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Pensamento Crítico Holístico no Processo Diagnóstico de Enfermagem

As constantes e rápidas transformações no mundo, decorrentes de determinantes sociais, políticos e econômicos, ao longo das últimas décadas, têm resultado em mudanças na atenção à saúde da sociedade globalizada com consequentes modificações do perfil epidemiológico, aumento da complexidade dos problemas de saúde e exigência dos indivíduos. Fatores que impõem as diferentes disciplinas do conhecimento, em específico as da saúde, adequação de seus processos assistenciais visando a soluções das reais ou potenciais necessidades do indivíduo(11. Crossetti MGO, Góes MGO. Habilidades de pensamento crítico no processo de diagnóstico em enfermagem. In: Herdman TH, Napoleão AA, Takao C, Silva VM, organizadores. PRONANDA: programa de atualização em diagnósticos de enfermagem, Porto Alegre: Artmed, Panamericana; 2016. Ciclo 4, v. 1, p. 09-34.).

Nesse cenário, destaca-se a Enfermagem, uma disciplina social e humanística de prática de cuidados de saúde, que é estruturada na ciência e na arte da prevenção, diagnóstico e tratamento de seres humanos com conhecimento, habilidade e cuidado. Essa premissa mobiliza teoristas da enfermagem para produzirem conhecimentos específicos em ensino, pesquisa e cuidados, buscando desenvolver, testar e aplicar tecnologias e instrumentos de cuidados que orientem a escolha de melhores práticas, as quais sejam sensíveis à singularidade de cada indivíduo e ao contexto da vida e bem-estar geral dessa pessoa.

Para transferir esse conhecimento para a prática profissional, é fundamental que os enfermeiros desenvolvam habilidades intelectuais fortes, bem como habilidades técnico-científicas, éticas, estéticas e humanísticas. Hoje, e no futuro, os melhores enfermeiros demonstrarão a capacidade de investigar, diagnosticar, estabelecer metas e intervir com base em evidências, ainda sem perder a perspectiva holística. O pensamento crítico holístico é mais evidente no processo diagnóstico de enfermagem na primeira e segunda etapas, porque “ao se obter o problema certo” este será o primeiro e mais importante passo na solução do problema. A aplicação de um pensamento crítico forte, em conjunto com bons dados clínicos e conhecimento sólido, é essencial para que um diagnóstico preciso seja feito, um diagnóstico que leve em consideração todos os fatores relevantes(11. Crossetti MGO, Góes MGO. Habilidades de pensamento crítico no processo de diagnóstico em enfermagem. In: Herdman TH, Napoleão AA, Takao C, Silva VM, organizadores. PRONANDA: programa de atualização em diagnósticos de enfermagem, Porto Alegre: Artmed, Panamericana; 2016. Ciclo 4, v. 1, p. 09-34.).

Pensamento crítico é o processo de formar um julgamento reflexivo sobre o que acreditar ou o que fazer em qualquer contexto dado(22. Facione PA, Gittens CA. Think critically. Boston: Pearson; 2016.). É reflexivo, o que significa que está aberto a automonitoramento e a autocorreção. Aplica habilidades cognitivas, incluindo análise, inferência, avaliação, interpretação e explicação. Mais que habilidades, o pensamento crítico forte é impulsionado pela motivação interna consistente para aplicar essas habilidades. Uma orientação para a busca da verdade, a curiosidade, a confiança no raciocínio, a organização, a previsão e a maturidade do julgamento, o que caracteriza fortes pensadores críticos. Os indivíduos são capazes de se transformar em fortes pensadores críticos, e também grupos ou equipes que trabalham juntos na resolução de problemas(22. Facione PA, Gittens CA. Think critically. Boston: Pearson; 2016.).

Enfermeiros com forte pensamento crítico não funcionam como robôs clínicos. Por ser fundamentalmente reflexivo, o pensamento crítico permite que o pensador crítico considere a forma como os problemas são enquadrados, a qualidade da evidência, a adequação dos métodos, a razoabilidade dos critérios, a aplicabilidade de teorias e princípios. Em vez de reagir a situações clínicas de forma automática ou irrefletida, o enfermeiro com forte pensamento crítico considerará uma grande variedade de fatores, incluindo os dados clínicos, a vida e a situação familiar do paciente(22. Facione PA, Gittens CA. Think critically. Boston: Pearson; 2016.). Assim, intersubjetividade e diálogo são construções desse processo que revelam aspectos fenomenológicos existenciais fundamentais quando os profissionais estão dispostos a estar com o paciente para encontrar cuidados autênticos(11. Crossetti MGO, Góes MGO. Habilidades de pensamento crítico no processo de diagnóstico em enfermagem. In: Herdman TH, Napoleão AA, Takao C, Silva VM, organizadores. PRONANDA: programa de atualização em diagnósticos de enfermagem, Porto Alegre: Artmed, Panamericana; 2016. Ciclo 4, v. 1, p. 09-34.).

Este é um desafio ainda a ser superado, uma vez que a inserção de altas tecnologias dentro dos hospitais é demonstrada, favorecendo métodos de diagnóstico e monitoramento de alta precisão e práticas qualitativas de enfermeiros. No entanto, o mau uso dessas tecnologias, muitas vezes, leva à (des) humanização do atendimento ao paciente e à família. Este é um paradigma em hospitais onde a enfermagem é reduzida ao modelo biomédico minimalista, apesar do apelo evidente de modelos mais humanizados em cuidados com a saúde(33. Riegel F, Crossetti MGO. Pensamento crítico holístico no ensino de enfermagem. Anais do VIII Simpósio do Processo de Enfermagem e I Simpósio Internacional do Processo de Enfermagem; 2017 jun 8-9; Porto Alegre, Brasil. Porto Alegre: HCPA; 2017. p. 44.).

Transformar a prática clínica tecnicista em uma prática de cuidados humanizados começa com uma educação que leve como objetivo essencial o desenvolvimento do pensamento crítico. Ao tratar os alunos como seres humanos plenamente capazes de pensar reflexivamente, o professor já está reconhecendo a importância de considerar todo o ser humano, que é o que o currículo permitirá ao aluno fazer quando este iniciar sua prática profissional(33. Riegel F, Crossetti MGO. Pensamento crítico holístico no ensino de enfermagem. Anais do VIII Simpósio do Processo de Enfermagem e I Simpósio Internacional do Processo de Enfermagem; 2017 jun 8-9; Porto Alegre, Brasil. Porto Alegre: HCPA; 2017. p. 44.).

Nesse contexto, o pensar sobre o pensar em uma perspectiva holística é revelado e sua historicidade e temporalidade, que definem o modo de ser e estar do indivíduo no mundo com os outros no processo saúde-doença, são consideradas como um todo unificado na tomada de decisões clínicas(11. Crossetti MGO, Góes MGO. Habilidades de pensamento crítico no processo de diagnóstico em enfermagem. In: Herdman TH, Napoleão AA, Takao C, Silva VM, organizadores. PRONANDA: programa de atualização em diagnósticos de enfermagem, Porto Alegre: Artmed, Panamericana; 2016. Ciclo 4, v. 1, p. 09-34.). Isso pressupõe a necessidade de um cuidado diferenciado que considere a singularidade desse ser humano(33. Riegel F, Crossetti MGO. Pensamento crítico holístico no ensino de enfermagem. Anais do VIII Simpósio do Processo de Enfermagem e I Simpósio Internacional do Processo de Enfermagem; 2017 jun 8-9; Porto Alegre, Brasil. Porto Alegre: HCPA; 2017. p. 44.).

A esse respeito, o pensamento crítico holístico (PCH) revela-se uma ferramenta essencial no ensino do processo de diagnóstico na enfermagem. O PCH é uma orientação que articula e unifica todos os elementos relevantes de uma situação clínica e humana dos pacientes(22. Facione PA, Gittens CA. Think critically. Boston: Pearson; 2016.). Pensar de forma holística é conceber o bem-estar do paciente como um todo integrado, não apenas como uma questão ou problema clínico momentâneo a ser tratado de forma isolada do todo da saúde da pessoa e das circunstâncias da vida(33. Riegel F, Crossetti MGO. Pensamento crítico holístico no ensino de enfermagem. Anais do VIII Simpósio do Processo de Enfermagem e I Simpósio Internacional do Processo de Enfermagem; 2017 jun 8-9; Porto Alegre, Brasil. Porto Alegre: HCPA; 2017. p. 44.).

Portanto, os modelos que podem contribuir para a medição ou avaliação do PCH são necessários nas práticas curriculares para identificar a necessidade de definir estratégias de ensino e de aprendizagem ativas, voltadas para o seu desenvolvimento através do exercício e reflexão dos processos de prevenção, diagnóstico e tratamento bem-sucedidos(44. Bittencourt, GKGD, Crossetti, MGO. Critical thinking skills in the nursing diagnosis process. Rev Esc Enferm USP. 2013;47(2):341-7.).

O pensamento crítico holístico na enfermagem surge como uma possibilidade para permitir que os enfermeiros atuem em cenários de (ad)diversidades. A abordagem holística compreende a participação dos indivíduos em sua totalidade, isto é, cérebro e espírito, corpo e mente, razão e emoção fazem parte de um todo dinâmico e interligado, presente no processo de cuidar para e com o outro ser humano(33. Riegel F, Crossetti MGO. Pensamento crítico holístico no ensino de enfermagem. Anais do VIII Simpósio do Processo de Enfermagem e I Simpósio Internacional do Processo de Enfermagem; 2017 jun 8-9; Porto Alegre, Brasil. Porto Alegre: HCPA; 2017. p. 44.).

REFERÊNCIAS

  • 1
    Crossetti MGO, Góes MGO. Habilidades de pensamento crítico no processo de diagnóstico em enfermagem. In: Herdman TH, Napoleão AA, Takao C, Silva VM, organizadores. PRONANDA: programa de atualização em diagnósticos de enfermagem, Porto Alegre: Artmed, Panamericana; 2016. Ciclo 4, v. 1, p. 09-34.
  • 2
    Facione PA, Gittens CA. Think critically. Boston: Pearson; 2016.
  • 3
    Riegel F, Crossetti MGO. Pensamento crítico holístico no ensino de enfermagem. Anais do VIII Simpósio do Processo de Enfermagem e I Simpósio Internacional do Processo de Enfermagem; 2017 jun 8-9; Porto Alegre, Brasil. Porto Alegre: HCPA; 2017. p. 44.
  • 4
    Bittencourt, GKGD, Crossetti, MGO. Critical thinking skills in the nursing diagnosis process. Rev Esc Enferm USP. 2013;47(2):341-7.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    2017
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