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Ocorrência e manejo de náusea e vômito no tratamento quimioterápico em mulheres com câncer de mama

Resumos

Objetivou-se analisar a ocorrência de náusea e vômito em mulheres com câncer de mama durante a quimioterapia, e identificar o manejo utilizado para o controle desses sinais e sintomas. Pesquisa transversal, cujos dados foram coletados por meio de entrevista, no último ciclo de quimioterapia, entre agosto de 2011 e março de 2012 em um hospital universitário no interior do Estado de São Paulo. A amostra foi composta por 22 mulheres, com idade entre 31 e 70 anos, e 77,3% relataram náusea e 50% vômito, durante o tratamento. Quanto ao manejo, 82% delas afirmaram ter recebido algum tipo de informação que ficou centrada no uso da medicamento prescrito, entretanto, 27,3% não souberam responder qual medicamento usaram. Concluiu-se que há falta de sistematização da assistência e protocolo institucional que norteiem os profissionais a fornecer informações padronizadas, possibilitando o seguimento das mulheres, a fim de terem controle mais adequado da náusea e vômito

Toxicidade; Quimioterapia; Náusea; Vômito; Enfermagem


The objective of this study was to analyze the incidence of chemotherapy-induced nausea and vomiting in women with breast cancer and identify strategies used by them to control these signs and symptoms. Data for this cross-sectional study were collected through interviews during the last cycle of chemotherapy, between August 2011 and March 2012, in a university hospital in the State of São Paulo. The sample consisted of 22 women between the ages of 31 and 70, of whom 77.3% reported nausea and 50% vomiting during treatment. Regarding symptom management, 82% of the women reported having received some information centered on the use of prescribed medication. However, 27.3% did not know what medication they had taken. We concluded that there is a lack of systematic care and institutional protocol to guide professionals in providing standardized information to women so they can better control nausea and vomiting.

Toxicity; Chemotherapy; Nausea; Vomiting; Nursing


Este estudio objetivó analizar la incidencia de náuseas y vómitos en mujeres con cáncer de mama durante la quimioterapia, identificar el manejo utilizado para controlar estos signos y síntomas. Estudio transversal, cuyos datos fueron recolectados por medio de entrevistas en el último ciclo de quimioterapia entre agosto 2011 y marzo 2012 en un hospital universitario en el Estado de São Paulo. La muestra consistió de 22 mujeres, con edades entre 31 y 70 años, que el 77,3% reportó náuseas y el 50% vómitos durante el tratamiento. Cuanto al manejo, el 82% afirmó que habían recibido algún tipo de información centrada en el uso de la medicación prescrita, sin embargo, el 27,3% no supo responder cuál medicación fue utilizada. Se concluye que falta de sistematización de la atención y protocolo institucional para orientar profesionales para ofrecer información estandarizada, posibilitando el seguimiento de las mujeres para tener un mejor control de náuseas y vómitos.

Toxicidad; Quimioterapia; Náusea; Vómitos; Enfermería


INTRODUÇÃO

Náuseas e vômitos são os sintomas mais estressantes e incômodos referidos pelos pacientes oncológicos. Aproximadamente metade dos pacientes com câncer vivenciará náuseas e vômitos em alguma fase da doença. Estudos apontam para uma variação de 38 a 60% de prevalência desses sintomas durante a quimioterapia( 11. Piccart MJ, Leo A, Beauduin M, Vindevoghel A, Michel J, Focan C, et al. Phase III trial comparing two dose levels os epirubicin combined with cyclophosphamide, cyclophosphamide, methotrexate, and fluoracil in node-positive breast cancer. J Clin Oncol. 2001;19(12):3103-10. - 22. Linden HM, Haskell CM, Green SJ, Osborne CK, Sledge GW Jr, Shapiro CL, et al. Sequenced compared with simultaneous anthracycline and cyclophosphamide in high-risk stage I and II breast cancer: final analysis from INT-0137. J Clin Oncol. 2007;25(6):656-61. ).

As náuseas e os vômitos não controlados adequadamente podem levar a outras complicações como anorexia, desequilíbrio hidroeletrolítico, desidratação, necessidade ou prolongamento de internação hospitalar, prejuízo à qualidade de vida e impacto negativo no desempenho das atividades do dia-a-dia( 33. Santos M, Pinho M, Silva S, Dias V. Estudo sobre emese aguda e tardia em doentes a efectuar quimioterapia, alta e moderadamente emetizante, em internamento. Onco News. 2008;5:4-8. ). O tratamento eficaz reduz a morbidade e o risco de complicações, além de evitar abandono precoce do tratamento( 44. Huertas-Fernándes MJ, Martínez-Bautista MJ, Sánchez-Martínez I, Zarzuela-Ramirez M, Baena-Cañada JM. Análisis de la efectividad de un protocolo de antiemesis implantado en la unidad de oncologia. Farm Hosp. 2010;34(3):125-38. ).

Todas as drogas quimioterápicas possuem potencial emetogênico, que varia de intensidade, entretanto, essa classificação de risco emetogênico não inclui a náusea( 55. Olver I, Molassiotis A, Aapro M, Herrstedt J, Grunberg S, Morrow G. Antiemetic research: future directions. Support Care Cancer. 2011;19 Suppl 1:S49-55. ). O potencial das drogas mais utilizadas nos protocolos para tratamento do câncer de mama pode ser classificado em: alto, com risco de vômito acima de 90% (ciclofosfamida com dosagem acima de 1500mg/m2 e cisplatina); moderado, com risco em torno de 30 a 90% (ciclofosfamida com dosagem abaixo de 1500mg/m2, epirrubicina e doxorrubicina); baixo, com risco de 10 a 30% (5-fluouracil, paclitaxel, docetaxel, metotrexate, doxorrubicina lipossomal, gencitabina e trastuzumab) e risco mínimo, com chance de ocorrência de vômito abaixo de 10% (vinorelbine)( 66. Roila F, Herrstedt J, Aapro M, Gralla RJ, Einhon LH, Ballatori E, et al. Guideline update for MASCC and ESMO in the prevention of chemotherapy- and radiotherapy-induced nausea and vomiting: results of the Perugia consensus conference. Ann Oncol. 2010;21 Suppl 5:232-43. - 77. Molassiotis A, Saunders MP, Valle J, Lorigan P, Wardley A, Levine E, et al. A prospective observational study of chemotherapy-related nausea and vomiting in routine practice in a UK cancer center. Support Care Cancer. 2008;16(2):201-8. ).

A capacidade emetogênica de cada agente citotóxico para induzir náuseas e vômitos é que determinará qual droga ou qual associação de drogas antieméticas deverá ser utilizada. Entretanto, o potencial emetogênico das combinações de drogas é mais difícil de ser classificado. Um exemplo é a combinação de antraciclinas com ciclofosfamida, base de muitos protocolos para o tratamento do câncer de mama. Ambos têm potencial emetogênico moderado, mas a combinação resulta em potencial emético alto( 66. Roila F, Herrstedt J, Aapro M, Gralla RJ, Einhon LH, Ballatori E, et al. Guideline update for MASCC and ESMO in the prevention of chemotherapy- and radiotherapy-induced nausea and vomiting: results of the Perugia consensus conference. Ann Oncol. 2010;21 Suppl 5:232-43. - 77. Molassiotis A, Saunders MP, Valle J, Lorigan P, Wardley A, Levine E, et al. A prospective observational study of chemotherapy-related nausea and vomiting in routine practice in a UK cancer center. Support Care Cancer. 2008;16(2):201-8. ).

Por outro lado, estudos apontam que alguns fatores podem favorecer os eventos eméticos, entre eles o sexo feminino, idade (jovens), peso (quanto maior o índice de massa corporal - IMC - maior o risco de apresentar náuseas e vômitos), dose utilizada da droga, número de ciclos recebidos e baixo consumo de álcool. Destaca-se o fato de que mulheres jovens, que não consomem álcool, mesmo recebendo baixas doses de quimioterápicos, e aquelas que apresentaram história de vômito durante a gestação ou associado ao movimento têm maior tendência a apresentá-lo durante o tratamento quimioterápico( 33. Santos M, Pinho M, Silva S, Dias V. Estudo sobre emese aguda e tardia em doentes a efectuar quimioterapia, alta e moderadamente emetizante, em internamento. Onco News. 2008;5:4-8. , 66. Roila F, Herrstedt J, Aapro M, Gralla RJ, Einhon LH, Ballatori E, et al. Guideline update for MASCC and ESMO in the prevention of chemotherapy- and radiotherapy-induced nausea and vomiting: results of the Perugia consensus conference. Ann Oncol. 2010;21 Suppl 5:232-43. ).

As náuseas e os vômitos induzidos pela quimioterapia são eventos adversos que, com o desenvolvimento de novos medicamentos, deveriam ser controlados totalmente, na maioria dos pacientes com câncer. O objetivo deve ser prevenir, mais do que tratar, com a finalidade de melhorar a qualidade de vida, evitar complicações e facilitar o tratamento quimioterápico.

Apesar dos avanços conseguidos no controle das náuseas e dos vômitos, os tratamentos atuais disponíveis não são efetivos para todos os pacientes e é preciso otimizar os recursos disponíveis, sejam eles farmacológicos ou não, para conseguir um manejo mais adequado durante o tratamento. A introdução de drogas mais eficazes para o controle das náuseas e dos vômitos tem causado impacto na melhora da qualidade de vida de muitos pacientes. Além disso, os protocolos para a prática clínica, como os da Sociedade Americana de Oncologia Clínica, que são baseados em revisões sistemáticas da literatura, apontam recomendações para o manejo medicamentoso das náuseas e dos vômitos( 66. Roila F, Herrstedt J, Aapro M, Gralla RJ, Einhon LH, Ballatori E, et al. Guideline update for MASCC and ESMO in the prevention of chemotherapy- and radiotherapy-induced nausea and vomiting: results of the Perugia consensus conference. Ann Oncol. 2010;21 Suppl 5:232-43. ).

Mesmo com o auxílio de protocolos, o profissional da saúde que atua diretamente com os pacientes durante o tratamento quimioterápico deve avaliar as náuseas e os vômitos individualmente. Desse modo, as intervenções propostas serão personalizadas e adaptadas para cada paciente. O enfermeiro é responsável pela educação do paciente e de seu cuidador em relação ao tratamento quimioterápico, o que inclui a prevenção e o manejo das possíveis toxicidades( 33. Santos M, Pinho M, Silva S, Dias V. Estudo sobre emese aguda e tardia em doentes a efectuar quimioterapia, alta e moderadamente emetizante, em internamento. Onco News. 2008;5:4-8. ).

O que se observa na prática clínica é que a falta de informações específicas e padronizadas, durante o tratamento quimioterápico, pode estar associada à falta de controle adequado dos eventos adversos do tratamento e em consequência, ao agravamento dos sintomas( 88. Almeida EM, Gutierrez MGR, Adami NP. Monitoramento e avaliação dos efeitos colaterais da quimioterapia em pacientes com câncer de cólon. Rev Latino-Am Enfermagem. 2004;12(5):760-6. ). A partir dessas informações questiona-se se as mulheres com câncer de mama têm apresentado náuseas e vômitos no decorrer do tratamento quimioterápico e como têm realizado o manejo desses eventos adversos.

Este estudo teve como objetivos: analisar a ocorrência de náuseas e vômitos em mulheres com câncer de mama durante o tratamento quimioterápico e identificar o manejo por elas utilizado para o controle de náuseas e vômitos durante o tratamento quimioterápico.

MÉTODO

Foi realizado estudo descritivo, transversal, com a avaliação das náuseas e dos vômitos, em mulheres com câncer de mama, durante o tratamento quimioterápico neoadjuvante ou adjuvante, seguidas no Ambulatório de Mastologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (HCFMRP-USP). O Departamento de Ginecologia e Obstetrícia do HCFMRP-USP autorizou a realização do estudo, que foi aprovado pelo Comitê de Ética da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto-USP (Protocolo n˚ 1319/2011).

A partir de estimativa de 100 casos novos/ano de câncer de mama atendidos no referido ambulatório, foram recrutadas mulheres com câncer de mama que estavam em tratamento quimioterápico no período de abril de 2009 a março de 2010. Optou-se por realizar amostra de conveniência, e foram incluídas 22 mulheres que preencheram os critérios de inclusão: mulheres com idade acima de 19 anos e que estivessem no último ciclo do tratamento quimioterápico, neoadjuvante ou adjuvante. Os critérios de exclusão foram: mulheres que não pudessem se expressar individualmente, que apresentassem outro tipo de tumor maligno no diagnóstico, que já tivessem recebido tratamento quimioterápico por câncer de mama ou outro tipo de tumor maligno ou que estivessem no ciclo gravídico puerperal.

Para a coleta de dados, foi utilizado um instrumento elaborado pelas pesquisadoras com informações contendo caracterização sociodemográfica, além de informações acerca do esquema quimioterápico, medicações antieméticas recebidas antes de cada ciclo de quimioterapia, ocorrência de náuseas e vômitos durante o tratamento, informações recebidas para o manejo e consequências nas rotinas diárias. Essas informações foram obtidas por meio de entrevista com as participantes e em revisão do prontuário médico das mesmas.

Os dados foram organizados em planilha Excel e analisados utilizando-se estatística descritiva das variáveis, e os resultados apresentados por meio das frequências relativas e absolutas em tabelas.

RESULTADOS

Durante os seis meses de coleta de dados foram incluídas 22 mulheres com diagnóstico de câncer de mama que estavam no último ciclo do tratamento quimioterápico, com idade entre 31 e 70 anos, a média foi de 50 anos e desvio padrão de 15,5 anos.

Em relação às variáveis sociodemográficas, 50% delas haviam cursado o ensino fundamental incompleto; 50% estavam com companheiro e 40,9% apresentavam a doença em estágio IIIb. Das participantes, 16 referiram outras comorbidades, sendo a hipertensão arterial a patologia mais comum (27,3%), e entre os medicamentos utilizados, antes do diagnóstico de câncer, o omeprazol foi a droga mais frequente (47,8%).

Entre elas, 77,3% realizaram tratamento neoadjuvante e todas as participantes do estudo receberam algum medicamento antiemético endovenoso antes de cada ciclo de quimioterapia. As drogas mais utilizadas foram a ondansetrona e a dexametasona para 100% das participantes, seguidas pela ranitidina, com 81,8%.

Em relação à ocorrência de náusea, 77,3% das participantes relataram tê-la apresentado pelo menos uma vez durante o tratamento quimioterápico. Para a maioria delas, os sintomas iniciaram após o segundo ciclo e sete mulheres relataram que eles persistiram durante todo o tratamento.

Quando questionadas sobre o tempo que as náuseas demoravam para ficar mais intensas, as respostas variaram de 6 a 192 horas (oito dias). O tempo para a melhora da náusea também foi muito variado, o que aponta para o difícil controle e a subjetividade desse sintoma.

A ocorrência de vômito foi relatada por 50% das participantes, sendo que quatro delas referiram apresentar o sintoma a partir do primeiro ciclo. Quanto ao tempo decorrido para que o vômito ficasse mais intenso, as respostas variaram entre 24 e 120 horas (cinco dias). O tempo para a melhora desse sintoma também variou de duas a 360 horas (15 dias).

Em relação ao manejo realizado por elas, 53% entre as que apresentaram náusea e 27,3% das que relataram vômito referiram ter utilizado apenas terapêutica medicamentosa. Destaca-se ainda que 94,4% das mulheres que apresentaram náusea e 77,7% das que apresentaram vômito relataram terem sido orientadas a fazer uso do medicamento prescrito (Tabela 3).

Tabela 1
Distribuição das mulheres submetidas à quimioterapia para câncer de mama, segundo idade, raça, estado civil, escolaridade, estágio da doença, comorbidades e medicamentos em uso. Ribeirão Preto, SP, 2012.
Tabela 2
Distribuição das mulheres submetidas à quimioterapia para câncer de mama, segundo a classifi cação da quimioterapia, os protocolos quimioterápicos e medicamentos antieméticos endovenosos. Ribeirão Preto, SP, 2012.
Tabela 3
Distribuição das mulheres submetidas à quimioterapia para câncer de mama segundo o uso de antieméticos via oral, ocorrência de sintomas, manejo dos sintomas, orientações recebidas e tipo de orientações. Ribeirão Preto, SP, 2012.
Tabela 4
Distribuição das mulheres submetidas à quimioterapia para câncer de mama segundo o conhecimento de antieméticos via oral e medicamentos em uso. Ribeirão Preto, 2012.

As mulheres também referiram mudanças no dia-a-dia relacionadas à ocorrência de náuseas e vômitos, como a impossibilidade de realizar atividades usuais e participar de atividades sociais devido aos sintomas (Tabela 3).

Além dessas alterações, 27,2 e 13,6%, respectivamente, relataram perda de apetite por causa de náuseas e vômitos; e 63,6 e 31,8%, respectivamente, relataram outras alterações nos hábitos alimentares em decorrência desses sintomas, que estavam relacionadas à não ingestão de alimentos crus, e ao fato de evitarem consumir frituras, doces e carne vermelha, por aversão a esses alimentos.

Das participantes, quatro mulheres referiram que não foram orientadas sobre o tratamento quimioterápico antes de iniciá-lo e 81,8% referiram ter recebidos estas informações. Entretanto, destaca-se aqui, o fato de que, apesar de as orientações fornecidas pelos profissionais da saúde terem priorizado o manejo medicamentoso, quando questionadas sobre quais medicamentos fizeram uso, em casa, para o manejo de náuseas e vômitos, 27,3% das participantes não souberam responder.

Todas as entrevistadas relataram ter apresentado outros eventos adversos além de náuseas e vômitos. Os mais citados foram rash cutâneo (41%), mucosite (41%), boca seca (31,8%), fadiga (31,8%) e alopecia (22,7%).

Entre os eventos adversos, buscou-se identificar, junto às participantes, quais foram aqueles considerados os mais estressantes. A náusea foi considerada o mais estressante para 22,7%, seguida pela alopecia para 18,2%, diarreia para 18,2%, alterações no paladar também para 18,2% e 13,63% relataram ter sido o vômito.

DISCUSSÃO

Os resultados do presente estudo apontaram que apesar de as mulheres terem feito uso de drogas antieméticas como indicado nos protocolos internacionais, como o antagonista da 5-hidroxitriptamina-3 (ondansetrona, palonosetrona), considerados padrão- ouro para o controle de náuseas e vômitos agudos pós-quimioterapia, o manejo geral desses eventos ainda continua sendo um problema para as mulheres com câncer de mama( 99. Basch E, Prestrud AA, Hesketh PJ, Kris MG, Feyer PC, Somerfield MR, et al. Antiemetics: American Society of Clinical Oncology clinical practice guideline update. J Clin Oncol. 2011; 29(31):4189-98. ).

Quando drogas antieméticas são utilizadas de modo apropriado, os episódios de náuseas e vômitos podem ser reduzidos consideravelmente( 1010. Jakobsen JN, Herrstedt J. Prevention of chemotherapy-induced nausea and vomiting in elderly cancer patients. Crit Rev Oncol Hematol. 2009;71(3):214-21. ). No presente estudo, foram utilizados antieméticos endovenosos para todas as participantes, porém, identificou-se que durante todo o tratamento quimioterápico, 77,3% das mulheres apresentaram náusea e 50% apresentaram vômito, independente do protocolo quimioterápico utilizado.

Os dados sugerem que, apesar do uso de antieméticos, há uma lacuna na avaliação e evolução individualizada dos sintomas apresentados pelas mulheres, por parte da equipe de saúde. Nesse sentido, observou-se que as drogas utilizadas foram as mesmas, adequando a dosagem de acordo com a condição do paciente e a dose do quimioterápico, independente da presença dos sintomas, da frequência e da intensidade dos mesmos. As informações necessitam de fluxo contínuo e à equipe de enfermagem, que acompanha os pacientes a cada ciclo de quimioterapia, cabe coletar informações acerca dos sintomas apresentados, além de reforçar orientações e precauções necessárias para evitar novos agravos à saúde( 1111. Telles Filho PCP. Conhecimento e adesão à terapêutica medicamentosa após a alta hospitalar. RECENF: Rev Técnico-Cientifica Enferm. 2007;5(17):64-9. ), e de manejar adequadamente os que por ventura já ocorreram.

Em estudo observacional com 143 mulheres com câncer de mama, foi identificado, assim como no presente estudo, que 70% das pacientes apresentaram a náusea tardia, sendo essa de difícil controle, apesar da terapia antiemética disponível e utilizada pelas pacientes. Cabe ressaltar a importância da terapia antiemética utilizada de forma adequada para a redução da incidência de náuseas e vômitos graves, relacionados à quimioterapia( 1212. Booth CM, Clemons M, Dranitsaris G, Joy A, Young S, Callaghan W, et al. Chemotherapy-induce nausea and vomiting in breast cancer patients a prospective observational study. J Support Oncol. 2007;5(8):374-80. ).

Destaca-se a falta de conhecimento das participantes quanto às medicações antieméticas que deveriam fazer uso no domicílio. A falta de conhecimentos por parte dos pacientes e cuidadores pode ocasionar outros efeitos indesejados, além de não ter garantia de segurança e efetividade com o uso inadequado dos medicamentos( 1313. Marodin G, Maldaner OA. Relação educativa entre farmacêutico e usuário em postos de distribuição de medicamentos da rede pública. Rev Gaúcha Enferm. 2006;27(4):610-7. ).

Apesar de a maioria (82%) das participantes ter referido que recebeu orientações sobre o tratamento quimioterápico e os eventos adversos do mesmo, observa-se somente relatos acerca do manejo medicamentoso para as náuseas e os vômitos, além de lacunas no conhecimento sobre as medicações antieméticas. Questiona-se a qualidade das informações e/ou sua forma de transmissão pelos profissionais, além do nível de escolaridade das participantes. Concorda-se, aqui, que as informações quanto ao uso de medicamentos devem abordar a finalidade, as características, as ações e reações dos medicamentos, com o objetivo de melhorar a qualidade do tratamento desses pacientes( 1111. Telles Filho PCP. Conhecimento e adesão à terapêutica medicamentosa após a alta hospitalar. RECENF: Rev Técnico-Cientifica Enferm. 2007;5(17):64-9. ).

Os profissionais da saúde devem estar vigilantes para avaliar e oferecer suporte aos pacientes que apresentam os sintomas de náuseas e vômitos. Em estudo qualitativo realizado com o objetivo de explorar as experiências de pacientes europeus e americanos quanto à náusea, observou-se que os participantes receberam pouca orientação dos profissionais da saúde e essas foram centradas no manejo medicamentoso. Os autores concluíram que profissionais da saúde devem educar os pacientes sobre estratégias de manejo para os sintomas relacionados à náusea( 1414. Molassiotis A, Stricker CT, Eaby B, Velders L, Coventry PA. Understanding the concept of chemotherapy-related nausea: the patient experience. Eur J Cancer Care. 2008;17(5):444-53. ).

É essencial que os enfermeiros monitorem a severidade dos eventos adversos de modo individualizado, e adaptem os medicamentos antieméticos para minimizar esses eventos, sempre baseados nos protocolos de boas práticas clínicas.

O emprego de instrumentos validados e padronizados como ferramentas que sistematizem a avaliação das náuseas e dos vômitos auxilia, também, a uniformização dos registros e do manejo desses eventos adversos( 1515. Caponero R. Consenso brasileiro de náuseas e vômitos em cuidados paliativos. Rev Bras Cuidados Paliativos. 2011;3(3)Supl 2.Disponível em: http://www.cuidadospaliativos.com.br/img/din/file/SuplementoCP_Nausea_Vomito_Final_D.pdf.
http://www.cuidadospaliativos.com.br/img...
).

Em associação ao manejo farmacológico, medidas dietéticas devem ser incluídas no manejo de náuseas e vômitos, que devem se adequar às necessidades de cada paciente, respeitar suas preferências e seus hábitos alimentares( 1616. Benarroz MO, Failace GBD, Barbosa LA. Bioética e nutrição em cuidados paliativos em adultos. Cad Saúde Pública. 2009;25(9):1875-82. ). Medidas simples podem favorecer o manejo desses sintomas, como fracionar a dieta, evitar comidas gordurosas, muito temperadas, evitar deitar após a refeição, preferir alimentos frios ou na temperatura ambiente, evitar líquidos durantes as refeições. É aconselhável, no entanto, estimular a ingesta hídrica de oito a 12 copos de líquido por dia( 1616. Benarroz MO, Failace GBD, Barbosa LA. Bioética e nutrição em cuidados paliativos em adultos. Cad Saúde Pública. 2009;25(9):1875-82. - 1717. Cancer Care Ontario. Action Cancer Ontario. Symptom management pocket guides: nausea & vomiting [citado 2013 maio 10]. 2010. Disponível em: https://www.cancercare.on.ca/CCO_DrugFormulary/Pages/FileContent.aspx?fileId=97473.
https://www.cancercare.on.ca/CCO_DrugFor...
).

Existem, ainda, medidas não-farmacológicas, como a utilização de fitoterápicos, com destaque para o gengibre, cuja eficácia no controle de náuseas e vômitos tem sido demonstrada em diferentes situações. A acupuntura, a acupressão, a hipnose, o relaxamento, a aromaterapia e a ioga também têm sido aplicados, e estudos clínicos sobre sua utilização têm apresentado resultados significativos( 1818. Vidall C. Chemotherapy induced nausea and vomiting: a European perspective. Br J Nurs. 2011;20(10):22-8. ). Entretanto, esses são procedimentos que exigem capacitação específica, além de local adequado para sua realização, o que ainda não é a realidade de muitos serviços brasileiros que atendem os pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS).

Independente da disponibilidade dessas medidas no serviço, da procura espontânea do paciente e da associação dessas com as medidas farmacológicas, reforça-se a importância de educar e orientar o paciente e o cuidador para o sucesso do manejo de náuseas e vômitos, independente de qual medida seja a escolhida.

Os protocolos com orientações sistematizadas para manejo medicamentoso e não medicamentoso, além de educação em serviço para os profissionais, são, evidentemente, necessários. Por protocolos de assistência entende-se um conjunto de recomendações desenvolvidas sistematicamente, a partir do conhecimento científico atual para auxiliar no manejo de um problema de saúde, para orientar fluxos, condutas e procedimentos clínicos dos trabalhadores dos serviços de saúde. Destaca-se que a utilização dos protocolos apresenta limites, pois as ações descritas podem ficar restritas a procedimentos preestabelecidos e não atender as demandas clínicas em situações diversas( 1919. Werneck MAF, Faria HP, Campos KF. Protocolo de cuidados à saúde e de organização do serviço. Belo Horizonte: Nescon/UFMG; 2009. Disponível em: https://www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/imagem/1750.pdf
https://www.nescon.medicina.ufmg.br/bibl...
).

Em estudo que avaliou os desafios e a aplicação de protocolos internacionais para controle de náuseas e vômitos em vários países europeus, na perspectiva de enfermeiras que trabalham em unidades e centros de oncologia, a autora afirma que as enfermeiras devem ser encorajadas a trabalhar colaborativamente com os colegas para desenvolverem protocolos locais para manejo desses eventos adversos. Tais protocolos, diferentemente dos desenvolvidos por médicos e farmacêuticos, devem abordar o paciente de forma holística, manejando as náuseas e os vômitos com medidas farmacológicas, não-farmacológicas e, sobretudo, educativas( 1818. Vidall C. Chemotherapy induced nausea and vomiting: a European perspective. Br J Nurs. 2011;20(10):22-8. ).

No desenvolvimento dos protocolos, deve-se considerar a percepção do próprio paciente em quimioterapia ambulatorial, quanto à sua qualidade de vida. A partir dessa percepção, elaborar as diretrizes da assistência de enfermagem para o controle e manejo adequados dos eventos adversos da quimioterapia( 2020. Chaves PL, Gorini MIPC. Qualidade de vida do paciente com câncer colorretal em quimioterapia ambulatorial. Rev Gaúcha Enferm. 2011;32(4):767-73. ).

CONCLUSÕES

Apesar de 82% das participantes terem afirmado que receberam orientações quanto ao manejo das náuseas e dos vômitos, essas foram limitadas ao uso de medicamentos e não foram efetivas. Isso mostra a necessidade de educação permanente para os profissionais, baseada nas boas práticas clínicas, e da elaboração e efetiva implementação de protocolos para uniformizar as orientações acerca dos cuidados de enfermagem para mulheres com câncer de mama, visando a avaliação e o manejo dos eventos adversos.

Observaram-se, ainda, a falta de avaliação e de seguimento das participantes quanto ao manejo adequado das náuseas e dos vômitos com as medicações prescritas e orientações fornecidas. Esses dados confirmam a necessidade de estudos futuros que acompanhem essas mulheres, ciclo a ciclo, para avaliar as toxicidades gastrointestinais.

As limitações deste estudo referem-se, principalmente, ao número de participantes, fato que inviabilizou testes de associação entre variáveis. Entretanto, os resultados sugerem que os enfermeiros que trabalham com pacientes oncológicos devem utilizar métodos educativos para transmitir informações acerca dos tratamentos e manejo dos eventos adversos dos mesmos, favorecendo o autocuidado adequado, diminuindo a ansiedade, melhorando a qualidade de vida.

REFERENCES

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Sep 2014

Histórico

  • Recebido
    26 Ago 2013
  • Aceito
    09 Maio 2014
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