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Perfil sociodemográfico e acadêmico de discentes de enfermagem de quatro instituições brasileiras

Resumos

Objetivou-se descrever as características sociodemográficas e acadêmicas de discentes de Enfermagem de quatro Instituições de Ensino Superior brasileiras. Trata-se de um estudo transversal, prospectivo. Os dados foram coletados entre abril de 2011 a março de 2012, por meio de um formulário para caracterização sóciodemográfica e acadêmica dos discentes. Incluíram-se alunos matriculados no curso de Enfermagem, com idade igual ou superior a 18 anos. Participaram 705 acadêmicos, com predomínio do sexo feminino, solteiros, sem filhos, os quais residem com familiares, não praticam esportes e possuem atividade de lazer. Ainda, a maioria dos discentes não participa de grupo de pesquisa, não recebe bolsa acadêmica, não possui vínculo empregatício, estão satisfeitos com o curso e não pensaram em desistir do mesmo. Este estudo poderá tornar-se uma importante ferramenta na elaboração de estratégias que contemplem as demandas dos estudantes e, ainda, melhore a qualidade do processo ensino aprendizagem e diminua o índice de evasão.

Enfermagem; Estudantes de enfermagem; Instituições de ensino superior; Educação superior


This study aimed to describe the sociodemographic and academic characteristics of nursing students from four Brazilian Educational Institutions. It is a prospective cross-sectional study. The data were collected between April 2011 and March 2012, through a survey form with questions about sociodemographic and academic characteristics of the students. The participants were graduate students enrolled in the nursing course, aged 18 years or older. 705 students participated, and these were mostly women, single, childless, who lived with their families, did not take part in sport activities and performed leisure activities. Also, most students do not participate in research groups, were not granted scholarships, are not employed, are satisfied with the course and do not intend to leave it. This study may become an important tool for the development of strategies that address the needs of students and also improve the quality of the teaching and learning process, reducing dropout rates.

Nursing; Nursing students; Higher education institutions; Education, higher


Objetivo describir las características demográficas y académicas de los estudiantes de enfermería de cuatro instituciones de educación superior de Brasil. Estudio transversal, prospectivo. Los datos se recogieron entre abril de 2011 y marzo de 2012, mediante un formulario de las características sociodemográficas y académicas de los estudiantes. Incluía a los estudiantes matriculados en programa de enfermería, con edades superiores a los 18 años. 705 estudiantes participaron, en su mayoría mujeres, solteros, sin hijos, que residen con su familia, no hacer deporte y tienen actividad de ocio. La mayoría no participa en el grupo de investigación, no recibe becas académicas, no tiene empleo, están satisfechos con el curso y no están pensando en abandonarlo. Este estudio podría convertirse en una herramienta importante en el desarrollo de estrategias que aborden las necesidades de los estudiantes y también mejorar la calidad del proceso de enseñanza-aprendizaje y disminuir la tasa de deserción escolar.

Enfermería; Estudiantes de enfermería; Instituciones de enseñanza superior; Educación superior


INTRODUÇÃO

Os países da América Latina têm dado passos importantes no sentido de criar, cada vez mais, oportunidades para formar profissionalmente seus cidadãos. As vagas de acesso para o ensino superior praticamente dobraram nas últimas décadas e continuam a expandir, bem como o aumento e a diversificação de oportunidades para ingresso em diferentes áreas do conhecimento no sistema de ensino superior( 1Stallivieri L. O Sistema de Ensino Superior do Brasil características, tendências e perspectivas. Educación superior en América Latina y el Caribe: Sus estudiantes hoy. Editora: Lic. Gisela Rodríguez Ortíz. México. Ed 1. 2007:79-100. ).

Esse crescimento também tem ocorrido no Brasil, por meio da criação de programas e políticas que incentivam a expansão do ensino superior, bem como a democratização e a universalização ao acesso dessas instituições. Dentre eles, destaca-se o Programa Universidade para Todos (PROUNI), que oferece bolsas de estudos em instituições de ensino superior privadas( 2Ministério da Educação (BR), Programa Universidade para Todos - PROUNI. Lei nº 11.096, em 13 de janeiro de 2005. Brasília, 2005. ). Em julho de 2007, foi lançado o Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI), o qual tem como principal objetivo ampliar o acesso e a permanência na educação superior( 3Ministério da Educação (BR), Diretrizes Gerais de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI). Decreto nº 6.096, de 24 de abril de 2007. Brasília, 2007. ). Somado a esses programas, há a Lei nº 12.711, que institui a reserva de cotas nas universidades federais para alunos advindos das escolas públicas, em especial negros e indígenas, com o propósito de diminuir a desigualdade de acesso às universidades públicas, deste segmento da população( 4Ministério da Educação (BR). Lei nº 12.711, de 29 de agosto de 2012. Brasília, 2012. ).

Nesse sentido, segundo o Instituito Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, no período de 2005 a 2010 houve um aumento de 28% no número de vagas disponibilizadas em Instituições de Ensino Superior (IES) brasileiras( 5Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais - INEP. Sinopses Estatísticas da Educação Superior/Graduação. 2012. ). Dentro desta expansão, ocorreu um crescimento no número de cursos de graduação em enfermagem no país, os quais passarram de 106, em 1991, para 799 em 2011, o que representou um crescimento de 754% em 20 anos( 6Fernandes JD, Teixeira GAS, Silva MG, Florência RMS, Silva RMO, Santa Rosa DO. Expansão da educação superior no Brasil: ampliação dos cursos de graduação em enfermagem. Rev. Latinoam. Enferm. 2013;21(3) . ).

A expansão do sistema de ensino superior brasileiro, bem como a ampliação dos cursos de enfermagem, possibilitaram o acesso aos cursos de nível superior a uma maior parte da população. Assim, conhecer o perfil sociodemográfico e acadêmico dos discentes pode tornar-se uma importante ferramenta na elaboração de estratégias que contemplem as demandas dos estudantes e, ainda, melhore a qualidade do processo ensino aprendizagem e diminua o índice de evasão.

Nesse sentido, a fim de conhecer o perfil de discentes que cursam enfermagem, foi realizado esse estudo com o objetivo de descrever as características sociodemográficas e acadêmicas de discentes de Enfermagem de quatro instituições de ensino superior brasileiras.

MÉTODO

Trata-se de um estudo descritivo, transversal com abordagem quantitativa, desenvolvido em quatro Instituições de Ensino Superior (IES) brasileiras, três públicas e uma privada, sendo uma da região sul e três da região sudeste do país.

Incluíram-se alunos do primeiro ao último semestre, regularmente matriculados no Curso de Graduação em Enfermagem, com idade igual ou superior a 18 anos. Foram excluídos os discentes que: não estavam matriculados em disciplinas do ciclo profissionalizante (específicas da Enfermagem); em intercâmbio; que participaram como pesquisadores neste estudo e; que não concluiríam o curso por ultrapassarem o tempo limite de formação de cada instituição.

No momento da coleta de dados havia 958 discentes matriculados nas instituições em estudo. Desses, foram exluídos: quatro menores de 18 anos; 14 por não estarem matriculados em disciplinas do ciclo profissionalizante; 15 em intercâmbio; três por não concluírem a grade curricular no limite de tempo da instituição; 12 discentes que participaram do projeto como pesquisadores e 108 alunos não atingidos na coleta de dados, o que totalizou 802 discentes aptos a participarem da pesquisa. No entanto, 52 discentes não aceitaram participar do estudo e 45 não devolveram os instrumentos de pesquisa.

A coleta dos dados foi realizada por pesquisadores responsáveis em cada instituição e deu-se em salas de aula, em horário previamente agendado com os alunos e professores e com o consentimento da coordenação do Curso de Enfermagem de cada IES. O período da coleta foi de abril de 2011 a março de 2012, de acordo com o cronograma de cada IES, e ocorreu por meio de um Formulário para caracterização sociodemográfica e acadêmica dos discentes, o qual foi elaborado pelos responsáveis da pesquisa.

Dessa forma, foram abordadas as seguintes variáveis quantitativas: data de nascimento, número de filhos, número de disciplinas no semestre em curso, carga horária semestral e tempo gasto para chegar a instituição. Quanto as variáveis qualitativas foram abordadas: sexo, situação conjugal, com quem residem, semestre letivo, prática de esporte, atividade de lazer, participação em grupo de pesquisa, bolsa acadêmica, tipo de bolsa, outro curso superior, trabalha e satisfação com o curso.

Após a coleta dos dados, foi construído um banco de dados em planilha do programa Excel for Windows e os mesmos foram analisados por um estatístico, o qual utilizou o programa de software Statistical Analysis System (SAS - versão 9.02) e Statistical Package for Social Sciences (SPSS - versão 16). As variáveis qualitativas foram apresentadas em frequências simples (n) e relativas (%). As variáveis quantitativas foram expressas em medidas de tendência central (valor mínimo, valor máximo e média) e medidas de dispersão (desvio padrão).

Em respeito às Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisa Envolvendo Seres Humanos (Resolução 196/1996), foi disponibilizado aos participantes um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), o qual foi assinado após exposição e esclarecimentos por parte dos pesquisadores acerca da natureza da pesquisa( 7Ministério da Saúde (BR), Conselho Nacional de Saúde. Resolução 196, de 10 de outubro de 1996: diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres humanos. Brasília (DF); 1996. ).

Este estudo constitui-se em um subprojeto do projeto Estresse, Coping, Burnout, Sintomas Depressivos e Hardiness entre Discentes de Enfermagem, aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Federal de Santa Maria sob o CAAE nº 0380.0.243.000-10. Além disso, destaca-se que o artigo originou-se da dissertação entitulada "Estresse em discentes de enfermagem de quatro instituições brasileiras", apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)( 8Bublitz S. Estresse em discentes de enfermagem de quatro instituições brasileiras. 2014. 88 p. Dissertação (Mestrado em Enfermagem). Universidade Federal de Santa Maria. Santa Maria. 2014. ).

Salienta-se que o objetivo desse estudo não é denominar/identificar as IES, bem como fazer uma análise detalhada por IES, mas sim fazer uma análise geral do perfil dos acadêmicos de enfermagem das quatro instituições em estudo. Dessa forma, justifica-se que não serão descritas as peculiaridades de cada IES.

RESULTADOS

A pesquisa foi constituída por 705 discentes, o que representou 87,9% da população do estudo. A representatividade de discentes em relação às instituições privadas foi de 51,6% e instituições públicas 48,4%. Destaca-se, que apesar do estudo ter sido realizado em três instituições públicas e uma privada, o percentual entra o tipo de instituição foi semelhante.

Quanto às características sociodemográficas dos discentes, observa-se na Tabela 1, o predomínio do sexo feminino (84,5%), na faixa etária entre 20 e 24 anos (50%), solteiros (76,9%) e sem filhos (83,1%). Dos discentes com filhos, o número predominante foi de um filho (58,8%). Em relação à moradia, 76,4% residiam com familiares.

Tabela 1.
Distribuição da frequência de discentes segundo caracterização sociodemográfi cas. RS, 2014

Entre os discentes, 75,6% não praticam esportes e 60,5% praticam atividades de lazer. Quanto à distribuição dos discentes por ano do curso, verificou-se que 30,8% encontravam-se no primeiro ano, 24,3% no segundo ano, 22,1% no terceiro ano e 22,8% no quarto ano.

Observa-se na Tabela 2, que a maioria dos discentes leva de 21 a 40 minutos para chegar à instituição de ensino (30,6%), não participa de grupo de pesquisa/estudo (71,7%) e não recebe bolsa acadêmica (72,4%). No entanto, dentre os que recebem auxílio financeiro por bolsa, 194 discentes (100%), o tipo de bolsa predominante é de assistência (45,1%), ou seja, aquela em que os acadêmicos desenvolvem atividades assistenciais em Hospital de ensino, sob supervisão dos enfermeiros do serviço.

Tabela 2.
Distribuição dos discentes quanto ao tempo gasto para chegar a instituição, participação em grupo de pesquisa/ estudo, bolsa acadêmica e tipo de bolsa. RS, 2014

Na Tabela 3 apresenta-se a distribuição de discentes quanto a atividades laborais extras, se possuem outro curso superior e satisfação com o curso.

Tabela 3.
Distribuição dos discentes quanto a ter vínculo empregatício, possuir outro curso superior, satisfação com o curso e se já pensou em desistir do mesmo. RS, 2014

De acordo com a Tabela 3, a maioria dos discentes não desenvolve nenhuma atividade de trabalho (74,2%), e não possui outro curso superior (96,9%). Em relação à satisfação com o curso, 89,8% referem-se satisfeitos, e 36,8% já pensaram em desistir do mesmo.

As variáveis quantitativas da população, com valores mínimos e máximos, média e desvio padrão, estão descritas na Tabela 4.

Tabela 4.
Medidas descritivas para número de disciplinas que os alunos cursam por semestre, carga horária semestral, horas de estudo diário e tempo dedicado ao grupo de pesquisa/estudo por semana. RS, 2014

A Tabela 4 apresenta os valores mínimos e máximos apresentados pelos discentes, bem como a média e o Desvio Padrão dos mesmos. Assim, observa-se na Tabela 4 que os discentes cursam em média 6,7 disciplinas, carga horária de 487,2 horas, estudam em média 2,1 horas por dia e dedicam, em média, 5,7 horas semanais ao grupo de estudo.

DISCUSSÃO

Nesse estudo, verificou-se que há predomínio de discentes do sexo feminino (84,5%). Esse resultado vai ao encontro de outras pesquisas, em que o percentual de mulheres foi superior a 84%( 9Brito AMR, Brito MJM, Silva PAB. Sociodemographic profile of nursing students from institutions of superior level education at Belo Horizonte. Esc. Anna Nery Rev. Enferm. 2009;13(2):328-33. - 1010 Vall J, Pereira LF, Frisen TT. O perfil do acadêmico de enfermagem em uma faculdade privada da cidade de Curitiba. Cadernos da Escola de Saúde. Curitiba. 2009;02:1-10. ). A Enfermagem caracteriza-se por ser uma profissão feminina, pois está relacionada com o seu objeto de trabalho, o cuidado, o qual é historicamente atribuído como uma característica feminina. No entanto, já tem se identificado um aumento gradual de discentes do sexo masculino. Infere-se que os cursos de Enfermagem passam por transformações, deixando a ideia de uma profissão exclusivamente feminina, embora ainda predominante( 9Brito AMR, Brito MJM, Silva PAB. Sociodemographic profile of nursing students from institutions of superior level education at Belo Horizonte. Esc. Anna Nery Rev. Enferm. 2009;13(2):328-33. ).

Identificou-se um perfil jovem dos discentes, na faixa etária entre 20 a 24 anos (50%), com idade média de 24,21 anos. Destaca-se que essa faixa etária foi predominante nas instituições em estudo, no entanto a idade média variou de 22 nas instituições públicas para 26,27 nas instituições privadas. Resultado semelhante foi encontrado em uma pesquisa realizada com discentes de Belo Horizonte, em que prevaleceram estudantes de 20 a 24 anos( 9Brito AMR, Brito MJM, Silva PAB. Sociodemographic profile of nursing students from institutions of superior level education at Belo Horizonte. Esc. Anna Nery Rev. Enferm. 2009;13(2):328-33. ). A presença de acadêmicos jovens nos cursos de Enfermagem pode estar relacionada com o incentivo do governo brasileiro ao ingresso no ensino superior. No entanto, por ser uma população jovem, a escolha da profissão pode ser imatura, o que pode ocasionar maior índice de desistências no decorrer do curso( 1111 Freitas EO, Bublitz S, Neves ET, Guido LA. Sociodemographic and academic profile of nursing students of a public university. Journal of Nursing UFPE on line. 2012;6(10):2455-62. ).

Verificou-se predomínio de discentes solteiros (76,9%) e sem filhos (83,1%), dados que vão ao encontro de outras pesquisas( 9Brito AMR, Brito MJM, Silva PAB. Sociodemographic profile of nursing students from institutions of superior level education at Belo Horizonte. Esc. Anna Nery Rev. Enferm. 2009;13(2):328-33. , 1212 Pereira CA, Miranda LCS, Passos JP. O estresse e seus fatores determinantes na concepção dos estudantes de enfermagem. REME Rev. Min. Enferm. 2010;14(2):204-209. ). Destaca-se que dos 119 discentes com filhos, 105 eram das instituições privadas e 14 das instituições públicas. A prevalência de solteiros e sem filhos é coerente com a população jovem do estudo. Atualmente os jovens têm buscado independência e estabilidade financeira e procuram estabelecer uma união quando se sentem mais seguros e maduros, o que geralmente ocorre com a conclusão dos estudos( 1212 Pereira CA, Miranda LCS, Passos JP. O estresse e seus fatores determinantes na concepção dos estudantes de enfermagem. REME Rev. Min. Enferm. 2010;14(2):204-209. ).

Quanto a moradia, 76,4% residiam com familiares. Alunos que convivem com a familia, e que possuem uma boa relação com a mesma, têm mais facilidade a adaptarem-se as mudanças que ocorrem ao ingressar no ensino superior. Além disso, a familia oferece apoio social e auxilia nas tomadas de decisões dos jovens, o que pode ser interpretado como positivo nessa fase da vida( 1313 Silva SLR, Ferreira JAG. Família e ensino superior: que relação entre dois contextos de desenvolvimento?. Exedra: Revista Científica. 2009;(1):101-126. ). Aliado a isso há a descentralização/interiorização das instituições de ensino supeiror públicas e privadas colocando a disposição dos jovens opções de cursar a educação superior perto de suas casas e, portanto permitindo manter o convívio familiar.

Embora haja um aumento da divulgação dos benefícios de se praticar esportes, verificou-se que 75,6% dos discentes desse estudo não o praticam, mas 60,5% realizam alguma atividade de lazer. A participação em atividades físicas diminui com o crescimento, especialmente do adolescente que ingressa na idade adulta. Além disso, o sedentarismo está relacionado com a tecnologia, uma vez que, quanto mais tecnologia é criada menos tempo as pessoas têm para se dedicarem à manutenção de sua saúde( 1414 Alves US. Não ao sedentarismo, sim à saúde: contribuições da Educação Física escolar e dos esportes. O Mundo da Saúde São Paulo. 2007;31(4):464-469. ).

Quanto à distribuição dos discentes por ano do curso, identificou-se que 30,8% encontravam-se no primeiro ano, 24,3% no segundo ano, 22,1% no terceiro ano e 22,8% no quarto ano. Verifica-se que o percentual de discentes diminui nos dois últimos anos. A evasão dos discentes pode estar relacionada à: imaturidade, desconhecimento ou insuficiência de informações sobre o curso, dificuldade de adaptação ao meio acadêmico, problemas financeiros, familiares, insatisfação com o sistema de ensino ou, ainda, descontentamento com a profissão escolhida( 1515 Barlem JGT, Lunardi VL, Bordignon SS, Barlem ELD, Lunardi Filho WD, Silveira RS, Zacarias CC. Opção e evasão de um curso de graduação em enfermagem: percepção de estudantes evadidos. Rev. Gaúcha Enferm. 2012;33(2):132-138. ).

Além disso, o maior percentual de discentes nos primeiros anos pode estar relacionado ao Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI), o qual foi lançado em julho de 2007 e possui incentivo do governo para a sua contemplação. Nesse sentido, o REUNI tem como principal objetivo ampliar o acesso e a permanência na educação superior, o que pode estar relacionado com o maior percentual de discentes nos primeiros anos do curso, uma vez que as instituições estão inserindo-se neste programa.

Verificou-se que 71,7% dos discentes não participam de grupo de pesquisa/estudo, mas os que participam dedicam em média 5,7 horas de estudo por semana para o grupo. Nesse sentido, um estudo ao identificar as áreas de interesse de atuação dos discentes após a sua formação, verificou que 5,7% havia interesse em trabalhar na área da pesquisa, enquanto que 52,6% pretendiam trabalhar na assistência( 1010 Vall J, Pereira LF, Frisen TT. O perfil do acadêmico de enfermagem em uma faculdade privada da cidade de Curitiba. Cadernos da Escola de Saúde. Curitiba. 2009;02:1-10. ).

No entanto, destaca-se que os grupos de estudo e pesquisas proporcionam maior vínculo entre o ensino e a realidade vivenciada, além de buscar a cientificidade das ações realizadas e incentivar o aprofundamento de leituras sobre o tema, o que pode constituir-se em um diferencial para o futuro profissional. Somado a isso, a inserção nos grupos constitui um importante instrumento para o desenvolvimento da criatividade, na medida em que ocorre a busca de soluções para os problemas encontrados na realidade( 1616 Krahl M, Sobleslak EF, Poletto DS, Casarin RG, Knopf LA, Carvalho J, Motta LA. Experiência dos acadêmicos de enfermagem em um grupo de pesquisa. Rev. Bras. Enferm. 2009;62(1):146-50. ).

Verificou-se que 72,4% dos discentes desse estudo não recebem auxílio financeiro por bolsa de ensino, pesquisa, extensão ou dos Programas de Educação Tutorial (PETs). Resultado semelhante encontrado em estudo desenvolvido com discentes de uma universidade de São Paulo, em que 26,1% recebiam auxílio de bolsa( 1717 Filho PCPT, Pires E, Araújo GA. Características evidenciáveis de estresse em discentes de Enfermagem. Rev. Latinoam. Enferm. 1999;7(2):91-93. ).

No entanto, ao considerar os 194 bolsistas (100%), o tipo de bolsa predominante foi de assistência à saúde (45,1%), ou seja, aquela em que o discente desenvolve atividades assistenciais em Hospital de ensino, sob supervisão dos enfermeiros do serviço. O exercício da bolsa de assistência pode ser interpretado como mais uma alternativa para a aprendizagem do aluno, uma vez que este tem oportunidade de inter-relacionar teoria e prática, estabelecer vínculo com profissionais, conhecer a realidade em que os sujeitos do cuidado estão inseridos, além de auxiliar no exercício da sua autonomia.

Os estudantes, ao vivenciarem a realidade, também convivem com os conflitos que permeiam as relações construídas no cotidiano, o que pode ser avaliado como estressor pelo discente. Nesse sentido, o período de vigência da bolsa pode ser interpretado como uma importante experiência pré-profissional( 1818 Noal HC, Terra MG. Bolsa de assistência ao estudante de graduação em enfermagem: um estudo de caso. Rev. Enferm. UERJ. 2009;17(3):350-5. ).

Evidenciou-se que 74,2% dos discentes não desenvolvem nenhuma atividade de trabalho. Esse resultado diverge de um estudo realizado com discentes de uma faculdade privada de Curitiba, em que 70,2% exerciam atividade profissional( 1010 Vall J, Pereira LF, Frisen TT. O perfil do acadêmico de enfermagem em uma faculdade privada da cidade de Curitiba. Cadernos da Escola de Saúde. Curitiba. 2009;02:1-10. ).

Destaca-se que a média de discentes sem vínculo empregatício nas instituições públicas desse estudo foi de 89,1%. Essas instituições oferecem o curso em período integral, o que pode dificultar a inserção do aluno no mercado de trabalho. No entanto, ao comparar com as instituições privadas, em que o curso é ofertado em período parcial (manhã ou noite), verificou-se uma queda nesse percentual, em que 60,3% dos discentes não desenvolviam nenhuma atividade de trabalho. Esses dados vão ao encontro de um estudo realizado com uma instituição pública e uma privada, em que verificou maiores percentuais de discentes com vínculo empregatício na instituição privada( 1919 Spíndola T, Martins ERC, Francisco MTR. Enfermagem como opção: perfil de graduandos de duas instituições de ensino. Rev. Bras. Enferm. 2008;61(2):164-9. ).

Verificou-se que 96,9% dos discentes não possuem outro curso superior, o que pode estar relacionado à população jovem. O percentual de discentes com graduação anterior é semelhante a um estudo desenvolvido em Belo Horizonte, em que 4% dos discentes cursaram outro curso superior( 9Brito AMR, Brito MJM, Silva PAB. Sociodemographic profile of nursing students from institutions of superior level education at Belo Horizonte. Esc. Anna Nery Rev. Enferm. 2009;13(2):328-33. , 2020 Silva KL, Sena RR, Tavares TS, Maas LW. Expansão dos cursos de Graduação em Enfermagem e mercado de trabalho: reproduzindo desigualdades?. Rev. Bras. Enferm. 2012;65(3):406-13. ).

Em relação à satisfação com o curso, 89,9% referem-se satisfeitos com o mesmo. A motivação dos estudantes é um dado importante, uma vez que esse influencia diretamente no interesse e no aprendizado do aluno, além de repercutir na avaliação dos estressores. Nesse sentido, a satisfação dos alunos pode estar relacionada com: a satisfação de ser um estudante de nível superior, o sentimento de pertencer a um grupo de estudantes, a possibilidade de perceber o seu futuro como promissor e a aplicabilidade dos conteúdos desenvolvidos no curso.

No entanto, evidenciou-se que 36,8% dos discentes deste estudo já pensaram em desistir do curso, dado que pode estar relacionado também à faixa etária, predominantemente jovens, e as dúvidas quanto ao futuro profissional( 1111 Freitas EO, Bublitz S, Neves ET, Guido LA. Sociodemographic and academic profile of nursing students of a public university. Journal of Nursing UFPE on line. 2012;6(10):2455-62. ).

Conhecer as características sociodemográficas e acadêmicas dos discentes de enfermagem pode auxiliar no processo contínuo de avaliação curricular, uma vez que pode contribuir para a elaboração de estratégias que contemplem as demandas dos alunos do curso.

CONCLUSÕES

Após a consolidação da expansão do ensino superior brasileiro, bem como dos cursos de enfermagem, não foram encontrados estudos atuais que abordassem sobre o perfil dos discentes que procuram por essa formação profissional, o que se tornou uma limitação do estudo a fim de fazer comparações. Além disso, destaca-se que este estudo foi realizado em duas regiões do país, assim, esses achados não podem ser generalizados.

Assim, esse estudo identificou que o perfil sociodemográfico dos discentes de Enfermagem caracteriza-se por jovens, do sexo feminino, solteiros, sem filhos, os quais residem com familiares, não praticam esportes, mas possuem atividade de lazer. Em relação à atividade acadêmica, verificou-se que a maioria dos discentes não participa de grupo de estudo/pesquisa, não recebe auxílio de bolsa remunerada e não possue vínculo empregatício. Ainda, verificou-se que os discentes estão satisfeitos com o curso, o que tem influência na qualidade do ensino e no desenvolvimento do aluno, no entanto 36,79% já pensaram em desistir do mesmo.

Destaca-se que esse estudo pode caracterizar-se como uma importante ferramenta para a coordenação e para os docentes de cursos de Enfermagem ao longo do processo de ensino-aprendizagem, uma vez que permite conhecer as características dos seus alunos.

Somado a isso, ter conhecimento sobre o perfil sociodemográfico e acadêmico dos discentes de enfermagem pode auxiliar a orientar políticas no campo da educação, bem como propor mudanças nos Projetos Políticos Pedagógicos dos cursos e tecer perspectivas sobre o perfil dos enfermeiros no mercado de trabalho, uma vez que esses serão os futuros profissionais dessa área. Ainda, nessa perspectiva, ao conhecer melhor o contexto no processo de formação, esse estudo poderá auxiliar a propor medidas que atendam as necessidades dos alunos e, assim, diminuir o estresse dos discentes nesse período, o que pode fazer com que ingressem no mercado de trabalho com mais prazer e satisfação.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Mar 2015

Histórico

  • Recebido
    16 Jul 2014
  • Aceito
    05 Fev 2015
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