Acessibilidade / Reportar erro

O TRABALHO E O USUFRUTO DO TEMPO LIVRE/LAZER PARA OS PROFESSORES EM SARANDI/PR: DA COMPENSAÇÃO À CONFORMAÇÃO

WORK AND USE OF FREE TIME/LEISURE FOR TEACHERS IN SARANDI, PARANÁ: FROM COMPENSATION TO CONFORMITY

EL TRABAJO Y EL USO DEL TIEMPO LIBRE/OCIO PARA LOS PROFESORES EN SARANDI/PARANÁ: DE LA COMPENSACIÓN A LA CONFORMIDAD

Resumo

Este estudo analisou as determinações do trabalho dos professores da rede municipal de Sarandi, estado do Paraná, no Brasil, materializadas nas suas práticas de tempo livre/lazer. Esse tipo de trabalho tem se mostrado, a cada dia, mais precarizado e intensificado. Disso decorrem necessidades tanto no âmbito do cuidado com a saúde desses trabalhadores, quanto na realização de atividades compensatórias por meio do usufruto do tempo livre/lazer. Por meio de entrevistas semiestruturadas, identificamos que os professores têm jornada de trabalho ampliada com salários cada vez mais reduzidos e perda de direitos garantidos. Além disso, se deparam com deficiências na estrutura física e pedagógica da escola. Esses elementos demonstraram exercer forte influência no nível de saúde e nas escolhas e possibilidades de ocupação do tempo livre/lazer desses profissionais, tornando o tempo cronometrado, ajustado e limitado em suas possibilidades emancipatórias tanto dentro quanto fora do trabalho.

Palavras-chave:
Professores escolares; Categorias de trabalhadores; Saúde do trabalhador; Atividades de lazer

Abstract

This study examined determinations of teachers’ work at municipal schools in Sarandi, Paraná, Brazil, focused on their free time/leisure practices. This type of work has become increasingly precarious and intense, resulting in needs both in terms of these workers’ health care and in compensatory activities using free time/leisure. Through semi-structured interviews, we found that teachers work long shifts while earning increasingly low wages and losing established rights, but they also face challenges in schools’ physical and pedagogical structure. These aspects have a strong influence on their level of health and their choices and possibilities for occupying their free time/leisure. Their time is controlled, tight and restricted in their emancipatory possibilities both at work and during time off.

Keywords:
School teachers; Occupational groups; Occupational health; Leisure activities

Resumen

El estudio analizó las determinaciones del trabajo de los profesores de la red municipal de Sarandi, Estado de Paraná, en Brasil, materializadas en sus prácticas de tiempo libre/ocio. Ese tipo de trabajo se ha mostrado, a cada día, más precarizado en recursos y se ha intensificado en horas. De ello devienen necesidades en el ámbito del cuidado con la salud de esos trabajadores, además de la necesidad de realizar actividades compensatorias a través del disfrute del tiempo libre y de ocio. A través de entrevistas semiestructuradas, identificamos que los profesores tienen una jornada de trabajo ampliada, con salarios cada vez más reducidos y pérdida de derechos antes garantizados. Además, enfrentan deficiencias en la estructura física y pedagógica de la escuela. Esos elementos ejercen fuerte influencia en el nivel de salud y en las elecciones y posibilidades de ocupación del tiempo libre de esos profesionales, haciendo que el tiempo libre sea cronometrado, ajustado y limitado en sus posibilidades emancipadoras, tanto dentro como fuera del trabajo.

Palabras clave:
Maestros; Categorías de trabajadores; Salud del trabajador; Actividades recreativas

1 INTRODUÇÃO

Este estudo analisou as determinações objetivas do trabalho dos educadores da educação infantil da rede municipal do município de Sarandi/PR, na relação direta e indireta, tanto com o grau de sua saúde quanto com as escolhas e usufruto de seu tempo livre/lazer. Consideramos e afirmamos as condições de trabalho desses professores, cada dia mais precarizadas, potencializadas pelo aumento da intensidade e jornada de trabalho, ocasionando diversos desequilíbrios nas relações familiares e sociais e do comprometimento da sua saúde física e mental.

Esses trabalhadores não se excluem do avanço das políticas neoliberais cada vez mais crescentes, não só no Brasil, mas internacionalmente, possibilitando desdobramentos nos diversos conflitos sociais e de classe, partindo desde o ataque aos seus direitos trabalhistas, historicamente conquistados, perpassando pela precarização e alta carga de trabalho, demandando do trabalhador diversas tarefas num curto espaço de tempo (OLIVEIRA, POCHMANN, 2020OLIVEIRA, Dalila Andrade; POCHMANN, Márcio (org.). A devastação do trabalho: a classe do labor na crise da pandemia. Brasília: Positiva: CNTE/Grupo de Estudos sobre Política Educacional e Trabalho Docente, 2020.; ANTUNES 2009ANTUNES, Ricardo. Os sentidos do trabalho: ensaio sobre a firmação e a negação do trabalho. 12 ed. São Paulo: Boitempo, 2009.; ABRAMIDES, CABRAL, 2003ABRAMIDES, Maria Beatriz Costa; CABRAL, Maria do Socorro Reis. Regime de acumulação flexível e saúde do trabalhador. São Paulo em Perspectiva, v. 1, n. 17, 2003. https://doi.org/10.1590/S0102-88392003000100002.
https://doi.org/10.1590/S0102-8839200300...
; BARROSO, 1997BARROSO, Sérgio. Neoliberalismo e Movimento Sindical, 1997. Princípios: Revista Teórica, Política e de Informação, n. 46, p. 45-49, 1997. Disponível em: http://revistaprincipios.com.br/artigos/46/cat/1569/neoliberalismo-e-movimento-sindical-.html. Acesso em: 01 set. 2019.
http://revistaprincipios.com.br/artigos/...
).

Diversas reformas coordenadas pelo Estado1 1 Consideramos não somente aquelas em que o Estado atua diretamente, mas também aquelas ações neoliberais organizadas por instituições não estatais sob princípios burgueses/capitalistas, tais como Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional, o conglomerado FIESP-CIESP-SESI-SENAI-IRS, Confederação Nacional das Indústrias, dentre outras vêm se desenvolvendo, destacando-se a reforma trabalhista (Lei 13.467/2017) promulgada em julho de 2017 alterando as leis da CLT, previdência, mudanças nas leis de pensão por morte, invalidez e mudanças nas aposentadorias de servidores públicos, professores e policiais e, também, a lei de liberdade econômica n° 13.874/19, que flexibiliza e libera o trabalho aos dias de domingo e feriados de todas as categorias sem autorização do poder público (BRASIL, 2019b, 2017).

Decorrente disso, a área educacional é uma das que mais perde direitos e recursos2 2 CARVALHO, Letícia. Capes corta 5.613 bolsas... G1, 2 set. 2019. Disponível em: https://g1.globo.com/educacao/noticia/2019/09/02/capes-deixa-de-oferecer-5613-bolsas-a-partir-deste-mes-e-preve-economia-de-r-544-milhoes-em-4-anos.ghtml. Acesso em: 10 set. 2020. . No estado do Paraná, a categoria de servidores estaduais reivindica a reposição salarial que já ultrapassa 17% de perdas acumuladas, conforme o Fórum das Entidades Sindicais do PR - FES, junto com outras pautas, como a renovação dos contratos de professores temporários e reposição do quadro de professores efetivos, a tentativa massiva do estado em implementar a Lei Geral das Universidades (LGU), o programa Meta 4, que retira a autonomia das universidades e várias outras frentes que implicam o desmantelamento do ensino público (COMANDO, 2019; GATTI, 2019GATTI, Murilo. Sindicatos que representam servidores estaduais ameaçam greve geral a partir de 25 de junho. Governo está com contas apertadas. Maringá Post, 6 jun. 2019. Disponível em: https://maringapost.com.br/cidade/2019/06/06/sindicatos-que-representam-servidores-estaduais-ameacam-greve-geral-a-partir-de-25-de-junho-governo-esta-com-contas-apertadas/. Acesso em: 22 dez. 2019.
https://maringapost.com.br/cidade/2019/0...
; TENENTE, FIGUEIREDO, 2019TENENTE, Luiza; FIGUEIREDO, Patrícia. Entenda o corte de verba das universidades federais e saiba como são os orçamentos das 10 maiores. G1, 15 maio 2019. Disponível em: https://g1.globo.com/educacao/noticia/2019/05/15/entenda-o-corte-de-verba-das-universidades-federais-e-saiba-como-sao-os-orcamentos-das-10-maiores.ghtml. Acesso em: 28 jul. 2020.
https://g1.globo.com/educacao/noticia/20...
; ABONIZIO, 2012ABONÍZIO, Gustavo. Precarização do trabalho docente: apontamentos a partir de uma análise bibliográfica. Revista eletrônica: LENPES-PIBID de ciências sociais-UEL, v. 1, jan/jun. 2012. Disponível em: http://www.uel.br/revistas/lenpes-pibid/pages/arquivos/1%20Edicao/1ordf.%20Edicao.%20Artigo%20ABONIZIO%20G.pdf. Acesso em: 01 set. 2019.
http://www.uel.br/revistas/lenpes-pibid/...
).

Quando esses ataques são trazidos para o âmbito do ensino municipal, identificamos as condições de trabalho precárias, o elevado número de alunos por turmas, a falta de amparo pedagógico, os baixos salários e a desvalorização da profissão (GASPARINI, BARRETO, ASSUNÇÃO, 2005GASPARINI, Sandra Maria; BARRETO, Sandhi Maria; ASSUNÇÃO, Ada Ávila. O professor, as condições de trabalho e os efeitos sobre sua saúde. Educação e Pesquisa, v.31, n. 2, p. 189-199, maio/ago. 2005.; CODO, 1999CODO, Wanderley. Educação: Educação carinho e trabalho. Petrópolis: Vozes, 1999.). Essas questões possibilitaram um alto crescimento de afastamento de professores por motivos de saúde, com prevalência em transtornos psíquicos como: síndrome de Burnout, transtornos de ansiedade generalizada, doenças depressivas, exaustão emocional (SILVA, LOUREIRO, 2018SILVA, Nilson Rogério; SILVA, Alessandra Turini Bolsoni; LOUREIRO, Sonia Regina. Burnout e depressão em professores do ensino fundamental: um estudo correlacional. Revista Brasileira de Educação, v. 23, e230048, 2018. DOI: https://doi.org/10.1590/s1413-24782018230048.
https://doi.org/10.1590/s1413-2478201823...
; SILVA, ROSSO, 2008; GASPARINI, BARRETO, ASSUNÇÃO, 2005; CODO, 1999).

A partir deste cenário, constatamos a necessidade de investigar a realidade objetiva vivida pelos professores e professoras do município de Sarandi/PR, não somente preocupados com as condições de trabalho, mas também com suas atividades realizadas no seu tempo livre/lazer, pois trata-se de um tempo que, no modo de produção capitalista, se apresenta como funcionalista e compensatório frente aos desequilíbrios ocasionados pelas condições de vida e de trabalho no capitalismo (PEIXOTO, 2008PEIXOTO, Elza. O serviço de recreação operária e o projeto de conformação da classe operária no Brasil. Pro-Posições, v.19, n.1, p.115-140, 2008. DOI: https://doi.org/10.1590/S0103-73072008000100015. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-73072008000100015&script=sci_abstract&tlng=pt. Acesso em: 7 abr. 2021.
https://doi.org/10.1590/S0103-7307200800...
, 2007; OLIVEIRA, 2005OLIVEIRA, Rogerio Massarotto. A cultura do fandango no litoral do Paraná e suas relações entre trabalho, cultura popular e lazer na sociedade capitalista. 2005. 190 f. Dissertação (Mestrado em Educação Física) - Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2005.; PADILHA, 2003PADILHA, Valquíria. Se o trabalho é doença, o lazer é remédio? In: MÜLLER, Ademir; DACOSTA, Lamartine Pereira. Lazer e Trabalho - um único ou múltiplos olhares? Santa Cruz do Sul/RS: EDUNISC, 2003. p. 243-266.).

O interesse em analisar a articulação entre o tempo de trabalho e o tempo de não trabalho (lazer/tempo livre) emerge, inicialmente, de que aparecem como distintos, mas que se desenvolvem dentro de uma unidade, na qual o tempo livre fica sob dependência do tempo de trabalho e das condições em que esse último se objetiva. Nesse sentido, reforçamos a compreensão que só podem ser separados ou entendidos como antagônicos, ou no plano da aparência ou no plano da ideia.

A realidade concreta, objetivamente posta, exige a unidade entre trabalho e lazer, de forma a superar o que a aparência exibe, de que lazer é antagônico a trabalho, onde, no plano imediato, sem análise científica, implica achar que se sustentam sob bases diferentes (OLIVEIRA, 2005OLIVEIRA, Rogerio Massarotto. A cultura do fandango no litoral do Paraná e suas relações entre trabalho, cultura popular e lazer na sociedade capitalista. 2005. 190 f. Dissertação (Mestrado em Educação Física) - Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2005.; PADILHA, 2003PADILHA, Valquíria. Se o trabalho é doença, o lazer é remédio? In: MÜLLER, Ademir; DACOSTA, Lamartine Pereira. Lazer e Trabalho - um único ou múltiplos olhares? Santa Cruz do Sul/RS: EDUNISC, 2003. p. 243-266.). Rompemos com essa compreensão a partir da determinação do trabalho sobre as ocupações do sujeito no seu tempo de não trabalho. É o próprio trabalho que permite aos trabalhadores mensurar, dosar, reduzir, comprimir e equalizar seu tempo, mas somente fora do âmbito do trabalho, uma vez que, no trabalho, quem determina a organização do tempo e das ações não é o trabalhador, mas sim seu patrão (OLIVEIRA, 2005).

A partir dessas problematizações, formulamos a seguinte pergunta de partida: quais são as determinações objetivas do trabalho dos docentes no âmbito da educação infantil da rede municipal de Sarandi/PR na escolha e usufruto do seu tempo livre/lazer?

A partir dessa questão, outras se desdobraram: 1- Quais as características essenciais do trabalho do professor do ensino infantil da rede municipal de Sarandi/PR? 2 - Quais os direitos trabalhistas dos professores da rede municipal de Sarandi que estão assegurados e qual a possibilidade de melhoria das condições de trabalho? 3- Como está configurado/organizado o tempo de não trabalho (tempo livre) dos professores da educação infantil da rede municipal de Sarandi/PR?

2 METODOLOGIA

Esta pesquisa buscou amparo metodológico nas caracterizações de um estudo de cunho qualitativo-descritivo, no qual adotou o estudo de campo amparado pelos conceitos ampliados de saúde3 3 Adotamos o conceito de saúde, sustentado em Batistella (2007), que defende que “em sentido amplo, a saúde é a resultante das condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso aos serviços de saúde. Sendo assim, é principalmente resultado das formas de organização social, de produção, as quais podem gerar grandes desigualdades nos níveis de vida” (BRASIL, 1986, p. 4 apudBATISTELLA, 2007, p. 64). , advindos das ciências sociais e que visa à busca de respostas sobre o desenvolvimento, contradições e todos os contextos da sociedade (MINAYO, 2002MINAYO, Maria Cecilia de Souza (org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 21. ed. Petrópolis: Vozes, 2002.).

Para responder à pergunta de partida, utilizamos entrevistas semiestruturadas4 4 Conforme Minayo (2002, p. 66), na entrevista, “precisa incorporar o contexto de sua produção e, sempre que possível, ser acompanhada e complementada por informações provenientes de observação participante. Um dos pesquisadores tem na família um trabalhador da rede municipal de educação de Sarandi/PR e que contribuiu muito para compreender o contexto da pesquisa. como técnica de pesquisa, compostas por 15 perguntas subdividas em três eixos5 5 I-Trabalho, II- Condições de trabalho, III- Tempo livre. principais, relativos às três perguntas desdobradas. As entrevistas foram aplicadas em grupo (focal) e de forma individual, com local e horário definidos pelos entrevistados, sendo eles professores da rede municipal de Sarandi, com faixa etária entre 30 e 50 anos e tempo de experiência no trabalho entre 1 e 18 anos. Nas conversas, buscamos extrair o máximo de informações sobre a realidade dos sujeitos, sendo gravadas pelo do celular Xiaomi MI 9T. Cada voluntário ainda assinou um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), contendo todas as informações necessárias sobre a pesquisa, além dos contatos (e-mails e celulares) dos pesquisadores.

Com o aceite, as entrevistas gravadas foram transcritas na íntegra utilizando o programa de áudio VLC Mídia Player e de texto Microsoft Office Word 2019. Logo após a transcrição de todos os áudios efetuamos o processo de categorização conforme a técnica de análise de conteúdo e de análise do discurso (BARDIN, 1977BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. Lisboa, Edições 70, 1977.), chegando até as seguintes categorias teóricas: trabalho precário, saúde do trabalhador, tempo livre/trabalho e lazer6 6 Essas categorias teóricas emergiram de um processo de seleção das falas transcritas, tanto quantitativa quanto qualitativamente, definidas pela importância e significados apresentados pelos entrevistados. . Estas permitiram a correlação e articulação entre as falas dos entrevistados e os referenciais teóricos utilizados.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Para o início das análises buscamos amparo na unidade das concepções de trabalho, tempo livre e lazer, e não naquelas que analisam essas categorias como se fossem antagônicas, mas complementares, em que o tempo livre parece como antagônico ao trabalho, carregando as compreensões do historiador Johan Huizinga, que defende a centralidade do lúdico na vida humana (OLIVEIRA, 2017OLIVEIRA, Rogerio Massarotto. A organização do trabalho educativo com o jogo na formação de professores de educação física. 2017. 260f. Tese (Doutorado em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2017.).

De acordo com Vega (1979VEGA, José Luís Garcia. Ócio e turismo. São Paulo: Salvat, 1979.), que se ampara cientificamente nos escritos marxianos, o conceito de tempo livre, se utilizando de Marx, só pode se caracterizar tempo livre aquele tempo que permite o desenvolvimento das qualidades humanas e suas potencialidades.

Nessa direção, cabe apontar que o capitalismo não rege apenas o tempo de trabalho da sociedade, mas, também, o tempo livre das pessoas e determina atividades “benéficas” para a população (PADILHA, 2003PADILHA, Valquíria. Se o trabalho é doença, o lazer é remédio? In: MÜLLER, Ademir; DACOSTA, Lamartine Pereira. Lazer e Trabalho - um único ou múltiplos olhares? Santa Cruz do Sul/RS: EDUNISC, 2003. p. 243-266.). No modo de produção capitalista, a concepção funcionalista de lazer se apresenta articulada ao intuito de manter a hegemonia e equilíbrio da sociedade dividida por classes (OLIVEIRA, 2005OLIVEIRA, Rogerio Massarotto. A cultura do fandango no litoral do Paraná e suas relações entre trabalho, cultura popular e lazer na sociedade capitalista. 2005. 190 f. Dissertação (Mestrado em Educação Física) - Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2005.; PADILHA, 2003).

A partir disso, na década de 1960, o estudo do lazer passa a ser sistematizado com forte influência das políticas públicas que influenciaram diretamente a área da Educação Física e de recreador (GOMES, 2004GOMES, Christianne Luce. Dicionário crítico do lazer. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.). Começam a emergir nessa época cartilhas para formação de técnicos em recreação, alguém que poderia fornecer, de maneira eficaz, um vasto repertório de atividades com caráter hedonístico e compensatório para a população de trabalhadores em praças, hotéis, acampamentos e clubes em seus momentos de lazer (GOMES, 2004; MARCELLINO, 2002MARCELLINO, Nelson Carvalho. Repertório de atividades de recreação e lazer: para hotéis, acampamentos, prefeituras, clubes e outros. Campinas: Papirus, 2002.,1997).

Assim o “tempo livre” apresenta-se, genericamente, sob a lógica dos “3Ds” de Joffre Dumazedier (1980DUMAZEDIER, Joffre. Valores e conteúdos culturais do lazer. São Paulo: Sesc, 1980.), na qual o descanso, o desenvolvimento e o divertimento são as funções do lazer na sociedade contemporânea (OLIVEIRA, 2017OLIVEIRA, Rogerio Massarotto. A organização do trabalho educativo com o jogo na formação de professores de educação física. 2017. 260f. Tese (Doutorado em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2017.). Desta compreensão, emergem as finalidades de que o lazer/tempo livre assumem papel reequilibrador dos desequilíbrios causados pela vida do trabalhador assalariado (OLIVEIRA, 2005).

A influência paisagista e arquitetônica passa a ser fortemente implementada nos bairros e comunidades, desde a construção de praças até o aparecimento de associações de operários e outros espaços públicos para a sociedade desfrutar do seu momento de não trabalho (MONTENEGRO, 2011MONTENEGRO, Gustavo Maneschy. Políticas públicas do lazer: um enfoque na formação. EFDeportes.com, ano 16, n. 156, maio 2011. Disponível em: https://www.efdeportes.com/efd156/politicas-publicas-do-lazer-na-formacao.htm. Acesso em: 22 dez. 2019.
https://www.efdeportes.com/efd156/politi...
).

A relação dessas políticas públicas voltadas à organização do tempo da classe trabalhadora tem papel direto no grau de produção e produtividade no trabalho, conforme aponta Peixoto (2007PEIXOTO, Elza. Estudos do lazer no Brasil: apropriação da obra de Marx e Engels. Tese (Doutorado em Educação) - Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação, Campinas, 2007.) quando analisa o papel da recreação operária na organização do trabalho no Brasil, desde a década de 1930. As escolhas sobre as possibilidades de ocupação do tempo de não trabalho se dão de maneira direta, com o grau do avanço das forças produtivas e, consequentemente, do desgaste ocasionado pelo trabalho intenso e precário que se avoluma historicamente (PEIXOTO, 2007PEIXOTO, Elza. Estudos do lazer no Brasil: apropriação da obra de Marx e Engels. Tese (Doutorado em Educação) - Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação, Campinas, 2007.; OLIVEIRA, 2005OLIVEIRA, Rogerio Massarotto. A cultura do fandango no litoral do Paraná e suas relações entre trabalho, cultura popular e lazer na sociedade capitalista. 2005. 190 f. Dissertação (Mestrado em Educação Física) - Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2005.).

Nessa direção, nos importa investigar como essa relação se apresenta para os indivíduos investigados, uma vez que estão contidos no âmbito da educação em sua redução histórica no que se refere à função social e, também, no âmbito do trabalho precário assalariado.

As falas apontaram que a jornada de trabalho é extremamente elevada quando comparada com o tempo de trabalho de 8 horas, acarretando acúmulo de trabalho, no qual, para dar conta das demandas das tarefas pedagógico-profissionais, precisam ser continuadas em suas residências, como demonstra a fala a seguir.

No começo, quando eu entrei, eu levava quase todos os dias pra casa, agora já estamos mais acostumadas, mas mesmo assim a gente acaba levando pra casa, pra fazer pesquisa, ou alguma coisa que não dá tempo de fazer aqui, a gente sempre está pesquisando coisas a mais, além para o aluno e acaba tendo que fazer em casa. (ENTREVISTADA 1, ENTREVISTA B).

Esse tema predomina nas demais entrevistas, que corroboram a realidade em que vivemos atualmente, na qual as decisões políticas de cunho neoliberais estão cada vez mais ativas forçando o trabalhador a altas jornadas de trabalho em um espaço de tempo de trabalho não condizente com sua jornada, ou seja, sempre a jornada de trabalho excedendo o tempo de trabalho (OLIVEIRA, POCHMANN, 2020OLIVEIRA, Dalila Andrade; POCHMANN, Márcio (org.). A devastação do trabalho: a classe do labor na crise da pandemia. Brasília: Positiva: CNTE/Grupo de Estudos sobre Política Educacional e Trabalho Docente, 2020.; ANTUNES, 2009ANTUNES, Ricardo. Os sentidos do trabalho: ensaio sobre a firmação e a negação do trabalho. 12 ed. São Paulo: Boitempo, 2009.).

Além disso, na maioria das falas, constatam-se inquietações sobre a baixa remuneração e ausência de benefícios e estímulos para a permanência na profissão. Além da baixa remuneração, que de acordo com a opinião dos entrevistados não está de acordo com a realidade de sua jornada de trabalho, há também a questão do baixo efetivo de professores para comportar a demanda excessiva de tarefas reportadas por eles.

Portanto, a hora atividade7 7 A hora atividade é uma das medidas de tempo de trabalho do professor. Refere-se aquela ação que corresponde à dedicação fora da sala de aula, voltada para organização do trabalho pedagógico. , que é garantida por lei para desenvolver atividades docentes, tais como fazer um planejamento mais adequado para os alunos, preparar aulas e estudar, se caracteriza, atualmente, pela substituição dos professores ausentes (por afastamento médico, faltas e outras causas) e que passam a assumir uma sala na qual a turma não pertence a ele.

A Coordenadoria de Recursos Humanos do Município cordialmente nos ofereceu os dados necessários para confirmar tais afirmações. No ano de 2019, até novembro, 404 atestados foram protocolados na secretaria por professores, sendo: professores 40h (76), professores 20h (259), educadores infantis (59) e coordenadores pedagógicos (10), conforme a Tabela 1.

Tabela 1
Quantidade de atestados médicos protocolados em 2019 (janeiro a outubro) na Coordenadoria de Recursos Humanos do município de Sarandi, com data de seis dias ou mais.

Cabe ressaltar ainda que, segundo o documento, por meio da lei 10/92 do estatuto do servidor municipal, só são apresentados atestados nesta secretaria de 6 dias ou mais. Os atestados médicos de 5 dias ou menos ficam protocolados diretamente na secretaria de educação do município, ou seja, esses dados apenas apontam um fragmento das solicitações médicas. Ademais, os dados apresentados na Tabela 1, corroboram as falas apresentadas, a seguir, pelos entrevistados:

[...] eu tenho sofrido bastante, já precisei procurar psiquiatra, já fui afastada quinze dias antes das férias, entrei com medicação, fiquei de férias, retornei, pensei que estava um pouco melhor, mas aí ficou pior novamente, pânico não querendo entrar dentro de sala de aula, tive problemas com aluno que precisei até atuar junto à guarda municipal e fazer um B.O. [...] e isso acarretou problemas sérios de pânico, de não querer mais ir para escola, de ficar chorando toda hora, e tive que retornar psiquiatra novamente, fui afastada novamente mais doze dias estou em tratamento ainda, mas ainda não estou bem, porque ainda tenho crises de pânico dentro da sala [...] (ENTREVISTADA 1, ENTREVISTA A), (grifos nossos);

[...] mas eles falam que a falta de professor está demais, que tem muito professor de atestado, então é sempre, é mais ou menos essa história [...] (ENTREVISTADA 2, ENTREVISTA B), (grifos nossos).

A quantidade dos atestados de 6 dias ou mais (404 casos) demonstra que algo afeta a saúde dos trabalhadores. Não nos aprofundamos nem no grau dessa determinação, tampouco na especificidade das solicitações, se dizem respeito a doenças mentais ou físicas, porém, exige atenção pela quantidade de afastamentos que, por sua vez, passa a exigir mais trabalho de quem não solicitou atestados/afastamentos.

Constatamos, também, que professores com jornada de 40 horas semanais apresentam um número muito menor (19%) de atestados quando comparados aos professores com jornada de 20 horas semanais (64%), como exemplifica a Figura 1, a seguir.

Figura 1
Porcentagem do número de atestados por categorias, de um total de 404.

De acordo com as entrevistas, os professores com T-20 fazem dobras de horários para cobrir o baixo efetivo de professores e a alta demanda de serviços, explicando, assim, a quantidade elevada de pedidos quando comparados com professores T-40. Salientamos a necessidade de maior aprofundamento nessa questão que, devido aos limites desta pesquisa, não permitiram analisar a relação entre o número de professores de T-20 que fazem dobras e até mesmo os contratos de professores de T-20 e T-40 para comparação, por exemplo.

Porém, diante desses fatos, nos inquietamos sobre o grau de satisfação no trabalho executado e indagamos sobre as perspectivas futuras na profissão, seja pelos direitos trabalhistas, ou se, nos dias de hoje, escolheriam outra profissão se pudessem. As respostas que destacamos foram:

[...] há cinco anos e eu já quero mudar de profissão eu não quero isso para mim, na verdade eu acho que é uma profissão séria fadada à extinção. [...] eu tenho a segunda graduação, fiz na área da educação, mas se fosse hoje não escolheria devido, assim, a esse alto estresse que a gente está passando em sala de aula, mas não tenho em mente assim outra coisa assim que eu faria, mas não queria mais a área da educação (ENTREVISTADA 1, ENTREVISTA A, B e C).

Escolheria, aí eu faria outra coisa não relacionado a educação, porque a educação já está tão mal vista [...] sempre penso em nutrição, alguma coisa direcionada a isso, eu acho legal [...] Na verdade não estou vendo futuro não (ENTREVISTADA 2, ENTREVISTA C).

Identificamos que há um desgaste físico e psíquico vivido por estes profissionais no dia a dia, levando grande parte dos entrevistados a escolher outra carreira, por conta da rotina pesada e extenuante8 8 Essa característica dos trabalhadores no século XXI, conforme apontada por Oliveira e Pochmann (2020) e Antunes (2018), é demonstrada em várias matérias midiáticas. Dentre elas, destacamos sobre a intensidade do trabalho dos professores durante a pandemia: BEATRIZ, Rebeca. Agora precisamos trabalhar em dobro... G1, 6 ago, 2020. Disponível em: https://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2020/08/06/agora-precisamos-trabalhar-em-dobro-diz-educadora-apos-um-mes-de-escolas-abertas-com-ensino-hibrido-em-manaus.ghtml. Acesso em: 17 ago. 2020. Reportagem realizada pelo G1 sobre a configuração do trabalho no ensino híbrido de professores em Manaus, durante o período de pandemia Covid-19. .

No campo dos direitos trabalhistas, reflete-se também o cenário atual que vivemos hoje, quanto à nova reforma da previdência, que impulsionou outra mudança na aposentadoria de professores que passa a valer para professores da rede pública na faixa etária de 57 anos de idade para mulheres e 60 anos para homens, com tempo de contribuição de 25 anos, sendo dez anos no serviço público e cinco anos no cargo que for concedida a aposentadoria (BRASIL, 2019a).

Nesse sentido, nos deparamos com outra ação de desmanche quanto ao interesse em permanecer na profissão ou de se esforçar para manter ou ampliar a qualidade no âmbito do trabalho do professor.

É assim, com essa mudança trabalhista tá mais difícil, e a gente, é eu não consigo me ver trabalhando trinta anos dentro de uma sala de aula, não consigo, porque com cinco, seis quase que eu tenho, já estou muito cansada (ENTREVISTADA 1, ENTREVISTA B).

Constatamos em todas as entrevistas e em vários momentos, que esses trabalhadores e trabalhadoras reconhecem a desvalorização de seu trabalho, tanto pela sociedade quanto pelo poder público. Apontam desde o salário muito baixo, o vale-alimentação insuficiente, o trabalho muito estressante e inseguro, muita cobrança e pouco retorno por parte da secretaria de educação. Além disso, seus direitos trabalhistas tendem a ficar piores ou até mesmo acabar, como demonstrado nas falas a seguir:

[...] para mim teria que melhorar salário, teria que ser mais bem vista, [...] eu acredito que eles estão fadados à extinção por uma série de fatores [sobre os cursos de licenciatura nas universidades] aí que envolve governo que não tá amparando as escolas, as universidades estaduais públicas, então isso implica em caçar vários cursos em não abrir mais vagas, porque depende de custos isso né, custos de professora, é custo de local, é tudo, e como para nosso governo não é interessante que existem alunos pensantes, que existem alunos críticos, alunos capazes de pensar, e de ir contra o governo de debater, então ele simplesmente eles cortam (ENTREVISTADA 1, ENTREVISTA A), (grifos nossos).

[...] eu só acho que tem que ser mais valorizada, em todos os aspectos. [...] Destruído e acabado [sobre os direitos trabalhistas dos professores] . Está uma situação difícil. Eu não sei o futuro do país em relação à educação não. (ENTREVISTADA 2, ENTREVISTA D), (grifos nossos).

[...] falta de verba é um dos primeiros e a falta de vontade de governantes.[...] vai ser bem difícil no futuro vão ter poucos professores, né, a visão que a gente tem assim é que eles não dão valores na profissão, então se eles não dão valor agora imagina no futuro como que vai ser. [...] em primeiro o salário né [resposta concedida quando a entrevistada foi questionada sobre o que poderia melhorar na sua profissão] a maneira de todo mundo vê a educação que hoje em dia eles tratam o professor como nada [...] (ENTREVISTADA 1, ENTREVISTA E), (grifos nossos).

Esses aspectos são pequenos trechos de vários outros que aparecem conforme o decorrer das entrevistas, que demostram um determinado nível de percepção da realidade da profissão e da realidade em que vivem enquanto trabalhadores assalariados submetidos ao Estado neoliberal.

Isso nos inquietou, uma vez que diz respeito à compreensão desses trabalhadores sobre a importância da mobilização política para o enfrentamento dessas adversidades no âmbito do trabalho do professor. Para reforçar essa análise, fizemos um levantamento, a partir das informações coletadas na internet, de notícias sobre greve ou reivindicações dos professores de Sarandi e encontramos duas notícias. A primeira aponta que a prefeitura, no ano de 2014, fez um reajuste do piso salarial de acordo com as reivindicações da classe, e a segunda, sobre uma proposta protocolizada pela vereadora Eliana Trautwein (PCdoB) que fazia parte da secretaria de educação no município e que propôs a redução do piso salarial para cargos de vereadores, vice-prefeito e prefeito, ao equivalente a um salário de professor 40 horas semanais ou mais, dependendo do cargo ocupado (DINIZ NETO, 2018DINIZ NETO. O Assunto é Política: Vereadora quer reduzir salários de vereadores e do prefeito em Sarandi. CBN Maringá, 11 dez. 2018. Disponível em: http://cbnmaringa.com.br/noticia/vereadora-quer-reduzir-salarios-de-vereadores-e-do-prefeito-em-sarandi. Acesso em: 23 jan. 2020.
http://cbnmaringa.com.br/noticia/vereado...
; SARANDI, 2014).

Além disso, localizamos na página do sindicato dos servidores do município de Sarandi (SISMUS), onde parecem ser combativos nas reivindicações da categoria, duas campanhas salariais datadas dos anos de 2017 e 2019/2020, que disseram respeito à campanha sobre o aumento do auxílio-alimentação tão contestado nas entrevistas9 9 Disponível em: https://www.facebook.com/events/385536628924565/ Acesso em: 12 ago.2020. , mas também diversas outras pautas que são apresentadas em sua página (SISMUS, 2017; 2019a; 2019b).

Após conseguirmos reunir informações e análises sobre as condições de trabalho e entendendo que este é determinante para a organização do tempo do trabalhador fora do trabalho, uma vez que determina sua lógica de vida e sobrevida, buscamos analisar os desdobramentos dessas condições de trabalho frente ao tempo de não trabalho, seja como tempo livre ou lazer.

Os professores e professoras entrevistados demonstraram nas falas que suas compreensões situam o lazer como algo antagônico ao trabalho, no qual o lazer, para esses profissionais, tem característica funcionalista10 10 Entende-se como funcionalista algo compensatório, que, por sua vez, no ramo do lazer o trabalho é o agente estressante e cansativo e o lazer é o remédio para o trabalho e todos os malefícios que ele traz, isto é, o lazer, sob essa perspectiva, permite que o trabalhador recupere suas forças exauridas pelo trabalho e, assim, permaneça sob a égide do trabalho alienado (PADILHA, 2003). (PADILHA, 2003PADILHA, Valquíria. Se o trabalho é doença, o lazer é remédio? In: MÜLLER, Ademir; DACOSTA, Lamartine Pereira. Lazer e Trabalho - um único ou múltiplos olhares? Santa Cruz do Sul/RS: EDUNISC, 2003. p. 243-266.).

Essas compreensões sustentam o grau superficial de apreensão da realidade social, mantendo o antagonismo das compreensões de lazer, sustentadas a partir do que defende o sociólogo francês Joffre Dumazedier, o qual aponta que o lazer é um momento em que se pode desligar das funções e de sua rotina e espairecer, divertir-se, descansar de suas atividades obrigatórias profissionais (DUMAZEDIER, 1980DUMAZEDIER, Joffre. Valores e conteúdos culturais do lazer. São Paulo: Sesc, 1980.). Esse autor ainda aponta a prevalência de um lazer com caráter hedonístico, sendo esse papel atribuído ao lazer.

Neste aspecto, tanto o descanso físico quanto o mental e o divertimento como compensação da monotonia seguem de encontro com o que foi constatado nas falas dos entrevistados, quando dizem não ver a hora de chegar um feriado, férias ou finais de semana, para descansarem da rotina de trabalho semanal, reforçando o caráter funcionalista/compensatório do lazer para o(a) trabalhador(a), como apresentado nas falas das entrevistadas: “E resta o domingo para aí que você teria de folga para você descansar” (ENTREVISTADA 1, ENTREVISTA A); “sempre que tem um feriado alguma coisa prolongada, eu procuro fazer uma viagem, pra sair mesmo da rotina” (ENTREVISTADA 3, ENTREVISTA B); “eu vejo que estou precisando assim, eu tô precisando sair, a gente começou a se planejar pra sair, porque o stress, a canseira, vai acumulando” (ENTREVISTADA 1, ENTREVISTA B); “é um dia mais assim, de ficar mais deitada, bem preguiça” (ENTREVISTADA 2, ENTREVISTA B).

Contudo, tal concepção de lazer carrega uma concepção de trabalho que se antagoniza com as teorias que demonstram a unidade entre trabalho e tempo livre em que o segundo é determinado pelas condições objetivas apresentadas pelo primeiro (ANTUNES, 2009ANTUNES, Ricardo. Os sentidos do trabalho: ensaio sobre a firmação e a negação do trabalho. 12 ed. São Paulo: Boitempo, 2009.; PEIXOTO, 2007PEIXOTO, Elza. Estudos do lazer no Brasil: apropriação da obra de Marx e Engels. Tese (Doutorado em Educação) - Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação, Campinas, 2007.; OLIVEIRA, 2005OLIVEIRA, Rogerio Massarotto. A cultura do fandango no litoral do Paraná e suas relações entre trabalho, cultura popular e lazer na sociedade capitalista. 2005. 190 f. Dissertação (Mestrado em Educação Física) - Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2005.; MARX, 1981MARX, Karl. O capital. 3. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1981. Livro 3, v. 6). Aparece aqui, portanto, a compreensão empírica (e idealista) de que o lazer é o oposto ao trabalho, sem alcançar a compreensão que qualquer ação no tempo livre/lazer sempre estará determinada pelas condições de trabalho, uma vez que é o trabalho a atividade que permite garantir as condições de se estar vivo, no capitalismo ou em qualquer outra forma societal.

Nesse sentido, estamos de acordo com Antunes (2009ANTUNES, Ricardo. Os sentidos do trabalho: ensaio sobre a firmação e a negação do trabalho. 12 ed. São Paulo: Boitempo, 2009.) de que o primeiro passo para a superação da compreensão de que lazer é antagônico ao trabalho e que, se assim permanecer, não permite qualquer ação transformadora no âmbito do trabalho, se dá na luta pela redução da jornada de trabalho sem a redução de salário, para que, então, possamos pensar o tempo livre/trabalho de forma menos compensatória.

Ainda, quando indagadas sobre a frequência com que saem ou planejam viagens, entre outras questões voltadas ao tempo livre e, também, sobre outras atividades que realizam, encontramos:

[...] sempre procuro programar uma coisa assim, vejo bem antes, vejo quando vai começar as férias quando vai voltar, pra se desligar um pouco, ir para um lugar diferente, ver coisas diferentes, e na maioria das vezes acaba dando certo até por esse planejamento, né, então é isso (ENTREVISTADA 2, ENTREVISTA B);

[...] a gente começou a se planejar pra sair, porque o stress, a canseira, vai acumulando, então agora eu estou sentindo essa necessidade, e agora o ano que vem a gente vai viajar. (ENTREVISTADA 1, ENTREVISTA B) (grifos nossos);

No sábado geralmente eu vou no centro, eu não tenho filhos, dou uma saída com a minha mãe, no mercado, as vezes vou pra barzinho, na casa de amigos. Esse é meu ritmo de sábado. A de domingo, geralmente faço coisas da escola, eu faço outra pós, eu estudo também, vou à igreja, faço serviços de casa, vou lavar quintal, vou lavar carro. Vida normal, né. (ENTREVISTADA 1, ENTREVISTA C).

Para os entrevistados, ir ao shopping center e ir a bares beber são atividades de lazer (o que não deixa de ser), porém, situam-se numa visão empírica e simplista para o descanso e que em nada alcança a explicação de que essas atividades são determinadas pelas condições em que o tempo de trabalho se organiza. Isso corrobora as citações anteriores demonstrando o caráter funcionalista, ou seja, compensatório e recuperador de energias, que por sua vez não contribui efetivamente para o desenvolvimento social e humano de suas capacidades psíquicas, nem para alterar/superar as condições de trabalho.

Assim, fomenta o consumo no âmbito do lazer, em que nem todos têm acesso às “regalias” ou aos “benefícios” que o dinheiro traz, como aponta a fala da entrevistada 3 (entrevista B) “[...] não, esse final de semana eu vou viajar, daí não tem condições, porque realmente o salário não funciona”; e da entrevistada 1 (entrevista D): “[...] raramente, a gente até tenta, mas o dinheiro não dá. Ano passado eu fui, esse ano eu não vou.

A organização do processo de vida só se tornou possível a partir do momento em que os homens desenvolveram, para suas próprias necessidades, o símbolo regulador do ano. Porém salienta-se que a importância da necessidade de medir o tempo desenvolveu-se com a sociedade capitalista, pois, conforme avançou-se o processo de industrialização, se estabelece na figura do individuo um complexo de autorregulação e sensibilização em relação a esse tempo (ANTUNES, 2009ANTUNES, Ricardo. Os sentidos do trabalho: ensaio sobre a firmação e a negação do trabalho. 12 ed. São Paulo: Boitempo, 2009.). Na sociedade em seu modelo atual, o tempo age como um senhor absoluto, discreto ou até sendo imperceptível, ele estabelece uma pressão sobre as ações humanas, ou seja, mesmo que de forma inconsciente cria-se um padrão de glorificação do tempo.

Segundo Marx (1990MARX, Karl. Textos Filosóficos. São Paulo: Mandacaru, 1990., 1981) sobre tempo livre, define seu início como sendo onde se encerra a realização do trabalho determinado pela necessidade e a finalidade exterior; situando-o além da esfera da produtividade propriamente dita. Caracterizando que para poder se considerar tempo livre ele deve permitir o desenvolvimento das qualidades humanas. Dessa forma, como traz Antunes (2017ANTUNES, Ricardo. O socialismo, lutas sociais e novo modo de vida na América Latina. Revista Direito e Práxis, v. 8, n. 3, p. 2212-2226, 2017.), conciliar trabalho assalariado, fetichizado e estranhado com tempo livre, perante as condições objetivas postas se torna algo contraditório, pois, em alguma medida, a esfera fora do trabalho estará corrompida pelo processo de alienação que se dá no interior da vida laborativa.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por meio de um levantamento bibliográfico com as mesmas linhas epistemológicas definidas para o estudo, pudemos verificar que, de fato, as falas dos entrevistados coadunam com o que foi levantado e, mais além, permitem aprofundar o tema, uma vez que nos possibilita compreender a realidade objetiva desses trabalhadores.

A jornada de trabalho dos professores de Sarandi é intensificada e precarizada, e o acúmulo de tensões e estresses tornam-se os principais fatores para o seu adoecimento mental e esgotamento físico e emocional. O salário, de acordo com os sujeitos entrevistados, não corresponde à jornada de trabalho, sendo muito desproporcional a responsabilidade exercida, desdobrando-se em poucos ou quase nenhum direito ou benefício. A partir dos termos encontrados, como “destruído”, “esgotado” e outros, pudemos constatar que o trabalho exercido é determinante para que a vida desses trabalhadores se desdobre em tentativas de amenizar ou de se conformar diante dessa realidade objetiva.

Identificamos as configurações de como esse tempo e jornada de trabalho são organizados, sendo determinados, num primeiro plano, pelas políticas públicas (Secretaria de Educação e outros órgãos municipais), mas que, numa análise mais aprofundada, pudemos reconhecer a intervenção do projeto neoliberal de minimização do papel do Estado, num movimento de precarização intensificada desse serviço no cenário de direitos trabalhistas sendo retirados.

Fato é que, atualmente, parece ser tendência adotarmos uma compreensão de normalidade frente ao fato do trabalho informal, sem registro em carteira, estar assumindo posição de vanguarda, na qual o trabalhador tem que executar várias funções, acumulando cargas extremamente extensas de trabalho, quando se termina uma jornada de trabalho em algum lugar e logo após começa outra, para complementar a renda.11 11 É pertinente levantar, neste ponto, que a entrevistada 2, da Entrevista B, além de dar aula em dois períodos em escolas diferentes, na parte da noite, ainda trabalha em outro serviço até as 22:30. Isso fortalece ainda mais as evidências mostradas neste trabalho, da falta de aporte do poder público com esses profissionais, na questão de trabalho e benefícios.

Desse modo, pudemos constatar que as condições de trabalho têm influência determinante no tempo livre. Os professores, no seu tempo livre, optam por momentos de lazer com caráter antagônico ao trabalho (o senso comum capta como antagônico), no qual configura-se com cunho funcionalista. Com isso o pouco tempo livre que esses profissionais têm, ou seja, quando não têm que utilizar os finais de semana para realizar tarefas do trabalho ou cuidar da casa, eles praticam atividades compensatórias, nas quais, sob a forma lazer, carregam a necessidade de consumo de mercadorias no tempo livre, lógica inerente à sociedade capitalista ou para recuperação de energias.

Em suma, trata-se de um lazer voltado para uma concepção hedonística, ou simplificando, prazeroso, para suprir o que o trabalho jamais oferece: realização pessoal, desenvolvimento humano e emancipação.

Todas essas questões sobre o tempo livre/lazer é fruto de uma interferência do capital fora do tempo de trabalho, expandindo suas fronteiras para o tempo livre, determinando, assim, as 24 horas diárias, os 30 dias mensais, os 365 dias anuais do trabalhador12 12 Para, também, demonstrar esses aspectos, sugerimos o documentário brasileiro “Estou me guardando para quando o carnaval chegar” (Brasil, 2019). Direção e roteiro de Marcelo Gomes. (disponível na Netflix). Trailer disponível em http://www.adorocinema.com/filmes/filme-270566/trailer-19562162/. .

Nesse contexto, nos deparamos com uma liberdade irrisória, como foi abordado pelos estudos de Padilha (2003PADILHA, Valquíria. Se o trabalho é doença, o lazer é remédio? In: MÜLLER, Ademir; DACOSTA, Lamartine Pereira. Lazer e Trabalho - um único ou múltiplos olhares? Santa Cruz do Sul/RS: EDUNISC, 2003. p. 243-266.) sobre lazer e trabalho, que nos permite viver numa vida sob piloto automático. Os problemas essenciais para transformação das condições de trabalho, como essas levantadas ao decorrer deste trabalho, passam despercebidas, sem possibilitar que as contradições emerjam e se façam presentes para serem debatidas e superadas.

Contudo, estamos no campo da educação, cujo papel é transformar. Foi o conhecimento que permitiu que a humanidade alcançasse seu estágio mais desenvolvido, permitindo o avanço de novas relações de trabalho e de novas tecnologias. Evidenciar a realidade objetiva é um exercício da ciência comprometida com a transformação da sociedade e não se articula nem tem unidade com as compreensões que se sustentam no obscurantismo e no conformismo dos trabalhadores.

REFERÊNCIAS

  • ABONÍZIO, Gustavo. Precarização do trabalho docente: apontamentos a partir de uma análise bibliográfica. Revista eletrônica: LENPES-PIBID de ciências sociais-UEL, v. 1, jan/jun. 2012. Disponível em: http://www.uel.br/revistas/lenpes-pibid/pages/arquivos/1%20Edicao/1ordf.%20Edicao.%20Artigo%20ABONIZIO%20G.pdf Acesso em: 01 set. 2019.
    » http://www.uel.br/revistas/lenpes-pibid/pages/arquivos/1%20Edicao/1ordf.%20Edicao.%20Artigo%20ABONIZIO%20G.pdf
  • ABRAMIDES, Maria Beatriz Costa; CABRAL, Maria do Socorro Reis. Regime de acumulação flexível e saúde do trabalhador. São Paulo em Perspectiva, v. 1, n. 17, 2003. https://doi.org/10.1590/S0102-88392003000100002.
    » https://doi.org/10.1590/S0102-88392003000100002.
  • ANTUNES, Ricardo. O privilégio da servidão: o novo proletariado de serviços na era digital. São Paulo: Boitempo, 2018.
  • ANTUNES, Ricardo. O socialismo, lutas sociais e novo modo de vida na América Latina. Revista Direito e Práxis, v. 8, n. 3, p. 2212-2226, 2017.
  • ANTUNES, Ricardo. Os sentidos do trabalho: ensaio sobre a firmação e a negação do trabalho. 12 ed. São Paulo: Boitempo, 2009.
  • BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. Lisboa, Edições 70, 1977.
  • BARROSO, Sérgio. Neoliberalismo e Movimento Sindical, 1997. Princípios: Revista Teórica, Política e de Informação, n. 46, p. 45-49, 1997. Disponível em: http://revistaprincipios.com.br/artigos/46/cat/1569/neoliberalismo-e-movimento-sindical-.html. Acesso em: 01 set. 2019.
    » http://revistaprincipios.com.br/artigos/46/cat/1569/neoliberalismo-e-movimento-sindical-.html.
  • BATISTELLA, Carlos. Abordagens contemporâneas do conceito de saúde. In: FONSECA, Angélica Ferreira; CORBO, Ana Maria D’Andrea (org.). O território e o processo saúde-doença. Rio de Janeiro: EPSJV/FIOCRUZ, 2007. p. 51-86.
  • BRASIL. Emenda Constitucional n° 103, de 12 de novembro de 2019. Altera o sistema de previdência social e estabelece regras de transição e disposição transitórias. Brasília, DF: Casa Civil, 2019a. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc103.htm Acesso em: 14 ago. 2020.
    » http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc103.htm
  • BRASIL. Lei n° 13.874, de 20 de setembro de 2019. Institui a Declaração de Direitos de Liberdade Econômica. Brasília, DF: Casa Civil, 2019b. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/lei/L13874.htm Acesso em: 22 dez. 2019.
    » http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/lei/L13874.htm
  • BRASIL. Lei n° 13.467, de 13 de julho de 2017. Altera a consolidação das Leis do Trabalho. Brasília, DF: Casa Civil, 2017. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/l13467.htm Acesso em: 22 dez. 2019.
    » http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/l13467.htm
  • CODO, Wanderley. Educação: Educação carinho e trabalho. Petrópolis: Vozes, 1999.
  • COMANDO Sindical docente rechaça minuta da lei geral das universidades do estado do Paraná. SESDUEM, 2019. Disponível em: https://www.sesduem.com.br/2019/06/17/comando-sindical-docente-rechaca-minuta-da-lei-geral-das-universidades-do-estado-do-parana/. Acesso em: 23 jan. 2020.
    » https://www.sesduem.com.br/2019/06/17/comando-sindical-docente-rechaca-minuta-da-lei-geral-das-universidades-do-estado-do-parana
  • DINIZ NETO. O Assunto é Política: Vereadora quer reduzir salários de vereadores e do prefeito em Sarandi. CBN Maringá, 11 dez. 2018. Disponível em: http://cbnmaringa.com.br/noticia/vereadora-quer-reduzir-salarios-de-vereadores-e-do-prefeito-em-sarandi Acesso em: 23 jan. 2020.
    » http://cbnmaringa.com.br/noticia/vereadora-quer-reduzir-salarios-de-vereadores-e-do-prefeito-em-sarandi
  • DUMAZEDIER, Joffre. Valores e conteúdos culturais do lazer. São Paulo: Sesc, 1980.
  • GASPARINI, Sandra Maria; BARRETO, Sandhi Maria; ASSUNÇÃO, Ada Ávila. O professor, as condições de trabalho e os efeitos sobre sua saúde. Educação e Pesquisa, v.31, n. 2, p. 189-199, maio/ago. 2005.
  • GATTI, Murilo. Sindicatos que representam servidores estaduais ameaçam greve geral a partir de 25 de junho. Governo está com contas apertadas. Maringá Post, 6 jun. 2019. Disponível em: https://maringapost.com.br/cidade/2019/06/06/sindicatos-que-representam-servidores-estaduais-ameacam-greve-geral-a-partir-de-25-de-junho-governo-esta-com-contas-apertadas/. Acesso em: 22 dez. 2019.
    » https://maringapost.com.br/cidade/2019/06/06/sindicatos-que-representam-servidores-estaduais-ameacam-greve-geral-a-partir-de-25-de-junho-governo-esta-com-contas-apertadas
  • GOMES, Christianne Luce. Dicionário crítico do lazer. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.
  • MARCELLINO, Nelson Carvalho. Pedagogia da Animação. Campinas: Papirus, 1997.
  • MARCELLINO, Nelson Carvalho. Repertório de atividades de recreação e lazer: para hotéis, acampamentos, prefeituras, clubes e outros. Campinas: Papirus, 2002.
  • MARX, Karl. O capital. 3. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1981. Livro 3, v. 6
  • MARX, Karl. Textos Filosóficos. São Paulo: Mandacaru, 1990.
  • MINAYO, Maria Cecilia de Souza (org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 21. ed. Petrópolis: Vozes, 2002.
  • MONTENEGRO, Gustavo Maneschy. Políticas públicas do lazer: um enfoque na formação. EFDeportes.com, ano 16, n. 156, maio 2011. Disponível em: https://www.efdeportes.com/efd156/politicas-publicas-do-lazer-na-formacao.htm Acesso em: 22 dez. 2019.
    » https://www.efdeportes.com/efd156/politicas-publicas-do-lazer-na-formacao.htm
  • OLIVEIRA, Dalila Andrade; POCHMANN, Márcio (org.). A devastação do trabalho: a classe do labor na crise da pandemia. Brasília: Positiva: CNTE/Grupo de Estudos sobre Política Educacional e Trabalho Docente, 2020.
  • OLIVEIRA, Rogerio Massarotto. A organização do trabalho educativo com o jogo na formação de professores de educação física. 2017. 260f. Tese (Doutorado em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2017.
  • OLIVEIRA, Rogerio Massarotto. A cultura do fandango no litoral do Paraná e suas relações entre trabalho, cultura popular e lazer na sociedade capitalista. 2005. 190 f. Dissertação (Mestrado em Educação Física) - Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2005.
  • PADILHA, Valquíria. Se o trabalho é doença, o lazer é remédio? In: MÜLLER, Ademir; DACOSTA, Lamartine Pereira. Lazer e Trabalho - um único ou múltiplos olhares? Santa Cruz do Sul/RS: EDUNISC, 2003. p. 243-266.
  • PEIXOTO, Elza. Estudos do lazer no Brasil: apropriação da obra de Marx e Engels. Tese (Doutorado em Educação) - Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação, Campinas, 2007.
  • PEIXOTO, Elza. O serviço de recreação operária e o projeto de conformação da classe operária no Brasil. Pro-Posições, v.19, n.1, p.115-140, 2008. DOI: https://doi.org/10.1590/S0103-73072008000100015. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-73072008000100015&script=sci_abstract&tlng=pt Acesso em: 7 abr. 2021.
    » https://doi.org/10.1590/S0103-73072008000100015. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-73072008000100015&script=sci_abstract&tlng=pt
  • SARANDI (PR). Prefeito de Sarandi reajusta salário do magistério. Prefeitura de Sarandi: Notícias, 25 fev. 2014. Disponível em: http://www.sarandi.pr.gov.br/web/index.php/noticias/item/prefeito-de-sarandi-reajusta-salario-do-magisterio Acesso em: 22 dez. 2019.
    » http://www.sarandi.pr.gov.br/web/index.php/noticias/item/prefeito-de-sarandi-reajusta-salario-do-magisterio
  • SILVA, Guilherme Leonardo Freitas; ROSSO, Ademir José. As condições de trabalho docente dos professores das escolas públicas de Ponta Grossa - PR, 2008. Disponível em: https://educere.bruc.com.br/arquivo/pdf2008/495_536.pdf Acesso em: 01 set. 2019.
    » https://educere.bruc.com.br/arquivo/pdf2008/495_536.pdf
  • SILVA, Nilson Rogério; SILVA, Alessandra Turini Bolsoni; LOUREIRO, Sonia Regina. Burnout e depressão em professores do ensino fundamental: um estudo correlacional. Revista Brasileira de Educação, v. 23, e230048, 2018. DOI: https://doi.org/10.1590/s1413-24782018230048.
    » https://doi.org/10.1590/s1413-24782018230048.
  • SISMUS, SARANDI-PR. Assembleia da campanha salarial 2017. Sarandi, 24 jan. 2017. Disponível em: https://www.facebook.com/events/1844323669171860/. Acesso em: 12 ago. 2020.
    » https://www.facebook.com/events/1844323669171860
  • SISMUS, SARANDI-PR. Auxilio alimentação. Sarandi, 19 fev. 2019a. Disponível em: https://www.facebook.com/events/385536628924565/. Acesso em: 12 ago. 2020.
    » https://www.facebook.com/events/385536628924565
  • SISMUS, SARANDI-PR. Campanha salarial 2019/2020. Sarandi, 07 nov. 2019b. Disponível em: https://www.facebook.com/sismussarandipr/photos/a.174176702793050/1187528338124543/?type=3&theater Acesso em: 22 dez. 2019.
    » https://www.facebook.com/sismussarandipr/photos/a.174176702793050/1187528338124543/?type=3&theater
  • TENENTE, Luiza; FIGUEIREDO, Patrícia. Entenda o corte de verba das universidades federais e saiba como são os orçamentos das 10 maiores. G1, 15 maio 2019. Disponível em: https://g1.globo.com/educacao/noticia/2019/05/15/entenda-o-corte-de-verba-das-universidades-federais-e-saiba-como-sao-os-orcamentos-das-10-maiores.ghtml Acesso em: 28 jul. 2020.
    » https://g1.globo.com/educacao/noticia/2019/05/15/entenda-o-corte-de-verba-das-universidades-federais-e-saiba-como-sao-os-orcamentos-das-10-maiores.ghtml
  • VEGA, José Luís Garcia. Ócio e turismo. São Paulo: Salvat, 1979.
  • FINANCIAMENTO

    O presente trabalho não teve financiamento por órgãos de fomento. “Toda e qualquer despesa com materiais de consumo ficou sob responsabilidade exclusiva dos autores.”
  • ÉTICA DE PESQUISA

    O presente trabalho contemplou todas as normas de ética em pesquisa, conforme assinalado no ato da submissão de acordo com a seção 3.4 “integridade e ética em pesquisas com seres humanos” localizado na diretrizes da revista (parâmetros de Integridade na Atividade Científica o Guia de Integridade em Pesquisa Científica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul; as resoluções 466/12 e 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde; e os princípios contidos nos Códigos de Ética doCommittee on Publication Ethics).
  • 1
    Consideramos não somente aquelas em que o Estado atua diretamente, mas também aquelas ações neoliberais organizadas por instituições não estatais sob princípios burgueses/capitalistas, tais como Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional, o conglomerado FIESP-CIESP-SESI-SENAI-IRS, Confederação Nacional das Indústrias, dentre outras
  • 2
    CARVALHO, Letícia. Capes corta 5.613 bolsas... G1, 2 set. 2019. Disponível em: https://g1.globo.com/educacao/noticia/2019/09/02/capes-deixa-de-oferecer-5613-bolsas-a-partir-deste-mes-e-preve-economia-de-r-544-milhoes-em-4-anos.ghtml. Acesso em: 10 set. 2020.
  • 3
    Adotamos o conceito de saúde, sustentado em Batistella (2007BATISTELLA, Carlos. Abordagens contemporâneas do conceito de saúde. In: FONSECA, Angélica Ferreira; CORBO, Ana Maria D’Andrea (org.). O território e o processo saúde-doença. Rio de Janeiro: EPSJV/FIOCRUZ, 2007. p. 51-86.), que defende que “em sentido amplo, a saúde é a resultante das condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso aos serviços de saúde. Sendo assim, é principalmente resultado das formas de organização social, de produção, as quais podem gerar grandes desigualdades nos níveis de vida” (BRASIL, 1986, p. 4 apudBATISTELLA, 2007BATISTELLA, Carlos. Abordagens contemporâneas do conceito de saúde. In: FONSECA, Angélica Ferreira; CORBO, Ana Maria D’Andrea (org.). O território e o processo saúde-doença. Rio de Janeiro: EPSJV/FIOCRUZ, 2007. p. 51-86., p. 64).
  • 4
    Conforme Minayo (2002MINAYO, Maria Cecilia de Souza (org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 21. ed. Petrópolis: Vozes, 2002., p. 66), na entrevista, “precisa incorporar o contexto de sua produção e, sempre que possível, ser acompanhada e complementada por informações provenientes de observação participante. Um dos pesquisadores tem na família um trabalhador da rede municipal de educação de Sarandi/PR e que contribuiu muito para compreender o contexto da pesquisa.
  • 5
    I-Trabalho, II- Condições de trabalho, III- Tempo livre.
  • 6
    Essas categorias teóricas emergiram de um processo de seleção das falas transcritas, tanto quantitativa quanto qualitativamente, definidas pela importância e significados apresentados pelos entrevistados.
  • 7
    A hora atividade é uma das medidas de tempo de trabalho do professor. Refere-se aquela ação que corresponde à dedicação fora da sala de aula, voltada para organização do trabalho pedagógico.
  • 8
    Essa característica dos trabalhadores no século XXI, conforme apontada por Oliveira e Pochmann (2020OLIVEIRA, Dalila Andrade; POCHMANN, Márcio (org.). A devastação do trabalho: a classe do labor na crise da pandemia. Brasília: Positiva: CNTE/Grupo de Estudos sobre Política Educacional e Trabalho Docente, 2020.) e Antunes (2018ANTUNES, Ricardo. O privilégio da servidão: o novo proletariado de serviços na era digital. São Paulo: Boitempo, 2018.), é demonstrada em várias matérias midiáticas. Dentre elas, destacamos sobre a intensidade do trabalho dos professores durante a pandemia: BEATRIZ, Rebeca. Agora precisamos trabalhar em dobro... G1, 6 ago, 2020. Disponível em: https://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2020/08/06/agora-precisamos-trabalhar-em-dobro-diz-educadora-apos-um-mes-de-escolas-abertas-com-ensino-hibrido-em-manaus.ghtml. Acesso em: 17 ago. 2020. Reportagem realizada pelo G1 sobre a configuração do trabalho no ensino híbrido de professores em Manaus, durante o período de pandemia Covid-19.
  • 9
    Disponível em: https://www.facebook.com/events/385536628924565/ Acesso em: 12 ago.2020.
  • 10
    Entende-se como funcionalista algo compensatório, que, por sua vez, no ramo do lazer o trabalho é o agente estressante e cansativo e o lazer é o remédio para o trabalho e todos os malefícios que ele traz, isto é, o lazer, sob essa perspectiva, permite que o trabalhador recupere suas forças exauridas pelo trabalho e, assim, permaneça sob a égide do trabalho alienado (PADILHA, 2003PADILHA, Valquíria. Se o trabalho é doença, o lazer é remédio? In: MÜLLER, Ademir; DACOSTA, Lamartine Pereira. Lazer e Trabalho - um único ou múltiplos olhares? Santa Cruz do Sul/RS: EDUNISC, 2003. p. 243-266.).
  • 11
    É pertinente levantar, neste ponto, que a entrevistada 2, da Entrevista B, além de dar aula em dois períodos em escolas diferentes, na parte da noite, ainda trabalha em outro serviço até as 22:30. Isso fortalece ainda mais as evidências mostradas neste trabalho, da falta de aporte do poder público com esses profissionais, na questão de trabalho e benefícios.
  • 12
    Para, também, demonstrar esses aspectos, sugerimos o documentário brasileiro “Estou me guardando para quando o carnaval chegar” (Brasil, 2019). Direção e roteiro de Marcelo Gomes. (disponível na Netflix). Trailer disponível em http://www.adorocinema.com/filmes/filme-270566/trailer-19562162/.

Editado por

RESPONSABILIDADE EDITORIAL

Alex Branco Fraga *, Elisandro Schultz Wittizorecki *, Ivone Job *, Mauro Myskiw *, Raquel da Silveira *
* Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Escola de Educação Física, Fisioterapia e Dança, Porto Alegre, RS, Brasil.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    16 Ago 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    18 Set 2020
  • Aceito
    20 Abr 2021
Universidade Federal do Rio Grande do Sul Rua Felizardo, 750 Jardim Botânico, CEP: 90690-200, RS - Porto Alegre, (51) 3308 5814 - Porto Alegre - RS - Brazil
E-mail: movimento@ufrgs.br