A DANÇA COMO TEMA DA PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO EM EDUCAÇÃO FÍSICA: UMA ANÁLISE BIBLIOMÉTRICA EM PERIÓDICOS NACIONAIS

LA DANZA COMO TEMA DE PRODUCCIÓN DE CONOCIMIENTO EN EDUCACIÓN FÍSICA: UN ANÁLISIS BIBLIOMETRICO EN EL PERIÓDICO NACIONAL

Resumo

O objetivo deste estudo de revisão foi identificar e analisar as publicações de periódicos nacionais, no formato de artigos científicos, sobre a dança enquanto tema da produção do conhecimento em Educação Física. Para tanto, realizou-se uma busca dos estudos publicados em cada volume e número dos periódicos no período de 2010 a 2021. Dentre os 200 estudos investigados, a maior parte pertencia à subárea Sociocultural, na qual o eixo sul-sudeste obteve destaque quanto ao vínculo institucional dos principais autores identificados. Nas colaborações internacionais predominaram as publicações com pesquisadores de países da Comunidade Europeia. Conclui-se que, embora a dança seja amplamente rica e haja um aumento de estudos em relação ao decênio anterior, é necessário acrescer seu lastro na produção de conhecimento da área, visando ainda mais pesquisas que aprofundem seu arcabouço teórico, a fim de contribuir para a valorização desta enquanto área de conhecimento legítimo da Educação Física.

Palavras-chave:
Dança; Educação Física; Indicadores de produção científica.

Resumen

Este estudio de revisión tuvo como objetivo identificar y analizar las publicaciones de revistas nacionales, en forma de artículos científicos, sobre la danza como tema de producción de conocimiento en Educación Física. Para ello, se realizó una búsqueda de estudios publicados en cada volumen y número de revistas en el período de 2010 a 2021. Entre los 200 estudios investigados, la mayoría pertenecía a la subárea Sociocultural, en la que se destacó el eje sur-sureste en términos de vinculación institucional de los principales autores identificados. También se identificó la cooperación internacional con los países de la Comunidad Europea. Concluimos que, si bien la danza es inmensamente rica y hay un aumento de estudios en relación a la década anterior, es necesario incrementar su lastre en la producción de conocimiento en el área, apuntando aún más a investigaciones que profundicen su marco teórico, con el fin de contribuir a la valorización de esta como área legítima del conocimiento de la Educación Física.

Palabras clave:
Baile; Educación Física; Indicadores de producción científica.

Abstract

This review study aimed to identify and analyze the publications of Brazilian journals, in the format of scientific articles, on dance as a theme of knowledge production in Physical Education. For such, a search was carried out for the studies published in each volume and issue of the journals from 2010 to 2021. Among the 200 studies investigated, most belonged to the Sociocultural subfield, in which the south-southeast axis stood out in terms of the institutional link of the main authors identified. In the international collaborations, publications with researchers from European Community countries predominated. It was concluded that, although dance is widely rich and there has been an increase in studies relative to the previous decade, it is necessary to add its ballast in the production of knowledge of the field, aiming at even more research that deepens its theoretical framework so as to contribute to its valorization as a legitimate field of knowledge in Physical Education.

Keywords:
Dancing; Physical Education; Scientific publication indicators.

1 INTRODUÇÃO

A revisão da produção coletiva compreende uma importante estratégia indispensável ao progresso e consolidação científica de um determinado campo de conhecimento. Assim, a apreciação crítica, compilatória e sintetizadora dos dados tem se revelado mais exequível por meio do exame criterioso acerca dos conhecimentos produzidos e veiculados, possibilitando a identificação das tendências e características de uma determinada área (JOB, 2018; GOMES et al., 2018).

A análise da produção do conhecimento em dança na Educação Física, ainda que muito se tenha avançado em relação às publicações nos periódicos nacionais (TREVISAN; SCHWARTZ, 2011; MUGLIA-RODRIGUES; CORREIA, 2013; FERREIRA et al., 2016; FRAGOSO; BRASILEIRO; GEHRES, 2020), revela um cenário que insiste em negligenciar o potencial epistemológico e profissional que a dança tem a oferecer. Assim, se faz necessária uma apropriação mais legítima e aprofundada da dança, enquanto área de conhecimento e como conhecimento clássico da Educação Física (MARQUES, 2003; BRASILEIRO; NASCIMENTO, 2017; FRAGOSO; BRASILEIRO; GEHRES, 2020), nomeadamente nos âmbitos da formação, atuação e produção de saberes por parte dos professores, pesquisadores e demais profissionais da área.

A emergência do seu debate e problematização justifica-se também pela reduzida quantidade e carga horária de disciplinas de dança oportunizadas nos currículos dos cursos de licenciatura e bacharelado em Educação Física (ALENCAR et al., 2022). Além de perpassar pela falta de reconhecimento das suas inúmeras dimensões e possibilidades críticas, históricas, educacionais, estéticas, culturais e criativas, incide nos baixos percentuais verificados nas produções acadêmico-científicas da área, considerando-se as outras temáticas exploradas pela Educação Física (MIRANDA; EHRENBERG, 2017; UGAYA; GALLARDO, 2018; FRAGOSO; BRASILEIRO; GEHRES, 2020).

Um aspecto a ressaltar é que esforços foram feitos no sentido de desvelar alguns aspectos estruturantes quanto à produção do conhecimento científico na dança, especificamente na área da Educação Física. Devido à sua complexidade e abrangência, o campo de estudos sobre a dança apresenta lacunas que ainda necessitam novos direcionamentos e discussões por parte do meio acadêmico (TREVISAN; SCHWARTZ, 2011; FERREIRA et al., 2016). Para tanto, reforça-se a necessidade da elaboração de uma produção científica que explore a multidimensionalidade do fenômeno dança em âmbitos inter e multidisciplinares, levando a uma maior aproximação acadêmica e profissional entre os protagonistas da Dança e da Educação Física (MUGLIA-RODRIGUES; CORREIA, 2013; FRAGOSO; BRASILEIRO; GEHRES, 2020). Além destes, outras contribuições têm apresentado em seu bojo argumentativo a discussão sobre as interações entre produção científica, formação inicial, saberes docentes e Educação Física (SILVA; SCHWARTZ, 2000; BRASILEIRO, 2013; MIRANDA; EHRENBERG, 2017; UGAYA; GALLARDO, 2018).

Apesar da importância do debate acerca do campo científico, é flagrante a lacuna de estudos que apontem o real e atual panorama da temática na área da Educação Física. Nesse movimento de analisar, refletir e problematizar, este artigo procurou responder a seguinte questão: Como a produção científica em Educação Física nos periódicos nacionais vem tematizando a Dança? Para tanto, optou-se pela aplicação de métodos quantitativos na busca por uma avaliação da produção de artigos científicos, a qual exprime o foco central das análises bibliométricas e se demonstra como uma excelente ferramenta para conhecer o estado da arte de uma determinada área de conhecimento, bem como auxilia na verificação dos aspectos relativos à comunicação científica e tecnológica em recortes específicos (VANZ; STUMPF, 2010; JOB, 2018). Assim, o presente estudo teve como objetivo identificar e analisar as publicações de periódicos nacionais, no formato de artigos científicos, sobre a dança enquanto tema da produção do conhecimento em Educação Física, publicadas no período de 2010 a 2021.

2 MÉTODO

Trata-se de um estudo de revisão sistemática, de cunho quantitativo e exploratório, realizado a partir de procedimentos sistemáticos para a busca e seleção de estudos (VAN TULDER et al., 2003; JOB, 2018), bem como do emprego de indicadores bibliométricos, especificamente as frequências e número de publicações por ano e tendências da área (VANZ; STUMPF, 2010; ANDRADE et al., 2013).

Os dados da produção de conhecimento sobre dança na Educação Física foram extraídos em periódicos editados no Brasil, com política de acesso livre e que estivessem indexados, no mínimo, nas bases Scientific Electronic Library Online (SciELO Brasil) e Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS). Para tanto, os periódicos consultados para a construção do banco de dados foram: Journal of Physical Education (JPhysEduc); Movimento; Motrivivência; Motriz: Revista de Educação Física; Revista Brasileira de Atividade Física e Saúde (RBAFS); Revista Brasileira de Ciências do Esporte (RBCE); Revista Brasileira de Ciência e Movimento (RBCM); Revista Brasileira de Cineantropometria e Desempenho Humano (RBCDH); Revista Brasileira de Educação Física e Esporte (RBEFE); Revista Brasileira de Medicina do Esporte (RBME) e Pensar a Prática.

A busca dos artigos foi realizada em cada volume e número dos periódicos selecionados e disponíveis no período de 2010 a 2021. Na seleção dos artigos buscou-se identificar um ou mais termos relacionados ao tema no título, e/ou no resumo, e/ou nas palavras-chave, nomeadamente: Dança; Dançarinos; Bailarinos; Dança Escolar; Dança de Salão; Dança Social; Dança Clássica; Dança Contemporânea; Dança Moderna; Dança de Rua; Danças Urbanas; Dança do Ventre; Dança Tribal; Danças Populares; Danças Folclóricas; Dança Livre; Danças Circulares; Forró; Samba; Bolero; Salsa; Tango; Zouk; Zouk Brasileiro; Bachata; Kizomba; Rock; West Coast Swing; Ballet; Jazz; Hip-hop; Street Dance; Stiletto; e/ou seus correspondentes na língua inglesa: Dance; Dancers; School Dance; Ballroom dance; Social Dance; Classical dance; Contemporary Dance; Modern Dance; Street Dance; Urban Dances; Belly Dance; Tribal Dance; Popular Dances; Folk Dances; Free Dance; Circle Dances; Forró; Samba; Bolero; Salsa; Tango; Zouk; Brazilian Zouk; Bachata; Kizomba; Rock; West Coast Swing; Ballet; Jazz; Hip hop; Street dance; Stiletto.

Como critérios de inclusão foram considerados todos os estudos empíricos/artigos originais, disponíveis na íntegra, e que tematizavam, de algum modo, a dança na área da Educação Física. Os artigos de opinião e as cartas abertas foram excluídos das análises. A busca inicial resultou em 259 artigos, os quais tiveram as informações organizadas em uma planilha do Microsoft Excel, identificando-se o periódico, o ano de publicação, o título do artigo, o objetivo do estudo, a subárea do conhecimento, os principais autores, seus respectivos vínculos institucionais e as regiões do país da instituição de vínculo. Embora a ordem dos autores de um artigo científico não siga uma regra única no Brasil, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) tem considerado nas avaliações da produção bibliográfica o primeiro, o segundo e o último autor. Assim, considerando que nenhum dos periódicos investigados apresentou exigências editoriais ditando a autoria listada em ordem alfabética, optou-se pela identificação nas análises somente do primeiro, segundo, penúltimo, último autor e o autor correspondente.

Os procedimentos de busca e seleção dos artigos foram conduzidos de forma independente por três investigadoras e, em um segundo momento, houve o cruzamento das informações para assegurar os critérios de elegibilidade dos dados. A leitura na íntegra permitiu aos investigadores identificar que, embora um ou mais termos relacionados à dança fossem mencionados, não havia consistência com o objetivo geral e/ou objetivos específicos nos artigos selecionados. Em alguns casos, o termo identificado inicialmente fugia à discussão, não adentrando o debate central com a profundidade almejada no objetivo desta revisão. Para obtenção do consenso necessário nas análises decorrentes deste processo (GOMES; CAMINHA, 2014), realizou-se uma reunião com as três investigadoras para análise das discrepâncias, a qual resultou na exclusão de 59 artigos.

Quanto à classificação das subáreas do conhecimento em Educação Física, a divisão dos artigos considerou as seguintes categorias: 1) Pedagógica - caracterizada pelos estudos com foco na Pedagogia; Educação Física Escolar, Formação Inicial e/ou Continuada, Desenvolvimento Profissional, Ciclos, Carreira e/ou Identidade Docente, Processo Ensino e Aprendizagem nos diferentes contextos de atuação do profissional de Educação Física, Currículo, Conteúdos e Avaliação; 2) Sociocultural - composta por estudos com enfoque na História, Sociologia, Antropologia, Filosofia, Ética e Estética do Movimento Humano, Educação Física, Esporte e Práticas Corporais; 3) Comportamento Motor - reunindo estudos acerca do Controle Motor, da Aprendizagem Motora, do Desenvolvimento Motor e da Psicologia do Esporte no Movimento Humano, Educação Física, Esporte e Práticas Corporais; 4) Atividade Física e Saúde - englobando estudos voltados para o Estilo e/ou Qualidade de Vida, Atividade Física e Exercício Físico para população geral ou grupos com condições clínicas especiais; 5) Biodinâmica - marcada por estudos sobre a Biomecânica, a Cineantropometria, a Bioquímica do Exercício e a Fisiologia do Exercício. Ressalta-se que, apesar da respectiva classificação permitir a localização das áreas e territórios preponderantes e atualizados no campo acadêmico e profissional da Educação Física (LAZZAROTTI FILHO et al., 2012; MUGLIA-RODRIGUES; CORREIA, 2013; CORRÊA et al., 2017), a utilização dessa estrutura não é consensual, mas fruto de distintos embates epistemológicos.

3 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

A consulta realizada nos onze periódicos selecionados resultou em 200 artigos que tematizam sobre a Dança na Educação Física, os quais foram publicados no período de 2010 a 2021. Observa-se uma média de 18 artigos/ano no período investigado, oscilando entre 11 (2016) e 23 (2017) artigos (Gráfico 1). É possível observar um aumento significativo em relação ao decênio anterior, quando identificado por Muglia-Rodrigues e Correia (2013) a produção de 67 (2,84%) artigos relativos ao fenômeno/tema Dança.

Embora não tenha sido possível identificar fatores e/ou estudos que possam esclarecer a maior frequência observada em 2017, um segundo pico com maior frequência de publicações foi identificado no ano de 2020, reforçando que a divulgação científica, enquanto campo de conhecimento e estratégia de ação, vem ganhando importância crescente no mundo. Isso ocorre, em parte, como resposta intuitiva dos cientistas aos movimentos da sociedade contemporânea e a necessidade de tornar o conhecimento científico mais acessível, mas também e principalmente em virtude da compreensão dos interesses políticos e econômicos relacionados às evidências científicas, sobretudo neste período pós pandemia (MANSUR et al., 2021).

Gráfico 1
Evolução quantitativa das publicações em dança na área da Educação Física de acordo com o ano.

Os resultados revelaram que a revista Movimento concentrou o maior quantitativo de artigos publicados (23%) no período de 2010-2021 (Tabela 1), seguida da Pensar a Prática (22,5%) e da Motrivivência (8,5%).

Tabela 1
Número de artigos publicados sobre dança nos periódicos investigados ao longo dos anos.

Revista	2010	2011	2012	2013	2014	2015	2016	2017	2018	2019	2020	2021	Total	%
Movimento	5	3	3	7	1	4	4	8	2	3	4	2	46	23,0
Pensar a Prática	-	1	5	3	4	6	2	4	5	6	5	4	45	22,5
Motrivivência	-	-	-	1	1	1	-	2	2	3	6	1	17	8,5
Motriz	4	3	3	1	-	-	-	1	2	-	2	-	16	8,5
RBME	2	1	-	1	2	1	1	2	-	1	2	3	16	8,0
RBCM	2	2	1	1	1	1	-	2	2	1	1	-	14	7,0
RBEFE	-	2	-	1	1	1	2	1	2	2	1	-	13	6,5
RBCE	-	3	2	-	1	-	2	1	-	1	-	2	12	6,0
JPhysEduc	-	2	-	2	2	1	-	-	-	1	1	-	9	4,5
RBAFS	1	1	2	-	1	1	-	1	-	-	-	1	8	4,0
RBCDH	1	1	-	1	-	-	-	1	-	-	-	-	4	2,0
Total	15	19	16	18	14	16	11	23	15	18	22	13	200	100

Fonte: dados da pesquisa (2022).

Nessa série histórica, as revistas Movimento e Pensar a Prática apresentaram percentuais próximos, o que pode estar associado ao convite formulado para o debate plural e interdisciplinar na produção do conhecimento pertinente ao campo acadêmico-científico da Educação Física, no que tange aos aspectos pedagógicos, históricos, políticos, culturais e filosóficos fomentados pelos periódicos. No entanto, o destaque da revista Movimento parece estar associado ao seu reconhecimento na comunidade científica, corroborado pelos índices relativos ao fator de impacto nas bases de referência internacional (JCR: 0,523; SJR: 0,264; Índice h5: 18). Dentre os demais fatores que parecem favorecer a maior demanda de publicações na temática investigada neste periódico, evidencia-se o acesso aberto, a indexação em bases de referência internacional, a possibilidade de publicação em quatro idiomas (português, espanhol, inglês e francês), bem como a periodicidade quadrimestral entre os anos de 2009 e 2018.

Sobre o contexto investigado, as regiões sul e sudeste apresentaram-se como eixos centrais para o desenvolvimento de pesquisas relacionando a temática Dança na área da Educação Física no território nacional. O predomínio das regiões coaduna com o cenário exposto quanto às instituições de ensino superior de vínculo dos autores identificados, ao passo em que das três instituições que publicaram mais de 32 artigos sobre dança nos períodos investigados, duas estão localizadas no estado de Santa Catarina (UDESC e UFSC), e uma no estado de São Paulo (UNESP) (Figura 1).

Figura 1
Principais instituições nacionais no cenário de publicações científicas na temática dança.

Resultados semelhantes são encontrados em estudos de revisão com diferentes temáticas investigativas acerca da produção do conhecimento sobre a dança (MUGLIA-RODRIGUES; CORREIA, 2013; FERREIRA et al., 2016), o corpo (GOMES et al., 2018), e a Educação Física de maneira geral (WIGGERS et al., 2015; CORRÊA et al., 2017). Panorama que pode estar associado ao elevado número de grupos de pesquisas na subárea sociocultural identificados no eixo sul-sudeste (SCHMITT; BATAGLION; MAZO, 2020), assim como a maior oferta de cursos de graduação e pós-graduação stricto sensu em Educação Física (MANTA et al., 2020). Além disso, a literatura aponta o elevado número de instituições de ensino superior cadastradas na região sudeste, representando mais da metade da participação do produto interno bruto do país, o que impacta na concentração dos grupos de pesquisa nas regiões do país com maior índice socioeconômico (OLIVEIRA et al., 2015).

Nesse sentido, um total de 112 instituições de ensino superior (81 nacionais e 31 internacionais) foram identificadas nas publicações. As principais instituições de ensino superior nacionais que publicaram na temática dança são apresentadas na Figura 2. Das 81 IES nacionais, ao considerar a organização acadêmica, destaca-se que 25 eram universidades, e quanto à sua natureza administrativa, 23 públicas (92%) e duas privadas (8%). Do total, sete IES brasileiras apresentaram mais de 15 publicações, sendo duas do estado de Santa Catarina (Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC e Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC), duas de São Paulo (Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP e Universidade Estadual Paulista - UNESP), uma do Paraná (Universidade Estadual de Maringá - UEM), uma do Espírito Santo (Universidade Federal do Espírito Santo - UFES) e uma do Rio Grande do Sul (Universidade Federal Rio Grande do Sul - UFRGS). Das demais 56 IES identificadas nos estudos que compuseram a amostra, 26 publicaram apenas um estudo (46,4%), 16 dois estudos (28,7%), sete publicaram três estudos (12,5%), quatro publicaram quatro estudos (7,1%) e três publicaram cinco estudos (5,3%). Outros 15 vínculos foram identificados envolvendo Prefeituras (20%), Secretarias de Educação (26,6%) e Redes públicas (13,3%) e particulares (40%) de ensino.

No que diz respeito às 31 IES internacionais identificadas, 22 (70,9%) estavam vinculadas à publicação de apenas um estudo, 5 (16,1%) de dois estudos, e 4 (12,9%) à publicação de mais de três estudos. A Universidade do Porto e a Universidade de Lisboa, ambas localizadas em Portugal, totalizaram 10 publicações, seguidas da Universidad Nacional Autónoma de México com cinco estudos e da Universidad de Málaga, na Espanha, com três estudos, as quais figuraram-se entre as principais instituições internacionais de ensino superior envolvidas nas publicações da temática investigada em revistas nacionais (Figura 2).

Figura 2
Principais instituições estrangeiras no cenário de publicações científicas na temática dança.

Ao identificar três instituições de ensino superior pertencentes à Comunidade Europeia, duas em Portugal e uma na Espanha, acredita-se que a reforma provocada pelo Processo de Bolonha possa ter estimulado a internacionalização das instituições de ensino e pesquisa para além das fronteiras europeias, estendendo e aprofundando as relações de suas universidades com as instituições e sistemas latino-americanos (DIAS SOBRINHO, 2007). Nesse sentido, cabe observar que o destaque de Portugal dentro do contexto científico nacional também pode ocorrer devido à congruência do idioma da língua portuguesa, fato que viabiliza a conexão e desenvolvimento de pesquisas e projetos com pesquisadores, professores e profissionais brasileiros da dança, bem como a produção, a submissão e a publicação de estudos nos periódicos nacionais.

Considerando os demais estudos de revisão em dança (TREVISAN; SCHWARTZ, 2011; MUGLIA-RODRIGUES; CORREIA, 2013; FERREIRA et al., 2016; FRAGOSO; BRASILEIRO; GEHRES, 2020), apenas o estudo de Ferreira et al. (2016) menciona a participação de pesquisadores estrangeiros nas produções científicas no contexto nacional. Em sua análise também revela-se vínculo procedente de Portugal, porém considerando apenas os dados da primeira autoria, diferente deste que investigou o vínculo institucional dos principais autores de uma publicação. Sabendo que a cooperação na produção científica entre as instituições nacionais e internacionais favorece a ampliação dos diferentes campos reflexivos, possibilita novos diálogos, pensa novas formas para a resolução de problemas e auxilia no compartilhamento dos conhecimentos, soluções e experiências, salientamos que o esforço para o desenvolvimento de estudos entre grupos de pesquisas de diferentes nacionalidades enriquece e fortalece a internacionalização na produção científica em dança.

Quanto à frequência de produção sobre dança de acordo com o ano e as suas subáreas, a maior parte dos estudos pertencia à subárea Sociocultural (40%), seguida pela Pedagógica (24%), Atividade Física e Saúde (23,5%), Biodinâmica (7%) e Comportamento Motor (5,5%). Ao considerar a frequência das publicações ao longo dos anos (Gráfico 2), observa-se que a subárea Sociocultural obteve o maior número de publicações nos anos de 2013 (12,5%) com 10 estudos, a subárea Pedagógica em 2019 (14,5%) com 7 estudos, e a Atividade Física e Saúde em 2011(23,4%) com 7 estudos.

Gráfico 2
Evolução quantitativa das publicações em dança na área da Educação Física de acordo com as subáreas.

A elevada concentração de estudos sobre dança na subárea Sociocultural e Pedagógica foi igualmente verificada em estudo precedente (MUGLIA-RODRIGUES; CORREIA, 2013) e justifica-se pela multidimensionalidade do fenômeno, que suscita um olhar ampliado a partir das dimensões históricas, sociológicas, antropológicas, estéticas, econômicas, semióticas, entre outras. As mudanças curriculares decorrentes do marco regulatório de 1987, no qual os aspectos sócio filosóficos ganharam notoriedade na área da Educação Física (CORRÊA et al., 2017), parecem refletir no panorama de pesquisa sobre a dança no contexto brasileiro, impactando no aumento de publicações nas áreas Sociocultural e Pedagógica e na diminuição e/ou estabilidade de estudos na área da Atividade Física e Saúde, Comportamento Motor e Biodinâmica.

No que se refere à distribuição dessas produções em relação ao vínculo regional dos pesquisadores e às subáreas do conhecimento (Gráfico 3), é possível verificar que o eixo sul-sudeste foi o que apresentou o maior número de publicações, com destaque, na região Sul, para a subárea Atividade Física e Saúde (19,2%), seguida da Sociocultural (12,4%). Na região Sudeste ocorre o inverso, a maior concentração de estudos está na subárea Sociocultural (37,2%), seguida da Atividade Física e Saúde (8,1%).

Gráfico 3
Distribuição das publicações em dança entre 2010 e 2021 de acordo com o vínculo regional dos pesquisadores relacionados à subárea do conhecimento.

A elevada produção do conhecimento em dança a partir da subárea Sociocultural acompanha as transformações paradigmáticas no campo da Educação Física, com a expansão de linhas e grupos de pesquisa na área das Ciências Humanas e Sociais nos Programas de Pós-Graduação, em especial, registrada nas regiões sul-sudeste, bem como o movimento migratório dos pesquisadores da Educação Física para outros campos de conhecimento (HALLAL; MELO, 2017). No caso da dança, este panorama se amplia pela sua ligação com os temas pertinentes à Educação e Artes (FRAGOSO; BRASILEIRO; GEHRES, 2020). Já a predominância de estudos na região sul relacionados à subárea Atividade Física e Saúde pode ser justificada pela quantidade de grupos e linhas de pesquisa vinculadas aos Programas de Pós-Graduação na área de Educação Física com ênfase nas Ciências da Saúde (MANTA et al., 2020). Ademais, estes resultados podem ter relação com autores/as que apresentaram o maior quantitativo de artigos identificados nesta revisão e investigam a dança a partir dos indicadores da saúde.

Com relação às 716 palavras-chave apresentadas nas publicações científicas da temática investigada (Figura 3), verificou-se que as mais citadas nos estudos foram "Dança" (19,9%), "Educação Física" (4,8%), "Cultura" (1,9%), "Pessoas com deficiência" (1,6%), "Corpo" (1,5%) e "Saúde" (1,3%). Outras palavras-chave como "Imagem Corporal" e "Transtornos Alimentares" aparecem na sequência (1,2%), seguidas das palavras "Movimento", "Ensino", "Educação", "Ballet Clássico"e "Exercício Físico" (1,1%).

Figura 3
Palavras-chave apresentadas em publicações científicas na temática de dança.

Embora não analisadas estatisticamente a partir das subáreas do conhecimento, quando consideradas a partir desta lógica percebe-se que as palavras-chave identificadas com maior frequência parecem se aproximar da subárea Atividade Física e Saúde, sobretudo se considerarmos que das 12 palavras evidenciadas, seis nos inclinam a esta associação (corpo; saúde; imagem corporal; transtornos alimentares, movimento e exercício físico). No entanto, nos cabe ainda evidenciar quanto às palavras-chave apresentadas nas publicações científicas na temática dança, que as palavras "ensino" e "educação" aparecem com menor percentual quando comparadas às demais, assim como as palavras "escola", "educação física escolar", "currículo", dentre outras que poderiam corroborar com as subáreas Sociocultural e Pedagógica. Apesar dos esforços empregados no que tange ao debate da dança enquanto área do conhecimento legítima na Educação Física, a baixa preocupação em relação ao entendimento da sua estrutura, do seu significado, do seu valor e da sua importância em termos educacionais gerais contribuem para que seja uma problemática emergente no que diz respeito ao ensino e compreensão (BRASILEIRO; NASCIMENTO FILHO, 2017; ALENCAR et al., 2022).

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise da produção científica em dança a partir dos periódicos nacionais permitiu verificar que ainda que a frequência de produção tenha oscilado ao longo dos anos de 2010 a 2021, houve aumento em relação ao decênio anterior quando considerados os 200 artigos identificados nos onze periódicos selecionados para esta revisão.

No que se refere às suas subáreas, a maior parte dos estudos pertencia à Sociocultural e, com relação ao periódico, a revista Movimento predominou nas publicações da temática. Sobre o contexto investigado, as regiões sul e sudeste apresentaram-se como eixos centrais para o desenvolvimento das publicações científicas. Além disso, revelou-se um maior quantitativo de publicações advindas de Portugal dentro do contexto científico nacional na produção científica sobre dança.

A partir do presente trabalho, obteve-se um panorama diagnóstico do cenário das publicações sobre dança nos periódicos editados no Brasil na área da Educação Física, tendo assim alcançado o objetivo proposto do estudo. Todavia, além do perfil diagnóstico, este estudo possibilita identificar as necessidades da área para um redirecionamento de novos caminhos científicos.

Sugere-se, nesse sentido, que estudos futuros busquem contribuir com temáticas investigativas da dança em termos educacionais, especialmente relacionados aos aspectos de ensino e compreensão, considerando o baixo percentual de palavras-chave desse caráter identificados nesta revisão. A continuação deste estudo é necessária para aprofundar, a partir de uma análise qualitativa, à qual se propõe, assumindo o mesmo corpus documental, apostar em uma análise mais interpretativa dessa produção.

Ainda que o recorte deste estudo tenha contemplado exclusivamente periódicos da área de Educação Física, destaca-se também a importância dos estudos produzidos e veiculados em periódicos específicos da área da Dança, Arte e Educação. A produção do conhecimento deste tema nas diferentes áreas amplia suas possibilidades e reafirma sua significância, contribuindo para a reflexão, problematização e qualificação da formação das diferentes áreas no que se refere ao desenvolvimento e ensino da dança no Brasil.

AGRADECIMENTO

Agradecemos à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo apoio financeiro para o desenvolvimento desse estudo no que se refere às bolsas de mestrado e doutorado a três coautores do referido manuscrito.

• FINANCIAMENTO
  O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.

• COMO REFERENCIAR

  ALENCAR, Allana; BACKES, Ana Flávia; SILVA, Jaqueline da; FARIAS, Gelcemar Oliveira; RESENDE, Rui; NASCIMENTO, Juarez Vieira do. A dança como tema da produção do conhecimento em educação física - uma análise bibliométrica em periódicos nacionais. Movimento, v. 29, p. e29041, jan./dez. 2023. DOI: https:// doi.org/10.22456/1982-8918.128339

REFERÊNCIAS

• ALENCAR, Allana et al. Passos e descompassos: a dança nos currículos de formação inicial em Educação Física. Revista Pro-Posições, v. 33, e20210023, 2022. DOI: http://doi.org/10.1590/1980-6248-2021-0023
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• ANDRADE, David Cristóbal et al Bibliometric analysis of South American research in sports science from 1970 to 2012. Motriz: Revista de Educação Física, v. 19, n. 4, p. 783-791, 2013. DOI: https://doi.org/10.1590/S1980-65742013000400017
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• BRASILEIRO, Livia Tenório. Na dança tanto seu objeto quanto seu instrumento profissional é o próprio corpo. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 35, v. 2, p. 311-326, 2013. DOI: https://doi.org/10.1590/S0101-32892013000200005
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Editado por

RESPONSABILIDADE EDITORIAL

Alex Branco Fraga*, Elisandro Schultz Wittizorecki*, Mauro Myskiw*, Raquel da Silveira*

*Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Escola de Educação Física, Fisioterapia e Dança, Porto Alegre, RS, Brasil.

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  27 Nov 2023
• Data do Fascículo
  2023

Histórico

• Recebido
  18 Jan 2023
• Aceito
  24 Ago 2023
• Publicado
  11 Out 2023