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CONTEÚDOS E SUAS DIMENSÕES NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR NO ENSINO FUNDAMENTAL: UM ESTUDO DE REVISÃO

CONTENIDOS Y SUS DIMENSIONES EN LA EDUCACIÓN FÍSICA ESCOLAR EN LA EDUCACIÓN BÁSICA: UN ESTUDIO DE REVISIÓN

Resumo

O objetivo deste estudo de revisão foi analisar os conteúdos e as dimensões abordadas nas pesquisas sobre a Educação Física no ensino fundamental, publicadas nos principais periódicos brasileiros da área da Educação Física no período de 2010 a 2019. Para tanto, realizou-se uma busca em cada volume e número dos periódicos no respectivo período. Os resultados revelaram a tematização de uma diversidade de conteúdos, tais como esportes, brincadeiras e jogos, lutas, ginásticas, danças, práticas corporais de aventura e temas contemporâneos (saúde, lazer, trabalho). Os estudos demonstraram que os conteúdos esportivos foram predominantes, principalmente aqueles relacionados aos esportes de invasão. Além disso, a maior parte dos estudos analisados enfatizou a dimensão procedimental, seguidos de estudos que abordavam as três dimensões do conteúdo.

Palavras-chave
Conteúdos; Ensino Fundamental; Educação Física.

Resumen

El propósito de este estudio de revisión fue analizar los contenidos y las dimensiones que se abordaron en las investigaciones sobre Educación Física en Enseñanza Básica, publicadas en las principales revistas brasileñas del área de Educación Física en el periodo de 2010 a 2019. Para ello, se realizó una búsqueda en cada volumen y número de las revistas en ese período. Los resultados revelaron la tematización de una diversidad de contenidos, como deportes, juegos, luchas, gimnasias, danzas, prácticas corporales de aventura y temas contemporáneos (salud, ocio, trabajo). Los estudios han demostrado que prevalecen los contenidos deportivos, especialmente los relacionados con los deportes de invasión. Además, la mayoría de los estudios analizados enfatiza la dimensión procedimental y, en segundo lugar, destacan los estudios que abordaron las tres dimensiones del contenido.

Palabras clave:
Contenidos; Enseñanza Básica; Educación Física.

Abstract

The purpose of this review study was to analyze the contents and dimensions covered in research on Physical Education in elementary education, published in the main Brazilian journals in the area of Physical Education in the period ranging from 2010 to 2019. For this, a search was performed in each volume and number of journals in the respective period. The results revealed the thematization of a diversity of contents, such as sports, games, fights, gymnastics, dances, body adventure practices, and contemporary themes (health, leisure, work). Studies have shown that sports content was prevalent, especially those related to invasion sports. In addition, most of the studies analyzed emphasized the procedural dimension, followed by studies that addressed the three dimensions of content.

Keywords:
Contents; Elementary School; Physical Education.

1 INTRODUÇÃO

A Educação Física Escolar tem sido uma temática recorrente nos debates acadêmicos da atualidade, contemplada tanto em estudos de revisão centrados no ensino fundamental (SILVA; SAMPAIO, 2012; TAVARES; WITTIZORECKI; MOLINA NETO, 2018TAVARES, Natacha da Silva; WITTIZORECKI, Elisandro Schultz; MOLINA NETO, Vicente. A Educação Física nos anos finais do ensino fundamental, suas formas e seus lugares no currículo escolar: um estudo de revisão. Movimento, v. 24, n.1, p. 275-290, jan./mar. 2018. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/62986/47810. Acesso em: 30 dez. 2020.
https://seer.ufrgs.br/Movimento/article/...
) ou em outras etapas de ensino (ARAÚJO; ROCHA; BOSSLE, 2017; MATOS et al., 2013MATOS, Juliana Martins Cassani et al. A produção acadêmica sobre conteúdos de ensino na Educação Física Escolar. Movimento, v. 19, n. 2, p. 123-148, abr./jun. 2013. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/34213/25257. Acesso em: 31 dez. 2020.
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), quanto em debates que buscam compreender o seu estado da arte (BETTI; FERRAZ; DANTAS, 2011), trazendo o currículo como temática principal (BOSCATTO; DARIDO, 2017BOSCATTO, Juliano Daniel; DARIDO, Suraya Cristina. Currículo e educação física escolar: análise do estado da arte em periódicos nacionais. Journal of Physical Education, v. 28, e.2855, p. 1-16, fev. 2017.; TAVARES; WITTIZORECKI; MOLINA NETO, 2018TAVARES, Natacha da Silva; WITTIZORECKI, Elisandro Schultz; MOLINA NETO, Vicente. A Educação Física nos anos finais do ensino fundamental, suas formas e seus lugares no currículo escolar: um estudo de revisão. Movimento, v. 24, n.1, p. 275-290, jan./mar. 2018. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/62986/47810. Acesso em: 30 dez. 2020.
https://seer.ufrgs.br/Movimento/article/...
; FREIRE; BARRETO; WIGGERS, 2020). Além de ampliarem os diálogos da área, os estudos ressaltam as tendências que envolvem o contexto da Educação Física Escolar (BRACHT et al., 2011BRACHT, Valter et al. A Educação Física Escolar como tema da produção do conhecimento nos periódicos da área no Brasil (1980-2010): parte I. Movimento, v. 17, n. 2, p. 11-34, abr./jun. 2011. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/19280/13146. Acesso em: 31 dez. 2020.
https://seer.ufrgs.br/Movimento/article/...
, 2012BRACHT, Valter et al. A Educação Física Escolar como tema da produção do conhecimento nos periódicos da área no Brasil (1980-2010): parte II. Movimento, v. 18, n. 2, p. 11-37, abr./jun. 2012. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/30158/19064. Acesso em: 31 dez. 2020.
https://seer.ufrgs.br/Movimento/article/...
; WIGGERS et al., 2015WIGGERS, Ingrid Dittrich et al. Um “raio-x” da produção do conhecimento sobre Educação Física Escolar: Análise de periódicos de 2006 a 2012. Movimento, v. 21, n. 3, p. 831-845, jul./set. 2015. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/50517/35156. Acesso em: 31 dez. 2020.
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) e os conteúdos abordados (SILVA; SAMPAIO, 2012; MATOS et al., 2013MATOS, Juliana Martins Cassani et al. A produção acadêmica sobre conteúdos de ensino na Educação Física Escolar. Movimento, v. 19, n. 2, p. 123-148, abr./jun. 2013. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/34213/25257. Acesso em: 31 dez. 2020.
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; ARAÚJO; ROCHA; BOSSLE, 2017).

As discussões sobre os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) (SILVA; SAMPAIO, 2012; BRACHT et al., 2012BRACHT, Valter et al. A Educação Física Escolar como tema da produção do conhecimento nos periódicos da área no Brasil (1980-2010): parte II. Movimento, v. 18, n. 2, p. 11-37, abr./jun. 2012. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/30158/19064. Acesso em: 31 dez. 2020.
https://seer.ufrgs.br/Movimento/article/...
; ARAÚJO; ROCHA; BOSSLE, 2017; TAVARES; WITTIZORECKI; MOLINA NETO, 2018TAVARES, Natacha da Silva; WITTIZORECKI, Elisandro Schultz; MOLINA NETO, Vicente. A Educação Física nos anos finais do ensino fundamental, suas formas e seus lugares no currículo escolar: um estudo de revisão. Movimento, v. 24, n.1, p. 275-290, jan./mar. 2018. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/62986/47810. Acesso em: 30 dez. 2020.
https://seer.ufrgs.br/Movimento/article/...
; FREIRE; BARRETO; WIGGERS, 2020), que anteriormente orientavam o currículo escolar, e/ou as discussões que compreendiam a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) (BOSCATTO; DARIDO, 2017BOSCATTO, Juliano Daniel; DARIDO, Suraya Cristina. Currículo e educação física escolar: análise do estado da arte em periódicos nacionais. Journal of Physical Education, v. 28, e.2855, p. 1-16, fev. 2017.; FREIRE; BARRETO; WIGGERS, 2020), receberam importante destaque em estudos de revisão. Tais registros fornecem os encaminhamentos necessários para o desenvolvimento do componente curricular de Educação Física no âmbito escolar, bem como evidenciam a relevância dos PCNs no desenvolvimento dos processos de aprendizagem e de ensino, possibilitando aos docentes os conjuntos de conteúdos que dimensionavam a Educação Física, nomeadamente os esportes, os jogos, as lutas, as ginásticas, as atividades rítmicas e expressivas e os conhecimentos sobre o corpo.

No intuito de superar a prática antes limitada ao “saber fazer”, os PCNs buscaram, por meio da ampliação da discussão sobre as dimensões dos conteúdos (conceituais, procedimentais e atitudinais) avançar no “saber ser” e no “saber sobre” (BRASIL, 1997BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Educação Física Séries Iniciais, Brasília: MEC, 1997., 1998BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: MEC, 1998.; DARIDO, 2005DARIDO, Suraya Cristina. Os conteúdos da Educação Física escolar. In: DARIDO, Suraya Cristina; RANGEL, Irene Conceição Andrade (org.). Educação Física na escola: implicações para a prática pedagógica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. p. 64-79.). Portanto, destaca-se que a dimensão conceitual (conceitos, história, regras) abarca o “saber sobre”, a dimensão procedimental (movimentos, fundamentos, técnicas, táticas) compreende o “saber fazer”, e a dimensão atitudinal (respeito, cooperação, solidariedade e outros) contempla o “saber ser” (ZABALA,1998; COLL et al., 2000COLL, Cesar et al. Os conteúdos na reforma. Porto Alegre: Artmed, 2000.; DARIDO, 2005DARIDO, Suraya Cristina. Os conteúdos da Educação Física escolar. In: DARIDO, Suraya Cristina; RANGEL, Irene Conceição Andrade (org.). Educação Física na escola: implicações para a prática pedagógica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. p. 64-79.).

Na busca contínua pela formação integral, promoção da igualdade no sistema educacional e construção de uma sociedade mais justa, democrática e inclusiva, em 2015 foi elaborada a BNCC, sendo atualizada pelas versões de 2016 e 2018. Ao substituir os PCNs, a BNCC compreende um importante documento normativo e flexível que procura estabelecer as aprendizagens essenciais em cada etapa e modalidade de ensino, visando garantir o direito de aprendizagem e desenvolvimento dos educandos (BRASIL, 2018BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular: Educação é a base. Brasília, 2018. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=79601-anexo-texto-bncc-reexportado-pdf-2&category_slug=dezembro-2017-pdf&Itemid=30192. Acesso em: 11 set. 2020.
http://portal.mec.gov.br/index.php?optio...
).

Ao contemplar as brincadeiras, os jogos, os esportes, as ginásticas, as lutas, as danças e as práticas corporais de aventura, a BNCC denomina estes saberes como unidades temáticas, também compreendidas por práticas corporais vistas “[…] como manifestações das possibilidades expressivas dos sujeitos, produzidas por diversos grupos sociais no decorrer da história” (BRASIL, 2018BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular: Educação é a base. Brasília, 2018. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=79601-anexo-texto-bncc-reexportado-pdf-2&category_slug=dezembro-2017-pdf&Itemid=30192. Acesso em: 11 set. 2020.
http://portal.mec.gov.br/index.php?optio...
, p. 213). Diferentemente dos PCNs, a BNCC aborda os conteúdos em oito dimensões - experimentação; uso e apropriação; fruição; reflexão sobre a ação; construção de valores; análise; compreensão; e protagonismo comunitário - que em suas essências estão relacionadas aos princípios das dimensões conceitual, procedimental e atitudinal (RUFINO; SOUZA NETO, 2016RUFINO, Luiz Gustavo Bonatto; SOUZA NETO, Samuel. Saberes docentes e formação de professores de educação física: análise da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) na perspectiva da profissionalização do ensino. Motrivivência, v. 28, n. 48, p. 42-60, set. 2016.). Na BNCC, as dimensões do conhecimento experimentação, uso e apropriação e fruição relacionam-se à dimensão procedimental dos conteúdos; enquanto a construção de valores e protagonismo comunitário estão mais interligadas à dimensão atitudinal e, por sua vez, a reflexão sobre a ação, a análise e compreensão fazem alusão à dimensão conceitual (BRASIL, 2018BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular: Educação é a base. Brasília, 2018. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=79601-anexo-texto-bncc-reexportado-pdf-2&category_slug=dezembro-2017-pdf&Itemid=30192. Acesso em: 11 set. 2020.
http://portal.mec.gov.br/index.php?optio...
). Entretanto, salienta-se a necessidade de serem implementadas de forma integrada.

Um aspecto a ressaltar é que nos estudos de revisão mais recentes centrados nos conteúdos abordados nas aulas de Educação Física Escolar (SILVA; SAMPAIO, 2012; MATOS et al., 2013MATOS, Juliana Martins Cassani et al. A produção acadêmica sobre conteúdos de ensino na Educação Física Escolar. Movimento, v. 19, n. 2, p. 123-148, abr./jun. 2013. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/34213/25257. Acesso em: 31 dez. 2020.
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; ARAÚJO; ROCHA; BOSSLE, 2017) não foram observadas análises aprofundadas sobre as dimensões dos conteúdos. Apenas uma revisão abordou os nove anos do ensino fundamental (SILVA; SAMPAIO, 2012); sendo as outras limitadas a curtos recortes temporais (SILVA; SAMPAIO, 2012; MATOS et al., 2013MATOS, Juliana Martins Cassani et al. A produção acadêmica sobre conteúdos de ensino na Educação Física Escolar. Movimento, v. 19, n. 2, p. 123-148, abr./jun. 2013. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/34213/25257. Acesso em: 31 dez. 2020.
https://seer.ufrgs.br/Movimento/article/...
; MALDONADO et al., 2014MALDONADO, Daniel Teixeira et al. As dimensões atitudinais e conceituais dos conteúdos na educação física escolar. Pensar a Prática, v. 17, n. 2, p. 546-559, jan./mar. 2014. Disponível em: https://www.revistas.ufg.br/fef/article/view/23825. Acesso em: 9 mar. 2022.
https://www.revistas.ufg.br/fef/article/...
; BATISTA; MOURA, 2019BATISTA, Cleyton; MOURA, Diego Luz. Princípios metodológicos para o ensino da educação física escolar: o início de um consenso. Journal of Physical Education, v. 30, n.1, p. 1-11, set. 2019.) e ao enfoque nos princípios metodológicos (ARAÚJO; ROCHA; BOSSLE, 2017). Assim, surgiram os seguintes questionamentos: quais conteúdos estão sendo abordados nos estudos de Educação Física Escolar no ensino fundamental? As dimensões conceituais, procedimentais e atitudinais estão sendo exploradas?

Haja vista que o ensino fundamental é a etapa educacional mais longa na formação dos estudantes e a Educação Física deve estar presente na matriz curricular de todos os anos escolares, aponta-se a necessidade de que este período obtenha maior atenção, tanto por parte das escolas, suas equipes pedagógicas e educadores, quanto por parte de pesquisadores que produzem e comunicam ciência. Diante do exposto, o objetivo do estudo de revisão foi analisar os conteúdos e as dimensões abordadas nas pesquisas sobre a Educação Física no ensino fundamental, publicadas nos principais periódicos brasileiros da área da Educação Física no período de 2010 a 2019.

2 MÉTODO

O estudo de revisão, de cunho quanti-qualitativo e exploratório, foi realizado a partir da utilização dos procedimentos de revisão sistemática para a busca e seleção dos artigos (VAN TULDER et al., 2003VAN TULDER, Maurits et al. Updated method guidelines for systematic reviews in the Cochrane collaboration back review group. Spine, v. 28, n. 12, p. 1290-1299, jun. 2003. Disponível em: https://journals.lww.com/spinejournal/Fulltext/2003/06150/Updated_Method_Guidelines_for_Systematic_Reviews.14.aspx. Acesso em: 31 dez. 2020.
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), bem como do emprego de indicadores bibliométricos, especificamente o número e a distribuição das publicações por ano (SANCHO, 1990SANCHO, Rosa. Indicadores bibliométricos utilizados en la evaluación de la ciencia y la tecnología. Revista Española de Documentación Científica, v. 13, n. 3-4, p. 842-865, set. 1990. Disponível em: http://digital.csic.es/bitstream/10261/23694/1/SAD_DIG_IEDCyT_Sancho_Revista%20Espa%C3%B1ola%20de%20Documentacion%20Cientifica13%284%29.pdf Acesso em: 14 mai. 2015.
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).

A busca ocorreu, inicialmente, por meio do acesso aos sites dos principais periódicos brasileiros, indexados em bases de referência internacional que contemplam artigos com abordagem pedagógica e sociocultural da Educação Física. Os periódicos consultados foram: Movimento, Revista da Educação Física/UEM, Motriz, Revista Brasileira de Educação Física e Esporte (RBEFE), Revista Brasileira de Ciências do Esporte (RBCE), Pensar a Prática, Motrivivência e Revista Brasileira de Ciência e Movimento (RBCM). Para além da credibilidade e reconhecimento dos referidos periódicos, foram adotados como critérios de seleção: ser uma revista brasileira; publicar estudos que tematizem a Educação Física Escolar e possuir extrato igual ou superior a B2 (quadriênio 2013-2016) no sistema WebQualis na área da Educação Física. A escolha também foi baseada nos estudos de revisão conduzidos previamente por Bracht et al. (2011)BRACHT, Valter et al. A Educação Física Escolar como tema da produção do conhecimento nos periódicos da área no Brasil (1980-2010): parte I. Movimento, v. 17, n. 2, p. 11-34, abr./jun. 2011. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/19280/13146. Acesso em: 31 dez. 2020.
https://seer.ufrgs.br/Movimento/article/...
, Wiggers et al. (2015)WIGGERS, Ingrid Dittrich et al. Um “raio-x” da produção do conhecimento sobre Educação Física Escolar: Análise de periódicos de 2006 a 2012. Movimento, v. 21, n. 3, p. 831-845, jul./set. 2015. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/50517/35156. Acesso em: 31 dez. 2020.
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e Freire, Barreto e Wiggers (2020)FREIRE, Juliana de Oliveira; BARRETO, Aldecilene Cerqueira; WIGGERS, Ingrid Dittrich. Currículo e prática pedagógica no cotidiano escolar da educação física: uma revisão em periódicos nacionais. Movimento, v. 26, e. 26019, p. 2-14, jan./dez. 2020. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/93986/56390. Acesso em: 31 dez. 2020.
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. A busca dos artigos foi realizada em cada volume e número dos periódicos selecionados e disponíveis no período de 2010 a 2019.

Na seleção dos artigos, buscou-se identificar um ou mais termos relacionados ao tema no título, no resumo ou nas palavras-chave, nomeadamente: ensino fundamental; Educação Física Escolar; Educação Física; conteúdos (geral e específico: jogos, esportes, lutas, danças, ginásticas, práticas de aventura); dimensões do conteúdo (atitudinal, conceitual e procedimental).

Os seguintes critérios de inclusão foram adotados: 1) estudos empíricos/artigos originais; 2) estudos realizados no ensino fundamental ou no ensino fundamental concomitante com outras etapas de ensino; 3) estudos relacionados ao ensino da Educação Física; 4) artigos disponíveis na íntegra. Como critérios de exclusão adotaram-se: 1) artigos de opinião, resenhas críticas, ensaio e revisão sistemática; 2) contexto pesquisado que não considera a Educação Física como componente curricular; 3) estudos que priorizavam a avaliação, as metodologias e estratégias e não os conteúdos; 4) estudos com ênfase nas formações e ações de capacitação dos professores. O termo “conteúdos” foi adotado para nomear as unidades temáticas referidas pela BNCC. A busca inicial resultou em 141 artigos, os quais foram salvos em computador pessoal e organizados em pastas separadas por periódico para facilitar a identificação.

Os procedimentos de busca e seleção dos artigos foram conduzidos de forma independente por três investigadoras da área pedagógica da Educação Física e, em um segundo momento, houve o cruzamento das informações para assegurar a elegibilidade dos dados. Para análise das discrepâncias decorrentes desse processo, uma reunião foi realizada para obter consenso entre as pesquisadoras (GOMES; CAMINHA, 2014GOMES, Isabelle Sena; CAMINHA, Iraquitan de Oliveira. Guia para estudos de revisão sistemática: uma opção metodológica para as Ciências do Movimento Humano. Movimento, v. 20, n. 1, p. 395-411, jan./mar. 2014. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/41542/28358. Acesso em: 31 dez. 2020.
https://seer.ufrgs.br/Movimento/article/...
), a qual resultou na exclusão de 43 artigos.

Na segunda etapa, procedeu-se à leitura dos artigos na íntegra e nove estudos foram excluídos por não atenderem aos critérios estabelecidos, o que resultou um total de 89 artigos para a análise. As informações foram organizadas em uma planilha do Microsoft Excel. Para a extração das informações contidas em cada estudo selecionado na primeira etapa, foram consideradas as seguintes categorias: ano de publicação, periódico, estado em que foi realizado o estudo, etapa de ensino, tipo de conteúdo investigado (jogos, esportes, lutas, ginástica, dança e práticas corporais de aventura) e dimensões do conteúdo (procedimental, atitudinal, conceitual).

A classificação dos tipos de conteúdos abordados nos estudos foi delineada conforme a BNCC do ensino fundamental (BRASIL, 2018BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular: Educação é a base. Brasília, 2018. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=79601-anexo-texto-bncc-reexportado-pdf-2&category_slug=dezembro-2017-pdf&Itemid=30192. Acesso em: 11 set. 2020.
http://portal.mec.gov.br/index.php?optio...
). Além destas classificações, elaboraram-se duas categorias adicionais, a saber: diversos (para os estudos que enfatizaram mais de dois conteúdos) e temas contemporâneos (compreendidos na BNCC como temas interligados à vida cotidiana, como saúde, lazer, consumo e trabalho). Ainda no processo de categorização, dois artigos que tematizavam as atividades circenses, originalmente contempladas no componente curricular de Artes, segundo a BNCC, foram agrupados aos estudos sobre a ginástica, tendo em vista a similaridade entre os elementos corporais que compõem essas práticas (equilíbrio, acrobacias, saltos). Os estudos que abordavam dois conteúdos concomitantemente, como, por exemplo, esportes e temas contemporâneos ou lutas e esportes, foram categorizados de acordo com cada conteúdo abordado, ou seja, em mais de uma categoria de conteúdo, procedimento igualmente adotado por Betti, Ferraz e Dantas (2011)BETTI, Mauro; FERRAZ, Osvaldo Luiz; DANTAS, Luiz Eduardo Pinto Basto Tourinho. Educação física escolar: estado da arte e direções futuras. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, v. 25, n. spe, p. 105-115, dez. 2011.. Por fim, um estudo que abordava os “esportes de rodas” foi classificado na categoria de práticas corporais de aventura, pois de acordo com a BNCC, o skate, a bike e o patins, modalidades abordadas neste estudo, referem-se a estas práticas.

Relativamente à categorização das dimensões do conteúdo, nos estudos que não apresentavam os termos de forma explícita, buscou-se identificar princípios (conceitos, história, regras, movimentos, fundamentos, técnicas, táticas, respeito, cooperação, solidariedade e outros) que correspondessem às dimensões procedimental, atitudinal, conceitual, mediante a leitura integral dos textos. Entende-se que as dimensões são integradas e não distintas, contudo, em determinados momentos, uma dimensão pode se sobressair em relação às outras (DARIDO, 2005DARIDO, Suraya Cristina. Os conteúdos da Educação Física escolar. In: DARIDO, Suraya Cristina; RANGEL, Irene Conceição Andrade (org.). Educação Física na escola: implicações para a prática pedagógica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. p. 64-79.), o que possibilitou, a partir da leitura minuciosa, categorizar os estudos de acordo com as dimensões mais enfatizadas.

3 RESULTADOS

A consulta realizada aos oito periódicos selecionados resultou em 89 artigos publicados no período de 2010 a 2019, que tematizavam os conteúdos e suas dimensões. A apresentação dos resultados contempla inicialmente as informações sobre o quantitativo de artigos publicados em cada periódico no percurso de tempo investigado, a etapa de ensino e os estados brasileiros com maior produção de estudos nesta área. Na sequência, abordaram-se os conteúdos da Educação Física Escolar de acordo com o ano de publicação e a etapa de ensino, bem como as dimensões do conteúdo em relação ao ano de publicação, a etapa de ensino e aos tipos de conteúdos.

3.1. PRODUÇÃO DOS ESTUDOS E SEUS CONTEXTOS

Na Tabela 1 apresenta-se a quantidade de estudos publicados sobre a temática investigada em cada periódico no período de 2010-2019. Os resultados revelaram que a revista Movimento concentra o maior quantitativo de artigos publicados (23,6%), seguida da Pensar a Prática (18%), Motrivivência (14,6%), RBCM (12,3%), RBCE (11,2%), Revista da Educação Física (9%), RBEFE (7,9%) e Motriz (3,4%). No período de 2015-2019 foram publicados 54 artigos, o que representa um crescimento de 54,2% em relação ao período anterior (2010-2014), com destaque para os anos de 2015 e 2017.

Tabela 1
Número de estudos publicados de acordo com o periódico ao longo dos anos.

Com relação às etapas de ensino, verificou-se que 41,6% dos estudos foram realizados nos anos finais do ensino fundamental, seguido de 21,3% nos anos iniciais. Ressalta-se que 15,7% indicaram o ensino fundamental sem especificar os anos de ensino, 12,4% ocorreram de forma conjunta no ensino fundamental e médio, 5,7% simultaneamente nos anos iniciais e finais, 2,2% na educação infantil e ensino fundamental e apenas 1,1% integrando concomitantemente a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio.

Em relação aos estados brasileiros, São Paulo recebe destaque com a maior quantidade de estudos desenvolvidos (30,3%), seguido do Rio Grande do Sul (14,6%) e do Espírito Santo (8,9%).

3.2. CARACTERIZAÇÃO DOS CONTEÚDOS

A análise da caracterização dos conteúdos abordados (Gráfico 1) possibilitou verificar o predomínio dos conteúdos esportivos, correspondendo a 31,8% dos artigos, dos quais 48,3% enfatizavam os esportes de invasão, 24,1% a categoria diversos, 17,2% os esportes de rede/parede, 10,3% os esportes de marca, 3,4% os esportes de campo e taco e 3,4% os esportes técnico-combinatórios.

Dentre os esportes de invasão, predominaram os estudos sobre basquetebol, handebol, futebol e futsal. O voleibol foi o esporte de rede mais abordado, enquanto o atletismo recebeu destaque nos esportes de marca. Apenas um artigo contemplou os esportes de campo e taco, especificamente as habilidades de rebatidas, e também um artigo abordou o esporte técnico-combinatório, nomeadamente a ginástica artística. De modo geral, os demais conteúdos sugeridos pela BNCC (jogos, dança, lutas, ginástica e práticas corporais de aventura) foram identificados nos artigos, assim como estudos abordando temas contemporâneos.

Gráfico 1
Caracterização dos conteúdos da Educação Física Escolar.

Considerando a distribuição da caracterização dos conteúdos em relação aos anos de publicação (Tabela 2), observou-se que no primeiro quinquênio (2010-2014) houve maior equilíbrio na produção de artigos com ênfase nos diferentes conteúdos, quando comparado ao segundo quinquênio (2015-2019), denotando o acentuado crescimento de estudos acerca dos conteúdos esportivos (162,5%).

Tabela 2
Caracterização dos conteúdos abordados ao longo dos anos.

Com relação à caracterização dos conteúdos, considerando as etapas de ensino, anos iniciais e anos finais, apenas 69 artigos foram contemplados na categorização, por indicarem de forma explícita os anos do ensino fundamental abordados. Ainda nesta etapa, os artigos que abordavam simultaneamente os anos iniciais e finais, bem como aqueles que apresentavam dois conteúdos concomitantemente, foram classificados duas vezes de acordo com cada ano de ensino e conteúdo abordado. Os resultados indicam que as brincadeiras e jogos foram os conteúdos mais abordados nos anos iniciais (26,6%), enquanto o esporte foi o conteúdo mais investigado nos anos finais do ensino fundamental (44,0%). Na sequência, apareceram com maior frequência os esportes para os anos iniciais (23,3%) e artigos que abordam mais de dois conteúdos, intitulados como “diversos”, para os anos finais (20,0%).

3.3. DIMENSÕES DO CONTEÚDO

Na análise das dimensões do conteúdo (Gráfico 2), verificou-se que 38,2% dos estudos analisados enfatizaram a dimensão procedimental e 25,8% as três dimensões dos conteúdos.

Gráfico 2
Identificação das dimensões dos conteúdos.

Os resultados da análise sobre a distribuição das dimensões dos conteúdos no período de 2010-2019 (Tabela 3) revelaram que as dimensões conceituais e atitudinais se mantiveram estáveis ao longo de todo o período investigado.

Além disso, com base no Gráfico 2, destaca-se o aumento exponencial no número de publicações envolvendo as três dimensões do conteúdo a partir de 2015, representando um aumento de 183,3%, sendo o maior pico de publicações identificadas no respectivo ano.

Tabela 3
Identificação das dimensões dos conteúdos abordadas ao longo dos anos.

Relativamente à classificação das dimensões do conteúdo considerando as etapas de ensino, 69 artigos foram contemplados por indicarem de forma explícita os anos do ensino fundamental abordados. Nomeadamente, nesta análise foi possível verificar que a dimensão procedimental foi predominante nos anos iniciais do ensino fundamental (53,3%), seguida pela abordagem integrada das três dimensões (23,3%). Por sua vez, a abordagem das três dimensões integradas foi predominante nos anos finais do ensino fundamental (40,0%), seguida pela dimensão procedimental (32,0%).

Considerando as dimensões em relação aos conteúdos (Gráfico 3), foi possível observar que a dimensão procedimental é a mais enfatizada nos esportes, nas danças, nas ginásticas e na categoria diversos, enquanto a integração das três dimensões predominou nos temas contemporâneos. Além disso, destaca-se que as lutas e práticas corporais de aventura apresentaram uma equidade de artigos que enfatizavam as dimensões do conteúdo analisadas.

Gráfico 3
Identificação das dimensões em cada tipo de conteúdo.

4 DISCUSSÃO

As evidências revelaram que a maioria dos estudos sobre a temática investigada foi publicada na revista Movimento, o que pode estar associado à qualidade do periódico e ao reconhecimento da comunidade acadêmica. Além da sua indexação em bases de referência internacional, a periodicidade quadrimestral nos anos de 2009-2018 e a possibilidade de publicação em quatro idiomas (português, espanhol, inglês e francês) parecem favorecer a alta demanda de submissões.

No que se refere ao contexto investigado, o estado de São Paulo concentrou a maior parte dos estudos selecionados, seguido pelo estado do Rio Grande do Sul, os quais reforçam as regiões Sudeste e Sul como eixos centrais no desenvolvimento de pesquisas no território nacional. De forma similar, Wiggers et al. (2015)WIGGERS, Ingrid Dittrich et al. Um “raio-x” da produção do conhecimento sobre Educação Física Escolar: Análise de periódicos de 2006 a 2012. Movimento, v. 21, n. 3, p. 831-845, jul./set. 2015. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/50517/35156. Acesso em: 31 dez. 2020.
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verificaram em um estudo de revisão, ao analisar os mesmos periódicos da presente pesquisa, o igual destaque das regiões Sudeste e Sul. Circunstância esta apontada na literatura pelo elevado quantitativo de grupos de pesquisas em estudos socioculturais identificados nas respectivas regiões (SCHIMITT; BATAGLION; MAZO, 2020SCHMITT, Beatriz Dittrich; BATAGLION, Giandra Anceski; MAZO, Janice Zarpellon. Estudos socioculturais: um olhar para os grupos de pesquisa do brasil. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, v. 28, n. 2, p. 76-88, 2020.), para além da hegemonia da Região Sudeste em virtude do alto número de instituições de ensino superior cadastradas, representando mais da metade da participação do produto interno bruto do país, e tornando compreensível, de acordo com Oliveira et al. (2015)OLIVEIRA, Priscila Araújo et al. Brazilian pediatric research groups, lines of research, and main areas of activity. Jornal de Pediatria, v. 91, n. 3, p. 299-305, jun. 2015. DOI: https://doi.org/10.1016/j.jped.2014.09.002.
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, a concentração dos grupos de pesquisa nas regiões do país com maior índice socioeconômico.

No que se refere à caracterização, os conteúdos esportivos indicam uma maior frequência no quantitativo de publicações quando comparados aos demais conteúdos, sendo esta tendência reforçada em estudos de revisão recentes (SILVA; SAMPAIO, 2012; MATOS et al., 2013MATOS, Juliana Martins Cassani et al. A produção acadêmica sobre conteúdos de ensino na Educação Física Escolar. Movimento, v. 19, n. 2, p. 123-148, abr./jun. 2013. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/34213/25257. Acesso em: 31 dez. 2020.
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; ARAÚJO; ROCHA; BOSSLE, 2017). Este panorama pode ser justificado pelo foco e escopo na área esportiva de algumas revistas investigadas (RBCE, RBEFE e RBCM), a tradição histórica da Educação Física (DARIDO et al., 2001DARIDO, Suraya Cristina et al. A Educação Física, a formação do cidadão e os Parâmetros Curriculares Nacionais. Revista Paulista de Educação Física, v. 15, n. 1, p. 17-32, jan./jun. 2001. DOI: https://doi.org/10.11606/issn.2594-5904.rpef.2001.139482.
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; DARIDO, 2005DARIDO, Suraya Cristina. Os conteúdos da Educação Física escolar. In: DARIDO, Suraya Cristina; RANGEL, Irene Conceição Andrade (org.). Educação Física na escola: implicações para a prática pedagógica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. p. 64-79.) e a existência de inúmeras modalidades esportivas (DARIDO, 2011DARIDO, Suraya Cristina (org.). Educação Física escolar: compartilhando experiências. São Paulo: Phorte, 2011. p. 464.) que potencializam este cenário.

Ao longo do quinquênio 2015-2019 houve um importante aumento de estudos publicados, principalmente em relação aos conteúdos esportivos. Possivelmente, isto se deve aos dois grandes eventos que ocorreram no país, como a Copa do Mundo FIFA (Fédération Internationale de Football Association), realizada em 2014 e os Jogos Olímpicos realizados em 2016. Araújo, Rocha e Bossle (2017)ARAÚJO, Samuel Nascimento; ROCHA, Leandro Oliveira; BOSSLE, Fabiano. Os conteúdos de ensino da Educação Física escolar: um estudo de revisão nos periódicos nacionais da área 21. Motrivivência, v. 29, n. 51, p. 205-221, jul. 2017. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-8042.2017v29n51p205.
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corroboram, ressaltando a influência dos megaeventos no fomento às produções de pesquisas de caráter esportivo realizadas e publicadas no país. Outro ponto a ser ressaltado foi a elaboração da primeira versão da BNCC disponibilizada em 2015, a qual oportunizou maior destaque aos conteúdos esportivos em detrimento de outros, estabelecendo uma nova organização para este conteúdo em específico (esportes de invasão, de rede/parede, de marca, de campo e taco, de combate, de precisão e técnico combinatórios).

Dentre os conteúdos esportivos, verificou-se que os esportes de invasão foram predominantes, com destaque para o basquetebol, seguido por handebol, futsal e futebol. Acredita-se que a predominância de estudos de basquetebol pode estar relacionada ao quantitativo de pesquisadores na área que têm alguma conexão com a modalidade. Embora não realizada uma análise aprofundada do currículo dos autores, foi possível perceber que grande parte dos pesquisadores havia sido atleta/treinador/praticante de basquetebol.

Embora o futebol conte com espaço e tempo expressivos nas mídias brasileiras quando comparado a outras modalidades esportivas, acredita-se que a ênfase para o basquetebol identificada nos estudos também possa estar relacionada à crescente abertura midiática para essa modalidade. Cenário este que já vinha sendo apontado por autores da área há mais de dez anos (PAES; BALBINO, 2009PAES, Roberto Rodrigues; BALBINO, Hermes Ferreira. A pedagogia do esporte e os jogos coletivos. In: DE ROSE, Dante et al. Esporte e atividade física na infância e adolescência: uma abordagem multidisciplinar. Porto Alegre: Artmed, 2009. p. 73-83.), e que pode ter sido potencializado pela renovação de contratos da TV aberta brasileira para a transmissão de jogos da principal competição de basquetebol internacional, a National Basketball Association (NBA), fato que reforça e auxilia na popularização do esporte.

Segundo a Federação Internacional de Basquetebol - FIBA (2013FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE BASQUETE. Key dates. [Suíça], 2013.), aproximadamente 450 milhões de pessoas praticam a modalidade nos 213 países filiados à Federação. Recentemente, na investigação Ranking dos esportes do Ibope Repucom (2019)IBOPE Repucom. Basquete cresce no Brasil e número de fãs do esporte atinge nível histórico, 2019. Disponível em:http://www.iboperepucom.com/br/noticias/basquete-cresce-no-brasil-e-numero-de-fas-do-esporte-atinge-nivel-historico/. Acesso em: 31 dez. 2020.
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, apontou-se a ascensão do basquetebol em transmissões televisivas, ocupando a terceira posição entre os esportes com mais espaço no contexto televisivo nacional. Além disso, salienta-se que as grandes ligas nacionais e internacionais têm fomentado a popularidade da modalidade, como o Novo Basquete Brasil (NBB), principal competição nacional do país que completou recentemente dez anos; e a NBA, que na temporada 2017-2018 teve a participação de 108 jogadores internacionais de 42 países, com transmissão televisiva dos jogos para mais de 90 países.

Apesar do basquetebol, handebol, futsal e futebol apresentarem maior quantitativo de estudos nos esportes de invasão, há necessidade de ampliar as investigações para contemplar esportes de distintas perspectivas culturais, como, por exemplo o rúgbi, o futebol americano, o hóquei, o lacrosse e o frisbee, que geralmente são pouco presentes ou ausentes no contexto escolar, consequentemente provocando “restrição ao acesso à cultura produzida pela sociedade no período de escolarização quanto à sua vivência após a etapa de formação” (SILVA; SAMPAIO, 2012, p. 116), e na agenda científica, o que impede a renovação, construção e reconstrução de novas percepções, achados, estratégias e ideias para o campo da Educação Física no âmbito escolar. Ademais, reforça-se que tal conteúdo seja abordado e investigado numa perspectiva crítica e reflexiva, visando superar os achados do estudo de revisão de Medeiros et al. (2018)MEDEIROS, Tiago Nunes et al. O esporte no currículo da educação física escolar: um estudo de revisão bibliográfica nos periódicos da Capes. Corpoconsciência, v. 22, n. 2, p. 73-84, mai./ago., 2018. Disponível em: https://periodicoscientificos.ufmt.br/ojs/index.php/corpoconsciencia/article/view/6377. Acesso: 25 abr. 2021.
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sobre esportes na Educação Física Escolar, o qual revelou que este conteúdo tem sido implementado predominantemente associado às ideias de treinamento, rendimento e competitividade.

As práticas corporais de aventura foram encontradas nos estudos, embora em menor quantidade. O interesse dos pesquisadores sobre a temática, considerando o período analisado (2010-2019), se diferenciou da tendência revelada na revisão de Silva e Sampaio (2012)SILVA; Junior Vagner Pereira da; SAMPAIO, Tânia Mara Vieira. Os conteúdos das aulas de educação física do ensino fundamental: o que mostram os estudos? Revista Brasileira de Ciência e Movimento, v. 20, n. 2, p. 106-118, jul. 2012., que contemplou o período de 1997 a 2010, bem como do estudo de Matos et al. (2013)MATOS, Juliana Martins Cassani et al. A produção acadêmica sobre conteúdos de ensino na Educação Física Escolar. Movimento, v. 19, n. 2, p. 123-148, abr./jun. 2013. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/34213/25257. Acesso em: 31 dez. 2020.
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sobre o período de 1981 a 2010, os quais não encontraram estudos abordando as práticas corporais de aventura no contexto escolar. Entretanto, ao se considerar a recente promulgação da BNCC, e compreendendo que as práticas corporais de aventura correspondem a uma das unidades temáticas da Educação Física Escolar, idealiza-se a transformação desse contexto por um cenário em que professores e pesquisadores concedam o devido espaço às práticas corporais de aventura.

As temáticas contemporâneas nas aulas de Educação Física, como saúde, lazer, trabalho e consumo, também foram encontradas nos estudos, porém com quantidade pouco expressiva. Acredita-se que as recomendações fornecidas nos documentos curriculares nacionais para a Educação Básica possam justificar o interesse pela temática. De fato, os PCNs (BRASIL, 1998BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: MEC, 1998.) já apontavam a importância de discutir e refletir sobre temas como ética, pluralidade cultural, meio ambiente e orientação sexual nas etapas de ensino. Contudo, a BNCC (BRASIL, 2018BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular: Educação é a base. Brasília, 2018. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=79601-anexo-texto-bncc-reexportado-pdf-2&category_slug=dezembro-2017-pdf&Itemid=30192. Acesso em: 11 set. 2020.
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) ampliou as possibilidades, abrangendo temas como a educação financeira, os direitos da criança e do adolescente, a educação para o trânsito, a educação das relações étnico-raciais, o ensino da história e da cultura afro-brasileira, africana e indígena, dentre outros.

Um aspecto a ressaltar é que, ainda que esclarecida a importância da reflexão e debate dessas temáticas (práticas de aventura, temas contemporâneos, lutas, danças, ginásticas), as publicações ainda são incipientes, fato este evidenciado em outros estudos de revisão sobre determinados conteúdos, como nas ginásticas (CARBINATTO et al., 2016CARBINATTO, Michele Viviene et al. Produção do conhecimento em ginástica: uma análise a partir dos periódicos brasileiros. Movimento, v. 22, n. 4, p. 1293-1308, out./dez., 2016. Disponível em: https://www.seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/61223/39766. Acesso em: 25 abr. 2021.
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; MOREIRA et al., 2020MOREIRA, Giselly Cristiny et al. Ginástica no contexto escolar: uma revisão sistemática. Corpoconsciência, v. 24, n. 2, p. 29-41, mai./ago., 2020. Disponível em: https://periodicoscientificos.ufmt.br/ojs/index.php/corpoconsciencia/article/view/10298. Acesso: 25 abr. 2021.
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; OLIVEIRA; BARBOSA-RINALDI; PIZANI, 2020OLIVEIRA, Lucas Machado de; BARBOSA-RINALDI, Ieda Parra; PIZANI, Juliana. Produção de conhecimento sobre ginástica na escola: uma análise de artigos, teses e dissertações. Movimento, v. 26, p. e26017, mar. 2020. Disponível em: https://www.seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/95122/56364. Acesso em: 25 abr. 2021.
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), nas lutas (GASPAROTTO; SANTOS, 2013GASPAROTTO, Guilherme da Silva; SANTOS, Sérgio Luiz Carlos. Produção científica nacional sobre o ensino de lutas no ambiente escolar: estado da arte. Conexões, v. 11, n. 4, p. 112-124, out./dez., 2013. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/conexoes/article/view/8637594. Acesso em: 25 abr. 2021.
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; MOURA et al., 2019MOURA, Diego Luz et al. O ensino de lutas na Educação Física escolar: uma revisão sistemática da literatura. Pensar a Prática, v. 22, p.1-11, abr., 2019. Disponível em: https://doi.org/10.5216/rpp.v22.51677. Acesso em: 25 abr. 2021.
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) e nas práticas de aventura (GONÇALVES et al., 2020GONÇALVES, Jayson et al. Atividades de aventura na educação física escolar: uma análise nos periódicos nacionais. Pensar a Prática, v. 23, p. 1-23, 2020.). Assim, dois cenários podem ser sugeridos: aquilo que é realizado nas escolas reflete diretamente na produção científica e consequentemente impacta na tríade ensino, pesquisa e extensão nas universidades; ou talvez as evidências científicas ainda negligenciem as lacunas existentes e pouco comunicam as reais necessidades para aqueles que vivem o cotidiano escolar. Diante disso, Betti, Ferraz e Dantas (2011)BETTI, Mauro; FERRAZ, Osvaldo Luiz; DANTAS, Luiz Eduardo Pinto Basto Tourinho. Educação física escolar: estado da arte e direções futuras. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, v. 25, n. spe, p. 105-115, dez. 2011. apontam a necessidade de desenvolver pesquisas para atender carências didático-pedagógicas de alguns conteúdos, como as lutas, danças e ginásticas. Entende-se que o esporte é um fenômeno social e a Educação Física não compreende apenas este conteúdo, da mesma maneira que ela não se resume única e exclusivamente ao movimento, porque está associada a outras dimensões relacionadas aos valores e aos conceitos.

Com relação aos conteúdos investigados e aos respectivos anos do ensino fundamental, verificou-se que nos anos iniciais houve o predomínio das brincadeiras e jogos, enquanto nos anos finais os conteúdos esportivos. Acredita-se que, ao invés de ocorrer a predominância de determinados conteúdos nos anos iniciais e finais, como temáticas investigativas ou como achados de pesquisa percebidos no contexto escolar, deva ocorrer uma maior abrangência e equilíbrio de conteúdos abordados (MERIDA; MERIDA, 2013MERIDA, Fernanda Vieira; MERIDA, Marcos. Abordagem esportivista. In: SILVA, Sheila Aparecida Pereira dos Santos. Portas abertas para a Educação Física: falando sobre abordagens pedagógicas. São Paulo: Phorte, 2013. p. 37-49.; SILVA et al., 2020SILVA, Jaqueline da et al. Ensino das lutas na Educação Física escolar: um relato de experiência fundamentado no ensino centrado no aprendiz. Revista Prática Docente, v. 5, n. 2, p. 823-842, 2020.) e investigados.

Quanto às dimensões dos conteúdos, destaca-se o predomínio da dimensão procedimental, principalmente no segundo quinquênio do período investigado, nos estudos relacionados aos anos iniciais do ensino fundamental, e nas pesquisas que tematizaram os esportes, as danças, as ginásticas, e a categoria diversos. A dimensão procedimental está associada à trajetória histórica da Educação Física, em que o “saber fazer” garante seu protagonismo em detrimento do “saber ser” e do “saber sobre” (DARIDO et al., 2001DARIDO, Suraya Cristina et al. A Educação Física, a formação do cidadão e os Parâmetros Curriculares Nacionais. Revista Paulista de Educação Física, v. 15, n. 1, p. 17-32, jan./jun. 2001. DOI: https://doi.org/10.11606/issn.2594-5904.rpef.2001.139482.
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; DARIDO, 2005DARIDO, Suraya Cristina. Os conteúdos da Educação Física escolar. In: DARIDO, Suraya Cristina; RANGEL, Irene Conceição Andrade (org.). Educação Física na escola: implicações para a prática pedagógica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. p. 64-79.). De acordo com os documentos educacionais norteadores, a Educação Física no contexto escolar visa à inserção do estudante na esfera da cultura corporal de movimento, o desenvolvimento da cidadania, a construção de valores, o respeito às diferenças, o combate aos preconceitos de qualquer natureza e a compreensão da inserção de conteúdos no contexto sociocultural (BRASIL, 1997BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Educação Física Séries Iniciais, Brasília: MEC, 1997.; 1998BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: MEC, 1998.; 2018BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular: Educação é a base. Brasília, 2018. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=79601-anexo-texto-bncc-reexportado-pdf-2&category_slug=dezembro-2017-pdf&Itemid=30192. Acesso em: 11 set. 2020.
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). Assim, entende-se que a Educação Física almeja ensinamentos e aprendizagens para além do movimento pelo movimento (DARIDO, 2005DARIDO, Suraya Cristina. Os conteúdos da Educação Física escolar. In: DARIDO, Suraya Cristina; RANGEL, Irene Conceição Andrade (org.). Educação Física na escola: implicações para a prática pedagógica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. p. 64-79.; 2011DARIDO, Suraya Cristina (org.). Educação Física escolar: compartilhando experiências. São Paulo: Phorte, 2011. p. 464.; SILVA; SAMPAIO, 2012). Portanto, acredita-se que o cenário investigativo e o escolar necessitam remanejar suas intervenções abrangendo as dimensões do conteúdo de forma equilibrada para que possam contribuir com os reais objetivos da área.

Os resultados possibilitaram ainda identificar que nos anos finais houve destaque na abordagem das três dimensões, relacionadas principalmente aos temas contemporâneos, além do aumento de publicações com foco nas três dimensões do conteúdo, principalmente no ano de 2015. Corroborando isto, estudos de revisão recentes (ARAÚJO; ROCHA; BOSSLE, 2017; BOSCATTO; DARIDO, 2017BOSCATTO, Juliano Daniel; DARIDO, Suraya Cristina. Currículo e educação física escolar: análise do estado da arte em periódicos nacionais. Journal of Physical Education, v. 28, e.2855, p. 1-16, fev. 2017.) apontam uma tendência de investigações na busca por avanços nos pressupostos teórico-metodológicos e propostas inovadoras na tentativa de contribuir com a sistematização dos conteúdos de ensino a fim de superar o “saber-fazer” nas aulas de Educação Física Escolar.

O panorama apresentado nesta revisão pressupõe que as pesquisas não estão sendo direcionadas pelas necessidades e lacunas no âmbito da Educação Física Escolar, tendência já apontada por Bracht et al. (2012)BRACHT, Valter et al. A Educação Física Escolar como tema da produção do conhecimento nos periódicos da área no Brasil (1980-2010): parte II. Movimento, v. 18, n. 2, p. 11-37, abr./jun. 2012. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/30158/19064. Acesso em: 31 dez. 2020.
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ao analisar a temática em periódicos nacionais entre 1980 e 2010. Logo, entende-se que há necessidade de redirecionar o olhar às carências da área, especificamente para os conteúdos e dimensões pouco explorados, a fim de contribuir para com o desenvolvimento e aperfeiçoamento da Educação Física Escolar.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta revisão, por meio dos critérios estabelecidos, foram encontrados artigos tematizando os esportes, as danças, as lutas, as brincadeiras e jogos, os temas contemporâneos, as práticas corporais de aventura e diversos (categoria criada para estudos que abrangiam mais de dois conteúdos). Apesar de todos estes conteúdos integrarem o componente curricular da Educação Física e, sendo esta estruturada e organizada por documentos norteadores da educação brasileira, predominaram os artigos sobre conteúdos esportivos.

Outro ponto a ser destacado foi a presença, ainda que incipiente, de investigações abordando as práticas corporais de aventura, que até então não tinham sido observadas em revisões realizados na área, assim como estudos abordando os temas contemporâneos relacionados à saúde, ao lazer, ao trabalho e ao consumo.

Com relação às dimensões do conteúdo, apesar de a dimensão procedimental ainda ter sido a mais revelada, verificou-se também a presença de artigos que se preocuparam em abordar as três dimensões do conteúdo, buscando superar a trajetória histórica da Educação Física Escolar fundamentada apenas no “saber fazer”.

Com o predomínio dos conteúdos esportivos e da dimensão procedimental, entende-se que há necessidade de ampliar as temáticas investigativas, especialmente para contemplar aqueles conteúdos e dimensões que são pouco presentes ou ausentes na Educação Física Escolar. Não se espera que os conteúdos esportivos sejam esquecidos ou eliminados, mas ampliados para outras perspectivas culturais para minimizar o frequente protagonismo dos esportes tradicionais. A dimensão procedimental também não pode ser anulada ou negligenciada, haja vista que o movimento é fundamental na área da Educação Física. Assim, ao estar aliada às demais dimensões, possa ressignificar a implementação e orientar os objetivos das linhas de pesquisa da Educação Física Escolar.

Esta pesquisa possibilitou ampliar os olhares para um período de tempo com ausência de investigação; permitiu analisar uma etapa de ensino em sua totalidade, mais especificamente, os nove anos do ensino fundamental, e identificou as dimensões ou conjunto de dimensões mais abordadas em cada um dos conteúdos da Educação Física Escolar. Portanto, esta pesquisa adotou, essencialmente, um caráter diagnóstico que poderá contribuir e subsidiar novas pesquisas da área.

Como limitação do estudo aponta-se a incipiente discussão dos achados com as dimensões de conhecimento da BNCC, uma vez que a maioria dos estudos obtidos nesta revisão foram realizados no período anterior a sua promulgação. Além disso, considerando o caráter diagnóstico desta investigação, salienta-se a importância de outras revisões sobre a temática contemplando análises aprofundadas quanto aos resultados aqui revelados.

A realização de novas pesquisas que enfatizem as três dimensões do conteúdo é recomendada, não se limitando aos conteúdos esportivos, mas compreendendo especialmente as danças, as lutas, as ginásticas e as práticas corporais de aventura, que necessitam de ampliação de seus espaços e tempos no campo científico e no contexto escolar. Indica-se que futuras pesquisas busquem analisar outras etapas de ensino, bem como a abordagem das dimensões de conhecimento, relatadas na BNCC, no contexto escolar e também nas produções científicas.

  • FINANCIAMENTO
    O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.
  • ÉTICA DE PESQUISA
    A pesquisa seguiu os protocolos vigentes nas Resoluções 466/12 e 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde do Brasil.

REFERÊNCIAS

  • ARAÚJO, Samuel Nascimento; ROCHA, Leandro Oliveira; BOSSLE, Fabiano. Os conteúdos de ensino da Educação Física escolar: um estudo de revisão nos periódicos nacionais da área 21. Motrivivência, v. 29, n. 51, p. 205-221, jul. 2017. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-8042.2017v29n51p205
    » https://doi.org/10.5007/2175-8042.2017v29n51p205
  • BATISTA, Cleyton; MOURA, Diego Luz. Princípios metodológicos para o ensino da educação física escolar: o início de um consenso. Journal of Physical Education, v. 30, n.1, p. 1-11, set. 2019.
  • BETTI, Mauro; FERRAZ, Osvaldo Luiz; DANTAS, Luiz Eduardo Pinto Basto Tourinho. Educação física escolar: estado da arte e direções futuras. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, v. 25, n. spe, p. 105-115, dez. 2011.
  • BOSCATTO, Juliano Daniel; DARIDO, Suraya Cristina. Currículo e educação física escolar: análise do estado da arte em periódicos nacionais. Journal of Physical Education, v. 28, e.2855, p. 1-16, fev. 2017.
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RESPONSABILIDADE EDITORIAL
Alex Branco Fraga *, Elisandro Schultz Wittizorecki *, Mauro Myskiw *, Raquel da Silveira *
* Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Escola de Educação Física, Fisioterapia e Dança, Porto Alegre, RS, Brasil.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    02 Dez 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    02 Jun 2022
  • Aceito
    17 Ago 2022
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