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PRIMÓRDIOS DA IOGA NO BRASIL, c. 1910-1920

EARLY TIMES OF YOGA IN BRAZIL, c. 1910-1920

PRIMORDIOS DEL YOGA EN BRASIL, c. 1910-1920

Resumo

Apesar da relativa relevância social da ioga no Brasil, há poucos trabalhos acadêmicos sobre a sua história. A maior parte do material disponível sobre o assunto foi produzido por praticantes, com caráter memorialístico, em fontes frequentemente dispersas. Nesse contexto, o objetivo deste trabalho foi analisar a história da ioga no Brasil por meio de jornais e revistas disponíveis no acervo digital da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Essas fontes indicam que a difusão e a prática da ioga no país se iniciaram antes de 1950, período geralmente apontado como marco para esse processo. Além disso, as ambiguidades que marcam os significados dessa prática no Brasil, tal como acontece em vários outros países, são produtos da própria maneira como evoluiu historicamente seu processo de difusão e recepção.

Palavras-chave:
História; Ioga; Brasil

Abstract

Despite the relative social relevance of yoga in Brazil, there are few academic works on its history. Most of the material available was produced by practitioners, often dispersed and from a memorialistic approach. In this context, this work analyzes the history of yoga in Brazil through newspapers and magazines available in the collection of Rio de Janeiro’s National Library. These sources indicate that the spread and practice of yoga in the country began before 1950, a period often seen as a milestone in that process. In addition, the ambiguities that mark the meanings of this practice in Brazil, as happens in several other countries, are products of the way in which the process of spread and reception evolved historically.

Keywords:
History; Yoga; Brazil

Resumen

A pesar de la relativa relevancia social del yoga en Brasil, existen pocos trabajos académicos sobre su historia. La mayor parte del material disponible sobre el tema fue elaborado por personas que lo practican, con un carácter memorialístico, en fuentes frecuentemente dispersas. En ese contexto, el objetivo de este trabajo fue analizar la historia del yoga en Brasil a través de periódicos y revistas disponibles en el acervo digital de la Biblioteca Nacional de Río de Janeiro. Esas fuentes indican que la difusión y la práctica del yoga en el país se iniciaron antes de 1950, periodo generalmente identificado como marco de este proceso. Además, las ambigüedades que marcan los significados de esta práctica en Brasil, tal como ocurre en varios otros países, son producto de la forma misma en que históricamente ha evolucionado su proceso de difusión y recepción.

Palabras clave:
Historia; Yoga; Brasil

1 INTRODUÇÃO

Apesar da atual relevância social da ioga no Brasil, que mobiliza talvez milhares de praticantes e em 2017 foi assimilada como recurso terapêutico pelo serviço nacional de saúde (cf. BAGDADI, 2011BAGDADI, Solange. Ioga já tem 500 mil praticantes no Brasil. Exame, São Paulo, 7 de outubro de 2011. Disponível em: <http://exame.abril.com.br/brasil/ioga-ganha-cada-vez-mais-praticantes-no-brasil/>. Acesso em 13 jun. 2020.
http://exame.abril.com.br/brasil/ioga-ga...
; FOLHA DE S. PAULO, 2002; ZABAKI, 2003ZABAKI, Rosana. Ioga vira malhação. Veja, São Paulo, 7 de maio de 2003, n. 1.801, p. 16.), na esteira da emergência de novos paradigmas médicos, influenciados por práticas ou imaginários orientais (NOGUEIRA, CAMARGO JUNIOR, 2007NOGUEIRA, Maria Inês; CAMARGO JUNIOR, Kenneth Roches de. A orientalização do Ocidente como superfície de emergência de novos paradigmas em saúde. História, Ciência, Saúde-Manguinhos, v. 14, n. 3, p. 841-861, 2007.), há poucos trabalhos acadêmicos sobre a sua história1 1 Neste artigo, mantivemos a grafia da palavra ioga com a letra i, e não com a letra y, seguindo convenção da língua portuguesa. A grafia com a letra y, contudo, tal como no sânscrito, geralmente é preferida por algumas comunidades de praticantes. Essas preferências suscitam discussões teóricas acerca do caráter histórico ou contingente de práticas culturais que engendram tradições que poderão depois ser tomadas como mais ou menos falsas ou verdadeiras. Esse tópico, porém, escapa aos limites deste artigo, embora ofereça um pano de fundo para o que se segue. . A maior parte do material histórico disponível sobre o assunto foi produzido por praticantes, muitas vezes com caráter memorialístico e disperso por diferentes fontes; fragmentação que dificulta o acesso a tais informações. Além disso, num contexto em que tradição agrega prestígio, como é o caso da ioga, diferentes grupos disputam entre si a primazia da difusão da prática, o que compromete a isenção dos relatos disponíveis. Onde o peso da história pode ser mobilizado como estratégia publicitária, tendem a ser particularmente acirradas as disputas pela memória (cf. LINDHOLM, 2008LINDHOLM, Charles. Culture and authenticity. Oxford: Blackwell, 2008.; TAYLOR, 2011TAYLOR, Charles. A ética da autenticidade. São Paulo: É Realizações, 2011.). Entre mestres e praticantes de ioga notam-se mesmo conflitos ao redor da definição de quem teria protagonizado pioneiramente a difusão da prática no país. Não por acaso, diferentes versões disponíveis sobre a história da ioga no Brasil são conflitantes entre si, apesar de usualmente convergirem no reconhecimento da década de 1950 como marco desse processo.

Nesse contexto, analisamos a história da ioga no Brasil por meio de jornais e revistas disponíveis no acervo digital da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro (https://bndigital.bn.gov.br/hemeroteca-digital/). Pesquisas nessas fontes identificaram centenas de notícias sobre ioga, publicadas em dezenas de periódicos de diferentes regiões do Brasil ao longo do século 20. Essas notícias datam desde o fim do século 19, aumentando as quantidades ao longo da primeira metade do século 20, conforme Gráfico 1. A simples identificação dessas fontes já sugere uma primeira contradição nos relatos predominantes sobre a história da ioga no Brasil: a década de 1950 não foi o período em que se iniciou a prática no país, apesar de um crescimento das notícias publicadas de fato ter se registrado a partir dessa época.

Gráfico 1:
Ocorrências da palavra “yoga” em periódicos da Biblioteca Nacional

No cipoal de interpretações usualmente disseminadas sobre o assunto, notam-se, basicamente, cinco versões a respeito do início da ioga no Brasil. A primeira a atribui ao francês Swami Asuri Kapila, que teria visitado a América do Sul em 1936 (SOCIEDADE BRASILEIRA DE YOGA INTEGRAL, 2017). Nessa época, Kapila teria viajado até Montevidéu, de onde teria partido para diversas “missões” no Brasil no intuito deliberado de difundir sua proposta de uma “Yoga Integral” (CORDEIRO, 2016CORDEIRO, M. História do Yoga no Brasil. Boayoga, fev. 2016. Disponível em:<http://boayoga.com.br/historia-do-yoga-no-brasil-mariana-cordeiro/>. Acesso em: 09 out. 2017
http://boayoga.com.br/historia-do-yoga-n...
).

Uma segunda versão aponta para o pioneirismo do também francês Leo Costet de Mascheville, chamado Sevananda Swami depois de sua iniciação na ioga. Por um lado, Sevananda teria iniciado seu trabalho de difusão da ioga no Brasil quando seu mestre, Asuri Kapila, o teria enviado para apresentar ensinamentos sobre a prática num congresso no Rio de Janeiro, em 1947 (SANCHES, GNERRE, 2015SANCHES, Raphael Lugo; GNERRE, Maria Lúcia. As representações de Sevananda como pioneiro no Campo do Yoga brasileiro. Cultura Oriental, v. 2. n. 1, p. 59-70, 2015.). A biografia de Sevananda, no entanto, elaborada pela Igreja Expectante a partir de anotações de seus discípulos, dados biográficos de seu livro, O homem, esse conhecido (publicado em 1953), bem como de relatos de sua companheira, Sadhana, aponta Asuri Kapila como um de seus principais discípulos, não como seu mestre (SANCHES, 2017). De acordo com esta versão, a introdução da ioga no Brasil teria se dado pelo trabalho de Sevananda, não de Asuri Kapila (CARUSO, 2010CARUSO, V. J. A história do Yoga no Brasil. Cadernos de Yoga, v. 7, n. 26, p. 48-52, 2010. Disponível em: <http://www.cienciameditativa.com/a-historia-do-yoga-no-brasil-revelada/a-historia-do-yoga-no-brasil-revelada/>. Acesso em: 03 jan. 2016.
http://www.cienciameditativa.com/a-histo...
; FERNANDES; ROCHA, 2005FERNANDES, Edrisi; ROCHA, Vera Maria da. A imagem do yoga como terapia e como ginástica: uma construção ocidental. Vivência Artigos, v. 29, p. 311-326, 2005.; GNERRE, 2010; SANCHES; GNERRE, 2015; ZICA; GNERRE, 2016ZICA, Mateus da Cruz e; GNERRE, Maria Lúcia Abaurre. Índia “Ocidental", China "Tropical": uma "espiritualidade do corpo" como elemento propiciador de encontros culturais no Brasil. Horizonte, v. 14, n. 43, p. 789-826, 2016.).

Sevananda teria se iniciado na ioga através de um alemão a quem teria conhecido durante uma travessia da Argentina a pé e que seria ligado à “Suddha Dharma Mandalam”, uma organização “espiritual”, “mística” e “multissecular”, conforme definem alguns de seus adeptos, com sede no Himalaia (SANCHES, GNERRE, 2015SANCHES, Raphael Lugo; GNERRE, Maria Lúcia. As representações de Sevananda como pioneiro no Campo do Yoga brasileiro. Cultura Oriental, v. 2. n. 1, p. 59-70, 2015.). Depois disso, Sevananda teria fundado, em algum momento entre as décadas de 1930 e 1940, em Montevidéu, o Grupo Independente de Estudos Esotéricos, criando linhas de estudo de ioga, teosofia, budismo e vedanta, a fim de difundir tais conhecimentos pela América Latina (GNERRE, 2010; ZICA; GNERRE, 2016ZICA, Mateus da Cruz e; GNERRE, Maria Lúcia Abaurre. Índia “Ocidental", China "Tropical": uma "espiritualidade do corpo" como elemento propiciador de encontros culturais no Brasil. Horizonte, v. 14, n. 43, p. 789-826, 2016.). No Brasil, mais especificamente, o trabalho de Sevananda para difusão da ioga teria se iniciado em junho de 1952, durante uma jornada pelo país. Em 1953, Sevananda teria chegado à cidade de Resende, no interior do Rio de Janeiro, onde fundou um mosteiro e uma associação, a “Associação Mística Ocidental”, apontados em certos relatos como o primeiro espaço de prática e estudo da ioga no Brasil (SANCHES, 2017).

Uma terceira versão menciona o pioneirismo de Caio Miranda, um general do Exército que teria começado a ensinar ioga no Rio de Janeiro em meados da década de 1940 (SIEGEL; BARROS, 2013SIEGEL, Pamela; BARROS, Nelson Filice de. Yoga, Saúde e Religião. Último Andar, n. 21, p. 163-180, mar. 2013., ZICA; GNERRE, 2016ZICA, Mateus da Cruz e; GNERRE, Maria Lúcia Abaurre. Índia “Ocidental", China "Tropical": uma "espiritualidade do corpo" como elemento propiciador de encontros culturais no Brasil. Horizonte, v. 14, n. 43, p. 789-826, 2016.). Segundo se diz, Caio Miranda teria tido contato com a ioga a partir da leitura do livro As 14 Lições da Filosofia Yogi, de Yogui Ramacharaka, a quem voltaremos adiante.

Uma quarta versão aponta ainda para o nipo-brasileiro Shotaro Shimada, que teria começado a dar aulas de ioga em São Paulo por volta de 1956 (ZICA; GNERRE, 2016ZICA, Mateus da Cruz e; GNERRE, Maria Lúcia Abaurre. Índia “Ocidental", China "Tropical": uma "espiritualidade do corpo" como elemento propiciador de encontros culturais no Brasil. Horizonte, v. 14, n. 43, p. 789-826, 2016.; CABRAL, 2007CABRAL, M.; REIF, R. A Velha-Guarda do Yoga I. Prana Yoga Journal, n. 8, p. 50-63, 2007.). Tal como Caio Miranda, Shotaro Shimada teria tido seus primeiros contatos com a ioga através da leitura de um livro de Ramacharaka, nesse caso, A ciência hindu-yogi da respiração (SHIMADA, 2008SHIMADA, Shotaro. A ioga do mestre e do aprendiz: lições de uma vida simples para a plenitude. São Paulo: Phorte, 2008.).

Finalmente, há ainda a versão que enfatiza o papel de José Hermógenes, um tenente do Exército que teria se iniciado na ioga no final da década de 1950, como parte do tratamento para uma tuberculose. Após ter se curado, Mestre Hermógenes, como ficou mais conhecido, passou a difundir a ioga como recurso terapêutico por meio de livros e aulas em sua própria academia, criada no Rio de Janeiro em princípios da década de 1960 (CARUSO, 2010CARUSO, V. J. A história do Yoga no Brasil. Cadernos de Yoga, v. 7, n. 26, p. 48-52, 2010. Disponível em: <http://www.cienciameditativa.com/a-historia-do-yoga-no-brasil-revelada/a-historia-do-yoga-no-brasil-revelada/>. Acesso em: 03 jan. 2016.
http://www.cienciameditativa.com/a-histo...
; SANCHES, 2017SANCHES, Raphael Lugo. Curar o corpo, salvar a alma: as representações do Yoga no Brasil. Dourados: Ed. UFGD, 2017.). Pouco antes, em 1960, Hermógenes publicou o livro Autoperfeição com Hatha Yoga, um dos maiores sucessos editoriais sobre ioga no Brasil daquele período (GNERRE, 2010GNERRE, Maria Lúcia. A. Identidades e paradoxos do Yoga no Brasil: Caminho espiritual, prática de relaxamento ou atividade física? Fronteiras, v. 12, n. 21, p. 247-270, 2010.). Apenas três anos depois, em 1963, o livro já estava na sua quinta edição, conforme revelam registros no catálogo da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. O sucesso do livro, logo seguido pelo aparente sucesso também da sua academia, contribuíram para sedimentação do nome de Mestre Hermógenes como pioneiro da “yogaterapia” e da “medicina holística” no Brasil (GNERRE, 2010).

Todavia, destaques a esses nomes constituem uma trama de oposição entre lembrados e esquecidos. Antes do que apontam essas narrativas mais amplamente disseminadas e que celebram personagens agora consagrados pela memória desta comunidade de praticantes, havia já um significativo conjunto de iniciativas dedicadas a organizar e difundir a ioga no país. Como veremos, essas primeiras iniciativas para a difusão da ioga no Brasil foram muito importantes para o posterior desenvolvimento da prática no país. Segundo nossos argumentos, as iniciativas para a divulgação da ioga desenvolvidas sistematicamente a partir dos princípios da década de 1910 lentamente disponibilizaram um repertório e um vocabulário sobre a ioga que influenciaram a difusão mais ampla da prática que teria lugar nos anos seguintes. Concentrando-nos então entre as décadas de 1910 e 1920, valendo-nos de notícias de jornais e revistas do acervo digital da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, notadamente aquelas indicadas na Tabela 1, o artigo tem por objetivo analisar essa espécie de história esquecida da ioga no Brasil.

Tabela 1
Fontes privilegiadas neste trabalho

Não adotamos nenhum critério particular para a busca, exceto identificar notícias nesses periódicos que contivessem a palavra ioga. Além disso, a análise que se segue não elegeu categorias a priori, tampouco empreendeu categorizações sistemáticas a posteriori, tais como indicado por metodologias como as da análise do discurso, muito utilizadas em pesquisas históricas sobre os esportes. Ao invés disso, limitamo-nos a realizar leitura de todo esse material documental, buscando, então, uma compreensão interpretativa e contextual a esse respeito, com apoio da bibliografia sobre o período histórico considerado, conforme consagrado já (entre outros, cf. ARÓSTEGUI, 2006ARÓSTEGUI, Julio. A pesquisa histórica: teoria e método. Bauru: EDUSC, 2006.; CARDOSO, PEREZ BRIGNOLI, 1990CARDOSO, Ciro Flamarion; PEREZ BRIGNOLI, Héctor. Os métodos da história: introdução aos problemas, métodos e técnicas da história demográfica, econômica e social. 5.ed. Rio de Janeiro: Graal, 1990.; CARDOSO, 1999; CARR, 1996CARR, Eric. Que é história? 7. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.; SIMIAND, 2003SIMIAND, François. Método Histórico e Ciência Social. Bauru: Edusc, 2003.).

2 HISTÓRIA ESQUECIDA DA IOGA NO BRASIL

As primeiras notícias sobre ioga no Brasil tratam a prática como uma curiosidade, acentuando dimensões excêntricas e enfatizando feitos de faquires indianos. A primeira notícia localizada por nós, publicada em 1895 no jornal A Notícia, do Rio de Janeiro, narrava a morte de um americano durante uma tentativa de permanecer em estado vegetativo numa caverna subterrânea. O homem teria tentado imitar uma prática atribuída a faquires indianos, seguindo relatos de viajantes estrangeiros que visitaram a Índia no período. Segundo a descrição desses relatos:

O faquir fecha com cera os olhos, as orelhas, o nariz e todas as outras aberturas do corpo, com exceção da boca. E então um discípulo levanta-lhe a ponta da língua e adaptando-a de encontro a garganta, tapa com ela a entrada da faringe. Posto assim, [o faquir] cai em um estado de letargia tão vizinho da morte que nem se lhe sente o bater de pulso ou coração. Cercado então de ervas aromáticas, que parecem ter por um único fim afugentar os insetos, permanece em uma caverna fechada, durante dois ou três meses, até que de novo o discípulo vá, descerre-lhe os lábios, desdobra-lhe a língua e com práticas próprias o chame de novo à vida (A NOTÍCIA, 1895, p. 1).

Notícias relacionando a ioga com faquires indianos continuariam aparecendo em jornais brasileiros até pelo menos os meados da década de 1920, sempre destacando sua dimensão “exótica”, “extravagante”, “supersticiosa” e “não científica”. Nesses registros, faquires conseguiriam fazer crescer árvores em poucos minutos, além de permanecerem em jejum, imóveis e sem respirar por meses a fio. Classificados como “milagres”, a explicação para essas proezas físicas era usualmente atribuída à prática do “Hatha Yoga”, apresentada então como algo capaz de mudar o funcionamento do sistema nervoso e da fisiologia geral do corpo. Por meio desses registros sensacionalistas, notícias sobre a ioga colaborariam para atrair atenção dos leitores para a prática, contribuindo, assim, para o discreto início da sua divulgação no país.

Todavia, o principal vetor de divulgação da ioga no Brasil nos primeiros anos do século 20 foram iniciativas de caráter espiritual (não necessariamente religiosas), dedicadas a diferentes formas sincréticas de misticismo. A partir dessa época, diversas organizações “naturistas”, “esotéricas”, “ocultistas”, “psquistas” e de “cultura psicotranscendental e vibração mental”, como elas próprias se intitulavam, promoveram conferências e divulgaram artigos sobre ioga. Mais particularmente, iniciativas da “Sociedade Teosófica”, fundada originalmente em Nova York pela russa Helena Blavatsky, por volta de 1874 ou 1875, tiveram papel capital no início da divulgação regular e sistemática da ioga no Brasil. Dedicada a tentar formar o núcleo de uma fraternidade universal, estudar a natureza oculta do homem para o desenvolvimento dos seus poderes espirituais, bem como encorajar o estudo das ciências, das filosofias e das religiões, sociedades teosóficas atuaram de modo relevante para a divulgação da ioga não apenas no Brasil, mas também em vários outros países (ZICA; GNERRE, 2016ZICA, Mateus da Cruz e; GNERRE, Maria Lúcia Abaurre. Índia “Ocidental", China "Tropical": uma "espiritualidade do corpo" como elemento propiciador de encontros culturais no Brasil. Horizonte, v. 14, n. 43, p. 789-826, 2016.; LACHMAN, 2014LACHMAN, Gary. Madame Blavatsky: a mãe da espiritualidade moderna. São Paulo: Pensamento, 2014.; WASHINGTON, 2000WASHINGTON, Peter. O babuíno de madame Blavatsky. Rio de Janeiro: Recorde, 2000.). “Entre 1890 e 1920, estima-se que sociedades teosóficas tenham publicado mais de 750 títulos com diferentes materiais esotéricos, incluindo livros e panfletos sobre ioga” (NEWCOMBE, 2009NEWCOMBE, Suzanne. The Development of Modern Yoga: A Survey of the Field. Religion Compass, v. 3, n. 6, p. 986-1002, 2009., p. 989).

Na primeira década do século 20 começam a surgir as primeiras lojas e grupos de estudo teosóficos no Brasil (PINTO, 1969PINTO, João Batista Brito. Breve Histórico da Teosofia no Brasil. 1969. Disponível em: <http://www.filosofiaesoterica.com/breve-historico-da-teosofia-no-brasil/> Acesso em: 20 out. 2017.
http://www.filosofiaesoterica.com/breve-...
). Artigos vinculando conteúdos teosóficos logo começaram a se tornar mais abundantes em vários jornais do período. Alguns desses artigos expunham os vínculos entre a teosofia e as filosofias ditas “orientais”, incluindo eventualmente a ioga. Segundo palavras de um desses artigos, os princípios teosóficos teriam se inspirado nas ideias do “Oriente” - muitas vezes tomado como sinônimo da Índia. Segundo dizia-se: “[…] foi aí, nessa Índia grande e misteriosa, nesse canto do planeta, aos raios de um sol abrasador e fecundo, ou debaixo da cúpula estrelejada da noite, que o pensamento humano, disciplinado e obediente, começou a arquitetar esse vasto repositório de princípios filosóficos” (BARROS, 1916BARROS, O. de. A teosofia e suas afinidades com o espiritualismo. Pacotilha, Maranhão, 3 de julho de 1916, n. 154, p. 1., p. 1).

Até o final da década de 1910, inúmeros grupos teosóficos haviam sido formados no país. Vários desses grupos organizavam palestras e escreviam artigos divulgando a ioga em jornais de grande circulação. Em 1919, atendendo a sugestão de Annie Besant, presidente internacional da Sociedade Teosófica à época, adeptos da teosofia no Brasil começaram a articular a fundação de uma “Seção Nacional da Sociedade Teosófica”, que deveria funcionar como uma espécie de confederação de grupos de estudos teosóficos no país (PINTO, 1969PINTO, João Batista Brito. Breve Histórico da Teosofia no Brasil. 1969. Disponível em: <http://www.filosofiaesoterica.com/breve-historico-da-teosofia-no-brasil/> Acesso em: 20 out. 2017.
http://www.filosofiaesoterica.com/breve-...
). Já em novembro daquele ano realizou-se uma primeira reunião visando à organização de um “Congresso Teosófico Brasileiro” (THEOSOPHIA, 1919, p. 9).

Formada essa seção nacional em 1919, artigos sobre teosofia em diversos jornais brasileiros parecem ter se tornado mais frequentes. A maioria desses artigos consistia em divulgações, incentivos e instruções sobre a teosofia. Tais artigos frequentemente abordavam a filosofia da ioga, atribuindo-lhe a possibilidade de expansão da consciência, alterações de estados mentais e a fusão do homem com Deus. O tom dos artigos buscava claramente conferir-lhes uma dimensão científica, notando-se mesmo a intenção de destacar aspectos distantes daquelas imagens de exotismo que costumavam marcar notícias sobre a ioga ou outras práticas indianas até então. Um artigo publicado em 1920 nas páginas d’O Jornal, do Rio de Janeiro, por exemplo - que publicou muitos artigos desse mesmo tipo nessa época - afirmava que os métodos da ioga eram “baseados no perfeito conhecimento da psicologia e conduziam o homem ao vértice da mais sublime espiritualidade” (o grifo é nosso). Dizendo basear-se nos ensinamentos de Annie Besant, o artigo destacava o caráter propedêutico que a prática da ioga poderia ter para a saúde. Segundo o artigo, “o hábito da concentração preconizado pela Yoga, que consiste em tornar o espírito bastante estável, fixando o pensamento, desenvolve as células cerebrais, assim consegue criar um instrumento próprio e métodos de pensamentos mais puros e elevados no futuro” (NICOLL, 1920NICOLL, E. Theosofia. O Jornal, Rio de Janeiro, 20 de agosto de 1920, n. 429, p. 7., p. 7). Desse momento em diante, a dimensão “científica” da ioga teria um lugar muito importante nos discursos sobre a prática, sendo bastante enfatizada nas discussões promovidas pela imprensa e também nas tentativas de outros grupos para difusão da ioga, tal como acontecia na mesma época em vários países ocidentais (cf. STRAUSS, 2002STRAUSS, Sarah. “Adapt, adjust, accommodate”: the production of yoga in a transnational world. History and Anthropology, v. 13, n. 3, p. 231-251, 2002.).

Depois da formação da seção nacional da Sociedade Teosófica, várias conferências sobre ioga foram organizadas. Em dezembro de 1922, por exemplo, Aleixo Alves de Souza realizou uma palestra sobre ioga e hinduísmo numa loja teosófica do Rio de Janeiro, divulgada em três dos mais importantes jornais da cidade no período: Correio da Manhã, O Paiz e O Jornal (CONFERENCIAS, 1922; NOTAS SOCIAIS, 1922; THEOSOFIA, 1922). Aleixo se mostraria daí em diante um engajado participante desta comunidade. Afora esta palestra específica sobre ioga, Aleixo foi diretor de uma loja teosófica no Rio de Janeiro, realizou inúmeras conferências sobre assuntos análogos entre as décadas de 1920 e 1940 (incluindo outras sobre ioga), enviou regularmente artigos sobre teosofia para diversos jornais do Rio de Janeiro nesse mesmo período, além de ter acompanhado a visita do mestre indiano Jinarajadasa ao Brasil em 1928.

Aliás, foi por iniciativa de membros das sociedades teosóficas no Brasil que se promoveu a visita desse mestre indiano ao país naquele ano, como parte de uma excursão mais longa que visava também outros países da América do Sul. Retratado pela imprensa brasileira como um “sábio professor”, o mestre-maçom-teósofo-hindu Curuppumullage Jinarajadasa, indiano educado em Londres, realizou várias conferências sobre teosofia e ioga no Brasil, especialmente no Rio de Janeiro e cidades de São Paulo. Várias dessas conferências obtiveram cobertura de alguns dos principais e maiores jornais da época, tais como Jornal do Commercio, O Paiz e Correio da Manhã. Em São Paulo, as repercussões das conferências parecem ter sido especialmente grandes, reunindo mais de 1.500 pessoas em algumas delas (O ENTHUSIASMO..., 1928; AS CONFERENCIAS..., 1928). Um cronista anônimo do jornal Diário Nacional, da capital paulista, ao descrever a palestra de Jinarajadasa no Teatro Municipal de São Paulo, mencionou “aplausos prolongados” e uma “assistência colossal”. Nas palavras dele:

[…] é notável como Jinarajadasa impressiona ao paulistano. Só o fato de reunir ele no [Teatro] Municipal uma assistência colossal como a de ontem, indica que a sua doutrina desperta entre nós uma acolhida excepcional’. Com alguma razão, o cronista deduzia que o aparente sucesso do indiano no Brasil implicava certo interesse por suas ideias. Segundo dizia o cronista, ‘a insistência com que o público saudou o teósofo visitante dava a entender que o que ele dissera penetrara fundo na alma dos assistentes’ (JINARAJADASA EM SÃO PAULO, 1928, p. 12).

Além das sociedades teosóficas, outras organizações “espiritualistas”, como elas próprias costumavam se definir, também promoviam conferências, onde eram divulgadas a “filosofia yogue”. Uma dessas organizações era o “Círculo Esotérico da Comunhão do Pensamento”, idealizado ainda na primeira década do século 20, pelo português Antônio Olívio Rodriguez, com atuação em várias cidades do Brasil. A partir de 1926, na sede do Rio de Janeiro, os sócios Gerson Paula Lima e Muller Barbosa promoveram várias conferências sobre ioga, frequentemente divulgadas em diferentes jornais de grande circulação da cidade, como a Gazeta de Notícias e O Paiz. Conforme se pode ver no anúncio de uma dessas conferências, publicadas, dessa vez, no jornal O Brasil, “exercícios práticos” de ioga, com duração de trinta minutos e restrita apenas aos filiados, já eram promovidos nessas ocasiões, depois dos “passes magnéticos” e antes dos exercícios práticos do curso de “[…] ciências hermicas” [sic] - provavelmente querendo dizer “ciências herméticas” (CRENÇAS DIVERSOS [sic], 1926, p. 7).

Outras instituições “espiritualistas” da época, como o “Centro Comum Brasileiro” e a “Comunhão Mystica Darma”, também contribuíram com a divulgação da ioga a partir da década de 1920, através da organização de conferências sobre o assunto. Em 1925, o jornal O Brasil anunciou a palestra de Rubey Wanderley sobre “A redenção humana sobre o ponto de vista do Yoga”. Segundo o anúncio, depois de uma explanação geral sobre a questão espiritualista, a palestra abordaria a “idoneidade do ocultismo” e “as leis do Karma e da Reencarnação”, seguindo-se de uma definição sobre o que era a ioga e sobre como a prática intervinha e acelerava o processo de redenção humana (FALARÁ O SR. RUBEY WANDERLEY..., 1925, p. 2).

A “Sociedade Dharana”, espécie de confraria budista e maçônica criada em meados da década de 1920, representando, no Brasil, a “grande corrente” da “Fraternidade Branca do Tibete”, organização internacional que teria ainda representações nos Estados Unidos, Egito, Japão, Índia, Rússia e Alemanha, também promovia a “filosofia yogue” para seus membros. Com o propósito mais geral de educar e preparar o estado mental dos seus irmãos em humanidade, a Sociedade Dharana promovia inúmeros conhecimentos que pudessem ser vistos como meios para conduzir a mente de seus membros de um estado inferior para um superior, o que incluía a física, a química, a história natural e a ioga (SOCIEDADE DHARANA, 1927, p. 8).

Outra importante iniciativa das organizações “espiritualistas”, especialmente das sociedades teosóficas, foi a tradução e publicação de livros sobre ioga. Com efeito, ao lado de palestras ou conferências, a publicação de livros sobre ioga talvez tenha sido a mais importante iniciativa para a divulgação inicial da prática no Brasil. Desde o início da década de 1910, por iniciativa direta de sociedades teosóficas, vários livros sobre o assunto foram traduzidos e publicados no Brasil, dentre os quais, Raja Yoga ou Desenvolvimento Mental, Hatha Yoga ou Filosofia Yogi do Bem Estar Físico, Ciência da respiração, Quatorze lições sobre Filosofia Yogi e As doutrinas esotéricas das filosofias e religiões da Índia. Esses livros, sempre traduzidos e publicados por iniciativas de sociedades teosóficas, parecem mesmo ter desempenhado um papel importante no processo de divulgação da ioga no Brasil, como de resto o fariam em outros países, como Inglaterra ou Estados Unidos (cf. NEWCOMBE, 2009NEWCOMBE, Suzanne. The Development of Modern Yoga: A Survey of the Field. Religion Compass, v. 3, n. 6, p. 986-1002, 2009.). Sintomaticamente, alguns dos personagens usualmente apontados como pioneiros da ioga no Brasil, como Caio Miranda e Shotaro Shimada, disseram ter se iniciado na ioga nos idos de 1950 por meio da leitura de algum desses livros (traduzidos e publicados a partir de 1910, aproximadamente).

Propagandas desses livros foram publicadas em vários jornais de grande circulação da época, frequentemente enfatizando a capacidade dessas obras ensinarem exercícios com o propósito de promover a saúde e o bem-estar físico. Os livros eram amplamente comercializados em livrarias, além de serem comentados em palestras e grupos de estudos, como mostra o convite para uma reunião da “Ordem Mystica do Pensamento”, no Rio de Janeiro, que tinha também a intenção de criar uma nova seção do “Instituto Psicológico e Ginástica Respiratória”, cuja finalidade era justamente dedicar-se ao estudo das obras de Ramacharaka (COMUNICADO..., 1927).

Todos os livros sobre ioga traduzidos e publicados por sociedades teosóficas no Brasil a partir de princípios da década de 1910 eram de autoria de Ramacharaka. De acordo com entendimento consensual da historiografia norte-americana, Ramacharaka era na verdade um pseudônimo do advogado William Walker Atkinson, que depois de ter sofrido e superado problemas de saúde por meio de técnicas de cura mental se converteu ao “Novo Pensamento” (New Thought Movement), um sincrético movimento espiritual norte-americano, direta ou indiretamente influenciado pela teosofia, que combinava, além disso, ciência, filosofia, cristianismo, espiritismo e várias religiões do Oriente, entre outras influências. Desde então, Atkinson escreveu inúmeros textos sobre assuntos tão diversos como ioga, magnetismo, telepatia, ocultismo, orientalismo, budismo, hinduísmo, parapsicologia e cura pelo pensamento, além de ter editado, entre 1901 e 1919, duas importantes revistas do movimento Novo Pensamento (New Thought e Advanced Thought). Cerca de 50 livros ou mais têm a autoria ou a coautoria dele ou atribuída a ele, que além de Yogui Ramacharaka, teria também adotado os pseudônimos de Swami Bhakta Vishita e Swami Panchadasi (MELTON, 2001MELTON, J. Gordon. Encyclopedia of Occultism and Parapsychology. 5th ed. Farmington Hills: Gale Group, 2001. v. 1., p. 112-113). Não por acaso, o historiador Carl Jackson (1975JACKSON, Carl T. The New Thought Movement and the Nineteenth Century Discovery of Oriental Philosophy. The Journal of Popular Culture, v. 9, n. 3, p. 523-548, 1975.) classificou-o como um dos mais prolíficos escritores norte-americanos do movimento Novo Pensamento sobre religiões orientais (p. 537).

Antes mesmo dos livros, artigos assinados por alguns desses pseudônimos de Atkinson já apareciam em revistas do movimento Novo Pensamento. Com efeito, alguns desses livros apenas reuniam num único volume artigos publicados antes nessas revistas. Dos livros com autoria atribuída a Atkinson, mais de uma dezena são dedicados especificamente à ioga. As circunstâncias precisas por meio das quais Atkinson teria entrado em contato com a ioga são incertas. Segundo uma versão aparentemente disseminada pela Yogi Publication Society, editora responsável pela publicação dos livros de Ramacharaka nos Estados Unidos, Atkinson teria entrado em contato com a ioga pela primeira vez em Chicago, entre 1892 e 1893, por intermédio de um tal Baba Bharata, que seria discípulo de Yogui Ramacharaka, um mestre indiano nascido nos últimos anos do século 18 e que teria confiado a seu discípulo a tarefa de dar continuidade à difusão de suas ideias. Os livros de Ramacharaka teriam sido psicografados pelo próprio Atkinson ou por outras pessoas, sob orientação espiritual direta do falecido mestre indiano, que por isso assumia a autoria das obras. A inexistência de registros documentais sobre Baba Bharata e sobre Yogui Ramacharaka, tanto na Índia quanto nos Estados Unidos, sugere que toda a história não passaria de uma invenção, talvez motivada por razões publicitárias. Os livros, afinal, seriam amplamente disseminados, não apenas nos Estados Unidos, senão em vários outros países, incluindo o Brasil, onde tais publicações, de fato, exerceram influência sobre o desenvolvimento da ioga.

3 SENTIDOS HISTÓRICOS DA IOGA

De origem indiana e com raízes antiguíssimas, recuando às vezes cinco mil anos, dependendo da versão e da modalidade, a ioga começou a ser introduzida no Ocidente por volta do século 19. Favoreceram o processo o romantismo e o imperialismo europeus. Por um lado, o romantismo valorizava novas formas de subjetividades, que relativizavam paradigmas ocidentais, ao mesmo tempo em que estimulavam a assimilação de elementos culturais do Oriente que pudessem ser vistos como primitivos ou esotéricos, como foi o caso da ioga. O interesse de artistas, escritores, filósofos, acadêmicos e eruditos europeus pelas coisas do Oriente deu início ao que pode ser chamado de renascimento oriental (SAID, 2007SAID, Eduard W. Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.). O imperialismo, por outro lado, permitia o contato com culturas do Oriente, ampliava o fluxo de trocas materiais e simbólicas entre o Oriente e o Ocidente, além de ter facilitado, por meio de coerção e de cooptação, uma arbitrária seleção de elementos históricos e culturais que iriam depois se sedimentar como “tradições autenticamente orientais”.

Em meados do século 19, quando os britânicos lutavam para consolidar seu domínio colonial sobre a Índia, certos grupos muçulmanos opuseram forte resistência, ao mesmo tempo em que partes da elite hindu, movidas por seus próprios interesses, atuaram como parceiros às vezes estratégicos. Os britânicos e seus novos aliados hindus logo passaram a representar o passado islâmico da Índia como uma era de trevas, tirania e fanatismo. Nesse contexto de dominação colonial e de disputas políticas entre diferentes facções da elite indiana, a herança islâmica da Índia foi quase inteiramente suprimida em favor da celebração de um passado hindu idealizado (MISHRA, 2007MISHRA, Pankaj. Tentações do Ocidente: a modernidade na Índia, no Paquistão e mais além. São Paulo: Globo, 2007., p. 121-122). A presença de técnicas de ioga em outras tradições religiosas que não a hindu, como o budismo, o jainismo ou o siquismo, foi igualmente subestimada (NEWCOMBE, 2009NEWCOMBE, Suzanne. The Development of Modern Yoga: A Survey of the Field. Religion Compass, v. 3, n. 6, p. 986-1002, 2009.).

O fato de que o cristianismo ocidental, através da doutrina do “cristianismo muscular”, tão influente na difusão global de esportes (cf. PUTNEY, 2001PUTNEY, Clifford. Muscular Christianity: Manhood and Sports in Protestant America, 1880-1920. New York: Harvard University, 2001.), também postulava, desde o século 19, a noção de que os cuidados com o corpo através de exercícios físicos eram uma forma eficaz de ligação espiritual com Deus, também costuma ser convenientemente pouco considerada, o que acentua a suposta singularidade de práticas “orientais” como recurso para ligação ou religação do corpo e do espírito. Assim, a dimensão holística da ioga, cujas técnicas ligariam corpo e espírito, tende a ser enfatizada como uma peculiaridade histórica do Oriente e de suas práticas. Além disso, influências ideológicas cristãs sobre formulações modernas da ioga ou mesmo do hinduísmo na Índia também foram e são ainda diminuídas (ALTER, 2006ALTER, Joseph S. Yoga at the Fin de Siècle: Muscular Christianity with a ‘Hindu’ Twist. The International Journal of the History of Sport, v. 23, n. 5, p. 759-776, 2006.; KING, 1999KING, Richard. Orientalism and the Modern Myth of "Hinduism". Numen, v. 46, n. 2, p. 146-185, 1999.). Por outro lado, a fim de facilitar adaptações e acomodações, elementos potencialmente conflitantes com cosmologias ocidentais são atenuados ou mesmo excluídos do universo de referências da ioga, como foi o caso da possibilidade de involução espiritual preconizada pela religiosidade hindu.

O início das viagens dos primeiros mestres hindus da Índia para os Estados Unidos marca um importante ponto de inflexão histórica no processo de difusão da ioga no Ocidente, tanto quanto sobre as configurações que a prática assumiria na Índia. No início do século 20, aumenta a presença de mestres indianos de ioga na Europa e nos Estados Unidos, ao mesmo tempo em que europeus e norte-americanos começam a viajar para a Índia em busca de mais conhecimentos sobre a ioga. O fluxo de pessoas entre Oriente e Ocidente facilitou o intercâmbio de ideias nos dois contextos. Técnicas corporais do atual repertório da ioga, como o relaxamento, frequentemente associadas à uma suposta tradição religiosa indiana medieval, na verdade não têm precedentes na Índia pré-moderna e são em grande medida invenções europeias e norte-americanas do século 19 (SINGLETON, 2005SINGLETON, Mark. Salvation through Relaxation: Proprioceptive Therapy and its Relationship to Yoga. Journal of Contemporary Religion, v. 20, n. 3, p. 289-304, 2005.).

Apenas sob uma perspectiva ocidental e orientada por um olhar enviesado por exotismos, movida, além disso, por um desejo de saciar expectativas simbólicas e espirituais das classes médias do Ocidente, poder-se-ia confinar às alteridades da ioga a diferenças culturais absolutas entre o Ocidente e o Oriente. Com efeito, um adequado entendimento da ioga moderna só é possível se a estrutura de referência for global. A ioga, afinal, tal como a conhecemos atualmente, é o resultado do encontro moderno de pessoas e ideias - tanto religiosas quanto científicas - do Oriente e do Ocidente (MICHELIS, 2008MICHELIS, Elizabeth de. Modern yoga: history and forms. In: SINGLETON, M.; BYRNE, J. Yoga in the Modern World: contemporary perspectives. New York: Routledge, 2008. p. 17-35.).

A história da ioga no Brasil, em particular, também é o resultado de um longo, complexo e multilateral circuito internacional de trocas materiais e simbólicas entre a Índia, a América do Sul e o Atlântico Norte, que deita raízes desde os fins do século 19. Como vimos, tais circuitos envolveram uma sincrética organização esotérica criada por uma russa nos Estados Unidos, cujos membros, no Brasil, organizariam depois viagens de mestres iogues indianos educados em escolas europeias, ao mesmo tempo em que traduziam e divulgavam livros de um norte-americano iniciado na ioga sem nunca ter viajado à Índia.

Nesse contexto, foi fundamentalmente como uma terapia ou uma ginástica por meio de exercícios posturais e respiratórios que a ioga se difundiu no Brasil e em outros países do Ocidente, em que pese os componentes filosóficos ou espirituais da prática. A afirmação da ioga como uma técnica corporal com fundamento científico e capaz de promover a saúde dos seus praticantes foi fundamental para a assimilação da prática no Ocidente, distanciando-a, assim, das imagens de exotismo e charlatanismo que inicialmente a marcaram nesse contexto, ao mesmo tempo em que evitava confrontos com teologias cristãs.

Desde os fins do século 19, quando se inicia sistematicamente a disseminação da ioga no Ocidente, influentes difusores da prática, quase sempre ligados a movimentos espirituais sincréticos, várias vezes enfatizaram explicitamente que apenas alguns de seus aspectos deveriam ser assimilados, buscando compatibilizá-los com crenças cristãs e com a racionalidade ocidental (JACKSON, 1975JACKSON, Carl T. The New Thought Movement and the Nineteenth Century Discovery of Oriental Philosophy. The Journal of Popular Culture, v. 9, n. 3, p. 523-548, 1975.). Essa mesma retórica também esteve pronunciada no desenvolvimento moderno da ioga na própria Índia, na transição entre os séculos 19 e 20, quando figuras como Yogendra e Kuvalayananda estruturam e difundiram a ioga como uma prática para a educação física de crianças indianas e símbolo do nacionalismo hindu (ALTER, 2006ALTER, Joseph S. Yoga at the Fin de Siècle: Muscular Christianity with a ‘Hindu’ Twist. The International Journal of the History of Sport, v. 23, n. 5, p. 759-776, 2006.; STRAUSS, 2002STRAUSS, Sarah. “Adapt, adjust, accommodate”: the production of yoga in a transnational world. History and Anthropology, v. 13, n. 3, p. 231-251, 2002.). Nessa dinâmica, os aspectos religiosos da prática foram seletivamente atenuados, tanto no Ocidente quanto no Oriente.

Assim, ao longo da primeira metade do século 20, a ioga tendeu a se afirmar cada vez mais como uma modalidade científica de ginástica para a promoção da saúde, como um estilo de vida a ser consumido pelas classes médias urbanas ou como uma filosofia para o desenvolvimento espiritual individual - quase nunca como uma religião com apelos comunitários. Esses processos de modernização da ioga na Índia e de assimilação da prática no Ocidente, que tendeu a pôr em segundo plano suas dimensões religiosas, sem nunca as desprezar inteiramente, todavia, contaram com ativa participação de mestres indianos, geralmente educados em escolas europeias. Foi Vivekananda, afinal, o ícone maior da difusão inicial da ioga no Ocidente, o primeiro a dizer que a Gita e a Krishna seriam mais bem compreendidas com músculos mais fortes (ALTER, 2006ALTER, Joseph S. Yoga at the Fin de Siècle: Muscular Christianity with a ‘Hindu’ Twist. The International Journal of the History of Sport, v. 23, n. 5, p. 759-776, 2006., p. 759). Foi também o próprio Vivekananda, que viajou para os Estados Unidos pela primeira vez em 1893 a fim de participar do Congresso das Religiões em Chicago, onde pôde estreitar interlocução com cientistas cristãos, tendo permanecido ali por sete anos mais, quem estabeleceu a ioga como uma técnica corporal individual e científica; espécie de commodity espiritual oriental, passível de intercâmbio comercial por bens materiais ocidentais, determinando os sentidos da transformação moderna da ioga tanto no Ocidente quanto na Índia (BURGER, 2006BURGER, Maya. What Price Salvation? The Exchange of Salvation Goods between India and the West. Social Compass, v. 53, n. 1, p. 81-95, 2006.). Em outras palavras, foi Vivekananda, um mestre indiano, o primeiro a oferecer possibilidades de salvação espiritual através da prática da ioga em troca de dinheiro.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O processo de assimilação da ioga no Brasil, especificamente, não escapou desse mesmo quadro geral, que de certo modo até hoje marca ainda o universo dessa comunidade de prática. Diferente dos significados que parecem predominar atualmente ao redor da prática da ioga, muito associadas a uma técnica corporal com o propósito de promover a saúde, o que inclusive desagrada alguns adeptos que veem nisso uma distorção do que imaginam ser as “autênticas tradições indianas”, as primeiras iniciativas para divulgação desta prática no Brasil foram fortemente marcadas pela valorização de uma dimensão mística, esotérica, filosófica e espiritual - tal como parecem desejar esses adeptos descontentes com a atual ênfase da prática sobre a saúde. Paradoxalmente, porém, enquanto predominaram esses significados, a prática esteve confinada a um grupo relativamente reduzido de entusiastas, em que pesem esforços para a sua divulgação.

Embora seja difícil avaliar o quanto a ioga de fato se popularizou no Brasil durante as duas ou três primeiras décadas do século 20, os resultados iniciais das primeiras iniciativas para a sua divulgação parecem ter sido limitados, mantendo-a como algo marginal e confinada a restritos círculos de entusiastas. Nada sugere que tenha ocorrido uma significativa popularização da prática nesse período. Apenas a partir da década de 1930, e especialmente a partir da década de 1940, haveria de fato uma lenta, mas progressiva, ampliação do círculo de adeptos e praticantes da ioga. Esse paulatino processo de popularização coincide com o momento em que os aspectos espirituais da ioga começaram gradualmente a ceder lugar a uma dimensão cada vez mais corporalmente performática. Dessa época em diante, revistas semanais e jornais de grande circulação começaram a apresentar reportagens sobre artistas, atletas e políticos famosos que tinham assimilado a ioga como recurso de embelezamento físico, medida profilática de promoção de saúde e prática de treinamento corporal (DESILUDIDO DA VIDA, 1938; LOU NOVA..., 1939, p. 18; A BELLEZA..., 1939, p. 23).

A lenta difusão da ioga no Brasil, como em outros países do Ocidente, tenderia a fixar cada vez mais visivelmente esses significados sobre a prática. Esses significados, distantes já da retórica sobre uma prática exótica, combinavam um horizonte espiritual ou filosófico, a que aspiravam e aspiram ainda hoje alguns dos seus entusiastas, ao mesmo tempo em que enfatizavam as oportunidades de a prática também funcionar como uma modalidade de ginástica. Na verdade, parte relevante do apelo histórico da ioga consiste, justamente, na possibilidade de combinar enunciados que a apresentem como uma prática capaz de melhorar a saúde, tal como prescrito pela mentalidade médica moderna, ao mesmo tempo em que está associada a uma antiga tradição espiritual oriental (STRAUSS, 2002STRAUSS, Sarah. “Adapt, adjust, accommodate”: the production of yoga in a transnational world. History and Anthropology, v. 13, n. 3, p. 231-251, 2002.). Assim, difundiu-se e assimilou-se a ioga como uma ginástica moderna e com fundamentos científicos, com a vantagem de ainda conciliar, ao mesmo tempo, oportunidades para o desenvolvimento espiritual através da ligação ou religação entre corpo e espírito, sem confrontar, todavia, com a religiosidade cristã e a racionalidade ocidental.

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    Neste artigo, mantivemos a grafia da palavra ioga com a letra i, e não com a letra y, seguindo convenção da língua portuguesa. A grafia com a letra y, contudo, tal como no sânscrito, geralmente é preferida por algumas comunidades de praticantes. Essas preferências suscitam discussões teóricas acerca do caráter histórico ou contingente de práticas culturais que engendram tradições que poderão depois ser tomadas como mais ou menos falsas ou verdadeiras. Esse tópico, porém, escapa aos limites deste artigo, embora ofereça um pano de fundo para o que se segue.
  • FINANCIAMENTO

    O presente trabalho foi realizado sem o apoio de fontes financiadoras.

Editado por

RESPONSABILIDADE EDITORIAL

Lisandra Silva *, Alex Branco Fraga *, Elisandro Schultz Wittizorecki *, Ivone Job *, Mauro Myskiw *, Raquel da Silveira *
* Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Escola de Educação Física, Fisioterapia e Dança, Porto Alegre, RS, Brasil.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    07 Jan 2022
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    24 Maio 2021
  • Aceito
    26 Ago 2021
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