Acessibilidade / Reportar erro

Fortalezas e fragilidades do curso técnico de enfermagem no Instituto Federal de Santa Catarina

Fortalezas y fragilidades del curso técnico de la enfermería en el Instituto Federal de Santa Catarina

RESUMO

Objetivo

Analisar as fortalezas e as fragilidades encontradas no processo de implantação do curso Técnico de Enfermagem no Instituto Federal de Santa Catarina, Florianópolis/SC, na década de 2000.

Método

Pesquisa sócio-histórica com abordagem qualitativa. História oral como método-fonte para coleta dos dados, entre junho/setembro de 2015, com análise temática. Sete profissionais participaram do estudo, resultando em três categorias: Reconhecimento do curso Técnico de Enfermagem pela comunidade e pelo mercado de Trabalho; Fragilidades enfrentadas pelo curso; Fortalezas no período de implantação do curso.

Resultados

O curso foi aceito pelo mercado de trabalho, o que se reflete na procura ampliada pelo curso. Como fragilidades destacaram-se: materiais e estrutura insuficientes, poucos professores, oferta bianual e não compreensão dos estágios pela instituição. Como fortalezas destacaram-se: o comprometimento dos professores, o apoio da direção e o incentivo à pesquisa.

Considerações finais

Apesar das fragilidades, as fortalezas contribuíram para que a implantação do curso Técnico de Enfermagem superasse os desafios, garantindo melhoria na formação profissional.

História da enfermagem; Ensino fundamental e médio; Escolas de enfermagem; Educação

RESUMEN

Objetivo

Analizar las fortalezas y debilidades encontradas en el transcurso proceso de implementación del curso Tecnico de Enfermería en el Instituto Federal de Santa Catarina, en Florianópolis / SC, Brasil, en la década de 2000.

Método

Investigación sociohistórica con el enfoque cualitativo que utiliza la historia oral como un método de origen para la recolección de datos, de siete profesionales de salud entre junio/septiembre de 2015.

Resultados

Como fragilidad se destacaron: materiales y la estructura insuficiente y pocos profesores para llevar a cabo el curso, oferta del curso cada dos años de la oferta y no entender el funcionamiento de la formación práctica en la institución de enfermería. Como una fortaleza se destacó el compromiso de los profesores que participan en el curso, el apoyo a la gestión y el conocimiento de incentivos a la investigación dadas por las enfermeras.

Consideraciones finales

A pesar de las deficiencias existentes, los puntos fuertes contribuyeron para que la implantación del curso Técnico de Enfermería superase los desafíos garantizando mejora en la formación profesional.

Historia de la enfermería; Educación primaria y secundaria; Escuelas de enfermaría; Educación

ABSTRACT

Objective

To analyze the strengths and weaknesses found in the implementation process of the Nursing Certificate Program at the Instituto Federal de Santa Catarina (Federal Institute of Santa Catarina), in the 2000s.

Method

Socio-historical research with a qualitative approach. Oral history as a method source for data collection between June/September 2015, with thematic analysis. Seven professionals participated in the study, resulting in three categories: Recognition of the Nursing Certificate Program in the community and work market; Weaknesses faced by the course; Strengths during the implementation of the course.

Results

The course was accepted by the labor market, resulting in an increased demand. As weaknesses: insufficient materials and structure, few teachers, course is offered every two years and no understanding of the stages by the institution. As strengths: commitment of teachers, management support and incentives to perform research.

Final considerations

Despite the weaknesses, the strengths contributed to the implementation of the Nursing Certificate Program overcoming challenges, ensuring improvement in vocational training.

History of nursing; Elementary and High School; Nursing schools; Education

INTRODUÇÃO

A formação profissional de enfermagem tem início em Santa Catarina no ano de 1959, na cidade Florianópolis, capital do estado, com o curso Auxiliar de Enfermagem Madre Benvenutta. Este curso foi criado pela congregação Divina Providência, sob a coordenação da Irmã Cacilda Hammes (Ottilie Hammes), reconhecido como a primeira escola de enfermagem do estado catarinense11. Borenstein MS; Padilha MI. Enfermagem em Santa Catarina (1900-2011). In: Borenstein MS; Padilha MI. Enfermagem em Santa Catarina: recortes de uma história (1900-2011). 1 ed. Florianópolis: Secco, 2011. p. 59-82..

Dez anos mais tarde, em 1969, foi criado também na cidade de Florianópolis, na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o primeiro curso de Graduação em Enfermagem do estado, sob a coordenação e articulação da enfermeira Professora Doutora Eloita Pereira Neves. A criação deste curso resultou em significativas melhorias na assistência à saúde da população catarinense, através da inserção de profissionais de enfermagem, qualificados em nível superior, no mercado de trabalho. Até a criação deste curso, os enfermeiros que aqui atuavam eram provenientes dos estados de São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul, onde já existia essa formação22. Borenstein MS; Oliveira ME; Santos EKA; Maliska ICA. Eloita Pereira Neves: baluarte da enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina. Texto Contexto Enferm. 2009 out-dez [citado 2015 ago 17];18(4):759-65. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-07072009000400018.
http://www.scielo.br/scielo.php?script=s...
.

Como resultado da política do Governo Federal (Lei nº 5.692/71), que determinava a criação de escolas técnicas em todo o território nacional, em 1976, foi fundado também em Florianópolis, o primeiro curso Técnico de Enfermagem de Santa Catarina, no Colégio Coração de Jesus33. Borenstein MS; Padilha MI; Maia AR; Costa E; Gregório VRP; Espíndola AMK. Ottillie Hammes: pioneira da enfermagem catarinense. Rev Bras Enferm. 2099 mar-abr [citado 2015 set 02];62(2):240-5. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-71672009000200011.
http://www.scielo.br/scielo.php?script=s...
. O cumprimento desta política, contribuiu com o desenvolvimento da enfermagem em nosso estado, e também, com a qualidade dos serviços prestados à população, pois aumentava a oferta de profissionais com formação específica, aptos para atuar nos serviços de saúde.

Atualmente em Santa Catarina encontramos 76 instituições de ensino que atuam na formação Técnica em nível médio de Enfermagem, e 27 instituições de nível superior. Florianópolis, capital do estado, abriga sete destas escolas de nível técnico de enfermagem e uma de nível superior44. Padilha MICS; Borenstein MS; Maia AR; Domingues JAG; Lessmann JC; Machado CA. Uma história de sucesso: 30 anos da Pós-Graduação em Enfermagem da UFSC. Texto Contexto Enferm. 2006 [citado 2016 jun 07];15(esp):20-30. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/tce/v15nspe/v15nspea02.
http://www.scielo.br/pdf/tce/v15nspe/v15...
-55. Conselho Regional de Enfermagem de Santa Catarina (BR) [Internet]. Florianópolis: COREN/SC; c2015-2017 [citado 2015 jul 27]. Mapa da enfermagem de Santa Catarina; [aprox. 1 tela]. Disponível em: http://www.corensc.gov.br/iframe/mapa_coren/.
http://www.corensc.gov.br/iframe/mapa_co...
. Entre as escolas que ofertam o ensino Técnico em Enfermagem em Florianópolis, nos chamou a atenção, a oferta do curso no Instituto Federal de Santa Catarina, uma vez que o ensino Técnico em Enfermagem surge em uma instituição centenária, onde a tradição do ensino esteve por muitos anos direcionado para a área da indústria.

Com base no exposto, o presente estudo teve por objetivo: analisar as fortalezas e fragilidades encontradas no processo de implantação do curso Técnico de Enfermagem no Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), em Florianópolis/SC, na década de 2000. O recorte histórico justifica-se na década de criação e implantação do curso Técnico de Enfermagem no IFSC, campus Florianópolis, capital do estado de Santa Catarina, ou seja, 14 anos depois do primeiro curso Técnico de Enfermagem do Estado no Colégio Coração de Jesus.

A justificativa deste estudo, é contribuir com a construção da história da enfermagem em Santa Catarina, cooperando assim com a construção da identidade profissional desta profissão, promovendo um novo olhar sobre a enfermagem.

METODOLOGIA

Este artigo é oriundo da dissertação de mestrado intitulada “A criação e a implantação do curso Técnico de Enfermagem no Instituto Federal de Santa Catarina nos anos 2000”66. Oliari LP. A criação e a implantação do Curso Técnico de Enfermagem nos anos 2000 [dissertação]. Florianópolis (SC): Universidade Federal de Santa Catarina; 2016.. Trata-se de uma pesquisa sócio-histórica com abordagem qualitativa, que utilizou a história oral temática como método-fonte para a coleta de dados, por meio de entrevistas semiestruturadas, entre os meses de junho a setembro de 2015. A coleta de dados foi encerrada quando os dados estavam saturados, ou seja, as informações passaram a se repetir de uma entrevista para outra a partir da quinta entrevistada.

O universo do estudo foi o curso Técnico de Enfermagem do campus Florianópolis, do Instituto Federal de Santa Catarina, localizado na respectiva cidade, pertencente a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica do país. O campus Florianópolis é o primeiro e mais antigo campus da Rede em Santa Catarinac c Foi criado em 1909, com o intuito de promover qualificação profissional à população carente que aqui residia. Atualmente o campus oferece cursos em várias modalidades de ensino, público e gratuito, que vão desde a qualificação profissional ao mestrado profissional. .

A criação e implantação do curso Técnico de Enfermagem ocorre no campus Florianópolis no ano de 2002, com oferta bianual, por intermédio das enfermeirasd d Optamos em utilizar os termos no feminino por representar a maior parte dos participantes deste estudo. docentes Rita de Cássia Flôr, Elisabete Furtado Maia, Laurete Medeiros Borges e do enfermeiro docente Fabiano Antonini.

Entre os anos de 2002 e 2008, o curso técnico de enfermagem formou 52 alunos. Em 2008, o curso passa a ser ofertado por meio do Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos – PROEJA. Nesta modalidade o curso formou três turmas, com um total de 65 alunos. Em 2014, acontece nova reformulação e o curso passa a ser ofertado anualmente na modalidade contínua. Ainda não há formandos nesta modalidade, pois o curso está em andamento66. Oliari LP. A criação e a implantação do Curso Técnico de Enfermagem nos anos 2000 [dissertação]. Florianópolis (SC): Universidade Federal de Santa Catarina; 2016..

Os participantes deste estudo foram cinco professoras enfermeiras, um diretor geral do campus, e uma pedagoga. Os critérios de inclusão foram: atuação no IFSC durante a criação implantação do curso técnico de enfermagem (início dos anos 2000); ter relação com o processo de criação e implantação do curso Técnico de Enfermagem; ter boa memória em relação ao período de criação e implantação do curso. Os participantes do estudo assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e permitiram a utilização dos seus nomes. Após a coleta dos dados, as entrevistas foram transcritas e transcriadas pela própria pesquisadora, e devolvidas aos participantes para sua validação, por meio da assinatura do Termo de Cessão de entrevista. Este termo garante a legalidade do uso da entrevista. A transcriação da entrevista permite que a intenção original da fala do participante do estudo seja transmitida, sem a interferência dos vícios da comunicação, como a repetição de palavras.

Também foram utilizadas neste estudo fontes documentais, como: projeto do curso, Jornal do Centro Federal de Educação Tecnológica – CEFET, memorandos, ofícios, manual de orientação, resoluções, relatórios e leis.

A análise dos dados foi realizada conforme com os preceitos de Minayo (2014), através da técnica de análise de conteúdo temática. Por meio desta técnica os dados foram agrupados por categorias, com o objetivo de agrupar os possíveis temas, como também, identificar os núcleos de compreensão do texto. Três categorias foram utilizadas neste estudo: Categoria 1: reconhecimento do curso Técnico de Enfermagem pela comunidade e mercado de trabalho. Categoria 2: fragilidades enfrentadas pelo curso. Categoria 3: fortalezas no período criação e implantação do curso Técnico de Enfermagem no IFSC.

O estudo foi submetido e aprovado (número do CAAE -45500615.4.0000.0121) pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos (CEPSH) da Universidade Federal de Santa Catarina.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Reconhecimento do curso Técnico de Enfermagem pela comunidade e mercado de trabalho

A criação do curso Técnico de Enfermagem no Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), campus Florianópolis, ocorreu no início dos anos 2000, quando a escola ainda era denominada Escola Técnica Federal de Santa Catarina. Com mais de oitenta anos de atuação no ensino industrial na capital do estado de Santa Catarina, a escola era reconhecida pela comunidade e mercado de trabalho como uma instituição consolidada e qualificada na formação e qualificação profissional no estado.

Um dos aspectos identificados nos relatos dos participantes deste estudo, foi relativo ao reconhecimento do curso Técnico de Enfermagem pela comunidade e mercado de trabalho.

Nossos alunos eram muito esperados pelo mercado [de trabalho], até por instituições particulares. Eles [os empresários] ligavam e queriam saber quando que se formava a nossa turma. Os nossos alunos tiveram 100% de aceitação. Elisabete (professora)

Por meio desta fala foi possível verificar que os cursos ofertados pelo IFSC são reconhecidos pela comunidade, sendo constatado pela procura e absorção dos formandos dos seus diversos cursos pelo mercado de trabalho. Este reconhecimento se deve a qualidade e seriedade depositados na formação profissional, adotados por esta instituição, e que contribuem com o desenvolvimento local e regional de sua inserção.

A Pesquisa Nacional de Egressos dos Cursos Técnicos da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica, realizada em 2009, com os egressos dos anos de 2003 a 2007, revelou que 72% dos egressos da rede estão empregados. Destes 44% atuam na área do curso técnico em que se formaram e 21% em áreas correlata. Entretanto na região Sul esta porcentagem muda para 59% e 18% respectivamente77. Ministério da Educação (BR). Pesquisa nacional de egressos dos cursos técnicos da rede federal de educação profissional e tecnológica (2007-2009). Brasília (DF): 2009 [citado 2016 jan 8]. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=819-relatversaofinal-pdf&category_slug=documentos-pdf&Itemid=30192.
http://portal.mec.gov.br/index.php?optio...
. Por meio destes dados, torna-se evidente a aceitação pelo mercado de trabalho, da formação profissional oferecida pelas instituições da Rede Federal em nosso país.

Os participantes do estudo também destacaram o reconhecimento do curso pela comunidade, relacionando-o ao fato de ser público e prezar pela qualidade do ensino.

Aqui em Florianópolis já existia uma escola de enfermagem, só que ela era particular. Quando apareceu a pública, todo mundo correu para a pública. E a escola técnica, sempre teve um conceito bastante forte dentro da comunidade de Florianópolis. Então quando foi criado o curso de enfermagem “[...]”, choveu candidatos. Anésio (diretor da Escola Técnica)

Acreditamos que a oferta gratuita do curso Técnico de Enfermagem foi um dos fatores importantes para a alta procura do curso, visto que o custo da formação no ensino privado torna-se um elemento excludente para boa parte da população. Compreendemos ainda que a procura pela formação profissional em uma instituição pública e com prestígio é o resultado da competitividade imposta pelo mundo atual, onde as melhores colocações no mercado de trabalho são determinadas pelo prestígio, qualidade e reconhecimento das instituições formadoras.

No Brasil os profissionais de enfermagem estão em maior número entre os profissionais da saúde88. Pires DEP, Bertoncini JH, Trindade LL, Matos E, Azambuja E, Borges AMF. Inovação tecnológica e cargas de trabalho dos profissionais de saúde: uma relação ambígua. Rev Gaúcha Enferm. 2012 mar [citado 2016 out 12];33(1):157-68. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rgenf/v33n1/a21v33n1.pdf.
http://www.scielo.br/pdf/rgenf/v33n1/a21...
, sendo a enfermagem de nível médio, a categoria que ocupa o maior número de vagas profissionais nas instituições de saúde, como também, oferece o maior número de cursos no país. A rede pública de ensino contribui com uma pequena parcela desta formação, visto que a rede privada concentra o maior número de escolas de nível Técnico de Enfermagem99. Geovanini T, Moreira A, Schoeller SD, Machado WCA. História da enfermagem: versões e interpretações. 3. ed. Rio de Janeiro: Revinter; 2010.. Essa disparidade entre a oferta púbica e privada pode ser justificada pelo retorno de investimentos atraentes que este nível de formação oferece ao setor privado, como também, pela ampliação dos postos de trabalho nesta área e nível de formação.

Os Institutos Federais de Educação Ciência e Tecnologia, surgiram com a finalidade de promover a oferta de educação profissional e tecnológica, em todos os seus níveis e modalidades, formando e qualificando cidadãos com vistas na atuação profissional nos diversos setores da economia. Com a criação dos Institutos Federais (IF) esta disparidade entre ofertas de vagas públicas e privadas tem reduzido no país.

Outro aspecto abordado pelos participantes do estudo foi relativo a alta concorrência na seleção dos candidatos para o ingresso no curso Técnico de Enfermagem. Este ingresso é realizado por meio do Exame de Classificação (EC), sendo este uma prova de múltipla escolha, de conhecimentos gerais, realizados pelos candidatos inscritos para o curso. O exame desde então ocorre com uma periodicidade determinada pelo projeto político pedagógico de cada curso em questão, o qual também determina o número de vagas ofertadas. Este exame não reprova o candidato, ele garante o seu ingresso no curso de acordo com sua classificação, em conformidade ao número de vagas. Para a criação do curso Técnico de Enfermagem foram ofertadas 18 vagas para o EC, com a periodicidade bianual.

A seleção do Instituto não era fácil, a concorrência era muito alta. A nossa primeira turma deu 22 para 1 [candidatos por vaga] e não baixou de 22 por 1, 17 por 1 “[...]”. Os gestores acabaram entendendo que era os índices maiores. Eu sempre dizia “interessante que é o curso que tem o maior índice dentro da instituição e o que tem o menor espaço” “[...]” Rita (professora)

O número elevado de candidatos inscritos para prestar o EC para o primeiro ingresso no curso Técnico de Enfermagem do IFSC, em Florianópolis, pode ser encarado como uma demanda que a região enfrentava por formação profissional pública e gratuita na área da enfermagem, como também, pelo elevado conceito que a instituição apresentava frente à sociedade e ao mercado de trabalho.

No Brasil é possível encontrarmos um variado leque de instituições públicas de ensino, tradicionalmente bem conceituadas pelos órgãos fiscalizadores. Esta avaliação positiva torna o curso reconhecido pela sociedade, resultando em uma procura cada vez mais elevada para o ingresso nestas instituições1010. Fabri AQ. O direito econômico da concorrência frente às estratégias de mercado das grandes redes de ensino. Rev Profissão Docente. 2013 jan-jun [citado 2016 jan 8];13(28):32-44. Disponível em: http://www.revistas.uniube.br/index.php/rpd/article/view/539.
http://www.revistas.uniube.br/index.php/...
. Este fato justifica o processo de seleção para o curso Técnico de Enfermagem no IFSC, em Florianópolis, ser muito disputado, como também, o fato do número de vagas ofertadas não serem suficientes para atender a demanda local.

Fragilidades enfrentadas pelo curso

Os profissionais que criaram e implementaram o curso Técnico de Enfermagem no IFSC, enfrentaram muitas dificuldades até sua consolidação na instituição. Tais dificuldades foram relacionadas ao fato do curso ser criado em uma instituição de ensino já consolidada na área da indústria. Fato este que pode ser observado no relato a seguir.

As escolas técnicas nasceram na área da Indústria, então o foco das escolas técnicas era a indústria. Você colocar um curso de enfermagem onde se tem mais de 60% do corpo docente de Engenheiros “[...]”. Foi bem dificultoso. Hoje a gente até ganhou um certo espaço lá, mas ainda não está bom. Então é tudo muito “enjambrado”, porque a enfermagem precisa. Mas nós conseguimos bons laboratórios. Mas a gente pode melhorar mais. Rita (professora)

Por meio deste relato é possível compreender que as dificuldades enfrentadas pelas docentes enfermeiras, a fim de conquistar o espaço do curso Técnico de Enfermagem na instituição, é o resultado da característica da mesma na oferta de ensino industrial.

Os Institutos Federais surgiram em todo Brasil no ano de 2008, por meio da Lei nº 11.892, de 29 de dezembro, que institui a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica. Estes são originários das Escolas de Aprendizes Artífices, criadas em 1909 pelo presidente do Brasil à época, Nilo Peçanha. Estas escolas foram criadas nas capitais dos Estados, por meio do Decreto nº 7566 de 23 de setembro de 1909, em execução da lei nº 1.606, de 29 de dezembro de 1906, o qual tinha como finalidade oferecer ensino profissional e gratuito, permitindo às classes proletárias os meios de vencer as dificuldades sempre crescentes da luta pela existência1111. Presidência da República (BR). Decreto nº 7.566, de 23 de setembro de 1909. Cria nas capitais dos Estados da Escolas de Aprendizes Artífices, para o ensino profissional primário e gratuito [Internet] 1909 [citado 2015 fev 13]. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/setec/arquivos/pdf3/decreto_7566_1909.pdf.
http://portal.mec.gov.br/setec/arquivos/...
.

A política das Escolas de Aprendizes Artífices, era atender as necessidades educacionais das pessoas “desprovidas de fortuna”, assim como da indústria brasileira, em favor do desenvolvimento do país. Em Florianópolis os primeiros cursos oferecidos para a comunidade foram os cursos primário, desenho, tipografia, encadernação e pautação, carpintaria da ribeira, escultura e mecânica (ferraria e serralheria)1212. Almeida AV. Da Escola de Aprendizes Artífices ao Instituto Federal de Santa Catarina. Florianópolis: IFSC, 2010.. Desde a sua criação em 1909, a escola sofreu inúmeras transformações. Passou a denominar-se Liceu Industrial de Santa Catarina (1937-1942); Escola Industrial de Florianópolis (1942); Escola Industrial Federal de Santa Catarina (1942-1965); Escola Industrial Federal de Santa Catarina (1965-1968); Escola Técnica Federal de Santa Catarina (1968-2002); Centros Federais de Educação Tecnológica (2002-2008) e Instituto Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (2008), até a atualidade.

Os cursos na área da saúde surgem na Escola Técnica Federal de Santa Catarina na década de 1990, após 80 anos de criação desta instituição. O Curso Técnico de Enfermagem iniciou sua oferta na cidade de Joinville, SC, em parceria com o Hospital e Maternidade Dona Helena, no ano de 1994. Neste período o curso funcionava como uma extensão da Escola Técnica Federal de Santa Catarina, unidade Florianópolis, até o ano de 2006, quando foi transformado em campus1212. Almeida AV. Da Escola de Aprendizes Artífices ao Instituto Federal de Santa Catarina. Florianópolis: IFSC, 2010..

Apenas em 2002, por intermédio das docentes enfermeiras provenientes do curso Técnico de Enfermagem ofertado na cidade de Joinville, o curso passa a ser oferecido na cidade de Florianópolis. Sendo esta a unidade sede da Escola Técnica Federal de Santa Catarina, onde o ensino industrial já estava consolidado. O processo de criação e implantação do curso encontrou dificuldades, em virtude das especificidades da formação profissional em Enfermagem serem distintas daquelas já praticadas na instituição.

As docentes relataram ainda, que as incomodava, a oferta bianual do curso Técnico de Enfermagem, fato este observado na seguinte fala.

O curso Técnico de Enfermagem iniciou com turmas a cada dois anos. Terminava uma turma e começava outra. E foi assim porque nós não tínhamos quantidade de professores suficiente para abarcar mais turmas. Levamos a proposta na época para o professor Anésio Macari, que era um gestor, diretor da escola. E ele disse assim, “olha, se vocês só tem condição de fazer a cada dois anos, façam a cada dois anos”. Laurete (professora)

É possível perceber que a entrada bianual incomodava as docentes, pelo fato de diminuir o número de vagas discentes ofertadas para a população, e consequentemente, número de egressos formados para o mercado de trabalho. Outro ponto negativo em relação a entrada bianual, era o fato do aluno precisar aguardar o início de outra turma, para recuperar uma disciplina perdida, em caso de reprovação.

A criação dos Institutos Federais, em 2008 modificou o cenário até então existente. O governo federal ampliou significativamente os investimentos na expansão da oferta de educação profissional, em especial no ensino técnico, nas diversas áreas de atuação econômica. Esta ampliação teve como objetivo aumentar a oferta de vagas para o ensino profissional, tornar o acesso democrático e atender as exigências do mercado de trabalho1313. Mendonça AG. Ensino técnico de nível médio: momentos de prestígio e de esquecimento se alternando durante a história da educação profissional no Brasil. Horizontes. 2014 jul-dez [citado 2016 jan 09];32(2):87-99. Disponível em: https://revistahorizontes.usf.edu.br/horizontes/article/view/178.
https://revistahorizontes.usf.edu.br/hor...
. Por meio da expansão do ensino profissional no país, tornou-se possível o desenvolvimento pessoal e profissional dos cidadãos, permitindo sua inserção no mercado de trabalho. Como resultado deste investimento, têm-se crescimento social e econômico da população brasileira.

Ainda em relação as fragilidades encontradas no período de criação do curso Técnico de Enfermagem, ressaltou-se a falta de estrutura física e ausência de materiais para o funcionamento do curso Técnico de Enfermagem no IFSC em Florianópolis. O curso iniciou na capital do estado com dificuldades na estrutura e na aquisição de materiais necessários para as aulas práticas, como luvas, agulhas, seringas e água destilada. Deste modo, para a primeira turma do curso, foi necessário que alunos e professores adquirissem estes materiais por meio de recursos próprios e não institucionais. O acervo de livros e materiais didáticos, eram insuficientes, e boa parte foi doado ou elaborado pelas próprias docentes do curso. As aulas de anatomia aconteciam no mesmo laboratório utilizado pelo curso técnico em radiologia já existente. Entretanto, as aulas práticas de enfermagem aconteciam na própria sala de aula onde eram realizadas as aulas teóricas. Tais dificuldades podem ser observadas no relato a seguir.

Existia deficiência de tudo. Fomos conseguindo as coisas aos poucos. Para você ter uma ideia, não só eu, mas minhas amigas da época, para iniciar [o curso] nós doamos os nossos livros. Trouxe todos os livros que eu não utilizava em casa. A Bete também trouxe os [livros] dela. Era algo para começar. Então estudamos com os nossos livros. Rita (professora)

Frente a falta de estrutura e materiais essenciais para a formação dos profissionais técnicos em enfermagem, se fez necessário que as docentes utilizassem do improviso e adaptação cotidiana a fim de garantir seus objetivos educacionais, para a formação profissional.

Na formação do profissional de enfermagem, o uso do laboratório torna-se um recurso fundamental para o aprendizado de técnicas básicas de enfermagem. Permite ao educando o desenvolvimento de habilidades e competências, como destreza manual, memorização da sequência da técnica, como também, a realização de procedimentos muitas vezes não oportunizados durante os estágios curriculares supervisionados1414. Souza Leite MTS, Ohara CVS, Kakehashi TY, Ribeiro CA. Unidade teórico-prática na práxis de um currículo integrado: percepção de docentes de Enfermagem na saúde da criança e do adolescente. Rev Bras Enferm. 2011 jul-ago [citado 2016 jan 06];64(4):717-24. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/reben/v64n4/a14v64n4.pdf.
http://www.scielo.br/pdf/reben/v64n4/a14...
.

A estrutura inadequada ou insuficiente para atender as necessidades do ensino, pode provocar transtornos aos docentes e educandos, comprometendo o processo de ensino e aprendizagem. Estes transtornos muitas vezes elevam a carga de trabalho dos professores, na tentativa de suprir as deficiências estruturais, como também, favorecem a desmotivação dos envolvidos neste processo. Outra fragilidade que se faz pertinente ressaltar, era a preocupação das enfermeiras em relação ao corpo docente disponível para atuação no curso.

Éramos em três pessoas pra fazer todas as disciplinas, e para ir para todos os estágios. Depois veio a colega Rosane, e nós conseguimos ir conquistando nosso espaço e conseguindo professores substitutos. Mas no início mesmo era a cada dois anos, pois era o que a gente conseguia fazer. Laurete (professora)

A oferta do curso Técnico de Enfermagem acontecia de maneira bianual, em virtude da escassez de professores enfermeiros que a instituição enfrentava. Esta situação angustiava as docentes enfermeiras, pois impedia a ampliação da oferta de vagas discentes para o curso, como também, proporcionava uma formação profissional espaçada.

A Lei nº 9.649, de 27 de maio de 1998, em seu artigo 47, § 5o, determinava que “a expansão da oferta de educação profissional, mediante a criação de novas unidades de ensino por parte da União, somente poderá ocorrer em parceria com Estados, Municípios, Distrito Federal, setor produtivo ou organizações não-governamentais, que serão responsáveis pela manutenção e gestão dos novos estabelecimentos de ensino”1515. Presidência da República (BR), Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei nº 9.649, de 27 de maio de 1998. Dispõe sobre a organização da Presidência da República e dos Ministérios, e dá outras providências [Internet]. Brasília (DF); 1998 [citado 2016 jan 11]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9649cons.htm.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/lei...
. Sem parcerias mantenedoras, esta situação foi prorrogada por alguns anos, até a criação da Rede Federal em 2008, quando ocorreu a expansão do ensino profissional, público e gratuito no país, ampliando assim o número de vagas docentes na rede.

Também foi apontado pelas enfermeiras como uma fragilidade na criação do curso, a não compreensão da instituição sobre a necessidade do docente enfermeiro, supervisionar de forma direta o aluno na realização dos estágios curriculares supervisionados determinado pela legislação vigente. Este fato pode ser observado na fala a seguir.

É um curso que requer parte teórica e prática, e não há uma compreensão do porque o professor precisa ficar, no que chamamos de estágio. Não há uma compreensão do que é o estágio. O estágio para o Instituto é um momento que acontece no final do curso. O aluno vai para a empresa e fica com um supervisor da empresa, e o professor vai lá para fazer uma visita. Faz um acompanhamento mais a distância do aluno. Diferente dessas práticas que a gente faz no hospital, que o professor tem que ficar lá no mínimo 4 horas, 4 horas e meia, com o aluno. Então o entendimento qual era: “Por que você tem que ir pra estágio e fazer 20hs semanais? É obrigatório esse estágio?” É obrigatório, porque a formação, do técnico de enfermagem requer essa supervisão direta. Tem curso [na instituição] que nem tem estágio, só tem parte teórica. O estágio é opcional. O aluno faz se quiser. Então por isso que existe essa não compreensão do estágio na enfermagem. É por falta de conhecimento da especificidade da nossa área. Laurete (professora)

Diferente dos cursos da área da indústria já ofertados pela instituição, onde o estágio curricular acontecia no final do curso e a supervisão docente ocorria de maneira indireta, o curso Técnico de Enfermagem exigia (e exige) legalmente, a realização de estágio curricular supervisionado, com a supervisão direta do docente enfermeiro, durante todo o período de atividades. Deste modo, o curso Técnico de Enfermagem demanda um número maior de professores, a fim abarcar toda a carga horária prática determinada pelo curso.

De acordo com as diretrizes do Conselho Federal de Enfermagem1616. Conselho Federal de Enfermagem (BR). Resolução COFEN Nº 371/2010. Dispõe sobre participação do Enfermeiro na supervisão de estágio de estudantes dos diferentes níveis da formação profissional de Enfermagem [Internet]. Brasília (DF); 2010 [citado 2016 jan 06]. Disponível em: http://www.cofen.gov.br/resoluo-cofen-n-3712010_5885.html.
http://www.cofen.gov.br/resoluo-cofen-n-...
“o estágio curricular supervisionado deverá ser efetivado com supervisão do enfermeiro”, e deve “visar a complementação do ensino e da aprendizagem a serem planejados, executados, supervisionados e avaliados por enfermeiro, em conformidade com a proposta pedagógica do curso, a fim de assegurar o desenvolvimento das competências e habilidades gerais e específicas para o exercício profissional”.

É neste momento da formação profissional que o futuro Técnico em Enfermagem tem a oportunidade de entrar em contato com a realidade da profissão, e ter a possibilidade de colocar em prática os conhecimentos adquiridos confrontando-os com a realidade, estando ainda sobre a supervisão do enfermeiro docente apto para avaliar o educando.

As docentes enfermeiras enfrentaram inúmeras dificuldades no processo de criação e implantação do curso Técnico de Enfermagem, as quais foram superadas por meio de muito empenho e dedicação das profissionais que estavam a frente desta iniciativa. Entre as fragilidades identificamos: o número insuficiente de docentes para ofertar o curso; oferta do curso bianual; estrutura deficiente, e a não compreensão da instituição a respeito dos estágios curriculares supervisionados da enfermagem, o qual sobrecarregava a carga horária das docentes.

Fortalezas no período de criação e implantação do curso Técnico de Enfermagem no IFSCs

A criação e implantação do curso Técnico de Enfermagem no IFSC, em Florianópolis, ocorreu diretamente pelo interesse e atuação das docentes enfermeiras que atuavam na instituição: Rita, Bete, Laurete e Fabiano. Deste modo, nesta categoria estaremos discutindo as fortalezas encontradas por estes docentes na criação e implantação do curso Técnico de Enfermagem no IFSC. Iniciaremos a discussão, com o relato a respeito do comprometimento dos professores envolvidos com o curso, conforme segue as falas.

O que facilitou muito foi a interação do grupo de professores que estavam montando o curso. Nós tínhamos uma interação muito boa, profissional e de amizade e com um objetivo em comum, de que a coisa funcionasse. Tínhamos essa preocupação de fazer. Isso eu acredito que ajudou muito o processo. Digamos que tenha tornado o processo muito mais leve. Fabiano (professor)

De acordo com este relato, concluímos que o curso Técnico de Enfermagem do IFSC, campus Florianópolis, tornou-se realidade em virtude do comprometimento das professoras envolvidas na criação do curso, com a educação profissional.

A palavra comprometimento, tem como significado “responsabilizar-se por algo, dedicar-se a alguma coisa ou a alguém, ter compromisso”. Entretanto, na perspectiva semântica compromisso diferencia-se de comprometimento. O primeiro é definido como o ato de cumprir o que foi determinado, e/ou acordado com outra pessoa. Já o comprometimento está relacionado as atitudes positivas do indivíduo a fim de atingir um objetivo, em favor de outro, ou para si mesmo, sendo motivado de maneira intrínseca e/ou extrinsecamente1717. Felicetti VL, Morosini MC. Do compromisso ao comprometimento: o estudante e a aprendizagem. Educar Rev. 2010 [citado 2016 jan 09];2(esp):23-44. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/er/nspe2/02.pdf.
http://www.scielo.br/pdf/er/nspe2/02.pdf...
.

Deste modo, é possível afirmar que as enfermeiras docentes se uniram comprometidas com um objetivo em comum, a criação e implantação do curso Técnico de Enfermagem, em uma instituição que por muitos anos manteve seu eixo de ensino direcionado para a área industrial, o qual resultaria em benefícios para a comunidade como um todo.

Os participantes do estudo destacaram também o apoio que receberam do diretor do campus no processo de criação do curso.

Eu vejo que nós temos apoio da direção. Graças a Deus sempre tivemos. Pois no próprio ingresso os números falam por si só, mas às vezes são questões que fogem da gerência. Como o caso da infraestrutura. Nós estamos na saúde a uns 3 ou 4 anos com projeto para aumentar a parte física. Para irmos para espaços melhores, e ainda não conseguimos essa reforma. Já existe projeto, já existe aprovação. É o que vejo de mais frágil em termos de apoio. Mas também sei que isso foge da gestão muitas vezes Rosane (professora)

É possível compreender que a criação do curso Técnico de Enfermagem tornou-se realidade em função da atuação conjunta dos profissionais da área, como também pelo apoio do diretor da escola na época, professor Anésio José Macarie e Anésio José Macari foi Diretor da Escola Técnica Federal de Santa Catarina entre os anos 1999 e 2003. .

O diretor da escola é o profissional dentro da instituição que responde pelo desempenho institucional. Ele é responsável por organizar, gerir e coordenar todas as atividades institucionais, a fim de atingir metas e objetivos educacionais, propostos pela instituição. Por meio de uma gestão democrática, é possível que todos os envolvidos no processo de ensino participem das discussões e na tomada de decisões. Deste modo a decisão final torna-se o resultado de um trabalho em conjunto, e não uma ordem, com base na hierarquia institucional1818. Ferraz NA, Lacerda ES, Assis KNGP, Pereira GTJ. Gestão escolar: entendendo a realidade do ensino público de Cândido Sales-BA. Temática. 2015 fev [citado 2016 jan 09];XI(2):102-14. Disponível em: http://periodicos.ufpb.br/index.php/tematica/article/viewFile/22948/12673.
http://periodicos.ufpb.br/index.php/tema...
.

Relacionado ainda às fortalezas do processo de criação do curso Técnico de Enfermagem no IFSC, em Florianópolis, foi relatado pelos participantes do estudo, o incentivo dado aos alunos para a iniciação científica, através da disciplina intitulada Projetos Integradores (PI), indicada no projeto político pedagógico do curso.

A disciplina Projeto Integrador trata-se de uma estratégia de ensino, que tem como objetivo estimular a integração entre as unidades curriculares, com os saberes de diferentes áreas do conhecimento. Proporciona ao educando novos conhecimentos, por meio da interdisciplinaridade e a transversalidade do ensino. Ele permite a inserção do aluno à pesquisa, e contribui com a sociedade na resolução de problemas, através de novos conhecimentos. Os alunos do curso Técnico de Enfermagem do IFSC, em Florianópolis, desenvolviam seus projetos integradores, de acordo com o tema determinado pelo professor orientador, e ao fim do curso a pesquisa era apresentada para a turma e docentes. Muitos destes trabalhos foram apresentados também em congressos da área da enfermagem e saúde, conforme pode ser observado nos relatos a seguir.

Na grade do curso nós tínhamos os projetos integradores. Fazíamos nas instituições, nos asilos, nas escolas, nos hospitais. Funcionava assim, era dado o tema, e cada uma (professora) ficava com um grupo de alunos e fazíamos os projetos. Eles iam a comunidade, faziam palestras, orientações, dependendo do tema, cada uma focava em um tema. Esse projeto era desenvolvido ao longo de todo o curso, então não tinha um horário em si, de orientações, e cada orientador fazia e no final apresentávamos. Apresentamos no congresso de saúde coletiva da UFSC, fomos premiados com o primeiro lugar de um pôster. Eram projetos integrados bem interessantes. Laurete (professora)

A preocupação em promover o ensino por meio das pesquisas científicas e projetos de extensão era evidente, comprovando assim o compromisso com o ensino de qualidade. É por meio das pesquisas científicas que a enfermagem construirá o conhecimento próprio da profissão, tornando- a reconhecida e consolidada como ciência, tecnologia e inovação1919. Erdmann AL, Lanzoni GMM. Características dos grupos de pesquisa da enfermagem brasileira certificados pelo CNPq de 2005 a 2007. Esc Anna Nery. 2008 [citado 2016 jan 06];12(2):316-22. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ean/v12n2/v12n2a18.
http://www.scielo.br/pdf/ean/v12n2/v12n2...
.

Para tanto, se faz necessário que os docentes incentivem a produção do conhecimento através das pesquisas científicas. Pesquisadores afirmaram que “o educar pela pesquisa promove a (re)construção do conhecimento, possibilitando aprendizados que superam a mera reprodução de informações e conteúdos escolares”. Proporcionando assim ao educando, a capacidade de pensar, questionar e buscar respostas para seus questionamentos, nas diversas áreas do conhecimento2020. Freiberger RM, Berbel NAN. A importância da pesquisa como princípio educativo na atuação pedagógica de professores de educação infantil e ensino fundamental. Cad Educ. 2010 [citado 2016 jan 06];(37):207-45. Disponível em: https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/caduc/article/view/1587/1472.
https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/ind...
.

Compreendemos que as fortalezas encontradas pelas enfermeiras durante o processo de criação e implantação do curso Técnico de Enfermagem, contribuíram para o sucesso desta iniciativa, como: apoio da direção; comprometimento dos professores envolvidos com o curso; reconhecimento do curso pela comunidade e mercado de trabalho; incentivo à pesquisa, como também, pela alta concorrência no exame de classificação para o ingresso, estando o curso Técnico de Enfermagem sempre entre os mais concorridos da instituição.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por meio deste estudo tornou-se possível compreender as fragilidades e fortalezas envolvidas no processo de criação e implantação do curso Técnico de Enfermagem, no Instituto Federal de Santa Catarina, campus Florianópolis, nos anos 2000.

Revisitar a história da enfermagem do Instituto Federal de Santa Catarina, em Florianópolis, permitiu-nos compreender que a história da enfermagem nesta instituição não difere da história da enfermagem em nosso país. Muitos desafios foram enfrentados em detrimento da conquista do seu espaço e reconhecimento como ciência e profissão.

Através dos relatos dos participantes desta investigação, concluímos que a implantação do curso Técnico de Enfermagem em uma instituição de ensino industrial, encontrou muitos desafios. Entretanto identificamos que tais desafios foram superados através do empenho, dedicação e seriedade das profissionais que conduziam este processo, na busca pela consolidação da área nesta importante instituição de ensino do país.

Consideramos como uma limitação do estudo, uma lacuna que precisa ser desvendada a respeito da história da enfermagem no Instituto Federal de Santa Catarina, relacionada a criação e implantação do curso Técnico de Enfermagem na década de 1990, na cidade de Joinville como uma extensão do Campus Florianópolis, antiga Escola Técnica, unidade Florianópolis.

REFERÊNCIAS

  • 1
    Borenstein MS; Padilha MI. Enfermagem em Santa Catarina (1900-2011). In: Borenstein MS; Padilha MI. Enfermagem em Santa Catarina: recortes de uma história (1900-2011). 1 ed. Florianópolis: Secco, 2011. p. 59-82.
  • 2
    Borenstein MS; Oliveira ME; Santos EKA; Maliska ICA. Eloita Pereira Neves: baluarte da enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina. Texto Contexto Enferm. 2009 out-dez [citado 2015 ago 17];18(4):759-65. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-07072009000400018
    » http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-07072009000400018
  • 3
    Borenstein MS; Padilha MI; Maia AR; Costa E; Gregório VRP; Espíndola AMK. Ottillie Hammes: pioneira da enfermagem catarinense. Rev Bras Enferm. 2099 mar-abr [citado 2015 set 02];62(2):240-5. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-71672009000200011
    » http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-71672009000200011
  • 4
    Padilha MICS; Borenstein MS; Maia AR; Domingues JAG; Lessmann JC; Machado CA. Uma história de sucesso: 30 anos da Pós-Graduação em Enfermagem da UFSC. Texto Contexto Enferm. 2006 [citado 2016 jun 07];15(esp):20-30. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/tce/v15nspe/v15nspea02
    » http://www.scielo.br/pdf/tce/v15nspe/v15nspea02
  • 5
    Conselho Regional de Enfermagem de Santa Catarina (BR) [Internet]. Florianópolis: COREN/SC; c2015-2017 [citado 2015 jul 27]. Mapa da enfermagem de Santa Catarina; [aprox. 1 tela]. Disponível em: http://www.corensc.gov.br/iframe/mapa_coren/
    » http://www.corensc.gov.br/iframe/mapa_coren/
  • 6
    Oliari LP. A criação e a implantação do Curso Técnico de Enfermagem nos anos 2000 [dissertação]. Florianópolis (SC): Universidade Federal de Santa Catarina; 2016.
  • 7
    Ministério da Educação (BR). Pesquisa nacional de egressos dos cursos técnicos da rede federal de educação profissional e tecnológica (2007-2009). Brasília (DF): 2009 [citado 2016 jan 8]. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=819-relatversaofinal-pdf&category_slug=documentos-pdf&Itemid=30192
    » http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=819-relatversaofinal-pdf&category_slug=documentos-pdf&Itemid=30192
  • 8
    Pires DEP, Bertoncini JH, Trindade LL, Matos E, Azambuja E, Borges AMF. Inovação tecnológica e cargas de trabalho dos profissionais de saúde: uma relação ambígua. Rev Gaúcha Enferm. 2012 mar [citado 2016 out 12];33(1):157-68. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rgenf/v33n1/a21v33n1.pdf
    » http://www.scielo.br/pdf/rgenf/v33n1/a21v33n1.pdf
  • 9
    Geovanini T, Moreira A, Schoeller SD, Machado WCA. História da enfermagem: versões e interpretações. 3. ed. Rio de Janeiro: Revinter; 2010.
  • 10
    Fabri AQ. O direito econômico da concorrência frente às estratégias de mercado das grandes redes de ensino. Rev Profissão Docente. 2013 jan-jun [citado 2016 jan 8];13(28):32-44. Disponível em: http://www.revistas.uniube.br/index.php/rpd/article/view/539
    » http://www.revistas.uniube.br/index.php/rpd/article/view/539
  • 11
    Presidência da República (BR). Decreto nº 7.566, de 23 de setembro de 1909. Cria nas capitais dos Estados da Escolas de Aprendizes Artífices, para o ensino profissional primário e gratuito [Internet] 1909 [citado 2015 fev 13]. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/setec/arquivos/pdf3/decreto_7566_1909.pdf
    » http://portal.mec.gov.br/setec/arquivos/pdf3/decreto_7566_1909.pdf
  • 12
    Almeida AV. Da Escola de Aprendizes Artífices ao Instituto Federal de Santa Catarina. Florianópolis: IFSC, 2010.
  • 13
    Mendonça AG. Ensino técnico de nível médio: momentos de prestígio e de esquecimento se alternando durante a história da educação profissional no Brasil. Horizontes. 2014 jul-dez [citado 2016 jan 09];32(2):87-99. Disponível em: https://revistahorizontes.usf.edu.br/horizontes/article/view/178
    » https://revistahorizontes.usf.edu.br/horizontes/article/view/178
  • 14
    Souza Leite MTS, Ohara CVS, Kakehashi TY, Ribeiro CA. Unidade teórico-prática na práxis de um currículo integrado: percepção de docentes de Enfermagem na saúde da criança e do adolescente. Rev Bras Enferm. 2011 jul-ago [citado 2016 jan 06];64(4):717-24. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/reben/v64n4/a14v64n4.pdf
    » http://www.scielo.br/pdf/reben/v64n4/a14v64n4.pdf
  • 15
    Presidência da República (BR), Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei nº 9.649, de 27 de maio de 1998. Dispõe sobre a organização da Presidência da República e dos Ministérios, e dá outras providências [Internet]. Brasília (DF); 1998 [citado 2016 jan 11]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9649cons.htm
    » http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9649cons.htm
  • 16
    Conselho Federal de Enfermagem (BR). Resolução COFEN Nº 371/2010. Dispõe sobre participação do Enfermeiro na supervisão de estágio de estudantes dos diferentes níveis da formação profissional de Enfermagem [Internet]. Brasília (DF); 2010 [citado 2016 jan 06]. Disponível em: http://www.cofen.gov.br/resoluo-cofen-n-3712010_5885.html
    » http://www.cofen.gov.br/resoluo-cofen-n-3712010_5885.html
  • 17
    Felicetti VL, Morosini MC. Do compromisso ao comprometimento: o estudante e a aprendizagem. Educar Rev. 2010 [citado 2016 jan 09];2(esp):23-44. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/er/nspe2/02.pdf
    » http://www.scielo.br/pdf/er/nspe2/02.pdf
  • 18
    Ferraz NA, Lacerda ES, Assis KNGP, Pereira GTJ. Gestão escolar: entendendo a realidade do ensino público de Cândido Sales-BA. Temática. 2015 fev [citado 2016 jan 09];XI(2):102-14. Disponível em: http://periodicos.ufpb.br/index.php/tematica/article/viewFile/22948/12673
    » http://periodicos.ufpb.br/index.php/tematica/article/viewFile/22948/12673
  • 19
    Erdmann AL, Lanzoni GMM. Características dos grupos de pesquisa da enfermagem brasileira certificados pelo CNPq de 2005 a 2007. Esc Anna Nery. 2008 [citado 2016 jan 06];12(2):316-22. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ean/v12n2/v12n2a18
    » http://www.scielo.br/pdf/ean/v12n2/v12n2a18
  • 20
    Freiberger RM, Berbel NAN. A importância da pesquisa como princípio educativo na atuação pedagógica de professores de educação infantil e ensino fundamental. Cad Educ. 2010 [citado 2016 jan 06];(37):207-45. Disponível em: https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/caduc/article/view/1587/1472
    » https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/caduc/article/view/1587/1472
  • c
    Foi criado em 1909, com o intuito de promover qualificação profissional à população carente que aqui residia. Atualmente o campus oferece cursos em várias modalidades de ensino, público e gratuito, que vão desde a qualificação profissional ao mestrado profissional.
  • d
    Optamos em utilizar os termos no feminino por representar a maior parte dos participantes deste estudo.
  • e
    Anésio José Macari foi Diretor da Escola Técnica Federal de Santa Catarina entre os anos 1999 e 2003.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    2016

Histórico

  • Recebido
    10 Nov 2016
  • Aceito
    04 Abr 2017
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Escola de Enfermagem Rua São Manoel, 963 -Campus da Saúde , 90.620-110 - Porto Alegre - RS - Brasil, Fone: (55 51) 3308-5242 / Fax: (55 51) 3308-5436 - Porto Alegre - RS - Brazil
E-mail: revista@enf.ufrgs.br