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JOGOS OLÍMPICOS DA JUVENTUDE DE BUENOS AIRES: SENTIDOS CONSTRUÍDOS POR ATLETAS SUL-AMERICANOS

JUEGOS OLÍMPICOS DE LA JUVENTUD DE BUENOS AIRES: SIGNIFICADOS CONSTRUIDOS POR LOS ATLETAS SUDAMERICANOS

Resumo

O objetivo do presente estudo é compreender os sentidos construídos por atletas sul-americanos sobre sua experiência nos Jogos Olímpicos da Juventude de Buenos Aires em 2018. Para tanto, esta investigação centrou-se em uma abordagem de natureza qualitativa, baseada nos pressupostos teórico-metodológicos da etnometodologia, com o uso da entrevista guiada. Os resultados apontaram que os referidos Jogos reificam o saber comum e socialmente compartilhado entre os sujeitos como membros de um grupo de elite esportiva, veiculado, sobretudo, pela identificação com a dimensão relativamente proporcional à versão adulta dos JO. Conclui-se que, embora sejam oriundos de lugares diversos e, em alguns casos, falem línguas diferentes, esses sujeitos compartilham simultaneamente um conjunto de sonhos, objetivos e valores específicos no contexto dos Jogos realizados na capital da Argentina.

Palavras-chave:
Jogos Olímpicos da Juventude; Atletas sul-americanos; Etnometodologia

Resumen

El objetivo del presente estudio es comprender los significados construidos por los atletas sudamericanos sobre su experiencia en los Juegos Olímpicos de la Juventud de Buenos Aires 2018. Para ello, esta investigación se centró en un enfoque cualitativo, basado en los supuestos teórico-metodológicos de la etnometodología, utilizando la entrevista guiada. Los resultados mostraron que los mencionados Juegos cosifican el conocimiento común y compartido socialmente entre estos sujetos, considerados como miembros de un grupo deportivo de élite, transmitido principalmente por la identificación de una dimensión relativamente proporcional a la versión adulta de los Juegos. Se concluye que, si bien provienen de diferentes lugares y, en algunos casos, hablan diferentes idiomas, estos sujetos comparten simultáneamente un conjunto de sueños, metas y valores específicos en el contexto de los Juegos realizados en la capital argentina.

Palabras clave:
Juegos Olímpicos de la Juventud; Deportistas sudamericanos; Etnometodología

Abstract

This research aims to understand the meanings constructed by South American athletes about their most remarkable and meaningful experiences in the YOG-2018. For such a purpose, we focused on a qualitative approach based on the theoretical-methodological assumptions of ethnomethodology using guided interviews. The results indicate that the mentioned games reify the common and socially shared knowledge among a select group of elite athletes, especially linked to the identification of the dimension similar to the adult version of the OG. We conclude that despite their different origins, in some cases, different languages, such individuals share a set of dreams, goals, and certain values in the context of the games performed in the capital of Argentina.

Keywords:
Youth Olympic Games; South American athletes; Ethnomethodology

INTRODUÇÃO

O esporte pode ser considerado como uma metalinguagem axiológica cujas origens remontam à antiguidade. Segundo DaCOSTA (2009DaCOSTA, Lamartine Pereira. Educação Olímpica como metalinguagem axiológica: revisões pedagógicas e filosóficas de experiências internacionais e brasileiras. In: REPPOLD FILHO, Alberto Reinaldo et al. (org.) Olimpismo e Educação Olímpica no Brasil. Porto Alegre: Ed. UFRGS, 2009. p. 17-28., p. 17), “na perspectiva da civilização ocidental, o esporte como meio pedagógico - inicialmente como exercícios físicos e jogos - é tão antigo quanto a própria educação, a partir da origem comum na Grécia Antiga”. Não é surpreendente então que no mundo moderno e contemporâneo a prática esportiva seja identificada como uma ferramenta educacional (MANDELL, 1986). Todavia, os casos de violência, corrupção, doping, trapaças diversas e exploração política que se sucederam ao longo da história contemporânea do esporte podem levar qualquer um a duvidar que a prática esportiva seja algo naturalmente educativo, especialmente em seus níveis de competição mais elevados.

Tal constatação não deveria ser surpreendente uma vez que Pierre de Coubertin, criador do Movimento Olímpico e um dos ideólogos mais importantes do esporte moderno, reconhecia o caráter moralmente neutro da prática esportiva já nos primórdios do movimento que organizou e liderou (COUBERTIN, 1894). Isto posto, é necessário olhar para os Jogos Olímpicos (JO) como megaeventos de interesses ambivalentes e complexos. Tal como problematizado por Tavares (2003TAVARES, Otávio. Esporte, movimento olímpico e democracia: o atleta como mediador. 2003. Tese (Doutorado em Educação Física) - Programa de Pós-Graduação em Educação Física, Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro, 2003., p. 104):

Em face desta ambivalência, o esporte competitivo tem encontrado apreciações opostas. Para seus entusiastas, o esporte, notadamente o esporte olímpico, pode ser genuinamente o caminho para a promoção de um ser humano desenvolvido de maneira equilibrada, do entendimento internacional e da tolerância, entre outras qualificações. Para os céticos, a competição esportiva se tornou sinônimo de degradação de valores humanos, violência e chauvinismo. Como referência mundial do esporte de competição, uma considerável parte destas posições tem por objeto os Jogos Olímpicos como evento, o Movimento Olímpico como organização e o Olimpismo como fundamento.

A experiência histórica demonstra que após serem recriados, os Jogos Olímpicos diferenciam-se de qualquer outro evento esportivo por sua vinculação explícita a princípios fundamentais e a valores orientadores (TAVARES, 2008TAVARES, Otávio. Educação Olímpica no Rio de Janeiro: notas iniciais para o desenvolvimento de um modelo. In: DACOSTA, Lamartine et al. Legado de megaeventos esportivos. Brasília, DF: CONFEF, 2008. p. 343-355.; RUBIO, 2011RUBIO, Kátia. A dinâmica do esporte olímpico do século XIX ao XXI. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, v. 25, p. 83-90, 2011. DOI: https://doi.org/10.1590/S1807-55092011000500009
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). Neste contexto, a educação dos jovens através do esporte está insculpida entre as funções que o Comitê Olímpico Internacional deve desenvolver para realizar sua missão (IOC, 2020).

É de particular interesse para este estudo observar que a dimensão educacional do Movimento Olímpico é genericamente conhecida como ‘educação olímpica’. Tal termo pode ser traduzido como uma educação em valores por meio do esporte tendo como referência os valores, símbolos, ritos, histórias e tradições do Movimento Olímpico. Como já demonstraram Naul, Binder, Rychtecky e Culpan (2017NAUL, Roland; KRÜGER, Michael; GESSMAN, Rolf; WICK, Uwe. Germany: formal Olympic Education at schools and informal Olympic learning in sport clubs. In: NAUL, Roland; BINDER, Deanna; RYCHTECKY, Antonin; CULPAN, Ian. (ed.). Olympic Education: an international review. London/New York: Routledge, 2017. p. 177-191.), a educação olímpica pode assumir uma elevada pluralidade de formas e possibilidades que englobam quatro domínios: físico, psicossocial, moral e cognitivo, integrados em termos de ensino formal e formação integral1 1 Olympische Erziehung e Olympische Bildung no original alemão. (NAUL, KRÜGER; GESSMAN; WICK, 2017NAUL, Roland; KRÜGER, Michael; GESSMAN, Rolf; WICK, Uwe. Germany: formal Olympic Education at schools and informal Olympic learning in sport clubs. In: NAUL, Roland; BINDER, Deanna; RYCHTECKY, Antonin; CULPAN, Ian. (ed.). Olympic Education: an international review. London/New York: Routledge, 2017. p. 177-191.). Em termos metodológicos, pode se caracterizar por quatro abordagens: a orientada ao conhecimento de eventos, datas e fatos, a orientada à experiência olímpica verdadeira ou emulada em eventos de tipo olímpico, a orientada à performance esportiva e a orientada ao mundo-da-vida (NAUL, 2008).

Em face destas delimitações, a realização dos Jogos Olímpicos da Juventude (JOJ), a versão juvenil dos Jogos Olímpicos de verão e inverno, e seu Programa de Educação e Cultura (CEP) se colocam potencialmente como uma manifestação integrada da educação olímpica em seus quatro domínios e suas quatro abordagens.

Realizados pela primeira vez em sua versão de verão em 2010 em Singapura e em sua versão de inverno em 2012 em Innsbruck, os JOJ são fenômenos ainda relativamente recentes. Deste modo, seu significado, sua expressão e seus impactos ainda estão para serem completamente avaliados e compreendidos.

De toda forma, observa-se um crescente interesse da comunidade acadêmica pelo tema. Wong (2011WONG, Donna. The Youth Olympic Games: past, present and future. International Journal of the History of Sport, v. 28, n. 13, 1831-1851, 2011. DOI: https://doi.org/10.1080/09523367.2011.594687
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) investigou as baixas taxas de audiência entre os jovens, custos excessivos e impacto social. Hanstad, Parent e Kristiansen (2013), as semelhanças com os Jogos Olímpicos ‘adultos’ e Parry (2012PARRY, Jim. The Youth Olympic Games - some ethical issues. Sport, Ethics and Philosophy, v. 6, n. 2, p. 138-154, 2012. DOI: https://doi.org/10.1080/17511321.2012.671351
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) examinou questões éticas que poderiam aflorar nestes eventos. Algumas observações críticas vieram do trabalho de MacIntosh (2017) sobre a componente educativa dos eventos juvenis enquanto Berdnikov e Krieger (2019BERDNIKOV, Maksim; KRIEGER, Jörg. Education facilitators at youth mega-events: Practical and methodological considerations. Journal of Qualitative Research in Sport Studies, v. 13, n. 1, p. 111-126, 2019. Disponível em: https://www.academia.edu/41373946/Maksim_Berdnikov_and_Jorg_Krieger_2019_Education_facilitators_at_youth_mega_events_practical_and_methodological_considerations_Journal_of_Qualitative_Research_in_Sports_Studies_13_1_111_126. Acesso em: 18 jul. 2023.
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) tentaram compreender o baixo interesse dos jovens atletas pelas atividades educacionais.

Uma revisão sistemática de literatura feita por Souza e Tavares (2020SOUZA, Adriano Lopes; TAVARES, Otávio. A experiência educacional dos atletas nos Jogos Olímpicos da Juventude: uma revisão sistemática. Movimento, v. 26, p. e26039, 2020. DOI: https://doi.org/10.22456/1982-8918.97317
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) identificou ainda sete artigos que investigaram possibilidades, contingências, desafios e resistências aos objetivos educacionais propostos pelos Programa de Educação e Cultura dos JOJ a partir da perspectiva dos jovens atletas (KRIEGER, 2012KRIEGER, Jörg. Fastest, highest, youngest? Analyzing athletes experience at Singapore Youth Olympic Games. International Review for the Sociology of Sport, v. 48, n. 6, p. 706-719, 2012. DOI: https://doi.org/10.1177/1012690212451875
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; KRISTIANSEN, 2013; KRIEGER; KRISTIANSEN, 2016; MACINTOSH; PARENT; CULVER, 2019; PARENT; KRISTIANSEN; MACINTOSH, 2014; PETERS; SCHNITZER, 2015PETERS, Mike; SCHNITZER, Martin. Athletes’ expectations, experiences, and legacies of the Winter Youth Olympic Games Innsbruck 2012. Journal of Convention & Event Tourism, v. 16, n. 2, p. 116-144, 2015. DOI: https://doi.org/10.1080/15470148.2015.1018656
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; SCHNITZER; PETERS; SCHEIBER; POCECCO, 2014). Em síntese, tais investigações demonstraram serem os JOJ uma experiência marcante (KRIEGER; KRISTIANSEN, 2016), bem como uma grande plataforma de aprendizagem intercultural (PARENT; KRISTIANSEN; MACINTOSH, 2014; PETERS; SCHNITZER, 2015), de valores olímpicos, de conhecimentos para gerenciamento da carreira (KRIEGER; KRISTIANSEN, 2016; PETERS; SCHNITZER, 2015; SCHNITZER; PETERS; SCHEIBER; POCECCO, 2014) e de interação social (KRIEGER, 2012; MACINTOSH; PARENT; CULVER, 2019).

Contudo, muitos atletas associaram essa experiência ao simples fato de estarem na Vila Olímpica e não necessariamente ao participarem das atividades do CEP (KRIEGER, 2013; PARENT; KRISTIANSEN; MACINTOSH, 2014PARENT, Milena; KRISTIANSEN, Elsa; MACINTOSH, Eric. Athletes’ experiences at the Youth Olympic Games: perceptions, stressors and discourse paradox. Event Management, v. 18, n. 3, p. 303-324, 2014. DOI: https://doi.org/10.3727/152599514X13989500765808
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; KRIEGER; KRISTIANSEN, 2016). De fato, muitos atletas tiveram escassas experiências no CEP ou simplesmente não participaram das suas atividades educacionais. Alguns privilegiaram as suas competições e de seu time, outros, consideraram tais atividades “infantis” (KRIEGER, 2013; PARENT; KRISTIANSEN; MACINTOSH, 2014; SCHNITZER; PETERS; SCHEIBER; POCECCO, 2014SCHNITZER, Martin et al. Perception of the culture and education programme of the Youth Olympic Games by the participating athletes: a case study for Innsbruck 2012. International Journal of History of Sport, v. 31, n. 9, p. 1178-1193, 2014. DOI: https://doi.org/10.1080/09523367.2014.909810
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; KRIEGER; KRISTIANSEN, 2016).

Segundo Berdnikov e Krieger (2019BERDNIKOV, Maksim; KRIEGER, Jörg. Education facilitators at youth mega-events: Practical and methodological considerations. Journal of Qualitative Research in Sport Studies, v. 13, n. 1, p. 111-126, 2019. Disponível em: https://www.academia.edu/41373946/Maksim_Berdnikov_and_Jorg_Krieger_2019_Education_facilitators_at_youth_mega_events_practical_and_methodological_considerations_Journal_of_Qualitative_Research_in_Sports_Studies_13_1_111_126. Acesso em: 18 jul. 2023.
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), a ausência de espaços de aprendizagem não tradicionais, o baixo apoio de adultos, o escopo estreito, o uso de chavões e a subestimação de habilidades também são razões significativas para a não participação nas atividades. A revisão desta literatura indicou que faltam aos estudos acima mencionados incorporar na análise da experiência dos jovens atletas um conceito de educação olímpica que contivesse os JOJ como tal e não apenas antepor as atividades do CEP às atividades inerentes à competição.

Em face dos fundamentos da educação olímpica acima apresentados, parece ser mais produtivo examinar a experiência formativa dos jovens atletas nos JOJ de maneira holística. Ou seja, considerando a participação nos JOJ como uma experiência de educação olímpica na qual as quatro abordagens (conhecimento, experiência, performance e mundo-da-vida) são claramente discerníveis, embora em níveis diferenciados. Assim, o foco de interesse deste estudo reside na experiência dos jovens atletas como uma imersão numa experiência holística de educação olímpica. Para efeitos desta pesquisa, o megaevento investigado foi a terceira edição2 2 Outras duas edições precederam os Jogos disputados na capital argentina, as quais foram sediadas nas cidades de Cingapura (2010) e Nanquim (2014), em Singapura e China, respectivamente. Ressalta-se, ainda, que também foram realizadas duas edições dos YOG de Inverno, sediadas em Innsbruck (2012) e Lillehammer (2016), na Áustria e Noruega, respectivamente. dos YOG, realizada na cidade de Buenos Aires, no ano de 2018 (YOG-2018).

Nosso interesse, destarte, perpassa pela captação dos sentidos construídos por sujeitos situados em um determinado tempo e espaço, manifestando-se, portanto, na concretude de uma rede complexa de intersubjetividades, interações e interconhecimentos (CHAUVIN; JOUNIN, 2015CHAUVIN, Sébastien; JOUNIN, Nicolas. A observação direta. In: PAUGAM, Serge. (coord.). A pesquisa sociológica. Petrópolis: Vozes, 2015. p. 124-140.), a partir de suas experiências mais significativas nos YOG-2018 e deste modo, verificar a possibilidade de compreensão dos YOG como uma experiência não sistematizada de educação olímpica em si.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A presente investigação científica está centrada em uma abordagem qualitativa a partir do trabalho de campo desenvolvido durante os YOG-2018 (Jogos Olímpicos da Juventude de 2018). Nosso interesse, portanto, reside na captura dos significados construídos pelos indivíduos localizados em um determinado tempo e espaço, manifestando-se, assim, por meio da concretude de uma complexa rede de intersubjetividades, interações e interconhecimento (CHAUVIN; JOUNIN, 2015CHAUVIN, Sébastien; JOUNIN, Nicolas. A observação direta. In: PAUGAM, Serge. (coord.). A pesquisa sociológica. Petrópolis: Vozes, 2015. p. 124-140.).

Para tal propósito, recorremos aos pressupostos teórico-metodológicos da etnometodologia (GARFINKEL, 1992GARFINKEL, Harold. Studies in Ethnomethodology. New York: Blackwell Pub, 1992.; COULON, 1995COULON, Alain. Etnometodologia. Petrópolis: Vozes, 1995.). Com base na perspectiva etnometodológica, a interpretação sociológica erudita não deve servir como pretexto para a destruição das informações contextuais iniciais e indiciais produzidas pelos atores sociais na rotina de suas ações (SILVA, 2012SILVA, Carlos Alberto Figueiredo. Pequeno vocabulário de etnometodologia. In: SILVA Carlos Alberto Figueiredo; VOTRE, Sebastião Josué (org.). Etnometodologias. Rio de Janeiro: HP Comunicação Editora, 2012. p. 187-196.).

Também recorremos à entrevista guiada (RICHARDSON, 2015RICHARDSON, Roberto Jarry. Pesquisa social: métodos e técnicas. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2015.), que orienta os entrevistados a relatarem suas experiências. Ou seja, esse formato de entrevista não tem a intenção de estabelecer uma relação estruturada de perguntas e respostas, mas sim um processo interativo com/entre os entrevistados. De acordo com Certeau (1994CERTEAU, Michel. A invenção do cotidiano: as artes de fazer. Petrópolis: Vozes, 1994.), os relatos têm um papel rotineiro e magistral na delimitação de alguns usos do lugar, como a apropriação narrativa, ou seja, práticas de espaço e tempo.

Objetivamente, buscamos enfatizar os relatos produzidos pelos jovens atletas sul-americanos sobre suas experiências nos Jogos Olímpicos da Juventude de 2018. A escolha por esse público decorre de uma lacuna encontrada na literatura em relação a esse megaevento, com predominância de atletas norte-americanos ou europeus (SOUZA; TAVARES, 2020SOUZA, Adriano Lopes; TAVARES, Otávio. A experiência educacional dos atletas nos Jogos Olímpicos da Juventude: uma revisão sistemática. Movimento, v. 26, p. e26039, 2020. DOI: https://doi.org/10.22456/1982-8918.97317
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).

Após a imersão no campo, o roteiro de conversação foi operacionalizado a partir da segunda metade dos YOG-2018, cujo tema principal girava em torno das experiências mais marcantes e significativas dos jovens atletas naquele contexto olímpico, incluindo, portanto, o cotidiano da Vila Olímpica da Juventude (YOV) e as suas respectivas competições esportivas. Para tanto, nos valemos do acesso à YOV entre os dias 13 e 17 de outubro, conforme autorizado pelos organizadores do referido megaevento.

Em consonância com o nosso referencial teórico-metodológico, é preciso ter presente que a escolha do número de sujeitos que compuseram o quadro das entrevistas guiadas não buscou atender a critérios de amostragem probabilística, mas, deu-se de forma intencional e por conveniência. Em razão do domínio dos idiomas, optamos por abordar os jovens atletas sul-americanos que estavam transitando pelos espaços da YOV e que demonstraram acessibilidade e disponibilidade para participar da presente pesquisa.

Assim, conforme demonstrado no quadro abaixo, compuseram a conjunção de entrevistas guiadas da presente investigação um total de nove sujeitos de ambos os sexos, pertencentes a 5 países diferentes e que competiram em modalidades esportivas individuais ou coletivas.

Quadro 1
Composição das entrevistas guiadas

Seguindo a recomendação de autores como Barbot (2015BARBOT, Jeanine. Conduzir uma entrevista de face a face. In: PAUGAM, Serge. (coord.). A pesquisa sociológica. Petrópolis: Vozes, 2015. p. 102-123.) e Richardson (2015RICHARDSON, Roberto Jarry. Pesquisa social: métodos e técnicas. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2015.), quando abordamos os referidos sujeitos, nós fizemos uma breve autoapresentação, seguida pela explicitação do nosso objeto de estudo, visando lograr seus respectivos consentimentos. Além disso, nos certificamos de assegurá-los o devido anonimato, identificando-os apenas por suas respectivas nacionalidades. Assim, com a autorização dos referidos sujeitos, registramos os seus relatos em áudio, a fim de serem posteriormente transcritos e analisados.

Para subsidiar as análises e a interpretação do material empírico produzido, recorremos a três conceitos-chave etnometodológicos, os quais foram sistematizados pelo sociólogo francês Alain Coulon, a saber: indicialidade, relatabilidade e noção de membro. O primeiro é representado por uma “margem de incompletude” das palavras, de tal modo que os termos indiciais - próprios de determinado grupo - só podem ser compreendidos em circunstâncias contextuais e particulares da sua produção; o segundo conceito-chave refere-se às maneiras como as cenas cotidianas são descritas pelos atores sociais, tornando a realidade que produziram e experienciaram algo compreensível, compartilhável, analisável, relatável; já a noção de membro, por sua vez, transcende a ideia de um membro pertencer socialmente a um determinado grupo, mas, da capacidade que é a sua de dominar e compartilhar uma linguagem comum que o agrega a esse grupo, conferindo-lhe, desta forma, aceitação e reconhecimento (COULON, 1995COULON, Alain. Etnometodologia. Petrópolis: Vozes, 1995.).

Por fim, vale ressaltar que este estudo foi apreciado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Federal do Espírito Santo, sob o número de decisão 99991018.0.0000.5542.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na apresentação dos resultados, utilizamos os termos indiciais de Coulon (1995COULON, Alain. Etnometodologia. Petrópolis: Vozes, 1995.), a partir do mapeamento de ideias, palavras e expressões que emergiram com maior proeminência no tratamento dos dados produzidos in loco, cujo processo interativo com/entre os jovens atletas sul-americanos foi direcionado para a discussão da sua participação no transcorrer de todo o megaevento, com ênfase na experiência que mais havia os impressionado desde a cerimônia de abertura até o momento em que estavam sendo entrevistados (o que variou entre os dias 13 e 17 de outubro de 2018).

TERMO INDICIAL 1: “É COMO SE TIVESSE ASSISTINDO NA TELEVISÃO,”

Amparando-se pela prerrogativa de relatar as experiências para além do espaço da Vila, identificamos que a maior parte dos atletas entrevistados apontou uma correspondência entre tal experiência marcante/significativa com a dimensionalidade concernente às competições esportivas olímpicas, seja em virtude dos seus respectivos locais de disputa, seja em face do alto nível em que eles se defrontaram, tal como demonstrado nos excertos abaixo:

O que mais tem impressionado a mim são os locais de competição: muito bem organizados e tudo está muito bem colocado, porque cada coisa tem tudo, não falta nada, tem boa segurança, tudo é bem organizado e muito impressionante (Atleta da Venezuela).

Ah! o que mais me impressionou foi tipo o local da competição. [...] é como se tivesse assistindo na televisão, aí cê fala: “cara eu tô passando numa televisão, o mundo inteiro tá me vendo”. Tipo é uma experiência assim de outro mundo (Atleta do Brasil, grifo nosso).

Nada mais que os esportes, o nível de esportistas, que são muito bons. Eu sou do combate e me surpreende ver pessoas de minha idade lutando no Judô, Taekwondo, que são muito bons atletas, muito bom o nível. Parece nível de adulto e nós somos adolescentes e isso me parece, uau! (Atleta da Argentina).

Observe-se que ao serem convidados a relatarem (e, portanto, construírem) a sua experiência mais significativa nos YOG-2018, os jovens atletas lançam mão de aspectos mais pragmáticos, como as distintas organização e segurança atinentes ao seu local de competição (arena, pista, tatame...), bem como de determinadas características indiciais, com destaque para: “é como se eu tivesse assistindo na televisão” e “parece nível de adulto”. Não obstante, importa-nos indagar: afinal, o que há de comum entre esses aspectos pragmáticos e tais termos indiciais?

Com base na relatabilidade do grupo, é possível constatar que ambos os aspectos manifestam um contentamento e/ou uma surpresa por parte dos seus respectivos membros acerca da dimensão singular destes Jogos, algo mais ou menos equivalente aos conhecimentos prévios que eles possuíam a respeito dos JO convencionais, confluindo, portanto, para o termo indicial que emergiu com proeminência no processo analítico, a saber: “é como se tivesse assistindo na televisão”. Ora, este termo parece-nos corroborar a atitude comparativa que os atletas jovens demonstraram no que se refere à relação entre os YOG e os JO.

De acordo com Coulon (1995COULON, Alain. Etnometodologia. Petrópolis: Vozes, 1995.), ao tornar a sua experiência visível, relatável e compreensível, os atores sociais estão inexoravelmente mostrando os respectivos sentidos que estão sendo produzidos. Deste modo, nos parece significativo que apesar de os jovens atletas fazerem menção, por exemplo, a alguns aspectos pertencentes à Vila (como a convivência coletiva com outros atletas), esta tenha sido quase que imediata e irremediavelmente acompanhada por outros aspectos inerentes às suas referidas competições esportivas (como a valorização da disputa esportiva). Nesse sentido, os relatos descritos abaixo nos parecem representativos de como estes sujeitos mediavam aspectos ambivalentes:

Ah, muita coisa me impressionou! Eu não imaginava que era uma Vila, eu pensei que ia ficar cada um num hotel, num canto diferente, mas, tipo assim, a galera toda junta assim é uma emoção, é como se fosse uma olimpíada de verdade pra mim. A competição é tipo uma coisa de outro mundo. Tô considerando isso aqui [YOG-2018] como opção mais importante da minha vida até hoje. Pretendo conquistar mais títulos, chegar mais prá frente e disputar outros [JO] (Atleta do Brasil).

[...] quando não estamos competindo, não há rivalidade entre nós. Ou seja, convivemos [na YOV] com as mesmas pessoas e a competição ficou lá atrás, continuamos tendo as mesmas amizades, continua tudo igual, continuamos sendo amigos (Atleta da Bolívia).

Bom, a gente veio pros JO [da Juventude] com o pensamento tipo, assim, igual eu já fui pro sul-americano e mundial. A gente não imagina o quão grande é isso aqui. E acho que como a gente é jovem, às vezes, a gente nem se liga do que realmente tá acontecendo, então, tipo, eu meio que vim pensando: “ah vai ser só jogo”. Mas os JO é muito maior do que isso [...] Tem um valor maior. Então, a gente só percebe isso quando a gente tá aqui dentro (Atleta do Brasil).

Diante deste ponto, note-se que ao interpretar que os YOG-2018 assemelham-se aos JO “de verdade”, relatos como o do atleta brasileiro parece-nos representativo sobre como tais sujeitos lidam com a narrativa olímpica engendrada institucionalmente. Afinal, eles reconhecem que os JO comportam uma oportunidade singular para o compartilhamento de diferentes culturas, a vivência do respeito e entendimento mútuos entre eles, justificando, por exemplo, a “emoção”, ou o “valor” e a consequente comparação com os JO, seus valores e símbolos.

Desta forma, observe-se que, em alguma medida, tais relatos caminham ao encontro do propagado espírito olímpico, com a desejável associação entre esporte, cultura e educação, na tentativa de promover “[...] a compreensão mútua com um espírito de amizade, solidariedade e jogo limpo” (IOC, 2020, p. 11). Pode-se articular que tal premissa apresenta uma conformidade com a concepção do Barão Pierre de Coubertin - recriador dos JO da era moderna e fundador do MO - de que os JO [e, por tabela, os YOG] deveriam combinar de forma harmoniosa as competições esportivas com os elementos artísticos e culturais, preservando uma relação estreita com o modelo idealizado na antiguidade grega (MÜLLER; TODT, 2015MÜLLER, Nobert; TODT, Nelson Schneider (org.). Pierre de Coubertin - 1863-1937: Olimpismo - seleção de textos. Porto Alegre: EdiPUCRS, 2015.).

Tais dados indicam como os YOG podem funcionar como uma experiência de educação olímpica pela emulação da experiência olímpica real que ajuda a introjetar comportamentos e valores caros ao olimpismo nos jovens atletas, além de estimular neles o desejo de participar dos Jogos Olímpicos ‘de verdade’.

TERMO INDICIAL 2: “TEM QUE DEIXAR MUITAS COISAS PARA TRÁS”

Apesar de não deslegitimar as possibilidades culturais e valorativas (constatadas na conjunção dos relatos dos atletas), pode-se depreender que a dimensão esportiva e, consequentemente, a noção de competição (com os seus sacrifícios e as suas respectivas implicações), parece ser a parte mais significativa da relatabilidade dos jovens atletas entrevistados, conforme representado no seguinte relato:

Bom, minha experiência tem sido que a maioria das pessoas que estão aqui se esforçam e as pessoas que não estão aqui não compreendem o sacrifício que é para um atleta chegar aqui, que tem que deixar muitas coisas para trás, famílias, amigos... E quando está aqui, você interage com pessoas que têm feito o mesmo que você, sacrificam sua vida para dar tudo [no seu esporte]. Que você tem um tempo se preparando para isso e, às vezes, as coisas não resultam como você pensa, porque a vida não gira sempre na mesma direção. E é isso o que eu mais tenho aprendido aqui (Equador, grifo nosso).

Com efeito, constata-se na relatabilidade dos sujeitos entrevistados a compreensão de que eles compõem um grupo de atletas de elite - dentro da sua faixa-etária -, evidenciando a ‘noção de membro’ apresentada por Coulon (1995COULON, Alain. Etnometodologia. Petrópolis: Vozes, 1995.). Nesse contexto, vale a pena mencionar a revisão sistemática realizada por Souza e Tavares (2020SOUZA, Adriano Lopes; TAVARES, Otávio. A experiência educacional dos atletas nos Jogos Olímpicos da Juventude: uma revisão sistemática. Movimento, v. 26, p. e26039, 2020. DOI: https://doi.org/10.22456/1982-8918.97317
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) a respeito da participação dos jovens atletas de elite em diferentes edições dos Jogos supracitados. Neste estudo identificou-se que por se tratarem de atletas de elite em suas categorias, a dimensão esportiva - através do seu desempenho atlético nas competições - representou o aspecto mais proeminente na experiência destes sujeitos, relacionando-se mais notadamente a performance como uma dimensão das abordagens de educação olímpica.

Compreende-se, pois, que o esporte de alto rendimento parece impor aos jovens atletas uma relação de primazia no seu cotidiano, demandando-lhes um considerável acervo de tempo, esforço e energia em prol do efetivo desenvolvimento de suas carreiras esportivas, veiculando, desta forma, a ideia de que tais sujeitos necessitam “deixar muitas coisas para trás” típicas de um jovem não-atleta da mesma idade.

Aliás, a este respeito, vale a pena fazer menção ao estudo realizado por Bossle e Lima (2013BOSSLE, Fabiano; LIMA, Lucas Oliveira O. Entre a formação na escola e a formação como atleta de futebol profissional: prioridades e influências. Caderno de Educação Física e Esporte, v. 11, n. 1, p. 35-43, 2013. DOI: https://doi.org/10.36453/2318-5104.2013.v11.n1.p35
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), no qual observou-se que a maior parte dos jovens atletas entrevistados (do Esporte Clube Cruzeiro e do Grêmio Foot-ball Porto Alegrense) pensa essa relação entre a formação escolar e a formação como atleta de forma desigual, uma vez que esta última se sobrepõe sobre a primeira. Logo, os estudos escolares acabam representando-lhe uma espécie de plano B, para o caso do eventual insucesso numa investida em sua carreira profissional (neste caso, no futebol), ou, simplesmente, como um uma forma de assessorá-lo na concessão de entrevistas, na leitura de contratos, dentre outras atividades complementares (BOSSLE; LIMA, 2013BOSSLE, Fabiano; LIMA, Lucas Oliveira O. Entre a formação na escola e a formação como atleta de futebol profissional: prioridades e influências. Caderno de Educação Física e Esporte, v. 11, n. 1, p. 35-43, 2013. DOI: https://doi.org/10.36453/2318-5104.2013.v11.n1.p35
https://doi.org/10.36453/2318-5104.2013....
).

De modo sintomático, temos boas pistas para pensarmos que a competição esportiva representa o horizonte central da experiência de participação dos jovens atletas entrevistados nos YOG-2018, a ponto de considerá-la como a opção mais importante de suas vidas naquele momento, presumivelmente, até que se chegue a oportunidade da eventual disputa dos JO na versão adulta.

Em suma, com base na referida indicialidade, constata-se que ao participarem dos YOG-2018 os jovens atletas sul-americanos produzem sentidos que parecem ir ao encontro dos sentidos produzidos pelos próprios atletas que participam dos JO convencionais, cujo foco, grosso modo, perpassa por seu desempenho na competição esportiva. Segundo o estudo realizado por Tavares (1998) com os atletas brasileiros participantes dos JO de Atlanta 1996, por exemplo, identificou-se que, apesar de frequentarem as atividades culturais oferecidas e até as considerarem importantes, tais sujeitos as deixam sempre subjugadas às suas respectivas obrigações nas atividades esportivas, o que, para o autor, é perfeitamente lógico e esperado, por se tratarem de atletas de alto rendimento.

No caso dos atletas jovens que participaram dos YOG-2018, bem como de edições anteriores deste megaevento - embora estejam em um cenário diferenciado, marcado pela oferta de atividades sistematizadas pelo CEP -, verifica-se que a situação não é muito diferente. Segundo identificado por autores como Schnitzer et al. (2014SCHNITZER, Martin et al. Perception of the culture and education programme of the Youth Olympic Games by the participating athletes: a case study for Innsbruck 2012. International Journal of History of Sport, v. 31, n. 9, p. 1178-1193, 2014. DOI: https://doi.org/10.1080/09523367.2014.909810
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), a participação nas atividades do CEP (72%) era menos apreciada pelos atletas participantes dos YOG de Inverno de Innsbruck, quando comparada, por exemplo, com o simples fato de conviverem com outros atletas na YOV (93,3 %), com os passeios que fizeram pela referida cidade - capital de um dos estados da Áustria (93,2 %) e, em especial, com a participação nas suas competições esportivas (96,6 %), corroborando, portanto, com os dados aqui apresentados. Estes dados demonstram como o programa educacional e cultural (PEC) não é compreendido como parte dos YOG como uma experiência educacional holística, mas sim como algo complementar e não necessariamente articulado à experiência dos Jogos.

Peters e Schnitzer (2015PETERS, Mike; SCHNITZER, Martin. Athletes’ expectations, experiences, and legacies of the Winter Youth Olympic Games Innsbruck 2012. Journal of Convention & Event Tourism, v. 16, n. 2, p. 116-144, 2015. DOI: https://doi.org/10.1080/15470148.2015.1018656
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), por sua vez, acrescentam que a maioria dos jovens atletas entrevistados descreveu a sua experiência de participação nos YOG de Inverno de Innsbruck como sendo “ótima”, “maravilhosa”, “esmagadora e “impressionante”, especialmente, ao correlacioná-la com a competição esportiva e a cerimônias de abertura.

De fato, outros estudos também corroboram estes dados ao apontar que a dimensão esportiva representou o aspecto mais proeminente na experiência dos jovens atletas de elite que participaram de diferentes edições dos YOG (KRIEGER; KRISTIANSEN, 2016KRIEGER, Jörg; KRISTIANSEN, Elsa. Ideology or reality? The awareness of educational aims and activities amongst German and Norwegian participants of the first summer and winter Youth Olympic Games. Sport in Society, v. 19, n. 10, p. 1503-1517, 2016. DOI: https://doi.org/10.1080/17430437.2015.1133604
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; MACINTOSH; PARENT; CULVER, 2019). Assim, nos termos de Souza, Mataruna-Dos-Santos e Tavares (2019SOUZA, Adriano Lopes; MATARUNA-DOS-SANTOS, Leonardo José; TAVARES, Otávio. Os Jogos Olímpicos da Juventude: Buenos Aires, Cidade Olímpica. In: RUBIO, Kátia (org.). Do pós ao neo Olimpismo: esporte e movimento olímpico no século XXI. São Paulo: Kepos, 2019. p. 231- 246., p. 234), os referidos atletas jovens acabam utilizando tal evento “[...] como uma porta de preparação para os Jogos Olímpicos convencionais”. Todavia, a competitividade, o desejo de vencer, sempre idealisticamente condicionados por uma ética positiva do fair-play, são objetos de um aprendizado experiencial, não sistematizado que reforçam a noção de que os YOG podem ser uma experiência educacional que transcende seu programa educacional específico.

TERMO INDICIAL 3: “NÃO IMPORTA SE VOCÊ GANHOU OU NÃO, VOCÊ É DOS JOGOS”

Com efeito, ainda no que se refere ao âmbito da competição esportiva, além do alto nível dos competidores, da organização e da estrutura dos espaços, também chama a atenção, nos relatos dos atletas contemplados neste estudo, a importância atribuída por eles para algumas nuances correlatas à referida dimensão esportiva, tal como ilustrado nos fragmentos abaixo:

Tipo quando a gente foi jogar mesmo, que a gente foi entrar na quadra e falam seu nome, sabe? Você, nossa! se sente muito importante. Eu me senti muito importante naquela hora, foi uma experiência incrível (Atleta do Brasil).

Como as pessoas te olham nas ruas, como se você fosse famoso [...] e te pedem fotos, camisetas e coisas assim. [...] Ah! você se sente especial, te sentes valorizada. Não importa se você ganhou ou não, você é dos Jogos [YOG-2018] então... como quando estávamos nas ruas indo para os Jogos e os policiais fazem a escolta, parece que somos importantes (risos) (Atleta do Uruguai, grifo nosso).

Observe-se que o fato de ouvir seu nome sendo anunciado antes de entrar na arena, e/ou ser escoltado pelos policiais em direção aos espaços de competição pode resultar em aspectos triviais para alguns atletas já consagrados e, no entanto, parecem ter grande significado para os atletas jovens. Afinal, tais fatos estão carregados de um certo prestígio, com o qual eles ainda não estão totalmente acostumados, visto que ainda estão em processo de busca por uma maior notoriedade em seus respectivos esportes.

Sintomaticamente, conforme verificado nas produções discursivas dos nossos entrevistados, pode-se constatar que isso se estende, de maneira especial, para o estabelecimento de uma relação capaz de deixá-los particularmente emocionados. Trata-se da sua relação com o conjunto de torcedores/espectadores, remetendo-nos para os significados atribuídos ao carinho e ao reconhecimento provenientes dos mesmos, seja nas ruas - tal como identificado no relato da atleta uruguaia, após ser reconhecida e tietada -, seja nos referidos espaços de competição, tal como ilustrado nos seguintes relatos:

Para mim, foi o recebimento das pessoas, subir no tatame onde foi a competição e a torcida lá, isso foi o que mais me impressionou dos jogos. O reconhecimento do público (Atleta da Argentina).

Sim, porque quando estávamos saindo, se aproximaram dois [torcedores] argentinos e falaram que tinham ido ver nosso jogo e pediram: “por favor, nos dá tua camisa”. E eu falei que não tinha como dar a eles, e me falaram que iriam até o último jogo para nos ver jogar. [...] bom, é muito emocionante ver que pessoas de outros países estão aí para te apoiar e animar (Atleta da Bolívia).

As produções discursivas dos referidos sujeitos podem oferecer alguns indícios para pensarmos sobre a configuração do ‘ser atleta’ na vida destes jovens. É muito significativo para o jovem atleta o feedback que ele recebe do público presente, servindo como um grande incentivo para que ele dê continuidade no esporte de alto rendimento. Aliás, este feedback parece-nos ser ainda mais emblemático quando envolve torcedores de outras nacionalidades, como no exemplo relatado pela atleta boliviana em relação aos torcedores locais. Ora, no contexto esportivo, sabe-se que o uniforme utilizado por um atleta olímpico no momento da sua competição tem uma grande representatividade para ele e para aqueles que torcem junto, especialmente, por este trajar as cores da bandeira nacional que defende. Logo, o ato de alguém ‘pedir a sua camisa’ é composto por uma determinada indicialidade que pode reificar uma admiração, quiçá, uma relação de idolatria por parte de quem o fez.

Neste último ponto, pode-se depreender, portanto, que tais participantes dos YOG-2018 constroem sentidos que se apresentam de forma alegórica como uma certificação de que os seus esforços/sacrifícios para chegar até ali, de fato, estavam valendo a pena. Porquanto, observa-se que, em última instância, a experiência que mais os marcou independe até mesmo dos seus respectivos resultados esportivos - isto é, se medalhistas ou não -, haja vista que eles se sentiram especiais, valorizados, prestigiados simplesmente por pertencerem a um grupo de excelência esportiva, tal como se estivessem participando de uma “olimpíada de verdade”.

Tais dados indicam uma mudança na vida destes jovens que torna cada vez menor distância entre a experiência atlética e a experiência do mundo-da-vida. Neste processo, adentra-se na pressuposição ainda não totalmente bem estudada de que os valores (olímpicos) do esporte passam a ser parte também os valores do mundo da vida dos sujeitos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os Jogos Olímpicos da Juventude foram criados com uma certa intencionalidade educacional. Todavia, boa parte dos estudos até agora distinguia os programas de educação e cultura como a dimensão educativa dos Jogos, sem levar em consideração que a dimensão sistematizada da educação olímpica é apenas parte de suas abordagens educacionais. De fato, a experiência da vivência, da competição e da aproximação com outras dimensões da vida social dos indivíduos parecem ser a maior parte do que deveria ser a educação olímpica.

Com base no aporte teórico-metodológico da etnometodologia, foi possível captar algumas pistas a respeito dos sentidos construídos por atletas sul-americanos sobre as experiências que se apresentaram como sendo mais marcantes e significativas para eles no contexto dos YOG-2018 e desta maneira compreender os próprios Jogos como uma experiência educativa imersiva.

Os resultados indicam que estes Jogos reificam o saber comum e socialmente compartilhado entre os referidos sujeitos como membros de um grupo de elite esportiva - dentro da sua faixa-etária -, veiculado, sobretudo, pela identificação da dimensão relativamente proporcional à versão adulta dos JO, incluindo seus símbolos, ritos, valores e histórias Em contas finais, embora sejam oriundos de lugares diversos e, em alguns casos, falem línguas diferentes, observa-se que estes sujeitos compartilham experiências no contexto temporal e espacial dos YOG-2018. Apesar de ser evidentemente diversificada, a experiência nos YOG-2018 parece ter como balizador central a respectiva competição olímpica, uma vez que ela está mais diretamente ligada ao desenvolvimento de suas carreiras esportivas. Neste contexto, ser um atleta olímpico pressupõe a aquisição de um conjunto de características físicas, psicossociais, morais e cognitivas.

Apesar de serem originários de diferentes lugares e, em alguns casos, falarem línguas diferentes, eles compartilham um conjunto de sonhos, objetivos e certos valores nos contextos temporais e espaciais dos Jogos Olímpicos da Juventude de 2018, qualificando-os assim como membros de um certo grupo de excelência. Portanto, independentemente de suas pretensões por medalhas olímpicas, eles participaram desses jogos com o objetivo de dar o melhor de si em suas respectivas competições esportivas, como se estivessem participando de uma “verdadeira Olimpíada”. Dessa forma, existe uma certa unidade em meio à diversidade.

Finalmente, se a educação olímpica possui quatro dimensões: a orientada ao conhecimento, a orientada à experiência olímpica, a orientada à performance esportiva e a orientada ao mundo-da-vida (NAUL, 2008NAUL, Roland. Olympic Education. Maidenhead: Meyer & Meyer, 2008.), podemos afirmar que os sentidos construídos pelos jovens atletas para suas experiências nos ajudam a compreender os YOG como uma experiência formativa efetiva.

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  • LICENÇA DE USO

    Este é um artigo publicado em acesso aberto (Open Access) sob a licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional (CC BY 4.0), que permite uso, distribuição e reprodução em qualquer meio, desde que o trabalho original seja corretamente citado. Mais informações em: https://creativecommons.org/licenses/by/4.0
  • 1
    Olympische Erziehung e Olympische Bildung no original alemão.
  • 2
    Outras duas edições precederam os Jogos disputados na capital argentina, as quais foram sediadas nas cidades de Cingapura (2010) e Nanquim (2014), em Singapura e China, respectivamente. Ressalta-se, ainda, que também foram realizadas duas edições dos YOG de Inverno, sediadas em Innsbruck (2012) e Lillehammer (2016), na Áustria e Noruega, respectivamente.
  • FINANCIAMENTO

    O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001 e a tradução foi financiada pela PROPESQ/UFNT, Edital n. 071/2021
  • ÉTICA DE PESQUISA

    A pesquisa foi submetida e aprovada pelo Comitê de Ética de Pesquisa (CEP) da Universidade Federal do Espírito Santo - Campus Goiabeira, protocolo n. 99991018.0.0000.5542

Editado por

RESPONSABILIDADE EDITORIAL

Alex Branco Fraga *, Elisandro Schultz Wittizorecki *, Mauro Myskiw *, Raquel da Silveira *
*Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Escola de Educação Física, Fisioterapia e Dança, Porto Alegre, RS, Brasil.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Out 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    20 Maio 2022
  • Aceito
    16 Jun 2023
  • Publicado
    22 Ago 2023
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