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A RELAÇÃO ENTRE SAÚDE E EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: UMA REVISÃO INTEGRATIVA

THE RELATIONSHIP BETWEEN HEALTH AND SCHOOL PHYSICAL EDUCATION: AN INTEGRATIVE REVIEW

LA RELACIÓN ENTRE SALUD Y EDUCACIÓN FÍSICA ESCOLAR: UNA REVISIÓN INTEGRADORA

Resumo

Este estudo objetivou analisar a produção científica sobre as relações entre Educação Física Escolar e saúde, publicada em periódicos científicos das áreas de Educação e Educação Física. Foi realizada uma revisão integrativa em periódicos indexados no sistema WebQualis, sendo identificadas 41 produções. O foco dos estudos está na escolha dos temas a serem aprendidos nas aulas. Diferentes temas têm sido propostos, com predomínio de conhecimentos sobre as implicações biológicas do exercício físico, mesmo em estudos que adotam a perspectiva da promoção da saúde, evidenciando a polissemia do termo. Constata-se a prioridade na análise sobre concepções de saúde, sendo negligenciado o debate sobre a concepção de escola que fundamenta a relação entre saúde e Educação Física Escolar. Identifica-se, portanto, a necessidade de ampliar o debate sobre o tema, buscando apoio no referencial da saúde coletiva e aproximando do contexto escolar, com o protagonismo de professores e professoras na produção de conhecimento.

Palavras chave:
Educação Física; Promoção da Saúde; Saúde Coletiva; Ensino Fundamental e Médio

Abstract

This study analyzes scientific production on school Physical Education and health published in journals in the areas of Education and Physical Education. An integrative review was conducted on journals indexed on the WebQualis system and 41 articles were found. They focused on selection of subjects to be learned. Various topics were proposed, with a predominance of knowledge about the biological implications of physical exercise, even in studies that adopt the health promotion perspective, which shows the polysemy of the term. Health concepts are often discussed but not the school perspective underlying the relationship between health and Physical Education at school. Therefore, the debate on the topic has to be broadened, seeking support in the collective health framework and approaching the school context with teachers’ active participation in knowledge production.

Keywords:
Physical Education; Health Promotion; Public Health; Education, primary and secondary

Resumen

Este estudio tuvo como objetivo analizar la producción científica sobre las relaciones entre Educación Física Escolar y salud que ha sido publicada en revistas científicas de las áreas de Educación y Educación Física. Realizamos una revisión integradora de revistas indexadas en el sistema WebQualis en la que se identificaron 41 producciones. El foco de los estudios está en la selección de los temas que se aprenderán en las clases. Se han propuesto diferentes temas, con destaque para los conocimientos sobre las implicaciones biológicas del ejercicio físico, incluso en estudios que adoptan la perspectiva de la promoción de la salud, evidenciando la polisemia del término. Se constata la prioridad en el análisis de las concepciones de salud y se da poca atención al debate sobre el concepto de escuela que fundamenta la relación entre salud y Educación Física Escolar. Se identifica, por lo tanto, la necesidad de ampliar el debate sobre el tema, buscando apoyo en los marcos de la salud colectiva y acercándose al contexto escolar, con el protagonismo de profesores e profesoras en la producción de conocimiento.

Palabras clave:
Educación Física; Promoción de la Salud; Salud Colectiva; Educación Primaria y Secundaria

1 INTRODUÇÃO

Desde sua inclusão nas escolas brasileiras tem se atribuído à Educação Física (EF) a responsabilidade por contribuir para a melhoria da saúde dos(as) estudantes. De lá para cá, diferentes formas de compreender a Educação Física Escolar (EFE) e a saúde têm sido elaboradas (BRACHT, 1999BRACHT, Valter. A constituição das teorias pedagógicas da educação física. Cadernos Cedes, v.10, n. 48, p. 69-88, 1999. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/ccedes/v19n48/v1948a05.pdf. Acesso em: 12 abr. 2019.
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; PALMA; ESTEVÃO; BAGRICHEVSKY, 2003PALMA, Alexandre; ESTEVÃO Adriana; BAGRICHEVSKY Marcos. Considerações teóricas acerca das questões relacionadas à promoção da saúde. In: BAGRICHEVSKY, Marcos; PALMA, Alexandre; ESTEVÃO, Adriana. A Saúde em debate na educação física. Blumenau, Edibes, 2003. p.15-32.), estimulando olhares diversos sobre como as relações entre elas são estabelecidas. Atualmente, esses diferentes olhares convivem na escola e na academia.

A perspectiva higienista que influenciou a origem e esteve presente em diferentes momentos da constituição histórica da EF no Brasil (GUIRALDELLI JUNIOR, 1991; BRACHT, 1999BRACHT, Valter. A constituição das teorias pedagógicas da educação física. Cadernos Cedes, v.10, n. 48, p. 69-88, 1999. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/ccedes/v19n48/v1948a05.pdf. Acesso em: 12 abr. 2019.
https://www.scielo.br/pdf/ccedes/v19n48/...
) ainda hoje deixa marcas. Ela se evidencia, por exemplo, na concepção da aptidão física relacionada à saúde, na qual a dimensão biológica é priorizada e se atribui à EFE a tarefa de ampliar o tempo de atividade física e desenvolver a aptidão física dos(as) estudantes, além de transmitir conhecimentos sobre o exercício físico (DEVIDE, 2002DEVIDE, Fabiano Pries. Educação Física, Qualidade de Vida e Saúde: campos de intersecção e reflexões sobre a intervenção. Movimento, v. 8, n. 2, p. 77-84, 2002. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/2644. Acesso em: 25 mar. 2019.
https://seer.ufrgs.br/Movimento/article/...
; OLIVEIRA, 2019OLIVEIRA, Victor José Machado. O tema da saúde na educação física escolar em três periódicos da educação física brasileira. Conexões, v. 17, e019015, p. 1-17, 2019. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/conexoes/article/view/8654678/21028. Acesso em: 15 jan. 2020.
https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/in...
).

Uma perspectiva diferente ganhou força a partir da década de 1970, reconhecendo que, além da dimensão biológica, a saúde também é determinada por fatores sociais, políticos e ambientais, como explicam Lopes e Tocantins (2012LOPES, Rosane; TOCANTINS, Florence Romijn. Promoção da saúde e a educação crítica. Interface, v. 16, n. 40, p. 235-248, 2012. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-32832012000100018&lng=en&nrm=iso . Acesso em: 3 mar. 2020.
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). As autoras evidenciam como esta concepção de saúde origina o ideário da promoção da saúde, com a divulgação da Carta de Ottawa em 1986. Nessa perspectiva, a promoção da saúde só pode se efetivar a partir de uma série de ações individuais e coletivas, entre elas a educação em saúde, na qual a EFE pode desempenhar papel importante.

Embora esta concepção de saúde venha inspirando pesquisas e práticas pedagógicas na área há algumas décadas e tenha contribuído para ampliar o olhar sobre a relação entre EFE e saúde (DEVIDE, 2002DEVIDE, Fabiano Pries. Educação Física, Qualidade de Vida e Saúde: campos de intersecção e reflexões sobre a intervenção. Movimento, v. 8, n. 2, p. 77-84, 2002. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/2644. Acesso em: 25 mar. 2019.
https://seer.ufrgs.br/Movimento/article/...
; KNUTH; LOCH, 2014KNUTH, Alan; LOCH, Mathias. “Saúde é o que interessa, o resto não tem pressa?”: um ensaio sobre educação física e saúde na escola. Revista Brasileira de Atividade Física e Saúde, v.19, n. 4, p. 429-440, jul. 2014. Disponível em: https://rbafs.org.br/RBAFS/article/view/3095/pdf194. Acesso em: 15 jan. 2020.
https://rbafs.org.br/RBAFS/article/view/...
), o termo promoção da saúde tem sido utilizado de forma polissêmica por profissionais e pesquisadores, sendo frequentemente incorporado ao “biodiscurso” (PALMA, 2020PALMA, Alexandre. Tensões e possibilidades nas interações entre Educação Física, saúde e sociedade. In: WACHS, Felipe; LARA, Larissa; ATHAYDE, Pedro (org.). Atividade física e saúde. Natal: EDUFRN, 2020. p. 15-27. Disponível em: http://www.cbce.org.br/colecao-40anos.php. Acesso em: 15 out. 2020.
http://www.cbce.org.br/colecao-40anos.ph...
) que ainda defende uma relação de causa e efeito entre exercício físico e saúde. É importante destacar, contudo, que esta forma de apropriação da promoção da saúde não é exclusividade da Educação Física. Silva e Baptista (2015SILVA, Patrícia Ferrás Araújo; BAPTISTA, Tatiana Wargas de Faria. A Política Nacional de Promoção da Saúde: texto e contexto de uma política. Saúde em debate, v. 39, n. esp., p. 91-104, 2015. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-11042015000500091&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 15 out. 2020.
http://www.scielo.br/scielo.php?script=s...
), assim como Reis, Silva e Wong-Un (2014REIS, Inês Nascimento de Carvalho; SILVA, Ilda Lopes Rodrigues; WONG-UN, Julio Alberto. Espaço público na Atenção Básica de Saúde: Educação Popular e promoção da saúde nos Centros de Saúde-Escola do Brasil. Interface: comunicacão, saúde, educação, v. 18, supl. 2, p. 1161-1173, 2014. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/icse/v18s2/1807-5762-icse-18-s2-1161.pdf. Acesso em: 15 out. 2020.
https://www.scielo.br/pdf/icse/v18s2/180...
), afirmam que esta imprecisão do termo tem sido apontada e criticada por vários autores.

Assim, em que pesem as transformações perceptíveis na concepção de saúde adotada por muitos pesquisadores da área, “ainda precisamos reiterar frequentemente o conceito ampliado de saúde” (WACHS, 2020WACHS, Felipe. Ciências do Esporte, Educação Física e produção do conhecimento em 40 anos de CBCE: atividade física e saúde. In: WACHS, Felipe; LARA, Larissa; ATHAYDE, Pedro (org.). Atividade física e saúde. Natal: EDUFRN, 2020. p. 15-27. Disponível em: http://www.cbce.org.br/colecao-40anos.php. Acesso em: 15 out. 2020.
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, p. 9). Nessa perspectiva, uma aproximação entre a EF e a saúde coletiva é importante, como defenderam Bagrichevsky, Estevão e Palma (2006BAGRICHEVSKY, Marcos; ESTEVÃO, Adriana; PALMA, Alexandre. Saúde Coletiva e Educação Física: aproximando campos, garimpando sentidos. In: BAGRICHEVSKY, Marcos; PALMA, Alexandre; ESTEVÃO, Adriana. (orgs). A saúde em debate na Educação Física. Blumenau: Nova Letra, 2006. v. 2). Nogueira e Bosi (2017NOGUEIRA, Júlia Aparecida Devidé; BOSI, Maria Lúcia Magalhães. Saúde Coletiva e Educação Física: distanciamentos e interfaces. Ciência e saúde coletiva, v. 22, n. 6, p.1913-1922, 2017. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/csc/v22n6/1413-8123-csc-22-06-1913.pdf. Acesso em: 15 out. 2020.
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) analisam a forma como essa aproximação vem sendo estabelecida entre os dois campos, estimulando na EF um olhar para as múltiplas dimensões que se manifestam na relação entre exercício físico e saúde.

A saúde coletiva é entendida como um campo do conhecimento de caráter interdisciplinar, que começou a se estabelecer no Brasil a partir da década de 1970 (OSMO; SCHRAIBER, 2015OSMO, Alan; SCHRAIBER, Lilia B. O campo da Saúde Coletiva no Brasil: definições e debates em sua constituição. Saúde e Sociedade, v. 24, p. 205-218, 2015. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-12902015000500205&lng=pt&nrm=iso Acesso em: 20 out. 2020.
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; NOGUEIRA; BOSI, 2017NOGUEIRA, Júlia Aparecida Devidé; BOSI, Maria Lúcia Magalhães. Saúde Coletiva e Educação Física: distanciamentos e interfaces. Ciência e saúde coletiva, v. 22, n. 6, p.1913-1922, 2017. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/csc/v22n6/1413-8123-csc-22-06-1913.pdf. Acesso em: 15 out. 2020.
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). Para Osmo e Schraiber (2015OSMO, Alan; SCHRAIBER, Lilia B. O campo da Saúde Coletiva no Brasil: definições e debates em sua constituição. Saúde e Sociedade, v. 24, p. 205-218, 2015. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-12902015000500205&lng=pt&nrm=iso Acesso em: 20 out. 2020.
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) este novo campo surgiu como uma forma de crítica e de resistência às concepções hegemônicas de saúde que consideravam apenas seus determinantes biológicos, bem como à política sanitária adotada no país naquele momento. Para Paim e Almeida Filho (1998PAIM, Jaimilson S.; ALMEIDA FILHO, Naomar. Saúde coletiva: uma “nova” saúde pública ou campo aberto a novos paradigmas? Revista de Saúde Pública, v. 32, n. 4, p. 299-316, 1998., p. 309), a saúde coletiva

[…] contribui com o estudo do fenômeno saúde/doença em populações enquanto processo social; investiga a produção e distribuição das doenças na sociedade como processos de produção e reprodução social; analisa as práticas de saúde (processo de trabalho) na sua articulação com as demais práticas sociais; procura compreender, enfim, as formas com que a sociedade identifica suas necessidades e problemas de saúde, busca sua explicação e se organiza para enfrentá-los.

Ainda que de forma tímida, a EF vem dialogando com esta perspectiva, como evidenciam os trabalhos de Fraga e Wachs (2007FRAGA, Alex Branco; WACHS, Felipe. (orgs.) Educação Física e saúde coletiva: políticas de formação e perspectivas de intervenção. 2. ed. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2007. Disponível em: https://lume.ufrgs.br/handle/10183/84911. Acesso em: 15 out. 2020.
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) e Nogueira e Bosi (2017NOGUEIRA, Júlia Aparecida Devidé; BOSI, Maria Lúcia Magalhães. Saúde Coletiva e Educação Física: distanciamentos e interfaces. Ciência e saúde coletiva, v. 22, n. 6, p.1913-1922, 2017. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/csc/v22n6/1413-8123-csc-22-06-1913.pdf. Acesso em: 15 out. 2020.
https://www.scielo.br/pdf/csc/v22n6/1413...
). Na EFE, este olhar ampliado sobre a saúde tem sido defendido entre estudiosos que se fundamentam nas teorias pedagógicas críticas (BRACHT, 1999BRACHT, Valter. A constituição das teorias pedagógicas da educação física. Cadernos Cedes, v.10, n. 48, p. 69-88, 1999. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/ccedes/v19n48/v1948a05.pdf. Acesso em: 12 abr. 2019.
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). Mezzaroba (2012MEZZAROBA, Cristiano. Ampliando o olhar sobre saúde na Educação Física escolar: críticas e possibilidades no diálogo com o tema do meio-ambiente a partir da Saúde Coletiva. Motrivivência, n. 38, p. 231-246, 2012. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/motrivivencia/article/view/2175-8042.2012v24n38p23. Acesso em: 18 out. 2020.
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) defende uma aproximação da EFE com a saúde coletiva, possibilitando a superação do modelo patogênico e a adoção da visão salutogênica. Para o autor, esta aproximação pode ocorrer, por exemplo, com a inserção dos determinantes sociais da saúde como temas do currículo escolar.

A defesa de um olhar abrangente sobre saúde também pode ser identificada em alguns documentos curriculares oficiais da área. Este olhar pode ser percebido, nos Parâmetros Curriculares Nacionais da Educação Física para o Ensino Fundamental (BRASIL, 1997), como no exemplo destacado a seguir.

No âmbito da Educação Física, os conhecimentos construídos devem possibilitar a análise crítica dos valores sociais, tais como os padrões de beleza e saúde, que se tornaram dominantes na sociedade (BRASIL, 1997, p. 25)

Apesar disso, não são apresentadas orientações ou propostas que auxiliem professores e professoras a incluírem a análise crítica sobre saúde como tema das aulas. Ao contrário, nos raros trechos em que a saúde é mencionada, são os benefícios biofisiológicos do exercício físico os temas eleitos, a exemplo do que acontece quando se analisa o ensino do bloco de conteúdos conhecimentos sobre o corpo. O mesmo acontece no documento do ensino médio (BRASIL, 2000), que discute brevemente o tema, questionando a perspectiva que defende o desenvolvimento da aptidão física durante as aulas, sem apresentar alternativas ou sugestões didáticas para a forma de abordagem do tema. Na Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2017), a reflexão crítica sobre a saúde é considerada uma competência específica da EFE e aparece também em alguns dos objetivos propostos, mas de forma pouco aprofundada.

Portanto, nos documentos curriculares nacionais é possível encontrar a recomendação para que as aulas de EF sejam fundamentadas na concepção ampliada de saúde, em oposição à perspectiva que prioriza uma relação de causa e efeito entre atividade física e saúde. Partindo dessa premissa, entendemos ser importante compreender como a relação entre saúde e EFE tem sido discutida na academia e como tem se concretizado na escola. Considerando que a análise da literatura da área pode nos aproximar desta compreensão, realizamos a presente pesquisa, que tem por objetivo analisar a produção científica que discute as relações entre EFE e saúde, publicada em periódicos científicos das áreas de Educação e EF.

2 MÉTODO

Para atingir o objetivo proposto foi realizada uma revisão integrativa, que possibilita levantar, de forma sintética e sistemática, informações sobre um tema específico (BOTELHO; CUNHA; MACEDO, 2011BOTELHO, Louise Lira Roedel; CUNHA, Cristiano Castro de Almeida; MACEDO, Marcelo. O método da revisão integrativa nos estudos organizacionais. Gestão e Sociedade, v. 5, n. 11, p. 121-136, 2011. Disponível em: https://www.gestaoesociedade.org/gestaoesociedade/article/view/1220/906. Acesso em: 12 mar. 2018
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). Assim, seguimos os passos sugeridos por Garzon, Silva e Marques (2018GARZON, Adriana Marcela Monroy; SILVA, Kênia Lara da; MARQUES, Rita de Cássia. Pedagogia crítica libertadora de Paulo Freire na produção científica da Enfermagem 1990-2017. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 71, supl. 4, p. 1751-1758, 2018. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-71672018001001751&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 12 mar. 2018.
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), definindo a questão orientadora. Em seguida, nos inspiramos no método construído por Bracht et al. (2011BRACHT, Valter et al. A Educação Física Escolar como tema da produção do conhecimento dos periódicos da área no Brasil (1980-2010): parte I. Movimento, v. 17, n. 2, p. 11-34, 2011.) para realizar a primeira etapa da pesquisa e optamos por analisar revistas da Educação e da EF, listadas no WebQualis (2013-2016), classificadas entre os estratos A1 até B5 e disponíveis online. A pesquisa foi realizada entre os meses de abril e dezembro de 2019, sendo selecionados para a análise apenas os estudos publicados entre 2010 e 2019. No processo de busca dos artigos, foram examinados inicialmente os sumários dos periódicos, procurando identificar pelo título dos artigos se eles focalizavam o ensino da EFE. Em alguns casos, foi necessário também realizar a leitura de resumos e palavras-chave. Nessa etapa, foram analisados 97 periódicos, que levou à identificação de 1763 artigos.

Na segunda etapa de análise foi realizada a leitura dos resumos de todos esses artigos selecionados e, em alguns casos, do texto completo. Diferentemente de Oliveira et al. (2017OLIVEIRA, João Paulo; PAIVA, Andréa Carla; MELO, Marcelo Soares Tavares; BRASILEIRO, Lívia Tenório; SOUZA JUNIOR, Marcilio. Os saberes escolares em saúde na educação física: Um estudo de revisão. Motricidade, v. 13, n. esp., p. 2-16, 2017. Disponível em: https://revistas.rcaap.pt/motricidade/article/view/12939/10013. Acesso em: 15 jan. 2020.
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), optamos por excluir artigos sobre experiências externas às aulas, além daqueles limitados a coletas epidemiológicas, nas quais a escola ou a aula de EF é apenas um espaço para a obtenção de informação sobre os escolares, sem nenhuma relação com o ensino do componente curricular. Ao final dessa segunda etapa foram identificadas 41 publicações.

Na terceira etapa da pesquisa, utilizamos a Análise Temática (BRAUN; CLARK, 2006BRAUN, Virginia; CLARK, Victoria. Using thematic analysis in psychology. Qualitative Research, v. 3, n. 2, p. 77- 101, 2006. DOI: 10.1191/1478088706qp063oa. Disponível em: https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1191/1478088706qp063oa. Acesso em: 14 ago. 2017.
https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1...
) para organizar e descrever os resultados, a partir da identificação de temas. Assim, realizamos a leitura integral dos artigos para conhecer seus elementos gerais. Em seguida, identificamos nos textos os itens de análise previamente selecionados: data de publicação, o periódico e seu estrato no WebQualis, as características dos artigos, assim como seus temas e as concepções de saúde e EFE defendidas. A etapa seguinte envolveu a geração inicial de códigos ou temas considerados relevantes e a busca pelos temas. Os temas inicialmente propostos foram revistos, definidos e nomeados. Todos os autores participaram dessas etapas, até a definição final dos temas.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Ao iniciar a análise, identificamos que 22 periódicos publicaram artigos sobre o tema investigado, como apresentado no Quadro 1. Não encontramos artigos que discutissem a relação entre EFE e saúde em periódicos classificados nos estratos A1 e A2, o que não causa surpresa, uma vez que o desprestígio da pesquisa pedagógica e sociocultural, consequência da política científica adotada no Brasil, tem sido apontado em vários estudos (BRACHT et al., 2011BRACHT, Valter et al. A Educação Física Escolar como tema da produção do conhecimento dos periódicos da área no Brasil (1980-2010): parte I. Movimento, v. 17, n. 2, p. 11-34, 2011.; OLIVEIRA et al., 2017OLIVEIRA, João Paulo; PAIVA, Andréa Carla; MELO, Marcelo Soares Tavares; BRASILEIRO, Lívia Tenório; SOUZA JUNIOR, Marcilio. Os saberes escolares em saúde na educação física: Um estudo de revisão. Motricidade, v. 13, n. esp., p. 2-16, 2017. Disponível em: https://revistas.rcaap.pt/motricidade/article/view/12939/10013. Acesso em: 15 jan. 2020.
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). A maior parte dos artigos selecionados, 61%, está concentrada em periódicos de classificação B4. Consideramos este resultado importante, pois ele evidencia que os estudos de revisão sobre a EFE não devem se limitar a analisar periódicos dos estratos superiores do WebQualis ou a realizar seu levantamento apenas em bases de dados, pois tal prática reduz o universo de análise, não representando a realidade da publicação científica na área, no contexto nacional.

Quadro 1
Classificação dos artigos no WebQualis (2013-2016)

Ao analisar a data de publicação dos 41 artigos selecionados percebemos que 2014 e 2015 foram os anos com maior frequência de artigos. Esses resultados podem ser observados no Gráfico 1. Nos anos seguintes houve uma redução no número de produções sobre o tema, mas em 2019 nota-se um novo crescimento. É possível que esse crescimento tenha sido ainda maior, uma vez que algumas edições de 2019 só foram publicadas em 2020, após a conclusão deste estudo.

Gráfico 1
Distribuição da publicação ao longo da década

A análise do tipo de produção permitiu identificar que, entre os 41 estudos selecionados, cinco são ensaios, sete são estudos realizados a partir de fontes documentais ou bibliográficas e 29 são artigos originais. Os ensaios discutem as contribuições da EFE para a saúde dos(as) estudantes, a partir do olhar de autoras e autores. Em quatro deles, a EFE é concebida como espaço para promover a atividade física e informar os estudantes sobre os benefícios - predominantemente biológicos - desta prática.

Assim, Ribeiro e Triani (2016RIBEIRO, Luana dos Santos; TRIANI, Felipe da Silva A obesidade na infância e o protagonismo da educação física escolar. Caderno de Educação Física e Esporte, v. 14, n. 1, p. 79-88, 2016. Disponível em: http://e-revista.unioeste.br/index.php/cadernoedfisica/article/view/14932/11710. Acesso em: 15 dez. 2019.
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) e Araújo, Brito e Silva (2010) argumentam que as aulas de EF podem contribuir para a conscientização dos estudantes sobre a obesidade, seu combate e sua prevenção. Severino e Silva (2014SEVERINO, Claudio Delunardo; SILVA, Bianca Maria. Educação física escolar e a promoção de saúde: um ponto de vista. Caderno de Educação Física e Esporte, v. 12, n. 2, p. 77-86, 2014.) e Dumith e Silveira (2010DUMITH, Samuel de Carvalho; SILVEIRA, Raquel Moreira. Promoção da saúde no contexto da educação física escolar: uma reflexão crítica. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte, v. 9, n. 1, p. 3-14, 2010.) defendem a construção de aulas que conscientizem os estudantes sobre a importância da prática de atividades físicas e estimulem a adoção de hábitos saudáveis para a manutenção da saúde. A perspectiva desses dois últimos trabalhos pode ser percebida nos trechos destacados a seguir, nos quais os autores entendem que a EFE deve

[…] promover uma educação direcionada à promoção da saúde, tomando consciência acerca da necessidade de praticar atividades físicas regularmente e de mantê-las ao longo da vida”. (DUMITH; SILVEIRA, 2010DUMITH, Samuel de Carvalho; SILVEIRA, Raquel Moreira. Promoção da saúde no contexto da educação física escolar: uma reflexão crítica. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte, v. 9, n. 1, p. 3-14, 2010., p.11)

[…] oferecer uma fundamentação teórica e prática que oportunize aos discentes informações quanto à importância da prática sistematizada de atividades físicas para a saúde. (SEVERINO; SILVA, 2014SEVERINO, Claudio Delunardo; SILVA, Bianca Maria. Educação física escolar e a promoção de saúde: um ponto de vista. Caderno de Educação Física e Esporte, v. 12, n. 2, p. 77-86, 2014., p.78)

O quinto ensaio, elaborado por Knuth e Loch (2014KNUTH, Alan; LOCH, Mathias. “Saúde é o que interessa, o resto não tem pressa?”: um ensaio sobre educação física e saúde na escola. Revista Brasileira de Atividade Física e Saúde, v.19, n. 4, p. 429-440, jul. 2014. Disponível em: https://rbafs.org.br/RBAFS/article/view/3095/pdf194. Acesso em: 15 jan. 2020.
https://rbafs.org.br/RBAFS/article/view/...
), se diferencia dos acima citados, ao defender outra forma de relacionar EFE e saúde. Eles questionam o modo como o termo promoção da saúde vem sendo utilizado na EF, limitado a “promover a atividade física”, como nos quatro ensaios já apresentados. Nesta concepção, para promover saúde nas aulas é preciso estimular mudanças comportamentais e de estilo de vida dos(as) estudantes. Knuth e Loch (2014, p. 435) afirmam que esta concepção responsabiliza os(as) estudantes por sua saúde e pelo “[…] ato de movimentar-se, sem que haja qualquer relação com sua vida, realidade, interesses pessoais e futuros, escola, comunidade, família, etc.”. Para os autores, é preciso adotar uma concepção ampliada de saúde, procurando inserir este tema no currículo e problematizá-lo, de forma articulada com os demais conhecimentos da cultura corporal de movimento, estimulando o(a) estudante a refletir criticamente sobre a complexidade do processo de promoção da saúde.

Entre os sete estudos que analisaram fontes já existentes, quatro avaliaram como a saúde tem sido representada em documentos curriculares da EFE, sendo analisados os Parâmetros Curriculares Nacionais (MACHADO, 2010MACHADO, Marcelo da Silva. A saúde no currículo de educação física: os PCNS. Coleção Pesquisa em Educação Física, v. 6, n. 9, p. 26-34, 2010. Disponível em: https://www.fontouraeditora.com.br/periodico/upload/artigo/716_1502907947.pdf. Acesso em: 15 jan. 2020.
https://www.fontouraeditora.com.br/perio...
), as Orientações Curriculares Nacionais de 2006 (CARDOSO; PEREIRA, 2012CARDOSO, Marcel Anghinoni; PEREIRA, Flávio Medeiros. As orientações curriculares nacionais de 2006 na perspectiva da promoção da saúde na Educação Física escolar. Revista Didática Sistêmica, n. esp., p. 246-259, 2012. Disponível em: https://periodicos.furg.br/redsis/article/view/2764/1547. Acesso em: 15 jan. 2020.
https://periodicos.furg.br/redsis/articl...
), as propostas curriculares do nordeste brasileiro (PAIVA et al. (2017PAIVA, Andréa Carla; OLIVEIRA, João Paulo; TENÓRIO, Kadja Michele Ramos; MELO, Marcelo Soares Tavares; SOUZA JUNIOR, Marcilio. A saúde nas propostas curriculares para o ensino da educação física no Nordeste brasileiro: o que ensinar? Motricidade, v. 13, n. esp., p. 2-16, 2017. Disponível em: https://dx.doi.org/10.6063/motricidade.12868 Acesso em: 15 jan. 2020.
https://dx.doi.org/10.6063/motricidade.1...
) e o referencial curricular adotado no Rio Grande do Sul (ADIB; SILVA; DAMICO (2019). Cada documento analisado apresenta características específicas. Entretanto, três estudos identificam a necessidade de um detalhamento sobre os temas as serem inseridos no currículo e de uma discussão aprofundada sobre as concepções de saúde e/ou de promoção de saúde que devem orientar as práticas pedagógicas nas escolas. Resultado diferente foi apresentado por Adib, Silva e Damico (2019, p. 10), ao constatarem que o tema saúde, no referencial curricular analisado,

[…] perpassa diferentes temáticas do currículo da EF. Quando tratado como conteúdo, está localizado junto ao conjunto de saberes das Representações Sociais da Cultura Corporal de Movimento, em Práticas Corporais e Saúde, sendo abordado as implicações orgânicas e socioculturais e suas diferentes interpretações.

Os outros três artigos realizaram estudos de revisão. Mendes e Nóbrega (2015MENDES, Maria Isabel Brandão de S.; NOBREGA, Terezinha Petrucia da. Indicadores epistemológicos do “Brazil-Medico”: Educação e Educação Física. Educar em Revista, n. 56, p. 225-241, 2015. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/0104-4060.40471. Acesso em: 20 jan. 2020.
http://dx.doi.org/10.1590/0104-4060.4047...
) investigaram o periódico Brazil-Médico, analisando como as relações entre EFE e saúde eram estabelecidas na transição entre o século XIX e o século XX. Oliveira et al. (2017OLIVEIRA, João Paulo; PAIVA, Andréa Carla; MELO, Marcelo Soares Tavares; BRASILEIRO, Lívia Tenório; SOUZA JUNIOR, Marcilio. Os saberes escolares em saúde na educação física: Um estudo de revisão. Motricidade, v. 13, n. esp., p. 2-16, 2017. Disponível em: https://revistas.rcaap.pt/motricidade/article/view/12939/10013. Acesso em: 15 jan. 2020.
https://revistas.rcaap.pt/motricidade/ar...
) e Oliveira (2019) realizaram pesquisas sobre a produção científica que analisou a relação entre saúde e EFE.

Os 29 artigos originais selecionados (Quadro 2) foram organizados em dois grandes temas, utilizando uma perspectiva adaptada do estudo de Bracht et al. (2011BRACHT, Valter et al. A Educação Física Escolar como tema da produção do conhecimento dos periódicos da área no Brasil (1980-2010): parte I. Movimento, v. 17, n. 2, p. 11-34, 2011.). O primeiro deles foi denominado Pesquisas diagnósticas sobre as relações entre saúde e EFE, sendo constituído por 16 investigações que se dedicaram a diagnosticar e compreender como a saúde tem sido tratada nas aulas de EF, a partir da perspectiva de professores e estudantes. No segundo tema, Pesquisas de intervenção sobre as relações entre saúde e EFE, foram reunidos 13 estudos que vão além do diagnóstico e se dedicam a criar e/ou avaliar formas de intervenção, visando contribuir para a produção de novos conhecimentos.

Quadro 2
Relação de artigos originais classificados

3.1 PESQUISAS DIAGNÓSTICAS SOBRE AS RELAÇÕES ENTRE SAÚDE E EFE

Neste tema foram classificadas 16 pesquisas que procuraram compreender como a relação entre saúde e Educação Física tem se estabelecido na escola, a partir de informações fornecidas por alunos e professores. Quatro estudos tiveram a participação de estudantes, dez envolveram professores e dois contaram com a participação, ao mesmo tempo, de docentes e discentes. Para obter as informações, o questionário foi o instrumento mais frequente, escolhido em 11 estudos. A entrevista foi utilizada em cinco pesquisas, enquanto a observação, a análise de documentos e testes de avaliação da aptidão física apareceram uma vez. Em três trabalhos os autores optaram por utilizar mais de um instrumento de pesquisa. Assim como constatado por Freire e Miranda (2014FREIRE, Elisabete dos Santos; MIRANDA, Maria Luiza de Jesus. The production of knowledge about the building of values in physical education at school: methods, methodoly and epistemology. Physical Education and Sport Pedagogy, v.19, n. 1, p. 35-47, 2014. Disponível em: https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/17408989.2012.726978. Acesso em 15 jan. 2020.
https://www.tandfonline.com/doi/full/10....
), verificamos que a descrição do método adotado nem sempre é detalhada e raramente se explicita a base epistemológica que fundamenta o estudo.

Os estudos envolvendo estudantes apresentaram propostas bastante distintas. Soares e Hallal (2015SOARES, Carlos Alex; HALLAL, Pedro. Interdependência entre a participação em aulas de Educação Física e níveis de atividade física de jovens brasileiros: estudo ecológico. Revista Brasileira de Atividade Física e Saúde, v. 20, n. 6, p. 588-597, 2015. Disponível em: https://rbafs.org.br/RBAFS/article/view/5999. Acesso em: 15 dez. 2019.
https://rbafs.org.br/RBAFS/article/view/...
) verificaram que o número de aulas de Educação Física pode estar relacionado ao maior nível de atividade física dos jovens. Borges et al. (2016BORGES, Franciele Machado Ribeiro; MARCHESAN, Moane; ROSSATO, Vania Mari; KRUG, Rodrigo de Rosso. Relação da educação física com a aptidão física e com o desempenho escolar de alunos do Ensino Médio. Biomotriz, v. 10, n. 2, p. 112-128, 2016.) não encontraram impacto entre a participação nas aulas e a melhoria da aptidão física relacionada à saúde ou ao desempenho cognitivo. Souza et al. (2016) constataram que os estudantes percebem a presença de temas relacionados à saúde nas aulas de EF e, assim como Chalita (2014CHALITA, Marco Antonio. A educação básica no Brasil e a questão da obesidade: a realidade em Alagoas. Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, n. esp., p. 283-293, 2014.) e Bisconsini, Rinaldi e Barbosa-Rinaldi (2015BISCONSINI, Camila Rinaldi; RINALDI, Wilson; BARBOSA-RINALDI, Ieda Parra. A compreensão de professores e alunos do ensino médio sobre saúde nas aulas de Educação Física. Corpoconsciência, v.19, n. 2, p. 18-24, 2015. Disponível em: http://periodicoscientificos.ufmt.br/ojs/index.php/corpoconsciencia/article/view/3887/2812. Acesso em: 15 dez. 2019.
http://periodicoscientificos.ufmt.br/ojs...
), associam a melhoria da saúde à prática regular de atividade física.

Já os estudos realizados com professores e professoras buscaram compreender suas percepções sobre a importância da EFE para a saúde dos estudantes e elementos sobre como implementam sua prática pedagógica. As pesquisas permitiram verificar que a maioria dos(as) participantes declara inserir temas relacionados à saúde em suas aulas, como a alimentação saudável, hábitos de higiene (FOGAÇA; JESUS; COPETTI, 2015), conhecimentos sobre o corpo humano e atividade física relacionada com a saúde (CHALITA, 2014CHALITA, Marco Antonio. A educação básica no Brasil e a questão da obesidade: a realidade em Alagoas. Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, n. esp., p. 283-293, 2014.), além de informações sobre as causas e formas de prevenir algumas doenças, como obesidade, diabetes e cardiopatias (MORAIS et al., 2015MORAIS, José Henrique Dias; SILVA JUNIOR, Arestides Pereira; SOUZA, Dayane Cristina; OLIVEIRA, Amauri Aparecido Bassoli. O tema obesidade nas aulas de educação física nos anos iniciais do ensino fundamental: uma análise a partir dos professores. Coleção Pesquisa em Educação Física, v. 14, n. 1, p. 113-120, 2015. Disponível em: https://www.fontouraeditora.com.br/periodico/upload/artigo/1078_1503930669.pdf. Acesso em: 15 jan. 2020.
https://www.fontouraeditora.com.br/perio...
; PENNER et al., 2015PENNER, Marcelo Clarete Seracini; CARDOSO, Leticia Silveira; SOBRINHO, António Evanhoé Pereira Souza; GUTERRES, Rodrigo Azambuja; CEZAR-VAZ, Marta Regina; SOUZA, Neury Ely Justiniano. Educação física e a saúde escolar: métodos e a execução da prevenção da obesidade e de cardiopatias. Coleção Pesquisa em Educação Física. v. 14, n. 1, p. 39-46, 2015. Disponível em: https://www.fontouraeditora.com.br/periodico/upload/artigo/1069_1503929832.pdf. Acesso em: 15 jan. 2020.
https://www.fontouraeditora.com.br/perio...
). Assim, é possível perceber a intencionalidade de professores e professoras em informar os(as) estudantes sobre a relação entre atividade física e saúde, priorizando sua dimensão biológica, como evidenciaram (FERREIRA; OLIVEIRA; SAMPAIO, 2013FERREIRA, Heraldo Simões; OLIVEIRA, Braulio Nogueira de; SAMPAIO, José Jackson Coelho. Análise da percepção dos professores de Educação Física acerca da interface entre a saúde e a Educação Física escolar: conceitos e metodologias. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 35, n. 3, p. 673-685, 2013. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S0101-32892013000300011. Acesso em: 17 dez. 2019.
http://dx.doi.org/10.1590/S0101-32892013...
; FOGAÇA; JESUS; COPETTI, 2015), sendo frequente que professores e professoras considerem o ensino da EF como espaço para estimular a prática da atividade física regular (BISCONSINI; RINALDI; BARBOSA-RINALDI, 2015BISCONSINI, Camila Rinaldi; RINALDI, Wilson; BARBOSA-RINALDI, Ieda Parra. A compreensão de professores e alunos do ensino médio sobre saúde nas aulas de Educação Física. Corpoconsciência, v.19, n. 2, p. 18-24, 2015. Disponível em: http://periodicoscientificos.ufmt.br/ojs/index.php/corpoconsciencia/article/view/3887/2812. Acesso em: 15 dez. 2019.
http://periodicoscientificos.ufmt.br/ojs...
), a adoção de hábitos considerados saudáveis (CHALITA, 2015) e a prevenção de doenças (MORAIS et al., 2015; PENNER et al., 2015).

Entretanto, nesses estudos que tentam traçar um diagnóstico sobre o tema falta uma aproximação com a realidade escolar. Apenas Lenhart et al. (2019LENHART, Jaqueline Iracema; SANFELICE, Gustavo Roese; MORON, Victória Branca; BERLESE, Denise Bolzan; PINTO, Aline da Silva. Concepções dos docentes sobre o tema saúde e sua relação com os saberes e experiências profissionais. Revista Tempos e Espaços em Educação, v. 12, n. 30, p. 47-64, 2019. Disponível em: https://seer.ufs.br/index.php/revtee/article/view/9189/pdf. Acesso em: 20 jan. 2020.
https://seer.ufs.br/index.php/revtee/art...
) buscaram informações sobre como acontece a relação entre EFE e saúde no local onde ela se concretiza, ou seja, no cotidiano escolar. Embora ouvir estudantes e docentes por meio de questionários e entrevistas seja relevante, a pesquisa no cotidiano é fundamental para que possamos compreender como as aulas se efetivam e refletir sobre as contradições e a complexidade que caracteriza a educação escolar.

Em estudo que buscou se aproximar da escola, Lenhart et al. (2019LENHART, Jaqueline Iracema; SANFELICE, Gustavo Roese; MORON, Victória Branca; BERLESE, Denise Bolzan; PINTO, Aline da Silva. Concepções dos docentes sobre o tema saúde e sua relação com os saberes e experiências profissionais. Revista Tempos e Espaços em Educação, v. 12, n. 30, p. 47-64, 2019. Disponível em: https://seer.ufs.br/index.php/revtee/article/view/9189/pdf. Acesso em: 20 jan. 2020.
https://seer.ufs.br/index.php/revtee/art...
) utilizaram entrevistas e observações das aulas para analisar a forma como a saúde era abordada. Os autores evidenciaram a relevância desta aproximação, ao constatarem que, embora professores e professoras tenham declarado tratar temas relacionados à saúde em suas aulas, nas observações realizadas não foi possível identificar situações nas quais os temas tenham sido discutidos com os(as) estudantes. Acreditamos que o resultado obtido por Lenhart et al. (2019) demonstra que ainda sabemos pouco sobre o significado que professores e professoras atribuem à saúde em suas aulas, sobre os temas que selecionam e sobre a forma como têm procurado tratar esses temas.

A análise dos estudos diagnósticos nos permite constatar que, além do predomínio de uma concepção que olha para a prevenção de doenças e para a adoção de um estilo de vida ativo, sem estimular uma análise crítica e abrangente sobre a saúde, se percebe que professores e professoras muitas vezes se sentem despreparados para o ensino desses temas (MORAIS et al., 2015MORAIS, José Henrique Dias; SILVA JUNIOR, Arestides Pereira; SOUZA, Dayane Cristina; OLIVEIRA, Amauri Aparecido Bassoli. O tema obesidade nas aulas de educação física nos anos iniciais do ensino fundamental: uma análise a partir dos professores. Coleção Pesquisa em Educação Física, v. 14, n. 1, p. 113-120, 2015. Disponível em: https://www.fontouraeditora.com.br/periodico/upload/artigo/1078_1503930669.pdf. Acesso em: 15 jan. 2020.
https://www.fontouraeditora.com.br/perio...
; LENHART et al. 2019LENHART, Jaqueline Iracema; SANFELICE, Gustavo Roese; MORON, Victória Branca; BERLESE, Denise Bolzan; PINTO, Aline da Silva. Concepções dos docentes sobre o tema saúde e sua relação com os saberes e experiências profissionais. Revista Tempos e Espaços em Educação, v. 12, n. 30, p. 47-64, 2019. Disponível em: https://seer.ufs.br/index.php/revtee/article/view/9189/pdf. Acesso em: 20 jan. 2020.
https://seer.ufs.br/index.php/revtee/art...
) e apontam a necessidade de investimento do poder público na formação continuada (LIMA et al., 2015LIMA, Carlos Henrique de Freitas Lima; GARCIA, Marlon; PIMENTA, Robson; GRILLO, Rogério de Melo. Promoção de saúde na perspectiva de professores de educação física da rede pública de São Sebastião do paraíso MG. Coleção Pesquisa em Educação Física, v. 17, n. 3, 2015. Disponível em: https://fontouraeditora.com.br/periodico/upload/artigo/1080_1503930879.pdf. Acesso em: 15 jan. 2020.
https://fontouraeditora.com.br/periodico...
). Novos estudos podem ampliar a compreensão sobre como a relação entre saúde e EFE tem se estabelecido na escola.

3.2 PESQUISAS DE INTERVENÇÃO SOBRE AS RELAÇÕES ENTRE SAÚDE E EFE

Diferentemente das pesquisas diagnósticas, a inserção no cotidiano escolar caracteriza os 13 artigos de intervenção identificados, que relatam e/ou investigam experiências ou propostas didáticas realizadas durante as aulas, desenvolvidas com a intenção de promover saúde ou ensinar temas a ela relacionados. Mais que identificar como a saúde está relacionada à EFE, esses estudos visam propor e avaliar formas de estabelecer esta relação. Outra diferença entre as pesquisas classificadas neste tema está nas características dos(as) participantes, já que em dez dos 13 artigos os(as) estudantes estiveram envolvidos(as). Professores e professoras participaram em três intervenções.

Diversos objetivos orientaram a realização dos estudos, como a produção de recursos didáticos que podem contribuir para o ensino de temas e habilidades relacionadas com a saúde nas aulas de EF (RUFINO; DARIDO, 2013RUFINO, Luiz Gustavo Bonatto; DARIDO, Suraya Cristina. Educação física escolar, tema transversal, saúde e livro didático: possíveis relações durante a prática pedagógica. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, v. 21, n. 3, p. 21-34, 2013. Disponível em: https://portalrevistas.ucb.br/index.php/RBCM/article/view/3641/2734 Acesso em: 15 jan. 2020.
https://portalrevistas.ucb.br/index.php/...
; GOUVÊA; SILVA, 2019GOUVÊA, Bruno dos Santos; SILVA, Katia Regina Xavier da. Proposta de ensino de conceitos de saúde nas aulas de Educação Física pela abordagem da teoria social cognitiva. Motrivivência, v. 31, n. 60, p. 01-21, 2019. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/motrivivencia/article/view/2175-8042.2019e59662. Acesso em: 20 jan. 2020.
https://periodicos.ufsc.br/index.php/mot...
), a discussão sobre a relação entre atividade física, diabetes e obesidade (VIEIRA; JESUS; COPETTI, 2014VIEIRA, Márcio José Ibarra; JESUS, Rhenan Ferraz; COPETTI, Jaqueline. Atividade física, diabetes e obesidade nas aulas de educação física: percepções de escolares do 7º ano. Caderno de Educação Física e Esporte, v. 12, n. 1, p. 85-93, 2014. Disponível em: http://e-revista.unioeste.br/index.php/cadernoedfisica/article/view/10928. Acesso em: 15 dez. 2019.
http://e-revista.unioeste.br/index.php/c...
) e a verificação dos efeitos de um programa na aprendizagem de conceitos, no nível de atividade física ou de aptidão física relacionados à saúde (CARDOSO et al., 2014CARDOSO, Marcel Anghinoni; PEREIRA, Flávio Medeiros; AFONSO, Mariângela da Rosa; ROCHA JUNIOR, Ivon Chagas. Educação física no ensino médio: desenvolvimento de conceitos e da aptidão física relacionados à saúde. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, v. 28, n. 1, p.147-161, 2014. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1807-55092014000100147. Acesso em: 15 jan. 2020.
https://doi.org/10.1590/S1807-5509201400...
; SPOHR et al., 2014SPOHR, Carla; FORTES, Milena; ROMBALDI, Airton; HALLAL, Pedro; AZEVEDO, Mario. Atividade física e saúde na Educação Física escolar: efetividade de um ano do projeto “Educação Física +”. Revista Brasileira de Atividade Física e Saúde, v. 19, n. 3, p. 300-313, 2014. Disponível em: https://rbafs.emnuvens.com.br/RBAFS/article/view/3578/pdf173. Acesso em: 15 dez. 2019.
https://rbafs.emnuvens.com.br/RBAFS/arti...
). Entretanto, a maior parte dos trabalhos tem como um de seus objetivos propor e avaliar formas de inserir conhecimentos relacionados à saúde nas aulas de EF. Mesmo aqueles que não declaram tal objetivo têm em comum a discussão - explícita ou implícita, superficial ou aprofundada - sobre esses temas. Esse resultado evidencia a concordância entre autores e autoras sobre a necessidade de garantir aos(às) estudantes oportunidades para refletir e construir conhecimentos sobre a saúde. A partir das descrições e da análise apresentada nos estudos foi possível identificar alguns dos temas tratados, sintetizados no Quadro 3.

Quadro 3
Síntese dos conhecimentos sobre saúde propostos

A análise dos textos permitiu identificar que ainda é mais frequente a defesa do ensino de conhecimentos relacionados aos possíveis benefícios orgânicos da EFE para a saúde, ou seja, predomina a discussão sobre os determinantes biológicos da atividade física/exercício físico e saúde. Ainda assim, a maior proposição de conhecimentos culturais, políticos e sociológicos relacionados à saúde pode ser considerada um avanço. A aprendizagem desses conhecimentos é proposta, inclusive, em estudos que defendem as aulas de EF como espaço para o desenvolvimento da aptidão física ou para o aumento do nível de atividade física de estudantes, como em Cardoso et al. (2014CARDOSO, Marcel Anghinoni; PEREIRA, Flávio Medeiros; AFONSO, Mariângela da Rosa; ROCHA JUNIOR, Ivon Chagas. Educação física no ensino médio: desenvolvimento de conceitos e da aptidão física relacionados à saúde. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, v. 28, n. 1, p.147-161, 2014. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1807-55092014000100147. Acesso em: 15 jan. 2020.
https://doi.org/10.1590/S1807-5509201400...
) e Spohr et al. (2014SPOHR, Carla; FORTES, Milena; ROMBALDI, Airton; HALLAL, Pedro; AZEVEDO, Mario. Atividade física e saúde na Educação Física escolar: efetividade de um ano do projeto “Educação Física +”. Revista Brasileira de Atividade Física e Saúde, v. 19, n. 3, p. 300-313, 2014. Disponível em: https://rbafs.emnuvens.com.br/RBAFS/article/view/3578/pdf173. Acesso em: 15 dez. 2019.
https://rbafs.emnuvens.com.br/RBAFS/arti...
). Porém, é importante ressaltar que, embora preconizem o ensino de temas sociais, como os padrões de estética corporal e o impacto das condições socioeconômicas na prática da atividade física, esses(as) autores e autoras pouco discutem sobre como os temas foram abordados ou sobre os resultados das intervenções realizadas na aprendizagem desses temas, evidenciando que ainda é superficial a análise sobre como os determinantes sociais da saúde podem ser tematizados na EFE.

Quanto à forma como os temas propostos foram selecionados, identificamos que em sete estudos esta seleção não contou com a participação de professores e professoras de EF na escola. Ribeiro et al. (2013RIBEIRO, José Antonio Bicca; CAVALLI, Adriana Schüler; CAVALLI, Marcelo Olivera; AFONSO, Mariângela de Rosa. Nível e importância atribuídos à prática de atividade física por estudantes do ensino fundamental de uma escola pública de Pelotas/RS. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte, v. 12, n. 2, p.13-25, 2013. Disponível em: http://editorarevistas.mackenzie.br/index.php/remef/article/view/3791. Acesso em: 15 jan. 2020.
http://editorarevistas.mackenzie.br/inde...
), assim como Böhm e Silva (2012BÖHM, Andrea Wendt; SILVA, Rose Meri Santos. A experiência de trabalhar temas relacionados à saúde no estágio de 1ª a 4ª série do Ensino Fundamental na disciplina de Educação Física. Revista Didática Sistêmica, v. esp., n.1, p. 197-207, 2012. Disponível em: https://periodicos.furg.br/redsis/article/view/2759 . Acesso em: 20 jul. 2020.
https://periodicos.furg.br/redsis/articl...
), relata intervenções realizadas durante o estágio supervisionado e não por docentes responsáveis pelas turmas. As pesquisas descritas em Bisconsini, Rinaldi e Barbosa-Rinaldi (2011BISCONSINI, Camila Rinaldi; RINALDI, Wilson; BARBOSA-RINALDI, Ieda Parra. Viabilidade do trabalho com a temática saúde em aulas de Educação Física. Caderno de Educação Física e Esporte, v.10, n. 18, p. 11-20, 2011. Disponível em: http://e-revista.unioeste.br/index.php/cadernoedfisica/article/view/6567/5722. Acesso em: 15 dez. 2019.
http://e-revista.unioeste.br/index.php/c...
), Silva (2011), Rufino e Darido (2013RUFINO, Luiz Gustavo Bonatto; DARIDO, Suraya Cristina. Educação física escolar, tema transversal, saúde e livro didático: possíveis relações durante a prática pedagógica. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, v. 21, n. 3, p. 21-34, 2013. Disponível em: https://portalrevistas.ucb.br/index.php/RBCM/article/view/3641/2734 Acesso em: 15 jan. 2020.
https://portalrevistas.ucb.br/index.php/...
) e Cardoso et al. (2014CARDOSO, Marcel Anghinoni; PEREIRA, Flávio Medeiros; AFONSO, Mariângela da Rosa; ROCHA JUNIOR, Ivon Chagas. Educação física no ensino médio: desenvolvimento de conceitos e da aptidão física relacionados à saúde. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, v. 28, n. 1, p.147-161, 2014. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1807-55092014000100147. Acesso em: 15 jan. 2020.
https://doi.org/10.1590/S1807-5509201400...
) foram realizadas pelos(as) pesquisadores e pesquisadoras, com a permissão de professores e professoras titulares das turmas. Professores e professoras foram responsáveis pela intervenção docente realizada durante a pesquisa realizada por Spohr et al. (2014SPOHR, Carla; FORTES, Milena; ROMBALDI, Airton; HALLAL, Pedro; AZEVEDO, Mario. Atividade física e saúde na Educação Física escolar: efetividade de um ano do projeto “Educação Física +”. Revista Brasileira de Atividade Física e Saúde, v. 19, n. 3, p. 300-313, 2014. Disponível em: https://rbafs.emnuvens.com.br/RBAFS/article/view/3578/pdf173. Acesso em: 15 dez. 2019.
https://rbafs.emnuvens.com.br/RBAFS/arti...
). No entanto, não tiveram participação na definição dos temas discutidos durante suas aulas, se limitando a reproduzir as propostas construídas pelos pesquisadores e pesquisadoras.

Não foi possível ter certeza sobre a participação de docentes em duas pesquisas. Em Vieira, Jesus e Copetti (2014VIEIRA, Márcio José Ibarra; JESUS, Rhenan Ferraz; COPETTI, Jaqueline. Atividade física, diabetes e obesidade nas aulas de educação física: percepções de escolares do 7º ano. Caderno de Educação Física e Esporte, v. 12, n. 1, p. 85-93, 2014. Disponível em: http://e-revista.unioeste.br/index.php/cadernoedfisica/article/view/10928. Acesso em: 15 dez. 2019.
http://e-revista.unioeste.br/index.php/c...
) não se explicita quem foi responsável pela intervenção. Gouvêa e Silva (2019GOUVÊA, Bruno dos Santos; SILVA, Katia Regina Xavier da. Proposta de ensino de conceitos de saúde nas aulas de Educação Física pela abordagem da teoria social cognitiva. Motrivivência, v. 31, n. 60, p. 01-21, 2019. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/motrivivencia/article/view/2175-8042.2019e59662. Acesso em: 20 jan. 2020.
https://periodicos.ufsc.br/index.php/mot...
) explicam que professores e professoras participaram de uma pesquisa-ação, contribuindo para a construção e validação de um material didático, mas a sua participação na definição dos temas não foi descrita detalhadamente.

Desta forma, o efetivo envolvimento de professores e professoras na seleção dos temas relacionados à saúde só se comprova em quatro estudos. Dias e Farias (2014DIAS, Graziany Penna; FARIA, Miguel Fabiano. Pedagogia histórico-crítica, cultura corporal, saúde e atividade física: aspectos teóricos e metodológicos para o ensino médio. Instrumento: revista de estudo e pesquisa em educação, v. 16, n. 2, p. 183-192, 2014.) e Dias et al., (2016) relatam e analisam, a partir de referenciais teóricos distintos, uma mesma experiência conduzida por alguns(mas) dos(as) autores(as), que eram também docentes responsáveis pelas turmas. Oliveira, Martins e Bracht (2015aOLIVEIRA, Victor José Machado de; MARTINS, Izabella Rodrigues; BRACHT, Valter. Relações da educação física com o programa saúde na escola: visões dos professores das escolas de Vitória/ES. Pensar a Prática, v. 18, n. 3, 2015a. Disponível em: https://www.revistas.ufg.br/fef/article/view/33028/19027. Acesso em: 15 jan. 2020.
https://www.revistas.ufg.br/fef/article/...
; 2015b) apresentam dois momentos de uma pesquisa-ação realizada com seis professores e professoras que atuavam no município de Vitória/ES, com o objetivo de refletir sobre as relações entre a EFE e o Programa Saúde na Escola. No primeiro estudo, o grupo refletiu sobre o papel da EFE na educação em saúde e identificou possibilidades de atuação. No segundo momento, foram elaborados, implementados e avaliados projetos educacionais que tematizaram a saúde durante as aulas de professores e professoras participantes, a partir das problemáticas vividas por eles e elas no cotidiano escolar.

A partir do exposto, é possível perceber que professores e professoras não atuaram como protagonistas nas pesquisas ou na proposição dos temas a serem aprendidos, na maior parte das intervenções aqui analisadas. Assim, a seleção dos saberes, bem como a prática pedagógica proposta não nasceu da realidade escolar, mas da criação de um grupo a ela externo, desconsiderando o papel de professores e professoras na produção de conhecimentos sobre sua própria prática. Um caminho diferente é apresentado em Oliveira, Martins e Bracht (2015bOLIVEIRA, Victor José Machado de; MARTINS, Izabella Rodrigues; BRACHT, Valter. Projetos e práticas em educação para a saúde na educação física escolar: possibilidades! Revista da Educação Física UEM, v. 26, n. 2, p. 243-255, 2015b . Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1983-30832015000200243&lng=en&nrm=iso . Acesso em: 15 jan. 2020.
http://www.scielo.br/scielo.php?script=s...
), que coordenaram uma pesquisa conduzida com seis professores que trabalharam coletivamente na construção de projetos a serem aplicados na escola.

Como explicou Craig (2008CRAIG, Cheryl J. Teacher Research and Teacher as Researcher. International Handbook of research on teachers and teaching. New York: Springer, 2008. p. 61-70.), a necessidade de reconhecer professores e professoras como produtores de conhecimento tem sido apontada há algumas décadas e muitos docentes interessados em investigar a própria prática têm adotado diferentes vertentes de pesquisa, como a pesquisa-ação, a pesquisa participante, o autoestudo e a autoetnografia. Stenhouse (1981STENHOUSE, Lawrence. What counts as research? British Journal of Educational Studies, v. 29, n. 2, p. 103-114, 1981.) já argumentava que professores e professoras devem pesquisar sua própria prática, uma vez e vivem mais de perto a complexidade do contexto escolar e têm a oportunidade de investigá-la por dentro. Para o autor, o engajamento docente na pesquisa contribui para o aperfeiçoamento de sua prática pedagógica e para sua valorização. No Brasil, Paulo Freire também defendeu o protagonismo docente na produção de conhecimento e a interdependência entre ensino e pesquisa.

A relevância e a possibilidade do envolvimento docente na produção de conhecimentos se explicitam no estudo de Oliveira, Martins e Bracht (2015bOLIVEIRA, Victor José Machado de; MARTINS, Izabella Rodrigues; BRACHT, Valter. Projetos e práticas em educação para a saúde na educação física escolar: possibilidades! Revista da Educação Física UEM, v. 26, n. 2, p. 243-255, 2015b . Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1983-30832015000200243&lng=en&nrm=iso . Acesso em: 15 jan. 2020.
http://www.scielo.br/scielo.php?script=s...
). Durante a participação na pesquisa-ação produzida a partir da formação continuada, professores e professoras dialogaram, construíram um conceito ampliado de saúde e perceberam a necessidade de buscar, na realidade de sua escola, os temas relacionados à saúde mais significantes para os(as) estudantes. Este olhar influenciou a elaboração e execução de projetos distintos, que focalizaram a saúde não como um tema isolado, mas que, como propõem Knuth e Loch (2014KNUTH, Alan; LOCH, Mathias. “Saúde é o que interessa, o resto não tem pressa?”: um ensaio sobre educação física e saúde na escola. Revista Brasileira de Atividade Física e Saúde, v.19, n. 4, p. 429-440, jul. 2014. Disponível em: https://rbafs.org.br/RBAFS/article/view/3095/pdf194. Acesso em: 15 jan. 2020.
https://rbafs.org.br/RBAFS/article/view/...
) e Mezzaroba (2012MEZZAROBA, Cristiano. Ampliando o olhar sobre saúde na Educação Física escolar: críticas e possibilidades no diálogo com o tema do meio-ambiente a partir da Saúde Coletiva. Motrivivência, n. 38, p. 231-246, 2012. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/motrivivencia/article/view/2175-8042.2012v24n38p23. Acesso em: 18 out. 2020.
https://periodicos.ufsc.br/index.php/mot...
), se articula a outras temáticas ou saberes da EFE.

3.3 AS CONCEPÇÕES DE SAÚDE E DE ESCOLA NA PRODUÇÃO CIENTÍFICA

A análise dos artigos selecionados permitiu verificar que a relação entre saúde e EFE tem se fundamentado em diferentes concepções de saúde e de escola. Porém, enquanto a maior parte dos autores apresenta, ainda que superficialmente, a concepção de saúde que orienta sua publicação, a concepção de escola raramente é mencionada.

Quanto à forma como a saúde é concebida, como já esperado, se constata a prioridade atribuída aos determinantes biológicos na relação entre EF e saúde, como apontado por Wachs (2020WACHS, Felipe. Ciências do Esporte, Educação Física e produção do conhecimento em 40 anos de CBCE: atividade física e saúde. In: WACHS, Felipe; LARA, Larissa; ATHAYDE, Pedro (org.). Atividade física e saúde. Natal: EDUFRN, 2020. p. 15-27. Disponível em: http://www.cbce.org.br/colecao-40anos.php. Acesso em: 15 out. 2020.
http://www.cbce.org.br/colecao-40anos.ph...
). Entretanto, nos surpreendemos com o número de estudos que discursam sobre a possibilidade de promover saúde nas aulas de EF, reconhecendo inclusive o impacto de determinantes sociais nesta promoção, ao mesmo tempo em que defendem uma relação causal e mecânica, baseada nos fatores de risco, no combate às doenças crônicas não transmissíveis e justificada no enfrentamento de uma pretensa “pandemia” do sedentarismo. Identificamos esta contradição em 19 dos 41 estudos analisados, nos quais se apresenta um debate de caráter social para fundamentar seu biodiscurso (PALMA, 2020PALMA, Alexandre. Tensões e possibilidades nas interações entre Educação Física, saúde e sociedade. In: WACHS, Felipe; LARA, Larissa; ATHAYDE, Pedro (org.). Atividade física e saúde. Natal: EDUFRN, 2020. p. 15-27. Disponível em: http://www.cbce.org.br/colecao-40anos.php. Acesso em: 15 out. 2020.
http://www.cbce.org.br/colecao-40anos.ph...
).

Este resultado confirma a imprecisão ou a ambiguidade que tem caracterizado o emprego do termo promoção de saúde (FERREIRA; CASTIEL; CARDOSO, 2011FERREIRA, Marcos Santos; CASTIEL, Luis David; CARDOSO, Maria Helena Cabral de Almeida. Atividade física na perspectiva da Nova Promoção da Saúde: contradições de um programa institucional. Ciência e saúde coletiva, v. 16, supl. 1, p. 865-872, 2011. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232011000700018&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 19 out. 2020.
http://www.scielo.br/scielo.php?script=s...
; SILVA; BAPTISTA, 2015SILVA, Patrícia Ferrás Araújo; BAPTISTA, Tatiana Wargas de Faria. A Política Nacional de Promoção da Saúde: texto e contexto de uma política. Saúde em debate, v. 39, n. esp., p. 91-104, 2015. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-11042015000500091&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 15 out. 2020.
http://www.scielo.br/scielo.php?script=s...
; REIS; SILVA; WONG-UM, 2014REIS, Inês Nascimento de Carvalho; SILVA, Ilda Lopes Rodrigues; WONG-UN, Julio Alberto. Espaço público na Atenção Básica de Saúde: Educação Popular e promoção da saúde nos Centros de Saúde-Escola do Brasil. Interface: comunicacão, saúde, educação, v. 18, supl. 2, p. 1161-1173, 2014. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/icse/v18s2/1807-5762-icse-18-s2-1161.pdf. Acesso em: 15 out. 2020.
https://www.scielo.br/pdf/icse/v18s2/180...
). Para Ferreira, Castiel e Cardoso (2011FERREIRA, Marcos Santos; CASTIEL, Luis David; CARDOSO, Maria Helena Cabral de Almeida. Atividade física na perspectiva da Nova Promoção da Saúde: contradições de um programa institucional. Ciência e saúde coletiva, v. 16, supl. 1, p. 865-872, 2011. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232011000700018&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 19 out. 2020.
http://www.scielo.br/scielo.php?script=s...
, p. 871), a “ambiguidade da Promoção da Saúde vem sendo usada para legitimar ações e políticas conservadoras no campo da saúde”. Esta utilização pode ser percebida em parte dos estudos aqui analisados, nos quais se identifica uma reapropriação do termo promoção da saúde por adeptos de uma perspectiva renovada da aptidão física, também conhecida como “epidemiologia da atividade física”. Por conseguinte, encontramos estudos que, embora façam menção à multidimensionalidade da saúde, advogam a implementação de aulas de EF que estimulem o aumento do nível de atividade física dos(as) estudantes e/ou informem sobre os benefícios do exercício para “a formação de hábitos e atitudes que devem ser incorporados no dia a dia dos alunos” (ZANCHA et al., 2013ZANCHA, Daniel; MAGALHÃES, Gabriela Bongiorno Sica; MARTINS, Jessica; SILVA, Thais Argentini; ABRAHÃO, Thais Borges. Conhecimento dos professores de Educação Física escolar sobre a abordagem saúde renovada e a temática saúde. Conexões, v. 11, n. 1, p. 204-217, jan./mar. 2013. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/conexoes/article/view/8637638/pdf. Acesso em: 15 dez. 2019.
https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/in...
).

Assim, a polissemia no uso da promoção de saúde faz com que ela seja defendida por estudiosos que adotam diferentes concepções de saúde, e seja um descritor presente na maior parte dos artigos que analisamos. Já a saúde coletiva é mencionada em apenas quatro publicações. Defendemos aqui a necessária mudança neste quadro, com a concretização do diálogo entre a produção acadêmica da Saúde Coletiva e da EFE, para que as aulas do componente curricular na Educação Básica possam se fundamentar por uma perspectiva pautada nos determinantes sociais da saúde, como defendem Bagrichevsky, Estevão e Palma (2006BAGRICHEVSKY, Marcos; ESTEVÃO, Adriana; PALMA, Alexandre. Saúde Coletiva e Educação Física: aproximando campos, garimpando sentidos. In: BAGRICHEVSKY, Marcos; PALMA, Alexandre; ESTEVÃO, Adriana. (orgs). A saúde em debate na Educação Física. Blumenau: Nova Letra, 2006. v. 2) e Mezzaroba (2012MEZZAROBA, Cristiano. Ampliando o olhar sobre saúde na Educação Física escolar: críticas e possibilidades no diálogo com o tema do meio-ambiente a partir da Saúde Coletiva. Motrivivência, n. 38, p. 231-246, 2012. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/motrivivencia/article/view/2175-8042.2012v24n38p23. Acesso em: 18 out. 2020.
https://periodicos.ufsc.br/index.php/mot...
). Neste sentido, a EFE poderia sistematizar a relação entre práticas corporais, exercício físico e saúde, a partir dos determinantes sociais e da saúde enquanto direito, com destaque para as políticas públicas, levando em consideração os aspectos de natureza social, econômica, política, como defendem Buss e Pellegrino Filho (2007BUSS, Paulo Marchiori; PELLEGRINI FILHO, Alberto. A saúde e seus determinantes sociais. Physis: Revista de Saúde Coletiva, v. 17, n. 1, p. 77-93, 2007.), assim como as mediações através das quais esses fatores incidem sobre a situação de saúde de grupos e pessoas, superando as relações diretas de causa-efeito sobre esse fenômeno complexo.

Quanto à forma como a escola é concebida, nos causa um grande desconforto constatar que os autores e autoras, ao defenderem a construção de aulas de EF que contribuam para a saúde dos estudantes, raramente explicitam a concepção de escola e de EFE que desejam concretizar. Acreditamos que este pode ser um fator a contribuir para a produção do discurso contraditório identificado em parte das obras analisadas.

Assim, o debate sobre a saúde parece ser privilegiado nas obras que se dedicam a investigar sua relação com a EFE, ao passo que se negligencia a análise sobre a instituição escola e sua responsabilidade social. Esta análise se torna mais explícita nos artigos que se fundamentam nas teóricas pedagógicas críticas da EFE e adotam uma perspectiva ampliada e crítica de saúde, como em Rufino e Darido (2013RUFINO, Luiz Gustavo Bonatto; DARIDO, Suraya Cristina. Educação física escolar, tema transversal, saúde e livro didático: possíveis relações durante a prática pedagógica. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, v. 21, n. 3, p. 21-34, 2013. Disponível em: https://portalrevistas.ucb.br/index.php/RBCM/article/view/3641/2734 Acesso em: 15 jan. 2020.
https://portalrevistas.ucb.br/index.php/...
), Oliveira, Martins e Bracht (2015aOLIVEIRA, Victor José Machado de; MARTINS, Izabella Rodrigues; BRACHT, Valter. Relações da educação física com o programa saúde na escola: visões dos professores das escolas de Vitória/ES. Pensar a Prática, v. 18, n. 3, 2015a. Disponível em: https://www.revistas.ufg.br/fef/article/view/33028/19027. Acesso em: 15 jan. 2020.
https://www.revistas.ufg.br/fef/article/...
; 2015b) e Oliveira et al. (2017). Mas, na maior parte dos 41 estudos selecionados, é possível apenas identificar uma concepção implícita de escola.

Ao defender a escola como espaço para ‘transmitir’ informações sobre a saúde e estimular a adoção de um estilo de vida ativo, a autoria parece assumir uma concepção tradicional ou bancária de educação escolar que, segundo Paulo Freire (1987FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.), tem por finalidade preparar os(as) estudantes para se adaptarem às condições sociais em que vivem e não para questioná-las. Nessa forma de educação, os seres humanos

[…] são vistos como seres da adaptação, do ajustamento. Quanto mais se exercitem os educandos no arquivamento de depósitos que lhes são feitos, tanto menos desenvolverão em si a consciência crítica de que resultaria sua inserção no mundo como transformadores dele. Como sujeitos. (FREIRE, 1987FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987., p. 34)

Para estimular o desenvolvimento da consciência crítica, transformadora, Paulo Freire propõe uma educação libertadora, que possibilite aos(às) estudantes a compreensão de sua realidade. Nessa perspectiva, mais que informar sobre a saúde, cabe à EFE problematizá-la e estimular nesses(as) estudantes o questionamento dos diferentes fatores que influenciam sua saúde e a saúde coletiva.

Portanto, a forma como entendemos a relação entre EFE e saúde passa pela concepção de escola que adotamos. É fundamental que pesquisadores e pesquisadoras dedicados a discutir esta temática percebam a importância de compreender o universo da escola e da EFE e não apresentem propostas apenas a partir de sua perspectiva de saúde. Concordando com Lopes e Tocantins (2012LOPES, Rosane; TOCANTINS, Florence Romijn. Promoção da saúde e a educação crítica. Interface, v. 16, n. 40, p. 235-248, 2012. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-32832012000100018&lng=en&nrm=iso . Acesso em: 3 mar. 2020.
http://www.scielo.br/scielo.php?script=s...
, p. 241), é preciso entender que a “educação ocorre na forma de processo, onde aprender implica construir, e não adquirir conhecimentos; significa desenvolver habilidades pessoais e sociais, e não adaptar ou reproduzir comportamentos”.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise da publicação científica aqui apresentada nos permitiu identificar alguns dos caminhos já trilhados pelas pesquisas que investigam a relação entre saúde e EFE e como esse tema tem se concretizado na escola. Uma constatação do estudo é que o tema não tem sido discutido em periódicos classificados nos estratos superiores do WebQualis, o que mais uma vez evidencia a desvalorização das investigações produzidas pelos pesquisadores das áreas sociocultural e pedagógica da Educação Física, como resultado da política científica adotada no território brasileiro.

Sinteticamente, o principal foco dos estudos está nos conhecimentos relacionados com as implicações biológicas do exercício físico, reforçando uma visão reducionista e instrumental de saúde e de EFE, na qual as aulas do componente curricular são utilizadas para desenvolver a aptidão física dos(as) alunos(as). Todavia, uma visão mais ampliada sobre esse tema começa a surgir na literatura da área e a se concretizar na escola, possibilitando que os professores e as professoras reflitam sobre formas de problematizar a temática a partir da fundamentação teórica produzida pela promoção da saúde.

Nesse contexto, identificamos que o principal foco das discussões está no currículo, ou seja, na escolha do que deve ser aprendido pelos(as) estudantes. Como resultado, muitos temas têm sido propostos, mantendo-se ainda o predomínio de conhecimentos sobre as implicações do exercício físico ou da atividade física no organismo humano. Porém, conhecimentos originados em outras dimensões da saúde também têm sido propostos com mais constância.

São mais frequentes os estudos diagnósticos, nos quais se investiga como a relação entre saúde e EF tem se estabelecido nas escolas e, para atingir este objetivo, os professores e as professoras são os informantes preferidos. Porém, para realizar este diagnóstico é necessário que os pesquisadores e as pesquisadoras se aproximem do contexto escolar.

A proximidade com a escola marca os estudos de intervenção, que analisam ações implementadas no cotidiano escolar. Porém, o lugar ocupado por professores e professoras nessas pesquisas causa preocupação. Infelizmente, a maior parte dos estudos reserva aos(às) docentes o papel de executores de propostas construídas por pesquisadores e pesquisadoras. Às vezes, nem este lugar lhes é destinado. Nessa medida, se desconsidera a ação de professores e professoras na produção do conhecimento sobre sua prática, principal instrumento para transformá-la.

Talvez as escolhas de pesquisadores e pesquisadoras seja resultado da forma como eles e elas concebem a escola, concepção esta que raramente é explicitada. Enquanto a reflexão sobre a concepção de saúde ocupa espaço relevante na maior parte dos estudos analisados, raros são aqueles que analisam em profundidade a concepção de escola que fundamenta a proposição adotada ou a pesquisa realizada. Se considerarmos que esses estudos tratam, de forma direta ou indireta, da construção do currículo da EFE, é uma incoerência que muitos deles não analisem ou, ao menos, manifestem que escola desejam construir.

Com a perspectiva do propor um debate para a área, acreditamos ser propícia a aproximação entre a produção acadêmica da Saúde Coletiva e da EFE, na qual os fatores sociais, econômicos, culturais, étnicos/raciais, psicológicos e comportamentais que influenciam a ocorrência de problemas de saúde e seus fatores de risco na população podem ser problematizados com os estudantes nas aulas do componente curricular na Educação Básica, evidenciando o caráter coletivo, social e complexo desse fenômeno.

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  • FINANCIAMENTO

    O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior -Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001 This study was financed in part by the Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Finance Code 001.

Editado por

RESPONSABILIBADE EDITORIAL

Alex Branco Fraga*, Elisandro Schultz Wittizorecki*, Ivone Job*, Mauro Myskiw*, Raquel da Silveira*
*Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Escola de Educação Física, Fisioterapia e Dança, Porto Alegre, RS, Brasil

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    08 Mar 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    26 Ago 2020
  • Aceito
    18 Nov 2020
  • Publicado
    18 Fev 2021
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