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Diretrizes curriculares nacionais: percepções de acadêmicos sobre a sua formação em enfermagem

National curriculum guidelines: perceptions of academics about their training in nursing

Plan nacional de directrices: percepciones de los académicos acerca de su formación en enfermería

Resumos

O objetivo do estudo foi conhecer as percepções de acadêmicos de enfermagem acerca de sua formação considerando as Diretrizes Curriculares Nacionais. Trata-se de um estudo exploratório descritivo com abordagem qualitativa, cujos dados foram coletados em março de 2007 por meio de entrevista semi-estruturada junto a dez alunos formandos do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, tendo todos os participantes do estudo assinado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Os dados foram analisados pela técnica de análise de conteúdo. Os resultados evidenciaram o entendimento dos acadêmicos em relação a sua formação considerando a educação superior, as diretrizes curriculares nacionais para a enfermagem, o projeto pedagógico do curso, o perfil do egresso e o currículo. Conclui-se dando ênfase ao currículo e ao projeto pedagógico do curso como relevantes para uma formação sólida, integrada e sintonizada com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Enfermagem.

Estudantes de enfermagem; Educação em enfermagem; Currículo


The objective was to study the perceptions of nursing students about their education considering the National Curriculum Guidelines. This is an exploratory study with a qualitative approach, data were collected in March 2007 through semi-structured interviews with ten senior students of the undergraduate course at the Federal University of Rio Grande do Sul, Brazil, and All study participants signed an Informed Consent. The data were analyzed using content analysis. The results showed an understanding of the students for their training and their close relationship as study participants with higher education, national curriculum guidelines for nursing, teaching project of the course, the profile of the egress and the curriculum. We conclude with an emphasis on curriculum and pedagogical project of the course as relevant to proper training, integrated and harmonized with the National Curricular Guidelines for Nursing.

Students, nursing; Education, nursing; Curriculum


El objetivo fue estudiar las percepciones de los estudiantes de enfermería sobre su educación teniendo en cuenta las directrices del currículo. Este es un estudio exploratorio con aproximación cualitativa, se recogieron datos en marzo 2007 a través de entrevistas semi-estructuradas con diez alumnos del último año de graduación en la Universidad Federal del Rio Grande do Sul, Brasil, y Todos los participantes del estudio firmaron un consentimiento informado. Los datos fueron analizados utilizando el análisis de contenido. Los resultados mostraron una comprensión de los estudiantes para su formación y su estrecha relación, como participantes en el estudio de la enseñanza superior, orientaciones curriculares nacionales para la enfermería, la enseñanza por proyectos del curso, el perfil de egreso y el plan de estudios. Concluimos con un énfasis en los planes de estudio y proyecto pedagógico del curso que sean pertinentes para el entrenamiento adecuado, integrado y armonizado con las Directrices Curriculares Nacionales para la Enfermería.


ARTIGO ORIGINAL

Diretrizes curriculares nacionais:percepções de acadêmicos sobre a sua formação em enfermagem* * Este estudo foi originado do trabalho de conclusão do Curso de Bacharelado em Enfermagem apresentado em 2007 à Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Plan nacional de directrices: percepciones de los académicos acerca de su formación en enfermería

National curriculum guidelines: perceptions of academics about their training in nursing

Dagmar Elaine KaiserI; Andreivna Kharenine SerbimII

IEnfermeira Especialista em Ativação de Processos de Mudança na Formação Superior de Profissionais da Área da Saúde, Mestre em Educação, Professora Assistente da Escola de Enfermagem da UFRGS, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil

IIEnfermeira Especialista em Saúde do Idoso pelo Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da UFRGS, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil

Endereço da autora Endereço da autora: Dagmar Elaine Kaiser Rua São Manoel, 963 90620-110, Porto Alegre, RS E-mail: dagmar@enf.ufrgs.br

RESUMO

O objetivo do estudo foi conhecer as percepções de acadêmicos de enfermagem acerca de sua formação considerando as Diretrizes Curriculares Nacionais. Trata-se de um estudo exploratório descritivo com abordagem qualitativa, cujos dados foram coletados em março de 2007 por meio de entrevista semi-estruturada junto a dez alunos formandos do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, tendo todos os participantes do estudo assinado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Os dados foram analisados pela técnica de análise de conteúdo. Os resultados evidenciaram o entendimento dos acadêmicos em relação a sua formação considerando a educação superior, as diretrizes curriculares nacionais para a enfermagem, o projeto pedagógico do curso, o perfil do egresso e o currículo. Conclui-se dando ênfase ao currículo e ao projeto pedagógico do curso como relevantes para uma formação sólida, integrada e sintonizada com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Enfermagem.

Descritores: Estudantes de enfermagem. Educação em enfermagem. Currículo.

RESUMEN

El objetivo fue estudiar las percepciones de los estudiantes de enfermería sobre su educación teniendo en cuenta las directrices del currículo. Este es un estudio exploratorio con aproximación cualitativa, se recogieron datos en marzo 2007 a través de entrevistas semi-estructuradas con diez alumnos del último año de graduación en la Universidad Federal del Rio Grande do Sul, Brasil, y Todos los participantes del estudio firmaron un consentimiento informado. Los datos fueron analizados utilizando el análisis de contenido. Los resultados mostraron una comprensión de los estudiantes para su formación y su estrecha relación, como participantes en el estudio de la enseñanza superior, orientaciones curriculares nacionales para la enfermería, la enseñanza por proyectos del curso, el perfil de egreso y el plan de estudios. Concluimos con un énfasis en los planes de estudio y proyecto pedagógico del curso que sean pertinentes para el entrenamiento adecuado, integrado y armonizado con las Directrices Curriculares Nacionales para la Enfermería.

Descriptores: Estudiantes de enfermería. Educación en enfermería. Curriculum.

ABSTRACT

The objective was to study the perceptions of nursing students about their education considering the National Curriculum Guidelines. This is an exploratory study with a qualitative approach, data were collected in March 2007 through semi-structured interviews with ten senior students of the undergraduate course at the Federal University of Rio Grande do Sul, Brazil, and All study participants signed an Informed Consent. The data were analyzed using content analysis. The results showed an understanding of the students for their training and their close relationship as study participants with higher education, national curriculum guidelines for nursing, teaching project of the course, the profile of the egress and the curriculum. We conclude with an emphasis on curriculum and pedagogical project of the course as relevant to proper training, integrated and harmonized with the National Curricular Guidelines for Nursing.

Descriptors: Students, nursing. Education, nursing. Curriculum.

INTRODUÇÃO

Este estudo teve a finalidade de conhecer as percepções dos acadêmicos de enfermagem acerca de sua formação considerando as Diretrizes Curriculares Nacionais, contribuindo com aspectos importantes relacionados ao processo educativo e de formação em enfermagem(1).

A formação profissional do enfermeiro está em constante movimento e construção, buscando o desenvolvimento e a qualificação. O perfil desejado do egresso não inclui apenas as habilidades técnicas e o conhecimento biológico, mas também a formação de enfermeiros críticos e criativos para a sociedade, baseando-se nos alicerces da ética e da liderança(2).

A definição de estratégias para relacionar ensino e aprendizagem, teoria e prática em um currículo integrado é essencial para proporcionar o seu melhor aproveitamento para formar enfermeiros cidadãos.

A partir das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Enfermagem, homologadas em outubro de 2001, foram definidos princípios, condições e procedimentos para a formação de enfermeiros, direcionando-a para o cuidado integral em saúde. Nesse cenário, é essencial uma formação de qualidade para a efetivação da assistência integral em saúde(3).

A formação pretendida decorre de novas modalidades de organização do mundo do trabalho em saúde e de exigências em relação ao perfil dos novos profissionais, confrontando diferentes culturas e linguagens que permitam ao aluno aprendizagens e práticas para uma formação sólida e integrada(4-6).

O currículo se mostra como algo em movimento, que influencia e é influenciado pelos atores que o colocam em prática diariamente em uma determinada realidade social, em um determinado mundo de apegos e significados e que investem o melhor de si em busca de seus desejos, metas e valores(7).

A relação entre espaço e aprendizagem na formação aponta para a necessidade de uma maior participação de cenários favoráveis ao estabelecimento de relações mais simétricas na formação do enfermeiro em que o efetivo compartilhamento de saberes e práticas de vivências de problemas possibilitem a busca e a produção de alternativas voltadas para uma maior articulação entre a teoria e a prática, a academia e os serviços e que levem também à construção de conhecimentos necessários à solução dos problemas partilhados(8).

Adequar a formação às necessidades que o sistema de saúde brasileiro impõe poderá contribuir para a efetivação das políticas de saúde vigentes para, em última análise, formar suprindo as demandas da população e organizar a oferta de serviços a partir de um diagnóstico situacional das condições de vida e de saúde das pessoas, principalmente, dos grupos sociais vulneráveis(9,10).

O processo educativo deve promover o pensar crítico e o professor é essencial nesta prática pedagógica. Seu papel consiste em facilitar esse processo, ele é um criador de oportunidades para as situações de ensino ao oportunizar as experiências necessárias e suficientemente intensas e adequadas, capazes de despertar no aluno uma atitude investigativa que fundamente a sua intervenção na realidade(4,11).

A participação ativa do aluno na construção do conhecimento vislumbra a formação de um profissional com a capacidade de atuar criticamente em sua realidade. A adoção de uma postura reflexiva diante do objeto a ser estudado permite um maior desenvolvimento, tornando o aluno capaz de tomar decisões e posicionamentos diante das dificuldades. Além disso, à medida que o professor contribui para formar no aluno o pensamento crítico e criador, ele estará dando a sua parcela de contribuição para que este busque soluções para os problemas encontrados e, ao mesmo tempo, o habilitem para enfrentar outros(12).

Entender o currículo como uma construção social que represente a totalidade das intenções e das situações de ensino-aprendizagem vivenciados por professores e acadêmicos é primordial para que desempenhos passem a orientar uma nova organização dos conteúdos trabalhados no sentido do desenvolvimento de competência à luz da integração da teoria e prática e o mundo do trabalho(13). Essa responsabilidade de construir o currículo baseado em competências para a formação do enfermeiro é um desafio necessariamente compartilhado, o que implica em um processo participativo e mobilizador no qual todos os atores envolvidos possam se expressar(4).

Dessa forma, o estudo teve como objetivo conhecer as percepções dos acadêmicos de enfermagem acerca de sua formação considerando as Diretrizes Curriculares Nacionais, evidenciando situações de ensino e aprendizagem relevantes ou fragilizadas e que merecem atenção especial para uma formação sólida e integrada, passíveis de avanço nas bases do ensino na graduação.

MÉTODOS

O estudo é do tipo qualitativo exploratório descritivo e os dados foram analisados por meio da técnica de análise de conteúdo(14), trabalhando com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes dos processos e dos fenômenos que permeiam a formação do Enfermeiro.

Os sujeitos foram os dez primeiros acadêmicos de enfermagem do 9º semestre de graduação da Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) que confirmaram o aceite ao convite de participação no estudo, feito a toda a turma de formandos em 05 de março de 2007.

A coleta de dados deu-se após a avaliação e aprovação do Projeto nº 48/2006 pela Comissão de Pesquisa da Escola de Enfermagem da UFRGS e pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade, parecer nº 2006665. Realizou-se uma entrevista semi-estruturada, cujo roteiro contemplou cinco questões norteadoras. As entrevistas foram realizadas nas dependências da Escola, em local que garantiu a privacidade e livre de interrupções, sendo gravadas em fita cassete e depois transcritas. As gravações serão guardadas por cinco anos e após, destruídas.

A partir da entrevista respondida pelos participantes, as informações foram organizadas e analisadas por meio da análise de conteúdos e contrastadas com a literatura específica. Posteriormente, esses dados foram interpretados dentro de um contexto amplo, com intuito de buscar explicações e significados, deixando-se invadir por impressões e orientações decorrentes da leitura flutuante(14).

Os participantes do estudo foram informados do objetivo e da metodologia da pesquisa, das finalidades de sua participação enquanto participantes do estudo, das garantias do anonimato, da confidencialidade, da privacidade e do direito de declinar de sua participação a qualquer momento, se assim o desejassem, sem nenhum prejuízo. A participação foi registrada em de um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, assinado em duas vias, sendo previamente apresentado ao entrevistado(15). Uma das vias desse consentimento ficou de posse do entrevistado e a outra de posse das pesquisadoras.

Com o objetivo de manter o anonimato dos sujeitos, foi atribuído um codinome de pedras preciosas e semipreciosas indicado pelo próprio entrevistado: Pérola, Ágata, Ametista, Topázio, Rubi, Jade, Brilhante, Esmeralda, Granada e Safira.

Respeitaram-se as diretrizes propostas na Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, que incorpora, sob a ótica do indivíduo e das coletividades, os quatro referenciais básicos da bioética: autonomia, não maleficência, beneficência e justiça, visando assegurar os direitos e deveres que dizem respeito à comunidade científica, aos sujeitos da pesquisa e ao Estado(16).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As respostas às provocações feitas sobre: perfil de formação do enfermeiro desejado e como se percebem, enquanto formandos em Enfermagem, nesse contexto; percepções acerca dos conhecimentos adquiridos para o exercício da profissão, considerando a atenção à saúde, a tomada de decisões, a comunicação, a liderança, a educação permanente e a gestão em saúde; se as práticas disciplinares e o estágio curricular, propiciados ao longo do curso, em sua percepção, promovem a formação plena do enfermeiro para o mundo do trabalho; de que forma as Diretrizes Curriculares Nacionais contribuem para a inovação e a qualidade na formação do enfermeiro; levaram a sete distintas unidades de significação: Educação Superior; Diretrizes Curriculares Nacionais para a Enfermagem; Projeto Pedagógico do Curso; Perfil do Egresso; Currículo; Processo Educativo; Formação em Enfermagem.

Referente à Educação Superior, os acadêmicos se referiram à Universidade em que estudam como uma instituição que incita a formação, fato evidenciado pela Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação nas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino de Graduação em Enfermagem ao elencar princípios, fundamentos, condições e procedimentos necessários à formação de enfermeiros para aplicação em âmbito nacional, em Instituições do Sistema de Ensino Superior, contemplando organização, desenvolvimento e avaliação dos projetos pedagógicos de cursos de graduação em Enfermagem(6).

Enquanto acadêmicos em formação, estudar em uma Universidade Pública lhes possibilita falar sobre os aspectos relacionados à sua formação com bastante tranqüilidade e lhes permite trazer o que realmente pensam, pois falar sobre o que se está fazendo é resultante do desenvolvimento de posturas éticas em um ambiente democrático, no qual direitos e deveres são discutidos e processados com responsabilidade social e cidadã. O Estatuto da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Universidade Pública, apresenta essa expressão da sociedade democrática e pluricultural, inspirada nos ideais de liberdade, de respeito pela diferença e de solidariedade, constituindo-se em instância necessária de consciência crítica, na qual a coletividade possa repensar suas formas de vida e suas organizações sociais, econômicas e políticas(17).

A Universidade trata-se de um espaço de liberdade para se discutir, analisar, articular e definir áreas prioritárias de atuação, bem como é espaço de liberdade para a produção do conhecimento a partir da realidade, cabendo-lhe a formação de um sujeito ético, capaz de exercer sua cidadania nos fundamentos da liberdade, da autonomia e com responsabilidade social(4).

Mais que um documento instituído pelo Conselho Nacional de Educação, as Diretrizes Curriculares Nacionais norteiam a formação cidadã e profissional do enfermeiro, definindo os componentes curriculares essenciais em sua formação(2,18).

A autonomia didático-científica estabelecida na Constituição Federal enseja que, contempladas as Diretrizes Curriculares Nacionais, os cursos de Enfermagem sejam organizados de modos diversos, segundo as suas peculiaridades, sua história, sua vocação, sua inserção regional e a experiência institucional acumulada. Há, ademais, variações nos modos como as atividades de ensino são instituídas ao longo do tempo, com diferenças no detalhamento e abordagem dos conteúdos, bem como dos processos de ensinagem desenvolvidos, aí incluídos os procedimentos de verificação das aprendizagens.

As Diretrizes Curriculares Nacionais têm como ideário básico a flexibilidade curricular, ensejando possibilitar uma sólida formação de acordo com o estágio de desenvolvimento do conhecimento em cada área, permitindo ao graduado enfrentar as rápidas mudanças do conhecimento e seus reflexos no mundo do trabalho(3).

Mesmo reconhecendo as diretrizes curriculares como norteadoras da boa formação, parte dos acadêmicos revelou pouco saber sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais.

Pouco se ouve falar em diretrizes curriculares [...] então uma colega resolve fazer um trabalho sobre elas (Ametista).

Eu não poderia participar do estudo sem entendê-las melhor; precisei estudar sobre o assunto. Sem dúvida, elas são oportunas (Granada).

Será o desconhecimento pelos acadêmicos sobre diretrizes curriculares uma regularidade nas instituições formadoras quando é pensado o processo de organização das dinâmicas curriculares? Quais as vulnerabilidades ou inconsistências que podemos encontrar ao considerarmos a representação acadêmica no processo formativo na enfermagem?

Nos anos 2006 e 2007 foram promovidos na Escola de Enfermagem seminários mensais para discussão das Diretrizes Curriculares Nacionais e do projeto pedagógico do curso de Enfermagem na comunidade acadêmica, visando orientar e propiciar concepções curriculares ao Curso, a fim de permitir os ajustes que se fizessem necessários ao seu aperfeiçoamento(3).

Mesmo com os mecanismos criados à época para o aprimoramento dos atores ao se discutir sobre diretrizes curriculares, o que é meritório, parte dos acadêmicos socialmente engajados no processo formativo em nosso estudo se reconheceu fragilizada pelo descaso, tornando-se meros expectadores na discussão dos progressos na formação em Enfermagem.

O Projeto Pedagógico do Curso de Enfermagem é vivido pelo acadêmico em atividades de ensino teóricas, teórico-práticas, práticas em laboratórios, práticas em comunidades e instituições de saúde, estágio curricular com a efetiva participação do professor e do enfermeiro do campo, trabalho de conclusão de curso com defesa em presença de banca avaliadora(18).

Um projeto pedagógico construído coletivamente, centrado no aluno como sujeito da aprendizagem e apoiado no professor como facilitador e mediador do processo ensino-aprendizagem deve buscar na formação integral e adequada do aluno a articulação entre o ensino, a pesquisa e a extensão/assistência(3). É nessa conotação que se dá a expressão de autonomia do Curso de Enfermagem.

Percebe-se o quanto cada etapa foi importante para o nosso aprendizado, havia muita coisa para se aprender (Ágata).

O professor ajudou nisso. Precisamos estar bem preparados e isso necessita de professores atentos (Brilhante).

O conhecimento gerado a partir do Currículo é evidente. Falas remetem aos conteúdos abordados e tão necessários para a formação de competências e habilidades do enfermeiro, destacando-se a aplicabilidade dos estágios curriculares obrigatórios.

O caráter dos estágios curriculares faz com que se consiga realmente aplicar o conhecimento adquirido até então para a realidade e se sair preparado para o exercício profissional (Jade).

Ficou evidenciado o quanto é importante que o currículo tenha uma flexibilidade que permita rever falhas no aprendizado em uma estrutura onde se possam tirar dúvidas sobre algo que não se aprendeu, tanto nos cenários da prática quanto em sala de aula, para assim suprir dificuldades e assegurar que atividades teóricas práticas estejam presentes desde o início do curso de forma integrada e interdisciplinar.

O enfermeiro deve estar preparado a tomar iniciativas, gerir o cuidado, a força de trabalho, os recursos físicos e materiais e de informação da mesma forma que deve estar apto a ser empreendedor e líder na equipe que atua. A importância da aplicação de princípios éticos e do aprender a aprender focado na aprendizagem ao longo da vida, entre outras várias competências específicas são indicadores básicos para o desenvolvimento das competências gerais necessárias para a formação do enfermeiro(3). Empreendedorismo social, então, precisa ser estimulado na formação do enfermeiro. É preciso que ele enxergue novas oportunidades e tenha um ambiente favorável para que mudanças positivas aconteçam, ou para que contribua de forma ativa e responsável no desenvolvimento local e social(10).

Para tanto, o currículo merece atenção especial para um processo formativo exitoso.

É contemplando o embasamento acerca do Sistema Único de Saúde (SUS) que se vai sair sabendo como o sistema realmente funciona e como se dará a nossa participação nesse contexto enquanto futuros profissionais da saúde (Granada).

Com o advento das diretrizes curriculares, o pouco tempo de vivência nos cenários da saúde, até então propiciado apenas em atividades teórico-práticas nas disciplinas, foi suprido pela exigência de realização do estágio curricular (Rubi).

Mudou-se o currículo. Agora se sai com menos deficiências. Deveria ser insuficiente o tempo para se aprender conteúdos e relacioná-los com a prática (Topázio).

Ressaltam os acadêmicos que a importância do aspecto humanista do currículo do curso de Enfermagem é imprescindível para uma formação plena, pois o papel que irão desenvolver na sociedade não é só como executor, mas como propositores de políticas e práticas humanizadas.

O cuidado humano é o fio condutor do currículo do curso de Enfermagem, caracterizando o processo pessoal e interpessoal que se traduz na estética, gênese, signos e habilidades técnicas relacionadas ao cuidado por meio de experiências vivenciadas nas etapas do desenvolvimento humano(18).

O curso aborda tudo o que eu esperava para um currículo de enfermagem. Penso que é bem planejado para atender as necessidades de formação do enfermeiro (Ametista).

O currículo prepara o enfermeiro generalista (Safira).

No final do curso é possível se escolher a área que se quer aprofundar, seja hospitalar ou de saúde coletiva (Granada).

Dotar o egresso de habilidades e competências para atuar e refletir diante da diversidade e complexidade de cenários é foco na organização do currículo, conferindo terminalidade e capacidade profissional, considerando as demandas e necessidades prevalentes e prioritárias da população, proporcionando uma experiência em vivências nos campos de prática do enfermeiro, estabelecendo relações entre a teoria e a prática profissional, propiciando reflexões sobre o trabalho cotidiano do enfermeiro nos serviços de saúde(18,19).

Enquanto acadêmicos em formação, acreditam estarem preparados para o exercício profissional e para o mundo do trabalho, detalhando em suas falas o Perfil de Egresso ensejado nas Diretrizes Curriculares Nacionais.

Considerando colegas de outras faculdades de enfermagem, o nosso grupo é bem privilegiado (Topázio).

O nosso curso realmente forma um profissional completo, se aprende a ser um profissional crítico e reflexivo e pelo que sei, sempre foi assim (Ágata).

O próprio grupo de colegas reconhece isso, o egresso tem um perfil mais crítico e o tipo de aluno tem grande participação nessa moldagem que está aí (Pérola).

A formação generalista, técnica, científica e humanista, com capacidade crítica e reflexiva, preparando o profissional para atuar pautado por princípios éticos, no processo de saúde-doença em seus diferentes níveis de atenção enfatiza a perspectiva da integralidade da assistência, com senso de responsabilidade social e compromisso com a cidadania(6).

Comprometendo-se com a identificação das necessidades de saúde individuais, coletivas e sociais, e com o planejamento e a efetivação de ações de saúde e de educação em saúde com ênfase na prevenção é que o enfermeiro será capaz de gerenciar o cuidado nos serviços de enfermagem e de saúde, gerar e consumir pesquisa e implicar-se com o aperfeiçoamento técnico-científico, com a evolução do conhecimento, com a práxis da enfermagem e da saúde(20). Para isso, é preciso se trabalhar o aluno cidadão, criativo, construtivo, sensível, empreendedor, autônomo, versátil, crítico e, sobretudo, solidário e justo.

Mas como melhor contemplar as necessidades de aprendizagem para uma formação generalista? Este questionamento retornou com bastante significado ao se considerar a contextualização do Processo Educativo e de Formação na visão dos acadêmicos, a ensinagem.

Nesse contexto, quais são os papéis do professor e do aluno no processo educativo e de formação? A atuação profissional do enfermeiro e a relação professor/aluno influenciam a formação? Houve desabafos:

[...] muitas vezes tive que ceder à opinião do professor ou do enfermeiro, submetendo-me ao que ele pensava (Safira).

[...] houve professor que falou que eu teria que ir a busca de mais informações (Brilhante).

Aluno, professor e enfermeiro, ambos se encontram em uma posição semelhante no contexto formador, cuja pretensão deve estar voltada à atenção em saúde de qualidade. O aluno, na sua posição de aprendiz, e o professor e o enfermeiro, como facilitadores dessa aprendizagem. Trabalhar em equipe, comunicar-se e expressar idéias, saber buscar informações, utilizar habilidades específicas no desempenho das competências e habilidades próprias do contexto formador devem conduzir o ensinar, seja este qual for.

Estratégias pedagógicas que articulem o saber; o saber fazer e o saber conviver, visando desenvolver o aprender a aprender, o aprender a ser, o aprender a fazer, o aprender a viver juntos e o aprender a conhecer constituem atributos indispensáveis à formação do enfermeiro(3).

A capacidade de aprender através de discussões de caso e problematização de situações trouxe destaque ao trabalho em grupo como promotor da aprendizagem. Foi relatado por uma acadêmica que não se esquece do seu primeiro dia de estágio:

[...] eu tinha medo de machucar as pessoas. Não me sentia firme e segura para chegar aos pacientes [...] Me sentia sozinha. Somente agora sei o quanto foi importante me expressar, discutir em grupo, ouvir professor, colegas, enfermeiro. Hoje me sinto contemplada como realmente sabendo fazer (Brilhante).

O conhecimento adquirido e como e quando utilizá-lo na resolução de situações relacionadas com a prática do enfermeiro possibilitam um espaço de reflexão e orientação para os estudos, o que, por certo, contribui para a formação profissional consciente de suas responsabilidades sociais e engajada na luta por melhores condições de saúde e de vida.

Promover o aprimoramento da qualidade do ensino de graduação importa tornar claro e fortalecer os atores envolvidos sobre os novos referenciais que devem subsidiar a formulação de políticas públicas e sustentar as decisões que orientam a ensinagem na formação do enfermeiro.

CONCLUSÕES

O estudo aponta a estreita relação de acadêmicos de enfermagem em formação com a educação superior, focando aspectos importantes relacionados ao projeto pedagógico do curso, perfil do egresso, currículo, processo educativo e de formação em Enfermagem considerando as Diretrizes Curriculares Nacionais.

As Diretrizes Curriculares Nacionais trazem reformulações quanto à organização do curso de Enfermagem e, ao não indicarem um currículo mínimo, permitem conceber, executar e avaliar o próprio projeto pedagógico do curso com a efetiva participação dos atores envolvidos. É a expressão da autonomia do curso de Enfermagem.

Foi essencial se questionar acerca de quando um currículo de enfermagem atenderia à formação plena, considerando as Diretrizes Curriculares Nacionais. Ficou evidenciada a necessidade de uma trajetória acadêmica de formação sólida e que isso depende da organização curricular e dos papéis do aluno, do professor e do enfermeiro do campo no contexto formativo, tidos como atores facilitadores ou limitadores desse processo. É importante se pensar a formação em Enfermagem como um cenário em seu contexto: compromisso com a formação de um perfil adequado, de qualidade e produção de conhecimento de acordo com as necessidades de saúde da população, identificando a importância da relação do currículo do curso sintonizado com as Diretrizes Curriculares Nacionais.

Incrementar o processo educativo com competências e habilidades que tornem o enfermeiro melhor preparado e com uma visão mais ampla para a atuação no trabalho, no sentido de avaliar, sistematizar e decidir as condutas mais adequadas às realidades e baseadas em evidências científicas é ensejado nas diretrizes curriculares e corroborado pelos acadêmicos.

No transcorrer da história da humanidade e no contexto atual da rapidez da evolução técnico-científica, o papel do enfermeiro vem sofrendo diretamente o impacto dessas transformações, necessitando, portanto, acompanhar essas tendências e inovações para que o enfermeiro incorpore as mudanças e as novas maneiras de ser, pensar, fazer e transformar o seu próprio trabalho requer um processo educativo e formativo cada vez mais atualizado e capacitado para o desenvolvimento de novas competências com qualidade, voltadas para a complexidade das realidades locais e da sociedade: uma tônica das Diretrizes Curriculares Nacionais.

Ressalta-se a importância da discussão do tema em foco e a necessidade de novos estudos para aprofundamento do mesmo, buscando alternativas para o fortalecimento do currículo do curso de Enfermagem e que almeja novos olhares, novos significados, novas possibilidades.

O estudo possibilitou momentos de reflexão e de manifestação aos acadêmicos acerca de sua formação em um momento de trajetória para o mundo do trabalho. Enquanto acadêmicos cidadãos comprometidos em atuar criticamente em sua realidade, reiteram que, para atender à proposta das Diretrizes Curriculares Nacionais, o processo educativo e a formação em enfermagem necessitam de envolvimento e de comprometimento individual, coletivo e institucional, contemplando atitudes críticas reflexivas de reconstrução permanente dos atores envolvidos. E mais, zelar pela aprendizagem dos alunos e participar da elaboração e aprimoramento do currículo do curso de Enfermagem é também uma responsabilidade do professor, bem como, elaborar o seu plano de trabalho de acordo com o projeto pedagógico do curso, pois o processo educativo se avalia pela aprendizagem dos alunos.

Recebido em: 02/06/2009

Aprovado em: 14/12/2009

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  • Endereço da autora:
    Dagmar Elaine Kaiser
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    Este estudo foi originado do trabalho de conclusão do Curso de Bacharelado em Enfermagem apresentado em 2007 à Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      14 Out 2010
    • Data do Fascículo
      Dez 2009

    Histórico

    • Aceito
      14 Dez 2009
    • Recebido
      02 Jun 2009
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