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O QUE ENSINAR NA GINÁSTICA RÍTMICA? PERCEPÇÕES DE TREINADORAS MEDALHISTAS NOS CAMPEONATOS BRASILEIROS

WHAT TO TEACH IN RHYTHMIC GYMNASTICS? PERCEPTIONS OF MEDALIST COACHES IN BRAZILIAN CHAMPIONSHIPS

¿QUÉ ENSEÑAR EN LA GIMNASIA RÍTMICA? PERCEPCIONES DE LAS ENTRENADORAS MEDALLISTAS EN LOS CAMPEONATOS BRASILEÑOS

Resumo

O objetivo deste estudo foi identificar e analisar o conteúdo desenvolvido na iniciação esportiva competitiva da Ginástica Rítmica (GR). Entrevistamos seis treinadoras das categorias de base de instituições medalhistas em ao menos uma categoria dos Campeonatos Brasileiros de GR 2019. Por meio da análise temática, cinco temas emergiram: (1) Especializar versus Ampliar: fatores que limitam e contribuem para o desenvolvimento físico-motor na iniciação esportiva da GR; (2) O posicionamento corporal é “regra” na GR; (3) Dificuldades corporais: treinar para aprender ou treinar para competir?; (4) De elemento acessório a elemento essencial: a valorização dos aparelhos da GR; (5) Dentro das regras e fora dos treinos: O componente artístico na GR. Sugerimos que o conteúdo preze pelas características, saúde, formação em longo prazo e desenvolvimento integral das ginastas. Por tratar-se de crianças, os resultados não seriam prioritários nessa fase e o conteúdo deveria apoiar-se na visão de futuro da modalidade.

Palavras-chave:
Ginástica rítmica; Iniciação esportiva; Jovens atletas; Pedagogia do esporte.

Abstract

This study aimed to identify and analyze the content developed in competitive Rhythmic Gymnastics (RG) sports initiation. We interviewed six coaches who worked in basic categories of medalist clubs in the 2019 Brazilian RG Championships. From the thematic analysis, five themes emerged: (1) Specialize versus Expand: factors that limit and contribute to physical-motor development in RG sports initiation; (2) Body positioning is a “rule” in RG; (3) Body difficulties: training to learn or training to compete?; (4) From an accessory element to an essential element: the valorization of RG's apparatus; (5) Within the rules and outside of training: The artistic component in RG. We suggest that the content must respect gymnasts’ characteristics, their health, long-term training, and their integral development. As they are children, results would not be a priority at this stage, and the content should be established based on the RG’s future vision.

Keywords:
Rhythmic gymnastics; Sports initiation; Youth athletes; Sport pedagogy.

Resumen

El objetivo de este estudio ha sido identificar y analizar el contenido desarrollado en la iniciación deportiva competitiva de la Gimnasia Rítmica (GR). Entrevistamos a seis entrenadoras de las categorías de base de instituciones medallistas en al menos una categoría de los Campeonatos Brasileños de GR 2019. A través del análisis temático emergieron cinco temas: (1) Especializar versus ampliar: Factores que limitan y contribuyen al desarrollo físico-motor en la iniciación deportiva de la GR; (2) Posicionamiento corporal es “regla” en la GR; (3) Dificultades corporales: ¿entrenar para aprender o entrenar para competir?; (4) De elemento accesorio a elemento esencial: la valorización los aparatos de GR; (5) Dentro de las reglas y fuera del entrenamiento: el componente artístico en la GR. Sugerimos que el contenido respete las características, la salud, formación a largo plazo y desarrollo integral de las gimnastas. Al tratarse de niñas, los resultados no serían prioridad en esta etapa y el contenido debería apoyarse en la visión de futuro de la modalidad.

Palabras clave:
Gimnasia rítmica; Iniciación deportiva; Atletas jóvenes; Pedagogía del deporte.

1 INTRODUÇÃO

Em geral, as modalidades ginásticas, como a Ginástica Rítmica (GR), são reconhecidas pelos treinamentos intensos para ginastas em tenra idade, que apresentam níveis extraordinários de desempenho e participações em competições oficiais (RUSSELL, 2013RUSSELL, Keith. The evolution of gymnastics. In: CAINE, Dennis J.; RUSSELL, Keith; LIM, Liesbeth. (ed.). Handbook of Sports Medicine and Science, Gymnastics. [S.l.] John Wiley & Sons, 2013. p. 3-14. DOI: https://dx.doi.org/10.1002/9780470757116
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).

No Brasil, os Campeonatos Brasileiros de GR são os eventos nacionais oficiais de maior competitividade e permitem a participação de crianças a partir dos nove anos de idade (CBG, 2019CBG - CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE GINÁSTICA. Regulamento técnico campeonato brasileiro individual - 2019, Ginástica Rítmica, 2019. Disponível em: https://www.cbginastica.com.br/adm/resources/download_arquivo/a6c9978f0a11ff6d5284ab3a2524b74b_5caf304f94810.pdf. Acesso em: 7 nov. 2022.
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). As primeiras categorias compreendem a iniciação esportiva competitiva, composta pelas categorias de base pré-infantil (9 e 10 anos de idade) e infantil (11 e 12 anos de idade) (FURTADO, 2020FURTADO, Lorena Nabanete dos Reis. Formação esportiva em longo prazo: análise de competições de ginástica rítmica nas categorias de base. 2020. Tese (Doutorado em Estudos Socioculturais e Comportamentais da Educação Física e Esporte) - Escola de Educação Física e Esporte, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2020.).

Consideramos iniciação esportiva competitiva quando esta tem objetivos competitivos, preocupação com o desempenho e com a execução de movimentos perfeitos (TSUKAMOTO; NUNOMURA; CARRARA, 2011TSUKAMOTO, Mariana Harumi Cruz; NUNOMURA, Myrian; CARRARA, Paulo. Ginástica Artística. In: BÖHME, Maria Tereza Silveira (ed.). Esporte infanto-juvenil: treinamento a longo prazo e talento esportivo. São Paulo: Phorte, 2011.). Essa fase é o primeiro estágio no processo de formação esportiva, quando se ensinam os princípios básicos de uma ou mais modalidades (RAMOS; NEVES, 2008RAMOS, Adamilton Mendes; NEVES, Ricardo Lira. A iniciação esportiva e a especialização precoce à luz da teoria da complexidade - Notas introdutórias. Pensar a Prática, v. 11, n. 1, p. 1-8, 2008. DOI: https://dx.doi.org/10.5216/rpp.v11i1.1786.
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). Desse modo, sugere-se que as habilidades motoras e capacidades físicas sejam desenvolvidas por meio de experiências diversas, a fim de ampliar o repertório das crianças e oferecer-lhes opções para decidirem qual esporte praticar futuramente (MYER et al., 2016MYER, Gregory D. et al. Sports Specialization, Part II: alternative solutions to early sport specialization in youth athletes. Sports Health, v. 8, n. 1, p. 65-73, 2016. DOI: http://dx.doi.org/10.1177/1941738115614811
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). Em vista disso, nesse período, é importante que as crianças conheçam, experimentem, divirtam-se e sintam-se motivadas a prosseguir o seu desenvolvimento em longo prazo (WEINECK, 1999WEINECK, Jurgen. Treinamento ideal: instruções técnicas sobre o desempenho fisiológico, incluindo considerações específicas de treinamento infantil e juvenil. São Paulo: Manole, 1999.; BOMPA, 2000BOMPA, Tudor. Total training for young champions. Champaing: Human Kinetics, 2000.; BARBANTI, 2005BARBANTI, Valdir. Formação de esportistas. São Paulo: Manole, 2005.; RAMOS; NEVES, 2008RAMOS, Adamilton Mendes; NEVES, Ricardo Lira. A iniciação esportiva e a especialização precoce à luz da teoria da complexidade - Notas introdutórias. Pensar a Prática, v. 11, n. 1, p. 1-8, 2008. DOI: https://dx.doi.org/10.5216/rpp.v11i1.1786.
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).

Nesse sentido, o conhecimento sobre o conteúdo desenvolvido na iniciação esportiva mostra-se relevante e demanda atenção, uma vez que o aumento da dificuldade das habilidades praticadas em idades precoces, cobranças técnicas excessivas, e exigências do treinamento intensivo submeteriam as ginastas às altas demandas de desempenho, ao risco de lesões e ao abandono da prática (MALINA et al., 2013MALINA, Robert. M. et al. Role of intensive training in the growth and maturation of artistic gymnasts. Sports Medicine, v. 43, p. 783-802, 2013. DOI: http://dx.doi.org/10.1007/s40279-013-0058-5
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; RUSSELL, 2021RUSSELL, Keith. Can contemporary educational theories change how we coach gymnastics? CONGRESSO NACIONAL DE GINÁSTICA, 8. 2021. Tema 1. Anais... Porto: Federação de Ginástica de Portugal, 2021.).

Na atualidade, a literatura busca fornecer informações que auxiliem na gestão e minimização dos riscos associados à participação das ginastas. Por exemplo, que otimizem o desempenho e prezem pela saúde das atletas; que contribuam para atraí-las e mantê-las na modalidade; e que busquem o aprimoramento do ensino da GR (CAINE; RUSSELL; LIM, 2013CAINE, Dennis J.; RUSSELL, Keith; LIM, Liesbeth (ed.). Handbook of sports medicine and science: gymnastics. [S.l.]: John Wiley & Sons, 2013; MALINA et al., 2013MALINA, Robert. M. et al. Role of intensive training in the growth and maturation of artistic gymnasts. Sports Medicine, v. 43, p. 783-802, 2013. DOI: http://dx.doi.org/10.1007/s40279-013-0058-5
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; RUSSELL, 2020, 2021).

A iniciação esportiva é uma das fases mais importantes do processo de formação esportiva, pois habilidades específicas da GR serão ensinadas (OLIVEIRA, 2022OLIVEIRA, Laura de. Métodos de ensino para a iniciação esportiva na ginástica rítmica. 2022. Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-Graduação em Educação Física e Esporte, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2022. DOI: https://doi.org/10.11606/D.109.2022.tde-02082022-143948
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). Então, ao apresentar o conteúdo ensinado nessa etapa, pretende-se ampliar o conhecimento daqueles que atuam na modalidade e auxiliar os(as) treinadores(as) a optarem por conteúdos efetivos e adequados às fases de desenvolvimento, necessidades e interesses das atletas.

Frente a esse cenário, o objetivo deste estudo foi identificar e analisar: a) o conteúdo desenvolvido na iniciação esportiva competitiva da GR por treinadores(as) de instituições medalhistas nos Campeonatos Brasileiros de 2019; e b) o que influenciaria as decisões dos(as) treinadores(as).

2 MÉTODO

Este estudo faz parte de um projeto maior de pesquisa qualitativa descritiva que identificou e analisou os métodos de ensino na iniciação esportiva competitiva da GR.

No projeto, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com treinadoras das categorias de base das instituições medalhistas em ao menos uma das categorias dos Campeonatos Brasileiros de GR 2019. A partir da análise, o projeto também identificou o conteúdo desenvolvido pelas treinadoras, que foi considerado essencial para a escolha e utilização dos métodos de ensino.

Este projeto obteve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da USP, Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto, CAAE40274620.3.0000.5659.

2.1 PARTICIPANTES

A ideia central deste estudo envolve a iniciação esportiva competitiva da GR. Assim, para a definição dos participantes, investigamos os Campeonatos Brasileiros da modalidade (individual e conjunto), visto que são os eventos nacionais de maior nível competitivo.

A partir dos resultados oficiais publicados pela Confederação Brasileira de Ginástica (CBG), treinadores(as) de nove instituições esportivas foram convidados(as) a participar deste estudo. As nove instituições obtiveram pódio em pelo menos uma das categorias (pré-infantil, infantil, juvenil e adulto) dos Campeonatos Brasileiros de GR 2019.

Das instituições convidadas a compor este estudo, participaram seis treinadoras de GR que atuam nas categorias de base de seis das instituições medalhistas em pelo menos uma categoria dos Campeonatos Brasileiros de GR 2019. Todas as treinadoras apresentam, no mínimo, dez anos de experiência profissional como treinadora de GR, conforme sugerem Erickson, Côté e Fraser-Thomas (2007)ERICKSON, Karl; CÔTÉ, Jean; FRASER-THOMAS, Jessica. Sport experiences, milestones, and educational activities associated with high-performance coaches’ development. Sport Psychologist, v. 21, n. 3, p. 302-316, 2007. DOI: http://dx.doi.org/10.1123/tsp.21.3.302
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.

Fizeram parte dos critérios de exclusão quaisquer indivíduos que não se enquadraram nos critérios de inclusão do estudo, seja pelo tempo de experiência profissional ou por não atuarem nas categorias de base das instituições selecionadas previamente.

2.2 PRODUÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

A produção dos dados envolveu a entrevista semiestruturada proposta por Triviños (1987)TRIVIÑOS, Augusto Nibaldo Silva. Introdução à Pesquisa em Ciências Sociais: a pesquisa qualitativa em educação - o positivismo, a fenomenologia, o marxismo. São Paulo: Atlas S.A, 1987.. Utilizamos um roteiro norteador para as entrevistas, que foram online, pela plataforma Google Meet. As entrevistas online são consideradas complementos úteis ou substituições às entrevistas presenciais (DEAKIN; WAKEFIELD, 2014DEAKIN, Hannah; WAKEFIELD, Kelly. Skype interviewing: reflections of two PhD researchers. Qualitative Research, v. 14, n. 5, p. 603-616, 2014. DOI: http://dx.doi.org/10.1177/1468794113488126
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). Cada entrevista durou entre 45 e 120 minutos, foi registrada em vídeo e transcrita literalmente.

Para a análise dos dados, utilizamos a análise temática (BRAUN; CLARKE, 2006BRAUN, Virginia; CLARKE, Victoria. Using thematic analysis in psychology. Qualitative Research in Psychology, v. 3, n. 2, p. 77-101, 2006. DOI: http://dx.doi.org/10.1191/1478088706qp063oa
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). No primeiro passo, houve familiarização com o conteúdo das entrevistas. A etapa seguinte, denominada análise indutiva, envolveu um processo de codificação dos dados, sem intenção de enquadrá-los em preconceitos analíticos do pesquisador ou codificações preexistentes (BRAUN; CLARKE, 2006BRAUN, Virginia; CLARKE, Victoria. Using thematic analysis in psychology. Qualitative Research in Psychology, v. 3, n. 2, p. 77-101, 2006. DOI: http://dx.doi.org/10.1191/1478088706qp063oa
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). Em seguida, procedemos à análise linha a linha para codificar os dados, a partir dos quais emergiram os cinco temas de análise relacionados às questões da pesquisa.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Incluímos discursos representativos e discussão em diálogo com a literatura para cada tema. A partir da análise dos dados, elencamos os cinco temas a seguir:

3.1 TEMA 1: ESPECIALIZAR VERSUS AMPLIAR: FATORES QUE LIMITAM E CONTRIBUEM PARA O DESENVOLVIMENTO FÍSICO-MOTOR GERAL NA INICIAÇÃO ESPORTIVA DA GR

Para as entrevistadas, aumentar o repertório físico-motor geral das ginastas foi considerado conteúdo essencial na iniciação esportiva. Então, foi mencionado o desenvolvimento de capacidades físicas, como coordenação, agilidade, flexibilidade e resistência; e de habilidades motoras, como correr e saltar. Ainda, as treinadoras citaram componentes específicos da GR, como elementos pré-acrobáticos, manipulação dos aparelhos, consciência corporal e orientação espacial:

O trabalho de coordenação motora, de agilidade é fundamental [...]. Não é tão fundamental a menina abrir o melhor espacate e trabalhar demais a flexibilidade, fazer uma ponte, mostrar que tem coluna [...]. Essa parte específica não é tão fundamental, mas ensinar uma menina a correr, diferentes maneiras de corrida, diferentes maneiras de saltitos [...]. Ela saber passar pelo solo, trabalhar no plano nível médio, nível alto (T1).

O conteúdo descrito pela treinadora coincide com a literatura, que enfatiza a ampliação do acervo motor das ginastas por meio de oportunidades diversas e, em especial, a partir das atividades direcionadas ao seu desenvolvimento físico-motor geral (GCG, 2008GCG - GYMNASTICS CANADA GYMNASTIQUE. Long term athlete development. Sport Canada, 2008. Disponível em: https://www.gymcan.org/uploads/gcg_ltad_en.pdf. Acesso em: 7 nov. 2022.
https://www.gymcan.org/uploads/gcg_ltad_...
; TOLEDO, 2009TOLEDO, Eliana de. Fundamentos da ginástica rítmica. In: NUNOMURA, Myriam; TSUKAMOTO, Mariana Harumi Cruz (ed.). Fundamentos das ginásticas. 2. ed. Jundiaí: Fontoura, 2009. p. 143-172.; GAIO, 2013GAIO, Roberta. Ginástica Rítmica: da iniciação ao alto nível. 2. ed. Jundiaí: Editora Fontoura, 2013.). Esses estímulos são condições essenciais para qualquer esporte que as crianças optarem praticar futuramente (MYER et al., 2016MYER, Gregory D. et al. Sports Specialization, Part II: alternative solutions to early sport specialization in youth athletes. Sports Health, v. 8, n. 1, p. 65-73, 2016. DOI: http://dx.doi.org/10.1177/1941738115614811
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), conforme menciona T1:

O objetivo é dar à criança a condição de aprender, de conhecer mais uma modalidade [...]. É lógico que algumas crianças irão para outros esportes, é mesmo por afinidade. Em contrapartida, eu penso que você proporcionou a ela condições de melhorar a sua condição física e todo esse processo importante para que uma criança inicie no esporte, não importa que modalidade seja [...]. Ele [processo de iniciação esportiva] é abrangente porque nós queremos tirar a criança desse modo sedentário que ela se encontra [...]. Os olhinhos da gente de técnico é que vão enxergar aquela ou se é aquela outra que um dia poderá ser ginasta. No princípio, é um trabalho bem geral, de saúde, de coordenação, de aperfeiçoar, de aprimorar as qualidades motoras. Eu vejo como um trabalho bem lúdico mesmo (T1).

T1 propõe uma prática abrangente, voltada para a saúde e o condicionamento físico. Dessa maneira, aprimorar o condicionamento físico, promover e incentivar hábitos saudáveis durante a infância são ações importantes para impactar as crianças de forma que se mantenham ativas ao longo da vida toda (BOMPA, 2000BOMPA, Tudor. Total training for young champions. Champaing: Human Kinetics, 2000.; BALYI, 2003BALYI, Istvan. O desenvolvimento do praticante a longo prazo: sistema e soluções. In: Treino Desportivo. Lisboa: Lisboa, 2003. p. 22-27.; BARBANTI, 2005BARBANTI, Valdir. Formação de esportistas. São Paulo: Manole, 2005.; RAMOS; NEVES, 2008RAMOS, Adamilton Mendes; NEVES, Ricardo Lira. A iniciação esportiva e a especialização precoce à luz da teoria da complexidade - Notas introdutórias. Pensar a Prática, v. 11, n. 1, p. 1-8, 2008. DOI: https://dx.doi.org/10.5216/rpp.v11i1.1786.
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).

Nesse contexto, aspectos lúdicos mencionados por T1 são muito bem-vindos na iniciação esportiva. Na literatura, as atividades lúdicas são amplamente recomendadas nessa fase, visto que estimulam a diversão e o prazer pela prática, considerados essenciais para a atratividade e a permanência das crianças na modalidade (RUSSELL; BASICGYM, 2010RUSSELL, Keith; BASICGYM. Fundamentos da ginástica e da literacia motora. Lisboa: Federação Internacional de Portugal, 2010.; NUNOMURA, 2016NUNOMURA, Myrian. Fundamentos das ginásticas. 2. ed. Jundiaí: Fontoura, 2016.).

Apesar das demandas competitivas da GR, as atividades lúdicas deveriam ser incluídas na iniciação esportiva, principalmente por envolver crianças (OLIVEIRA, 2022OLIVEIRA, Laura de. Métodos de ensino para a iniciação esportiva na ginástica rítmica. 2022. Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-Graduação em Educação Física e Esporte, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2022. DOI: https://doi.org/10.11606/D.109.2022.tde-02082022-143948
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). Assim, priorizar a técnica na GR em detrimento da valorização do componente lúdico deve ser motivo de reflexão para os(as) treinadores(as) (OLIVEIRA, 2022OLIVEIRA, Laura de. Métodos de ensino para a iniciação esportiva na ginástica rítmica. 2022. Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-Graduação em Educação Física e Esporte, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2022. DOI: https://doi.org/10.11606/D.109.2022.tde-02082022-143948
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). Além disso, antecipar a perspectiva tecnicista ainda na infância pode prejudicar o desenvolvimento das ginastas nessa fase da vida, significativamente marcada pela brincadeira (PORPINO, 2004PORPINO, Karenine de Oliveira. Treinamento da ginástica rítmica: reflexões estéticas. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 26, n. 1, p. 121-133, 2004.).

Também destacamos que, na iniciação esportiva, não são recomendadas cobranças técnicas excessivas por habilidades que podem ser aprendidas e treinadas em longo prazo (GCG, 2008GCG - GYMNASTICS CANADA GYMNASTIQUE. Long term athlete development. Sport Canada, 2008. Disponível em: https://www.gymcan.org/uploads/gcg_ltad_en.pdf. Acesso em: 7 nov. 2022.
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). Ainda, menos exigências nessa etapa possibilitariam maior variedade de experiências às ginastas:

Eu vejo que o mais importante seria aumentar o máximo possível o acervo motor das meninas, mesmo que isso não seja com uma exigência de execução tão grande. As meninas teriam que aprender tudo sem uma boa execução, elas deveriam experienciar tudo, em todos os sentidos, tanto de corpo quanto de aparelho (T5).

Apesar do discurso da treinadora, observamos a tendência à especialização precoce na GR:

O que a gente acaba vendo é mais uma especialização precoce. Elas acabam sabendo fazer aquilo e é só aquilo. Quando a gente precisa que elas façam outras coisas, elas não vão saber porque a gente não ensinou, não deixou elas experienciarem [...]. A gente tem uma cobrança com execução muito grande e acaba limitando as meninas [...]. A gente tem um imediatismo de que esteja tudo muito certinho desde pequena e eu acho que isso também vem de cima, de exigência de arbitragem e de tudo (T5).

Na especialização precoce, as fases do processo de formação esportiva são antecipadas ou anuladas; e acontece especialização antes do período considerado ideal (FEELEY; AGEL; LAPRADE, 2016FEELEY, Brian T.; AGEL, Julie; LAPRADE, Robert F. When is it too early for single sport specialization? American Journal of Sports Medicine, v. 44, n. 1, p. 234-241, 2016. DOI: http://dx.doi.org/10.1177/0363546515576899
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). Assim, as crianças se especializam antes da maturação em um único esporte, ao qual se dedicam com exclusividade (MYER et al., 2016MYER, Gregory D. et al. Sports Specialization, Part II: alternative solutions to early sport specialization in youth athletes. Sports Health, v. 8, n. 1, p. 65-73, 2016. DOI: http://dx.doi.org/10.1177/1941738115614811
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). Nesse caso, os treinamentos são intensos e têm o intuito de elevar o desempenho das crianças em competições (MYER et al., 2016MYER, Gregory D. et al. Sports Specialization, Part II: alternative solutions to early sport specialization in youth athletes. Sports Health, v. 8, n. 1, p. 65-73, 2016. DOI: http://dx.doi.org/10.1177/1941738115614811
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).

Uma justificativa para a especialização precoce seria a percepção errônea de que as crianças terão mais sucesso se iniciarem em um único esporte mais cedo. Contudo, tal perspectiva não corrobora a ciência, uma vez que não haveria associação entre campeões de categorias adultas e grandes destaques na infância e adolescência (FEELEY; AGEL; LAPRADE, 2016FEELEY, Brian T.; AGEL, Julie; LAPRADE, Robert F. When is it too early for single sport specialization? American Journal of Sports Medicine, v. 44, n. 1, p. 234-241, 2016. DOI: http://dx.doi.org/10.1177/0363546515576899
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).

Pelo contrário, sem a oportunidade de experimentar estímulos e esportes diversos durante a infância, os jovens são menos propensos a adquirir habilidades físicas, psicossociais e cognitivas fundamentais para o sucesso no esporte em longo prazo (MYER et al., 2016MYER, Gregory D. et al. Sports Specialization, Part II: alternative solutions to early sport specialization in youth athletes. Sports Health, v. 8, n. 1, p. 65-73, 2016. DOI: http://dx.doi.org/10.1177/1941738115614811
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).

A especialização precoce é desaconselhada, pois comprometeria o envolvimento da ginasta na modalidade e elevaria o risco de esgotamento e abandono também precoces (MYER et al., 2016MYER, Gregory D. et al. Sports Specialization, Part II: alternative solutions to early sport specialization in youth athletes. Sports Health, v. 8, n. 1, p. 65-73, 2016. DOI: http://dx.doi.org/10.1177/1941738115614811
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). Outros prejuízos envolvem a redução do desenvolvimento do repertório motor e o aumento dos riscos de lesões, devido às altas demandas competitivas e do treinamento (MALINA et al., 2013MALINA, Robert. M. et al. Role of intensive training in the growth and maturation of artistic gymnasts. Sports Medicine, v. 43, p. 783-802, 2013. DOI: http://dx.doi.org/10.1007/s40279-013-0058-5
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; BARREIROS; CÔTÉ; FONSECA, 2013BARREIROS, André; CÔTÉ, Jean; FONSECA, António Manuel. Sobre o desenvolvimento do talento no desporto: um contributo dos modelos teóricos do desenvolvimento desportivo. Revista de Psicologia del Deporte, v. 22, n. 2, p. 489-494, 2013.; LOPES et al., 2016LOPES, Priscila. et al. Motivos de abandono na prática de ginástica artística no contexto extracurricular. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, v. 30, n. 4, p. 1043-1049, 2016. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1807-55092016000401043
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).

Na GR, as exigências pela excelência técnica e estética e a cobrança por resultados esportivos em tenra idade levariam aos treinamentos muito específicos, em detrimento da formação esportiva geral das ginastas (SULISTYOWATI; SUKAMTI, 2018SULISTYOWATI, Endang Murti; SUKAMTI, Endang Rini. Rhythmic Gymnastics of the Early Childhood. In: Advances in Social Science, Education and Humanities Research, v. 278, p. 412-415, 2018. DOI: https://dx.doi.org/10.2991/yishpess-cois-18.2018.104
https://dx.doi.org/10.2991/yishpess-cois...
):

A ginástica é especialização precoce [...]. Eu acho um absurdo, mas é a regra: com nove, dez anos, já existe o campeonato brasileiro. Se você for ver o que as meninas fazem com nove anos! É impressionante! Como uma criança com nove tem que ter manejo de corda que é coisa de duas mãos? No infantil, às vezes, já tem que pegar a maça também. Então, a ginástica é muito cruel, a gente não sabe nem cuidar do corpo e já tem que cuidar do aparelho (T3).

Segundo o depoimento, as exigências dos regulamentos dos Campeonatos Brasileiros induzem à especialização precoce das ginastas, que para competirem de acordo com as regras, devem desempenhar movimentos que seriam demasiadamente complexos para a sua idade.

A idade de participação em competições é tema que gera críticas e debates na área (LLOBET, 1996LLOBET, Anna Canalda. Gimnasia ritmica deportiva: teoría y prática. 3. ed. Barcelona: Editorial Paidotribo, 1996.; ANTUALPA, 2011ANTUALPA, Kizzy Fernandes Centros de treinamento de ginástica rítmica no Brasil: estrutura e programas. Campinas: Universidade de Campinas, 2011.; FURTADO, 2020FURTADO, Lorena Nabanete dos Reis. Formação esportiva em longo prazo: análise de competições de ginástica rítmica nas categorias de base. 2020. Tese (Doutorado em Estudos Socioculturais e Comportamentais da Educação Física e Esporte) - Escola de Educação Física e Esporte, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2020.). A GR competitiva apresenta suas próprias características e as críticas não se dirigem à exigência do alto rendimento para ginastas adultas, mas quando estas mesmas exigências são impostas às crianças (FURTADO, 2020FURTADO, Lorena Nabanete dos Reis. Formação esportiva em longo prazo: análise de competições de ginástica rítmica nas categorias de base. 2020. Tese (Doutorado em Estudos Socioculturais e Comportamentais da Educação Física e Esporte) - Escola de Educação Física e Esporte, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2020.).

Nessa perspectiva, caso as crianças ingressem no esporte em tenra idade, com foco no desenvolvimento esportivo geral, e não em resultados competitivos, haveria contribuição muito positiva para capacidades e habilidades, que seriam aproveitadas em fases posteriores (FEELEY; AGEL; LAPRADE, 2016FEELEY, Brian T.; AGEL, Julie; LAPRADE, Robert F. When is it too early for single sport specialization? American Journal of Sports Medicine, v. 44, n. 1, p. 234-241, 2016. DOI: http://dx.doi.org/10.1177/0363546515576899
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).

Todavia, caso o ingresso das crianças na prática esportiva seja precoce e especializado, a variedade de experiências e o caráter formativo do esporte serão prejudicados. Ainda, o treinamento não seria orientado para a formação integral e em longo prazo da ginasta, mas pelas demandas competitivas.

3.2 TEMA 2: O POSICIONAMENTO CORPORAL É “REGRA” NA GR

Apesar de a origem da GR estar fortemente relacionada à dança, as regras são as características que mais diferenciam as duas práticas corporais, conforme menciona Monika Queiroz, ex-treinadora da seleção brasileira de GR (DIAS, 2019DIAS, Franciny dos Santos. Ginástica Rítmica Espírito Santo: uma história contada pelos seus precursores. 224 f. 2019. Dissertação (Mestrado em Educação Física)-Curso de Educação Física, Centro de Educação Física e Desportos, UFES, Vitória. Disponível em: https://sappg.ufes.br/tese_drupal//tese_13676_Disserta%E7%E3o%20VERS%C3O%20FINAL%20-%20Franciny%20dos%20Santos%20Dias.pdf. Acesso em: 7 nov. 2022.
https://sappg.ufes.br/tese_drupal//tese_...
). As regras da GR são representadas pelo código de pontuação (CP), o qual exerce influência desde a organização e estruturação das competições até o conteúdo ensinado às ginastas. Por exemplo, a execução e a técnica relacionadas ao posicionamento corporal das ginastas, que foram definidas como conteúdo essencial na iniciação esportiva e consideradas regras na GR:

Elas precisam aprender as regras da ginástica, o posicionamento correto do corpo. Então, é o que eu mais trabalho. Não pode começar sem estar com o braço aberto na lateral, sem estar no élevé. É uma regra. Se você não está lá para começar o chassé, você não vai começar. [...] Eu zelo por essa postura porque se não aprendeu a limpeza do movimento ali, se ela não tem desde pequenininha aquela coisinha: olha o pescocinho delas, todas na postura... É primordial (T3).

Ao analisar os critérios de execução do CP da GR, desequilíbrios, falta de amplitude e desalinhamento corporal durante a realização dos movimentos são considerados falhas de execução (FIG, 2021FIG - FEDERATION INTERNATIONALE DE GYMNASTIQUE. 2022 - 2024 Code of Points: Rhythmic Gymnastics, 2021. Disponível em: https://assets.website-files.com/5e73d529f9b6d113bff58116/6189dd990d7d8fce24fcb68d_en_RG%20CoP%202022-2024.pdf. Acesso em: 7 nov. 2022.
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).

Assim, a partir do discurso de T3, fica evidente que as exigências de execução refletem tanto no posicionamento corporal esperado na iniciação esportiva como na “limpeza” e postura impostas para os movimentos.

Os regulamentos competitivos seguem as diretrizes do CP. Portanto, ao cometerem falhas de execução na competição, as ginastas são penalizadas. Diante disso, o posicionamento corporal das atletas é desenvolvido com objetivo de diminuir as falhas de execução, conforme relata T2:

Execução, qualidade, postura, eu não quero pular etapas, sabe? Isso que eu prezo muito. E é já o que o regulamento pede [...]. Na base, o que eu priorizo: encaixe, movimentos corretos, realmente sair da base com qualidade (T2).

A “qualidade” mencionada pela treinadora refere-se ao domínio técnico na GR que, em geral, é adquirido por meio da repetição exaustiva e correções detalhadas (BOAVENTURA, 2016BOAVENTURA, Patricia Luiza Bremer. Técnica, estética, educação: os usos do corpo na ginástica rítmica. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2016.). Segundo Dantas (2014)DANTAS, Estélio. A prática da preparação física. São Paulo: Roca, 2014., a perfeição que se busca na GR é associada a quanto mais vezes o movimento é repetido.

Nesse sentido, a qualidade da execução dos movimentos aumentaria, uma vez que as rotinas de competição não são variáveis e as ginastas apresentam o que desenvolveram nos treinos (TIBEAU, 1988TIBEAU, Cynthia Cleusa Paqua Mayer. Ensino de ginástica rítmica desportiva pelo método global: Viabilidade e Eficácia. Uberlândia: Universidade Federal de Uberlândia, 1988.; BOAVENTURA, 2016BOAVENTURA, Patricia Luiza Bremer. Técnica, estética, educação: os usos do corpo na ginástica rítmica. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2016.). Essas características demonstram que os detalhes são tão importantes na GR que é preciso treiná-los diariamente, não sendo possível realizá-los apenas na competição (BOAVENTURA, 2016BOAVENTURA, Patricia Luiza Bremer. Técnica, estética, educação: os usos do corpo na ginástica rítmica. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2016.).

Todavia, qual seria a implicação do excesso de repetições para ginastas tão jovens? A literatura não recomenda o excesso de habilidades repetitivas e as altas demandas do treinamento nessa etapa, visto que podem levar às lesões por estresse e ao overtraining (GCG, 2008GCG - GYMNASTICS CANADA GYMNASTIQUE. Long term athlete development. Sport Canada, 2008. Disponível em: https://www.gymcan.org/uploads/gcg_ltad_en.pdf. Acesso em: 7 nov. 2022.
https://www.gymcan.org/uploads/gcg_ltad_...
, RUSSELL, 2021RUSSELL, Keith. Can contemporary educational theories change how we coach gymnastics? CONGRESSO NACIONAL DE GINÁSTICA, 8. 2021. Tema 1. Anais... Porto: Federação de Ginástica de Portugal, 2021.).

Além disso, ainda que as crianças sejam talentosas no esporte, é importante considerar que o treinamento unidirecional e intenso pode prejudicar sua saúde e comprometer seu envolvimento em longo prazo (NUNOMURA; CARRARA; TSUKAMOTO, 2010NUNOMURA, Myrian; CARRARA, Paulo Daniel Sabino; TSUKAMOTO, Mariana Harumi Cruz. Ginástica artística e especialização precoce: cedo demais para especializar, tarde demais para ser campeão! Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, v. 24, n. 3, p. 305-314, 2010. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/s1807-55092010000300001
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). Por essa razão, na iniciação esportiva, destacamos que é mais importante que as crianças aprendam e desenvolvam capacidades físicas, habilidades motoras e competências psicológicas, em vez de treinarem exclusivamente para competir (GCG, 2008GCG - GYMNASTICS CANADA GYMNASTIQUE. Long term athlete development. Sport Canada, 2008. Disponível em: https://www.gymcan.org/uploads/gcg_ltad_en.pdf. Acesso em: 7 nov. 2022.
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).

Apesar de tratar-se de um processo inerente ao esporte e de ser “impossível se pensar em ensinar esporte, desvinculado o fato de se aprender a competir” (MONTAGNER & SCAGLIA, 2013MONTAGNER, Paulo Cesar; SCAGLIA, Alcides José. Pedagogia da competição: teoria e proposta de sistematização nas escolas de esportes. In: REVERDITO, Riller Silva; SCAGLIA, Alcides José; MONTAGNER, Paulo Cesar. Pedagogia do esporte: aspectos conceituais da competição e estudos aplicados. São Paulo: Phorte, 2013., p.194), a competição necessita ser organizada e abordada de maneira adequada na iniciação esportiva (OLIVEIRA, et al., 2017OLIVEIRA, Laura de et al. Motivação para o início da prática de ginástica rítmica. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, v. 31, n. 10, p. 63-72, 2017.).

Quando pautada com base nas motivações, necessidades e interesses dos praticantes, a competição pode ser muito bem-vinda para o processo de desenvolvimento das crianças, é um ambiente de aprendizagem rico, com potencial para fortalecer o desenvolvimento social, pessoal, moral e ético dos envolvidos para além do esporte (BARREIROS; CÔTÉ; FONSECA, 2013BARREIROS, André; CÔTÉ, Jean; FONSECA, António Manuel. Sobre o desenvolvimento do talento no desporto: um contributo dos modelos teóricos do desenvolvimento desportivo. Revista de Psicologia del Deporte, v. 22, n. 2, p. 489-494, 2013.; FONTANA et al., 2013FONTANA, Patrícia Silveira et al. Estudo das motivações à prática da ginástica rítmica: contribuições da pesquisa para o rendimento desportivo. Pensar a Prática, v. 16, n. 2, 2013. DOI: https://doi.org/10.5216/rpp.v16i2.16873
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).

Nessa perspectiva, a atribuição do valor educativo e formativo da participação em competições dependeria da maneira como os(as) atletas são conduzidos(as) e das experiências vivenciadas nesse contexto (NISTA-PÍCCOLO; NUNOMURA, 2014NISTA-PICCOLO, Vilma Leni; NUNOMURA, Myrian. Os jogos olímpicos na perspectiva da pedagogia do esporte no Brasil. In: MOREIRA W. Wey; BENTO Jorge (org.). Citius, Altius, Fortius: Brasil, esportes e jogos olímpicos sportivus. Belo Horizonte: Casa da Educação Física, p. 171-208, 2014.).

3.3 TEMA 3: DIFICULDADES CORPORAIS: TREINAR PARA APRENDER OU TREINAR PARA COMPETIR?

As dificuldades corporais (DC) foram consideradas fundamentais na iniciação esportiva. Além de conteúdo característico da GR, as DC se dividem de acordo com sua pontuação e grupo, composto por equilíbrios, saltos e rotações:

Eu acho que elas tinham que conseguir aprender a girar num eixo, elas precisam aprender a base de cada coisa, os de valor 0.10, os 0.20, os 0.30 do código de pontuações, os primeiros quadradinhos da tabela, todos os elementos básicos da GR (T5).

Identificamos que o CP orienta a escolha das DC ensinadas na iniciação esportiva, que para T5, seriam aquelas de menor valor. Acreditamos que para selecionar as DC a serem treinadas pelas ginastas, devemos respeitar suas características, como idade e nível de condicionamento físico. Ainda, antes de buscar maior pontuação das DC, é primordial prezar pela qualidade do desempenho e saúde das ginastas (GCG, 2008GCG - GYMNASTICS CANADA GYMNASTIQUE. Long term athlete development. Sport Canada, 2008. Disponível em: https://www.gymcan.org/uploads/gcg_ltad_en.pdf. Acesso em: 7 nov. 2022.
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).

Observamos que as DC ensinadas na iniciação esportiva também recebem influência dos regulamentos competitivos. As categorias de base dos Campeonatos Brasileiros exigem DC obrigatórias e que precisam ser ensinadas na iniciação esportiva, a fim de atender às demandas do regulamento:

O principal objetivo é que elas aprendam as BD [dificuldades corporais] do nível delas [...]. No final do ano, eu deixo elas explorarem mais o código porque três vezes por semana não dá para você trabalhar a competição e tudo mais que a ginástica oferece [...]. Não dá mais tempo de fazer outras coisas, infelizmente, porque você tem uma competição (T3).

Na perspectiva da treinadora, as DC obrigatórias limitam o aprendizado de outras. Nas categorias de base dos Campeonatos Brasileiros, além da quantidade máxima de DC na rotina de competição, há limite de pontos para cada uma delas. Segundo a CBG, essa adaptação demonstra atenção para o trabalho da técnica corporal de base e busca diminuir a possibilidade das ginastas realizarem DC que não condizem com a sua maturidade (FURTADO, 2020FURTADO, Lorena Nabanete dos Reis. Formação esportiva em longo prazo: análise de competições de ginástica rítmica nas categorias de base. 2020. Tese (Doutorado em Estudos Socioculturais e Comportamentais da Educação Física e Esporte) - Escola de Educação Física e Esporte, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2020.):

Eu tinha colocado um mundial [dificuldade corporal de equilíbrio] no primeiro ano de pré e estava quase saindo, sabe? Só que quando a ginasta tirava a mãozinha do chão, a perninha ficava um pouquinho para baixo dos 180° e eu queria deixar. A Maria [codinome para treinadora estrangeira] disse: Não deixe, T5! Ela vai perder a competição por causa desse mundial! E realmente, ela ia perder, entendeu? Então, a gente tem esse imediatismo e acaba podando as meninas. Esse ano ela faz o mundial? Faz. Mas, talvez, ela fizesse com muito mais tranquilidade se ela tivesse treinado aquilo no ano passado. Eu acho que a gente se preocupa muito com a execução perfeita e acaba não deixando as meninas vivenciarem tudo o que podiam de movimentos (T5).

Em condições seguras, DC de valores maiores podem ser aprendidas e treinadas em idades mais jovens, porém não devem ser inseridas nas rotinas de competição (DIAS et al., 2021DIAS, Helena et al. Age group development and competition program for rhythmic gymnastics. Lausanne: Fédération Internationale de Gymnastique, 2021. Disponível em: https://www.gymnastics.sport/site/pages/education/agegroup-rg-manual-e.pdf. Acesso em: 7 nov. 2022.
https://www.gymnastics.sport/site/pages/...
). Além disso, o foco na iniciação esportiva deveria ser menor para os resultados competitivos e maior para o desempenho de habilidades e de rotinas de competição “limpas” e consistentes (GCG, 2008GCG - GYMNASTICS CANADA GYMNASTIQUE. Long term athlete development. Sport Canada, 2008. Disponível em: https://www.gymcan.org/uploads/gcg_ltad_en.pdf. Acesso em: 7 nov. 2022.
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).

Segundo a compreensão da treinadora, identificamos que a existência da competição na iniciação esportiva induziria os(as) treinadores(as) a tentar vencer. Para isso, as ginastas necessitam executar suas rotinas com excelência e conforme as exigências, ainda que etapas sejam avançadas antecipadamente ou que as possibilidades a serem exploradas durante essa fase sejam reduzidas.

Na iniciação esportiva, apesar de as habilidades específicas da GR serem desenvolvidas, as habilidades básicas devem estar bem estabelecidas (GCG, 2008GCG - GYMNASTICS CANADA GYMNASTIQUE. Long term athlete development. Sport Canada, 2008. Disponível em: https://www.gymcan.org/uploads/gcg_ltad_en.pdf. Acesso em: 7 nov. 2022.
https://www.gymcan.org/uploads/gcg_ltad_...
). Assim, o imediatismo dos(as) treinadores(as) e a busca rápida e antecipada por resultados competitivos representam atitudes contrárias às necessidades das crianças (FEELEY; AGEL; LAPRADE, 2016FEELEY, Brian T.; AGEL, Julie; LAPRADE, Robert F. When is it too early for single sport specialization? American Journal of Sports Medicine, v. 44, n. 1, p. 234-241, 2016. DOI: http://dx.doi.org/10.1177/0363546515576899
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). Nesse contexto, ressaltamos que a preocupação pedagógica com o processo de formação esportiva seja fundamental e que, acima da busca pelo pódio, deve-se respeitar as fases de aprendizado da ginasta e desenvolver o conteúdo de acordo com sua idade, maturidade emocional e nível de treinamento (FEELEY; AGEL; LAPRADE, 2016FEELEY, Brian T.; AGEL, Julie; LAPRADE, Robert F. When is it too early for single sport specialization? American Journal of Sports Medicine, v. 44, n. 1, p. 234-241, 2016. DOI: http://dx.doi.org/10.1177/0363546515576899
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):

O grande defeito é muitos técnicos taparem os olhos e passar para frente, para outro elemento de mais dificuldade, sendo que a menina não aprendeu bem aquele primeiro passo. Eu acho que esse é o defeito maior hoje em dia. As pessoas querem rápido subir ao pódio (T1).

3.4 TEMA 4: DE ELEMENTO ACESSÓRIO A ELEMENTO ESSENCIAL: A VALORIZAÇÃO DOS APARELHOS DA GR

A manipulação dos aparelhos foi considerada conteúdo fundamental para a iniciação esportiva:

A parte de manejo é muito importante. Parte básica: como segurar a bola, como você segura a corda, o básico do básico. Cada uma vai ter mais facilidade com algo, mas a prioridade é o grupo fundamental, a característica de cada aparelho [...]. Eu pego muito a base e explico como segura o aparelho, o que não pode, o que penaliza, para elas já terem essa mentalidade desde cedo porque, como eu falei, elas amam o aparelho, mas elas precisam entender como se usa o aparelho (T2).

Por meio do depoimento, observamos grande influência do CP e dos regulamentos competitivos no ensino dos manejos, como em relação aos grupos técnicos fundamentais.

Conforme consta no CP, cada aparelho da GR tem quatro grupos técnicos fundamentais, que incluem os tipos de manejos mais característicos de cada aparelho (FIG, 2021FIG - FEDERATION INTERNATIONALE DE GYMNASTIQUE. 2022 - 2024 Code of Points: Rhythmic Gymnastics, 2021. Disponível em: https://assets.website-files.com/5e73d529f9b6d113bff58116/6189dd990d7d8fce24fcb68d_en_RG%20CoP%202022-2024.pdf. Acesso em: 7 nov. 2022.
https://assets.website-files.com/5e73d52...
). Para cada rotina competitiva, é obrigatório que haja pelo menos um manejo de cada grupo técnico fundamental.

Entretanto, para as categorias de base dos Campeonatos Brasileiros de GR, exige-se mais manejos do grupo fundamental, com o intuito de estimular as ginastas a desenvolverem os manejos desse grupo (CBG, 2019CBG - CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE GINÁSTICA. Regulamento técnico campeonato brasileiro individual - 2019, Ginástica Rítmica, 2019. Disponível em: https://www.cbginastica.com.br/adm/resources/download_arquivo/a6c9978f0a11ff6d5284ab3a2524b74b_5caf304f94810.pdf. Acesso em: 7 nov. 2022.
https://www.cbginastica.com.br/adm/resou...
). Essa adaptação mostra-se interessante, pois além de essenciais na GR, os manejos do grupo técnico fundamental são o alicerce para manejos mais complexos.

A partir da análise, também verificamos que as obrigatoriedades competitivas e do CP induzem que os manejos desenvolvidos na iniciação esportiva estejam de acordo com as regras:

Agora já tem exigência, já tem correção, mesmo dos aparelhos que não vão competir, já não é um trabalho tão solto (T5).

Com base no discurso da entrevistada, atentamos às cobranças exigidas na iniciação esportiva, visto que podem restringir as possibilidades permitidas pelos aparelhos da GR. Dessa maneira, incentivamos que as crianças experimentem e aprendam diferentes tipos de manejos, conforme sugere T6:

Na parte de aparelho, a primeira coisa é criar coisas, ou seja, trazer a criança para o mundo dos aparelhos e não ter muita regra. Ainda mais quem está começando [...]. A gente deixa mais livre essa parte de aparelho. O que elas precisam mesmo é brincar de aparelho, não ficar zoando, mas brincar com o aparelho. Precisamos deixar o aparelho mais íntimo da pessoa (T6).

Ao considerar a importância da variedade de experiências motoras na iniciação esportiva, o oferecimento de oportunidades para que as ginastas pratiquem os aparelhos da GR é excelente para sua coordenação e criatividade, além de auxiliar na familiarização com a manipulação (TIBEAU, 2010TIBEAU, Cynthia Cleusa Paqua Mayer. Estratégias de Ensino na Ginástica Rítmica. In: PAOLIELLO, Elizabeth; TOLEDO, Eliana de (ed.). Possibilidades da Ginástica Rítmica. São Paulo: Phorte, 2010.; PALMER, 2003PALMER, Heather C. Teaching rhythmic gymnastics: a developmentally appropriate approach. Champaign: Human Kinetics, 2003.; CAÇOLA, 2007CAÇOLA, Priscila. A iniciação esportiva na ginástica rítmica. Revista Brasileira de Educação Física, Esporte, Lazer e Dança, v. 2, n. 1, p. 9-15, 2007.; SULISTYOWATI; SUKAMTI, 2018SULISTYOWATI, Endang Murti; SUKAMTI, Endang Rini. Rhythmic Gymnastics of the Early Childhood. In: Advances in Social Science, Education and Humanities Research, v. 278, p. 412-415, 2018. DOI: https://dx.doi.org/10.2991/yishpess-cois-18.2018.104
https://dx.doi.org/10.2991/yishpess-cois...
). A literatura recomenda amplamente a inclusão da manipulação dos aparelhos desde o início da prática de GR, que além de compor a essência da modalidade, motivaria as atletas (CAÇOLA, 2007CAÇOLA, Priscila. A iniciação esportiva na ginástica rítmica. Revista Brasileira de Educação Física, Esporte, Lazer e Dança, v. 2, n. 1, p. 9-15, 2007.; TOLEDO, 2010TOLEDO, Eliana de. Estética e beleza na ginástica rítmica. In: PAOLIELLO, Elizabeth; TOLEDO, Eliana de (ed.). Possibilidades da ginástica rítmica. São Paulo: Phorte, 2010.; OLIVEIRA et al., 2017OLIVEIRA, Laura de et al. Motivação para o início da prática de ginástica rítmica. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, v. 31, n. 10, p. 63-72, 2017.).

Apesar dos benefícios dos aparelhos na iniciação esportiva da GR e das exigências competitivas atuais, não é raro que treinadores(as) enfatizem mais o desenvolvimento corporal na iniciação esportiva do que a manipulação dos aparelhos:

Eu estou tentando melhorar um defeito que é: eu trabalhava pouco aparelho. Para mim, nessa iniciação, o corpinho delas tinha que ser perfeito (T3).

As provas de mãos livres, em que as ginastas competem sem aparelho, podem justificar o “defeito” citado por T3, em focar no desenvolvimento corporal na iniciação esportiva. Nesse sentido, consideramos necessário mencionar que a relação entre a GR e os aparelhos têm se modificado ao longo do tempo, devido às alterações do CP.

Até o 12º ciclo olímpico (2009-2012), havia pouca exploração dos aparelhos e poucas exigências do CP em relação aos manejos (TOLEDO; ANTUALPA, 2016TOLEDO, Eliana de; ANTUALPA, Kizzy. The appreciation of artistic aspects of the Code of Points in rhythmic gymnastics: an analysis of the last three decades. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, v. 30, n. 1, p. 119-131, 2016. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1807-55092016000100119
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). A partir do 13º ciclo olímpico (2013-2016), a ampla exploração dos aparelhos e a busca pela variedade dos manejos nas rotinas competitivas tornaram-se mais expressivas e fundamentais (TOLEDO; ANTUALPA, 2016TOLEDO, Eliana de; ANTUALPA, Kizzy. The appreciation of artistic aspects of the Code of Points in rhythmic gymnastics: an analysis of the last three decades. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, v. 30, n. 1, p. 119-131, 2016. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1807-55092016000100119
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). Segundo T2, essa transição provocou mudanças na iniciação esportiva da GR e o manejo dos aparelhos tornou-se conteúdo indispensável:

Eu sei que era outra era da ginástica, onde só priorizava o corpo [...]. Tanto que a gente vê as coreografias mais antigas e o aparelho era um enfeite [...]. É importante você entender que a prioridade era o corpo e você entender a modalidade atual. Então, eu sei que, atualmente, não é o corpo. É o corpo no sentido de elas terem que saber executar os movimentos, mas agora, o x da questão é juntar corporal e aparelho. Então, muito mais aparelho. A gente sabe que as notas estão vindo do que você faz com o aparelho. O corporal é uma base e o aparelho é prioritário agora (T2).

O discurso de T2 remete à representatividade dos aparelhos na nota final das ginastas nas competições. De fato, os resultados das competições têm mostrado aumento das notas de dificuldades de aparelho na pontuação final, devido à sua valorização no CP e nos regulamentos (LEANDRO, 2018LEANDRO, Catarina. Apparatus difficulty in rhythmic gymnastics routines - comparison between 2 olympic cycles. Science of Gymnastics Journal, v. 10, n. 3, p. 413-419, 2018.).

Nesse sentido, ao analisarmos o desenvolvimento da modalidade nas categorias de base, observamos que, por consequência, essa valorização estimulou maior exploração e diversidade dos manejos na iniciação esportiva. Consideramos tal consequência como positiva para as ginastas, desde que o trabalho desenvolvido não seja puramente técnico.

Nas provas individuais do Campeonato Brasileiro de GR, três rotinas de competição são estabelecidas para a categoria pré-infantil (mãos livres e dois aparelhos diferentes) e quatro para a categoria infantil (mãos livres e três aparelhos diferentes). No Campeonato Brasileiro de Conjuntos, a categoria pré-infantil compete apenas um conjunto de mãos livres, enquanto a categoria infantil compete um conjunto de mãos livres e um conjunto com aparelhos. Segundo T5, independentemente dos aparelhos que competirão, é essencial que as crianças explorem as possibilidades de todos os aparelhos:

No início do ano, o meu pré-infantil pegou tudo, fita, maças, corda… Não só o aparelho do ano porque elas precisam aprender a base de todos os aparelhos (T5).

Na iniciação esportiva, é mais importante ainda que as ginastas aprendam a treinar do que foquem na competição e na busca por resultados (GCG, 2008GCG - GYMNASTICS CANADA GYMNASTIQUE. Long term athlete development. Sport Canada, 2008. Disponível em: https://www.gymcan.org/uploads/gcg_ltad_en.pdf. Acesso em: 7 nov. 2022.
https://www.gymcan.org/uploads/gcg_ltad_...
). Nessa etapa, as crianças estão consolidando suas habilidades básicas para que na próxima etapa da formação esportiva refinem aquelas mais complexas (GCG, 2008GCG - GYMNASTICS CANADA GYMNASTIQUE. Long term athlete development. Sport Canada, 2008. Disponível em: https://www.gymcan.org/uploads/gcg_ltad_en.pdf. Acesso em: 7 nov. 2022.
https://www.gymcan.org/uploads/gcg_ltad_...
).

Assim, aprender e praticar todos os aparelhos da GR facilitaria o aperfeiçoamento dessas habilidades em fases posteriores e estimularia a variabilidade da prática, necessária para melhor adaptabilidade, retenção, transferência e desempenho das habilidades aprendidas (RANGANATHAN; NEWELL, 2013RANGANATHAN, Rajiv; NEWELL, Karl M. Changing up the routine: intervention-induced variability in motor learning. Exercise and Sport Sciences Reviews, v. 41, n. 1, p. 64-70, 2013. DOI: https://dx.doi.org/10.1097/JES.0b013e318259beb5
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).

3.5 TEMA 5: DENTRO DAS REGRAS E FORA DOS TREINOS: O COMPONENTE ARTÍSTICO NA GR

O componente artístico na GR envolve ritmo, dança e expressão corporal (TIBEAU, 2013TIBEAU, Cynthia Cleusa Paqua Mayer. Ginástica Rítmica. Acta Brasileira do Movimento Humano, v. 3, n. 3, p. 47-61, 2013.). Conforme orienta o CP, movimento, aparelho e música precisam estar em harmonia e compor o caráter da rotina competitiva, conhecido como ideia guia (FIG, 2021FIG - FEDERATION INTERNATIONALE DE GYMNASTIQUE. 2022 - 2024 Code of Points: Rhythmic Gymnastics, 2021. Disponível em: https://assets.website-files.com/5e73d529f9b6d113bff58116/6189dd990d7d8fce24fcb68d_en_RG%20CoP%202022-2024.pdf. Acesso em: 7 nov. 2022.
https://assets.website-files.com/5e73d52...
). Assim, a ginasta deve apresentar uma unidade lógica, e não uma justaposição de fragmentos sem conexão (FIG, 2021FIG - FEDERATION INTERNATIONALE DE GYMNASTIQUE. 2022 - 2024 Code of Points: Rhythmic Gymnastics, 2021. Disponível em: https://assets.website-files.com/5e73d529f9b6d113bff58116/6189dd990d7d8fce24fcb68d_en_RG%20CoP%202022-2024.pdf. Acesso em: 7 nov. 2022.
https://assets.website-files.com/5e73d52...
).

Ainda, o CP estabelece que as ginastas apresentem ritmo e expressão corporal; diversifiquem as formações, trajetórias e níveis; e tenham dinamismo e variedade ao explorarem diferentes manejos dos aparelhos, direções, planos, velocidades, intensidades e amplitudes (FIG, 2021FIG - FEDERATION INTERNATIONALE DE GYMNASTIQUE. 2022 - 2024 Code of Points: Rhythmic Gymnastics, 2021. Disponível em: https://assets.website-files.com/5e73d529f9b6d113bff58116/6189dd990d7d8fce24fcb68d_en_RG%20CoP%202022-2024.pdf. Acesso em: 7 nov. 2022.
https://assets.website-files.com/5e73d52...
). A insuficiência ou ausência de qualquer um desses critérios implica em falhas artísticas, que despontuam as ginastas nas competições.

Embora o componente artístico tenha sido mencionado pelas treinadoras, não foi descrito como conteúdo frequente e essencial na iniciação esportiva:

Na iniciação, as montagens de coreografia e o trabalho de expressão corporal acabam reduzindo muito. Muitas vezes, é só uma coreografia de aquecimento (T5).

Na GR, é comum que as ginastas sejam pouco incentivadas a compreender sobre ritmo e estruturas musicais; e a explorarem sua criatividade na composição coreográfica (KLENTROU, 1998KLENTROU, Panagiota. The educational face of rhythmic gymnastics. Journal of Physical Education, Recreation & Dance, v. 69, n. 9, p. 33-36, 1998. DOI: http://dx.doi.org/10.1080/07303084.1998.10605628
http://dx.doi.org/10.1080/07303084.1998....
; VELARDI, 1999VELARDI, Marília. Ginástica rítmica: a necessidade de novos modelos pedagógicos. In: NISTA-PICCOLO, Vilma (ed.). Pedagogia dos esportes. Campinas: Papirus, 1999.; MACIAS, 2011MACIAS, Céres Cemírames de Carvalho. Corpos em cena: o fazer pedagógico na ginástica rítmica. Belém: Universidade Federal do Pará, 2011.; PEREIRA; MEDEIROS, 2016PEREIRA, Hosana Claúdia Matias da Costa; MEDEIROS, Rosie Marie Nascimento de. Ginástica rítmica, um entrelaçamento entre corpo e técnica. Motrivivência, v. 28, n. 48, p. 265-281, 2016. DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-8042.2016v28n48p265
http://dx.doi.org/10.5007/2175-8042.2016...
; ABDULLAH; ASMAWI; SAMSUDIN, 2019ABDULLAH, Moch; ASMAWI; SAMSUDIN. Increasing learning outcomes rhythmic gymnastics activities through active learning approaches. International Journal of Engineering Technologies and Management Research, v. 6, n. 10, p. 65-70, 2019. DOI: http://dx.doi.org/10.29121/ijetmr.v6.i10.2019.581
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).

Ginastas mais jovens podem apresentar dificuldade em coordenar os exercícios e os aparelhos, enquanto se conectam com a música e o componente emocional da sua rotina competitiva (GANTCHEVA; BORYSOVA; KOVALENKO, 2021GANTCHEVA, Giurka; BORYSOVA, Yulia; KOVALENKO, Nina. Evaluation and development of artistic abilities of 7-8-year-old rhythmic gymnasts. Science of Gymnastics Journal, v. 13, n. 1, p. 59-69, 2021.). Assim, sugere-se que se estimulem os componentes artísticos da GR desde as fases iniciais da prática, como buscar a sintonia entre corpo e aparelho; corpo e música; corpo, música e aparelho; e corpo, música, aparelho e GR.

Ainda, sugestões como utilizar músicas no aquecimento e organizar atividades com sequências coreográficas criadas pelas próprias ginastas seriam interessantes (PALMER, 2003PALMER, Heather C. Teaching rhythmic gymnastics: a developmentally appropriate approach. Champaign: Human Kinetics, 2003.; SANTOS; LOURENÇO; GAIO, 2010SANTOS, Eliana D.; LOURENÇO, Márcia Aversani; GAIO, Roberta. Composição coreográfica em ginástica rítmica: do compreender ao fazer. Jundiaí: Fontoura, 2010.; MENEGALDO; BORTOLETO, 2017MENEGALDO, Fernanda Raffi.; BORTOLETO, Marco Antonio Coelho. O ensino da ginástica rítmica: em busca de novas estratégias pedagógicas. Motrivivência, v. 29, n. 52, p. 305-318, 2017. DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-8042.2017v29n52p305
http://dx.doi.org/10.5007/2175-8042.2017...
; GANTCHEVA; BORYSOVA; KOVALENKO, 2021GANTCHEVA, Giurka; BORYSOVA, Yulia; KOVALENKO, Nina. Evaluation and development of artistic abilities of 7-8-year-old rhythmic gymnasts. Science of Gymnastics Journal, v. 13, n. 1, p. 59-69, 2021.).

O componente artístico é um estímulo importante para as crianças, incentiva sua criatividade, desenvolve a consciência corporal e a percepção musical para saber ouvir e sentir a música (GANTCHEVA; BORYSOVA; KOVALENKO, 2021GANTCHEVA, Giurka; BORYSOVA, Yulia; KOVALENKO, Nina. Evaluation and development of artistic abilities of 7-8-year-old rhythmic gymnasts. Science of Gymnastics Journal, v. 13, n. 1, p. 59-69, 2021.). O desenvolvimento do componente artístico contribuiria para que as ginastas se apresentassem mais seguras e esteticamente mais expressivas na competição (ASSIS et al., 2009ASSIS, Marília Del Ponte et al. Expressão corporal e ballet clássico aplicados à ginástica rítmica: importância na composição de base de uma série. Movimento & Percepção, v. 10, n. 15, p. 274-304, 2009.).

Diante disso, evidenciamos que o desenvolvimento do componente artístico deve ir além do treinamento específico da rotina competitiva e estar presente nos demais períodos das aulas (ASSIS et al., 2009ASSIS, Marília Del Ponte et al. Expressão corporal e ballet clássico aplicados à ginástica rítmica: importância na composição de base de uma série. Movimento & Percepção, v. 10, n. 15, p. 274-304, 2009.; GANTCHEVA; BORYSOVA; KOVALENKO, 2021GANTCHEVA, Giurka; BORYSOVA, Yulia; KOVALENKO, Nina. Evaluation and development of artistic abilities of 7-8-year-old rhythmic gymnasts. Science of Gymnastics Journal, v. 13, n. 1, p. 59-69, 2021.).

Dessa maneira, recomendamos a utilização de música no treinamento da GR, que raramente acontece, pois seria inserida apenas nos momentos de construção coreográfica (KLENTROU, 1998KLENTROU, Panagiota. The educational face of rhythmic gymnastics. Journal of Physical Education, Recreation & Dance, v. 69, n. 9, p. 33-36, 1998. DOI: http://dx.doi.org/10.1080/07303084.1998.10605628
http://dx.doi.org/10.1080/07303084.1998....
; OLGA, 2003OLGA, Craijdan. Technology for developing coordination abilities in Rhythmic Gymnastics at the stage of initial athletic training. Stiinta Culturi Fizice, n. 1, p. 141-145, 2003. DOI: http://dx.doi.org/10.16309/j.cnki.issn.1007-1776.2003.03.004
http://dx.doi.org/10.16309/j.cnki.issn.1...
; TIBEAU, 2010TIBEAU, Cynthia Cleusa Paqua Mayer. Estratégias de Ensino na Ginástica Rítmica. In: PAOLIELLO, Elizabeth; TOLEDO, Eliana de (ed.). Possibilidades da Ginástica Rítmica. São Paulo: Phorte, 2010.; OLIVEIRA; PORPINO, 2010OLIVEIRA, Glycia Melo; PORPINO, Karenine de Oliveira. Ginástica rítmica e educação física escolar: perspectivas críticas em discussão. Pensar prática, p. 1-18, 2010.). A música é fundamental na GR devido ao seu papel como ferramenta de interseção entre o movimento e o aparelho, além de estimular a imaginação, a livre interpretação e a expressão corporal (KLENTROU, 1998KLENTROU, Panagiota. The educational face of rhythmic gymnastics. Journal of Physical Education, Recreation & Dance, v. 69, n. 9, p. 33-36, 1998. DOI: http://dx.doi.org/10.1080/07303084.1998.10605628
http://dx.doi.org/10.1080/07303084.1998....
; OLGA, 2003OLGA, Craijdan. Technology for developing coordination abilities in Rhythmic Gymnastics at the stage of initial athletic training. Stiinta Culturi Fizice, n. 1, p. 141-145, 2003. DOI: http://dx.doi.org/10.16309/j.cnki.issn.1007-1776.2003.03.004
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; TIBEAU, 2010TIBEAU, Cynthia Cleusa Paqua Mayer. Estratégias de Ensino na Ginástica Rítmica. In: PAOLIELLO, Elizabeth; TOLEDO, Eliana de (ed.). Possibilidades da Ginástica Rítmica. São Paulo: Phorte, 2010.; OLIVEIRA; PORPINO, 2010OLIVEIRA, Glycia Melo; PORPINO, Karenine de Oliveira. Ginástica rítmica e educação física escolar: perspectivas críticas em discussão. Pensar prática, p. 1-18, 2010.):

Eu peço para elas pesquisarem, para elas me passarem o estilo de música que elas gostam. E dou esse leque até para ajudar a gente porque, às vezes, não acho música legal. Todo ano ter coisa nova e diferente é difícil, sabe? Mas é muito engraçado porque elas trazem música que elas gostam de ouvir e eu falo: Gente, música boa de ouvir nem sempre é música boa de fazer ginástica e vice-versa (T2).

A orientação dos(as) treinadores(as) é fundamental no processo de composição coreográfica, contudo, é preciso que priorizem a individualidade das crianças (PORPINO, 2004PORPINO, Karenine de Oliveira. Treinamento da ginástica rítmica: reflexões estéticas. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 26, n. 1, p. 121-133, 2004.).

Embora existam obrigatoriedades no CP e nos regulamentos, seria fundamental que os(as) treinadores(as) considerassem a personalidade e o temperamento das ginastas, suas preferências para música, movimentos, collant etc. Tais fatores são estimulados a partir das possibilidades de escolhas, de interpretação e de criação, que devem ser oferecidas pelos(as) treinadores(as) (PORPINO, 2004PORPINO, Karenine de Oliveira. Treinamento da ginástica rítmica: reflexões estéticas. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 26, n. 1, p. 121-133, 2004.).

Nessa perspectiva, ouvir as atletas e oferecer-lhes oportunidades para se expressarem e compartilharem decisões são abordagens que motivariam as ginastas; construiriam melhor comunicação e relacionamento treinador-atleta, criando um ambiente agradável e confortável (NUNOMURA; OKADE; CARRARA, 2012NUNOMURA, Myrian; OKADE, Yoshinori.; CARRARA, Paulo. How much artistic gymnastics coaches know about their gymnasts’ motivation. Science of Gymnastics Journal, v. 4, n. 2, 2012.).

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Consideramos ser possível que a competição na iniciação esportiva contribua para a vida das ginastas de maneira integral, desde que seja organizada em respeito às suas características e seja fundamentada a partir de uma perspectiva pedagógica que as conduza a aprenderem o seu real significado.

Ainda, no cenário analisado, observamos que o sistema competitivo e as exigências do CP e dos regulamentos induzem o desenvolvimento de determinados conteúdos na iniciação esportiva competitiva da GR. Nesse sentido, é necessário que os treinadores utilizem o CP a favor das ginastas, de maneira que consigam identificar e desenvolver estratégica e conscientemente o melhor de cada atleta.

Além disso, identificamos neste estudo que as entrevistadas que valorizam e desenvolvem aspectos lúdicos e a exploração de diferentes aparelhos e movimentos revelam que, mesmo no ambiente competitivo da iniciação esportiva, é possível encontrar equilíbrio entre as necessidades das crianças e as demandas da GR. Ainda, a partir dessas abordagens, identificamos que é possível subir ao pódio, embora este não seja o objetivo principal da participação esportiva.

Equilibrar esses fatores pode ser um dos maiores desafios para os(as) treinadores(as). Contudo, buscar melhores práticas e meios para aprimorar o conteúdo, o ensino e os treinos são ações necessárias para otimizar o aprendizado das ginastas e proporcionar-lhes experiências positivas com o esporte desde a infância.

Em relação à utilização dos aparelhos, além dos benefícios para o desenvolvimento das crianças na GR, atualmente, as demandas da modalidade valorizam a criatividade e a variedade dos manejos nas competições. Assim, o trabalho com aparelhos, principalmente, de forma exploratória é estímulo excelente para as ginastas e não deve ser negligenciado na iniciação esportiva.

Quanto ao componente artístico, consideramos essencial às demandas da GR na iniciação esportiva. Ainda, para o desenvolvimento desse conteúdo nessa fase, é imprescindível considerar a idade da criança, seu nível técnico, suas qualidades artísticas e as normas éticas.

Ainda que sigam as regras, os(as) treinadores(as) podem ser criativos e inovadores nas composições coreográficas, valorizar a individualidade das atletas e permitir que participem da construção de suas rotinas de competição. Afinal, a ginasta é quem competirá, então, suas escolhas e opiniões devem ser consideradas. Possivelmente, a criança se sentirá mais confortável, confiante e feliz caso tenha participado das decisões relacionadas à sua rotina competitiva.

Seja na escolha ou aplicação do conteúdo, as etapas e características da ginasta devem ser respeitadas; e é preciso prezar pela sua saúde e formação em longo prazo. Nessa fase, quanto mais experiências os(as) treinadores(as) proporcionarem às atletas, melhor. Portanto, acima do imediatismo de formar jovens campeãs, os(as) treinadores(as) necessitam ter visão de futuro, pois as ginastas são crianças e teriam vários anos para se desenvolverem na GR.

Nesse contexto, não seria recomendável qualquer conteúdo que direcionasse para a especialização precoce e limitasse as oportunidades que a modalidade pode oferecer na iniciação esportiva. Pode ser que a GR não seja a escolha das crianças para o envolvimento competitivo. Então, a formação menos esporte-específica permitiria seu engajamento em outras modalidades sem prejuízos físico-motores.

  • FINANCIAMENTO
    O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.

ÉTICA DE PESQUISA

A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética de Pesquisa (CEP) da Universidade de São Paulo, Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto. Número na Plataforma Brasil CAAE: 40274620.3.0000.5659.

RESPONSABILIDADE EDITORIAL

Alex Branco Fraga*, Elisandro Schultz Wittizorecki*, Guy Ginciene*, Mauro Myskiw*, Raquel da Silveira*

*Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Escola de Educação Física, Fisioterapia e Dança, Porto Alegre, RS, Brasi

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    03 Fev 2023
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    04 Jun 2022
  • Aceito
    19 Out 2022
  • Publicado
    27 Dez 2022
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