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Crescimento de lactentes atendidos na consulta de enfermagem em puericultura

Resumos

Estudo que objetivou descrever o crescimento durante a introdução da alimentação complementar em lactentes atendidos na consulta de Enfermagem em puericultura. Estudo descritivo, transversal, quantitativo, desenvolvido por meio de pesquisa em 51 prontuários de crianças de quatro a oito meses, no período de setembro a outubro de 2012, em um hospital universitário localizado na cidade de Recife, PE. Os dados foram analisados no Epi Info versão 6.04 e descritos em frequência simples e relativa. Verificou-se que 33% das crianças introduziram a alimentação complementar aos seis meses. Dessas, 88,2%, 69,2% e 57,1% apresentaram as curvas de peso por idade ascendentes, e 88,2%, 66,7% e 71,4% tiveram curvas de comprimento por idade ascendentes aos seis, sete e oito meses, respectivamente. Crianças com introdução correta da alimentação complementar apresentaram curvas de crescimento ascendentes e estado nutricional adequado.

Suplementação complementar; Estado nutricional; Lactente; Crescimento; Enfermagem pediátrica


This study aimed to describe the growth during the introduction of complementary feeding to infants assisted in the nursing appointment in childcare. It is a descriptive, cross-sectional, quantitative study developed through research in 51 medical records of children aged 4-8 months, from September to October 2012 in a university hospital in the city of Recife, PE. Data were analyzed using Epi Info software, version 6.04 and described in simple and relative frequencies. It was found that for 33% of the children. complementary foods were introduced at six months. Of these, 88.2%, 69.2% and 57.1% showed ascending weight-for-age growth curves, and 88.2%, 66.7% and 71.4% ascending length-for-age growth curves at six, seven and eight months respectively. Children with appropriate and timely introduction of complementary feeding showed upward growth curves and adequate nutritional status.

Supplementary feeding; Nutritional status; Infant; Growth; Pediatric nursing


Estudio tiene como objetivo describir el crecimiento durante la introducción de la alimentación complementaria en los niños tratados en la consulta de enfermería en el cuidado infantil. Estudio descriptivo, transversal, cuantitativo, desarrollado a través de la investigación de 51 casos de niños de cuatro a ocho meses, de septiembre a octubre de 2012, en un hospital universitario de la ciudad de Recife, PE. Los datos fueron analizados mediante Epi Info versión 6.04 y se describen en la frecuencia simple y relativa. Se encontró que 33% de los niños presentó alimentos complementarios a los seis meses. De estos, 88,2%, 69,2% y 57,1% fue la edad ascendente versus curvas de peso y 88,2%, 66,7% y 71,4% de largo versus edad ascendente en seis, siete y ocho meses respectivamente. Los niños que introducen correctamente la alimentación complementaria mostraron curvas de crecimiento al alza y un estado nutricional adecuado.

Alimentación suplementaria; Estado nutricional; Lactante; Crecimiento; Enfermería pediátrica


INTRODUÇÃO

O crescimento do ser humano, processo dinâmico e contínuo, ocorre em fases de progresso rápido, como nos períodos intra-útero, primeiros dois anos de vida e puberdade( 1Silva CAA, Pereira MJB, Nakano AMS, Gomes FA, Silva IA. Concordância dos referenciais de crescimento propostos pelo Center of Disease Control e Organização Mundial de Saúde. Rev Esc Enferm USP. 2011;45(2):404-10. ). Evidências de estudos epidemiológicos, modelos com animais e ensaios clínicos mostram a vulnerabilidade das fases iniciais da vida a fatores nutricionais e metabólicos, que podem determinar mudanças na saúde e bem-estar do indivíduo( 2Caetano MC, Ortiz TT, Silva SGL, Souza FIS, Sarni ROS. Complementary feeding: inappropriate practices in infants. J Pediatr. 2010;86(3):196-201. ).

A monitorização do crescimento por meio das curvas de crescimento propostas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é importante no acompanhamento da situação nutricional e do comportamento do organismo da criança( 3Ministério da Saúde (BR), Secretaria de Políticas de Saúde, Departamento de Atenção Básica. Saúde da criança: crescimento e desenvolvimento.Brasília; 2012. ), possibilitando intervenções precoces.

O Ministério da Saúde no Brasil recomenda a amamentação exclusiva até seis meses de vida, complementada até dois anos, e a introdução gradual de novos alimentos aos seis meses, permitindo a adaptação da criança a novos sabores e texturas( 4Ministério da Saúde (BR). Dez passos para uma alimentação saudável: guia alimentar para menores de dois anos: um guia para o profissional de saúde na atenção básica. 2. ed.Brasília;2013. v. 2. ).

A introdução da alimentação complementar é uma fase complexa para a criança e seus cuidadores. Neste período, o desenvolvimento do autocontrole da ingestão alimentar pela criança depende dos alimentos e da forma como lhe são oferecidos. Sofre influência do conhecimento acerca do comportamento normal da criança e da prática adotada pelos pais/cuidadores e profissionais da saúde na introdução da alimentação, podendo interferir no estado nutricional e comportamento das curvas de crescimento( 4Ministério da Saúde (BR). Dez passos para uma alimentação saudável: guia alimentar para menores de dois anos: um guia para o profissional de saúde na atenção básica. 2. ed.Brasília;2013. v. 2. ).

Destaca-se que crianças que iniciam a alimentação complementar antes dos seis meses de vida( 3Ministério da Saúde (BR), Secretaria de Políticas de Saúde, Departamento de Atenção Básica. Saúde da criança: crescimento e desenvolvimento.Brasília; 2012. ) podem sofrer retardo do crescimento, deficiências nutricionais, desnutrição ou sobrepeso( 5Corrêa EN, Corso ACT, Kazapi I, Moreira EAM. Alimentação complementar e características maternas de crianças menores de dois anos de idade em Florianópolis/SC. Rev Paul Pediatr. 2009;27(3):258-64. - 6Correia PP, Pereira SMPD, Brito LAMH. Alimentação de transição infantil: conhecer para educar. Rev Cienc Saúde. 2013;6(2):85-93. ). Além disso, menores de seis meses com amamentação associada a outros alimentos ou não amamentadas têm maior risco de morte por infecção respiratória e diarreia do que as amamentadas exclusivamente( 4Ministério da Saúde (BR). Dez passos para uma alimentação saudável: guia alimentar para menores de dois anos: um guia para o profissional de saúde na atenção básica. 2. ed.Brasília;2013. v. 2. , 7Araújo, MFM, Ferreira AB, Gondim KM, Chaves ES. A prevalência de diarréia em crianças com uma amamentação ausente ou inferior a seis meses. Rev Rene. 2007;8(3):69-76. ).

Apesar dos benefícios para a saúde da criança, em 2009 a prevalência do aleitamento materno exclusivo em menores de seis meses no Brasil foi de 41% ( 8Ministério da Saúde (BR), Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas. Prevalência do aleitamento materno nas capitais brasileiras e no Distrito Federal. Brasília; 2009. ). Situação que pode estar associada à influência das propagandas de produtos lácteos, além de fatores individuais, interpessoais, situacionais, condições sociais e culturais que interferem na escolha do alimento infantil( 9Monteiro RA, Pereira BPA. Publicidade que alimenta: análise das estratégias destinadas à criança na publicidade de alimentos na mídia impressa brasileira. Comunicologia. 2012;15(1):110-31. ).

Como estratégia, o Ministério da Saúde elaborou os "Dez passos para alimentação saudável", importante ferramenta de orientação para profissionais da saúde na atenção primária( 4Ministério da Saúde (BR). Dez passos para uma alimentação saudável: guia alimentar para menores de dois anos: um guia para o profissional de saúde na atenção básica. 2. ed.Brasília;2013. v. 2. ). Em 2013, as estratégias de promoção do aleitamento materno e da alimentação complementar foram unificadas na rede "Amamenta e Alimenta Brasil", que objetiva aprimorar as competências dos profissionais na rotina das Unidades Básicas de Saúde( 1010 Ministério da Saúde(BR), Gabinete do Ministro. Portaria nº 1.920 de5 de setembro de 2013.Institui a Estratégia Nacional para Promoçãodo Aleitamento Materno e AlimentaçãoComplementar Saudável no Sistema Únicode Saúde (SUS) - Estratégia Amamenta e Alimenta Brasil.Diário Oficial da União [da] República Federativa do Brasil. 2013 set06;150(173 Seção 1):64-5. ).

Nesse contexto, a consulta de puericultura se destaca como situação ideal para realizar monitoramento periódico e sistemático do estado nutricional, comportamento das curvas de crescimento, desenvolvimento da criança e identificação dos agravos, com vista à intervenção precoce( 1111 Campos RMC, Ribeiro CA, Silva CV, Saparolli ECL. Consulta de enfermagem em puericultura: a vivência do enfermeiro na Estratégia de Saúde da Família. Rev Esc Enferm USP.2011;45(3):566-74. ).

O enfermeiro, na consulta de puericultura, deve atuar como educador em saúde, voltado à aprendizagem de mães/cuidadores sobre amamentação e introdução oportuna e adequada dos alimentos complementares, contribuindo para redução de agravos relacionados aos erros alimentares na infância e na vida adulta( 1212 Alves TD, Pereira GA, Bonfim SFSF, Javorski M, Vasconcelos MGL, Leal LP. Prática dos enfermeiros no manejo da alimentação de crianças menores de 1 ano de idade. Rev Enferm UFPE. 2011 dez; 5(nesp):2651-9. - 1313 Gomes AC, Lima JCA, Javorski M. Os dez passos para alimentação saudável em crianças menores de dois anos acompanhadas pela Estratégia de Saúde da Família: prática ou utopia? Rev Enferm UFPE. 2011 jun;5(4):957-66. ).

A identificação da associação dos erros alimentares e o estado nutricional infantil, pode subsidiar as ações do enfermeiro nas consultas de puericultura. Dessa forma, questiona-se qual a repercussão da introdução da alimentação complementar no crescimento de lactentes representado nas curvas de peso por idade?

O estudo objetiva descrever o crescimento durante a introdução da alimentação complementar em lactentes atendidos na consulta de Enfermagem em puericultura.

MÉTODO

Estudo descritivo, transversal, quantitativo realizado em um hospital na cidade do Recife, vinculado à Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

A população foi composta por 146 lactentes atendidos nas consultas de enfermagem em puericultura no ano de 2011. Nesse serviço, são realizadas consultas mensais de Enfermagem ao lactente saudável no primeiro ano de vida não intercaladas com consultas médicas.

A amostragem foi não-probabilística do tipo intencional e a amostra consistiu em 51 prontuários de lactentes de quatro a oito meses de vida. Esta faixa etária foi escolhida considerando a idade mínima de quatro meses para introdução da alimentação complementar em crianças não amamentadas exclusivamente, a licença maternidade de 120 dias e a introdução da alimentação da família aos oito meses. Foram excluídas crianças que iniciaram a alimentação complementar após o sexto mês. Os dados foram coletados no período de setembro a outubro de 2012.

Após o teste piloto para adequação do instrumento e da operacionalização da coleta de dados, foi incluída a investigação da alimentação diária dos lactentes descrita mensalmente nos prontuários. Os 20 prontuários que fizeram parte do estudo piloto foram revistos em relação a esse item e incluídos na amostra.

O formulário para coleta de dados foi composto por sete partes: identificação do lactente, dados maternos, condições socioeconômicas, condições de habitação e moradia, anamnese alimentar, antropometria e avaliação nutricional. Estruturado em perguntas fechadas e uma aberta referente ao motivo que ocasionou a introdução da alimentação antes do sexto mês.

Para caracterizar o lactente utilizou-se o sexo. Em relação às mães, para caracterização biológica e socioeconômica, se analisou a idade, estado civil, instrução materna, profissão, renda familiar (salário mínimo R$ 545,00) e número de filhos menores de cinco anos. As condições de habitação e moradia foram avaliadas segundo o regime e tipo de moradia, tipo de água para consumo, presença de água encanada e saneamento básico no domicílio.

As variáveis relacionadas à anamnese alimentar foram a orientação recebida pela mãe ou cuidador sobre a introdução da alimentação complementar, a idade da criança na introdução da alimentação complementar, o motivo que ocasionou a introdução da alimentação antes do sexto mês e a manutenção da amamentação após introdução da alimentação complementar. Caracterizou-se também os tipos de alimentos introduzidos de acordo com a faixa etária, o número de refeições, o uso do liquidificador no preparo dos alimentos e a presença de doença no período de introdução da alimentação complementar.

Em relação à antropometria e avaliação nutricional foram investigados peso e comprimento e avaliados o comportamento das curvas de crescimento (ascendente, horizontal e descendente) e a classificação nutricional (escores Z).

Os dados foram processados e analisados utilizando o software Epi Info versão 6.04. A análise descritiva das variáveis foi apresentada em frequência simples e relativa.

Na análise, a introdução da alimentação complementar adequada foi avaliada com base nos "Dez passos para uma alimentação saudável", recomendados pelo Ministério da Saúde. Crianças que já recebiam as primeiras papas de fruta e salgada aos seis meses e quinze dias e aos sete meses recebiam a segunda papa salgada foram consideradas com a alimentação adequada( 4Ministério da Saúde (BR). Dez passos para uma alimentação saudável: guia alimentar para menores de dois anos: um guia para o profissional de saúde na atenção básica. 2. ed.Brasília;2013. v. 2. ).

Considerando a falta de informação nos prontuários dos dados antropométricos aos oito meses, a avaliação nutricional foi realizada utilizando o peso aos sete meses, com base na classificação nutricional preconizada pela OMS, de acordo com os seguintes critérios: > +2 escores Z (peso elevado); ≥ -2 e ≤ +2 escores Z (peso adequado) e < -2 escores Z (peso baixo)( 1414 World Health Organization (SW). WHO child growth standards: length/height-for-age, weight-for-age, weight-for-length, weight-for-height and body mass index-for-age. Methods and development. Geneva; 2006. ).

Os casos ignorados se devem à falta de informações nos prontuários ou à falta da criança à consulta na idade de seis, sete ou oito meses.

A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro de Ciências da Saúde da UFPE, CAAE 03443712.0.0000.5208, parecer nº 249.943, de acordo com a Resolução 196/96 da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa.

Artigo extraído da monografia: "Crescimento de lactentes atendidos na consulta de Enfermagem em puericultura em um Hospital Escola da cidade do Recife-PE"( 1515 Souza GC, Morais LMC. Crescimento de lactentes atendidos na consulta de enfermagem em puericultura em um hospital escola da cidade do Recife-PE [monografia]. Recife: Universidade Federal de Pernambuco; 2013. ).

RESULTADOS

No que se refere aos lactentes, 51,6% eram do sexo masculino. Em relação às mães, 87,7% tinham mais de vinte anos, 88,4% eram casadas, 69,1% possuíam oito anos ou mais de estudo e 42,1% não trabalhavam fora do lar. Com relação à renda familiar, 1,8% não possuíam renda e 40% ganhava até R$ 545,00. Quanto ao número de filhos menores de cinco anos, para 65,5% das mães, o filho atual era o primeiro e 34,5% tinham dois filhos ou mais.

No que diz respeito às condições de habitação e moradia, 62,5% moravam em casa própria, todas eram construídas em alvenaria, 87,7% possuíam água encanada, 84,2% tinham saneamento básico e 94,5% das mães usavam água potável para beber.

Em se tratando da orientação acerca da introdução da alimentação complementar, 64,9% das mães ou cuidadores foram orientados pelo enfermeiro durante a consulta de puericultura. Quanto ao uso de liquidificador no preparo dos alimentos da criança, 65,5% das mães não utilizavam esse utensílio. No período de introdução da alimentação complementar, 72,9% das crianças apresentaram doenças de origem respiratória, gastrointestinal, nutricional e outras.

A tabela 1 evidencia que dos 64,9% das mães/cuidadores orientados sobre a alimentação, 33,3% iniciaram a alimentação complementar das crianças aos seis meses. Entre aqueles que começaram a alimentação complementar antes dos seis meses, 31,2% justificaram a introdução precoce porque já utilizavam fórmula infantil e 28,1% por opção materna. Quanto à continuação do aleitamento materno após os seis meses, 64,7% manteve a amamentação.

Tabela 1.
Idade da introdução da alimentação complementar, motivo da introdução precoce e continuação do aleitamento materno em crianças atendidas na consulta de Enfermagem em puericultura em um hospital escola. Recife, 2012.

Com relação às recomendações do Ministério da Saúde para introdução da alimentação complementar, entre os lactentes que iniciaram a alimentação complementar aos seis meses, 100% receberam a primeira papa de fruta aos seis meses, 93,8% com idade de seis meses e quinze dias já haviam recebido a primeira refeição salgada, completando três refeições (Tabela 2). Aos sete meses, 76,9% consumiam a segunda refeição salgada e aos oito meses, 88,9% recebiam alimentação da família (Tabela 2).

Tabela 2.
Introdução da alimentação complementar, segundo recomendações do Ministério da Saúde em crianças que iniciaram a alimentação aos seis meses, atendidas na consulta de Enfermagem em puericultura em um hospital escola. Recife, 2012

Em se tratando do comportamento das curvas de peso por idade, 88,2%; 69,2%; 57,1% das crianças com seis, sete e oito meses respectivamente, apresentaram curvas ascendentes. Aos sete meses, 7,7% possuíam curvas descendentes. Aos oito meses, 42,9% das crianças apresentavam curvas horizontalizadas (Tabela 3).

Tabela 3.
Comportamentos das curvas de peso por idade e comprimento por idade das crianças que iniciaram a alimentação aos seis meses, atendidas na consulta de Enfermagem em puericultura em um hospital escola. Recife, 2012.

Quanto ao comportamento das curvas de comprimento por idade, 88,2%; 66,7%; 71,4% das curvas apresentaram-se ascendentes para crianças aos seis, sete e oito meses, respectivamente. Aos sete meses, 33,3% possuíam curvas horizontalizadas (Tabela 3).

No que se refere ao comportamento das curvas de crescimento, estado nutricional e manutenção do aleitamento materno após o sexto mês, 69,2% das crianças que continuaram a amamentação apresentaram curvas ascendentes e 92,3% adequação do estado nutricional (Tabela 4).

Tabela 4.
Comportamento das curvas de crescimento e estado nutricional, em relação ao indicador peso por idade de crianças aos sete meses, amamentadas exclusivamente até o sexto mês, segundo condições socio econômicas, saúde da criança e introdução da alimentação complementar em um hospital escola. Recife, 2012.

Filhos de mães com oito anos ou menos de estudo apresentaram 100% de curvas ascendentes e de estado nutricional adequado, e filhos de mães com mais de oito anos de estudo tiveram 50% de curvas ascendentes, 50% descendentes ou horizontalizadas e 87,5% possuíam peso adequado. Em domicílios com renda familiar menor que dois salários mínimos, 70% das crianças tinham curvas ascendentes e 100% classificação nutricional adequada e nas famílias com renda maior que dois salários, 50% tinham curvas ascendentes e 50% horizontais ou descendentes (Tabela 4).

Em famílias com apenas um filho, 91,7% das crianças possuíam peso adequado. Entre as crianças que apresentaram doenças no período da introdução da alimentação, 75% tinham curvas ascendentes e 91,7% estado nutricional adequado (Tabela 4).

Dentre as crianças que iniciaram adequadamente a introdução da alimentação complementar, 87,5% tiveram curvas ascendentes e 100% peso adequado, e daquelas com introdução inadequada, 50% apresentaram curvas ascendentes, 50% horizontais ou descendentes e 75% possuíam estado nutricional adequado (Tabela 4).

DISCUSSÃO

Nesse estudo, crianças que iniciaram adequadamente a alimentação complementar apresentaram curvas de crescimento ascendentes e estado nutricional adequado, resultado esperado para crianças alimentadas conforme recomendado pelo Ministério da Saúde do Brasil. Vários são os fatores associados ao crescimento infantil adequado, entre eles, a disponibilidade de alimentos, o modo de preparo e a forma de utilização parecem constituir os principais determinantes( 3Ministério da Saúde (BR), Secretaria de Políticas de Saúde, Departamento de Atenção Básica. Saúde da criança: crescimento e desenvolvimento.Brasília; 2012. ).

Em relação à assistência a saúde, a maioria das mães foi orientada pelo enfermeiro a iniciar a alimentação complementar aos seis meses, quando se deve introduzir novos alimentos que supram as necessidades da criança e manter o aleitamento materno( 1616 Javorski M. Puericultura: condutas para o acompanhamento do crescimento e desenvolvimento de crianças de zero a dois anos nas consultas de enfermagem. Recife: Editora Universitária; 2010. ). Contudo, foi relevante o número de crianças que receberam a alimentação complementar precocemente, fato justificado pelas mães principalmente por não amamentarem exclusivamente, utilizar fórmula infantil ou leite artificial, pelo retorno ao trabalho ou por opção materna em introduzir precocemente a alimentação complementar. Apesar das crianças serem acompanhadas em serviço de puericultura, 30% não possuía registro de orientações sobre a introdução da alimentação no prontuário.

Embora frequentemente relatados na literatura( 1313 Gomes AC, Lima JCA, Javorski M. Os dez passos para alimentação saudável em crianças menores de dois anos acompanhadas pela Estratégia de Saúde da Família: prática ou utopia? Rev Enferm UFPE. 2011 jun;5(4):957-66. , 1717 Silva LMP, Venâncio SI, Marchioni DML. Práticas de alimentação complementar no primeiro ano de vida e fatores associados. Rev Nutr. 2010; 23(6):983-92. ), esses fatores não obrigariam as mães a iniciar a alimentação complementar precocemente. As mulheres que precisam se ausentar por determinados períodos devem ser incentivadas a ordenhar o leite materno e armazená-lo( 1818 Agência Nacional de Vigilância Sanitária (BR). Portaria n° 193, de 23 de fevereiro de 2010. Dispõe sobre a instalação de salas de apoio à amamentação em empresas públicas e privadas. Diário Oficial da União [da] República Federativa do Brasil. 2010fev 24;147(36 Seção 1):98-9. ), possibilitando a continuidade do aleitamento materno exclusivo.

O uso de fórmula infantil permite que a introdução da alimentação complementar seja realizada aos seis meses, sem a necessidade de suplementar ferro e vitaminas, e somente no caso de crianças não amamentadas e em uso de leite de vaca, essa introdução deve ser iniciada aos quatro meses de vida, oferecendo quatro refeições diárias: duas refeições básicas (almoço e jantar), e duas frutas, além de duas refeições lácteas sem adição de açúcar( 4Ministério da Saúde (BR). Dez passos para uma alimentação saudável: guia alimentar para menores de dois anos: um guia para o profissional de saúde na atenção básica. 2. ed.Brasília;2013. v. 2. ).

A manutenção da amamentação, independente da idade, não ocorreu para mais de 30% das crianças após a introdução da alimentação complementar. Não somente introduzir corretamente os alimentos, mas manter o aleitamento materno até os dois anos se constitui em prática adequada para o crescimento e desenvolvimento da criança( 6Correia PP, Pereira SMPD, Brito LAMH. Alimentação de transição infantil: conhecer para educar. Rev Cienc Saúde. 2013;6(2):85-93. ).

Nesse estudo, todos os lactentes que iniciaram a alimentação complementar aos seis meses, fizeram-no com papa de fruta; acima de 93% introduziram a primeira refeição salgada aos seis meses, diminuindo gradativamente o número de mães que introduziu a segunda refeição salgada aos sete meses e a alimentação familiar aos oito meses, como recomendado pelo Ministério da Saúde( 2Caetano MC, Ortiz TT, Silva SGL, Souza FIS, Sarni ROS. Complementary feeding: inappropriate practices in infants. J Pediatr. 2010;86(3):196-201. ). O fato de algumas mães não seguirem as recomendações aos sete e oito meses de vida pode estar relacionado com o percentual de crianças que apresentaram curvas de peso por idade horizontal ou descendente e peso elevado para a idade.

Apesar das recomendações do Ministério da Saúde, 34,5% das mães utilizavam liquidificador no preparo da alimentação, indicando que esta prática resiste às orientações. Os profissionais devem buscar estratégias educativas que proporcionem mudanças de comportamento emanadas da aprendizagem das mães de que, alimentos liquidificados não estimulam a mastigação e tem baixa densidade energética, não fornecendo a quantidade de energia necessária à criança para ganhar peso e ter saúde( 4Ministério da Saúde (BR). Dez passos para uma alimentação saudável: guia alimentar para menores de dois anos: um guia para o profissional de saúde na atenção básica. 2. ed.Brasília;2013. v. 2. ).

Outro fator a ser considerado é que a adaptação do corpo para receber novos alimentos associada aos cuidados inadequados no preparo e conservação podem predispor a agravos que interferirão no crescimento adequado das crianças( 1616 Javorski M. Puericultura: condutas para o acompanhamento do crescimento e desenvolvimento de crianças de zero a dois anos nas consultas de enfermagem. Recife: Editora Universitária; 2010. ). Entretanto, nesse estudo, entre as crianças que adoeceram no período de transição alimentar, acima de 75% mantiveram a curva de peso por idade ascendente e o peso adequado. Vale ressaltar que o Ministério da Saúde recomenda aumentar uma refeição no período de convalescência da doença para que as repercussões no crescimento sejam minimizadas( 4Ministério da Saúde (BR). Dez passos para uma alimentação saudável: guia alimentar para menores de dois anos: um guia para o profissional de saúde na atenção básica. 2. ed.Brasília;2013. v. 2. ).

Em relação ao comportamento das curvas dos lactentes que iniciaram a alimentação aos seis meses de idade, a maioria das curvas aos seis, sete e oito meses apresentaram traçado ascendente, considerado bom indicador para a saúde. Nas crianças, cujas curvas apresentem traçado horizontal ou descendente, no período de introdução da alimentação complementar, deve-se investigar a presença de sinais e/ou sintomas sugestivos de processos patológicos, avaliar criteriosamente a alimentação, atentando para os horários das refeições, quantidade e valor energético dos alimentos e também avaliar a relação mãe e filho( 1616 Javorski M. Puericultura: condutas para o acompanhamento do crescimento e desenvolvimento de crianças de zero a dois anos nas consultas de enfermagem. Recife: Editora Universitária; 2010. ). Assim como o comportamento das curvas de peso por idade, em relação ao estado nutricional, a maioria dos lactentes apresentou peso adequado para a idade.

Dados semelhantes foram relatados em estudo no "Centro de incentivo e apoio ao aleitamento materno" da Universidade Federal de São Paulo (CIAAM/Unifesp) com lactentes entre seis meses e um ano, no segundo semestre de 2007, no qual se constatou que a maior parte das crianças encontrava-se com índice peso por idade adequado e um pequeno percentual, com baixo peso nos três momentos de aferição. A maior parte das crianças apresentava estatura adequada para a idade( 1919 Pires BS, Akutsu RC, Coelho LC, Asakura L, Sachs A, Abrão ACVF, et al. Comparação entre as curvas de crescimento do Centers for Disease Control and Prevention e da Organização Mundial da Saúde para lactentes com idade de seis a 12 meses. Rev Paul Pediatr. 2010;28(4):314-9. ).

CONCLUSÕES

As curvas de crescimento se comportaram de maneira ascendente e o estado nutricional estava adequado para a idade das crianças que introduziram adequadamente a alimentação complementar. Contudo, o número de prontuários sem registro de orientações sobre a introdução da alimentação, mesmo com acompanhamento das crianças nas consultas de puericultura, sinaliza que parte dos enfermeiros não prioriza a orientação alimentar no cuidado à criança e à família.

Foi expressiva a ocorrência de crianças que adoeceram no período de introdução da alimentação complementar, fato que reforça a necessidade de maior atenção a esses lactentes.

Espera-se que os resultados sejam utilizados na prática clínica pelos profissionais, no planejamento de ações voltadas à prevenção de doenças e à promoção do crescimento saudável nas consultas de puericultura. Recomenda-se a realização de estudos de intervenção visando adequar a sistematização do cuidado de Enfermagem na saúde da criança.

Neste estudo, o pequeno número amostral não permitiu estimar associação estatística entre algumas variáveis como renda familiar, escolaridade materna e situação nutricional da criança. Novos estudos com amostras representativas poderão proporcionar esta investigação.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Mar 2015

Histórico

  • Recebido
    16 Mar 2014
  • Aceito
    05 Dez 2014
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