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O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE UMA TREINADORA BRASILEIRA DE TÊNIS NO ALTO RENDIMENTO

THE PROFESSIONAL DEVELOPMENT OF A BRAZILIAN COACH IN HIGH-PERFORMANCE TENNIS

EL DESARROLLO PROFESIONAL DE UNA ENTRENADORA BRASILEÑA DE TENIS EN EL ALTO RENDIMIENTO

Resumo

O objetivo do estudo foi investigar as experiências que contribuíram para a ascensão de uma treinadora brasileira de tênis no alto rendimento. Para isso, esta pesquisa descritiva de abordagem qualitativa foi orientada por meio de um estudo de caso único. No momento do estudo, Fernanda tinha 30 anos de idade e 12 anos de experiência como treinadora em nível nacional e internacional. Enquanto estratégias para a coleta dos dados, foram utilizados nesta ordem: a Rappaport timeline e a entrevista semiestruturada. A análise desses dados foi conduzida por meio das orientações da análise temática reflexiva. Os resultados versam pelos seguintes temas: (a) Influência, Conexão e Inspiração: Personagens Fundamentais; (b) Perfil Promissor e Acolhimento no Contexto; e (c) Desenvolvimento Enquanto Treinadora: Os Constantes Aprendizados e Questionamentos no Percurso. De modo geral, Fernanda teve uma trajetória orientada por relações de influência com personagens de seu contexto. Os momentos fora de sua zona de conforto contribuíram para a definição de estratégias que visem suprir as necessidades e avançar perante as barreiras identificadas.

Palavras-chave:
Treinadora esportiva; Alta performance; Trajetória profissional; Tênis.

Abstract

This study aimed to identify and analyze the content developed in competitive Rhythmic Gymnastics (RG) sports initiation. We interviewed six coaches who worked in basic categories of medalist clubs in the 2019 Brazilian RG Championships. From the thematic analysis, five themes emerged: (1) Specialize versus Expand: factors that limit and contribute to physical-motor development in RG sports initiation; (2) Body positioning is a “rule” in RG; (3) Body difficulties: training to learn or training to compete?; (4) From an accessory element to an essential element: the valorization of RG's apparatus; (5) Within the rules and outside of training: The artistic component in RG. We suggest that the content must respect gymnasts’ characteristics, their health, long-term training, and their integral development. As they are children, results would not be a priority at this stage, and the content should be established based on the RG’s future vision.

Keywords:
Rhythmic gymnastics; Sports initiation; Youth athletes; Sport pedagogy.

Resumen

El objetivo de este estudio ha sido identificar y analizar el contenido desarrollado en la iniciación deportiva competitiva de la Gimnasia Rítmica (GR). Entrevistamos a seis entrenadoras de las categorías de base de instituciones medallistas en al menos una categoría de los Campeonatos Brasileños de GR 2019. A través del análisis temático emergieron cinco temas: (1) Especializar versus ampliar: Factores que limitan y contribuyen al desarrollo físico-motor en la iniciación deportiva de la GR; (2) Posicionamiento corporal es “regla” en la GR; (3) Dificultades corporales: ¿entrenar para aprender o entrenar para competir?; (4) De elemento accesorio a elemento esencial: la valorización los aparatos de GR; (5) Dentro de las reglas y fuera del entrenamiento: el componente artístico en la GR. Sugerimos que el contenido respete las características, la salud, formación a largo plazo y desarrollo integral de las gimnastas. Al tratarse de niñas, los resultados no serían prioridad en esta etapa y el contenido debería apoyarse en la visión de futuro de la modalidad.

Palabras clave:
Gimnasia rítmica; Iniciación deportiva; Atletas jóvenes; Pedagogía del deporte.

1 INTRODUÇÃO

O esporte exerce papel fundamental na sociedade, sendo capaz de proporcionar grandes transformações em seu contexto e reconhecimento global diante de seus megaeventos internacionais (REIS; VIEIRA; SOUSA-MAST, 2016REIS, Arianne C.; VIEIRA, Marcelo Carvalho; SOUSA-MAST, Fabiana Rodrigues de. "Sport for Development" in developing countries: the case of the Vilas Olímpicas do Rio de Janeiro. Sport Management Review, v. 19, n. 2, p. 107-119, 2016. DOI: https://doi.org/10.1016/j.smr.2015.01.005
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; HALL; WISE, 2019HALL, Gareth; WISE, Nicholas. Introduction: sport and social transformation in Brazil: sport and social transformation. Bulletin of Latin American Research, v. 38, n. 3, p. 265-266, 2019. DOI: https://doi.org/10.1111/blar.12920
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). Entre as três vertentes do esporte (participação, rendimento e educação [BRASIL, 2013BRASIL. Decreto nº 7.984, de 08 de abril de 2013. Regulamenta a Lei nº 9.615, de 24 de março de 1998, que institui normas gerais sobre desporto. Diário Oficial da União. Brasília, DF: Imprensa Nacional, v. 150, n. 67, Seção 1, p. 5-10, 2013.]), destaca-se a influência do esporte de rendimento na sociedade a partir da elevada e constante atenção e repercussão midiática (HALL; WISE, 2019HALL, Gareth; WISE, Nicholas. Introduction: sport and social transformation in Brazil: sport and social transformation. Bulletin of Latin American Research, v. 38, n. 3, p. 265-266, 2019. DOI: https://doi.org/10.1111/blar.12920
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). Caracterizado pela complexidade e busca pela excelência de atletas, a intervenção profissional no esporte de rendimento demanda um conjunto de competências e conhecimentos específicos de treinadores esportivos (MESQUITA, 2013MESQUITA, Isabel. O papel das comunidades de prática na formação da identidade profissional do treinador de desporto. In: NASCIMENTO, Juarez Vieira; RAMOS, Valmor; TAVARES, Fernando (org.). Jogos Desportivos: formação e investigação. Florianópolis: UDESC, 2013. p. 295-318.).

Considerando o importante papel exercido pelos treinadores no sistema esportivo (DORSCH et al., 2022DORSCH, Travis E. et al. Toward an integrated understanding of the youth sport system. Research Quarterly for Exercise and Sport, v. 93, n. 1, p. 105-119, 2022. DOI: https://doi.org/10.1080/02701367.2020.1810847
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), são destinados esforços no âmbito internacional (JONES; WALLACE, 2005JONES, Robyn L; WALLACE, Mike. Another bad day at the training ground: coping with ambiguity in the coaching context. Sport, Education and Society, v. 10, n. 1, p. 119-134, 2005. DOI: https://doi.org/10.1080/1357332052000308792
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; ABRAHAM; COLLINS; MARTINDALE, 2006ABRAHAM, Andy; COLLINS, Dave; MARTINDALE, Russell. The coaching schematic: validation through expert coach consensus. Journal of Sports Sciences, v. 24, n. 6, p. 549-564, 2006. DOI: https://doi.org/10.1080/02640410500189173
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; ICCE, 2013INTERNATIONAL COUNCIL FOR COACHING EXCELLENCE. (ICCE). International Sport Coaching Framework. 2. ed. Champaign: Human Kinetics, 2013.) e no âmbito nacional (RAMOS; BRASIL; GODA, 2012RAMOS, Valmor; BRASIL, Vinicius Zeilmann; GODA, Ciro. A aprendizagem profissional na percepção de treinadores de jovens surfistas. Journal of Physical Education/UEM, v. 23, n. 3, p. 431-442, 2012. DOI: https://doi.org/10.4025/reveducfis.v23i3.15320
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; EGERLAND et al., 2013EGERLAND, Ema Maria et al. Potencialidades e necessidades profissionais na formação de treinadores esportivos. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, v. 21, n. 2, p. 31-38, 2013. Disponível em: https://portalrevistas.ucb.br/index.php/rbcm/article/view/3302. Acesso em: 1 fev. 2023.
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; MILISTETD et al., 2018MILISTETD, Michel et al. Nurturing high-performance sport coaches’ learning and development using a narrative-collaborative coaching approach. LASE Journal of Sport Science, v. 9, n. 1, p. 6-38, 2018. Disponível em: http://journal.lspa.lv/files/2018/1/LASE_Journal_2018_9_1_7-39.pdf. Acesso em: 11 mai. 2022.
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), para contribuir com sua aprendizagem profissional. A respeito da formação de treinadores de tênis no Brasil, lócus deste estudo, sabe-se que ela ocorre pela via universitária ou acadêmica (formação inicial) e por meio de capacitações promovidas por órgãos federativos e por associações (CORTELA et al., 2017CORTELA, Caio Correa et al. Associação entre formação inicial e autopercepção de competência profissional de treinadores de tênis. Journal of Sport Pedagogy and Research, v. 3, n. 2, p. 32-42, 2017. Disponível em: http://www.ipg.pt/scpd/revista.aspx. Acesso em: 15 mai. 2022.
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, 2020CORTELA, Caio Correa et al. Aprendizagem profissional de treinadores de tênis: um ensaio para primeiras aproximações com o contexto nacional de formação. Caderno de Educação Física e Esporte, v. 18, n. 2, p. 107-114, 2020. DOI: https://doi.org/10.36453/2318-5104.2020.v18.n2.p107
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). Entretanto, a possibilidade de vislumbrar aspectos formativos pela perspectiva de uma treinadora na modalidade do tênis de alto rendimento ainda é pouco investigada no Brasil (CORTELA et al., 2013CORTELA, Caio Correa et al. A formação inicial e continuada dos treinadores paranaenses de tênis. Conexões, v. 11, n. 2, p. 60-84, 2013. DOI: https://doi.org/10.20396/conex.v11i2.8637617
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, 2019).

Em níveis de representatividade, as treinadoras são vistas com pouca frequência no comando de atletas ou equipes independentemente do contexto esportivo (READE; RODGERS; NORMAN, 2009READE, Ian; RODGERS, Wendy; NORMAN, Leanne. The under-representation of women in coaching: a comparison of male and female Canadian coaches at low and high levels of coaching. International Journal of Sports Science & Coaching, v. 4, n. 4, p. 505-520, 2009. DOI: https://doi.org/10.1260/174795409790291439
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; FERREIRA et al., 2013FERREIRA, Heidi Jancer et al. A baixa representatividade de mulheres como técnicas esportivas no Brasil. Movimento, v. 19, n. 3, p. 103-124, 2013. DOI: https://doi.org/10.22456/1982-8918.29087
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; FERREIRA; SALLES; MOURÃO, 2015FERREIRA, Heidi Jancer; SALLES, José Geraldo Carmo; MOURÃO, Ludmila. Inserção e permanência de mulheres como treinadoras esportivas no Brasil. Journal of Physical Education/UEM, v. 26, n. 1, 2015. DOI: https://doi.org/10.4025/reveducfis.v26i1.22755
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). Conforme recente levantamento feito pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB), essa representatividade está no máximo em 20% considerando o cenário nacional, diminuindo ainda mais no cenário internacional (COB, 2022COMITÊ OLÍMPICO DO BRASIL. (COB). Modelo de desenvolvimento esportivo do Comitê Olímpico do Brasil. Rio de Janeiro: COB, 2022.). Na modalidade do tênis em particular, internacionalmente apenas 22% dos treinadores de tênis são mulheres e, no Brasil, esse número reduz para 9,5% de representatividade feminina (ITF, 2021INTERNATIONAL TENNIS FEDERATION (ITF). ITF Global Tennis Report 2021: a report on tennis participation and performance worldwide. London: International Tennis Federation: 2021. Disponível em: http://itf.uberflip.com/i/1401406-itf-global-tennis-report-2021/45?.Acesso em: 02 mar. 2022.
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). Por conta disto, a metáfora do "teto de vidro", que define as barreiras consideradas invisíveis para a ascensão em um cargo de liderança no mundo corporativo (BOYD, 2008BOYD, Karen. Glass ceiling. In: SCHAEFER, Richard. (ed.). Encyclopedia of race, ethnicity and society. Thousand Oaks: SAGE, 2008. p. 549-552.), explicou por muitos anos a dificuldade do acesso das mulheres a cargos de liderança também no esporte (BARREIRA, 2022BARREIRA, Júlia. Mulheres em cargos de liderança no esporte: rompendo o teto de vidro ou percorrendo o labirinto? Movimento, v. 27, p. e27080, 2021. DOI: https://doi.org/10.22456/1982-8918.118131
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). Atualmente, a metáfora do "labirinto" tem sido mais apropriada para tal, destacando que as mulheres já atingiram estes cargos (como, por exemplo, as treinadoras), por distintos caminhos profissionais, mas ainda mantendo certos obstáculos (BARREIRA, 2022BARREIRA, Júlia. Mulheres em cargos de liderança no esporte: rompendo o teto de vidro ou percorrendo o labirinto? Movimento, v. 27, p. e27080, 2021. DOI: https://doi.org/10.22456/1982-8918.118131
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; CARLI; EAGLY, 2015CARLI, Linda; EAGLY, Alice. Women face a labyrinth: an examination of metaphors for women leaders. Gender in Management: an International Journal, v. 31, n. 8, p. 514-527, 2015. DOI: https://doi.org/10.1108/GM-02-2015-0007
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). Isso significa que a trajetória dessas mulheres no esporte está associada a um percurso que é, em síntese, dificultado por barreiras ou sustentado por facilitadores (LaVOI; DUTOVE, 2012LaVOI, Nicole M.; DUTOVE, Julia K. Barriers and supports for female coaches: an ecological model. Sports Coaching Review, v. 1, n. 1, p. 17-37, 2012. DOI: https://doi.org/10.1080/21640629.2012.695891
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).

De acordo com o modelo de LaVoi e Dutove (2012)LaVOI, Nicole M.; DUTOVE, Julia K. Barriers and supports for female coaches: an ecological model. Sports Coaching Review, v. 1, n. 1, p. 17-37, 2012. DOI: https://doi.org/10.1080/21640629.2012.695891
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, barreiras e facilitadores da participação feminina em cargos de liderança no esporte estão interligados em dimensões individuais, interpessoais, organizacionais e socioculturais. A dimensão individual compreende as próprias características da pessoa e sua influência no dia a dia, como sua personalidade ou nível de autoeficácia (LaVOI; DUTOVE, 2012LaVOI, Nicole M.; DUTOVE, Julia K. Barriers and supports for female coaches: an ecological model. Sports Coaching Review, v. 1, n. 1, p. 17-37, 2012. DOI: https://doi.org/10.1080/21640629.2012.695891
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). A dimensão interpessoal representa as relações sociais com colegas de trabalho, cônjuges, amigos e familiares nos diversos ambientes que a pessoa participa (LaVOI; DUTOVE, 2012LaVOI, Nicole M.; DUTOVE, Julia K. Barriers and supports for female coaches: an ecological model. Sports Coaching Review, v. 1, n. 1, p. 17-37, 2012. DOI: https://doi.org/10.1080/21640629.2012.695891
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). A dimensão organizacional contempla as barreiras e facilitadores presentes em políticas públicas e oportunidades de emprego, por exemplo (LaVOI; DUTOVE, 2012LaVOI, Nicole M.; DUTOVE, Julia K. Barriers and supports for female coaches: an ecological model. Sports Coaching Review, v. 1, n. 1, p. 17-37, 2012. DOI: https://doi.org/10.1080/21640629.2012.695891
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). Por fim, o nível mais distal à pessoa é a dimensão sociocultural, a qual abrange o sistema de cultura, crenças e normas que influenciam a carreira da pessoa (LaVOI; DUTOVE, 2012LaVOI, Nicole M.; DUTOVE, Julia K. Barriers and supports for female coaches: an ecological model. Sports Coaching Review, v. 1, n. 1, p. 17-37, 2012. DOI: https://doi.org/10.1080/21640629.2012.695891
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). Assim, reconhecer barreiras, como a hegemonia masculina no local de trabalho e baixos salários e facilitadores, como o estímulo a rede de contatos e culturas menos estereotipadas quanto ao gênero, permite uma visão mais ampliada sobre a carreira de mulheres no esporte.

Em razão de tais exposições, é possível compreender que o alinhamento entre aspectos facilitadores se demonstra como um suporte para que treinadoras alcancem maior representatividade no cenário esportivo. Ainda, o reconhecimento de trajetórias femininas de sucesso no esporte poderá clarear ainda mais esses caminhos. Por conta disto, o objetivo deste estudo foi investigar as experiências que contribuíram para a ascensão de uma treinadora brasileira de tênis no alto rendimento. Diante disso, as seguintes questões norteadoras evidenciam as pretensões desta investigação: Quais situações vivenciadas trouxeram aprendizado para a treinadora? Durante essa trajetória que tipos de barreiras e de suporte obteve para o desenvolvimento da sua carreira?

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O estudo caracteriza-se como descritivo de abordagem qualitativa, destinando esforços para a compreensão de fenômenos e construção de significados com base na trajetória de uma treinadora. O projeto ao qual este estudo faz parte foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal de Santa Catarina (Número de parecer: 1.285.811/2015).

Guiados por um paradigma construtivista, por princípios ontológicos relativistas e por uma epistemologia subjetivista, reconhecemos a complexidade, a subjetividade e a pluralidade das visões de mundo dos sujeitos. Isso nos permitiu engajar na construção conjunta do conhecimento com a participante a partir das experiências idiossincráticas nas interações com o mundo, onde nada é, por si só, previamente definido (CRESWELL; POTH, 2014CRESWELL, John W.; POTH, Cheryl N. Qualitative inquiry and research design: choosing among five approaches. Thousand Oaks: SAGE Publications, 2014. v. 4.; LINCOLN; LYNHAM; GUBA, 2018LINCOLN, Yvonna S; LYNHAM, Susan A; GUBA, Egon G. Paradigmatic controversies, contradictions, and emerging confluences. In: DENZIN, Norman K; LINCOLN, Yvonna S. The SAGE Handbook of Qualitative Research. Thousand Oaks: Sage, 2018. p. 108-150.). Considerando o interesse em apresentar a trajetória de experiências de uma treinadora de tênis no contexto de rendimento, optamos por uma abordagem de estudo de caso único, a fim de investigar fenômenos e aspectos particulares da participante em seu contexto real de envolvimento (YIN, 2018YIN, Robert K. Case study research and applications: design and methods. 6th. ed. New York: SAGE Publications, 2018.).

2.1 O CASO

A seleção intencional do caso (PATTON, 2014PATTON, Michael Quinn. Qualitative research & evaluation methods: integrating theory and practice. Thousand Oaks: SAGE, 2014.) ocorreu em virtude de uma trajetória profissional com rápida ascensão enquanto treinadora de tênis no contexto de alto rendimento. No momento do estudo, Fernanda Barbosa Ferreira tinha 30 anos de idade e 12 anos de experiência como treinadora. Eu sua infância, Fernanda iniciou a prática do tênis com seis anos de idade e, aos dez, já era atleta do clube em que atualmente é treinadora, o qual é referência nacional no desenvolvimento de atletas. Fernanda atuou como atleta até os 18 anos, disputando diversos torneios regionais, nacionais e internacionais. Ainda com 18 anos, Fernanda ingressou no curso de graduação em Educação Física e, ao mesmo tempo, foi convidada para ser auxiliar técnica em seu clube. Fernanda graduou-se em 2011 e concluiu um curso de pós-graduação lato sensu em tênis de campo em 2014.

Fernanda iniciou sua trajetória como treinadora aos 18 anos de idade nas categorias de base do mesmo clube em que era atleta, atuando com atletas em desenvolvimento e em transição para o contexto competitivo. Após finalizar sua pós-graduação, Fernanda foi convidada para ser treinadora da equipe feminina sub 16 em um campeonato Sul-Americano. Posteriormente, Fernanda foi selecionada para realizar o curso de Nível 3 da Federação Internacional de Tênis (ITF), na Espanha. A partir da formação nesse curso, Fernanda recebeu diversos convites nos anos seguintes para ser treinadora de equipes da Confederação Brasileira de Tênis (CBT) e da Confederação Sul-Americana de Tênis (COSAT) em torneios internacionais. No momento do estudo, Fernanda ocupava o cargo mais alto de treinadora de base da modalidade no seu clube. A figura 2 apresenta, de forma resumida, uma linha do tempo da trajetória de Fernanda com momentos significativos de sua carreira.

Figura 1
Time line do desenvolvimento profissional de Fernanda.

É importante destacar que, devido a sua representatividade e popularidade na comunidade do tênis, seria inviável apresentar detalhadamente a trajetória de Fernanda e garantir seu anonimato. Esse tem sido, inclusive, um debate constante em estudos qualitativos que se aprofundam em um caso específico, levando os autores a entrar em comum acordo com os participantes para apresentar informações pessoais (GOULD et al., 2017GOULD, Dan et al. How coaching philosophy drives coaching action: a case study of renowned wrestling coach J Robinson. International Sport Coaching Journal, v. 4, n. 1, p. 13-37, 2017. DOI: https://doi.org/10.1123/iscj.2016-0052
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; MARTIN; COX, 2016MARTIN, Jack; COX, David. Positioning Steve Nash: a theory-driven, social psychological, and biographical case study of creativity in sport. The Sport Psychologist, v. 30, n. 4, p. 388-398, 2016. DOI: https://doi.org/10.1123/tsp.2016-0002
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). Sendo assim, os autores conversaram com Fernanda e, mediante seu consentimento e assinatura de um termo de cessão de informações pessoais, apresentaram seu nome real. No entanto, as demais pessoas mencionadas ao longo da trajetória de Fernanda tiveram seus nomes substituídos.

2.2 INSTRUMENTOS E PROCEDIMENTOS PARA COLETA DE DADOS

Dois instrumentos foram adotados neste estudo, nomeadamente, a Rappaport timeline (RTL) (LANGLEY; KNIGHT, 1999LANGLEY, David J; KNIGHT, Sharon M. Continuity in sport participation as an adaptive strategy in the aging process: a lifespan narrative. Journal of Aging & Physical Activity, v. 7, n. 1, p. 32-54, 1999. DOI: https://doi.org/10.1123/japa.7.1.32
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) e a entrevista semiestruturada (SPARKES; SMITH, 2014SPARKES, Andrew. C; SMITH, Brett. Qualitative research methods in sport, exercise and health: from process to product. London: Routledge, 2014.). Utilizado anteriormente por pesquisadores para investigar a trajetória de treinadores esportivos (DUARTE; CULVER, 2014DUARTE, Tiago; CULVER, Diane. Becoming a coach in developmental adaptive sailing: a lifelong learning perspective. Journal of Applied Sport Psychology, v. 26, n. 4, p. 441-456, 2014. DOI: https://doi.org/10.1080/10413200.2014.920935
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; CIAMPOLINI et al., 2020CIAMPOLINI, Vitor et al. Lifelong learning pathway of a coach developer operating in a national sport federation. International Journal of Sports Science & Coaching, v. 15, n. 3, p. 428-438, 2020. DOI: https://doi.org/10.1177/1747954120912384
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), o RTL busca identificar elementos importantes na trajetória de uma pessoa (SPARKES; SMITH, 2014SPARKES, Andrew. C; SMITH, Brett. Qualitative research methods in sport, exercise and health: from process to product. London: Routledge, 2014.). Neste estudo, o RTL implicou em solicitar à participante que elaborasse, em uma folha de papel ou em um documento em branco no Microsoft Office Word®, os eventos, as pessoas, os acontecimentos, as transições em sua vida e contextos considerados fundamentais para se tornar uma treinadora. Como instrução de preenchimento, foi solicitado que, a partir de uma linha horizontal indicando ”nascimento” até ”momento atual” em extremidades opostas, fosse identificado o ano em que os fatos ocorreram prospectivamente. Também foi solicitado que a participante narrasse os momentos identificados no RTL em um áudio, enviado posteriormente para a transcrição. O áudio teve duração de 13 minutos e a transcrição resultou em um documento de três páginas.

Com as informações do RTL concluído e do áudio transcrito, elaborou-se um roteiro para a entrevista semiestruturada e agendou-se a entrevista com a treinadora de acordo com sua disponibilidade. A entrevista contou com perguntas que buscaram ampliar as percepções sobre os momentos destacados por Fernanda em sua timeline. Para exemplificar, primeiramente, a treinadora foi instigada a refletir sobre uma percepção geral de sua trajetória de vida no esporte (“você pode falar sobre sua história de vida no esporte e no tênis?”). Esse questionamento inicial contribuiu para a confirmação (ou não) dos fatos demarcados na timeline. Na sequência, a participação de pessoas marcantes nesses contextos também foi um elemento perguntado a Fernanda (“ao longo dessa trajetória teve alguma pessoa ou pessoas que influenciaram você a seguir no tênis?”). Outro exemplo do uso da timeline foi sobre a experiência em competições e o aprofundamento em cursos de desenvolvimento profissional (“que circunstâncias levaram você a se tornar treinadora de tênis e mais especificamente de tenistas de competição?”).

Por meio da plataforma ZOOM®, a entrevista foi realizada em um ambiente virtual reservado, somente com a presença da treinadora e de um facilitador1 1 O facilitador foi um profissional com vasta experiência em condução de pesquisas qualitativas e com considerável experiência enquanto treinador na modalidade do tênis. Além disso, é amigo da treinadora e foi mencionado por ela como parte do seu mainstream (pessoas admiradas e respeitadas por ela). , e armazenadas com áudio e vídeo via recurso do Windows 10®. Finalizada essa etapa, foi utilizado o programa Microsoft Office Word® para a transcrição da entrevista, respeitando sempre o discurso oral de modo a garantir a preservação do conteúdo semântico na fala feita pela treinadora.

2.3 ANÁLISE DOS DADOS

Para a análise, foram empregados os procedimentos da análise temática reflexiva propostos por Braun e Clarke (2019)BRAUN, Virginia; CLARKE, Victoria. Reflecting on reflexive thematic analysis. Qualitative Research in Sport, Exercise and Health, v. 11, n. 4, p. 589-597, 2019. DOI: https://doi.org/10.1080/2159676X.2019.1628806
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. A escolha desse tipo de análise considerou o potencial de identificar, analisar e relatar padrões no corpo de dados, bem como contar uma história detalhada a partir da análise conduzida (BRAUN; CLARKE, 2019BRAUN, Virginia; CLARKE, Victoria. Reflecting on reflexive thematic analysis. Qualitative Research in Sport, Exercise and Health, v. 11, n. 4, p. 589-597, 2019. DOI: https://doi.org/10.1080/2159676X.2019.1628806
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). Além disso, o uso desse método de análise se alinha ao paradigma construtivista que, nesse enfoque, não se ocupa apenas de motivações individuais, mas sim dos contextos e das condições em que as experiências são consideradas. A análise dos dados foi conduzida a partir de uma abordagem indutiva, respeitando os seis estágios da análise temática reflexiva: 1) familiarização; 2) codificação; 3) desenvolvendo temas; 4) revisando temas; 5) nomeando temas; e 6) escrevendo o relatório. Isso significa dizer que o percurso indutivo da análise não foi orientado por nenhum quadro de codificação preexistente (a saber, um marco teórico específico ou relação direta com uma questão específica da entrevista), à medida que o esforço esteve em identificar temas ligados ao conjunto de dados diretamente relacionados a trajetória da treinadora investigada (BRAUN; CLARKE, 2019BRAUN, Virginia; CLARKE, Victoria. Reflecting on reflexive thematic analysis. Qualitative Research in Sport, Exercise and Health, v. 11, n. 4, p. 589-597, 2019. DOI: https://doi.org/10.1080/2159676X.2019.1628806
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). A partir desse processo, a sistematização dos dados resultou nos seguintes temas: (a) Influência, Conexão e Inspiração: Relações com Personagens Fundamentais; (b) Perfil Promissor e Acolhimento no Contexto; e (c) Desenvolvimento Enquanto Treinadora: os Constantes Aprendizados e Questionamentos no Percurso.

2.4 RIGOR METODOLÓGICO

Neste estudo, as orientações de Smith e McGannon (2018)SMITH, Brett; MCGANNON, Kerry R. Developing rigor in qualitative research: problems and opportunities within sport and exercise psychology. International Review of Sport and Exercise Psychology, v. 11, n. 1, p. 101-121, 2018. DOI: https://doi.org/10.1080/1750984X.2017.1317357
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contribuíram para a promoção do rigor metodológico a partir do alinhamento ontológico e epistemológico (mérito da proposta do estudo); do processo analítico e interativo entre os pesquisadores (sem focar na busca por uma verdade única); de evidências com abrangência (adequação dos métodos de coleta de dados, múltiplos dados, coletas em profundidade) e coerência entre as etapas do estudo (conjugação de como o estudo foi desenvolvido em relação a problematização, suporte intelectual, métodos e resultados).

3 RESULTADOS

3.1 INFLUÊNCIA, CONEXÃO E INSPIRAÇÃO: RELAÇÕES COM PERSONAGENS FUNDAMENTAIS

O início da conexão de Fernanda com a área da Educação Física iniciou em sua infância e juventude durante as aulas de Educação Física escolar, particularmente com uma professora: "eu sempre gostava das aulas dela (professora de Educação Física)... então, eu sempre tive uma Educação Física legal e isso sempre me influenciou". Já no ambiente do tênis, Fernanda demonstrou uma profunda relação de admiração, confiança e conexão com seus treinadores, principalmente nos treinos: "Eu sempre queria 'bater bola' com ele (treinador), eu sempre era a primeira a levantar [...], o [nome de outro treinador] dava um treino e eu sempre queria ficar com ele na quadra... eles (treinadores) foram sim, com certeza, muito importantes”.

Em seu último torneio como atleta, Fernanda viajou para uma competição sem seus treinadores. Durante a viagem, ela recebeu um e-mail de sua mãe informando que havia sido aprovada no vestibular para ingressar no curso de graduação em Educação Física, porém Fernanda não estava totalmente decidida se iria, de fato, se ausentar das quadras para estudar: "[...] eu sempre pensei em fazer Educação Física, mas eu ainda tinha um sonho de ser jogadora, eu ainda sonhava". Como Fernanda estava em viagem, ela pediu para que sua mãe procurasse por seus treinadores para que eles ajudassem nessa decisão importante de sua vida: "Mãe, faz o seguinte, marca uma reunião com meus treinadores e veja o que eles falam. E aí, o que eles falarem para fazer, você faz! [...] porque eles podem ter uma opinião, agora eu não tenho, às vezes eles têm alguma ideia e tal".

Ao decidir que cursaria Educação Física, os treinadores de Fernanda continuaram desempenhando um papel importante em sua trajetória. Fernanda mencionou que recebia constantes conselhos de seus treinadores para vincular o aprendizado da sala de aula com a modalidade de tênis, o que foi importante para o desenvolvimento de competências enquanto futura treinadora: "todas as matérias que eu fazia, ritmo, movimento, dança, ginástica, eu tentava colocar no treinamento, levar alguma coisa para o tênis. E foi bem legal!". Ao iniciar sua trajetória como treinadora de tênis e participar dos primeiros cursos oferecidos pela CBT, Fernanda também estabeleceu uma relação de confiança com um gestor da entidade ao se demonstrar interessada, participativa e com vontade de se aprimorar. Em etapas posteriores de sua trajetória, o mesmo gestor foi responsável por convidá-la para participar de importantes campeonatos enquanto treinadora de equipes representativas do Brasil e para participar de um curso de formação na Espanha: "eu vejo que ele (gestor) sempre acreditou em mim [...] eu sempre perguntei para ele sobre esse curso na Espanha, então eu acho que ele tem essa confiança em mim e aí ele me dá toda corda".

Outra personagem importante foi uma amiga treinadora que já havia tido experiências em algumas giras europeias. Assim, antes de participar da sua primeira gira como treinadora, Fernanda procurou por sua amiga para questioná-la sobre como era a rotina do torneio e se tinha algo que ela precisava saber ou fazer.

Antes de ir [para a gira] também, eu tinha mandado uma mensagem para a [nome da amiga]... eu mandei mensagem para ela porque parece que ela já tinha feito várias vezes... perguntei se ela tinha alguma coisa para me passar, qual era a função mesmo e tal [...] aí eu falei: - Você acha que eu entro em contato com os técnicos? E então a [nome da amiga] me contou um pouquinho de como que era e tal.

3.2 PERFIL PROMISSOR E ACOLHIMENTO NO CONTEXTO

Assim que iniciou o curso de graduação em Educação Física, Fernanda recebeu a primeira oportunidade para ser auxiliar técnica em seu clube a partir de um convite de seus treinadores: "eles falaram que também era o interesse deles, que como eu tinha sido atleta, seria importante para o clube". Desde que iniciou a atuar como auxiliar técnica, Fernanda destinou todos seus esforços em prol de efetivamente ser uma treinadora e buscar seu desenvolvimento: "[...] fui parando de pensar nisso (ser atleta) e comecei a já investir como treinadora e ali também na faculdade eu comecei a me evolver mais".

Seu envolvimento intenso com o curso de graduação repercutiu na busca por aperfeiçoamento específico na modalidade do tênis e, consequentemente, por cursos oferecidos pela CBT: "ao longo desse período de graduação, eu também busquei muitos cursos... eu sempre buscava os cursos da CBT, fazer muita coisa ali para já ir me dando uma 'bagagem'". Quando fez o primeiro curso de formação para treinadores oferecido pela CBT, Fernanda teve uma primeira impressão positiva, que a marcou quando os responsáveis ficaram surpresos e interessados em sua vivência, por ela ser a única mulher na ocasião: "[...] é super legal que desde o início eu lembro do meu primeiro curso da CBT, eles (responsáveis) ficaram todos felizes, assim: - Nossa uma mulher... você jogou? Eles ficaram muito felizes, eu lembro dessa cena”.

Assim, Fernanda percebeu uma mudança da própria visão em relação ao contexto, pois no início de sua carreira de treinadora pensava que sofreria algum preconceito pelo fato de ser mulher: "[...] antes eu até falava: - eles têm preconceito porque é uma mulher... eu tinha isso quando comecei". Entretanto, logo notou que pela sua familiaridade com o meio e por já ter sido atleta de tênis, esse preconceito não ocorreu da maneira que ela esperava. Quando questionada sobre os motivos de estar sendo convocada para torneios importantes, inclusive para sua primeira participação na gira, Fernanda destaca que o fato de ser mulher e a pouca presença de treinadoras no alto rendimento são pontos essenciais para esses convites - "[...] um ponto chave que eu vejo é por ser mulher também [...]. No Brasil mesmo... com certeza tem muitos professores, mas, envolvido na competição, eu vejo que são poucas (mulheres)".

Outro momento que suportou esse ponto de vista positivo de Fernanda quanto ao contexto foi em uma de suas participações numa gira europeia. Fernanda constatou uma preocupação da ITF em promover a participação de treinadores de ambos os sexos na liderança das equipes competitivas:

Eu vi que a ITF também está dando uma ênfase nisso [...] Lá [na gira europeia] tinha uma equipe da ITF também, era um homem e uma mulher. E agora parece que eles fizeram uma girazinha, uma equipezinha também pra fazer os torneios da América do Sul, a ITF também fez, e também era um homem e uma mulher. Então, acredito que eles têm buscado isso sim (promover a participação de treinadoras no tênis).

Ela ainda argumenta que no relacionamento com as atletas, o contato e proximidade foram facilitados durante as competições pelo fato de ela ser mulher. "Eu vejo que às vezes elas (atletas) tem mais segurança e liberdade de falar comigo [...] Às vezes, elas também não estão em um dia bom, e pra elas é mais fácil falar comigo também. Às vezes elas ficam apreensivas de falar com um homem". Fernanda também indicou ter recebido retornos positivos dos pais de suas atletas antes de viagens internacionais ao descobrirem que suas filhas seriam acompanhadas de uma treinadora mulher: "Eles falaram: - Nossa, fiquei tão feliz quando eu soube que era um mulher indo!". Então, assim, passa também uma segurança pra família".

3.3 DESENVOLVIMENTO ENQUANTO TREINADORA: OS CONSTANTES APRENDIZADOS E QUESTIONAMENTOS NO PERCURSO

Logo no início de sua carreira, Fernanda acompanhou os atletas de seu clube em torneios COSAT ano após ano e, por conta de experiências que ela considera relevantes, sua percepção de competência como treinadora foi fortalecida: "Eu fiz o meu primeiro COSAT como treinadora levando uma parte da equipe e fiz, 2013, 2014, 2015 e 2016. Eu fiz quatro anos seguidos de COSAT ficando quatro semanas, cinco semanas, seis semanas. E foram boas experiências também, muito importantes, onde começou toda esse sentimento de treinadora ficar mais forte". Um dos momentos marcantes destacados por Fernanda em sua trajetória profissional foi o convite que recebeu para participar do curso de Nível 3 da ITF, na Espanha: "Em 2017 eu tive outra experiência muito importante, acredito que foi a mais importante como treinadora... fui convidada para fazer o curso Nível 3 na Espanha!" No entanto, as experiências nesse curso também proporcionaram diversos momentos de questionamento da própria competência enquanto treinadora de tênis, sobretudo nas provas do curso: "- Gente, eu tô no lugar errado, eu não sei nada de tênis. O que eu tô fazendo aqui? Eu vou ser reprovada nesse negócio! Eu ficava desesperada toda prova que eu fazia, toda... e eu estava ali sempre me questionando". Mesmo assim, a experiência no curso parece ter contribuído para o desenvolvimento de Fernanda enquanto treinadora: "foram 45 dias de muita prática, e aí eu acredito que esse foi o marco mais importante [...]. Essa prática que eu sentia falta foi o que mais marcou".

Após a conclusão do curso na Espanha e retorno ao Brasil, Fernanda indicou estar convencida e perceber-se mais confiante quanto às próprias competências enquanto treinadora de tênis: "quando eu voltei, eu me senti mais capacitada e fortalecida como treinadora [...] eu me senti mais confiante mesmo com essa experiência". Essa percepção de competência foi potencializado ao receber as notas finais do curso:

Depois, quando eu recebi também as notas, aí eu me senti ainda mais capacitada! Não era só por questão da nota, mas eu falei: - Nossa, eu realmente sei, eu tô crescendo, eu tô aprendendo e acho que eu tô no caminho certo! Então assim, eu acho que me deu muita confiança, eu hoje me sinto melhor assim, não por ter a titulação do curso, mas por todas essas coisas assim.

No entanto, quando convocada para a primeira gira, em 2018, pelo fato de ser uma experiência nova e que ela considerava de grande importância, Fernanda relatou ter vivenciado preocupações e ansiedade ao ponto de se sentir muito despreparada para enfrentar o desafio que se aproximava:

- Gente, como que é? Você sempre tem essa dúvida do novo [...] eu fiquei muito ansiosa, eu tive dor de barriga. [...] foi a primeira vez em que eu fui pra Europa em competições [...] eu achava que era muito assim... do complexo de vira-lata.

4 DISCUSSÃO

Inicialmente, alguns momentos são considerados por Fernanda como marcantes em sua trajetória, a saber: o longo período de prática esportiva no alto rendimento como atleta; a participação em educação formal; a aquisição de confiança após desafios como treinadora; a participação frequente em torneios importantes como treinadora. De maneira similar, esses parecem ser elementos também encontrados em outros estudos que investigaram a trajetória profissional dos treinadores de alta performance (SÁIZ; CALVO; GODOY, 2009SÁIZ, Sergio Jimenez; CALVO, Alberto Lorenzo; GODOY, Sérgio J. Ibañez. Development of expertise in Spanish elite basketball coaches. RICYDE. Revista Internacional de Ciencias del Deporte, v. 5, n. 17, p. 19-32, 2009. DOI: https://doi.org/10.5232/ricyde2009.01702
https://doi.org/10.5232/ricyde2009.01702...
; KOH; MALLETT; WANG, 2011KOH, Koon Tech; MALLETT, Clifford J; WANG, Chee Keng John. Developmental pathways of Singapore’s high-performance basketball coaches. International Journal of Sport and Exercise Psychology, v. 9, n. 4, p. 338-353, 2011. DOI: https://doi.org/10.1080/1612197X.2011.623466
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; CALLARY; WERTHNER; TRUDEL, 2012CALLARY, Bettina; WERTHNER, Penny; TRUDEL, Pierre. How meaningful episodic experiences influence the process of becoming an experienced coach. Qualitative Research in Sport, Exercise and Health, v. 4, n. 3, p. 420-438, 2012.), determinando algumas experiências que se mostram circunstanciais no processo de desenvolvimento enquanto treinadora.

Paralelamente, experiências como as mencionadas podem ser orientadas pelo que LaVoi e Dutove (2012)LaVOI, Nicole M.; DUTOVE, Julia K. Barriers and supports for female coaches: an ecological model. Sports Coaching Review, v. 1, n. 1, p. 17-37, 2012. DOI: https://doi.org/10.1080/21640629.2012.695891
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identificam como barreiras e facilitadores, através de uma analogia de "labirinto" para a ascensão em uma determinada ocupação profissional. De acordo com as autoras, barreiras e facilitadores se apresentam durante este percurso, demonstrando que ambos estão sempre influenciando uma contínua mudança na vida das treinadoras. Na trajetória de Fernanda, os elementos facilitadores foram demarcados especialmente ao nível individual, seguidos pelos níveis intrapessoal e organizacional. Em relação às barreiras, essas foram mais condizentes ao nível interpessoal, seguidas pelo nível individual e de contexto sociocultural. Além disso, para Fernanda, os elementos facilitadores foram proeminentes em relação às barreiras. Isso significa que, mesmo exposta a barreiras durante sua trajetória, essas parecem não ter sido um impeditivo para ascensão (LaVOI; DUTOVE, 2012LaVOI, Nicole M.; DUTOVE, Julia K. Barriers and supports for female coaches: an ecological model. Sports Coaching Review, v. 1, n. 1, p. 17-37, 2012. DOI: https://doi.org/10.1080/21640629.2012.695891
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).

Ao olharmos para a literatura, o nível individual representa os aspectos mais proximais a Fernanda, como seus valores, emoção, expertise e personalidade (LaVOI; DUTOVE, 2012LaVOI, Nicole M.; DUTOVE, Julia K. Barriers and supports for female coaches: an ecological model. Sports Coaching Review, v. 1, n. 1, p. 17-37, 2012. DOI: https://doi.org/10.1080/21640629.2012.695891
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). Nesse nível, a trajetória de sucesso como atleta foi um importante facilitador, especialmente para que a expertise criada no período (conhecimento e habilidades esportivas) pudesse contribuir para sua atuação posterior como treinadora, algo que se demonstra coerente com o que foi observado anteriormente em outros estudos com treinadoras mulheres (DEMERS, 2009DEMERS, Guylaine. We are coaches”: program tackles the under-representation of female coaches. Canadian Journal for Women in Coaching, v. 9, n. 2, p. 1-9, 2009.). A confiança e a admiração recebida desses momentos enquanto atleta desenvolveram outro facilitador em Fernanda, nomeadamente, a vontade de ser treinadora, movendo-a a buscar constante aperfeiçoamento profissional e, assim, criar suas próprias oportunidades de aprendizagem (habilidades, conhecimentos e experiências) (LaVOI; DUTOVE, 2012LaVOI, Nicole M.; DUTOVE, Julia K. Barriers and supports for female coaches: an ecological model. Sports Coaching Review, v. 1, n. 1, p. 17-37, 2012. DOI: https://doi.org/10.1080/21640629.2012.695891
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; CALLARY; WERTHNER; TRUDEL, 2012CALLARY, Bettina; WERTHNER, Penny; TRUDEL, Pierre. How meaningful episodic experiences influence the process of becoming an experienced coach. Qualitative Research in Sport, Exercise and Health, v. 4, n. 3, p. 420-438, 2012.; TAYLOR; WERTHNER; CULVER, 2014TAYLOR, Shaunna L; WERTHNER, Penny; CULVER, Diane. A case study of a parasport coach and a life of learning. International Sport Coaching Journal, v. 1, n. 3, p. 127-138, 2014. DOI: https://doi.org/10.1123/iscj.2013-0005
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). Esse posicionamento ativo sobre sua aprendizagem é imprescindível durante o desenvolvimento de treinadores que buscam o contexto de rendimento (MILISTETD et al., 2017MILISTETD, Michel et al. Formação de Treinadores para o Esporte de Elite. In: GALATTI, Larissa Rafaela; SCAGLIA, Alcides José; MONTAGNER, Paulo César; PAES, Roberto Rodrigues (org.). Desenvolvimento de treinadores e atletas. Campinas: Editora da Unicamp, 2017. (Pedagogia do Esporte v. 1).). Quanto maior os facilitadores individuais no início de uma carreira de treinadora, maior o engajamento com o trabalho e o interesse em continuar com o envolvimento no esporte (LaVOI; DUTOVE, 2012LaVOI, Nicole M.; DUTOVE, Julia K. Barriers and supports for female coaches: an ecological model. Sports Coaching Review, v. 1, n. 1, p. 17-37, 2012. DOI: https://doi.org/10.1080/21640629.2012.695891
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; DEMERS, 2009DEMERS, Guylaine. We are coaches”: program tackles the under-representation of female coaches. Canadian Journal for Women in Coaching, v. 9, n. 2, p. 1-9, 2009.).

Apesar dos facilitadores em nível individual, Fernanda também vivenciou algo comum nas mulheres que buscam posições de liderança no esporte, a saber, uma sensação de despreparo e de insegurança. A autopercepção baixa de muitas mulheres sobre a qualificação e capacidade afeta os níveis de autoeficácia, competência e confiança para exercer tais funções no contexto de rendimento esportivo, consequências essas também para o número baixo de mulheres atuando no sistema esportivo (GREENHILL et al., 2009GREENHILL, Jeff et al. The impact of organisational factors on career pathways for female coaches. Sport Management Review, v. 12, n. 4, p. 229-240, 2009. DOI: https://doi.org/10.1016/j.smr.2009.03.002
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). A condição de treinadora de tênis em um contexto em que geralmente os treinadores estão em maior número (LIMA et al., 2014LIMA, Marcelo Bittencourt Neiva et al. Perfil da formação inicial e permanente de treinadores de tênis de alto rendimento do Brasil. Pensar a Prática, v. 17, n. 1, 2014. DOI: https://doi.org/10.5216/rpp.v17i1.13276
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; ITF, 2021INTERNATIONAL TENNIS FEDERATION (ITF). ITF Global Tennis Report 2021: a report on tennis participation and performance worldwide. London: International Tennis Federation: 2021. Disponível em: http://itf.uberflip.com/i/1401406-itf-global-tennis-report-2021/45?.Acesso em: 02 mar. 2022.
http://itf.uberflip.com/i/1401406-itf-gl...
) também pode estar relacionada a esta barreira apresentada por Fernanda. A relação direta com um tipo de liderança esperada (e encontrada nos homens treinadores da modalidade) por vezes diminui a sensação de assertividade e congruência por parte das treinadoras a essa expectativa (ALLEN; SHAW, 2009ALLEN, Justine B; SHAW, Sally. Women coaches’ perceptions of their sport organizations’ social environment: supporting coaches’ psychological needs? The Sport Psychologist, v. 23, n. 3, p. 346-366, 2009. DOI: https://doi.org/10.1123/tsp.23.3.346
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; SHAW, 2007SHAW, Sally. Touching the intangible? an analysis of the equality standard: a framework for sport. Equal Opportunities International, v. 26, n. 5, p. 420-434, 2007. DOI: https://doi.org/10.1108/02610150710756630
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). Isso significa que, de modo geral, as barreiras individuais para mulheres são construídas socialmente (COB, 2022COMITÊ OLÍMPICO DO BRASIL. (COB). Modelo de desenvolvimento esportivo do Comitê Olímpico do Brasil. Rio de Janeiro: COB, 2022.).

Além disso, outra barreira individual para Fernanda esteve relacionada à falta de confiança e autoeficácia em sua participação no torneio internacional. Novamente, a interação de Fernanda com pares em sua trajetória representou influências e orientações fundamentais para o seu aprendizado e motivação diante das inseguranças. Alguns estudos com treinadores mostraram a importância e benefícios dessas interações que transmitem e orientam o aprendizado profissional na carreira, ampliando competência e conhecimento sem deixar de enfatizar a autonomia dos próprios treinadores (SAWIUK; TAYLOR; GROOM, 2017SAWIUK, Rebecca; TAYLOR, William G; GROOM, Ryan. An analysis of the value of multiple mentors in formalised elite coach mentoring programmes. Physical Education and Sport Pedagogy, v. 22, n. 4, p. 403-413, 2017. DOI: https://doi.org/10.1080/17408989.2016.1268587
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; VINSON et al., 2016VINSON, Don et al. Exploring how well UK coach education meets the needs of women sports coaches. International Sport Coaching Journal, v. 3, n. 3, p. 287-302, 2016. DOI: https://doi.org/10.1123/iscj.2016-0004
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; RODRIGUES et al., 2020RODRIGUES, Heitor de Andrade et al. O mentoring como estratégia de desenvolvimento profissional de um treinador de basquetebol de alta performance. Journal of Physical Education/UEM, v. 31, n. 1, e-3153, 2020. DOI: https://doi.org/10.4025/jphyseduc.v31i1.3153
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). Diferentemente ao que se destaca na literatura para a ascensão de mulheres no esporte (LaVOI; DUTOVE, 2012LaVOI, Nicole M.; DUTOVE, Julia K. Barriers and supports for female coaches: an ecological model. Sports Coaching Review, v. 1, n. 1, p. 17-37, 2012. DOI: https://doi.org/10.1080/21640629.2012.695891
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), é possível dizer que Fernanda não atestou a falta de apoio, o isolamento ou as interações negativas com seus colegas treinadores como barreiras em sua trajetória.

O nível interpessoal, de acordo com LaVoi e Dutove (2012)LaVOI, Nicole M.; DUTOVE, Julia K. Barriers and supports for female coaches: an ecological model. Sports Coaching Review, v. 1, n. 1, p. 17-37, 2012. DOI: https://doi.org/10.1080/21640629.2012.695891
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resulta das influências bidirecionais com pessoas e contextos ao seu redor. Os elementos facilitadores para Fernanda nesse nível foram condicionados ao auxílio de outros treinadores em sua trajetória (conexão e mentoria) (LaVOI; DUTOVE, 2012LaVOI, Nicole M.; DUTOVE, Julia K. Barriers and supports for female coaches: an ecological model. Sports Coaching Review, v. 1, n. 1, p. 17-37, 2012. DOI: https://doi.org/10.1080/21640629.2012.695891
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). Particularmente, segundo levantamento do COB (COB, 2022COMITÊ OLÍMPICO DO BRASIL. (COB). Modelo de desenvolvimento esportivo do Comitê Olímpico do Brasil. Rio de Janeiro: COB, 2022.), treinadoras julgam os facilitadores interpessoais como relevantes para sua inserção e ascensão no esporte, seu empoderamento e seu desenvolvimento de autoconfiança. A procura de Fernanda por ajuda com uma amiga treinadora é percebida como um movimento de auxílio informal e imediato, que determina a permanência das mulheres em suas carreiras esportivas (ALLEN; SHAW, 2009ALLEN, Justine B; SHAW, Sally. Women coaches’ perceptions of their sport organizations’ social environment: supporting coaches’ psychological needs? The Sport Psychologist, v. 23, n. 3, p. 346-366, 2009. DOI: https://doi.org/10.1123/tsp.23.3.346
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; GREENHILL et al., 2009GREENHILL, Jeff et al. The impact of organisational factors on career pathways for female coaches. Sport Management Review, v. 12, n. 4, p. 229-240, 2009. DOI: https://doi.org/10.1016/j.smr.2009.03.002
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). O suporte mútuo entre mulheres treinadoras revela uma face da metáfora do labirinto, na qual as mulheres que já passaram por ele podem orientar as demais a enfrentar os obstáculos da carreira (BARREIRA, 2022BARREIRA, Júlia. Mulheres em cargos de liderança no esporte: rompendo o teto de vidro ou percorrendo o labirinto? Movimento, v. 27, p. e27080, 2021. DOI: https://doi.org/10.22456/1982-8918.118131
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). Da mesma forma, o suporte recebido por outros treinadores se assemelhou aos achados de Allen e Shaw (2009)ALLEN, Justine B; SHAW, Sally. Women coaches’ perceptions of their sport organizations’ social environment: supporting coaches’ psychological needs? The Sport Psychologist, v. 23, n. 3, p. 346-366, 2009. DOI: https://doi.org/10.1123/tsp.23.3.346
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, Greenhill et al., (2009)GREENHILL, Jeff et al. The impact of organisational factors on career pathways for female coaches. Sport Management Review, v. 12, n. 4, p. 229-240, 2009. DOI: https://doi.org/10.1016/j.smr.2009.03.002
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e Avery, Tonidandel e Phillips (2008)AVERY, Derek R.; TONIDANDEL, Scott; PHILLIPS, McKensy G. Similarity on sports sidelines: how mentor-protégé sex similarity affects mentoring. Sex Roles, v. 58, n. 1, p: 72-80, 2008. DOI: https://doi.org/10.1007/s11199-007-9321-2
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, destacando que inclusive a figura masculina do treinador pode (e deve) contribuir em longo prazo para a permanência das mulheres no esporte.

O nível organizacional reflete a presença das entidades, suas políticas, práticas profissionais e oportunidades de trabalho (LaVOI; DUTOVE, 2012LaVOI, Nicole M.; DUTOVE, Julia K. Barriers and supports for female coaches: an ecological model. Sports Coaching Review, v. 1, n. 1, p. 17-37, 2012. DOI: https://doi.org/10.1080/21640629.2012.695891
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; COB, 2022COMITÊ OLÍMPICO DO BRASIL. (COB). Modelo de desenvolvimento esportivo do Comitê Olímpico do Brasil. Rio de Janeiro: COB, 2022.). Nesse nível, Fernanda destacou dois momentos considerados como facilitadores, nomeadamente, o convite para ser treinadora em seu clube e o consequente reconhecimento no trabalho (desafio e contratação), e o ambiente dos cursos da CBT com predominância de treinadores homens (capacitação) (LaVOI; DUTOVE, 2012LaVOI, Nicole M.; DUTOVE, Julia K. Barriers and supports for female coaches: an ecological model. Sports Coaching Review, v. 1, n. 1, p. 17-37, 2012. DOI: https://doi.org/10.1080/21640629.2012.695891
https://doi.org/10.1080/21640629.2012.69...
). Apesar de geralmente caracterizado como de menor apoio para as mulheres no esporte (LaVOI; DUTOVE, 2012LaVOI, Nicole M.; DUTOVE, Julia K. Barriers and supports for female coaches: an ecological model. Sports Coaching Review, v. 1, n. 1, p. 17-37, 2012. DOI: https://doi.org/10.1080/21640629.2012.695891
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), o nível organizacional ofereceu a Fernanda oportunidades de ascensão em sua carreira profissional. De modo similar, esse aspecto já foi observado por Leberman e LaVoi (2011)LEBERMAN, Sarah I.; LaVOI, Nicole M. Juggling balls and roles, working mother-coaches in youth sport: beyond the dualistic worker-mother identity. Journal of Sport Management, v. 25, n. 5, p. 474-488, 2011. DOI: https://doi.org/10.1123/jsm.25.5.474
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ao indicar que as organizações têm um papel fundamental convidando mulheres para serem treinadoras. De acordo com o COB, cabe às organizações esportivas a promoção de possibilidades de atuação para treinadoras, além do estabelecimento de ações que equilibrem a presença de homens e mulheres nessas funções (COB, 2022COMITÊ OLÍMPICO DO BRASIL. (COB). Modelo de desenvolvimento esportivo do Comitê Olímpico do Brasil. Rio de Janeiro: COB, 2022.). Essa mesma visão também é partilhada pela ITF, que no final de 2018 formalizou o início dos trabalhos do programa Advantage ALL, um plano de ação minuciosamente estruturado para o período de 2019-2024, que visa promover a igualdade de gênero em todas as frentes em que a instituições opera com o tênis (ITF, 2019INTERNATIONAL TENNIS FEDERATION (ITF). Advantage ALL: ITF Gender Equality Strategy. London: International Tennis Federation: 2019. Disponível em: https://www.itftennis.com/en/about-us/governance/advantage-all/. Acesso em: 14 fev. 2022.
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).

Especificamente na trajetória de Fernanda, essa "abertura" de oportunidades foi mediada pela CBT, COSAT e ITF, que demonstraram se preocupar com a participação de treinadoras em torneios. Na prática, isso significa remover as barreiras de contratação e oportunizar - até mesmo estimular - a liberdade das mulheres enquanto treinadoras para atuarem de maneira efetiva (VINSON et al., 2016VINSON, Don et al. Exploring how well UK coach education meets the needs of women sports coaches. International Sport Coaching Journal, v. 3, n. 3, p. 287-302, 2016. DOI: https://doi.org/10.1123/iscj.2016-0004
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; ROMARIZ, VOTRE; MOURÃO, 2012ROMARIZ, Sandra Bellas; VOTRE, Sebastião Josué; MOURÃO, Ludmila. Representações de gênero no voleibol brasileiro: a imagem do teto de vidro. Movimento, v. 18, n. 4, p. 219-237, 2012. DOI: https://doi.org/10.22456/1982-8918.32657
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; ALLEN; SHAW, 2009ALLEN, Justine B; SHAW, Sally. Women coaches’ perceptions of their sport organizations’ social environment: supporting coaches’ psychological needs? The Sport Psychologist, v. 23, n. 3, p. 346-366, 2009. DOI: https://doi.org/10.1123/tsp.23.3.346
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).

O último nível, sobre o contexto sociocultural, é determinado segundo LaVoi e Dutove (2012)LaVOI, Nicole M.; DUTOVE, Julia K. Barriers and supports for female coaches: an ecological model. Sports Coaching Review, v. 1, n. 1, p. 17-37, 2012. DOI: https://doi.org/10.1080/21640629.2012.695891
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pelas normativas e sistemas culturais que podem afetar as treinadoras diretamente. No caso de Fernanda, houve uma relação indireta do ambiente dos cursos da CBT/ITF como possível barreira, tendo em vista a formação ministrada por homens e a hegemonia masculina da modalidade. Essa percepção inicial do aspecto de barreira ocorre com frequência, tendo em vista a forte influência de uma ideologia de estereótipo no nível sociocultural que interfere nos caminhos trilhados por mulheres para ascensão no esporte (LaVOI; DUTOVE, 2012LaVOI, Nicole M.; DUTOVE, Julia K. Barriers and supports for female coaches: an ecological model. Sports Coaching Review, v. 1, n. 1, p. 17-37, 2012. DOI: https://doi.org/10.1080/21640629.2012.695891
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; BARREIRA, 2022BARREIRA, Júlia. Mulheres em cargos de liderança no esporte: rompendo o teto de vidro ou percorrendo o labirinto? Movimento, v. 27, p. e27080, 2021. DOI: https://doi.org/10.22456/1982-8918.118131
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). Contudo, as situações que geraram desconforto durante os cursos da CBT e de nível 3 da ITF foram destacadas por Fernanda não como barreiras de repressão, mas como obstáculos de impulsão para sua carreira. A percepção de não-discriminação por ser mulher em ambiente de predominância masculina ou de uma pressuposição do papel de gênero fez Fernanda se ambientar ao cenário e ao contexto de desconforto. Estudos já têm demonstrado que, mesmo com ideologias ainda latentes, a inclusão de mulheres em cargos de liderança no esporte vem alcançando valorização e diminuindo opiniões de marginalização à mulher (NORMAN, 2012NORMAN, Leanne. Gendered homophobia in sport and coaching: understanding the everyday experiences of lesbian coaches. International Review for the Sociology of Sport, v. 47, n. 6, p. 705-723, 2012. DOI: https://doi.org/10.1177/1012690211420487
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; LaVOI; DUTOVE, 2012LaVOI, Nicole M.; DUTOVE, Julia K. Barriers and supports for female coaches: an ecological model. Sports Coaching Review, v. 1, n. 1, p. 17-37, 2012. DOI: https://doi.org/10.1080/21640629.2012.695891
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; FERREIRA et al., 2013FERREIRA, Heidi Jancer et al. A baixa representatividade de mulheres como técnicas esportivas no Brasil. Movimento, v. 19, n. 3, p. 103-124, 2013. DOI: https://doi.org/10.22456/1982-8918.29087
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; KRAFT et al. 2021KRAFT, Erin; CULVER, Diane; DIN, Cari; CAYER, Isabelle. Navigating the labyrinth of leadership in sport: a community of practice of femininity. Advancing Women in Leadership Journal, v. 40, n. 1, p. 13-22, 2021. DOI: https://doi.org/10.21423/awlj-v40.a370
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; BARREIRA, 2022BARREIRA, Júlia. Mulheres em cargos de liderança no esporte: rompendo o teto de vidro ou percorrendo o labirinto? Movimento, v. 27, p. e27080, 2021. DOI: https://doi.org/10.22456/1982-8918.118131
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).

Essa dificuldade, assim como as outras percebidas pela treinadora, foram encaradas como motivações e figuraram como norteadoras na busca de seu próprio desenvolvimento. Dessa forma, importa considerar que a trajetória de Fernanda elucida um aspecto apontado por Barreira (2022)BARREIRA, Júlia. Mulheres em cargos de liderança no esporte: rompendo o teto de vidro ou percorrendo o labirinto? Movimento, v. 27, p. e27080, 2021. DOI: https://doi.org/10.22456/1982-8918.118131
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em relação a menor ou maior dificuldade de ascensão das mulheres no esporte a partir da modalidade que atuam. Aparentemente, mesmo considerando a hegemonia masculina em cargos de liderança no tênis (CORTELA et al., 2013CORTELA, Caio Correa et al. A formação inicial e continuada dos treinadores paranaenses de tênis. Conexões, v. 11, n. 2, p. 60-84, 2013. DOI: https://doi.org/10.20396/conex.v11i2.8637617
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, 2019CORTELA, Caio Correa et al. Formação continuada e autopercepção de competência: um estudo com treinadores de tênis. Pensar en Movimiento: Revista de Ciencias del Ejercicio y La Salud, v. 17, n. 2, p. 126-141, 2019. DOI: https://doi.org/10.15517/pensarmov.v17i2.36948
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; LIMA et al., 2014LIMA, Marcelo Bittencourt Neiva et al. Perfil da formação inicial e permanente de treinadores de tênis de alto rendimento do Brasil. Pensar a Prática, v. 17, n. 1, 2014. DOI: https://doi.org/10.5216/rpp.v17i1.13276
https://doi.org/10.5216/rpp.v17i1.13276...
; ITF, 2021INTERNATIONAL TENNIS FEDERATION (ITF). ITF Global Tennis Report 2021: a report on tennis participation and performance worldwide. London: International Tennis Federation: 2021. Disponível em: http://itf.uberflip.com/i/1401406-itf-global-tennis-report-2021/45?.Acesso em: 02 mar. 2022.
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), o percurso de Fernanda parece ter sido menos alargado e tortuoso.

5 CONCLUSÃO

O objetivo do estudo foi investigar as experiências que resultaram no aprendizado e que contribuíram para a ascensão de uma treinadora de tênis brasileira no alto rendimento, durante sua trajetória profissional. Os resultados indicaram que a treinadora Fernanda teve uma trajetória orientada por relações de influência com personagens de seu contexto. O perfil de ex-atleta e treinadora aparentou ser um facilitador em seu processo de desenvolvimento profissional. Além disso, os momentos constantes que a colocaram fora de sua zona de conforto foram relevantes influências em sua trajetória, fazendo com que ela definisse estratégias para suprir as necessidades e avançar perante algumas barreiras (muitas vezes ainda ideológicas).

Em relação às conclusões, essas são intimamente orientadas ao modo como a treinadora Fernanda percebeu e conduziu sua trajetória profissional dentro do esporte. Isso significa que, embora tenhamos considerado as barreiras relativas a toda a trajetória de Fernanda, decidimos pelo proeminente detalhamento dos facilitadores nesse mesmo percurso - ou então, das barreiras transformadas em facilitadores. Isso porque, de certa forma, o olhar de Fernanda sobre sua trajetória profissional dimensionou um aspecto de resiliência perante os desafios de ser uma mulher que almeja ascensão em sua carreira no esporte.

Para além deste panorama conclusivo, este estudo de caso teve também a premissa de demonstrar, pelos aspectos relacionados a trajetória de uma treinadora em um cenário de alto rendimento esportivo, os fatores que contribuem ou não para a ascensão de mulheres em cargos de liderança no esporte. Por conta disso, é imprescindível destacar que este estudo não é generalizável, ou seja, não é efetivamente representativo da singularidade de outras distintas mulheres que desejam aceder a cargos no esporte. Sendo assim, evidenciamos por meio deste estudo de caso a relevância do papel das organizações esportivas em proporcionar a ascensão de mulheres no âmbito esportivo, tendo em vista a dificuldade de ainda transpormos ideologias sobre a presença de mulheres no esporte.

  • 1
    O facilitador foi um profissional com vasta experiência em condução de pesquisas qualitativas e com considerável experiência enquanto treinador na modalidade do tênis. Além disso, é amigo da treinadora e foi mencionado por ela como parte do seu mainstream (pessoas admiradas e respeitadas por ela).
  • FINANCIAMENTO
    O presente trabalho foi realizado sem o apoio de fontes financiadoras.
  • COMO REFERENCIAR

    MOURA, William A. Marchetti; MILAN, Fabrício J.; CORTELA, Caio C.; CIAMPOLINI, Vitor; MILISTETD, Michel. O desenvolvimento profissional de uma treinadora de tênis no alto rendimento brasileiro. Movimento, v. 29, p. e29005, jan./dez. 2023. DOI: https:/doi.org/10.22456/1982-8918.124984

ÉTICA DE PESQUISA

A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética de Pesquisa (CEP) da Universidade Federal de Santa Catarina e registrada sob o protocolo n. 1.285.811/2015.

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Editado por

RESPONSABILIDADE EDITORIAL

Alex Branco Fraga*, Elisandro Schultz Wittizorecki*, Guy Ginciene*, Mauro Myskiw*, Raquel da Silveira*
*Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Escola de Educação Física, Fisioterapia e Dança, Porto Alegre, RS, Brasi

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    25 Ago 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    19 Jun 2022
  • Aceito
    23 Nov 2022
  • Publicado
    16 Mar 2023
Universidade Federal do Rio Grande do Sul Rua Felizardo, 750 Jardim Botânico, CEP: 90690-200, RS - Porto Alegre, (51) 3308 5814 - Porto Alegre - RS - Brazil
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