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LUTAS E DISPUTAS NO CAMPO CIENTÍFICO DA EDUCAÇÃO FÍSICA: O GRUPO DE TRABALHO TEMÁTICO GÊNERO NO COLÉGIO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE

STRUGGLES AND DISPUTES IN THE SCIENTIFIC FIELD OF PHYSICAL EDUCATION: THE GENDER THEMATIC WORKING GROUP AT THE BRAZILIAN COLLEGE OF SPORTS SCIENCES

LUCHAS Y DISPUTAS EN EL ÁMBITO CIENTÍFICO DE LA EDUCACIÓN FÍSICA: EL GRUPO DE TRABAJO TEMÁTICO DE GÉNERO EN EL COLEGIO BRASILEÑO DE CIENCIAS DEL DEPORTE

Resumo:

O objetivo deste trabalho é compreender as dinâmicas dos processos de lutas e disputas pela criação do Grupo de Trabalho Temático Gênero (GTT) no campo científico da Educação Física, especificamente dentro do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte. Para isso, o estudo é desenvolvido de acordo com a Teoria da Prática, de Pierre Bourdieu. O percurso metodológico é qualitativo e bibliográfico, com análise documental. Os resultados indicam que o campo vem adquirindo autonomia dentro da entidade, sendo que as trajetórias das coordenadoras foram basilares para a criação. No entanto, na movimentação do campo científico, as lutas e disputas não são desinteressadas. Conclui-se que o campo tem tendências e que os agentes podem criar espaços de lutas. Devido ao capital simbólico acumulado, os agentes que produzem sobre a temática de gênero na Educação Física consolidaram o GTT Gênero a partir de seu movimento no campo científico.

Palavras-chave:
Educação Física; Estudos de Gênero; Publicações de divulgação científica; Pierre Bourdieu

Abstract:

This study aimed to understand the dynamics of the processes of struggles and disputes by the creation of the Gender Thematic Working Group (GTT) in the scientific field of Physical Education, specifically within the Brazilian College of Sports Sciences supported by Pierre Bourdieu’s Theory of Practice. The methodological path is qualitative and bibliographic with document analysis. The results indicated that the field has been acquiring autonomy within the entity; the coordinators’ trajectories were essential for its creation; however, in the movement of the scientific field, the struggles and disputes are not without interests. This study concludes that the field has biases and that the agents are able to create struggle spaces. Due to the accumulated symbolic capital, the agents that produce about the gender theme in Physical Education consolidated the GTT Gender from its movement in the scientific field.

Keywords:
Physical Education; Gender Studies; Scientific dissemination publications; Pierre Bourdieu

Resumen:

El objetivo de este trabajo es comprender la dinámica de los procesos de luchas y disputas por la creación del Grupo de Trabajo Temático de Género (GTT) en el ámbito científico de la Educación Física, concretamente en el seno del Colegio Brasileño de Ciencias del Deporte. Para ello, el estudio se desarrolla según la Teoría de la Práctica, de Pierre Bourdieu. El recorrido metodológico es cualitativo y bibliográfico, con análisis documental. Los resultados indican que el campo ha ido adquiriendo autonomía dentro de la entidad y que las trayectorias de las coordinadoras fueron fundamentales para su creación. Sin embargo, en el movimiento del campo científico, las luchas y disputas no son desinteresadas. Concluimos que el campo tiene tendencias y que los agentes pueden crear espacios de lucha. Debido al capital simbólico acumulado, los agentes que producen sobre el tema de género en la Educación Física consolidaron el GTT Género a partir de su movimiento en el ámbito científico.

Palabras clave:
Educación Física; Estudios de género; Publicaciones de divulgación científica; Pierre Bourdieu

1 INTRODUÇÃO

A Educação Física (EF) é um campo que se desenvolveu fundamentado em bases biomédicas, sendo originária das ciências mães1 1 As ciências mães podem ser entendidas como Medicina, Psicologia, Anatomia, Fisiologia, entre outras. (BRATCH, 2003; SOARES, 2004). . Ao longo da sua historicidade, a EF se edificou no campo da produção científica e se aproximou das ciências humanas. Logo, em seu fazer científico, ela buscou (e ainda busca) compreender e se apropriar da diversidade dos processos que compreendem o corpo e o esporte enquanto prática social (BRACHT, 2003BRACHT, Valter. Educação física e ciência: cenas de um casamento (in)feliz. 2 ed. Ijuí. Ed. Unijuí, 2003.; SOARES, 2004SOARES, Carmem Lúcia. Educação Física: raízes europeias e Brasil. 3. ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2004).

Compreende-se, assim, que a EF é um campo científico diferente de outros campos, pois tem um desenvolvimento recente e se relaciona com outras áreas de conhecimento. Por essa razão, analisar as lutas e disputas que permeiam o campo são fundamentais, pois apenas imergindo no modus operandi desse campo é que se pode visualizar o que está em jogo (LAZZAROTTI FILHO, 2011LAZZAROTTI FILHO, Ari. O modus operandi do campo acadêmico-científico da Educação Física no Brasil. Tese (Doutorado em Educação Física) - Universidade Federal de Santa Catarina, 2011.).

Objetivando compreender alguns movimentos que permeiam o campo, a EF acompanha o processo de desencadeamento dos debates de Gênero de instituições como a ANPEd e ABRASCO. Sendo assim, passa a dialogar com essa temática na década de 1980, mas é apenas na década de 1990 que tais estudos ganham destaque, sobretudo nos programas de pós-graduação stricto sensu. É consenso na literatura dos estudos de gênero que as desigualdades entre gênero são construções sociais, e não aspectos de origem biológica/corporal. Na EF, esse campo de estudo vem crescendo desde o início dos anos 2000 no Brasil (SCOTT, 1995SCOTT, Joan Wallach. “Gênero: uma categoria útil de análise histórica”. Educação & Realidade, v. 20, n. 2, p. 71-99, jul./dez. 1995.; GOELLNER, 2005GOELLNER, Silvana Vilodre. Gênero. In: GONZÁLEZ, Fernando Jaime; FENSTERSEIFER, Paulo Evaldo. Dicionário Crítico de Educação Física. Ijuí: Unijuí, 2005. p. 207-209.; DEVIDE, 2020DEVIDE, Fabiano Pries. Estudos de gênero na Educação Física brasileira: entre ameaças e avanços, na direção de uma pedagogia queer. In: WENETZ, Ileana; ATHAYDE, Pedro; LARA, Larissa (org). Gênero e sexualidade no esporte e na educação física. Natal: EDUFRN, 2020. Disponível em: https://repositorio.ufrn.br/handle/123456789/29067 Acesso em: 10 de fev. de 2022.
https://repositorio.ufrn.br/handle/12345...
).

Considerando o desenvolvimento do campo da EF e os agentes que demarcam o processo de consolidação do fazer científico, o Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte (CBCE) é fundado na década de 1970, em meio ao processo de expansão do campo - reforçando a necessidade de um locus para o fazer científico (BRACHT, 2003BRACHT, Valter. Educação física e ciência: cenas de um casamento (in)feliz. 2 ed. Ijuí. Ed. Unijuí, 2003.; LAZZAROTTI FILHO, 2011LAZZAROTTI FILHO, Ari. O modus operandi do campo acadêmico-científico da Educação Física no Brasil. Tese (Doutorado em Educação Física) - Universidade Federal de Santa Catarina, 2011.).

Além desse locus específico (CBCE), observa-se, no processo de desenvolvimento da dinâmica institucional, a criação dos Grupos de Trabalhos Temáticos (GTT), em 1996. Contudo, o GTT Gênero é criado apenas em 2013.

Objetivando buscar legitimidade acadêmica para os estudos feministas, a palavra gênero vem para auxiliar a compreensão das relações sociais entre homens e mulheres (SCOTT, 1995SCOTT, Joan Wallach. “Gênero: uma categoria útil de análise histórica”. Educação & Realidade, v. 20, n. 2, p. 71-99, jul./dez. 1995.). Na EF, os estudos de gênero versam sobre: metodologias para EF Escolar (coeducação, aulas mistas e/ou separadas por gênero); estereótipos de gênero ligados às práticas corporais no esporte e na EF; história das mulheres; dinâmicas de exclusão, inclusão e autoexclusão; representações sociais na mídia esportiva; gestão esportiva; masculinidades e feminilidades no esporte; sexualidade; identidade sexual (focado na homossexualidade); e estudos que acionam a teoria queer, estudando, predominantemente, questões que atingem as mulheres (DEVIDE et al., 2011DEVIDE, Fabiano Pries et al. Estudos de gênero na Educação Física brasileira. Motriz: Revista de Educação Física, v. 17, n. 1, p. 93-103, 2011.; 2020).

Em diálogo com as investigações desenvolvidas no campo, o GTT Gênero propõe o desenvolvimento de

Estudos sobre os processos específicos através dos quais as práticas esportivas e corporais produzem e transformam os sentidos do feminino e do masculino, que tenham por base suportes teórico-metodológicos de diferentes campos disciplinares em sua interface com Educação Física e Ciências do Esporte. (CBCE, 2021dCBCE - COLÉGIO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE. GTT 07 - Gênero, 2021d. Disponível em: https://www.cbce.org.br/gtt/gtt07-genero Acesso em: 10 fev. 2021.
https://www.cbce.org.br/gtt/gtt07-genero...
).

Diante desse importante cenário histórico e com apoio na Teoria da Prática, proposta por Pierre Bourdieu, e os conceitos relacionais habitus, campo e capital, o objetivo deste trabalho é compreender as dinâmicas dos processos de lutas e disputas pela criação do GTT Gênero no campo científico da EF, especificamente dentro do CBCE.

2 BASES TEÓRICAS

A partir da relação dialética entre objetivismo/estruturalismo e subjetivismo/fenomenologia, estrutura e sujeito, a Teoria da Prática, proposta por Bourdieu, busca contribuir com análises dos mecanismos que permeiam diferentes campos e espaços sociais (BOURDIEU, 1983BOURDIEU, Pierre. O campo científico. In: ORTIZ, R. Pierre Bourdieu. São Paulo: Ática, 1983. p.122-155).

Para o autor, esses processos ou mecanismos se constituem segundo o habitus, que seria um sistema de disposições duráveis e singulares, construído a partir de esquemas geradores com base nos arbitrários culturais (família, escola, igreja etc.). É a partir da relação dialética entre habitus e campo que se desenvolve o mundo social, permeado por diversos campos (MARTINS, 1987MARTINS, Carlos Benedito. Estrutura e ator: a teoria da prática em Bourdieu. Educação e Sociedade, n. 27, p.33-46, set. 1987.; BOURDIEU, 2009BOURDIEU, Pierre. Senso prático. Petrópolis: Vozes, 2009.).

Os campos são microcosmos que fazem parte do macrocosmo do espaço social global. Este é composto por diversos microcosmos e suas especificidades, tendo regras próprias do jogo. Cada campo é um espaço organizado e estruturado conforme as posições que os agentes ocupam, os quais podem ser dominantes ou dominados. O campo é um espaço de lutas e disputas, e o que está em jogo é o monopólio do capital (BOURDIEU, 2004BOURDIEU, Pierre. Os usos sociais da ciência: por uma sociologia clínica do campo científico. São Paulo: Editora UNESP, 2004.; LAHIRE, 2017LAHIRE, Bernard. Campo (Verbete). In: CATANI, Afrânio Mendes et al. Vocabulário Bourdieu. Belo Horizonte: Autêntica, 2017, p.64-66.). O CBCE e seus GTTs são exemplos de espaços de disputas entre agentes.

O capital, conceito que Bourdieu toma emprestado da economia, é acumulado a partir do investimento em estratégias específicas. Apresenta-se de diversos tipos (cultural, social, linguístico, científico, simbólico), sendo distribuído de forma desigual entre os agentes. O agente que possui pouco capital é dominado, e o que possui muito capital é dominante. Logo, o volume de capital determina a posição que o agente ocupa no campo (MOORE, 2018MOORE, Rob. Capital. In: GRENFELL, Michael. Pierre Bourdieu: conceitos fundamentais. Petropólis, Rj: Vozes, 2018 p.136-154.).

Transpondo para o campo científico, Bourdieu (1983)BOURDIEU, Pierre. O campo científico. In: ORTIZ, R. Pierre Bourdieu. São Paulo: Ática, 1983. p.122-155 localiza que a disputa é em torno do monopólio da autoridade científica. Portanto, o agente deve ser reconhecido pelos seus pares, adquirindo prestígio para, assim, lucrar capital simbólico (que simboliza o prestígio e o reconhecimento) e poder obter legitimidade. O autor ainda ressalta que a luta pela autoridade científica é também um conflito político, sendo indissociáveis, pois qualquer ação no campo não é desinteressada, uma vez que objetiva a acumulação de capital simbólico.

Os campos estão em constante movimento e têm autonomia relativa; logo, não são cristalizados. Como são espaços de luta, para conquistar a consagração e se tornar dominante no jogo do campo científico, é preciso gosto, interesse e investimento do agente (BOURDIEU, 1983BOURDIEU, Pierre. O campo científico. In: ORTIZ, R. Pierre Bourdieu. São Paulo: Ática, 1983. p.122-155; 1999).

No campo científico, o agente desenvolve o habitus ao aprender, entender e se apropriar do senso e das regras do jogo. A partir de estratégias que acumulem capital científico2 2 Destarte, é fundamental compreender que “o capital científico é uma espécie particular do capital simbólico (o qual, sabe-se, é sempre fundado sobre atos de conhecimento e reconhecimento) que consiste no reconhecimento (ou no crédito) atribuído pelo conjunto de pares-concorrentes no interior do campo científico” (BOURDIEU, 2004, p. 26). , o agente edifica a trajetória no meio universitário a partir de iniciações científicas, publicações em periódicos e titulações (BOURDIEU, 1983BOURDIEU, Pierre. O campo científico. In: ORTIZ, R. Pierre Bourdieu. São Paulo: Ática, 1983. p.122-155).

Diante desses apontamentos teóricos, inferimos que o campo da EF brasileira, ao longo do seu processo histórico, tem passado por diversas lutas e disputas para adquirir legitimação enquanto campo científico.

2.1 O CAMPO DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO BRASIL: breves antecedentes históricos

Considerando as estratégias de acumulação de capital científico, é notório que diferentes agentes intelectuais edificaram suas trajetórias no meio universitário a partir de iniciações cientificas, publicações em periódicos e participação em entidades como o CBCE e grupos de pesquisa.

As bases biomédicas contribuíram hegemonicamente para o desenvolvimento do campo da Educação Física a partir das ciências da natureza, e não fundada em uma ciência própria. Como esclarecem Soares (2004)SOARES, Carmem Lúcia. Educação Física: raízes europeias e Brasil. 3. ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2004 e Silva (2014)SILVA, André Luiz dos Santos. Nos domínios do corpo e da espécie: eugenia e biotipologia na constituição disciplinar da educação física. Porto Alegre: Orquestra, 2014. Disponível em: https://www.cbce.org.br/item/nos-dominios-do-corpo-e-da-especie--eugenia-e-biotipologia-na-constituicao-disciplinar-da-educacao-fisica Acesso em: 15 dez. 2020.
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, no século XX, o ensino dos conteúdos da EF Escolar tinha um caráter médico-higienista, com finalidades de melhoramento de raça e da moral.

Na década de 1980, desenvolve-se o movimento renovador desse campo. Instaura-se o debate sobre qual é a ciência da EF e se ela é, de fato, uma ciência. Objetivava-se construir identidade e autonomia científica para o campo, estabelecendo uma dicotomia no campo científico: de um lado, estavam os agentes que defendiam uma EF que visa compreender o movimento humano (objeto da motricidade); do outro, os agentes que defendiam a EF como uma prática pedagógica (objeto da cultural corporal) (BRACHT, 2003BRACHT, Valter. Educação física e ciência: cenas de um casamento (in)feliz. 2 ed. Ijuí. Ed. Unijuí, 2003.).

No final da década de 1980, reestruturam-se currículos da graduação. Manteve-se a ênfase nas disciplinas biológicas e foram inseridas disciplinas das áreas humanas e sociais, modificando a dinâmica do campo científico (ARAÚJO, 2020ARAUJO, Raffaelle Andressa dos Santos. Formação docente em educação física no Brasil: do pensamento curricular à produção do conhecimento. In: SOARES, Marta Genú; ATHAYDE, Pedro; LARA, Larissa (org.). Formação profissional e mundo do trabalho. Natal: EDUFRN, 2020. Disponível em: https://www.cbce.org.br/item/formacao-profissional-e-mundo-do-trabalho---ciencias-do-esporte--educacao-fisica-e-producao-do-conhecimento-em-40-anos-de-cbce Acesso em: 20 fev. 2021.
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). Foi apenas na década de 1990 que se iniciou uma expansão dos cursos de graduação e pós-graduação em EF. Lazzarotti Filho (2011)LAZZAROTTI FILHO, Ari. O modus operandi do campo acadêmico-científico da Educação Física no Brasil. Tese (Doutorado em Educação Física) - Universidade Federal de Santa Catarina, 2011. afirma que nesses cursos não havia uma produção científica expressiva, e a maioria dos docentes era das ciências biológicas e da saúde.

Lazzarotti Filho, Silva e Mascarenhas (2014)LAZZAROTTI FILHO, Ari; SILVA, Ana Márcia; MASCARENHAS, Fernando. Transformações contemporâneas do campo acadêmico-científico da Educação Física no Brasil: novos habitus, modus operandi e objetos de disputa. Movimento (Porto Alegre), v. 20, n. esp., p. 67-80, 2014. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/48280 Acesso em: 20 de jan. de 2021.
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explanam que o campo científico da EF adquire mais autonomia a partir da primeira década do século XXI. Ampliam-se as perspectivas e inserem-se novas concepções em razão das novas dinâmicas que estão emergindo no espaço social, as quais são resultado do processo histórico das décadas de 1980 e 1990.

Sinalizadas as distinções entre duas fases marcantes do campo científico, a primeira década do século XXI está imbricada fortemente com posicionamentos políticos. Os intelectuais-acadêmicos têm grande representatividade, e a divulgação dos conhecimentos é por meio dos livros. O objeto de disputa do campo contemplava teoria, metodologia e conceitos.

Na segunda metade do século XXI, as características acadêmico-científicas ganham força. A prática científica é difundida, os pesquisadores produtivos se destacam, os periódicos se tornam meio de divulgação e os objetos em disputa são os artigos publicados, as bolsas e a coordenação de programas de pós-graduação.

Destarte, é possível apreender que o campo da EF constrói autonomia a partir do processo de mudança dos seus objetos e o consequente desenvolvimento de disputas. Como Lazzarotti Filho, Silva e Mascarenhas (2014)LAZZAROTTI FILHO, Ari; SILVA, Ana Márcia; MASCARENHAS, Fernando. Transformações contemporâneas do campo acadêmico-científico da Educação Física no Brasil: novos habitus, modus operandi e objetos de disputa. Movimento (Porto Alegre), v. 20, n. esp., p. 67-80, 2014. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/48280 Acesso em: 20 de jan. de 2021.
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esclarecem, há uma modificação no modus operandi do campo.

Enfim, identificar o funcionamento do campo científico da EF é fundamental para compreender a dinâmica dos agentes, o habitus científico e seus objetos de disputa do campo. Bourdieu (1983)BOURDIEU, Pierre. O campo científico. In: ORTIZ, R. Pierre Bourdieu. São Paulo: Ática, 1983. p.122-155 definiria esse aspecto como o campo em constante movimento.

Nesse processo de desenvolvimento e movimento histórico do campo científico da EF, destacam-se a entidade científica CBCE e seu GTT Gênero. O objeto de análise deste artigo está localizado no processo de expansão marcado por lutas e disputas para a sua criação. A partir de agora, exploraremos as decisões metodológicas assumidas para compreender o processo de criação desse GTT de Gênero e as trajetórias das coordenadoras. Em seguida, objetivamos refletir e problematizar esse movimento do campo a partir dos conceitos relacionais propostos por Bourdieu.

3 DECISÕES METODOLÓGICAS

Optamos por uma pesquisa documental, na qual exploramos fontes documentais que não passaram por um tratamento analítico. A partir da análise documental (GIL, 2008GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008.), explanaremos os processos de lutas e disputas simbólicas no campo acadêmico-científico presentes na criação do GTT Gênero no CBCE, considerando o método Bourdieu.

Na seleção dos documentos, foram utilizados Relatórios de Grupo Temático de Trabalho Gênero (2013 - 2015), (2015 - 2017), (2017 - 2018), Plano Estratégico GTT Gênero (2019) e Regimento dos Grupos de Trabalhos Temáticos disponíveis virtualmente no site do CBCE, os quais foram acessados entre janeiro e fevereiro de 2021. Ademais, foi analisada entrevista e parecer sobre a solicitação de criação do GTT disponibilizados virtualmente no Centro de Memória do Esporte (CEME) da Escola de EF Fisioterapia (ESEFID) da UFRGS, acessado em agosto de 2021. Os documentos foram lidos na íntegra por dois pesquisadores, que localizaram trechos que revelavam as lutas e disputas do processo de legitimação para a criação do GTT Gênero.

Para a análise desse processo, foi utilizado o método Bourdieu e seus conceitos relacionais campo, habitus e capital, a partir do campo científico (BOURDIEU, 1983BOURDIEU, Pierre. O campo científico. In: ORTIZ, R. Pierre Bourdieu. São Paulo: Ática, 1983. p.122-155, 1989BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil; Lisboa: Difel, 1989., 1999BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas simbólicas. 5.ed. São Paulo: Perspectiva, 1999., 2004BOURDIEU, Pierre. Os usos sociais da ciência: por uma sociologia clínica do campo científico. São Paulo: Editora UNESP, 2004., 2007BOURDIEU, Pierre. A distinção: crítica social do julgamento. São Paulo: Porto Alegre; Edusp:Zouk, 2007., 2009, 2015, 2019; BOURDIEU; PASSERON, 2014BOURDIEU, Pierre; PASSERON, Jean-Claude. Os herdeiros: os estudantes e a cultura. Florianópolis: Editora UFSC, 2014.).

4 ANÁLISES E DISCUSSÕES

4.1 O CBCE E O GTT DE GÊNERO: desdobramentos da luta no campo

O CBCE é uma entidade científica ligada ao campo da EF, fundada em 1978 no estado de São Paulo. Seus fundadores eram oriundos da medicina esportiva. Destarte, um dos objetivos da sua criação era estimular a produção cientifica no campo das ciências do esporte, que ainda estava em processo de construção e expansão (CBCE, 1978CBCE - COLÉGIO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE. Ata de fundação, 1978. Disponível em: http://cev.org.br/arquivo/biblioteca/3002845.pdf Acesso em: 04 dez. 2020.
http://cev.org.br/arquivo/biblioteca/300...
; DAMASCENO, 2011DAMASCENO, Luciano Galvão. 30 anos do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte: educação física e a construção de uma hegemonia. 2011. 329f. Dissertação (Mestrado em Educação Física) - Faculdade de Educação Física. Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2011. Disponível em: https://1library.org/document/zpwjpd4y-colegio-brasileiro-ciencias-esporte-educacao-fisica-construcao-hegemonia.html Acesso em 09 de janeiro de 2021.
https://1library.org/document/zpwjpd4y-c...
; MACEDO; GOELLNER, 2014MACEDO, Christiane Garcia; GOELLNER, Silvana Vilodre. Gênero e Educação Física: inclusão da temática nos CONBRACEs. In: CONGRESSO SULBRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, 7., 2014. Anais.... Disponível em: http://congressos.cbce.org.br/index.php/7csbce/2014/paper/view/5907 Acesso em: 31 jan. 2021.
http://congressos.cbce.org.br/index.php/...
).

Seu status no campo é notório, pois é responsável pela Revista Brasileira de Ciências do Esporte (RBCE), pelos Cadernos de Formação RBCE e pelo evento científico Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte (CONBRACE). Ademais, está ligado à Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) (CBCE, 2021aCBCE - COLÉGIO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE. A história do CBCE: apresentação, 2021a. Disponível em: https://www.cbce.org.br/apresentacao/ Acesso em: 10 jan. 2021.
https://www.cbce.org.br/apresentacao/...
).

Na dinâmica do CONBRACE, Paiva (2006)PAIVA, Fernanda Simone Lopes de. Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte - CBCE. In: DACOSTA, Lamartine (org). Atlas do Esporte no Brasil. Rio de Janeiro: CONFEF, 2006. Disponível em: http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/283.pdf . Acesso em: 09 jan. 2021.
http://www.atlasesportebrasil.org.br/tex...
localiza a inserção dos Grupos de Trabalhos Temáticos (GTT) em 1996. Para além de sistematizar as publicações no evento, os GTTs têm o objetivo de aglutinar pesquisadores em temas de subcampos específicos, como atividade física e saúde, epistemologia, escola, lazer e sociedade, treinamento desportivo, entre outros. Atualmente, o evento conta com o total de 13 GTTs (CBCE, 2021bCBCE - COLÉGIO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE. Grupo de Trabalhos Temáticos, 2021b. Disponível em: https://www.cbce.org.br/gtts/ Acesso em: 10 fev. 2021.
https://www.cbce.org.br/gtts/...
)

Bracht (2003)BRACHT, Valter. Educação física e ciência: cenas de um casamento (in)feliz. 2 ed. Ijuí. Ed. Unijuí, 2003. explana que “o CBCE, entidade da sociedade civil, busca a inciativa e chamar para si a responsabilidade de orientar o desenvolvimento científico da área da EF/CE” (p. 58). Podemos apreender que, durante o processo de expansão do campo científico da EF na década de 1980, o CBCE demarca a busca por legitimidade e autonomia que estava em construção. Bracht explana que, naquela conjuntura, estava ocorrendo um grande incentivo financeiro para a qualificação de docentes em cursos de pós-graduação no exterior, intercâmbios, o início da implantação da pós-graduação em EF em solo brasileiro e a construção de laboratórios nas universidades (BRACHT, 2003BRACHT, Valter. Educação física e ciência: cenas de um casamento (in)feliz. 2 ed. Ijuí. Ed. Unijuí, 2003.).

Lazzarotti Filho (2011)LAZZAROTTI FILHO, Ari. O modus operandi do campo acadêmico-científico da Educação Física no Brasil. Tese (Doutorado em Educação Física) - Universidade Federal de Santa Catarina, 2011. pontua que outro marco relevante para o campo científico foi a mudança da dinâmica dentro do CBCE. A partir de 1989, novos agentes imbricados com as ciências humanas e sociais passam a integrar a estrutura dessa entidade científica, transcendendo a base biomédica predominante e rompendo com a hegemonia do campo.

Bracht (2003)BRACHT, Valter. Educação física e ciência: cenas de um casamento (in)feliz. 2 ed. Ijuí. Ed. Unijuí, 2003. enfatiza a importância de situar esse marco na história, tanto pela inciativa quanto pelo significado sociopolítico. Como esclarece o autor, essa atitude demarca a institucionalização da pesquisa científica no campo da EF. O CBCE vem para afirmar e delinear o fazer científico do campo, pois sua construção foi um marco no campo científico e se tornou um agente importante para a constituição do processo de autonomia científica do campo da EF. Ele engendrou legitimidade a partir da sistematização da produção de conhecimento em um locus no campo científico.

A seguir, localizamos a história do GTT Gênero, seu processo de criação dentro do CBCE e os desdobramentos determinantes desse processo.

Os GTTs contam um estatuto geral próprio, indicando os critérios para a formação do comitê científico e o coordenador que o comporá. Deste último, exige-se, minimamente, o título de doutor e ele pode permanecer por dois anos (CBCE, 2007CBCE - COLÉGIO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE. Regimento dos Grupos de Trabalhos Temáticos. Recife, 2007. Disponível em: https://www.cbce.org.br/regimento/gtts Acesso em: 10 fev. de 2022.
https://www.cbce.org.br/regimento/gtts...
; 2018CBCE - COLÉGIO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE. Estatuto, 2018. Disponível em: https://www.cbce.org.br/estatuto/ Acesso em: 17 ago. 2021.
https://www.cbce.org.br/estatuto/...
).

Macedo e Goellner (2014)MACEDO, Christiane Garcia; GOELLNER, Silvana Vilodre. Gênero e Educação Física: inclusão da temática nos CONBRACEs. In: CONGRESSO SULBRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, 7., 2014. Anais.... Disponível em: http://congressos.cbce.org.br/index.php/7csbce/2014/paper/view/5907 Acesso em: 31 jan. 2021.
http://congressos.cbce.org.br/index.php/...
realizaram uma análise documental sobre o processo de criação do GTT Gênero, partindo da identificação das produções sobre essa temática nos CONBRACEs até o momento de sua criação. Analisaram do período de 1979 (primeiro ano do evento) a 2013. Contabilizaram 18 edições e investigaram as programações das mesas, dos seminários, das comunicações orais e dos pôsteres, enfocando trabalhos que debatessem gênero e suas implicações, sem cunho biomédico/psicológico. Inferiram que o movimento em torno da temática gênero tem início no ano de 1993; no entanto, no Brasil, o tema se instaura nos anos 1980 e ganha força nos anos 1990. Portanto, no campo científico da EF, isso se reverbera ao passo que constrói um novo habitus científico, principalmente depois de 19893 3 Ano de mudança da gestão no CBCE. Até então, apenas agentes que eram da área da biológica estavam à frente da entidade (BRACHT, 2003). , ideia corroborada por Lazzarotti Filho (2011)LAZZAROTTI FILHO, Ari. O modus operandi do campo acadêmico-científico da Educação Física no Brasil. Tese (Doutorado em Educação Física) - Universidade Federal de Santa Catarina, 2011., Lazzarotti Filho, Silva e Mascarenhas (2014)LAZZAROTTI FILHO, Ari; SILVA, Ana Márcia; MASCARENHAS, Fernando. Transformações contemporâneas do campo acadêmico-científico da Educação Física no Brasil: novos habitus, modus operandi e objetos de disputa. Movimento (Porto Alegre), v. 20, n. esp., p. 67-80, 2014. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/48280 Acesso em: 20 de jan. de 2021.
https://seer.ufrgs.br/Movimento/article/...
e Devide (2020)DEVIDE, Fabiano Pries. Estudos de gênero na Educação Física brasileira: entre ameaças e avanços, na direção de uma pedagogia queer. In: WENETZ, Ileana; ATHAYDE, Pedro; LARA, Larissa (org). Gênero e sexualidade no esporte e na educação física. Natal: EDUFRN, 2020. Disponível em: https://repositorio.ufrn.br/handle/123456789/29067 Acesso em: 10 de fev. de 2022.
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.

Macedo e Goellner (2014)MACEDO, Christiane Garcia; GOELLNER, Silvana Vilodre. Gênero e Educação Física: inclusão da temática nos CONBRACEs. In: CONGRESSO SULBRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, 7., 2014. Anais.... Disponível em: http://congressos.cbce.org.br/index.php/7csbce/2014/paper/view/5907 Acesso em: 31 jan. 2021.
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identificaram que essa tendência se intensificou nos CONBRACEs entre 1999 e 2005 com mudanças expressivas. Esse tema foi identificado nos GTTs Corpo e Cultura; Memórias da EF e Esporte; Escola e Movimentos Sociais. A proposta de criação do GTT Gênero surge em 2005, antes da sistematização do regimento em 2007. As autoras identificaram prorrogação do debate em documentos do acervo do CBCE, pois a entidade tinha demandas urgentes, como a própria regulamentação dos GTTs. Foi incluído para o próximo CONBRACE.

Após a aprovação do regimento em 2007, apenas em 2011 a proposta foi retomada sob a justificativa de que o tema ganhara destaque no campo da EF, no CONBRACE e por englobar as áreas de educação, antropologia, letras e linguística.

No entanto, era necessário seguir o protocolo de criação de GTT previsto no regimento: elaborar o pedido de criação com seis meses de antecedência do evento CONBRACE, com um “subscrito com no mínimo dez pesquisadores associados ao CBCE” (CBCE, 2007CBCE - COLÉGIO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE. Regimento dos Grupos de Trabalhos Temáticos. Recife, 2007. Disponível em: https://www.cbce.org.br/regimento/gtts Acesso em: 10 fev. de 2022.
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), para, posteriormente, a Diretoria Nacional do CBCE fazer uma análise com a comissão da Diretoria Científica. Sendo assim, apenas em 2013 a proposta foi à discussão na assembleia.

No parecer emitido em 2013 por uma comissão que avaliou a solicitação de criação do GTT, é possível destacar os embates entre o CBCE e o grupo de agentes que solicitou a criação do GTT. Esses trechos são emblemáticos: “a) não seria possível que a temática ‘gênero’ seja contemplada dentro dos atuais GTTS existentes no CBCE?”; “b) Seria prudente do ponto de vista administrativo e financeiro do CBCE a aprovação de mais de GTT?”; e “c) há indubitavelmente número de doutores, pesquisadores, professores e estudantes mais que suficientes, SÓCIOS DO CBCE ATUANTES EM PELO MENOS 3 CONBRACES, por exemplo há 6 anos produzindo especificamente dentro da temática ‘gênero’?” (CBCE, 2013CBCE - COLÉGIO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE. Análise e parecer sobre a solicitação de criação do GTT “Gênero” por parte dos sócios do CBCE. Florianópolis, 2013. Disponível em: https://lume.ufrgs.br/handle/10183/99023 . Acesso em: 19 nov. 2020.
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, p.2).

É possível considerar que o CBCE atribuiu relevância ao tema; no entanto, faz uma série de questionamentos que desconsidera as problemáticas no esporte sobre os marcadores sociais de gênero que já eram consolidados na literatura acadêmica, como aponta Goellner (2005)GOELLNER, Silvana Vilodre. Gênero. In: GONZÁLEZ, Fernando Jaime; FENSTERSEIFER, Paulo Evaldo. Dicionário Crítico de Educação Física. Ijuí: Unijuí, 2005. p. 207-209.. Ainda, revela o posicionamento do CBCE frente à criação do GTT Gênero, desconsiderando a trajetória acadêmica dos agentes que assinaram o documento de solicitação da criação. Todos eles são considerados protagonistas nos estudos de gênero da EF, pois produziam, desde o final década de 1990, em parceria com outros pesquisadores brasileiros.

Macedo e Goellner (2014)MACEDO, Christiane Garcia; GOELLNER, Silvana Vilodre. Gênero e Educação Física: inclusão da temática nos CONBRACEs. In: CONGRESSO SULBRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, 7., 2014. Anais.... Disponível em: http://congressos.cbce.org.br/index.php/7csbce/2014/paper/view/5907 Acesso em: 31 jan. 2021.
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elucidam que, na assembleia, a comissão não emitiu um parecer positivo para a criação do GTT, alegando imprecisão epistemológica e que exigiria “grandes” esforços do ponto de vista administrativo, financeiro e político. Após intenso debate na assembleia, as autoras indicaram que um grupo de associados manteve a defesa da criação e, após colocar o ponto em votação, criou-se a primeira ementa do GTT Gênero.

Vemos que a defesa do grupo de associados funcionou como capital simbólico dos agentes, demonstrando que a lógica do campo é direcionada pelos agentes de acordo com suas respectivas posições, orientado pelo volume de capital (BOURDIEU, 1983BOURDIEU, Pierre. O campo científico. In: ORTIZ, R. Pierre Bourdieu. São Paulo: Ática, 1983. p.122-155). A quantidade de produções científicas e o convencimento da precisão epistemológica defendidos pelos agentes mostraram alto volume de capital científico, tornando dominante a decisão de criação. Como corrobora Mourão (2017)MOURÃO, Ludmila Nunes. Entrevista para o Projeto Garimpando Memórias. [Entrevista concedida a] Luiza Aguiar e Suélen de Souza Andres. CEME-ESEFID-UFRGS, XX CONBRACE e VII CONICE, 17p, Goiânia - GO, 18 set. 2017. Disponível em: https://lume.ufrgs.br/handle/10183/204430 . Acesso em: 17 ago. 2021.
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, mapear a produção científica sobre a temática de gênero nos eventos CONBRACE foi fundamental para demarcar os movimentos e a emergência desse subcampo acadêmico-científico da EF dentro do CBCE.

Macedo e Goellner (2014)MACEDO, Christiane Garcia; GOELLNER, Silvana Vilodre. Gênero e Educação Física: inclusão da temática nos CONBRACEs. In: CONGRESSO SULBRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, 7., 2014. Anais.... Disponível em: http://congressos.cbce.org.br/index.php/7csbce/2014/paper/view/5907 Acesso em: 31 jan. 2021.
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destacam que a ementa proposta para o GTT objetivava englobar amplamente abordagens diversas dos estudos de gênero, pois identificaram trabalhos da temática em outros GTTs.

Isto posto, podemos considerar os aspectos debatidos até aqui, como a luta pelo monopólio de competência no que se refere à constituição do GTT Gênero. Desse modo, a disputa no campo científico pela estruturação do GTT Gênero do CBCE traz à superfície a diversidade que compõem o campo da EF e a inserção de mais um agente, pois as práticas científicas não são desinteressadas e estão imbricadas com conflitos epistemológicos (BOURDIEU, 1983BOURDIEU, Pierre. O campo científico. In: ORTIZ, R. Pierre Bourdieu. São Paulo: Ática, 1983. p.122-155).

O objetivo desse GTT é trazer visibilidade para o debate de gênero e sexualidade no âmbito da EF, esporte e lazer. Além disso, almeja-se não colocar o gênero como uma categoria secundária, mas que atravessa os sujeitos e as instituições (WENETZ, 2020WENETZ, Ileana. Apresentação. In: WENETZ, Ileana; ATHAYDE, Pedro; LARA, Larissa (org). Gênero e sexualidade no esporte e na educação física. Natal: EDUFRN, 2020. Disponível em: https://repositorio.ufrn.br/handle/123456789/29067 Acesso em: 10 de fev. de 2022.
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).

O GTT busca consolidar o campo de estudos de gênero na EF, principalmente devido ao grau de importância da entidade CBCE. Outras entidades relevantes no campo científico, como a Associação Nacional de Pós-Graduação em Ciências Sociais e a Associação Nacional de Pós-Graduação em Educação, já haviam instituído o GT Gênero, Sexualidade e Educação em 2003 (CBCE, 2017CBCE - COLÉGIO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE. Relatório Grupo Temático de Trabalho Gênero, 2017. Disponível em: https://www.cbce.org.br/upload/files/relat%C3%B3rio%20-GTT%20G%C3%AAnero%202015-2017.pdf . Acesso em 10 de fev. de 2022.
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).

Outro marco importante para o GTT foi a primeira edição do CONBRACE, que contava com uma mesa temática específica de gênero elaborada pelo próprio GTT em parceria com os GTTs Escola e Memória. Macedo e Goellner (2014)MACEDO, Christiane Garcia; GOELLNER, Silvana Vilodre. Gênero e Educação Física: inclusão da temática nos CONBRACEs. In: CONGRESSO SULBRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, 7., 2014. Anais.... Disponível em: http://congressos.cbce.org.br/index.php/7csbce/2014/paper/view/5907 Acesso em: 31 jan. 2021.
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localizam a mesa “Participação da mulher brasileira no esporte”, proferida pelo professor Laércio Elias Pereira, no CONBRACE de 1979, mas não há como ter conhecimento do conteúdo da palestra, nem saber se ela abordava as questões de gênero.

Visualizamos o processo de criação do GTT Gênero como uma disputa intensa e pertinente dentro do CBCE, porque todo campo é um espaço de lutas e disputas em que os detentores do monopólio buscam por estratégias que, para além de se manterem dominantes, também objetivam excluir a concorrência (BOURDIEU, 2019BOURDIEU, Pierre. Questões de sociologia. Petrópolis, RJ: Vozes, 2019.).

O processo de legitimação do GTT Gênero dentro do CBCE foi essencial e demarcou o desenvolvimento do subcampo de gênero que se ampliou na última década, englobando o campo da EF (DEVIDE, 2020DEVIDE, Fabiano Pries. Estudos de gênero na Educação Física brasileira: entre ameaças e avanços, na direção de uma pedagogia queer. In: WENETZ, Ileana; ATHAYDE, Pedro; LARA, Larissa (org). Gênero e sexualidade no esporte e na educação física. Natal: EDUFRN, 2020. Disponível em: https://repositorio.ufrn.br/handle/123456789/29067 Acesso em: 10 de fev. de 2022.
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). Esse intenso processo ratifica que os movimentos de lutas e disputas no campo não são cristalizados e possuem autonomia relativa (BOURDIEU, 1989BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil; Lisboa: Difel, 1989.).

Considerando a relativa autonomia dos campos, constatamos que, na primeira participação do GTT Gênero no XIX CONBRACE, no ano de 2015, foram submetidos 40 trabalhos (19 para comunicação oral e 13 para pôster), dos quais foram aprovados 32 (CBCE, 2015CBCE - COLÉGIO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE. Relatório Grupo Temático de Trabalho Gênero, 2015. Disponível em: https://www.cbce.org.br/upload/files/Relatorio%20-%20GTT%20G%C3%AAnero%202015%281%29.pdf Acesso em: 21 jan. 2021.
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, p.3). Já no XX CONBRACE, em 2017, foram submetidos 56 trabalhos e 39 aprovados (CBCE, 2017CBCE - COLÉGIO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE. Relatório Grupo Temático de Trabalho Gênero, 2017. Disponível em: https://www.cbce.org.br/upload/files/relat%C3%B3rio%20-GTT%20G%C3%AAnero%202015-2017.pdf . Acesso em 10 de fev. de 2022.
https://www.cbce.org.br/upload/files/rel...
, p.3). No XXI CONBRACE, em 2019, foram submetidos 81 trabalhos, sendo aprovados 66 (CBCE, 2019bCBCE - COLÉGIO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE. Relatório Grupo Temático de Trabalho Gênero, 2019b. Disponível em: https://www.cbce.org.br/gtt/gtt07-genero Acesso em: 21 de jan. de 2021.
https://www.cbce.org.br/gtt/gtt07-genero...
, p.5). Vemos o aumento significativo nas submissões e publicações.

Outro avanço foi a elaboração e a publicação de dois volumes em formato de dossiê dos Cadernos de Formação RBCE em parceria com o GTT Gênero em 2020 (CBCE, 2021cCBCE - COLÉGIO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE. Notícias, 2021c Disponível em: https://www.cbce.org.br/noticia/lancamento-cadernos-de-formacao-rbce-v-11-n-2--2020 Acesso em: 19 fev. 2021.
https://www.cbce.org.br/noticia/lancamen...
) e a participação do projeto “Coleção Ciências do Esporte, EF e Produção de conhecimento”, que elaborou um livro de cada GTT em edição comemorativa de 40 anos do CBCE, em 2020 (WENETZ, 2020WENETZ, Ileana. Apresentação. In: WENETZ, Ileana; ATHAYDE, Pedro; LARA, Larissa (org). Gênero e sexualidade no esporte e na educação física. Natal: EDUFRN, 2020. Disponível em: https://repositorio.ufrn.br/handle/123456789/29067 Acesso em: 10 de fev. de 2022.
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).

Considerando as produções científicas desenvolvidas pelo GTT Gênero - especialmente a publicação do livro comemorativo -, assinala-se que esse subcampo vem construindo capital simbólico, indicando o reconhecimento pelos pares e pela instituição e adquirindo status. Ou seja, é um campo que vem acumulando capital simbólico. Os agentes que possuem esse capital são identificados como habilitados pelo coletivo e com autoridade no campo (BOURDIEU, 1989BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil; Lisboa: Difel, 1989.).

As forças que movimentam os agentes no campo - intelectuais que publicaram nos anais do GTT nos CONBRACEs - e consequentemente os colocam em disputa se materializam na trajetória, no que se refere a qualquer campo. No entanto, contribuem para a constituição do campo científico (BOURDIEU, 2009BOURDIEU, Pierre. Senso prático. Petrópolis: Vozes, 2009.). Amplia-se também o habitus científico, que está imbricado com o senso prático que habita o agente e é desenvolvido a partir das disposições incorporadas inculcadas no processo de formação - neste caso, nos auditórios acadêmicos de apresentação dos trabalhos dos CONBRACEs - que vão delinear as posturas e as ações dos agentes (BOURDIEU, 1989BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil; Lisboa: Difel, 1989.; WACQUANT; 2007WACQUANT, Loic. Esclarecer o habitus. Educação e Linguagem, ano 10, n.16, p. 63-71, jul./dez. 2007.). Todavia, esse habitus se desenvolve apenas a partir do interesse do sujeito (BOURDIEU, 1983BOURDIEU, Pierre. O campo científico. In: ORTIZ, R. Pierre Bourdieu. São Paulo: Ática, 1983. p.122-155).

Além disso, para o acúmulo do capital científico, é preciso que o senso de jogo no campo se desenvolva, em que a trajetória do agente segue a lógica do campo para se movimentar melhor e, consequentemente, acumular capital. Movimentar o mundo das produções científicas e a obtenção de títulos e credenciais gera status, força e poder no campo, assim como capital científico e cultural (BOURDIEU, 1983BOURDIEU, Pierre. O campo científico. In: ORTIZ, R. Pierre Bourdieu. São Paulo: Ática, 1983. p.122-155; 1989). Esses capitais adquiridos pelos agentes do GTT de Gênero se desdobram em habilidades linguísticas e acúmulo dos saberes eruditos, constituindo, assim, o habitus do subcampo (BOURDIEU, 2007BOURDIEU, Pierre. A distinção: crítica social do julgamento. São Paulo: Porto Alegre; Edusp:Zouk, 2007.; BOURDIEU; PASSERON, 2014BOURDIEU, Pierre; PASSERON, Jean-Claude. Os herdeiros: os estudantes e a cultura. Florianópolis: Editora UFSC, 2014.).

Para que o habitus científico próprio do subcampo de gênero se desenvolva, os agentes devem possuir capital cultural para a constituição de uma trajetória no campo acadêmico-científico institucionalizada e incorporada (BOURDIEU; PASSERON, 2014BOURDIEU, Pierre; PASSERON, Jean-Claude. Os herdeiros: os estudantes e a cultura. Florianópolis: Editora UFSC, 2014.).

Ao visitar as trajetórias das coordenadoras do GTT Gênero, constatamos aquisição e acúmulo de capital científico construído ao longo do tempo devido ao desenvolvimento do habitus científico, conferindo legitimidade às agentes (BOURDIEU, 1989BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil; Lisboa: Difel, 1989.). A existência do capital cultural e o consequente desenvolvimento do habitus científico possibilitou a formação no campo acadêmico-científico, garantindo igualmente certificados4 4 Os diplomas são formas institucionalizadas de capital cultural (BOURDIEU, 2015). e fazendo as credenciais legitimadoras do reconhecimento dessas coordenadoras/agentes no campo da EF.

O GTT Gênero teve três coordenadoras que se encontravam em posição de “dominadas” no campo; no entanto, elas estruturaram subversão à lógica de dominação e passaram a ser agentes dominantes no processo (BOURDIEU, 2019BOURDIEU, Pierre. Questões de sociologia. Petrópolis, RJ: Vozes, 2019.). Elas possuíam capital científico acumulado suficiente para assumir a coordenação do GTT em colaboração com mais 13 agentes que compõem o comitê científico, dentre eles dez mulheres e três homens.

Wenetz, Martins e Laurindo (2021)WENETZ, Ileana; MARTINS, Mariana Zuaneti; LAURINDO, Vinnicius Camargo de Souza. Levantamento da produção acadêmica do grupo de trabalho temática de gênero entre os anos 2015-2019. In: CONBRACE, 22; CONICE, 9., [Anais]..., Belo Horizonte, 2021. Disponível em: http://congressos.cbce.org.br/index.php/conbrace2021/9conice/paper/view/15068 Acesso em: 20 dez. 2021.
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mapearam a produção acadêmica sobre a temática de gênero nos congressos organizados pelo CBCE a partir da existência do GTT Gênero. Identificaram 189 trabalhos, sendo 154 nos três eventos nacionais e 35 nos 11 regionais. Nos CONBRACEs, 81,2% estão publicados no GTT Gênero e 8% no GTT Escola. Desse total, 76% dos trabalhos têm a autoria de mulheres. Os temas predominantes são gênero (46,1%) e estudos de mulheres (31,8%), seguidos por sexualidade (9,7%), infância (5,2%), dissidência sexual (3,2%) e coeducação (1,9%). Verificaram também, nos eventos regionais, que 60% das publicações estão no GTT Gênero, 24% em outros GTTs e 14% em eventos que não eram organizados por GTT. O tema mulheres contabilizou 51,4%, gênero 40,0% e dissidência sexual (transexualidade, homossexualidade, travestismos, transgeneridade) com 8,6%.

Esses dados apontam que o GTT Gênero vem se consolidando dentro do CBCE. Predominam os estudos de gênero em temas como esporte (42,9%) e EF Escolar (28,6%) nos CONBRACEs. Ainda, anunciam a dinâmica desse campo de produção científica e destacam a expansão do debate sobre mulheres e gênero no esporte e na escola, em sua maioria desenvolvido por mulheres.

Analisando a trajetória das coordenadoras, vimos que a primeira coordenadora é considerada uma importante agente mobilizadora frente ao combate da resistência do CBCE em criar o GTT (MACEDO; GOELLNER, 2014MACEDO, Christiane Garcia; GOELLNER, Silvana Vilodre. Gênero e Educação Física: inclusão da temática nos CONBRACEs. In: CONGRESSO SULBRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, 7., 2014. Anais.... Disponível em: http://congressos.cbce.org.br/index.php/7csbce/2014/paper/view/5907 Acesso em: 31 jan. 2021.
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). Silvana Vilodre Goellner, licenciada em EF pela Universidade Federal de Santa Maria (1986), realizou mestrado em EF na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1992), doutorado em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (1999) e pós-doutorado pela Universidade do Porto (2011). É professora aposentada da UFRGS e vinculada ao Programa de Pós-graduação em Ciências do Movimento Humano5 5 Mais informações acessar o currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/2260335592246715 .

Demonstra reconhecimento do campo da EF porque foi editora da Revista Brasileira de Ciências do Esporte (RBCE) entre 2005 e 2007. Coordenou o GTT Gênero do CBCE de 2013 a 2015. Coordenou o Simpósio Temático “Gênero e Práticas Corporais e Esportivas” do Seminário Internacional Fazendo Gênero. É curadora das exposições “Futebol e Mulheres no País da Copa de 2014” e “Paisagens da memória: cidade e corpos em movimento” na cidade de Porto Alegr/RS e cocuradora das exposições “Visibilidade para o Futebol Feminino” e “Contra-Ataque: as mulheres do Futebol”, no Museu do Futebol nos anos de 2015 e 2019. É coordenadora da Rede de Pesquisa sobre Futebol de Mulheres na América Latina. Goellner é uma importante agente na produção científica de gênero no campo científico da EF. No início da década de 1990, produziu seus primeiros trabalhos acerca da temática, inclusive alguns em parceria com Altmann.

A segunda coordenadora foi Helena Altmann. Graduada em EF pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1995), mestra em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais (1998) e doutora em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2005). Atualmente é professora titular da Faculdade de EF e no Programa de Pós-Graduação em Educação. Foi coordenadora do GTT Gênero do CBCE de 2015 a 20176 6 Mais informações, acessar o currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/5864710654350240 . Outra celebridade desse subcampo.

Durante sua trajetória acadêmica, desenvolveu trabalhos na área da EF e Esporte com ênfase em gênero e sexualidade. No curso de mestrado, foi orientanda da professora Eustáquia Salvadora Sousa, uma das primeiras agentes a publicar sobre a temática de gênero no CONBRACE (MACEDO; GOELLNER, 2014MACEDO, Christiane Garcia; GOELLNER, Silvana Vilodre. Gênero e Educação Física: inclusão da temática nos CONBRACEs. In: CONGRESSO SULBRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, 7., 2014. Anais.... Disponível em: http://congressos.cbce.org.br/index.php/7csbce/2014/paper/view/5907 Acesso em: 31 jan. 2021.
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). Desde o início de sua trajetória, pode-se verificar que Altmann produz sobre a temática de gênero. Seu texto mais antigo foi publicado em 1993, no VIII CONBRACE.

A terceira e atual coordenadora, gestão 2017-2018, notoriedade no campo de gênero, é Ileana Wenetz7 7 Mais informações, acessar o currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/2590401305796612 . . Licenciada em EF pela Facultad de Educácion y Salud (1999), mestra em Ciências do Movimento Humano pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2005) e doutora em Ciências do Movimento Humano (2012) pela mesma universidade. Possui pós-doutorado em Ciências Humanas pela Universidade Federal de Santa Catarina (2014). É professora adjunta da Universidade Federal do Espírito Santo e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Institucional dessa universidade. Atualmente, é coordenadora do GTT Gênero. Wenetz publica sobre a temática de gênero desde 2003.

Mourão (2017)MOURÃO, Ludmila Nunes. Entrevista para o Projeto Garimpando Memórias. [Entrevista concedida a] Luiza Aguiar e Suélen de Souza Andres. CEME-ESEFID-UFRGS, XX CONBRACE e VII CONICE, 17p, Goiânia - GO, 18 set. 2017. Disponível em: https://lume.ufrgs.br/handle/10183/204430 . Acesso em: 17 ago. 2021.
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destaca que essas agentes produziram os primeiros manuscritos científicos sobre gênero na EF na década de 1990. Posteriormente, tornaram-se coordenadoras do GTT Gênero, sendo fundamentais para sua consolidação, denotando a importância do capital científico, da produtividade acadêmica e do reconhecimento pelos pares (BOURDIEU, 1983BOURDIEU, Pierre. O campo científico. In: ORTIZ, R. Pierre Bourdieu. São Paulo: Ática, 1983. p.122-155).

Apreender as trajetórias das coordenadoras ratifica que as posições ocupadas pelos agentes no campo, como cargos em instituições, de agência de fomento à pesquisa, entidades científicas e programas de pós-graduação, conferem prestígio aos agentes, acumulando capital científico e habitus no campo (BOURDIEU, 1983BOURDIEU, Pierre. O campo científico. In: ORTIZ, R. Pierre Bourdieu. São Paulo: Ática, 1983. p.122-155).

Após a efetiva criação do GTT, foi possível identificar que as coordenadoras buscaram, enquanto estratégia, divulgar o GTT em Congressos (CBCE, 2017; 2018CBCE - COLÉGIO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE. Estatuto, 2018. Disponível em: https://www.cbce.org.br/estatuto/ Acesso em: 17 ago. 2021.
https://www.cbce.org.br/estatuto/...
). Bourdieu (1983)BOURDIEU, Pierre. O campo científico. In: ORTIZ, R. Pierre Bourdieu. São Paulo: Ática, 1983. p.122-155 destaca que estratégias são fundamentais para continuar sendo parte do jogo; por isso, no campo científico, investimento de capital econômico8 8 É fundamental destacar que há um custo para a realização de Congressos científicos, Semanas, Encontros, Seminários etc., convidar palestrantes, reuniões da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) - qual o CBCE é filiado -, fomentado a partir das anuidades pagas pelos associados, que objetivam ser utilizadas para a manutenção da entidade, sem fins lucrativos (CBCE, 2018). é indispensável.

No ano de 2016, participou do VI Fórum de Pós-Graduação do CBCE, com o III Fórum de Pesquisadores das Subáreas Sociocultural e Pedagógica da EF, realizado na Universidade Federal do Rio do Sul, em Porto Alegre, e do Congresso Sulbrasileiro de Ciências do Esporte, em Criciúma/SC. Tudo isso custeado com recursos do CBCE (CBCE, 2017).

Diante de todas essas considerações, são agentes estratégicas nas lutas e disputas por espaço nesse movimento de dominantes e dominados. Por esse motivo, o processo de criação do GTT demarca a estratégia de subversão de um grupo de agentes sobre o que já estava estabelecido na entidade A teoria bourdieusiana indica que os agentes desenvolvem estratégias no campo, o qual é entendido como espaço de lutas e disputas entre dominantes e dominados, seja para conservação, seja para subversão (BOURDIEU, 1983BOURDIEU, Pierre. O campo científico. In: ORTIZ, R. Pierre Bourdieu. São Paulo: Ática, 1983. p.122-155; RAGOUET, 2017RAGOUET, Pascal. Campo científico (Verbete). In: CATANI, Afrânio Mendes. et al. Vocabulário Bourdieu. Belo Horizonte: Autêntica, 2017, p.68-70.).

Ao longo do processo de criação do GTT, é evidente que os agentes que estavam em posição dominante se manifestaram objetivando a conservação da lógica já estabelecida na entidade, orientando, portanto, a lógica do campo acadêmico-científico. Desse modo, a busca pela conservação da lógica dominante, que já estava presente, ressalta as diferentes categorias dos agentes que compõem o campo científico. Portanto, a estratégia de subversão dos agentes que buscavam a consolidação do GTT Gênero objetiva o que Bourdieu denomina como busca pela “ordem científica herética”, ou seja, quando há um movimento que objetiva a mudança na lógica do processo de dominação, em que o agente dominado passa a se movimentar para se tornar um agente dominante. Este só é possível de se desenvolver devido ao habitus9 9 Neste caso, habitus científico desenvolvido ao longo da trajetória acadêmica consolidada (BOURDIEU, 1989). (BOURDIEU, 1983BOURDIEU, Pierre. O campo científico. In: ORTIZ, R. Pierre Bourdieu. São Paulo: Ática, 1983. p.122-155; RAGOUET, 2017RAGOUET, Pascal. Campo científico (Verbete). In: CATANI, Afrânio Mendes. et al. Vocabulário Bourdieu. Belo Horizonte: Autêntica, 2017, p.68-70.).

A trajetória histórica do CBCE, como citado anteriormente, é marcada por lutas entre os agentes das três subáreas que compõem o campo da EF — biodinâmica, sociocultural e pedagógica —, e o processo de luta para a constituição do GTT Gênero demarca a busca por uma compreensão e constituição de uma EF mais igualitária e humanista.

Para além do CBCE, a história constitutiva da EF e do seu campo acadêmico-científico é fortemente demarcada por priorizar uma narrativa biomédica hegemônica, que enfatiza os olhares para os corpos físicos em detrimento do sujeito numa perspectiva humanista e social (MANOEL; CARVALHO, 2011MANOEL, Edison de Jesus; CARVALHO, Yara Maria de. Pós-graduação na educação física brasileira: a atração (fatal) para a biodinâmica. Educação e Pesquisa [online], v. 37, n. 2, p. 389-406, 2011. DOI: https://doi.org/10.1590/S1517-97022011000200012 .
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). Para Bourdieu (1983BOURDIEU, Pierre. O campo científico. In: ORTIZ, R. Pierre Bourdieu. São Paulo: Ática, 1983. p.122-155, p. 136), esse processo é compreendido como a busca pela ordem científica, estabelecida pelos agentes dominantes.

A imposição da lógica produtivista estabelecida pelas políticas da Capes10 10 Órgão que regulamenta as políticas de educação da pós-graduação no Brasil (MANOEL, CARVALHO, 2011). , que impulsionam a subárea biodinâmica em detrimento da subárea sociocultural e pedagógica, é mais um exemplo de lutas e disputas no campo acadêmico-científico da EF, demarcando a imposição de uma lógica dominante e hegemônica (MANOEL, CARVALHO, 2011MANOEL, Edison de Jesus; CARVALHO, Yara Maria de. Pós-graduação na educação física brasileira: a atração (fatal) para a biodinâmica. Educação e Pesquisa [online], v. 37, n. 2, p. 389-406, 2011. DOI: https://doi.org/10.1590/S1517-97022011000200012 .
https://doi.org/10.1590/S1517-9702201100...
; SILVA, SACARDO, SOUZA, 2014SILVA, Régis Henrique dos Reis; SACARDO, Michele Silva; SOUSA, Wilson Luiz de. Dilemas da política científica da Educação Física brasileira em tempos de produtivismo acadêmico. Movimento (Porto Alegre), v. 20, n. 4, p. 1563-1585, 2014. doi:https://doi.org/10.22456/1982-8918.43145 Disponível em: https://seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/43145 Acesso em: 03 set. 2021.
https://doi.org/10.22456/1982-8918.43145...
).

O novo modus operandi do campo científico que ocorreu no século XXI, reforçado pelas políticas da Capes, modificou as disputas no campo acadêmico-científico da EF. O “produtivismo” relacionado aos artigos científicos se tornou capital valioso. A subárea biodinâmica11 11 Esta subárea é responsável por 77,60% das produções científicas dos programas de pós-graduação em EF (Área 21), seguida pela sociocultural com 11,25% e pedagógica com 11,15%, identificado em levantamento realizado no período de 2013 a 2017. Deste modo, a subárea biodinâmica é que mais apresenta capital científico e simbólico (FRASSON, MOLINA NETO, WITTIZORECKI, 2019), continua em processo de expansão, enquanto as subáreas sociocultural e pedagógica passam por uma retração, sendo espaços de resistência no campo acadêmico-científico da EF no Brasil (TELLES, LUDORF, PEREIRA, 2017TELLES, Silvio; LÜDORF, Sílvia Maria Agatti.; PEREIRA, Erik Giuseppe. Subáreas sociocultural e pedagógica na educação física: ainda a caminho do fim In: TELLES, Silvio; LÜDORF, Sílvia Maria Agatti; PEREIRA, Erik Giuseppe. Pesquisa em educação física: perspectivas sociocultural e pedagógica em foco. Rio de Janeiro: Autografia, 2017. p. 8-20.).

Em síntese, ainda que as disputas que demarcaram a constituição do GTT Gênero tenham sido desenvolvidas por agentes com capital científico acumulado, ou seja, reconhecidos pelos pares e dominantes no subcampo de gênero da EF, as lutas relacionadas a uma perspectiva mais humanista da EF ainda estão fortemente presentes no campo acadêmico-científico.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Compreender a história e a constituição do campo da EF é fundamental para identificar seus desdobramentos na conjuntura atual. Elucida as lutas e disputas epistemológicas que se desenvolveram ao longo da constituição de uma entidade científica.

A EF, campo em processo de desenvolvimento - da mesma maneira que outros campos científicos como o de Gênero, como vimos ao longo do texto -, está inserindo tardiamente, em sua agenda científica, campos que dialoguem com o fazer pedagógico e as complexidades que permeiam as práticas culturalmente criadas pela humanidade. Dentre elas, estão o esporte, o lazer e outros temas ligados ao movimento humano.

Destacar o CBCE como instituição primordial no campo científico da EF demarca as novas facetas que estavam se desenhando no campo. A entidade reforça a legitimidade do fazer científico de um conhecimento relacionado ao objeto gênero emergente que, com lutas e disputas, buscava reconhecimento, status institucional. Não se trata de qualificar esse movimento como positivo ou negativo, mas de compreender essa luta simbólica.

Os campos apresentam tendências e probabilidades; logo, não se orientam por acaso (BOURDIEU, 2004BOURDIEU, Pierre. Os usos sociais da ciência: por uma sociologia clínica do campo científico. São Paulo: Editora UNESP, 2004.). Diante disso, podemos apreender que a temática de Gênero já vinha galgando sua trajetória dentro do CBCE, principalmente no final da década de 1990, acompanhando a expansão dos estudos de gênero no campo da EF. No entanto, evidencia-se apenas entre 1999 e 2005, ecoando na proposta de criação do GTT Gênero em 2005.

Sua efetivação e consolidação (oito anos de lutas dentro do CBCE) ressalta as disputas que permeiam o campo científico da EF e a relação com os conteúdos socioculturais, os quais, tardiamente, surgem no seu fazer científico devido à hegemonia dos conteúdos de caráter biomédicos.

A expansão do GTT Gênero, desde a sua efetivação em 2013, com aumento das submissões no CONBRACE, a participação na edição comemorativa dos 40 anos do CBCE em formato de livro e a elaboração dos Cadernos de Formação RBCE, mesmo com sua incipiência, demarca fortemente o desenvolvimento desse habitus científico e modus operandi que está sendo gerado e a relativa autonomia que o campo está adquirindo. Ao mesmo tempo, há movimentação dos agentes no campo e acúmulo de capital simbólico.

Além disso, destacar a trajetória acadêmica das coordenadoras do GTT Gênero que — em três gerações brevemente distintas, mas relacionais — revelam as relações dos agentes no campo científico, a existência de capital cultural e o desenvolvimento do habitus e capital científico. O capital simbólico no campo acadêmico-científico da EF sobre a temática de gênero foi basilar para edificação do GTT.

Enfim, os agentes têm a capacidade de criar o espaço; logo, esses espaços existem por causa dos agentes e das relações entre eles. O espaço do GTT Gênero é resultado de movimentação, lutas e disputas das agentes no campo da produção científica institucionalizada sobre a temática de gênero na EF. Ao final das análises dos documentos, vimos que o capital científico e o poder acumulado por mulheres expoentes do subcampo de gênero e da EF edificaram um locus que aglutina produção de conhecimento na temática de gênero numa relevante entidade como o CBCE.

Este estudo apresenta limitações quanto à compreensão das disputas intrínsecas ao processo de criação do GTT Gênero no CBCE, como, por exemplo, documentos que não foram acessados, inviabilizando aprofundamento nas análises e continuidade de estudos. A análise de outras fontes documentais a partir de estudos epistemológicos da produção científica, como banners e comunicações orais, podem ser fundamentais para revelar os percursos históricos que o GTT está delineando.

À guisa de conclusão, entendemos que o campo científico é espaço de lutas e disputas entre os agentes, que buscam a conservação ou a transformação do campo a partir da relação de forças e da dominação. As ações do CBCE não são desinteressadas no campo científico e estão imbricadas com conflitos epistemológicos, políticos e econômicos. Os campos estão em constante movimentação, expandindo-se e desencadeando novas dinâmicas ao longo do tempo. O processo de criação e consolidação do GTT Gênero do CBCE é um exemplo de resultado dessas dinâmicas.

  • 1
    As ciências mães podem ser entendidas como Medicina, Psicologia, Anatomia, Fisiologia, entre outras. (BRATCH, 2003; SOARES, 2004SOARES, Carmem Lúcia. Educação Física: raízes europeias e Brasil. 3. ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2004).
  • 2
    Destarte, é fundamental compreender que “o capital científico é uma espécie particular do capital simbólico (o qual, sabe-se, é sempre fundado sobre atos de conhecimento e reconhecimento) que consiste no reconhecimento (ou no crédito) atribuído pelo conjunto de pares-concorrentes no interior do campo científico” (BOURDIEU, 2004BOURDIEU, Pierre. Os usos sociais da ciência: por uma sociologia clínica do campo científico. São Paulo: Editora UNESP, 2004., p. 26).
  • 3
    Ano de mudança da gestão no CBCE. Até então, apenas agentes que eram da área da biológica estavam à frente da entidade (BRACHT, 2003BRACHT, Valter. Educação física e ciência: cenas de um casamento (in)feliz. 2 ed. Ijuí. Ed. Unijuí, 2003.).
  • 4
    Os diplomas são formas institucionalizadas de capital cultural (BOURDIEU, 2015BOURDIEU, Pierre. Os três estados do capital cultural. In: NOGUEIRA, M. A. e CATANI, A. M. Escritos de educação. Petrópolis, RJ: Vozes, 2015. p.79-88).
  • 5
    Mais informações acessar o currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/2260335592246715
  • 6
    Mais informações, acessar o currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/5864710654350240
  • 7
    Mais informações, acessar o currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/2590401305796612 .
  • 8
    É fundamental destacar que há um custo para a realização de Congressos científicos, Semanas, Encontros, Seminários etc., convidar palestrantes, reuniões da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) - qual o CBCE é filiado -, fomentado a partir das anuidades pagas pelos associados, que objetivam ser utilizadas para a manutenção da entidade, sem fins lucrativos (CBCE, 2018CBCE - COLÉGIO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE. Estatuto, 2018. Disponível em: https://www.cbce.org.br/estatuto/ Acesso em: 17 ago. 2021.
    https://www.cbce.org.br/estatuto/...
    ).
  • 9
    Neste caso, habitus científico desenvolvido ao longo da trajetória acadêmica consolidada (BOURDIEU, 1989BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil; Lisboa: Difel, 1989.).
  • 10
    Órgão que regulamenta as políticas de educação da pós-graduação no Brasil (MANOEL, CARVALHO, 2011MANOEL, Edison de Jesus; CARVALHO, Yara Maria de. Pós-graduação na educação física brasileira: a atração (fatal) para a biodinâmica. Educação e Pesquisa [online], v. 37, n. 2, p. 389-406, 2011. DOI: https://doi.org/10.1590/S1517-97022011000200012 .
    https://doi.org/10.1590/S1517-9702201100...
    ).
  • 11
    Esta subárea é responsável por 77,60% das produções científicas dos programas de pós-graduação em EF (Área 21), seguida pela sociocultural com 11,25% e pedagógica com 11,15%, identificado em levantamento realizado no período de 2013 a 2017. Deste modo, a subárea biodinâmica é que mais apresenta capital científico e simbólico (FRASSON, MOLINA NETO, WITTIZORECKI, 2019FRASSON, Jéssica Serafim.; MOLINA NETO, Vicente; WITTIZORECKI, Elisandro Schultz. A produção científica resultante de teses e dissertações em programas de pós-graduação em Educação Física no período de 2013 a 2017. Movimento (Porto Alegre), p. e25091, dez. 2019. DOI: https://doi.org/10.22456/1982-8918.85355
    https://doi.org/10.22456/1982-8918.85355...
    ),
  • FINANCIAMENTO
    O presente trabalho foi realizado sem o apoio de fontes financiadoras.
  • *
    Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Escola de Educação Física, Fisioterapia e Dança, Porto Alegre, RS, Brasil.
  • **
    Universidade Federal do Espirito Santo, Centro de Educação Física e Desportos, Vitória, ES, Brasil.

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RESPONSABILIDADE EDITORIAL
Alex Branco Fraga * * Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Escola de Educação Física, Fisioterapia e Dança, Porto Alegre, RS, Brasil. , Elisandro Schultz Wittizorecki * * Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Escola de Educação Física, Fisioterapia e Dança, Porto Alegre, RS, Brasil. , Ileana Wenetz ** ** Universidade Federal do Espirito Santo, Centro de Educação Física e Desportos, Vitória, ES, Brasil. , Mauro Myskiw * * Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Escola de Educação Física, Fisioterapia e Dança, Porto Alegre, RS, Brasil. , Raquel da Silveira * * Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Escola de Educação Física, Fisioterapia e Dança, Porto Alegre, RS, Brasil.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    08 Abr 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    01 Set 2021
  • Aceito
    20 Jan 2022
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