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A DESERTIFICAÇÃO MIDIÁTICA DO JORNALISMO ESPORTIVO LOCAL: ESTUDO EXPLORATÓRIO NO CONTEXTO SUL-MATO-GROSSENSE

THE MEDIA DESERTIFICATION OF LOCAL SPORTS JOURNALISM: EXPLORATORY STUDY IN THE SOUTH MATO GROSSO CONTEXT

LA DESERTIFICACIÓN MEDIÁTICA DEL PERIODISMO DEPORTIVO LOCAL: ESTUDIO EXPLORATORIO EN EL CONTEXTO DE MATO GROSSO DO SUL

Resumo

O objetivo deste trabalho foi identificar características e tendências da cobertura noticiosa do esporte em portais de notícias online de Mato Grosso do Sul no ano de 2019. Desenvolvemos uma pesquisa descritiva e exploratória, de análise de produto midiático, com abordagem quanti-qualitativa dos dados. Mapeamos o conjunto de 698 notícias em 18 diferentes portais online da região. Os achados indicam haver um intenso processo de desertificação midiático-esportiva em Mato Grosso do Sul para além dos desertos e quase-desertos noticiosos existentes em 50% das municipalidades locais. Identificamos o empobrecimento jornalístico sobre o esporte local na abrangência geográfica das notícias, na diversidade de modalidades esportivas, na equidade de gênero, na multidimensionalidade do fenômeno esportivo, bem como nos canais informativos e fontes de informação mobilizados para a construção noticiosa.

Palavras-chave:
Jornalismo; Esportes; Cultura; Sociologia.

Abstract

The objective of this paper was to identify characteristics and trends of sports news coverage in online news portals in Mato Grosso do Sul in 2019. We developed a descriptive and exploratory research, analyzing the media product, with a quantitative-qualitative approach to the data. We mapped the set of 698 news in 18 different online portals in the region. The findings indicate that there is an intense process of media-sports desertification in Mato Grosso do Sul beyond the news deserts and quasi-deserts existing in 50% of the local municipalities. We identified the journalistic impoverishment about local sports in the geographic coverage of the news, in the diversity of sports modalities, in gender equity, in the multidimensionality of the sports phenomenon, as well as in the informative channels and sources of information mobilized for the construction of news.

Keywords:
Journalism; Sports; Culture; Sociology.

Resumen

El objetivo de este trabajo es identificar características y tendencias de la cobertura de noticias deportivas en portales de noticias en línea en Mato Grosso do Sul en 2019. Desarrollamos una investigación descriptiva y exploratoria, de análisis del producto mediático, con un enfoque cuantitativo-cualitativo de los datos. Mapeamos el conjunto de 698 noticias en 18 portales online diferentes de la región. Los hallazgos indican que existe un intenso proceso de desertificación mediático deportivo en Mato Grosso do Sul, más allá de los desiertos y cuasi-desiertos de noticias que existen en el 50% de los municipios locales. Identificamos el empobrecimiento periodístico sobre el deporte local en el alcance geográfico de las noticias, en la diversidad de modalidades deportivas, en la equidad de género, en la multidimensionalidad del fenómeno deportivo, así como en los canales informativos y fuentes de información movilizadas para la construcción de noticias.

Palabras clave:
Periodismo; Deportes; Cultura; Sociología.

1 INTRODUÇÃO1 1 Este artigo é um desdobramento do trabalho SILVA, Lucas B.; SILVA; Marcos Paulo; SANTOS; Silvan M. Primeiros indícios da desertificação midiático-esportiva em Mato Grosso do Sul. In. CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, 22; CONGRESSO INTERNACIONAL DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, 9, 2021, Belo Horizonte. Anais... Belo Horizonte/MG: CBCE: UFMG, 2021. Disponível em: http://congressos.cbce.org.br/index.php/conbrace2021/9conice/paper/viewFile/14711/7683. Acesso em 10 maio 2022.

Reflexões acadêmicas sobre a relação do esporte com a mídia e com o discurso midiático circulam no Brasil desde o final do século XX e início do XXI. Ainda nos anos 1990, Betti (1998BETTI, Mauro. Janela de vidro: esporte, televisão e educação física. Campinas: Papirus, 1998.; 2001BETTI, Mauro. Esporte na mídia ou esporte da mídia? Motrivivência, n. 17, p. 1-3, 2001.) afirmava estar a mídia por toda parte e o esporte em toda a mídia. Naquela ocasião, segundo o autor, transmutava-se o espetáculo esportivo em telespetáculo e, consequentemente, os seus espectadores em telespectadores.

Spà (1999)SPÀ, Miquel de Moragas. Comunicación y deporte en la era digital: sinergias, contradicciones y responsabilidades educativas. Contratexto, v. 12, p. 73-92, 1999. define o envolvimento da mídia com o esporte como uma relação simbiótica, pois ambos atendem simultaneamente a interesses específicos de cada uma das partes. A primeira pela visibilidade capaz de proporcionar e o segundo pelo potencial de alcance massivo que possui. O aprimoramento dessa simbiose, sobretudo a partir do momento em que as instituições midiáticas se tornaram coautoras do telespetáculo esportivo, modificou profundamente a prática profissional do esporte de rendimento, bem como alterou as formas de assisti-lo (SPÀ, 1999SPÀ, Miquel de Moragas. Comunicación y deporte en la era digital: sinergias, contradicciones y responsabilidades educativas. Contratexto, v. 12, p. 73-92, 1999.).

Desse modo, na era digital, inclusive, o esporte perdeu muito da sua autonomia administrativa e política para os conglomerados midiáticos globais, investidores e detentores dos direitos de transmissão e imagem das competições, atletas e equipes esportivas (SPÀ, 2007SPÀ, Miquel de Moragas. Comunicación y deporte en la era digital. Congreso De La Asociación Española De Investigación Social Aplicada Al Deporte (AEISAD), 9. Anais [...] Las Palmas de Gran Canaria: Centre d’Estudis Olímpics UAB, 2007.). Em muitos casos a indústria da mídia passou a definir calendários e horários de competições, e em outros casos chegou a influenciar na alteração de regras de modalidades esportivas, tal como foi com o voleibol (MARCHI JÚNIOR, 2001MARCHI JUNIOR, Wanderley. "Sacando" o voleibol: do amadorismo a espetacularização da modalidade no Brasil (1970-2000). 2001. 267 p. Tese (Doutorado em Educação Física) - Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP.; MEZZAROBA; PIRES, 2011MEZZAROBA, Cristiano; PIRES, Giovani de Lorenzi. Breve panorama histórico do voleibol: do seu surgimento à espetacularização esportiva. Atividade Física, Lazer e Qualidade de Vida: Revista de Educação Física, v. 2, n. 2, p. 3-19, 2011.).

A midiatização do esporte, portanto, manifesta-se no cerne dos processos de globalização econômica e mundialização da cultura e coloca os meios de comunicação de massa no papel de protagonistas da mediação sociocultural do fenômeno esportivo. Ou seja, nos termos de Pires (2002)PIRES, Giovani de Lorenzi. A Educação Física e o discurso midiático: abordagem crítico-emancipatória. Ijuí: Unijuí, 2002., o conjunto de ações, valores e compreensões, representantes dos modos de ser e estar com relação ao esporte, passam a ser mediados, principalmente, pela indústria de comunicação de massa. Ademais, nesse trabalho de construção simbólica do esporte na contemporaneidade por parte da mídia, tem-se no jornalismo esportivo uma das principais narrativas contributivas para a existência social dele (BORELLI; FAUSTO NETO, 2002BORELLI, Viviane; FAUSTO NETO, Antonio. Jornalismo esportivo como construção. Cadernos de Comunicação, n. 7, p. 61-74, 2002.).

O jornalismo esportivo, no contexto da economia global e da cultura mundializada (PIRES, 2002PIRES, Giovani de Lorenzi. A Educação Física e o discurso midiático: abordagem crítico-emancipatória. Ijuí: Unijuí, 2002.), tem enfrentado diferentes desafios para a preservação do seu papel e relevância como via de organização e veiculação das informações sobre o esporte. Estudos têm constatado uma forte tendência de a informação esportiva aproximar-se a ponto de se embaralhar com a dimensão midiática do entretenimento (MEZZAROBA et al., 2014MEZZAROBA, Cristiano et al. Entretenimento ou informação? Uma análise da cobertura jornalística do Pan-americano de Guadalajara/2011 na Rede Record. Revista da Alesde, v. 4, n. 1, p. 4-23, 2014.; PADEIRO, 2015PADEIRO, Carlos Henrique de S. O predomínio do entretenimento no jornalismo esportivo para promoção de grandes eventos: o Globo Esporte/SP e o Caderno de Esportes. Leituras do Jornalismo, v. 2, n. 4, p. 166-180, 2015.; SANTOS; MEZZAROBA; SOUZA, 2017SANTOS, Silvan Menezes; MEZZAROBA, Cristiano; SOUZA, Doralice Lange de. Jornalismo esportivo e Infotenimento: a (possível) sobreposição do entretenimento à informação no conteúdo jornalístico do esporte. Corpoconsciência, v. 21, n. 2, p. 93-106, 2017.), resultando na produção do “infotenimento esportivo”. O trabalho jornalístico voltado ao esporte tem sofrido fortes interferências comerciais, políticas e estruturais das negociações dos direitos de transmissão e imagem entre as instituições esportivas e midiáticas (ALMEIDA; FRANCESCHI NETO, 2019ALMEIDA, William Douglas de; FRANCESCHI NETO, Virgílio. Entre o direito de transmitir e o de informar. In. RUBIO, K. (ed.). Do pós ao neo Olimpismo: esporte e movimento olímpico no século XXI. São Paulo: Képos, 2019. p. 145-159.; SANTOS; ALMELA; SOUZA, 2020SANTOS, Silvan Menezes; ALMELA, Josep Solves; SOUZA, Doralice Lange de. A influência dos direitos de transmissão no jornalismo esportivo: um estudo com jornalistas sobre a cobertura dos Jogos Paralímpicos Rio/2016. Movimento, v. 26, p. e26010, 2020.). A midiatização das instituições esportivas, com a internalização de lógicas midiáticas, tais como as produções próprias de conteúdo e a proteção às marcas por meio da restrição de informações institucionais postas em circulação (BORGES, 2018BORGES, Fernando Vannier. Ao vivo direto da Rússia: a Copa do Mundo formatada para televisão. Fulia, v. 3, n. 2, 2018., 2019BORGES, Fernando Vannier. Os clubes de futebol e novas formas de produzir a informação desportiva. Mediapolis, n. 8, p. 119-133, 2019.; FRANDSEN, 2016FRANDSEN, Kirsten. Sports organizations in a new wave of mediatization. Communication and Sport, v. 4, n. 4, p. 385-400, 1 jan. 2016.), são também exemplos de obstáculos enfrentados pelo jornalismo esportivo contemporâneo para promover a mediação do esporte, seja no contexto global, ou nos contextos nacionais e locais.

O jornalismo esportivo produzido por veículos midiáticos com circulação nacional, regional ou local tem sido tensionado - em diferentes níveis de impacto - pela formação dos conglomerados midiáticos transnacionais (PIRES, 2002PIRES, Giovani de Lorenzi. A Educação Física e o discurso midiático: abordagem crítico-emancipatória. Ijuí: Unijuí, 2002.; SPÀ, 1999SPÀ, Miquel de Moragas. Comunicación y deporte en la era digital: sinergias, contradicciones y responsabilidades educativas. Contratexto, v. 12, p. 73-92, 1999.), processo decorrente, sobretudo, da globalização da economia (MORAES, 1998MORAES, Dênis de. O planeta mídia: tendências da comunicação na era global. Campo Grande: Letra Livre, 1998.). Neste contexto, parte do jornalismo esportivo das mídias nacionais e regionais tem mobilizado a dialética global-local como estratégia para tentar promover a aproximação das suas respectivas audiências locais, com informações do esporte global. Por meio de notícias sobre atletas e equipes locais, os veículos regionalizam a cobertura de eventos esportivos globais ou continentais, como os Jogos Olímpicos e Paralímpicos, as Copas do Mundo de Futebol da FIFA e os Jogos Pan e Parapan-americanos (LISBOA; MEZZAROBA; MUNARIM, 2007LISBOA, Mariana M.; MEZZAROBA, Cristiano; MUNARIM, Iracema. Jogos Pan- Americanos Rio / 2007 e a cobertura do Jornal Nacional: ênfases e representações veiculadas. In. PIRES, Giovani de Lorenzi (ed.). “Observando” o Pan Rio/2007 na mídia. Florianópolis: Tribo da Ilha, 2007. p. 47-62.; MEZZAROBA et al., 2009MEZZAROBA, Cristiano et al. Jogos Pan-Americanos Rio / 2007: os “locais” na mídia regional. Descrição e análise da cobertura em jornais das cinco regiões brasileiras. In. PIRES, Giovani de Lorenzi (ed.). “Observando” o Pan Rio/2007 na mídia. Florianópolis: Tribo da Ilha, 2009. p. 29- 45., 2015MEZZAROBA, Cristiano et al. O papel da mídia sergipana nas estratégias de agendamento na mobilização da dialética global-local a partir de uma situação concreta: as Olimpíadas/2012. Motrivivência, v. 27, n. 44, p. 64-78, 2015.).

A capilarização dos conglomerados midiáticos, aliada à crise contemporânea em seus aspectos econômicos, tecnológicos e de legitimação do jornalismo como esfera de mediação social (DEUZE; WITSCHGE, 2018; TONG, 2018TONG, Jingrong. Journalistic legitimacy revisited: collapse or revival in the digital age? Digital Journalism, v. 6, n. 2, p. 256-273, 2018.; VOS; THOMAS, 2018, CHRISTOFOLETTI, 2019CHRISTOFOLETTI, Rogério. A crise do jornalismo tem solução? Barueri: Estação das Letras e Cores, 2019.), tem promovido uma tendência de desaparecimento dos veículos de mídia local (ABERNATHY, 2020ABERNATHY, Penelope M. News deserts and ghost newspapers: will local news survive? Chapel Hill: University of North Carolina at Chapel Hill, 2020. Disponível em: https://www.usnewsdeserts.com/wp-content/uploads/2020/06/2020_News_Deserts_and_Ghost_Newspapers.pdf. Acesso em: 30 abr. 2022.
https://www.usnewsdeserts.com/wp-content...
). Dados sobre a circulação de informações locais no Brasil indicam que 18% da população brasileira vive em localidades consideradas desertos de notícias (PROJOR, 2021PROJOR - INSTITUTO PARA O DESENVOLVIMENTO DO JORNALISMO. Atlas da Notícia. São Paulo: 2017-2021. Disponível em https://www.atlas.jor.br/. Acesso: 30 abr. 2022.
https://www.atlas.jor.br/...
). É um percentual populacional residente em 62% dos municípios nacionais, onde não se encontraram registros de veículos ativos de jornalismo local independente dos setores públicos. Outros 19% do total de municipalidades são quase-desertos de notícias, ou seja, são regiões onde são encontrados somente um ou dois veículos jornalísticos de circulação local. A convergência digital dos meios de comunicação (JENKINS, 2009JENKINS, Henry. Cultura da convergência. São Paulo: Aleph, 2009.) surgiu como esperança de salvação da produção midiática local, pois pressupunha-se que os custos de operação diminuiriam ao se priorizar o formato online para os produtos jornalísticos. Todavia, de acordo com os dados apresentados, não é isso que tem ocorrido no Brasil.

Em Mato Grosso do Sul (MS), onde foi desenvolvido este trabalho, cerca de 50% dos municípios são considerados desertos ou quase-desertos de notícias locais (PROJOR, 2021PROJOR - INSTITUTO PARA O DESENVOLVIMENTO DO JORNALISMO. Atlas da Notícia. São Paulo: 2017-2021. Disponível em https://www.atlas.jor.br/. Acesso: 30 abr. 2022.
https://www.atlas.jor.br/...
). Foram encontrados 518 veículos de mídia ativos no estado, sendo 35,9% no formato online, 32% de rádio, 18,5% de impressos e 13,3% de televisão. Ainda que existam outros 50% de municípios do estado com três ou mais veículos locais ativos, deve-se levar em consideração, neste contexto, que o processo de informatização do trabalho jornalístico tem acarretado, em última instância, o enxugamento de redações e levado muitas delas a se tornarem replicadoras de material informativo advindo de agências de notícias, de press releases de assessorias de imprensa ou mesmo cópias do conteúdo de veículos tradicionais de circulação nacional. Essa crise no jornalismo (DEUZE; WITSCHGE, 2018; TONG, 2018TONG, Jingrong. Journalistic legitimacy revisited: collapse or revival in the digital age? Digital Journalism, v. 6, n. 2, p. 256-273, 2018.; VOS; THOMAS, 2018, CHRISTOFOLETTI, 2019CHRISTOFOLETTI, Rogério. A crise do jornalismo tem solução? Barueri: Estação das Letras e Cores, 2019.), aliada à tendência de desertificação do noticiário local, pode agravar a situação de um estado como Mato Grosso do Sul caso os meios de comunicação regionais não veiculem ou não consigam veicular informações sobre a própria localidade.

No caso do esporte, por exemplo, com grande dependência da mediação midiática e jornalística para a sua subsistência, a falta de circulação de notícias contribui severamente para o empobrecimento da cultura esportiva local. Abordamos neste trabalho, portanto, especificamente esse ponto nevrálgico da existência e circulação (ou não) de informações sobre o esporte local.

A cultura da prática de atividades físicas e esportivas no contexto sul-mato-grossense tem índices de adesão e participação pouco superior a 40% da população (PNUD - PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO, 2017PNUD - PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO. Relatório de Desenvolvimento Humano Nacional - Movimento é Vida: Atividades Físicas e Esportivas para Todas as Pessoas. Brasília: PNUD, 2017. Disponível em: http://www.each.usp.br/gepaf/wp-content/uploads/2017/10/PNUD_RNDH_completo.pdf. Acesso em: 15 dez. 2017.
http://www.each.usp.br/gepaf/wp-content/...
). Proporcionalmente, é uma média de praticantes superior aos indicadores nacionais, que apontam para 30%. Todavia, contar com cerca de 60% de cidadãs e cidadãos sedentários ou não praticantes de atividades físicas e esportivas regulares representa a existência, no estado, de uma aparente cultura esportiva local semiformada. Nos termos de Pires (2002)PIRES, Giovani de Lorenzi. A Educação Física e o discurso midiático: abordagem crítico-emancipatória. Ijuí: Unijuí, 2002., pode-se entender tal contexto, em linhas gerais, sem identificação com o esporte como um valor e/ou um símbolo da sua prática cotidiana.

Iniciamos este trabalho, portanto, com a hipótese de que a cultura esportiva sul-mato-grossense é uma cultura desencarnada, incorporada apenas parcialmente nas rotinas da sociedade local. Trata-se de uma semiformação cultural com forte contribuição da ausência de mídia esportiva local em metade dos seus municípios e pela falta de produção de notícias esportivas locais em veículos jornalísticos circulantes do território, conforme hipótese testada no presente estudo.

Diante do cenário desenhado anteriormente, questões norteadoras de pesquisa se apresentaram e contribuíram para a condução deste trabalho. Foram elas: como se configura o conteúdo jornalístico voltado ao esporte em MS? Como tem se construído a notícia esportiva sul-mato-grossense no contexto de globalização econômica e mundialização da cultura, bem como de crise do jornalismo como instituição social mediadora da vida cotidiana? A mídia local tem mobilizado estratégias para a regionalização da cobertura esportiva? De que forma o jornalismo do estado tem realizado a mediação da cultura esportiva em diferentes localidades de Mato Grosso do Sul?

Destacamos, por conseguinte, que a partir do enfoque dado no trabalho, contribuímos para o campo do conhecimento em mídia, esporte e Educação Física, tanto do ponto de vista nacional como local. Produzimos dados sobre o jornalismo esportivo do estado, gerando subsídios para um melhor entendimento da sua atuação e para o desenvolvimento de estratégias de qualificação. Ademais, metodologicamente estabelecemos novos parâmetros técnico-científicos para acompanhar e qualificar o trabalho do jornalismo local em Mato Grosso do Sul e em outras localidades em tempos de globalização. Diante disso, o objetivo deste trabalho foi identificar características e tendências da cobertura noticiosa do esporte em portais de notícias online de Mato Grosso do Sul no ano de 2019.

2 PERCURSO E ESTRATÉGIAS METODOLÓGICAS

Desenvolvemos o presente estudo como uma pesquisa descritiva e exploratória, de análise de produto midiático, com abordagem quanti-qualitativa dos dados. Ele corresponde à linha de pesquisas em Educação Física e Mídia que se detém a acompanhar e analisar diferentes discursos midiático-esportivos (PIRES; LAZZAROTTI FILHO; LISBÔA, 2012PIRES, Giovani de Lorenzi; LAZZAROTTI FILHO, Ari; LISBÔA, Mariana M. Educação Física, mídia e tecnologias - incursões, pesquisa e perspectivas. Kinesis, v. 30, n. 1, p. 55-79, 2012.) e também encontra respaldo nos Estudos em Jornalismo.

Especificamente, acompanhamos a circulação de informação esportiva em portais de notícias online de Mato Grosso do Sul. Eles representam a maior parte (35,9%; n = 186) dos 518 veículos jornalísticos mapeados pelo projeto Atlas da Notícia, em relatório de janeiro de 2019 (PROJOR, 2021PROJOR - INSTITUTO PARA O DESENVOLVIMENTO DO JORNALISMO. Atlas da Notícia. São Paulo: 2017-2021. Disponível em https://www.atlas.jor.br/. Acesso: 30 abr. 2022.
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). Além disso, o Comitê Gestor da Internet (CGI) revela que na região Centro-Oeste do país 76% da população é usuária de internet. Desses, 92% a utilizam diariamente e 53% usam para ler jornais, revistas ou notícias online (NÚCLEO DE INFORMAÇÃO E COORDENAÇÃO DO PONTO BR, 2019NÚCLEO DE INFORMAÇÃO E COORDENAÇÃO DO PONTO BR. TIC domicílios: Pesquisa sobre o uso das tecnologias de informação e comunicação nos domicílios brasileiros 2018. São Paulo: CGI Brasil, 2019. Disponível em: https://www.nic.br/media/docs/publicacoes/2/12225320191028-tic_dom_2018_livro_eletronico.pdf. Acesso em: 31 ago. 2022.
https://www.nic.br/media/docs/publicacoe...
). Por conseguinte, delimitamos os portais de notícias online como recorte do estudo devido a sua representatividade como tipo de veículo de mídia de maior volume no estado e por conta da tendência de uso que este formato apresenta no conjunto da população regional.

Incluímos no escopo da pesquisa os portais de notícias ativos e atualizados no período de recolhimento de dados (1º de janeiro de 2021 a 31 de julho de 2021). Também estabelecemos como critério a presença de seções exclusivas de esportes nos sites, bem como a disponibilidade do acervo aberto das notícias produzidas e veiculadas em 2019. Os portais inativos, desatualizados, sem seções esportivas em suas páginas oficiais, não pertencentes aos municípios de Mato Grosso do Sul e notícias que não abordavam temáticas do esporte foram automaticamente excluídos do estudo. Após aplicarmos os critérios citados, excluímos 160 portais e restaram para o desenvolvimento da pesquisa 26 deles passíveis de serem analisados.

Ao final do estudo, recolhemos 698 notícias de 18 diferentes portais. Excluímos os oito restantes, pois identificamos que chegamos em um estágio de saturação máxima dos dados, quando as características e as tendências da cobertura jornalística passaram a se repetir exaustivamente. Dois portais localizados na capital - Correio do Estado e Mídiamax -, especificamente, foram excluídos do escopo do estudo devido ao caráter peculiar que apresentam. Ambos produzem e circulam um elevado número de notícias diariamente2 2 A título de ilustração, em média os portais incluídos no presente estudo publicavam entre duas e três notícias esportivas diariamente. No caso do Correio do Estado e do Mídiamax, esta média praticamente duplica ou triplica, passando para uma rotina de seis a nove notícias diárias. em seus portais, o que poderia contribuir para o enviesamento dos achados da pesquisa para um determinado caráter e tendência midiático-esportiva não representativo do conjunto do recorte geográfico. Nesse sentido, indicamos como necessário o desenvolvimento de trabalhos científicos com foco pontual nestas duas mídias de relevância regional.

Recolhemos notícias esportivas publicadas pelos portais em um período correspondente a 28 dias no decorrer do ano de 2019, a partir da técnica de amostragem entendida como a seleção de dados de dimensão e de composição representativa de acordo com o objeto da pesquisa - a amostragem sistemática não probabilística de representatividade social (LOPES, 2005LOPES, Maria Immacolata V. Pesquisa em Comunicação. São Paulo: Loyola, 2005.). Dessa maneira, o ano foi dividido em quatro trimestres e as coletas feitas em lotes semanais distribuídos em cada terço do ano, buscando-se a representatividade do período em recortes de uma semana nos períodos de janeiro a março, de abril a junho, de julho a setembro e de outubro a dezembro, conforme ilustrado no Quadro 1.

Quadro 1
Organização dos trimestres e intervalos de datas correspondentes para coleta de dados.

Com este recorte temporal procuramos explorar diferentes contextos e momentos esportivos do ano, tanto com relação às competições globais (Jogos Pan-Americanos e Parapan) e nacionais (Jogos Universitários Brasileiros) como com relação aos eventos locais (Campeonato Sul-Mato-Grossense de Futebol masculino).

As notícias foram organizadas e categorizadas por meio de um formulário na plataforma Google Forms, contendo os seguintes itens e categorias em sua estrutura: 1) Nome do portal; 2) Título da notícia; 3) Link; 4) Data; 5) Autor da Notícia; 6) Sexo da Autoria (homens, mulheres ou indefinido); 7) Abrangência (internacional, nacional e estadual); 8) Modalidade Esportiva; 9) Naipe da Modalidade Esportiva; 10) Dimensão do Esporte na Notícia (espetáculo, ética, emoção, estética e/ou esportividade); 11) Fonte da Notícia (atleta, ex-atleta, treinador, dirigentes, jornalistas, torcedores ou outros); 12) Sexo da fonte (homens, mulheres ou indefinido); 13) Classificação das Fontes (primária ou secundária); 14) Canais de Informação (rotina, informal, corporativo, reprodução ou não identificado); 15) Dimensão do Esporte na entrevista (espetáculo, ética, emoção, estética e/ou esportividade). Por fim, o conteúdo de todas as notícias mapeadas no estudo foi armazenado em um documento do software Microsoft Excel, oriundo do próprio formulário, para posterior análise.

O esporte como fenômeno social contemporâneo existe de maneira heterogênea, seja pela diversidade de praticantes, pela multiplicidade de cenários, bem como pela pluralidade de sentidos atribuídos à sua prática (GALATTI et al., 2018GALATTI, Larissa Rafaela et al. Esporte contemporâneo: perspectivas para a compreensão do fenômeno. Corpoconsciência, v. 22, n. 3, p. 115-127, 2018.; MARQUES; GUTIERREZ; MONTAGNER, 2009MARQUES, Renato Francisco R.; GUTIERREZ, Gustavo Luis; MONTAGNER, Paulo Cesar. Novas configurações socioeconômicas do esporte na era da globalização. Revista da Educação Física/UEM, v. 20, n. 4, p. 637-648, 2009.). Para compreendê-lo nesta expressão ampla e complexa da contemporaneidade, Marchi Junior (2015)MARCHI JUNIOR, Wanderley. O esporte “em cena”: perspectivas históricas e interpretações conceituais para a construção de um modelo analítico. The Journal of the Latin American Socio-cultural Studies of Sport, v. 5, n. 1, p. 46-67, 2015. propõe uma leitura multidimensional da sociologia do esporte, destacando cinco dimensões que o constituem: i) emoção; ii) estética; iii) ética; iv) espetáculo; v) educacional. Para o autor, somente em uma análise correlacional de tais dimensões é possível nos apropriarmos dos sentidos da prática esportiva atualmente.

Neste trabalho, acompanhamos a perspectiva citada, especialmente nos itens 10 e 15 do protocolo de análise, ao classificarmos o noticiário esportivo local de Mato Grosso do Sul por meio das dimensões do esporte, conforme Marchi Junior (2015)MARCHI JUNIOR, Wanderley. O esporte “em cena”: perspectivas históricas e interpretações conceituais para a construção de um modelo analítico. The Journal of the Latin American Socio-cultural Studies of Sport, v. 5, n. 1, p. 46-67, 2015.. Assim, replicamos o procedimento analítico do noticiário tal como executado por Lourenço et al. (2022)LOURENÇO, Otávio Bonjiovanne et al. A cobertura jornalística das copas de 2019 no Globoesporte.com: indícios da midiatização do futebol de mulheres. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 44, p. e011321, 2022. e substituímos a dimensão educacional pela dimensão da esportividade, por entendermos que ela é mais exequível de aplicação no recorte empírico da pesquisa. As cinco dimensões foram aplicadas para classificação do conteúdo noticioso da seguinte maneira:

Na sequência do texto apresentamos os achados do estudo e as discussões realizadas em torno deles.

3 ACHADOS DA PESQUISA

Distribuímos o montante de notícias de modo proporcional aos veículos online por regiões intermediárias sul-mato-grossenses. Assim, conforme Tabela 1, a região de Campo Grande - capital do estado - ficou com 41,89% do noticiário catalogado, a de Dourados com 33,29% e a de Corumbá com 24,82%.

Tabela 1
Organização dos aspectos correspondentes aos portais analisados associados com as regiões intermediárias do estado de Mato Grosso do Sul.

Levando em consideração a abrangência geográfica das notícias, elas versaram com mais frequência sobre o contexto nacional do que acerca de questões esportivas dos cenários estadual e internacional, conforme o Gráfico 1.

Gráfico 1
Abrangência geográfica das notícias recolhidas

Com relação às modalidades esportivas sobre as quais as notícias versavam, conforme Figura 1, obtivemos 69 modalidades diferentes, sendo o futebol o esporte mais contemplado, seguido de futsal, ciclismo, rally, natação paralímpica, paratletismo, voleibol, vôlei de praia, atletismo e outros. Já com relação ao pouco destaque dado, tivemos algumas modalidades esportivas, como automobilismo, canoagem paralímpica, teqball, taekwondo, skate e outros.

Figura 1
Frequência das modalidades esportivas nas notícias recolhidas.

Ao observarmos as modalidades esportivas a partir dos seus públicos praticantes, como ilustrado no Gráfico 2. Notamos que existe hegemonia de espaço para aquelas praticadas por homens, ocupando 77,04% do noticiário. Os outros 22,96% dividiram-se em 18,36% e 4,59%, contemplando modalidades mistas e de mulheres, respectivamente.

Gráfico 2
Modalidades esportivas divididas por sexo.

Nas dimensões esportivas presentes nas notícias, em geral, ocorreu uma inclinação para abordar o esporte por perspectivas de Espetáculo (92,68%), Ética (84,07%) e Esportividade (78,19%) em detrimento de Emoção (33,72%) e da Estética (12,34%), conforme Gráfico 3.

Gráfico 3
Dimensão dos esportes nas notícias.

Identificamos também que a maioria das notícias se configuraram como Reprodução (65,57%), ou seja, basicamente replicação de notas informativas de assessorias de comunicação de prefeituras ou mesmo cópia de notícias completas de veículos de comunicação da capital Campo Grande e de portais consolidados em termos nacionais, como Globoesporte.com, entre outros. Em menor proporção tivemos o conjunto do noticiário com canais de informação não identificados (15,09%) e de Rotina (13,85%). O primeiro grupo está relacionado com as notícias que não mencionaram de modo explícito ou implícito de onde retiraram as informações. A segunda parcela mencionada abarca as notícias que buscavam informações de outros veículos, como rádios, jornais e portais (SIGAL, 1974SIGAL, Leon V. Reporters and officials: the organization and politics of newsmaking. 2 ed. Lexington: D.C. Health and Company, 1974.; SILVA, GIMENES, 2020SILVA, Marcos Paulo; GIMENES, Ana Karla F. Nuances de oficialismo e estreitamento no espectro de vozes: uma análise das fontes e dos canais de informação do caso Marielle Franco nos jornais Folha de S. Paulo e El País. Líbero, v. 46, p. 92-110, 2020.). Estes casos se constituem pelo fato de os jornalistas não alcançarem os conteúdos informativos através de iniciativas próprias, ou seja, indo diretamente até as fontes, investigando-as e mobilizando-as para tal. Identificamos em menor volume o acionamento dos canais Corporativos (5,21%), relativos às iniciativas próprias dos jornalistas, bem como os canais Informais (0,27%), ligados aos vazamentos, por exemplo.

Gráfico 4
Canais de informação presentes nas notícias.

Notamos, a partir do somatório dos canais Informais, Corporativos e de Rotina, a composição de um total de 19,33% das notícias. Dentro delas, chegamos à mobilização das fontes, que, conforme apresentamos na Figura 2, foram principalmente os atletas, treinadores e organizações de eventos, que ao lado de outras são as mais buscadas. Em contrapartida, os sites, vereadores, assessorias de imprensa e outras se constituíram como fontes pouco mobilizadas.

Figura 2
Fontes presentes nas notícias.

Quando voltamos o olhar para o sexo das fontes, constitui-se, mais uma vez, a maioria de homens, com 53%, quando comparado com as mulheres, com 9%. Além disso, os casos em que o sexo é indefinido ou que não se aplica, a classificação compõe 38% das fontes, conforme ilustra o Gráfico 5.

Gráfico 5
Sexo das fontes presentes nas notícias.

Outra subdivisão relevante das fontes consiste na classificação delas como "primárias", relativas aos(às) atores/atrizes envolvidos(as) diretamente na notícia, ou como “secundárias”, aquelas pessoas especialistas que estudam e abordam questões sobre esportes, como pesquisadores e analistas de jogo (SILVA, GIMENES, 2020SILVA, Marcos Paulo; GIMENES, Ana Karla F. Nuances de oficialismo e estreitamento no espectro de vozes: uma análise das fontes e dos canais de informação do caso Marielle Franco nos jornais Folha de S. Paulo e El País. Líbero, v. 46, p. 92-110, 2020.). Assim, conforme o Gráfico 6, percebemos que as fontes primárias (98%) aparecem majoritariamente no noticiário analisado, em detrimento das fontes secundárias (2%).

Gráfico 6
Classificação das fontes presentes nas notícias.

Ademais, conforme o Gráfico 7, conseguimos inferir por quais prismas os veículos conduziram e noticiaram as entrevistas realizadas. O Espetáculo (37%) e a Emoção (30%) foram as dimensões mais mobilizadas. Foram abordadas questões publicitárias, mercadológicas, econômicas e burocráticas, bem como emoções, questões de torcidas, percepções de jogadores/jogadoras e treinadores(as). Na sequência das tendências, aparece a Esportividade (21%), trazendo questões relativas ao jogo ou de questões atléticas, como treinamento, técnica, tática e estratégia. Em seguida, temos a Ética (7%), com variações de reportagens que versavam sobre arbitragem, VAR (sigla em inglês para video assistant referee), fair play, questões jurídicas e doping, assim como a dimensão Estética (5%), pautada por questões de cunho biológico, voltando-se para a saúde, para lesões e preparo físico.

Gráfico 7
Dimensão esportiva das entrevistas presentes nas notícias.

4 DISCUSSÃO

Conforme citado anteriormente, segundo dados do Atlas da Notícia (PROJOR, 2021PROJOR - INSTITUTO PARA O DESENVOLVIMENTO DO JORNALISMO. Atlas da Notícia. São Paulo: 2017-2021. Disponível em https://www.atlas.jor.br/. Acesso: 30 abr. 2022.
https://www.atlas.jor.br/...
), Mato Grosso do Sul tem cerca de 50% dos seus municípios classificados como desertos ou quase-desertos de notícias locais. Ou seja, aproximadamente 12,5% das municipalidades do estado não são cobertas por nenhum veículo de mídia da própria cidade e outros 37,5% têm, no máximo, um ou dois meios de comunicação de produção jornalística. Apesar do elevado número proporcional, ainda foram identificadas no estado 518 mídias ativas, sendo, destas, 35,9% do formato online. Nesse sentido, ao realizarmos o mapeamento inicial neste tipo de meio, identificamos que dos 185 portais supostamente existentes, 92 não possuíam links ativos, ou repetiam outros portais, ou não detinham seção esportiva. Dos outros 93, apesar de contarem com espaço dedicado ao esporte, 53 deles estavam desatualizados ou a seção esportiva estava desativada (não abria após o clique), e outros 14 não disponibilizavam acervo de 2019 e anos anteriores. Restaram, assim, os 26 aptos para recolhimento de dados.

Estes dados iniciais revelam o primeiro indício do processo de desertificação midiático-esportiva de Mato Grosso do Sul, pois praticamente 50% dos portais de notícias online do estado não estão acessíveis ou não dedicam atenção ao fenômeno esportivo. Além destes, no momento do recolhimento dos dados, em 2020, mais 28,64% do total, apesar de preverem espaço para o esporte, não atualizavam o público com novas informações ou não conseguiam dar acesso para esta editoria em seus sites. Temos, portanto, uma proporção próxima a 80% de veículos online que não contribuem para a manutenção e perenidade da formação cultural esportiva da região.

Do ponto de vista geográfico, de acordo com o Gráfico 1, ressaltamos mais um dado de desertificação do conteúdo midiático-esportivo, pois as notícias que versam sobre o contexto nacional e internacional ocupam 75% do espaço do noticiário, em detrimento das notícias de abrangência estadual e local (25%). Observamos que o critério da proximidade não é, prioritariamente, levado em consideração pelas mídias de Mato Grosso do Sul no contexto esportivo. Isto expressa, em parte, a fragilidade da localidade no jornalismo esportivo sul-mato-grossense.

A característica observada diferencia-se da ideia de força local existente, a priori, neste universo de produção jornalística, conforme defende Fernandes (2014)FERNANDES, Mario Luiz. A proximidade como critério de noticiabilidade: a força da notícia local. In. SILVA, Gislene; SILVA, Marcos Paulo da; FERNANDES, Mario Luiz. (ed.). Critérios de noticiabilidade: problemas conceituais e aplicações. Florianópolis: Insular, 2014. p. 139-156.. Ou seja, o indicativo é de que a proximidade geográfica e simbólica do esporte no estado exerce influência apenas parcialmente para com os veículos de mídia. Nos termos de Peruzzo (2005PERUZZO, Cicilia M. K. Mídia regional e local: aspectos conceituais e tendências. Comunicação & Sociedade, v. 26, n. 43, p. 67-84, 2005., p. 75), vemos no jornalismo esportivo de Mato Grosso do Sul um tipo de inserção local “hesitante”, o qual “se integra mais como estratégia de ampliação do mercado do que por vocação regional”.

Mais um indicativo da desertificação do conteúdo midiático-esportivo no contexto sul-mato-grossense é a desigualdade de gênero e, nesse sentido, o pouco espaço dedicado às mulheres. Por exemplo, com relação ao naipe das 69 modalidades esportivas, temos a hegemonia das práticas dos homens (77,04%) em detrimento das mulheres (4,59%), aparecendo com um pouco mais de frequência as modalidades mistas (18,36%). Além disso, também predominam os homens (53%) nas fontes mobilizadas, relegando as vozes femininas a 9% do total do espaço jornalístico.

Os respectivos dados expõem a manutenção da dominação masculina no campo midiático-esportivo sul-mato-grossense e indicam existir tabus nas redações jornalísticas locais para com o esporte praticado pelas mulheres e para com as mulheres protagonistas do mundo esportivo, assim como apontam Brum e Capraro (2015)BRUM, Adriana; CAPRARO, André Mendes. Mulheres no jornalismo esportivo: uma “visão além do alcance”? Movimento, v. 21, n. 4, p. 959-971, 2015. em estudo com jornalistas no contexto paranaense. A diferença encontrada em nosso estudo explicita-se exorbitante se observada em relação ao estudo de John (2014)JOHN, V. M. Jornalismo esportivo e equidade de gênero: a ausência das mulheres como fonte de notícias na cobertura dos Jogos Olímpicos de Londres 2012. Estudos em Jornalismo e Mídia, v. 11, n. 2, p. 498-509, 30 out. 2014., em que mídias nacionais como a Folha de S. Paulo e o jornal Lance! mobilizaram 26% de mulheres no total das suas fontes para a cobertura dos Jogos Olímpicos de Londres em 2012. Desse modo, constatamos haver também uma modalização do conceito de deserto ou quase-deserto midiático-esportivo em Mato Grosso do Sul com relação à equidade de gênero, mantendo as vozes femininas - e por conseguinte seus pontos de mirada - sub-representadas nos campos da mídia e do esporte, como ocorre em âmbito nacional (GOELLNER; KESSLER, 2018GOELLNER, Silvana V.; KESSLER, Claudia Samuel. A sub-representação do futebol praticado por mulheres no Brasil. Revista USP, n. 117, p. 31-38, 6 ago. 2018.).

Com relação à prática jornalística observada nos achados do estudo, identificamos também outra característica da desertificação midiático-esportiva. O elevado número de reproduções de notícias (65,57%), em detrimento do noticiário produzido nas redações locais (34,43%), é indicativo deste empobrecimento da informação esportiva sobre a localidade - denotando a precariedade de profissionalização da imprensa regional (BUENO, 2013BUENO, Wilson da Costa. Jornal do interior: conceitos e preconceitos. In. ASSIS, Francisco de (org.). Imprensa do interior: conceitos e contextos. Chapecó: Argos, 2013. P. 45-66.). Vale ressaltar que esse grupo menor de notícias é composto por canais de informação não identificados (15,09%), de Rotina (13,85%), Corporativos (5,21%) e Informais (0,27%).

Imagem 1
Exemplo de notícia reproduzida em portal local.

Imagem 2
Exemplo de notícia de portal nacional posteriormente replicada no noticiário local.

Notamos, de acordo com estes achados da pesquisa, a tendência da prática jornalística analisada de recorrer ao oficialismo, pois opta por buscar fontes de rotina em conferências, comunicados de imprensa e audiências oficiais, tal como define Sigal (1974)SIGAL, Leon V. Reporters and officials: the organization and politics of newsmaking. 2 ed. Lexington: D.C. Health and Company, 1974., com atualização no cenário brasileiro por Silva e Gimenes (2020)SILVA, Marcos Paulo; GIMENES, Ana Karla F. Nuances de oficialismo e estreitamento no espectro de vozes: uma análise das fontes e dos canais de informação do caso Marielle Franco nos jornais Folha de S. Paulo e El País. Líbero, v. 46, p. 92-110, 2020.. Por conseguinte, a partir da baixa incidência dos canais corporativos e informais, apontamos a decorrência da pouca mobilização de entrevistas de iniciativa dos próprios repórteres, o raro trabalho jornalístico investigativo, bem como a inexistência, no contexto local, de uma cultura esportiva contra-hegemônica de vazamentos e/ou procedimentos não governamentais que se contrapõem às instâncias de poder da localidade. Outro ponto que cabe destacar é a presença de notícias com canais não identificados, o que pode ser explicado pela opção dos redatores de não identificarem os seus fazeres jornalísticos como mecanismo de autoproteção e/ou proteção das fontes mobilizadas.

A desertificação que identificamos na prática jornalística esportiva dos portais de notícias sul-mato-grossenses pode ser compreendida, por um lado, como uma manifestação arraigada no contexto regional da crise contemporânea da prática jornalística em seus aspectos econômicos, tecnológicos e de legitimação como esfera de mediação social (DEUZE, WITSCHGE, 2018DEUZE, Mark; WITSCHGE, Tamara. Beyond journalism: theorizing the transformation of journalism. Journalism, v.19, n. 2, p. 165-181, 2018.; TONG, 2018TONG, Jingrong. Journalistic legitimacy revisited: collapse or revival in the digital age? Digital Journalism, v. 6, n. 2, p. 256-273, 2018.; VOS, THOMAS, 2018VOS, Tim P.; THOMAS, Ryan J. The discursive construction of journalistic authority in a post-truth age. Journalism Studies, v. 19, n. 13, p. 2001-2010, 2018., CHRISTOFOLETTI, 2019CHRISTOFOLETTI, Rogério. A crise do jornalismo tem solução? Barueri: Estação das Letras e Cores, 2019.). Por outro lado, nos termos de Pires (2002)PIRES, Giovani de Lorenzi. A Educação Física e o discurso midiático: abordagem crítico-emancipatória. Ijuí: Unijuí, 2002., configura-se como expressão e desdobramento do processo de globalização econômica e mundialização da cultura. É possível vermos resquícios da localidade, mas visualizamos, sobretudo, a reprodutibilidade cultural do conteúdo midiático-esportivo massivo, especialmente de conglomerados de mídia nacionais. Conforme afirma o autor ao descrever e analisar tal fenômeno:

Assim, não haveria um choque de culturas entre o comum e o diverso, mas uma tendência de aproximação entre as lógicas que os conformam, em que o local, para garantir sua sobrevivência, tenderia a adequar-se, sem subsumir-se integralmente, ao mundial. Em síntese, estaria em desenvolvimento um processo de interação progressiva de aspectos comuns às diferentes culturas regionais - e em seu âmago enraizado -, que passam a integrar uma cultura reconhecida entre si, sem a negação dos seus traços distintivos próprios (PIRES, 2002PIRES, Giovani de Lorenzi. A Educação Física e o discurso midiático: abordagem crítico-emancipatória. Ijuí: Unijuí, 2002., p. 58).

Outro indicativo do processo de desertificação iminente da prática jornalística esportiva local manifesta-se na classe das fontes mobilizadas pela mídia. A priorização das vozes primárias, ou seja, aquelas participantes diretas ou personagens do ocorrido (LAGE, 2005LAGE, Nilson A. Reportagem: teoria e técnica de entrevista e pesquisa jornalística. Rio de Janeiro: Record, 2005.; SILVA, GIMENES, 2020SILVA, Marcos Paulo; GIMENES, Ana Karla F. Nuances de oficialismo e estreitamento no espectro de vozes: uma análise das fontes e dos canais de informação do caso Marielle Franco nos jornais Folha de S. Paulo e El País. Líbero, v. 46, p. 92-110, 2020.), com 98% do espaço gerado, preterindo-se, assim, as secundárias (2%), expõem tamanho desequilíbrio e, consequentemente, superficialidade - sem a devida mediação crítica - da informação esportiva produzida e veiculada na localidade. Esta é uma característica outrora anunciada e denunciada por Betti (1998BETTI, Mauro. Janela de vidro: esporte, televisão e educação física. Campinas: Papirus, 1998.; 2001BETTI, Mauro. Esporte na mídia ou esporte da mídia? Motrivivência, n. 17, p. 1-3, 2001.) sobre o esporte veiculado pelos meios de comunicação de massa.

Cabe relatar que o processo de ausência de fontes especializadas no jornalismo esportivo online de Mato Grosso do Sul pode ser explicado pela tendência desta área jornalística. Em âmbito nacional, é comum supervalorizar os personagens envolvidos no fenômeno esportivo e deslegitimar os estudiosos da área que poderiam realizar análises aprofundadas dos acontecimentos no esporte (SOLEY, 1992SOLEY, Lawrence C. The News Shapers: the sources who explain the news. New York, Westport, London: Praeger Publishers, 1992.).

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em síntese, o nosso estudo permite-nos afirmar haver um intenso processo de desertificação midiático-esportiva em Mato Grosso do Sul para além daqueles desertos e quase-desertos noticiosos existentes em 50% das municipalidades locais. São cidades e regiões intermediárias sul-mato-grossenses que possuem veículos de mídias locais online registrados, em funcionamento, mas que em sua prática e produção jornalística sobre o esporte pouco abrangem informações sobre as localidades. Ademais, eles priorizam o futebol em detrimento de outras modalidades, evidenciam as práticas esportivas dos homens, minorando o das mulheres, limitam o dimensionamento do fenômeno esportivo ao espetáculo, à ética e à esportividade, reproduzem, majoritariamente, o noticiário nacional e internacional, bem como restringem a configuração noticiosa às fontes primárias, dando destaque aos atletas, treinadores e organizadores de eventos, prioritariamente homens, para falarem sobre assuntos relacionados ao espetáculo, à emoção e à esportividade da prática.

Conjugados os achados sobre a abrangência das notícias e os canais informativos, consideramos ser critério de noticiabilidade do jornalismo esportivo local online a proximidade (FERNANDES, 2014FERNANDES, Mario Luiz. A proximidade como critério de noticiabilidade: a força da notícia local. In. SILVA, Gislene; SILVA, Marcos Paulo da; FERNANDES, Mario Luiz. (ed.). Critérios de noticiabilidade: problemas conceituais e aplicações. Florianópolis: Insular, 2014. p. 139-156.), porém priorizando-se a sua dimensão simbólica em detrimento da geográfica (SILVA, 2015SILVA, Marcos Paulo. As dissonâncias cotidianas como substâncias das notícias: dos paradoxos cotidianos aos critérios noticiosos. Comunicação & Sociedade, v. 37, p. 215-237, 2015.). Este é mais um desdobramento da construção sócio-histórica de uma identidade esportiva nacionalizada, gerada pela indivisibilidade da globalização econômica e mundialização da cultura, a qual se manifesta pela formação dos conglomerados midiáticos brasileiros no final do século XX e pela assimetria dos modos como eles induziram a produção e reprodução do discurso midiático-esportivo por todo o território do país (MORAES, 1998MORAES, Dênis de. O planeta mídia: tendências da comunicação na era global. Campo Grande: Letra Livre, 1998.).

O cenário encontrado no contexto midiático-esportivo do estado nos provoca especular a hipótese de que há, nos meandros da regionalidade, uma limitação de políticas públicas e privadas para o desenvolvimento do esporte. Esta característica pode ser o elemento gerador da escassez de dados sobre as manifestações esportivas locais, obrigando os(as) jornalistas a reproduzirem noticiários nacionais e internacionais no cotidiano. A investigação sobre a produção e distribuição das políticas esportivas estaduais configura-se, portanto, como uma lacuna para futuros estudos que possam complementar as reflexões oriundas do campo jornalístico esportivo sul-mato-grossense.

ÉTICA DE PESQUISA

A pesquisa seguiu os protocolos vigentes nas Resoluções 466/12 e 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde do Brasil e foi aprovado pelo Comitê de Ética de Pesquisa (CEP) da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul com o protocolo número 26617619.1.0000.0021.

RESPONSABILIDADE EDITORIAL

Alex Branco Fraga *, Elisandro Schultz Wittizorecki *, Mauro Myskiw *, Raquel da Silveira *

* Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Escola de Educação Física, Fisioterapia e Dança, Porto Alegre, RS, Brasil.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    11 Nov 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    23 Maio 2022
  • Aceito
    01 Jun 2022
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