Acessibilidade / Reportar erro

NATAÇÃO E QUESTÕES ÉTNICO-RACIAIS: REPRESENTAÇÕES MIDIÁTICAS

SWIMMING AND ETHNIC-RACIAL ISSUES: MEDIA REPRESENTATIONS

NATACIÓN Y CUESTIONES ÉTNICO-RACIALES: REPRESENTACIONES MEDIÁTICAS

Resumo:

Este estudo busca analisar o discurso midiático e suas representações sobre dois atletas da natação brasileira de alto rendimento no contexto da discussão étnico-racial: Etiene Medeiros e Edvaldo Valério. Esta pesquisa é de natureza qualitativa. Demonstrou-se nos resultados que o discurso midiático se apropria acriticamente de tradições científicas de bases biológicas que naturalizam a ausência de negros no cenário competitivo da natação mundial.

Palavras-chave:
Natação; Negros; Meios de Comunicação

Abstract:

This study analyzes media discourses and their representations about two Brazilian high-performance swimmers in the ethnic-racial debate: Etiene Medeiros e Edvaldo Valério. This research is qualitative, and its results demonstrated that media discourses uncritically appropriate biological scientific traditions that naturalize the absence of blacks at the competitive scenario of international swimming.

Keywords:
Swimming; Blacks; Media

Resumen:

Este estudio tiene como objetivo analizar el discurso mediático y sus representaciones sobre dos nadadores brasileños de alto rendimiento en el contexto de la discusión étnico-racial: Etiene Medeiros y Edvaldo Valério. Esta investigación es de naturaleza cualitativa. Se ha demostrado en los resultados que el discurso mediático se apropia de manera acrítica de las tradiciones científicas de bases biológicas que naturalizan la ausencia de negros en el escenario competitivo de la natación mundial.

Palabras clave:
Natación; Negros; Medios de comunicación

1 INTRODUÇÃO

A recente conquista da medalha de ouro na natação dos Jogos Olímpicos do Rio de 2016 pela norte-americana Simone Manuel, nos 100m livre, não foi noticiada como um feito esportivo comum. Alguns veículos midiáticos, ao produzirem suas narrativas sobre esse acontecimento, foram enfáticos ao pontuar que se tratava da primeira atleta negra1 1 O uso do termo negro ou negra, ao longo deste estudo, tem como perspectiva configurações dinâmicas quanto a características fenotípicas, sociais, históricas, políticas, culturais e identitárias, que se relacionam com as subjetividades dos sujeitos. Nesse sentido, perspectiva-se o “negro como lugar”, conforme pontuado por Santos (2006, p. 219). a conquistar um ouro olímpico na história da natação.

Marques, Gismondi e Carneiro (2016MARQUES, Fabrício; GISMONDI, Lydia; CARNEIRO, Raphael. Com recorde e empate, americana se torna primeira negra campeã olímpica. Globoesporte.com , 12 de agosto de 2016. Disponível em: http://globoesporte.globo.com/olimpiadas/natacao/noticia/2016/08/com-recorde-e-empate-americana-se-torna-primeira-negra-campea-olimpica.html . Acesso em: 30 nov. 2018.
http://globoesporte.globo.com/olimpiadas...
), no site de notícias esportivas Globoesporte.com, por exemplo, intitularam a notícia sobre a performance de Simone na conquista da medalha da seguinte maneira:

Com recorde e empate, americana se torna primeira negra campeã olímpica: Simone Manuel vence os 100m livre feminino, empatada com a canadense Penny Oleksiak, e faz história ao ser a primeira negra a vencer uma prova olímpica individual (MARQUES; GISMONDI; CARNEIRO, 2016MARQUES, Fabrício; GISMONDI, Lydia; CARNEIRO, Raphael. Com recorde e empate, americana se torna primeira negra campeã olímpica. Globoesporte.com , 12 de agosto de 2016. Disponível em: http://globoesporte.globo.com/olimpiadas/natacao/noticia/2016/08/com-recorde-e-empate-americana-se-torna-primeira-negra-campea-olimpica.html . Acesso em: 30 nov. 2018.
http://globoesporte.globo.com/olimpiadas...
, p. 1).

O site de notícias da British Broadcasting Corporation (BBC) news Brasil, por sua vez, destacou no título uma pergunta sobre o feito de Simone: “Por que a 1ª medalha de ouro de uma nadadora negra é importante?” (POR QUE..., 2016POR QUE a 1ª medalha de ouro de uma nadadora negra é importante? BBC News, 12 de agosto de 2016. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/geral-37064215 . Acesso em: 14 out. 2018.
https://www.bbc.com/portuguese/geral-370...
, p. 1). O texto contextualiza a performance de Simone com a história dos Estados Unidos da América, informando que “as piscinas são, há muito tempo, um ponto especialmente sensível da questão racial nos Estados Unidos” (POR QUE..., 2016POR QUE a 1ª medalha de ouro de uma nadadora negra é importante? BBC News, 12 de agosto de 2016. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/geral-37064215 . Acesso em: 14 out. 2018.
https://www.bbc.com/portuguese/geral-370...
, p. 1).

Fora do contexto olímpico, em 2014 a atleta da Jamaica, Alia Atinkson, conquistou a medalha de ouro no mundial de piscina curta na prova de 100m peito. Naquela ocasião, o resultado de Alia foi noticiado fazendo-se referência à “primeira negra campeã mundial na natação”, destacando-se a “quebra de barreiras em um esporte predominantemente praticado por brancos” (MARQUES; GISMONDI, 2015MARQUES, Fabrício; GISMONDI, Lydia. Primeira negra campeã mundial, jamaicana quer repetir feito em Kazan. Globoesporte.com , 03 de agosto de 2015. Disponível em: http://globoesporte.globo.com/natacao/noticia/2015/08/primeira-negra-campea-mundial-jamaicana-quer-repetir-feito-em-kazan.html . Acesso em: 08 out. 2018.
http://globoesporte.globo.com/natacao/no...
, p. 1).

As vitórias e conquistas de atletas negros na natação, nos casos ilustrados acima, repercutem no discurso midiático, que é o principal meio pelo qual o grande público consome o fenômeno esportivo em geral. É importante pontuar que, no caso específico da natação, a mídia online se constitui como uma das principais formas de se obter notícias destas competições, uma vez que estas não são comumente transmitidas por canais abertos de televisão.

No meio científico, por sua vez, a discussão sobre questões étnico-raciais e as práticas corporais estão incipientes ou ausentes em algumas modalidades esportivas, bem como em outras práticas corporais (como se demonstrará ao longo do texto).

Nesse cenário, o objetivo geral deste estudo é analisar o discurso midiático e suas representações sobre atletas da natação brasileira de alto rendimento no contexto da discussão étnico-racial. Para tanto, foram escolhidas, de maneira intencional, as trajetórias profissionais de dois atletas: Etiene Medeiros (campeã mundial e atleta olímpica contemporânea); e Edvaldo Valério (medalhista olímpico em Sidnei, 2000). Tomou-se tais atletas para análise, pois, eles obtiveram resultados expressivos nacional e internacionalmente e se identificaram em diferentes plataformas midiáticas como sendo negros. Tal identificação foi constatada, no caso de Etiene, em suas entrevistas a veículos midiáticos, em particular a publicada na reportagem de Cavalcanti (2017CAVALCANTI, Sabbahana. No Recife, Etiene Medeiros destaca participação da mulher e incentiva ações esportivas. MG Superesportes, 21 de Agosto de 2017. Disponível em: https://www.mg.superesportes.com.br/app/noticias/ultimas-noticias/1,1208,18,64/2017/08/21/noticia_maisesportes,49112/etiene-medeiros-incentiva-projetos-esportivos-no-recife-e-destaca-part.shtml . Acesso em: 12 out. 2019.
https://www.mg.superesportes.com.br/app/...
, p. 1), em que a atleta diz: “Eu fico muito feliz por ser nordestina, negra e estar lá em primeiro lugar do pódio”. No caso de Edvaldo Valério, além de reportagens, verificou-se na biografia publicada sobre o nadador a sua identificação como atleta negro (CARNEIRO, 2015CARNEIRO, Raphael. Edvaldo Valério: a braçada da esperança. Rio de Janeiro: Via Escrita, 2015.).

Como objetivos específicos, pretende-se: contextualizar o debate sobre a natação e atletas negros na literatura acadêmica nacional e internacional; identificar e discutir narrativas midiáticas sobre os atletas Etiene Medeiros e Edvaldo Valério; discutir implicações dos debates étnico-raciais em torno da natação na mídia e na ciência.

2 METODOLOGIA

Esta pesquisa é de natureza qualitativa, no sentido de problematizar e buscar interpretações de realidades sociais dinâmicas (GILL, 2002GILL, Rosalind. Análise de discurso. In: BAUER, Martin; GASKELL, George. Pesquisa Qualitativa com texto, imagem e som. Rio de Janeiro: Vozes, 2002. p. 244-270.). Os resultados foram interpretados a partir da análise do discurso. A Análise Crítica do Discurso propõe leituras sobre informações textuais que busquem identificar ideias e informações subjacentes dentro da narrativa. Portanto, requer um exercício de leitura analítica, refletida e ativa, compreendendo o que está sendo lido para, dessa forma, identificar margens implícitas além da literal, como possíveis silêncios. Através disso, formar-se-ão interpretações com fundamento sobre a literatura (GILL, 2002GILL, Rosalind. Análise de discurso. In: BAUER, Martin; GASKELL, George. Pesquisa Qualitativa com texto, imagem e som. Rio de Janeiro: Vozes, 2002. p. 244-270.).

A coleta de dados consistiu na utilização das ferramentas de busca em sites de notícias e sites especializados em esportes, compreendendo o período do ano 2000 a 2019. Utilizou-se como palavras-chave, separadamente, os nomes dos atletas que estão no foco deste estudo (com sobrenome e sem sobrenome). Dentre os sites esportivos e de notícias visitados para o levantamento estão: Globoesporte.com, Folha de São Paulo (online), BBC News Brasil, Entertainment and Sports Programming Network (ESPN) e Revista Fórum. Foram consideradas para a análise reportagens em que os atletas Etiene e/ou Edvaldo apareceram como protagonistas do texto a partir do título, subtítulo ou da narrativa propriamente dita.

A partir deste levantamento, foram catalogados os textos quanto ao seu conteúdo, autor (se assinadas as reportagens ou matérias), data de publicação, e entrevistas com os atletas que tenham sido citadas nas reportagens. Assim, construiu-se o corpus da análise, considerando as variadas notícias sobre os atletas em questão.

Ao utilizar as fontes midiáticas neste estudo, opera-se uma análise que considera o processo de codificação/decodificação no processo comunicativo. Hall (2003HALL, Stuart. Codificação/Decodificação. In: HALL, Stuart. Da diáspora: identidade e mediações culturais. Belo Horizonte: Editora Universidade Federal de Minas Gerais, 2003. p. 387-404.) sugere que há uma complexa estrutura de significados em tal processo. A ideia central é que aquilo que as mídias captam compõem universos discursivos na sociedade, ou seja, estão presentes, de alguma forma, em esferas sociais que debatem, dialogam, fomentam e disseminam ideias. Segundo o autor, para o processo de sua produção, as mídias buscam “[...] definições da situação de outras fontes e outras formações discursivas dentro da estrutura sociocultural e política mais ampla da qual são uma parte diferenciada” (HALL, 2003HALL, Stuart. Codificação/Decodificação. In: HALL, Stuart. Da diáspora: identidade e mediações culturais. Belo Horizonte: Editora Universidade Federal de Minas Gerais, 2003. p. 387-404., p. 389).

Assim, os universos discursivos da ciência e da mídia assumem grande potencial disseminador de ideias, sentidos e significados sobre as práticas corporais e as discussões étnico-raciais que podem se desdobrar em implicações para o imaginário social em torno do esporte. É nesse sentido que se pretende discutir as fontes, situando-as dentro de uma estrutura comunicativa que tem o potencial de perpetuar, mas, sobretudo de transformar sentidos e significados dos fenômenos sociais, em específico, de práticas corporais como a natação.

3 QUESTÕES ÉTNICO-RACIAIS E AS PRÁTICAS CORPORAIS: UMA ANÁLISE DA PRODUÇÃO ACADÊMICA

Do ponto de vista epistemológico, é importante destacar que embates teóricos sobre a pertinência de uso do conceito de raça, etnia e afrodescendência encontram-se em um panorama teórico e metodológico que avança para a polifonia da temática. Perspectivas históricas, políticas, culturais e sociais engendram uma superação da discussão sobre “raça”, avançando para um debate sobre etnia em sentido plural e complexo, inclusive sobre o conjunto de referenciais sócio-históricos e culturais que remetem às matrizes africanas (LIMA, 2008LIMA, Maria Batista. Identidade étnico-racial no Brasil: uma reflexão teórico-metodológica. Revista Fórum Identidades, v.3, n.2, p. 33-46, dez. 2008. Disponível em: https://seer.ufs.br/index.php/forumidentidades/article/view/1742/1533 . Acesso em: 04 jul. 2019.
https://seer.ufs.br/index.php/forumident...
).

Assim, foram considerados no levantamento de estudos que importam à temática desta pesquisa, trabalhos que se utilizam da perspectiva sobre “raça”, “etnia” e “afrodescendência”, tratando-se aqui, portanto, de “questões étnico-raciais” no esporte e outras práticas corporais.

De forma ampla, questões étnico-raciais no contexto do esporte de alto rendimento não têm sido foco de grande atenção na produção científica brasileira em Educação Física, como se pode notar em levantamento bibliográfico realizado em periódicos nacionais para este estudo. Tomando-se por centralidade a problematização sobre o negro no referido contexto (seja como referência fenotípica ou identitária), de maneira geral, o futebol masculino tem sido privilegiado como cenário de análise.

Fora do contexto do esporte de alto rendimento, outra prática corporal que tem tido espaço na discussão sobre o negro é a capoeira. Isto ocorre, principalmente, sob prismas históricos, antropológicos e culturais, transcendendo uma discussão biológica sobre “raça” para uma compreensão mais profunda que tangencia relações socioculturais, memória, história e identidade.

No caso do futebol masculino, alguns exemplos são as discussões de Abrahão e Soares (2009ABRAHÃO, Bruno Otávio de Lacerda; SOARES, Antonio Jorge Gonçalves. O elogio ao negro no espaço do futebol: entre a integração pós-escravidão e a manutenção das hierarquias sociais. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 30, n. 2, p. 9-23, abr./jun. 2009. Disponível em: http://revista.cbce.org.br/index.php/RBCE/article/view/433/349 . Acesso em: 24 maio 2018.
http://revista.cbce.org.br/index.php/RBC...
), Abrahão e Soares (2011ABRAHÃO, Bruno Otávio de Lacerda; SOARES, Antonio Jorge Gonçalves. O corpo negro e os preconceitos impregnados na cultura: uma análise dos estereótipos raciais presentes na sociedade brasileira a partir do futebol. Movimento , v.17, n.4, p. 265-280, 2011. Disponível em: http://seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/20590 . Acesso em: 24 ago. 2018.
http://seer.ufrgs.br/Movimento/article/v...
), bem como Abrahão, Paoli e Soares (2011ABRAHÃO, Bruno Otávio de Lacerda; PAOLI, Próspero Brum; SOARES, Antonio Jorge. Identidades "raciais" e identidades nacionais: as representações do corpo negro na construção do "estilo brasileiro de jogar futebol”. Movimento, v. 17, n. 2, p. 195-210, jun. 2011. Disponível em: http://seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/19345 . Acesso em: 24 ago. 2018.
http://seer.ufrgs.br/Movimento/article/v...
) que examinaram, de modo geral, o que denominaram de estereótipos raciais da sociedade brasileira.

No primeiro trabalho, os autores analisaram o elogio ao negro no espaço do futebol como um fenômeno ambivalente entre integração e hierarquização social. Os autores afirmaram que os adjetivos e representações à corporalidade do negro transitaram entre simbolizar um privilégio em relação aos brancos embora, ao mesmo tempo, um distanciamento de atividades intelectuais (ABRAHÃO; SOARES, 2009ABRAHÃO, Bruno Otávio de Lacerda; SOARES, Antonio Jorge Gonçalves. O elogio ao negro no espaço do futebol: entre a integração pós-escravidão e a manutenção das hierarquias sociais. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 30, n. 2, p. 9-23, abr./jun. 2009. Disponível em: http://revista.cbce.org.br/index.php/RBCE/article/view/433/349 . Acesso em: 24 maio 2018.
http://revista.cbce.org.br/index.php/RBC...
).

No segundo estudo mencionado, os autores investigaram ofensas em estádios de futebol de 2005 até 2011. Concluíram que representações de "raça" emergiram como “uma moeda acionada diante da isonomia das regras civis ou esportivas” (ABRAHÃO; SOARES, 2011ABRAHÃO, Bruno Otávio de Lacerda; SOARES, Antonio Jorge Gonçalves. O corpo negro e os preconceitos impregnados na cultura: uma análise dos estereótipos raciais presentes na sociedade brasileira a partir do futebol. Movimento , v.17, n.4, p. 265-280, 2011. Disponível em: http://seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/20590 . Acesso em: 24 ago. 2018.
http://seer.ufrgs.br/Movimento/article/v...
, p. 265). Quanto ao terceiro trabalho, os autores analisaram representações socialmente construídas sobre a ‘raça negra’ com a elaboração identitária do estilo brasileiro de jogar futebol. Em suas conclusões apresentaram que justificativas a respeito da estética do estilo brasileiro de jogar se ancoraram na ideologia da mestiçagem e da participação dos negros nesse processo (ABRAHÃO; PAOLI; SOARES, 2011ABRAHÃO, Bruno Otávio de Lacerda; PAOLI, Próspero Brum; SOARES, Antonio Jorge. Identidades "raciais" e identidades nacionais: as representações do corpo negro na construção do "estilo brasileiro de jogar futebol”. Movimento, v. 17, n. 2, p. 195-210, jun. 2011. Disponível em: http://seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/19345 . Acesso em: 24 ago. 2018.
http://seer.ufrgs.br/Movimento/article/v...
).

O trabalho de Santos, Capraro e Lise (2010SANTOS, Natasha; CAPRARO, André Mendes; LISE, Riqueldi Straub. Racismo e a derrota que não foi esquecida: uma análise dos discursos de Mário Filho na obra “O negro no futebol brasileiro” e da imprensa escrita acerca da final da copa do mundo de 1950. Movimento , v. 16, n. 4, p. 191-208, nov. 2010. Disponível em: http://seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/15923 . Acesso em: 24 ago. 2018.
http://seer.ufrgs.br/Movimento/article/v...
), por sua vez, comparou a segunda edição da obra de Mário Filho, O negro no futebol brasileiro (1964), com notícias de jornais da época. Os autores investigaram narrativas de culpabilização de jogadores negros na derrota de 1950. À guisa de conclusão, os autores contestam o discurso de Mário Filho sobre o “recrudescimento do racismo” na Copa de 1950, considerando-o como uma “tradição inventada” (SANTOS; CAPRARO; LISE, 2010SANTOS, Natasha; CAPRARO, André Mendes; LISE, Riqueldi Straub. Racismo e a derrota que não foi esquecida: uma análise dos discursos de Mário Filho na obra “O negro no futebol brasileiro” e da imprensa escrita acerca da final da copa do mundo de 1950. Movimento , v. 16, n. 4, p. 191-208, nov. 2010. Disponível em: http://seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/15923 . Acesso em: 24 ago. 2018.
http://seer.ufrgs.br/Movimento/article/v...
, p. 191).

A pesquisa de Melo et al. (2011MELO, Victor Andrade de; RESENDE, Fabiana; PALMA, Alexandre; ASSIS, Monique. “A carne mais barata do mercado é a carne negra”: uma reflexão sobre o "design" das camisas da Puma na Copa do Mundo de Futebol/2010. Revista Brasileira de Educação Física e Esportes, v. 25, n. 2, p. 313-322, Jun. 2011. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1807-55092011000200012&lng=en&nrm=iso . Acesso em: 25 ago. 2018.
http://www.scielo.br/scielo.php?script=s...
) analisou a publicidade da marca Puma durante a Copa do Mundo de Futebol masculino de 2010. Discutiu-se o design das camisas de três equipes africanas (compostas predominantemente por atletas negros), comparando-o com camisetas de três outras seleções na mesma Copa. O estudo demonstrou que as estratégias publicitárias reforçaram estereótipos sobre o futebol africano e sobre os negros em geral, com camisas de modelagem ajustada para corpos musculosos com apelo estético para o agressivo, sensual e selvagem.

Quanto à capoeira, Mwewa (2011MWEWA, Christian Muleka. Inconformação, conformação e formação do corpo no jogo da capoeira: pistas para pensar o processo educativo. Movimento , v.17, n.3, p. 215-232, ago. 2011. Disponível em: http://seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/16915 . Acesso em: 24 ago. 2018.
http://seer.ufrgs.br/Movimento/article/v...
) realizou uma interpretação dos mecanismos denominados de formação, conformação e inconformação de praticantes de capoeira quanto à sua apropriação e constituição da cultura afro-brasileira. O texto indica que esta prática segue passando por processos de dominação que continuam a “subjugar certas camadas da população a partir do princípio da exclusão para privilegiar outras” (MWEWA, 2011MWEWA, Christian Muleka. Inconformação, conformação e formação do corpo no jogo da capoeira: pistas para pensar o processo educativo. Movimento , v.17, n.3, p. 215-232, ago. 2011. Disponível em: http://seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/16915 . Acesso em: 24 ago. 2018.
http://seer.ufrgs.br/Movimento/article/v...
, p. 229).

Simões (2000SIMÕES, Rosa Maria Araújo. Capoeira e escravidão: movimento de resistência versus submissão. Movimento , v. 6, n. 13, p. 26-31, dez. 2000. Disponível em: http://seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/11779 . Acesso em: 24 ago. 2018.
http://seer.ufrgs.br/Movimento/article/v...
) problematizou a capoeira historicamente analisando o que denominou de práticas de submissão e luta na capoeira e na realidade social. Vidor e Reis (2013VIDOR, Elisabeth; REIS, Letícia Vidor de Sousa. Capoeira: uma herança cultural afro-brasileira. São Paulo: Selo Negro, 2013.) retrataram, em perspectiva histórica, a capoeira e o negro escravo na sociedade carioca, abordando sob prismas antropológicos as características das manifestações, as influências dos mestres, as questões legais implicadas nesta prática ao longo da história.

Há também trabalhos que tratam de construções sócio-históricas sobre o negro e as práticas corporais, como a análise de Staudt, Silva e Magalhães (2018STAUDT, Jéferson Luis; SILVA, André Luiz dos Santos; MAGALHÃES, Magna Lima. Aptos aos Trabalhos Braçais, Suscetíveis aos Vícios Morais: Representações do Homem Negro na Revista Educação Physica (1939-1944). Movimento , v. 24, n.2, p. 483-494, jun. 2018. Disponível em: http://seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/73848/48572 . Acesso em: 24 ago. 2018.
http://seer.ufrgs.br/Movimento/article/v...
), que investigou as representações do corpo negro na Revista de Educação Physica em 1939 e 1940. Outras pesquisas abordaram o tema da cultura afro-brasileira em aulas de Educação Física escolar, como Goellner et al. (2009GOELLNER, Silvana Vilodre; VOTRE, Sebastiao Josué; MOURÃO, Ludmila; FIGUEIRA, Márcia Luiza Machado. Gênero e Raça: inclusão no esporte e lazer. Porto Alegre: Ministério do Esporte/Gráfica da UFRGS, 2009.) e Bins e Molina Neto (2017BINS, Gabriela Nobre; MOLINA NETO, Vicente. Mojuodara: uma possibilidade de trabalho com as questões étnico-raciais na educação física. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 39, n. 3, p. 247-253, 2017. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-32892017000300247&lng=en&nrm=iso . Acesso em: 25 ago. 2018.
http://www.scielo.br/scielo.php?script=s...
).

Nota-se que há lacunas na literatura acadêmica brasileira no que diz respeito à problematização de questões étnico-raciais no contexto do esporte de alto rendimento em geral e, em específico, do negro em práticas corporais diversas que não o futebol ou a capoeira. Outro fator a observar é que os trabalhos que tematizam questões étnico-raciais e as práticas corporais (principalmente o esporte) comumente obliteram a discussão de gênero. Em específico, tratar de atleta negro e práticas corporais na literatura acadêmica tem sido referir-se a atleta homem negro, uma tendência que se verificou também na literatura estadunidense (pelo menos até o final da década de 1980), como se verifica no trabalho de Birrel (1989BIRREL, Susan. Racial Relations Theory in Sports: Suggestions for a more critical analysis. Sociology of Sports Journal, v. 6, p. 212-227, 1989.).

O silêncio acadêmico na produção brasileira sobre a temática precisa ser questionado e problematizado, pois, decerto, estereótipos vinculados a concepções étnico-raciais compõem várias discussões de senso comum sobre o rendimento esportivo. Esses diálogos, por vezes, tangenciam questões fisiológicas como fator explicativo exclusivo, sem contrapontos de mesma ordem, para diferenciações demarcadas, sobretudo, do ponto de vista fenotípico.

Internacionalmente trabalhos que justificam a partir de fatos biológicos a falta de representatividade dos negros dentro das piscinas ultrapassam décadas, como Allen e Nickel (1969ALLEN, Richard; NICKEL, David. The Negro and learning to swim: The buoyancy problem related to reported biological differences. The Journal of Negro Education, v. 38, n. 4, p. 404-411, 1969.) e Bejan, Jones e Charles (2010BEJAN, Adrian; JONES, Edward; CHARLES, Jordan. The evolution of speed in athletics: why the fastest runners are black and swimmers white. International Journal of Design & Nature and Ecodynamics, v. 5, n. 3, p. 199-211, 2010.). Estes estudos apontam fatores associados à flutuação/densidade corporal como desvantagem de negros no aprendizado da modalidade e na performance, respectivamente.

Como contraponto, outros estudos (que também ultrapassam décadas), questionaram o valor da variável flutuação/densidade corporal, considerando-se os vários fatores que são determinantes para vencer provas da natação em competições de alto nível, tais como: a execução técnica dos movimentos (que se determina por vias treináveis de capacidades coordenativas, força, resistência cardiorrespiratória, tempo de reação, fatores psicológicos, etc.) (SAILES, 1991SAILES, Gary. The Myth of Black Sports Supremacy. Journal of Black Studies, v. 21, n. 4, p. 480-487, 1991.). Há também dados empíricos que contrariam e questionam uma pressuposta desvantagem biológica significativa entre brancos e negros para o aprendizado da natação (MCCLURE, 1972MCCLURE, John. Two views of Black and White swimmers. Integrated Education, v. 10, n. 3, p. 40-43, 1972.).

A lacuna na literatura brasileira é preocupante, principalmente no que concerne a análises que se propõem ao diálogo com bases sociológicas, considerando-se o esporte como um cenário potencial e privilegiado para a análise das relações sociais, como mimético da vida em sociedade (ELIAS; DUNNING, 1992ELIAS, Norbert; DUNNING, Eric. A busca da excitação. Lisboa: Memória e Sociedade, 1992.). Esse processo se complexifica à medida que permanece em retórica a valorização da diversidade humana e das sociedades do ponto de vista social, político e cultural. De fato,

O corpo, especificamente através da interpretação de aparências fenotípicas, tem sido um recurso importante para a formação de inferências preconceituosas. Colocando esta centralidade do corpo em ideais racistas ao lado do contemporâneo surgimento de formas mais implícitas de manifestação do racismo, o esporte é agora mais do que nunca um valioso e aceitável locus para a representação e demonstração de diferenças (LOUIS, 2003LOUIS, Brett Saint. Sport, Genetics and the ‘Natural Athlete’: The Resurgence of Racial Science. Body & Society, v.9, n.2, p. 75-95, 2003., p. 76).

Ideais racistas, decerto, permeiam as práticas corporais. Em estudo brasileiro, Devide (2000DEVIDE, Fabiano Pries. O discurso de proprietários de academias sobre a prática da natação como atividade de lazer: inclusão ou elitização social? Movimento , v. 6, n.12, p. 26-36, 2000. Disponível em: https://pdfs.semanticscholar.org/80f4/5dc2e86f6df0f2de634357382718585cb091.pdf . Acesso em: 10 abr. 2020.
https://pdfs.semanticscholar.org/80f4/5d...
) entrevistou proprietários de academias sobre a prática da natação como atividade de lazer. Dentre as questões realizadas pelo pesquisador aos proprietários, indagou-se sobre a oferta de projetos comunitários em suas academias. Embora a questão étnico-racial não tenha sido o foco central daquela análise, o autor afirmou que os entrevistados demonstraram preocupação com o preconceito e a discriminação, pois, segundo eles, pais de alunos não gostariam de compartilhar a piscina com negros. Devide (2000DEVIDE, Fabiano Pries. O discurso de proprietários de academias sobre a prática da natação como atividade de lazer: inclusão ou elitização social? Movimento , v. 6, n.12, p. 26-36, 2000. Disponível em: https://pdfs.semanticscholar.org/80f4/5dc2e86f6df0f2de634357382718585cb091.pdf . Acesso em: 10 abr. 2020.
https://pdfs.semanticscholar.org/80f4/5d...
, p. 32) citou a fala de um dos entrevistados para ilustrar isso: “- Eu tenho certeza que os pais dos alunos não iam querer ver a piscina cheia de negrinhos”. Parece clara a necessidade de problematizar cientificamente o racismo estrutural que aflige a participação do negro na natação na sociedade brasileira.

A pouca discussão em torno do tema pode perpetuar compreensões unilaterais sobre a ciência, o negro e a natação como prática corporal. Considerando-se a especificidade da Educação Física nesta discussão, a carência de produção científica pode ter implicações para a fundamentação da formação de profissionais da área que atuarão nos mais diversos contextos (da escola ao estudo e intervenção sobre os esportes, bem como da iniciação esportiva ao rendimento). De fato, Migliorati, Aranda e Gonzáles (2016MIGLIORATI, Mascia; ARANDA, Antonio Fraile; GONZÁLES, Rufino Cano. Os estereótipos étnicos nos profissionais do esporte. Movimento , v. 22, n.3, p. 767-782, ago. 2016. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/59453 . Acesso em: 12 abr. 2020.
https://seer.ufrgs.br/Movimento/article/...
) constataram que, entre treinadores e estudantes de Educação Física, existem estereótipos sobre questões étnico-raciais em relação ao rendimento desportivo, inclusive a crença de que desportistas negros tenham menor predisposição para a natação.

Com base nos estudos brasileiros aqui levantados, nota-se que as discussões sobre questões-étnico raciais na Educação Física foram alicerçadas em diálogo com bases socioantropológicas e históricas em seus referenciais teórico-metodológicos. Entretanto, a problematização e tematização destas questões não parecem representar um campo consolidado e diverso de discussão dentro da Educação Física como área do conhecimento, a julgar pelas limitações aqui apontadas. O aprofundamento e consolidação da temática, decerto, demandam uma mobilização das instituições, organizações científicas e pesquisadores para a produção científica qualificada na área.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Em reportagem de 2015 que buscava divulgar a publicação da biografia de Edvaldo Valério, o Globoesporte.com traz no título: “Primeiro negro medalhista olímpico da natação do Brasil ganha biografia” (PRIMEIRO..., 2015PRIMEIRO negro medalhista olímpico da natação do Brasil ganha biografia. Globoesporte.com , 28 de Abril de 2015. Disponível em: http://globoesporte.globo.com/natacao/noticia/2015/04/primeiro-negro-medalhista-olimpico-da-natacao-do-brasil-ganha-biografia.html . Acesso em: 12 out. 2018.
http://globoesporte.globo.com/natacao/no...
, p.1). O texto segue em seu primeiro e segundo parágrafos:

Negro, baiano, de origem humilde e sem grande estrutura para treinamento, Edvaldo Valério fez história na natação brasileira durante os Jogos Olímpicos de Sidney, no ano 2000, quando foi responsável por fechar o revezamento 4x100m livre e garantir a medalha de bronze ao Brasil

[...] Primeiro negro a ganhar uma medalha da natação brasileira nos Jogos Olímpicos, Edvaldo Valério superou desconfiança, a ciência e o preconceito para chegar ao topo do esporte. Curiosamente, o lançamento acontecerá na mesma data em que é comemorada a assinatura da Lei Áurea, que aboliu a escravatura no Brasil (PRIMEIRO..., 2015PRIMEIRO negro medalhista olímpico da natação do Brasil ganha biografia. Globoesporte.com , 28 de Abril de 2015. Disponível em: http://globoesporte.globo.com/natacao/noticia/2015/04/primeiro-negro-medalhista-olimpico-da-natacao-do-brasil-ganha-biografia.html . Acesso em: 12 out. 2018.
http://globoesporte.globo.com/natacao/no...
, grifos da autora).

Nota-se que a narrativa midiática a respeito de Edvaldo evidencia a condição de negro em seus feitos esportivos do título aos primeiros parágrafos que se sucedem. Esta condição é posta em contextos de superação: da própria ciência (embora sem maiores explicações), das condições de treinamento e da abolição da escravatura (este último quanto à data de lançamento do livro, para a qual não se revelou qualquer intencionalidade do biógrafo e/ou do ex-atleta).

Enquanto a narrativa midiática evidencia a condição de atleta negro sugerindo os desafios a enfrentar a partir disso, ao realizar a leitura da biografia escrita pelo jornalista Carneiro (2015CARNEIRO, Raphael. Edvaldo Valério: a braçada da esperança. Rio de Janeiro: Via Escrita, 2015.), nota-se que o livro detalha a iniciação esportiva de Edvaldo e suas dificuldades para participar do projeto social de natação na região em que morava, sem o qual dificilmente ele teria acesso à iniciação e primeiros treinamentos na natação. As dificuldades de Edvaldo também perpassaram, conforme Carneiro (2015CARNEIRO, Raphael. Edvaldo Valério: a braçada da esperança. Rio de Janeiro: Via Escrita, 2015.), condições financeiras para transporte público, com longas horas para a chegada ao centro de treinamento, bem como condições difíceis para se alimentar antes ou depois dos treinos. Embora na biografia haja menção ao fato de Edvaldo Valério ter sofrido preconceito racial ao longo da carreira, ele parece ter chegado ao auge (no ano 2000) sem sofrer qualquer experiência negativa quanto a ser negro como, por exemplo, na reportagem que diz:

Brasil coloca 1º negro na elite olímpica - Ele (Edvaldo) garantiu que nunca teve problemas com o racismo nas piscinas do Brasil e do mundo [...] ‘Em Salvador, todo mundo me conhece e gosta de mim e nunca tive esses problemas', declarou (DANTAS, 2000DANTAS, Pedro. Brasil coloca 1º negro na elite olímpica. Globoesporte.com , 09 de junho de 2000. Disponível em: https://globoesporte.globo.com/pe/noticia/sucesso-no-maria-lenk-respalda-trabalho-de-etiene-medeiros-e-garante-vaga-em-mundial-e-pan.ghtml . Acesso em: 30 de maio 2018.
https://globoesporte.globo.com/pe/notici...
, p. 1).

As reportagens sobre Edvaldo Valério apresentam superficialmente fatores científicos e sócio-históricos, destituídos de descrições explicativas ou análises sobre estes cenários. É preciso ampliar a discussão de um ponto de vista meramente racial, para uma questão sociocultural.

Estudos internacionais têm alertado para o fato de que padrões de socialização se constituem como as reais barreiras para a participação de negros na natação, como: a ausência de atletas negros como referências de sucesso; ausência ou falta de acesso a infraestrutura; treinamento inadequado, bem como a presença de racismo e discriminação institucionalizados nas organizações esportivas (SAILES, 1991SAILES, Gary. The Myth of Black Sports Supremacy. Journal of Black Studies, v. 21, n. 4, p. 480-487, 1991.). De fato, Hastings, Zahran e Cable (2006HASTINGS, Donald; ZAHRAN, Sammy; CABLE, Sherry. Drowning in inequalities: Swimming and social justice. Journal of Black Studies, v. 36, n. 6, p. 894‐917, Jul. 2006.) identificaram que, nos Estados Unidos, diferenças na participação na natação entre brancos e negros são condicionadas pela exclusão social, que limita o acesso de negros mesmo em locais onde há piscinas e programas ou projetos. Os autores apontam que ser negro diminui as possibilidades de praticar natação em cerca de 60%, mesmo ajustando-se outros fatores como idade, sexo e classe social.

Muitas das reportagens sobre Edvaldo Valério têm relação com seu pós-carreira, considerando-se o recorte temporal da coleta dos dados nesta pesquisa. Carneiro (2012CARNEIRO, Raphael. Lembra dele? Longe das piscinas, Edvaldo Valério tenta fortalecer natação. Globoesporte.com, 07 de Outubro de 2012. Disponível em: http://globoesporte.globo.com/ba/noticia/2012/10/lembra-dele-longe-das-piscinas-edvaldo-valerio-tenta-fortalecer-natacao.html . Acesso em: 10 out. 2018.
http://globoesporte.globo.com/ba/noticia...
, p. 1) publicou no Globoesporte.com:

Lembra dele? Longe das piscinas, Edvaldo Valério tenta fortalecer natação - Primeiro nadador negro brasileiro a ganhar medalha nas Olimpíadas lembra começo da carreira e diz lutar para a melhoria da natação na Bahia [...] baiano foi o primeiro nadador brasileiro negro a participar dos Jogos Olímpicos. E não estava ali para ser um mero coadjuvante. Nem ele, nem o Brasil (CARNEIRO, 2012CARNEIRO, Raphael. Lembra dele? Longe das piscinas, Edvaldo Valério tenta fortalecer natação. Globoesporte.com, 07 de Outubro de 2012. Disponível em: http://globoesporte.globo.com/ba/noticia/2012/10/lembra-dele-longe-das-piscinas-edvaldo-valerio-tenta-fortalecer-natacao.html . Acesso em: 10 out. 2018.
http://globoesporte.globo.com/ba/noticia...
, p. 1).

A codificação do pós-carreira do Edvaldo Valério segue enfatizando a sua trajetória fazendo referência ao “primeiro negro” medalhista olímpico da natação brasileira. Em 2015, palestrando em seminário esportivo, Edvaldo Valério destacou:

Nós negros sabemos a dificuldade que é, de estar inserido nesse esporte que está sendo considerado de elite. Quem acompanha em casa, assistindo pela TV, percebe que na natação só tem atletas brancos. Mas nós conseguimos superar isso e demos a volta por cima (EM PALESTRA..., 2015EM PALESTRA, Edvaldo Valério fala sobre carreira e luta contra preconceito. Globoesporte.com , 26 de dezembro de 2015. Disponível em: http://globoesporte.globo.com/sp/santos-e-regiao/noticia/2015/12/em-palestra-edvaldo-valerio-fala-sobre-carreira-e-luta-contra-preconceito.html . Acesso em: 29 out. 2018.
http://globoesporte.globo.com/sp/santos-...
, p. 1, grifos da autora).

Edvaldo coletivizou, em sua fala, as dificuldades encontradas por ser negro no contexto da prática da natação, o que tem uma conotação identitária. Logo em seguida, aludiu ao elitismo da natação, notoriamente um fator vinculado a questões socioeconômicas que permeiam a perspectiva sobre ser negro (SANTOS, 2006SANTOS, Joel Rufino. O negro como lugar. In: MAIO, Marcos Chor; SANTOS, Ricardo Ventura. Raça, ciência e sociedade. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2006. p. 219-223.).

A codificação sobre Edvaldo, nas reportagens, não parece muito distante do discurso midiático sobre as participações de Etiene Medeiros em competições de natação. Na reportagem de Longo (2017LONGO, Ivan. Negra e Nordestina, Etiene Medeiros faz história ao ser primeira mulher brasileira campeã mundial de natação. Revista Fórum, 27 jul. 2017. Disponível em: https://revistaforum.com.br/negra-e-nordestina-etiene-medeiros-faz-historia-ao-ser-primeira-mulher-brasileira-campea-mundial-de-natacao/ . Acesso em: 30 out. 2018.
https://revistaforum.com.br/negra-e-nord...
), observa-se:

Negra e nordestina, Etiene Medeiros faz história ao ser primeira mulher brasileira campeã mundial de natação [...] Etiene já se acostumou a quebrar tabus, isso porque em 2008 se tornou a primeira brasileira a ir ao pódio em campeonatos mundiais (LONGO, 2017LONGO, Ivan. Negra e Nordestina, Etiene Medeiros faz história ao ser primeira mulher brasileira campeã mundial de natação. Revista Fórum, 27 jul. 2017. Disponível em: https://revistaforum.com.br/negra-e-nordestina-etiene-medeiros-faz-historia-ao-ser-primeira-mulher-brasileira-campea-mundial-de-natacao/ . Acesso em: 30 out. 2018.
https://revistaforum.com.br/negra-e-nord...
, p. 1, grifos da autora).

Embora enfatizando a condição de negra no título da reportagem, o texto não menciona qualquer elemento associado ao título neste sentido. A escolha do título não se materializa em qualquer debate ou fundamentação posterior, sendo um mero dispositivo captador da leitura. A codificação na reportagem contextualiza informações sobrepostas numa “quebra de tabus” à qual só se faz referência com maior abrangência no título: ser mulher brasileira, campeã mundial de natação e negra.

As narrativas sobre Etiene Medeiros, recorrentemente, a situam dentre as poucas atletas mulheres brasileiras que disputam campeonatos mundiais e alcançam desempenho para participar dos Jogos Olímpicos na natação. Conde (2019CONDE, Paulo Roberto. Com apenas duas mulheres no Mundial, Etiene lamenta: "A natação feminina está esquecida". Globoesporte.com, 23 de abril de 2019. Disponível em: https://globoesporte.globo.com/natacao/noticia/com-apenas-duas-mulheres-no-mundial-etiene-lamenta-a-natacao-feminina-esta-esquecida.ghtml . Acesso em: 20 maio 2019.
https://globoesporte.globo.com/natacao/n...
, p. 1), em publicação no Globoesporte.com, anuncia:

Com apenas duas mulheres no Mundial, Etiene lamenta: "A natação feminina está esquecida" [...] - Eu estou muito feliz de estar representando nossa natação feminina, que está tão esquecida. Estou levantando esta bandeira porque eu gostaria. Vou levantá-la nas redes sociais, porque preciso falar sobre isso. Nossa natação feminina está esquecida - enfatizou (CONDE, 2019CONDE, Paulo Roberto. Com apenas duas mulheres no Mundial, Etiene lamenta: "A natação feminina está esquecida". Globoesporte.com, 23 de abril de 2019. Disponível em: https://globoesporte.globo.com/natacao/noticia/com-apenas-duas-mulheres-no-mundial-etiene-lamenta-a-natacao-feminina-esta-esquecida.ghtml . Acesso em: 20 maio 2019.
https://globoesporte.globo.com/natacao/n...
, p. 1).

Essa codificação em torno da mulher no esporte, em particular na natação, demonstra no caso da trajetória de Etiene algumas particularidades quanto ao resultado do estudo de Campos et al. (2009CAMPOS, Rosângela Soares; AMUÍ, Arthur Araújo; NAKAMURA, Ulysses Meiwa; FERREIRA JUNIOR, Almir; PINTO, Fabrício da Silva. Natação e mídia: do esporte ao espetáculo. Vita et Sanitas, v.3, n.1, p. 55-65, 2009. Disponível em:http://fug.edu.br/revista/index.php/VitaetSanitas/article/view/90/73 . Acesso em: 18 jun. 2019.
http://fug.edu.br/revista/index.php/Vita...
). Ao analisar a natação e o espetáculo midiático, aqueles autores apontaram que “a mídia contribui para reforçar estereótipos e enfatiza a história dos campeões, deixando à margem questões como a participação da mulher, do negro e das classes menos privilegiadas na natação” (CAMPOS et al., 2009CAMPOS, Rosângela Soares; AMUÍ, Arthur Araújo; NAKAMURA, Ulysses Meiwa; FERREIRA JUNIOR, Almir; PINTO, Fabrício da Silva. Natação e mídia: do esporte ao espetáculo. Vita et Sanitas, v.3, n.1, p. 55-65, 2009. Disponível em:http://fug.edu.br/revista/index.php/VitaetSanitas/article/view/90/73 . Acesso em: 18 jun. 2019.
http://fug.edu.br/revista/index.php/Vita...
, p. 64). De fato, Etiene é apresentada quanto às medalhas conquistadas em mundiais, portanto, enfatizando uma trajetória de conquista. Entretanto, em várias reportagens, alude-se ao contexto da natação para mulheres em sua participação, de forma geral, como no Globoesporte.com:

Pioneira. Esse talvez seja o melhor termo para definir Etiene Medeiros. Nesta quinta-feira, ela foi campeã dos 50m costas do Campeonato Mundial de esportes aquáticos, que está sendo disputado em Budapeste, na Hungria. É a primeira mulher brasileira a atingir tal feito (COSTA, 2017COSTA, Guilherme. Eterna em um centésimo: Etiene bate chinesa e vira 1ª campeã mundial do país. Globoesporte.com , 27 de Julho de 2017. Disponível em: https://globoesporte.globo.com/natacao/noticia/etiene-da-o-troco-em-chinesa-leva-ouro-e-se-torna-a-primeira-campea-mundial-do-pais.ghtml . Acesso em: 30 de maio 2019.
https://globoesporte.globo.com/natacao/n...
, p. 1).

A contemporaneidade da trajetória de Etiene Medeiros no recorte temporal desta análise corresponde ao fato de que se encontram muito mais reportagens sobre seus resultados, preparação, treinamento, recuperação de lesões, etc. Para além disso, recorrentemente, observa-se a codificação midiática desta trajetória de Etiene no contexto dos resultados femininos na natação, como observa-se a seguir:

Dizer que Etiene Medeiros é o principal nome da natação feminina brasileira na atualidade não é novidade para ninguém. A nadadora pernambucana, porém, tem se reinventado. Única mulher brasileira campeã mundial - feito este alcançado em 2017, nos 50m costas -, Etiene tem se destacado em outras provas que não a que ficou nacionalmente conhecida (PORTO, 2019PORTO, Sarah. Sucesso no Maria Lenk respalda trabalho de Etiene Medeiros e garante vaga em Mundial e Pan. Globoesporte.com , 22 de abril de 2019. Disponível em: https://globoesporte.globo.com/pe/noticia/sucesso-no-maria-lenk-respalda-trabalho-de-etiene-medeiros-e-garante-vaga-em-mundial-e-pan.ghtml . Acesso em: 18 maio 2019.
https://globoesporte.globo.com/pe/notici...
, p. 1).

Em ambos os casos (Etiene e Edvaldo) fica evidente que a popularização do esporte, o acesso de crianças e jovens à natação de maneira democrática e igualitária não é sequer secundarizado nos discursos midiáticos. Esse é um silêncio captado a partir da análise do discurso das reportagens, notícias e matérias. Os discursos, em geral, se constroem e se encerram na codificação destes campeões como vencedores de tabus quanto à questão étnico-racial, sem fundamentação consistente, diversa ou aprofundada. Embora se pontuem as questões étnico-raciais e não se oblitere a discussão de gênero no caso de Etiene do ponto de vista midiático, as codificações aqui analisadas não demonstram aprofundamento em nenhuma destas discussões.

5 CONCLUSÕES

Embora não se tenha utilizado o termo “negro” ou “negra” em nenhum filtro de busca por reportagens sobre os atletas Edvaldo Valério e Etiene Medeiros, os feitos esportivos destes atletas, no discurso midiático, aparecem envoltos a estes termos com recorrência, sobretudo, como característica que representa uma barreira para o sucesso da natação. Tal barreira, por vezes, aparece circunscrita em menção à ciência, sem qualquer clareza das fontes e de quais questões científicas especificamente estão sendo referidas.

Discursos científicos sobre o fenômeno esportivo produziram, historicamente, naturalizações de habilidades corporais que estigmatizaram o negro em modalidades como a natação, como as pesquisas de Allen e Nickel (1969ALLEN, Richard; NICKEL, David. The Negro and learning to swim: The buoyancy problem related to reported biological differences. The Journal of Negro Education, v. 38, n. 4, p. 404-411, 1969.) e Bejan, Jones e Charles (2010BEJAN, Adrian; JONES, Edward; CHARLES, Jordan. The evolution of speed in athletics: why the fastest runners are black and swimmers white. International Journal of Design & Nature and Ecodynamics, v. 5, n. 3, p. 199-211, 2010.).

Em geral, as reportagens sobre Edvaldo Valério e Etiene Medeiros apropriam-se superficialmente e acriticamente de tradições científicas de bases biológicas que naturalizam a ausência de negros no cenário competitivo da natação mundial. Ao enfatizarem a presença dos atletas como negros, emolduram campeões e medalhistas em um cenário de estranhamento (“quebra de tabus”), sem debater com profundidade questões sócio-históricas que levam à ausência de atletas negros em posição de destaque neste esporte.

É preciso, portanto, debater as implicações de uma tradição científica que naturaliza a relação entre o(a) negro(a) e o esporte, colocando em questão reflexões históricas e socioantropológicas, sobretudo, a partir da produção de diálogos no cenário científico que ampliem a análise para além do debate biologicista.

Na literatura brasileira, por exemplo, se encontram vestígios de cenários que carecem de estudos e debates. Ao analisar o Movimento Negro Unificado do Brasil, Pereira (2011PEREIRA, João Baptista Borges. Diversidade e pluralidade: o negro na sociedade brasileira. Revista USP, n. 89, maio 2011. Disponível em: http://rusp.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010399892011000200019&lng=es&nrm=iso . Acesso em: 16 jun. 2019.
http://rusp.scielo.br/scielo.php?script=...
) destacou os protestos que ensejaram o movimento e, dentre eles, a noite do dia 7 de julho de 1978, em que um grupo de jovens negros protestou na escadaria do Teatro Municipal de São Paulo contra atos discriminatórios, inclusive a proibição de adolescentes negros de praticarem natação em um clube da cidade.

Os sucessos de atletas como Alia, Edvaldo, Simone, Etiene e outros levantam o debate para além de pressupostos determinismos biológicos. A questão é mais ampla e ultrapassa o esporte de rendimento, pois, envolve barreiras sociais para experiência com práticas corporais diversificadas, da cultura corporal como direito social, e a necessidade de garantias de políticas sociais e institucionais que tornem possível o acesso às modalidades esportivas, indiscriminadamente. Decerto, isso perpassa todas as expressões do esporte, em consonância com iniciativas em outras esferas sociais, que consigam materializar avanços como a Lei 10639/03, que instituiu a obrigatoriedade de contemplar as questões étnico-raciais no currículo escolar (BINS; MOLINA NETO, 2017BINS, Gabriela Nobre; MOLINA NETO, Vicente. Mojuodara: uma possibilidade de trabalho com as questões étnico-raciais na educação física. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 39, n. 3, p. 247-253, 2017. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-32892017000300247&lng=en&nrm=iso . Acesso em: 25 ago. 2018.
http://www.scielo.br/scielo.php?script=s...
).

Embora o esporte de rendimento, em sua sistematização, culmine em um processo seletivo e, portanto, excludente em vários sentidos, faz-se necessário formular políticas de acesso ao aprendizado e prática da natação como um passo primordial. A democratização do acesso pode colaborar para a popularização da prática e, consequentemente, para a possibilidade desse universo se tornar mais plural quanto à oportunidade da profissionalização como atleta. Como citado neste trabalho, foi um projeto social que despertou o interesse, instrumentalizou tecnicamente o aprendizado e impulsionou os anseios de perseguir a carreira de atleta de natação no caso de Edvaldo Valério (CARNEIRO, 2015CARNEIRO, Raphael. Edvaldo Valério: a braçada da esperança. Rio de Janeiro: Via Escrita, 2015.).

Operacionalmente a democratização do acesso à prática da natação deve abranger um conjunto de ações, que precisam ser coordenadas em várias esferas. Dentre elas, está o investimento em infraestrutura, desde a ampliação do número de piscinas públicas até parcerias público-privadas para o fomento do aprendizado e prática da natação para classes socioeconômicas desprivilegiadas, das quais a maioria dos cidadãos negros faz parte, conforme se demonstra na literatura (PEREIRA, 2011PEREIRA, João Baptista Borges. Diversidade e pluralidade: o negro na sociedade brasileira. Revista USP, n. 89, maio 2011. Disponível em: http://rusp.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010399892011000200019&lng=es&nrm=iso . Acesso em: 16 jun. 2019.
http://rusp.scielo.br/scielo.php?script=...
). Para tal, é preciso conceber e aprimorar projetos de iniciação e formação esportiva da natação em perspectiva inclusiva, com o envolvimento das organizações esportivas competentes nos mais diversos níveis. É importante salientar que os projetos não devem ser esporádicos ou ocasionais, como notou Meira (2011MEIRA, Tatiana de Barros. Programas de desenvolvimento da natação de alto rendimento do Estado de São Paulo. 2011. 157 f. Dissertação (Mestrado em Educação Física) - Escola de Educação Física e Esportes, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011.) ao analisar a estrutura organizacional da natação quanto a ações e políticas esportivas para o rendimento.

Ademais, no âmbito do esporte de rendimento, é preciso uma mobilização das organizações e entidades esportivas para o combate ao racismo estrutural, de forma que isso seja refletido em ações estratégicas para desconstruir estigmatizações relacionadas a questões étnico-raciais e performance esportiva que circulam no imaginário social. Isso perpassa, inexoravelmente, a qualificação do debate dos profissionais que atuam no âmbito das organizações esportivas e do treinamento esportivo, amparada em estudos aprofundados da produção científica.

Decerto, mais estudos precisam ser realizados para diagnosticar e desconstruir discursos sociais (inclusive os midiáticos e científicos), que posicionam atletas negros como estranhos no espaço da natação. Outras pesquisas devem incluir apropriações teórico-metodológicas para o fortalecimento da discussão étnico-racial na Educação Física e nos esportes, não apenas no esporte de rendimento, mas, em suas várias expressões.

Por fim, os discursos científico e midiático, em constante análise, reflexividade e melhor articulação podem contribuir para desconstruir estes estigmas, a partir de discussões mais amplas para a compreensão de uma realidade social complexa e dinâmica, sobretudo, a partir da problematização de trajetórias de atletas profissionais que, ao tornarem-se referências de sucesso em seus esportes, colaboram para a problematização, o questionamento e a desconstrução de naturalizações de habilidades esportivas.

REFERÊNCIAS

  • ABRAHÃO, Bruno Otávio de Lacerda; PAOLI, Próspero Brum; SOARES, Antonio Jorge. Identidades "raciais" e identidades nacionais: as representações do corpo negro na construção do "estilo brasileiro de jogar futebol”. Movimento, v. 17, n. 2, p. 195-210, jun. 2011. Disponível em: http://seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/19345 Acesso em: 24 ago. 2018.
    » http://seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/19345
  • ABRAHÃO, Bruno Otávio de Lacerda; SOARES, Antonio Jorge Gonçalves. O elogio ao negro no espaço do futebol: entre a integração pós-escravidão e a manutenção das hierarquias sociais. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 30, n. 2, p. 9-23, abr./jun. 2009. Disponível em: http://revista.cbce.org.br/index.php/RBCE/article/view/433/349 Acesso em: 24 maio 2018.
    » http://revista.cbce.org.br/index.php/RBCE/article/view/433/349
  • ABRAHÃO, Bruno Otávio de Lacerda; SOARES, Antonio Jorge Gonçalves. O corpo negro e os preconceitos impregnados na cultura: uma análise dos estereótipos raciais presentes na sociedade brasileira a partir do futebol. Movimento , v.17, n.4, p. 265-280, 2011. Disponível em: http://seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/20590 Acesso em: 24 ago. 2018.
    » http://seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/20590
  • ALLEN, Richard; NICKEL, David. The Negro and learning to swim: The buoyancy problem related to reported biological differences. The Journal of Negro Education, v. 38, n. 4, p. 404-411, 1969.
  • BEJAN, Adrian; JONES, Edward; CHARLES, Jordan. The evolution of speed in athletics: why the fastest runners are black and swimmers white. International Journal of Design & Nature and Ecodynamics, v. 5, n. 3, p. 199-211, 2010.
  • BINS, Gabriela Nobre; MOLINA NETO, Vicente. Mojuodara: uma possibilidade de trabalho com as questões étnico-raciais na educação física. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 39, n. 3, p. 247-253, 2017. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-32892017000300247&lng=en&nrm=iso Acesso em: 25 ago. 2018.
    » http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-32892017000300247&lng=en&nrm=iso
  • BIRREL, Susan. Racial Relations Theory in Sports: Suggestions for a more critical analysis. Sociology of Sports Journal, v. 6, p. 212-227, 1989.
  • CAMPOS, Rosângela Soares; AMUÍ, Arthur Araújo; NAKAMURA, Ulysses Meiwa; FERREIRA JUNIOR, Almir; PINTO, Fabrício da Silva. Natação e mídia: do esporte ao espetáculo. Vita et Sanitas, v.3, n.1, p. 55-65, 2009. Disponível em:http://fug.edu.br/revista/index.php/VitaetSanitas/article/view/90/73 Acesso em: 18 jun. 2019.
    » http://fug.edu.br/revista/index.php/VitaetSanitas/article/view/90/73
  • CARNEIRO, Raphael. Edvaldo Valério: a braçada da esperança. Rio de Janeiro: Via Escrita, 2015.
  • CARNEIRO, Raphael. Lembra dele? Longe das piscinas, Edvaldo Valério tenta fortalecer natação. Globoesporte.com, 07 de Outubro de 2012. Disponível em: http://globoesporte.globo.com/ba/noticia/2012/10/lembra-dele-longe-das-piscinas-edvaldo-valerio-tenta-fortalecer-natacao.html Acesso em: 10 out. 2018.
    » http://globoesporte.globo.com/ba/noticia/2012/10/lembra-dele-longe-das-piscinas-edvaldo-valerio-tenta-fortalecer-natacao.html
  • CAVALCANTI, Sabbahana. No Recife, Etiene Medeiros destaca participação da mulher e incentiva ações esportivas. MG Superesportes, 21 de Agosto de 2017. Disponível em: https://www.mg.superesportes.com.br/app/noticias/ultimas-noticias/1,1208,18,64/2017/08/21/noticia_maisesportes,49112/etiene-medeiros-incentiva-projetos-esportivos-no-recife-e-destaca-part.shtml Acesso em: 12 out. 2019.
    » https://www.mg.superesportes.com.br/app/noticias/ultimas-noticias/1,1208,18,64/2017/08/21/noticia_maisesportes,49112/etiene-medeiros-incentiva-projetos-esportivos-no-recife-e-destaca-part.shtml
  • CONDE, Paulo Roberto. Com apenas duas mulheres no Mundial, Etiene lamenta: "A natação feminina está esquecida". Globoesporte.com, 23 de abril de 2019. Disponível em: https://globoesporte.globo.com/natacao/noticia/com-apenas-duas-mulheres-no-mundial-etiene-lamenta-a-natacao-feminina-esta-esquecida.ghtml Acesso em: 20 maio 2019.
    » https://globoesporte.globo.com/natacao/noticia/com-apenas-duas-mulheres-no-mundial-etiene-lamenta-a-natacao-feminina-esta-esquecida.ghtml
  • COSTA, Guilherme. Eterna em um centésimo: Etiene bate chinesa e vira 1ª campeã mundial do país. Globoesporte.com , 27 de Julho de 2017. Disponível em: https://globoesporte.globo.com/natacao/noticia/etiene-da-o-troco-em-chinesa-leva-ouro-e-se-torna-a-primeira-campea-mundial-do-pais.ghtml Acesso em: 30 de maio 2019.
    » https://globoesporte.globo.com/natacao/noticia/etiene-da-o-troco-em-chinesa-leva-ouro-e-se-torna-a-primeira-campea-mundial-do-pais.ghtml
  • DANTAS, Pedro. Brasil coloca 1º negro na elite olímpica. Globoesporte.com , 09 de junho de 2000. Disponível em: https://globoesporte.globo.com/pe/noticia/sucesso-no-maria-lenk-respalda-trabalho-de-etiene-medeiros-e-garante-vaga-em-mundial-e-pan.ghtml Acesso em: 30 de maio 2018.
    » https://globoesporte.globo.com/pe/noticia/sucesso-no-maria-lenk-respalda-trabalho-de-etiene-medeiros-e-garante-vaga-em-mundial-e-pan.ghtml
  • DEVIDE, Fabiano Pries. O discurso de proprietários de academias sobre a prática da natação como atividade de lazer: inclusão ou elitização social? Movimento , v. 6, n.12, p. 26-36, 2000. Disponível em: https://pdfs.semanticscholar.org/80f4/5dc2e86f6df0f2de634357382718585cb091.pdf Acesso em: 10 abr. 2020.
    » https://pdfs.semanticscholar.org/80f4/5dc2e86f6df0f2de634357382718585cb091.pdf
  • ELIAS, Norbert; DUNNING, Eric. A busca da excitação. Lisboa: Memória e Sociedade, 1992.
  • EM PALESTRA, Edvaldo Valério fala sobre carreira e luta contra preconceito. Globoesporte.com , 26 de dezembro de 2015. Disponível em: http://globoesporte.globo.com/sp/santos-e-regiao/noticia/2015/12/em-palestra-edvaldo-valerio-fala-sobre-carreira-e-luta-contra-preconceito.html Acesso em: 29 out. 2018.
    » http://globoesporte.globo.com/sp/santos-e-regiao/noticia/2015/12/em-palestra-edvaldo-valerio-fala-sobre-carreira-e-luta-contra-preconceito.html
  • GILL, Rosalind. Análise de discurso. In: BAUER, Martin; GASKELL, George. Pesquisa Qualitativa com texto, imagem e som. Rio de Janeiro: Vozes, 2002. p. 244-270.
  • GOELLNER, Silvana Vilodre; VOTRE, Sebastiao Josué; MOURÃO, Ludmila; FIGUEIRA, Márcia Luiza Machado. Gênero e Raça: inclusão no esporte e lazer. Porto Alegre: Ministério do Esporte/Gráfica da UFRGS, 2009.
  • HALL, Stuart. Codificação/Decodificação. In: HALL, Stuart. Da diáspora: identidade e mediações culturais. Belo Horizonte: Editora Universidade Federal de Minas Gerais, 2003. p. 387-404.
  • HASTINGS, Donald; ZAHRAN, Sammy; CABLE, Sherry. Drowning in inequalities: Swimming and social justice. Journal of Black Studies, v. 36, n. 6, p. 894‐917, Jul. 2006.
  • LIMA, Maria Batista. Identidade étnico-racial no Brasil: uma reflexão teórico-metodológica. Revista Fórum Identidades, v.3, n.2, p. 33-46, dez. 2008. Disponível em: https://seer.ufs.br/index.php/forumidentidades/article/view/1742/1533 Acesso em: 04 jul. 2019.
    » https://seer.ufs.br/index.php/forumidentidades/article/view/1742/1533
  • LONGO, Ivan. Negra e Nordestina, Etiene Medeiros faz história ao ser primeira mulher brasileira campeã mundial de natação. Revista Fórum, 27 jul. 2017. Disponível em: https://revistaforum.com.br/negra-e-nordestina-etiene-medeiros-faz-historia-ao-ser-primeira-mulher-brasileira-campea-mundial-de-natacao/ Acesso em: 30 out. 2018.
    » https://revistaforum.com.br/negra-e-nordestina-etiene-medeiros-faz-historia-ao-ser-primeira-mulher-brasileira-campea-mundial-de-natacao/
  • LOUIS, Brett Saint. Sport, Genetics and the ‘Natural Athlete’: The Resurgence of Racial Science. Body & Society, v.9, n.2, p. 75-95, 2003.
  • MARQUES, Fabrício; GISMONDI, Lydia. Primeira negra campeã mundial, jamaicana quer repetir feito em Kazan. Globoesporte.com , 03 de agosto de 2015. Disponível em: http://globoesporte.globo.com/natacao/noticia/2015/08/primeira-negra-campea-mundial-jamaicana-quer-repetir-feito-em-kazan.html Acesso em: 08 out. 2018.
    » http://globoesporte.globo.com/natacao/noticia/2015/08/primeira-negra-campea-mundial-jamaicana-quer-repetir-feito-em-kazan.html
  • MARQUES, Fabrício; GISMONDI, Lydia; CARNEIRO, Raphael. Com recorde e empate, americana se torna primeira negra campeã olímpica. Globoesporte.com , 12 de agosto de 2016. Disponível em: http://globoesporte.globo.com/olimpiadas/natacao/noticia/2016/08/com-recorde-e-empate-americana-se-torna-primeira-negra-campea-olimpica.html Acesso em: 30 nov. 2018.
    » http://globoesporte.globo.com/olimpiadas/natacao/noticia/2016/08/com-recorde-e-empate-americana-se-torna-primeira-negra-campea-olimpica.html
  • MCCLURE, John. Two views of Black and White swimmers. Integrated Education, v. 10, n. 3, p. 40-43, 1972.
  • MEIRA, Tatiana de Barros. Programas de desenvolvimento da natação de alto rendimento do Estado de São Paulo. 2011. 157 f. Dissertação (Mestrado em Educação Física) - Escola de Educação Física e Esportes, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011.
  • MELO, Victor Andrade de; RESENDE, Fabiana; PALMA, Alexandre; ASSIS, Monique. “A carne mais barata do mercado é a carne negra”: uma reflexão sobre o "design" das camisas da Puma na Copa do Mundo de Futebol/2010. Revista Brasileira de Educação Física e Esportes, v. 25, n. 2, p. 313-322, Jun. 2011. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1807-55092011000200012&lng=en&nrm=iso Acesso em: 25 ago. 2018.
    » http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1807-55092011000200012&lng=en&nrm=iso
  • MIGLIORATI, Mascia; ARANDA, Antonio Fraile; GONZÁLES, Rufino Cano. Os estereótipos étnicos nos profissionais do esporte. Movimento , v. 22, n.3, p. 767-782, ago. 2016. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/59453 Acesso em: 12 abr. 2020.
    » https://seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/59453
  • MWEWA, Christian Muleka. Inconformação, conformação e formação do corpo no jogo da capoeira: pistas para pensar o processo educativo. Movimento , v.17, n.3, p. 215-232, ago. 2011. Disponível em: http://seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/16915 Acesso em: 24 ago. 2018.
    » http://seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/16915
  • PEREIRA, João Baptista Borges. Diversidade e pluralidade: o negro na sociedade brasileira. Revista USP, n. 89, maio 2011. Disponível em: http://rusp.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010399892011000200019&lng=es&nrm=iso Acesso em: 16 jun. 2019.
    » http://rusp.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010399892011000200019&lng=es&nrm=iso
  • POR QUE a 1ª medalha de ouro de uma nadadora negra é importante? BBC News, 12 de agosto de 2016. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/geral-37064215 Acesso em: 14 out. 2018.
    » https://www.bbc.com/portuguese/geral-37064215
  • PORTO, Sarah. Sucesso no Maria Lenk respalda trabalho de Etiene Medeiros e garante vaga em Mundial e Pan. Globoesporte.com , 22 de abril de 2019. Disponível em: https://globoesporte.globo.com/pe/noticia/sucesso-no-maria-lenk-respalda-trabalho-de-etiene-medeiros-e-garante-vaga-em-mundial-e-pan.ghtml Acesso em: 18 maio 2019.
    » https://globoesporte.globo.com/pe/noticia/sucesso-no-maria-lenk-respalda-trabalho-de-etiene-medeiros-e-garante-vaga-em-mundial-e-pan.ghtml
  • PRIMEIRO negro medalhista olímpico da natação do Brasil ganha biografia. Globoesporte.com , 28 de Abril de 2015. Disponível em: http://globoesporte.globo.com/natacao/noticia/2015/04/primeiro-negro-medalhista-olimpico-da-natacao-do-brasil-ganha-biografia.html Acesso em: 12 out. 2018.
    » http://globoesporte.globo.com/natacao/noticia/2015/04/primeiro-negro-medalhista-olimpico-da-natacao-do-brasil-ganha-biografia.html
  • SAILES, Gary. The Myth of Black Sports Supremacy. Journal of Black Studies, v. 21, n. 4, p. 480-487, 1991.
  • SANTOS, Joel Rufino. O negro como lugar. In: MAIO, Marcos Chor; SANTOS, Ricardo Ventura. Raça, ciência e sociedade. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2006. p. 219-223.
  • SANTOS, Natasha; CAPRARO, André Mendes; LISE, Riqueldi Straub. Racismo e a derrota que não foi esquecida: uma análise dos discursos de Mário Filho na obra “O negro no futebol brasileiro” e da imprensa escrita acerca da final da copa do mundo de 1950. Movimento , v. 16, n. 4, p. 191-208, nov. 2010. Disponível em: http://seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/15923 Acesso em: 24 ago. 2018.
    » http://seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/15923
  • SIMÕES, Rosa Maria Araújo. Capoeira e escravidão: movimento de resistência versus submissão. Movimento , v. 6, n. 13, p. 26-31, dez. 2000. Disponível em: http://seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/11779 Acesso em: 24 ago. 2018.
    » http://seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/11779
  • STAUDT, Jéferson Luis; SILVA, André Luiz dos Santos; MAGALHÃES, Magna Lima. Aptos aos Trabalhos Braçais, Suscetíveis aos Vícios Morais: Representações do Homem Negro na Revista Educação Physica (1939-1944). Movimento , v. 24, n.2, p. 483-494, jun. 2018. Disponível em: http://seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/73848/48572 Acesso em: 24 ago. 2018.
    » http://seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/73848/48572
  • VIDOR, Elisabeth; REIS, Letícia Vidor de Sousa. Capoeira: uma herança cultural afro-brasileira. São Paulo: Selo Negro, 2013.
  • 1
    O uso do termo negro ou negra, ao longo deste estudo, tem como perspectiva configurações dinâmicas quanto a características fenotípicas, sociais, históricas, políticas, culturais e identitárias, que se relacionam com as subjetividades dos sujeitos. Nesse sentido, perspectiva-se o “negro como lugar”, conforme pontuado por Santos (2006SANTOS, Joel Rufino. O negro como lugar. In: MAIO, Marcos Chor; SANTOS, Ricardo Ventura. Raça, ciência e sociedade. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2006. p. 219-223., p. 219).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    01 Abr 2022
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    09 Jul 2019
  • Aceito
    13 Maio 2020
Universidade Federal do Rio Grande do Sul Rua Felizardo, 750 Jardim Botânico, CEP: 90690-200, RS - Porto Alegre, (51) 3308 5814 - Porto Alegre - RS - Brazil
E-mail: movimento@ufrgs.br