um palácio subjetivo de alegria, esperança e elã vital”.

As narrativas reatualizavam o Brasil, constituindo-se como um ponto de inflexão da visão pessimista para uma otimista, ressaltando as qualidades do país. Por essa via, a cobertura jornalística usou de forma ambivalente as imagens e as narrativas sobre a nação:

A poucos dias do início das partidas, muitos correspondentes já derrubaram estereótipos que limitam a imagem do Brasil a um país de favelas, belezas tropicais e carnaval. O Brasil é mais complexo do que o país do futebol, do samba e das belezas naturais (MARINHO, 2014MARINHO, Rafaela. Jornalistas de diferentes nações mostram que país vai muito além da bola. O Globo. Rio de Janeiro, 31 maio 2014. Disponível: <Disponível: https://oglobo.globo.com/brasil/jornalistas-de-diferentes-nacoes-mostram-que-pais-vai-muito-alem-da-bola-12676457 > Acesso em: 5 jun. 2017.
https://oglobo.globo.com/brasil/jornalis...
, p. 14).

Nesse sentido, as interpretações sobre os eventos pré-Copa demonstraram uma mudança conceitual na leitura da identidade brasileira, tornando-a mais complexa, multifacetada e, portanto, menos redutível a elementos tradicionais sobre a nação. A própria natureza passou a ser questionada como a única positividade brasileira, baseada na ideia de que o povo estaria mais consciente dos problemas da população, uma vez que as manifestações seriam o “despertar da nação de chuteiras” para os problemas que aconteciam fora dos gramados.

4 DUALIDADES DURANTE A COPA: DAS DÚVIDAS AOS ELOGIOS

Iniciada a Copa, emergiu a ideia de “festa nacional”, tornando-se uma chave interpretativa para identificar um dos eixos da cobertura da Copa do Mundo. O jornal noticiava: “Clima de festa invade da praia à montanha” (LO-BIANCO et al., 2014LO-BIANCO, Alessandro et al. Clima de festa invade da praia à montanha. O Globo, Rio de Janeiro , p. 10, 12 jun. 2014., p. 10).

Nem todas as ruas estão tomadas de verde e amarelo em SP, outras correm contra o tempo para se enfeitar, mas não faz mal, porque a festa agora já é bem mais colorida. Ao contrário do que aconteceu em Copas passadas, as cores brasileiras ainda não dominaram São Paulo. Só a um dia da estreia da seleção, em partida na cidade, é que bandeiras são desfraldadas e pinturas começam a ser feitas; falta de entusiasmo da população adiou a mobilização verde-amarela (CIDADES-SEDE ..., 2014CIDADES-SEDE em festa. Mistura de todas as cores. Nas capitais, verde-amarelo se junta aos tons das bandeiras trazidas por estrangeiros. O Globo, Rio de Janeiro , p. 8, 12 jun. 2014., p. 8).

Solicitado a comentar os efeitos da Copa para a economia brasileira, um consultor da ONU entrevistado pelo O Globo afirmou que a Copa era muito boa para o país, mas consistia em apenas uma festa e que “não transformará o Brasil numa Alemanha”. (CONSULTOR..., 2014CONSULTOR da ONU diz que maior ganho é a exposição. O Globo, Rio de Janeiro , p. 25, 15 jun. 2014., p. 25). Adjetivando o clima de festa, apareceu o carnaval, um referente importante nas narrativas da Copa: “Brasileiros e estrangeiros confraternizaram juntos em várias cidades, como se fosse um carnaval fora de época. Muitos estrangeiros adotaram o verde e amarelo” (ALEGRIA..., 2014ALEGRIA verde-amarela. Começa a Festa. O Globo, Rio de Janeiro, p. 8, 13 jun. 2014.) e:

No coração verde e amarelo, a alegria que deu de goleada. Torcedores de todo o país usaram o verde e amarelo para colorir ruas e praças enquanto a bola rolava na estreia do Brasil. De Manaus a Rio, passando por São Paulo, o que não faltava era animação (TORCIDA..., 2014TORCIDA de emoções à flor da pele. O Globo, Rio de Janeiro , p. 9, 13 jun. 2014., p. 9).

Segundo O Globo, a festa da Copa também foi alvo da mídia estrangeira, que destacou alegria e raiva nas ruas do país durante a abertura. Citando a greve dos aeroviários, a invasão por hackers de sites do governo e o conflito entre policiais e manifestantes em São Paulo, o Financial Times publicou: “apesar dos incidentes, a excitação começou a tomar conta do país fanático por futebol”. O francês Le Figaro noticiou o problema em São Paulo que ocorreu após manifestantes “tentarem bloquear uma avenida que ia em direção à Arena Corinthians, onde é o jogo entre Brasil e Croácia”. Na Espanha, El Mundo destacou a vaia recebida por Dilma; The Wall Street Journal remeteu-se aos manifestantes que acusavam a polícia de usar força excessiva; o The Guardian a um só tempo comemorou e debochou da cerimônia de abertura (COBERTURA..., 2014COBERTURA estrangeira, entre a paixão e os protestos. O Globo, Rio de Janeiro , p. 15, 13 jun. 2014., p. 15).

Notou-se uma cobertura ambivalente sobre a Copa: de um lado as alegrias, advindas da nossa natureza; do outro, os antagonismos não equilibrados advindos da tensão que a modernidade inacabada desencadeava sobre a população. Evidentemente, o esforço d’O Globo para explicar o “momento” do Brasil aos estrangeiros se constituía também como um esforço de explicá-lo aos brasileiros, acionando narrativas de identidade e pertencimento. Neste contexto, a cerimônia de abertura como um “dever-ser” de celebração de nossa cultura e o momento do hino nacional, cantado até o final pelo público e jogadores da seleção brasileira, apesar do corte de som nos estádios, foram discutidos e teorizados como parte do temperamento apaixonado do povo brasileiro.

Nos primeiros dias do Mundial, o temperamento brasileiro voltou a ser mencionado, a partir da hospitalidade, que teria sido muito elogiada pelos turistas nas 12 cidades-sede. Alguns problemas, como trânsito caótico, transporte público deficiente, infraestrutura nos aeroportos e as deficiências das informações turísticas eram mencionados, “[...] mas seja onde for o artilheiro no coração dos visitantes tem sido um só: o brasileiro” (AS CIDADES..., 2014AS CIDADES em jogo. Gol de brasileiro. O Globo, Rio de Janeiro , p. 13,15 jun. 2014., p. 13). De fato, esta louvação à amabilidade e à simpatia do brasileiro reforçavam as características do caráter alegre da identidade brasileira.

Outra característica relacionada à natureza exaltada foi o louvor à beleza da paisagem do país, como traço distintivo e complementar de nossa modernidade incompleta. “Quando você passa sua primeira tarde de folga em 20 dias caminhando por Copacabana, percebe que uma praia de primeira linha deveria ser elemento compulsório em todas as futuras Copas, da mesma forma que estádios de primeira linha” (POVO..., 2014POVO, a arma secreta do país para fazer um Mundial de primeira. O Globo , Rio de Janeiro , p. 8, 7 jul. 2014., p. 8).

Ainda que aspectos organizacionais também tenham sido elogiados, a atenção preferencial foi dada às leituras sobre as qualidades do povo e da natureza do país, narrativas que parecem atualizar a interpretação freyreana da confluência entre raça, geografia e cultura na conformação do povo brasileiro (FREYRE, 2013FREYRE, Gilberto. Casa-grande & senzala. 52. ed. São Paulo: Global, 2013.; SOUZA, 2000SOUZA, Jessé. Gilberto Freyre e a singularidade da cultura brasileira. Tempo Social - Revista de sociologia da USP, v. 59, p. 51-74, 2000.). O Globo enfatizava que tais belezas, características do país, estavam sendo vistas por bilhões de pessoas, e isso ajudaria a alavancar o turismo no Brasil (PARTIDAS..., 2014PARTIDAS em Cuiabá levam mais turistas ao Pantanal. O Globo, Rio de Janeiro , p. 9, 23 jun. 2014., p. 9). Baseava-se na fala dos estrangeiros visitantes: “Quando voltar vou aproveitar as praias, os coqueiros, a música e a culinária”; “O Rio é muito bonito, já sabíamos pelas fotos, mas as imagens não chegam aos pés da beleza da cidade” (VALENTE; CAVALCANTI, 2014VALENTE, Gisele; CAVALCANTI, Gisele. Em 18 dias, gringos gastam US$ 365 milhões. O Globo, Rio de Janeiro , p. 27, 25 jun. 2014., p. 27).

Com um indisfarçável orgulho, O Globo afirmava que

[...] basta um olhar atento para perceber que os torcedores estrangeiros não são mais os mesmos que antes (...) A maioria instalada no Rio não quer saber de ir embora tão cedo, e mesmo aqueles cujas seleções já partiram continuam na cidade, onde adquiriram hábitos tipicamente cariocas (CALIXTO, 2014CALIXTO, Bruno. Estrangeiros padrão-Rio. O Globo, Rio de Janeiro , p. 20, 6 jul. 2014., p. 20).

A fala dos turistas, de modo geral, também exaltava as características dos brasileiros, a receptividade e a alegria: “todos são muito amáveis, está fantástico”; “o Brasil com sua música, romantismo e calor humano mudou a minha vida pra sempre” (A PÁTRIA..., 2014A PÁTRIA globalizada. Brasileiros de coração. O Globo, Rio de Janeiro , p.10, 16 jun. 2014., p. 10).

Como espécie de síntese provisória, O Globo de 15 de junho noticiou:

Em Brasília: preços altos na capital do país; Já no Norte, em Manaus: desinformação e hospitalidade; No sul do país, Porto Alegre: placas em inglês, e transporte ruim; Já na capital baiana, Salvador: caos no trânsito, simpatia nas ruas; Em Cuiabá: chegada difícil, sorriso fácil. Em Curitiba: informação é coisa rara; Na capital mineira - Belo Horizonte: delícias na mesa e trânsito lento; no Rio de janeiro: bagagem rápida, elevador parado; Recife: caos urbano, festas populares; Natal: greve para atrapalhar; em Fortaleza: falta tradução, sobra simpatia; Em São Paulo: internet falha, amabilidade não(GOL..., 2014).

O jornal retrava o país dos antagonismos: por um lado, aspectos da nossa cultura tradicional, cujo reflexo da miscigenação do português “plástico”, que “sem ideais absolutos nem preconceitos inflexíveis” (FREYRE, 2013FREYRE, Gilberto. Casa-grande & senzala. 52. ed. São Paulo: Global, 2013., p. 291) possibilitou uma forma de sociabilidade entre desiguais, o estrangeiro e o brasileiro, que se traduz na hospitalidade, na simpatia, nas festas, na amabilidade, como uma espécie de “mistura [entre] ‘cordialidade’, sedução, afeto, inveja, ódio reprimido e praticamente todas as nuances da emoção humana”, sentimentos expressos e equilibrados no temperamento da cultura brasileira (SOUZA, 2000SOUZA, Jessé. Gilberto Freyre e a singularidade da cultura brasileira. Tempo Social - Revista de sociologia da USP, v. 59, p. 51-74, 2000., p. 76). Por outro lado, na narrativa d’O Globo, esses aspectos eram contemporizadores da modernidade inacabada brasileira: das obras incompletas, do atraso tecnológico, dos problemas estruturais. A narrativa reatualizava um antagonismo brasileiro, entre a uma modernidade “universal” da civilização ocidental, comparada com a qual estamos atrasados, mas que é harmonizada quando olhamos para o outro lado, o da singularidade brasileira, das “coisas inefáveis, incomensuráveis e incomparáveis, como a comida, e a música”, que tornaria o Brasil o melhor país do mundo (DAMATTA, 2004DAMATTA, Roberto. Nação e região: em torno do significado cultural de uma permanente dualidade brasileira. In: SCHÜLER, F. L.; BORDINI, M. (Org.). Cultura e identidade regional. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2004. p.19-30. (Coleção Memória das Letras)., p. 23).

5 O DEPOIS: O SUCESSO BRASILEIRO FORA DOS GRAMADOS

A Copa do Mundo chegou ao fim com o título da Alemanha. Apesar do desempenho da seleção brasileira abaixo do esperado no Mundial, a competição teria deixado benefícios para a cidade que deveriam ser comemorados, na visão do veículo: “[...] apesar dos problemas, a maioria dos moradores [do Maracanã] ficou satisfeita com a atenção que o bairro [do estádio] passou a ser tratado em virtude da competição” (SALLES, 2014SALLES, Stefano. Gol da mobilidade. O Globo, Rio de Janeiro , p. 8, 24 jul. 2014., p. 8).

De modo geral, nas “estatísticas” dos problemas registrados pelo jornal, entre os crimes que chegaram às delegacias de polícia, os furtos responderam por 74% do total de casos. Todavia, o jornal noticiou que a frequência de furtos havia ficado abaixo da ocorrida durante a Jornada Mundial da Juventude e a Copa das Confederações - megaeventos realizados no Rio -, sem registros de ocorrências graves. Deste modo, turismo positivo e o “não registro” de problemas advindos das desigualdades sociais (como crimes de roubos, furtos etc.) seriam o balanço final do jornal. Estes aspectos pronunciam a exaltação dessa modernidade made in Brazil, que tinha dificuldades estruturais, mas que seriam equilibradas pelo povo amável, simpático, hospitaleiro. Essa visão direciona para um balanço identitário ambivalente, ao afirmar uma “modernidade” à brasileira, da qual se desconfia, uma vez que sua manifestação pode ter sido uma excepcionalidade.

Tal ambivalência parece ser de um país que se integrou à modernidade e à civilização, mas que não perdeu sua singularidade. Numa esteira semelhante à de Giannetti (2016GIANNETTI, Eduardo. Trópicos utópicos. São Paulo: Companhia das Letras, 2016., p. 180), essa narrativa remonta a uma identidade de um Brasil reconciliado com si mesmo, criando a sua própria ideia de modernidade:

De um Brasil que trabalha - o suficiente - mas nem por isso deixa de transpirar joie de vivre e libido por todos os poros (...) O que ela implica é a identificação dos nossos valores e uma efetiva adesão a eles. O que ela implica é a rejeição da crença de que não podemos ser originais - de que devemos nos resignar à condição de imitação desastrada ou cópia canhestra do modelo que nos é incutido pelo ‘mundo rico’. A biodiversidade da nossa geografia e a sociodiversidade da nossa história são os principais trunfos brasileiros diante de uma civilização em crise.

Nas narrativas do jornal, pudemos perceber uma visão de que, independentemente das mensagens negativas e dos discursos preestabelecidos, a Copa havia “dado certo” por inúmeras razões. Visão marcada por esse sentimento, que, no entanto, não omitiu os problemas, nem as propostas de ações futuras para melhorar o país. Tais preocupações se mantiveram nos discursos, mescladas “à paixão” do povo brasileiro em celebrar, em reunir, em receber e ser alegre e caloroso, reafirmando a Copa sediada no Brasil - tal como o Carnaval - como um espaço-tempo ritual de celebração que redefine a sociedade brasileira. Ritual este que harmoniza e desgarra as hierarquias sociais, ao mesmo tempo em que reforça e nos atenta aos problemas da ordem cotidiana (DAMATTA, 1997DAMATTA, Roberto. Carnavais, Malandros e Heróis: para uma sociologia do dilema brasileiro. Rio de Janeiro: Rocco, 1997.).

O Globo reatualizou narrativas tradicionais sobre a identidade nacional, tal como diversos teóricos dos tempos recentes, que rearranjaram elementos da narrativa freyreana sobre o Brasil. Próximo à forma pela qual O Globo narrou o Brasil está Eduardo Giannetti (2016,GIANNETTI, Eduardo. Trópicos utópicos. São Paulo: Companhia das Letras, 2016. p. 179), para quem a reinvenção da nossa tradição passou pela constituição do Brasil moderno, particularmente marcado por antagonismos, como a permanência “da imotivada alegria que confere qualidade intensamente poética, cordial e lúdica à vida comum, não obstante a pobreza e violência existentes”, mas que se reequilibram na reconciliação do país consigo mesmo. Nos momentos de crise da civilização, causados por um avanço tecnológico e um consumismo desenfreado, ambos ambientalmente insustentáveis, talvez justamente a modernidade à brasileira, que foi capaz de resistir ao utilitarismo, mantendo “o calor e a intensidade dos afetos nas relações pessoais”, é, para o autor, a verdadeira utopia tropical, não só como um horizonte possível, mas como algo já em trânsito na nossa identidade nacional (GIANNETTI, 2016GIANNETTI, Eduardo. Trópicos utópicos. São Paulo: Companhia das Letras, 2016., p. 179).

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Podemos observar que, de modo geral, o discurso do “antes, durante e depois”, oscilou entre observações positivas e negativas. Amor, revolta, jogos, manifestações contra o governo, torcedores ensandecidos, hinos à capela, todos esses sentimentos, separadamente e ao mesmo tempo uníssonos, fizeram parte da narrativa da Copa n’O Globo. Os polos da modernidade e da singularidade brasileiras foram distintivamente exaltados e muitas vezes justapostos.

De fato, o fator positivo enfatizado foi a enorme receptividade dos brasileiros. Os estereótipos antes explanados pelo mundo afora, de que o Brasil era tão somente a terra do samba e do futebol, foram deslocados para uma ideia de que o Brasil tinha muito mais a ser reconhecido. Nesse sentido, percebeu-se nessas narrativas a constituição de um processo identitário que, mesmo superficialmente, resgatava e reatualizava imagens de um Brasil como a esboçada por Gilberto Freyre. Um Brasil cuja confluência entre a miscigenação racial, a cultura e o ambiente geográfico fazia um país singular e marcado por uma beleza natural, uma libido escancarada e um povo não rígido, mas amigável e simpático, conformando uma modernidade brasileira específica, marcada por uma positividade.

Evidentemente, esta é uma das narrativas (ou utopias) identitárias possíveis e em disputa no reconhecimento do Brasil contemporâneo. Tais narrativas constituem fluxos de informações culturais e, muitas vezes, híbridos interpretativos do nosso país. A Copa do Mundo realizada em solo nacional foi uma espécie de ritual que serviu para reatualizá-la, e os veículos de comunicação, em especial O Globo, tiveram um papel de propagá-la como uma das possíveis “verdades” de nosso país amplamente: a verdade de um país que, apesar dos pesares, “deu certo”. Deu certo, evidentemente, num ritual que, por um lado, dirime nossos principais antagonismos, todavia, por outro, põe luz neles. O país da simpatia, da hospitalidade, que é capaz de suspender as desigualdades sociais e suas consequências, para ritualizar uma festa. Festa esta que é produto do nosso processo violento de hierarquias sociais, fruto de uma decisão da qual esse mesmo povo não participou. Festa que dramatizou valores coletivos importantes, como a solidariedade, simpatia, cordialidade, mas que foi a demonstração da nossa modernidade peculiar, marcada pelos atrasos, inseguranças e problemas. São dualidades, ambivalências e antagonismos em busca de um equilíbrio, que marcaram os discursos do jornal O Globo, constituindo essa forma particular de narrar a identidade brasileira.

Deste modo, compreendemos que, ao atualizar esse discurso sobre a identidade nacional, O Globo promoveu uma visão sobre os processos culturais e políticos do país que não deve ser observada sob a ideia de uma pretensa neutralidade ou aleatoriedade. Tal narrativa da identidade nacional representa uma forma de construir uma tradição que, na medida em que é sempre seletiva, contribui para criar um imaginário específico dentre tantos outros possíveis para conferir unidade e sentido simbólicos a um determinado povo. Os efeitos políticos diversos dessa narrativa são possibilidades de futuras investigações que enfoquem as condições de sua produção ou de sua recepção.

Apoio

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes)

REFERÊNCIAS

  • ALEGRIA verde-amarela. Começa a Festa. O Globo, Rio de Janeiro, p. 8, 13 jun. 2014.
  • ALMEIDA, Júlia Maria da Costa de. Preliminares iconotextuais da Copa De 2014: O (contra) discurso da logomarca. Revista (Con)textos Linguísticos, v. 7, n. 9, p. 131-146, 2013.
  • ANDERSON, Benedict. Comunidades imaginadas: reflexões sobre a origem e a difusão do nacionalismo. São Paulo: Companhia da Letras, 2008.
  • APPADURAI, Arjun. Soberania sem territorialidade: notas para uma geografia pós-nacional. Novos Estudos CEBRAP, v. 49, p. 33-49, 1997.
  • BRISO, Caio Barreto. Vias nem tão públicas. O Globo, Rio de Janeiro , p. 12, 31 maio 2014.
  • CALIXTO, Bruno. Estrangeiros padrão-Rio. O Globo, Rio de Janeiro , p. 20, 6 jul. 2014.
  • AS CIDADES em jogo. Gol de brasileiro. O Globo, Rio de Janeiro , p. 13,15 jun. 2014.
  • CIDADES-SEDE em festa. Mistura de todas as cores. Nas capitais, verde-amarelo se junta aos tons das bandeiras trazidas por estrangeiros. O Globo, Rio de Janeiro , p. 8, 12 jun. 2014.
  • COBERTURA estrangeira, entre a paixão e os protestos. O Globo, Rio de Janeiro , p. 15, 13 jun. 2014.
  • CONSULTOR da ONU diz que maior ganho é a exposição. O Globo, Rio de Janeiro , p. 25, 15 jun. 2014.
  • COSTA, Celia. “Bed and breakfast” nas comunidades. Para “gringo” ver e ficar. O Globo, Rio de Janeiro , p. 8, 4 jun. 2014.
  • DAMATTA, Roberto. Carnavais, Malandros e Heróis: para uma sociologia do dilema brasileiro. Rio de Janeiro: Rocco, 1997.
  • DAMATTA, Roberto. Nação e região: em torno do significado cultural de uma permanente dualidade brasileira. In: SCHÜLER, F. L.; BORDINI, M. (Org.). Cultura e identidade regional. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2004. p.19-30. (Coleção Memória das Letras).
  • DAMO, Arlei Sander. O ethos capitalista e o espírito das copas. In: GASTALDO, Édison; GUEDES, Simoni. (Org.). Nações em campo: Copa do Mundo e identidade nacional. Niterói: Intertexto, 2006. p.39-72.
  • DAMO, Arlei Sander. A Copa das Manifestações-afinidades eletivas entre megaeventos. In: ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM CIÊNCIAS SOCIAIS (ANPOCS).37, 2013. Anais... Águas de Lindóia: ANPOCS, 2014.
  • FREYRE, Gilberto. Casa-grande & senzala. 52. ed. São Paulo: Global, 2013.
  • GASTALDO, Édison. Pátria, chuteiras e propaganda: o brasileiro na publicidade da Copa do Mundo. São Paulo: Annablume, 2002.
  • GASTALDO, Édison. “O país do futebol” mediatizado: mídia e Copa do Mundo no Brasil. Sociologias, v. 11, n. 22, p. 352-369, 2009.
  • GIANNETTI, Eduardo. Trópicos utópicos. São Paulo: Companhia das Letras, 2016.
  • GOL do brasileiro: turistas criticam transporte, mas elogiam hospitalidade. O Globo. Rio de Janeiro. 15 jun. 2014. Disponível: <Disponível: https://oglobo.globo.com/brasil/gol-do-brasileiro-turistas-criticam-transporte-mas-elogiam-hospitalidade-12867043 > Acesso em: 4 jun. 2017.
    » https://oglobo.globo.com/brasil/gol-do-brasileiro-turistas-criticam-transporte-mas-elogiam-hospitalidade-12867043
  • GUEDES, Simoni Lahud. O Brasil no campo de futebol. Niterói: EDUFF, 1999.
  • GUEDES, Simoni Lahud. De Criollos e Capoeiras. In: ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM CIÊNCIAS SOCIAIS (ANPOCS). 26., 2002. Anais.... Caxambú: ANPOCS, 2002.
  • GUEDES, Simoni Lahud. Dádiva e os diálogos identitários através das copas do mundo no Brasil. In: CAMPOS, Flávio; ALFONSI, Daniela (Org.). Futebol objeto das ciências humanas. São Paulo: Leya, 2014. p.57-70.
  • HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2006.
  • HELAL, Ronaldo. As Novas Fronteiras do ‘País do Futebol. Pesquisa Rio/Faperj, v. 11, p. 37-40, 2010.
  • HELAL, Ronaldo. Mitos e verdades do futebol (que nos ajudam a entender quem somos). Insight Inteligência, v. 52, p. 68-81, 2011.
  • HELAL, Ronaldo; SOARES, Antonio Jorge. O declínio da pátria de chuteiras: futebol e identidade nacional na Copa do Mundo de 2002. In: ENCONTRO ANUAL DA COMPÓS. 12., 2003. Anais... Recife: Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação, 2003. p. 1-15.
  • LAVOR, Thays. Cidades-sede: Atrasos nos projetos, obras entregues às vésperas e gastos excessivos desanimam moradores de Fortaleza. O Globo. Rio de Janeiro, 1º. jun. 2014. Disponível em: <Disponível em: https://extra.globo.com/noticias/brasil/cidades-sede-atrasos-nos-projetos-obras-entregues-as-vesperas-gastos-excessivos-desanimam-moradores-de-fortaleza-12802635.html > Acesso em: 5 jun. 2017.
    » https://extra.globo.com/noticias/brasil/cidades-sede-atrasos-nos-projetos-obras-entregues-as-vesperas-gastos-excessivos-desanimam-moradores-de-fortaleza-12802635.html
  • LO-BIANCO, Alessandro et al Clima de festa invade da praia à montanha. O Globo, Rio de Janeiro , p. 10, 12 jun. 2014.
  • MAGALHÃES, Luis Ernesto; RODRIGUES, Alexandre. Obras em progresso. Inacabadas e inauguradas. O Globo, Rio de Janeiro , p. 8, 2 jun. 2014.
  • MARINHO, Rafaela. Jornalistas de diferentes nações mostram que país vai muito além da bola. O Globo. Rio de Janeiro, 31 maio 2014. Disponível: <Disponível: https://oglobo.globo.com/brasil/jornalistas-de-diferentes-nacoes-mostram-que-pais-vai-muito-alem-da-bola-12676457 > Acesso em: 5 jun. 2017.
    » https://oglobo.globo.com/brasil/jornalistas-de-diferentes-nacoes-mostram-que-pais-vai-muito-alem-da-bola-12676457
  • PADRÃO Brasil. O Globo, Rio de Janeiro , p. 4, 31 maio 2014.
  • PARTIDAS em Cuiabá levam mais turistas ao Pantanal. O Globo, Rio de Janeiro , p. 9, 23 jun. 2014.
  • A PÁTRIA globalizada. Brasileiros de coração. O Globo, Rio de Janeiro , p.10, 16 jun. 2014.
  • PINTO, Milton José. Comunicação e discurso: introdução a análise de discursos. São Paulo: Hacker, 1999.
  • PIRES, Giovani Lorenzo (Org.). O Brasil na Copa, a Copa no Brasil: registro do agendamento para 2014 na cobertura da midiática da Copa da África do Sul. Florianópolis: Tribo da Ilha, 2011.
  • POVO, a arma secreta do país para fazer um Mundial de primeira. O Globo , Rio de Janeiro , p. 8, 7 jul. 2014.
  • REIS, Heloisa Helena Baldy dos; LOPES, Felipe Tavares Paes; MARTINS, Mariana Zuaneti. Políticas públicas voltadas para atletas e torcedores de futebol: argumentos para dissidentes. Motrivivência, v. 26, n. 42, p. 115-130, 2014.
  • REIS, José Carlos. As identidades do Brasil de Varnhagen a Fernando Henrique Cardoso. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1999.
  • RODRIGUES, Rejane Penna; PINTO, Leila Mirtes Magalhães. Subsídios para pensar os Legados de Megaeventos Esportivos em seus tempos presente, passado e futuro. In: DACOSTA, Lamartine et al (Org.). Legados de Megaeventos Esportivos. Brasília: Ministério do Esporte, 2008.
  • SALLES, Stefano. Gol da mobilidade. O Globo, Rio de Janeiro , p. 8, 24 jul. 2014.
  • SMITH, Anthony. O nacionalismo e os historiadores. BALAKRISHNAN, G. (Org.). Um Mapa da Questão Nacional. p.185-208. Rio de Janeiro: Contraponto, 2000.
  • SOUZA, Jessé. Gilberto Freyre e a singularidade da cultura brasileira. Tempo Social - Revista de sociologia da USP, v. 59, p. 51-74, 2000.
  • SOUZA, Jessé. A tolice da inteligência brasileira. São Paulo: Leya , 2015.
  • TORCIDA de emoções à flor da pele. O Globo, Rio de Janeiro , p. 9, 13 jun. 2014.
  • VALENTE, Gisele; CAVALCANTI, Gisele. Em 18 dias, gringos gastam US$ 365 milhões. O Globo, Rio de Janeiro , p. 27, 25 jun. 2014.
  • 1
    De acordo com DaMatta (2004, p. 24), “[...] as identidades, como as narrativas, têm muitos pontos de partida”, cuja a escolha depende da linha de discurso que se quer seguir. Por isso, a construção de identidades “é um jogo entre o que deve ser necessariamente lembrado e o que deve ser necessariamente esquecido em certas situações”.
  • 2
    INFOGLOBO. IVC Total Circulação Impressa. Disponível em:<https://www.infoglobo.com.br/anuncie/circulacao.aspx>. Acesso em: 29 abr.2015.
  • 3
    A obra de DaMatta se caracteriza pela tentativa de descrever uma gramática profunda do universo social brasileiro. Neste contexto, ele desenvolve a teoria do “dilema brasileiro”, estruturado entre dualismos (a rua e a casa, indivíduo e pessoa, estado e nação) que, em sua interpretação, articulariam o que ele considera a modernização inautêntica brasileira.
  • 4
    Uma referência crítica e irônica às exigências da FIFA quanto às características dos estádios para a Copa do Mundo, as quais obrigaram ao dispêndio de elevadas quantidades de dinheiro na construção e reforma dos estádios. Por trás dessa ironia estava contida uma ideia de que o “padrão FIFA” era sinônimo de “boa qualidade”. Paradoxalmente, apesar de o “padrão FIFA” dar contorno a essas críticas sociais advindas do uso do dinheiro público, dentro do universo do futebol, ele tem um sentido contrário no processo de remodelação dos estádios, sendo um poderoso instrumento de controle social e de estímulo ao consumo (REIS et al., 2014).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    17 Jun 2022
  • Data do Fascículo
    Oct-Dec 2018

Histórico

  • Recebido
    26 Set 2017
  • Aceito
    13 Jul 2018
Universidade Federal do Rio Grande do Sul Rua Felizardo, 750 Jardim Botânico, CEP: 90690-200, RS - Porto Alegre, (51) 3308 5814 - Porto Alegre - RS - Brazil
E-mail: movimento@ufrgs.br