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Violência de gênero: conhecimento e conduta dos profissionais da estratégia saúde da família

La violencia de gênero: conocimiento y conducta profesional de la estrategia salud de la familia

Resumo

OBJETIVO

Avaliar os conhecimentos e condutas de profissionais de unidades da Estratégia Saúde da Família frente à violência de gênero.

MÉTODOS

Estudo descritivo, realizado com 53 profissionais de sete unidades de Estratégia Saúde da Família no período de março a julho de 2015. Os dados foram coletados por meio de instrumento autopreenchido e analisados no software Excel 2007.

RESULTADOS

Observou-se que o conhecimento dos profissionais sobre as definições, epidemiologia e manejo da violência variou de razoável a ótimo, apesar de conhecerem pouco sobre a prevalência de violência durante o período gestacional. Quanto às condutas, evidenciou-se dificuldade em questionar as mulheres sobre a violência e sua notificação. Os profissionais com menor tempo de assistência e que receberam capacitação apresentaram condutas mais adequadas.

CONCLUSÕES

Sugere-se a realização de ações educativas visando fornecer subsídios para a atuação dos profissionais frente aos casos de violência de gênero.

Palavras-chave:
Violência contra a mulher; Estratégia saúde da família; Conhecimento; Atitude.

Resumen

OBJETIVO

Evaluar el conocimientos y el comportamientos de profesionales de unidades de la salud de la familia Estrategias violencia de género opuesto.

MÉTODOS

Estudio descriptivo con 53 profesionales de unidades de La salud de la familia de siete estratégias en el período de marzo a julio de 2015. Los datos fueron recolectados a través de un instrumento de auto-administrados y analizados en el software Excel 2007.

RESULTADOS

Se observó que el conocimiento de los profesionales acerca de las definiciones, la epidemiología y la gestión de la violencia varió de razonable buena, a pesar de saber poco acerca de la prevalencia de la violencia durante el embarazo. En cuanto a la conducta era evidente dificultad para cuestionar las mujeres acerca de la violencia y su notificación. Los profesionales con la asistencia más corto y que recibieron entrenamiento fueron los resultados más asertivo respecto a la conducta.

CONCLUSIONES

Sugieren la realización de actividades de educación en servicio para proporcionar información para el trabajo de los profesionales en los casos de violencia de gênero.

Palabras clave:
Violencia contra la mujer; Estrategia de salud familiar; Conocimiento; Actitud

Abstract

OBJECTIVE

To evaluate the knowledge and behaviors of health professionals of units of the Strategies Family opposite gender violence.

METHODS

This descriptive study with 53 seven of units of the family health strategy professionals from March to July 2015. Data were collected through a self-administered instrument and analyzed in Excel 2007.

RESULTS

It was observed that the knowledge of professionals about definitions, epidemiology and management of violence ranged from reasonable to good, despite knowing little about the prevalence of violence during pregnancy. Regarding the conduct was evident difficulty in questioning women about violence and its notification. Professionals with shorter assistance and who received training were more assertive results regarding conduct.

CONCLUSIONS

It is suggested that educational actions in service be carried out in order to provide subsidies for the professionals' action against cases of gender violence.

Keywords:
Violence against women; Family health strategy; Knowledge; Attitude

INTRODUÇÃO

A violência de gênero é um grave problema de saúde pública11. Tetikcok R, Ozer E, Cakir L, Enginyurt O, Iscanli MD, Cankaya S, et al. Violence towards women is a public health problem. J Forensic Leg Med. 2016;44:150-7., apresentando alta prevalência mundial. Estudo revela que uma a cada três mulheres já vivenciou violência física ou sexual por parceiro íntimo, familiares ou pessoas com quem a mulher tenha relação íntima de afeto22. World Health Organization (CH). Global and regional estimates of violence against women: prevalence and health effects of intimate partner violence and nonpartner sexual violence. Geneva: World Health Organization; 2013..

As consequências da violência de gênero na saúde das mulheres faz com que elas procurem os serviços de saúde mais próximos de suas residências demandando respostas33. Almeida LR, Silva ATMC, Machado LS. O objeto, a finalidade e os instrumentos do processo de trabalho em saúde na atenção à violência de gênero em um serviço de atenção básica. Interface (Botucatu). 2014;18(48):47-59.. Nesta direção, a Atenção Básica de Saúde, representada pela Estratégia Saúde da Família (ESF), é reconhecida como um espaço propício para acolher mulheres em situação de violência de gênero, pelo fato de que este modelo de atenção tem o vínculo como base da relação profissional/usuário e trabalha com adscrição da população no território44. Guedes RN, Fonseca RMGS, Egry EY. Limites e possibilidades avaliativas da Estratégia Saúde da Família para a violência de gênero. Rev Esc Enferm USP. 2013;47(2):304-11..

A violência de gênero é apontada como problema de saúde pelos profissionais da ESF, embora não seja tratada como demanda prioritária. A inexistência de um programa específico para o enfrentamento deste agravo é um dos motivos do déficit de acolhimento desta demanda55. Gomes NP, Erdmann AL. Violência conjugal na perspectiva de profissionais da Estratégia Saúde da Família: problema de saúde pública e a necessidade do cuidado à mulher. Rev Lat-Am Enfermagem. 2014;(22):76-84.. A inexistência de uma rede de serviços estruturada e articulada também dificulta o atendimento44. Guedes RN, Fonseca RMGS, Egry EY. Limites e possibilidades avaliativas da Estratégia Saúde da Família para a violência de gênero. Rev Esc Enferm USP. 2013;47(2):304-11.. Desse modo, a investigação de casos de violência de gênero pelo setor saúde é negada pelos profissionais, sendo vista como uma questão social, de competência de outros setores. Quando identificada, as ações restringem-se ao tratamento de lesões33. Almeida LR, Silva ATMC, Machado LS. O objeto, a finalidade e os instrumentos do processo de trabalho em saúde na atenção à violência de gênero em um serviço de atenção básica. Interface (Botucatu). 2014;18(48):47-59..

Constata-se assim, dificuldades de reconhecimento da violência pelos profissionais da saúde, sendo a falta de capacitação profissional um fator motivador para isso66. Osis MJD, Duarte GA, Faúndes A. Violência entre usuárias de unidades de saúde: prevalência, perspectiva e conduta de gestores e profissionais. Rev Saúde Pública. 2012;46(2):351-8.. O despreparo profissional advindo da formação ou da ausência de qualificação em serviço reflete diretamente nas ações de atendimento a essa problemática, impactando no não reconhecimento da violência que acomete muitas das mulheres que procuram o serviço77. Bernz IM, Coelho EBS, Lindner SR. Desafio da violência doméstica para profissionais da saúde: revisão da literatura. Sau & Transf Soc. 2012;3(3):105-11..

Atender mulheres que vivenciam violência de gênero requer do profissional da ESF uma visão de mundo e de práticas de cuidado voltadas às questões de gênero. O conhecimento sobre as necessidades em saúde geradas pela opressão feminina com base em questões de gênero deve nortear as condutas das equipes. No entanto, nem sempre este conhecimento está presente, o que implica diretamente em condutas limitadas pelo modelo biomédico, representadas pela medicalização e psicologização44. Guedes RN, Fonseca RMGS, Egry EY. Limites e possibilidades avaliativas da Estratégia Saúde da Família para a violência de gênero. Rev Esc Enferm USP. 2013;47(2):304-11..

Diante da problemática, o estudo tem como questão norteadora: Quais os conhecimentos e as condutas de profissionais de ESF frente à violência de gênero? O objetivo consiste em avaliar os conhecimentos e as condutas de profissionais de unidades de ESF frente à violência de gênero.

MÉTODO

Estudo descritivo, com abordagem quantitativa, realizado com profissionais de saúde de sete unidades de ESF de um município da região noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Todas as unidades de ESF existentes no município constituíram o cenário do estudo. No âmbito destas unidades é prestada assistência à saúde das mulheres mediante consultas de pré-natal e puerpério, prevenção de câncer de mama e colo de útero, prevenção de Infecções Sexualmente Transmissíveis e planejamento familiar.

No período de coleta de dados, estas unidades contabilizavam 73 profissionais de saúde. Os critérios de inclusão foram: ser profissional de saúde (médico, enfermeiro, técnico de enfermagem, agente comunitário de saúde, odontólogo ou auxiliar de saúde bucal) e trabalhador de unidade de ESF. Como critério de exclusão: estar em licença de qualquer natureza no período de coleta de dados.

Para a amostra final, dois profissionais (2,7%) foram excluídos por estarem afastados, cinco (7,0%) não aderiram à pesquisa e 13 (18,3%) não responderam o questionário, totalizando 53 profissionais de saúde, refletindo uma taxa de resposta de 74,6%.

Utilizou-se um questionário de autopreenchimento adaptado do instrumento utilizado por Vieira e Vicente88. Vicente LM, Vieira EM. O conhecimento sobre a violência de gênero entre estudantes de medicina e médicos residentes. Rev Bras Educ Med. 2009;33(1):63-71.. Para a escala de atitudes, foram inseridas questões de um questionário empregado na África do Sul99. Peltzer K, Mashego TA, Mabeba E. Attitudes and practices of doctors toward domestic violence victims in South Africa. Health Care Women Int. 2003 Feb; 24(2):149-57.. O instrumento passou por um processo de tradução e adaptação transcultural1010. Guillemin F, Bombardier C, Beaton D. Cross-cultural adaptation of health-related quality of life measures: literature review and proposed guidelines. J Clin Epidemiol, 1993;46(12):1417-32.. Questões abordando variáveis sociodemográficas foram incluídas.

O questionário foi testado com dois profissionais do Centro de Planejamento e Assistência à Saúde da Mulher do município e modificado para ser aplicado aos profissionais da ESF. A coleta de dados ocorreu de março a julho de 2015. O questionário foi entregue em envelope fechado com orientações de preenchimento para cada membro da equipe da ESF. O pesquisador responsável entregou e explicou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Após, os profissionais que aceitaram participar do estudo assinaram o TCLE em duas vias, ficando uma via com estes e a outra com a pesquisadora. Após uma semana, o questionário foi recolhido.

Realizou-se uma análise descritiva sobre o conhecimento e atitudes do profissional sobre violência de gênero, com questões sobre o conceito, epidemiologia e percepção do profissional sobre o assunto. As questões sobre o conhecimento eram de verdadeiro (V) e falso (F) e aquelas sobre o conceito de violência, todas verdadeiras. Sobre epidemiologia, a primeira e a última eram: F, e a segunda e a terceira: V; sobre a revelação da violência, as respostas: V, F, V, F e V; em relação ao manejo de casos, as respostas: F, V, F, V, V; quanto a indícios de casos de violência, as respostas eram: F, V, F, F, F, V, V, F e V. Sobre atitudes, as respostas eram de concordância ou discordância. Quanto a como o profissional se sente ao abordar a temas como violência, sexualidade e uso de drogas, as opções de respostas eram: incomodado, à vontade e indiferente.

Os dados foram inseridos e analisados no software Excel 2007 a partir da frequência simples de cada variável, e estratificação por tempo de assistência e capacitação no serviço para variáveis relacionadas ao atendimento. Para analisar o conhecimento e a conduta dos profissionais, elaborou-se um escore de repostas certas, erradas e não sabe. Para acertos adotou-se o seguinte: < 50% de acertos - baixo conhecimento, 50% a 60% de acertos - razoável, 61% a 70% - bom, 71% a 80 - muito bom, 81% a 90 - ótimo e > 91% - excelente. Para os erros: < 50% de erros - baixo conhecimento, 50% a 60% - razoável, 61% a 70% - pouco conhecimento, 71% a 80% - muito pouco, 81% a 90% - pouquíssimo e > 91% - quase nenhum conhecimento. E, para as respostas não sabe: < de 50% - baixo conhecimento, 50% a 60% - conhecimento razoável, 61% a 70% não sabe - pouco conhecimento, de 71% a 80% - muito pouco conhecimento, de 80% a 91% - pouquíssimo conhecimento e > 91 % - quase nenhum conhecimento.

O estudo respeitou as normas da Resolução n° 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde sendo aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa sob o Parecer n° 909978.

RESULTADOS

Quanto às características dos participantes, a média de idade era 37,7 anos; 88,7% se autodeclararam brancos; 54,8%, católicos; quanto ao estado civil, 62,2% eram casados. Quanto ao nível de instrução, 13,3% eram graduados em enfermagem; 5,7%, medicina; 3,7%, odontologia; 22,6%, em outros cursos (letras, gestão pública, biologia, pedagogia, educação física e serviço social), 45,3% possuíam nível médio ou fundamental e 9,4% não responderam.

Quando questionados acerca da capacitação profissional sobre a violência, 83,1 consideraram muito importante e 66,0% afirmaram ter recebido instrução no serviço. Ao avaliar os sentimentos dos profissionais acerca da violência de gênero, observou-se que 52,0% sentiam-se incomodados ao perguntar se a mulher vive situações de violência com o parceiro e 44%, ao perguntar sobre drogas ilícitas. Os profissionais sentiam-se à vontade para perguntar sobre tabagismo (88,0%) e a respeito do consumo de álcool (58,0%) (Tabela 1).

Tabela 1
Descrição da amostra de acordo com o sentimento do profissional da Estratégia de Saúde da Família acerca do fenômeno da violência de gênero durante a assistência prestada. Palmeira das Missões/RS, Brasil, 2015

A Tabela 2 apresenta a visão e conceitos relacionados à violência de gênero. Quanto às atitudes, houve concordância da maioria com: o papel do profissional no atendimento à violência de gênero deve ser o mesmo que desempenha para crianças vitimizadas (65,3%). E, com: a agressão é um problema (98,0%); o uso de álcool e drogas (69,9%) e os problemas psicológicos (64,8%) são motivo de violência. Mais da metade (58,4%) não concordou com: problemas sociais são situações causas de violência.

Tabela 2
Descrição da amostra de acordo com a visão e conceitos dos profissionais da Estratégia de Saúde da Família relacionados à violência de gênero. Palmeira das Missões/RS, Brasil, 2015

Houve discordância quanto a: as mulheres agredidas pelo marido mantêm-se nessa situação devido a seu masoquismo (83,0%). Com relação aos agressores, discordou-se de que: estes devam receber compaixão por serem emocionalmente perturbados (88,5%); um marido bata em sua esposa (98,1%); a agressão à mulher seja algo de fórum íntimo e privado (68,6%). E 92,4% concordaram com: os maridos devem ser presos por agressão. (Tabela 2).

Os dados da Tabela 3 permitem identificar o conhecimento dos profissionais em relação à violência de gênero, quanto às definições de violência contra a mulher, quanto às afirmações sobre a epidemiologia e às taxas de morbimortalidade da violência contra a mulher cometida por parceiro íntimo, quanto às atitudes e manejo dos profissionais frente à revelação da violência.

Tabela 3
Descrição da amostra de acordo com o conhecimento dos profissionais da Estratégia de Saúde da Família em relação à violência de gênero. Palmeira das Missões/RS, Brasil, 2015

Em relação ao conhecimento sobre a violência de gênero mais de 80% dos profissionais demonstraram conhecer o conceito de violência. Com um percentual acima de 80% de afirmações marcadas como verdadeiras sobre a epidemiologia da violência, observou-se baixo conhecimento dos profissionais. Sobre a prevalência da violência na gravidez, houve apenas 11,8% de acertos e 50,9% de respostas não sei. Com relação à lesão corporal houve 35,3% de acertos e 56,9% de erros. Quanto à revelação da violência, constata-se pouco conhecimento sobre a abordagem direta da usuária sobre a violência, com 19,3% de acertos. A maior parte dos profissionais demonstrou que sabia como deveria abordar a mulher sobre a violência vivida (Tabela 3).

Quanto ao manejo dos casos de violência, os profissionais apresentaram um conhecimento que variou de razoável a ótimo, com um percentual de acertos na 1ª, 2ª, 4ª e 5ª questões que variou de 66,8% a 94,2%. Quanto à prescrição de calmantes / antidepressivos, 60,8% não sabiam ou erraram e 39,2% acertaram, revelando pouco conhecimento sobre este tema (Tabela 3).

Na presença de indícios de violência contra a mulher, as questões sobre a recomendação da terapia de casal tiveram um percentual de erro e não sabe de 81,2%; e a indicação de psicoterapia teve um percentual total de erros e não sabe de 92,4%. Quanto à notificação compulsória, 70,5% das repostas foram corretas, constatando-se bom conhecimento, no entanto, quanto à prática da notificação houve 50,1% de respostas certas e 40,9% de repostas não sabe, indicando a necessidade de maior esclarecimento sobre a execução do procedimento. Ressalta-se o percentual de respostas erradas (97,8%) quanto a recorrer a protocolos de manejo de casos de violência. Nas demais questões deste grupo, os profissionais obtiveram um percentual de acertos que variou de 82% a 97% (Tabela 3).

As características sobre o sentimento, conhecimento, crença e condutas dos profissionais considerando o tempo de assistência no serviço de saúde e a exposição prévia a capacitação sobre o tema violência de gênero são descritas na Tabela 4.

Ao verificar as informações relacionadas à conduta dos profissionais frente à violência de gênero, observou-se que possuir tempo de assistência menor ou igual a 10 anos implica no melhor conhecimento das condutas frente à usuária. Ainda, profissionais que receberam capacitação em serviço reconheceram as situações de violência e as condutas a serem desenvolvidas. Ressalta-se que, entre os profissionais com maior tempo de assistência e com capacitação no serviço, um quarto acreditava que os maridos agressores não deveriam ser presos por agressão e que esta agressão não deve ser tratada como problema pelo médico (Tabela 4).

Tabela 4
Características sobre o sentimento, conhecimento, crença e condutas dos profissionais de acordo com o tempo de assistência e a capacitação. Palmeira das Missões/RS, Brasil, 2015

Na Tabela 5 apresentam-se as respostas obtidas dos profissionais ao questioná-los sobre o seu comportamento e conduta frente às situações de violência de gênero.

Tabela 5
Comportamento e conduta dos profissionais frente a situações de violência de gênero de acordo com o tempo de assistência e a capacitação. Palmeira das Missões/RS, Brasil, 2015

Os profissionais com menor tempo de serviço (< 10anos) sentiam-se mais à vontade para perguntar sobre o uso de drogas e situações de violência. A maioria acreditava que a mulher que vive em situação de violência tem alguma vantagem e, por isso fica na situação (Tabela 5). Considerando o tempo de assistência > que 10 anos, metade dos profissionais acreditava que não deveria aconselhar a mulher a deixar o parceiro e notificar o fato, sendo esta proporção superior em indivíduos que tiveram capacitação no serviço (Tabela 5).

DISCUSSÃO

Os profissionais deste estudo percebem a violência de gênero como demanda da ESF, porém sentiam-se incomodados ao indagar as usuárias sobre esta, e alguns nunca perguntaram a respeito. Ao atender casos de violência, determinados profissionais de saúde sentem-se inibidos de falar sobre questões que ultrapassam condutas de cuidado tradicionais1111. Vieira EM, Ford NJ, De Ferrante FG, Almeida AM, Daltoso D, Santos MA. The response to gender violence among Brazilian health care professionals. Ciênc Saúde Coletiva. 2013;18(3):681-90.. A sensibilização para atuar na perspectiva biopsicossocial do processo saúde/doença é fundamental1212. Loría KR, Rosado TG, Alvarado R, Sánchez AF. Actitud hacia la violencia de género de los profesionales de Atención Primaria: estudio comparativo entre Cataluña y Costa Rica. Aten Primaria. 2015;47(8):490-7., tendo em vista a complexidade da violência de gênero.

O desconhecimento sobre como agir faz com que o profissional não aborde diretamente o assunto, mesmo em casos onde há suspeita de violência1111. Vieira EM, Ford NJ, De Ferrante FG, Almeida AM, Daltoso D, Santos MA. The response to gender violence among Brazilian health care professionals. Ciênc Saúde Coletiva. 2013;18(3):681-90.. A adequada formação dos profissionais repercute de modo favorável para a detecção da violência de gênero1212. Loría KR, Rosado TG, Alvarado R, Sánchez AF. Actitud hacia la violencia de género de los profesionales de Atención Primaria: estudio comparativo entre Cataluña y Costa Rica. Aten Primaria. 2015;47(8):490-7.. Outro estudo, desenvolvido com enfermeiros na Espanha, também revelou que a falta de formação é a principal dificuldade para a identificação desta violência1313. Sánchez CAV, Fernández CG, Díaz AS. Violencia de género: conocimientos y actitudes em enfermería. Aten Primaria . 2016;48(10):623-6..

A maior parte dos profissionais tem a visão de que a violência por parceiro não é uma questão íntima e privada, e que as causas não são de ordem social, mas de problemas psicológicos, uso de álcool e drogas relacionados ao agressor. O uso de álcool e drogas pode facilitar a ocorrência de violência de gênero, pois aumenta o estresse e diminui a censura55. Gomes NP, Erdmann AL. Violência conjugal na perspectiva de profissionais da Estratégia Saúde da Família: problema de saúde pública e a necessidade do cuidado à mulher. Rev Lat-Am Enfermagem. 2014;(22):76-84..

O ambiente doméstico é considerado um espaço íntimo com garantia de privacidade, talvez por isso a violência seja uma questão de difícil abordagem para os profissionais1111. Vieira EM, Ford NJ, De Ferrante FG, Almeida AM, Daltoso D, Santos MA. The response to gender violence among Brazilian health care professionals. Ciênc Saúde Coletiva. 2013;18(3):681-90.. Embora os meios de comunicação divulguem informações com noções de que a violência de gênero é um problema social, os efeitos são sutis. Além disso, há profissional cujas condutas conservadoras reforçam a ideia de que o problema é privado55. Gomes NP, Erdmann AL. Violência conjugal na perspectiva de profissionais da Estratégia Saúde da Família: problema de saúde pública e a necessidade do cuidado à mulher. Rev Lat-Am Enfermagem. 2014;(22):76-84..

Os profissionais deste estudo acreditavam que o agressor deve ser preso. Essa medida prevista na Lei Maria da Penha1414. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Políticas para as Mulheres. Lei Maria da Penha. Brasília: Ministério da Saúde; 2012.) contribui para coibir a violência de gênero. Para tanto, as mulheres devem ter conhecimento das medidas preconizadas por esta lei, realizar a denúncia e dar continuidade ao inquérito policial acessando os serviços de polícia e de justiça. Nessa direção, os profissionais de saúde, ao assistir as mulheres, devem reforçar a importância desta lei, seja no serviço de saúde ou no domicílio, buscando empoderá-las acerca de seus direitos.

Os participantes da pesquisa apresentaram bom conhecimento sobre as dimensões definições, epidemiologia, revelação, manejo de casos e indícios de violência contra a mulher. A inabilidade para a condução dos casos é também atribuída a pouca abordagem da violência de gênero nos currículos de graduação77. Bernz IM, Coelho EBS, Lindner SR. Desafio da violência doméstica para profissionais da saúde: revisão da literatura. Sau & Transf Soc. 2012;3(3):105-11.. Assim, destaca-se a necessidade de inclusão do tema na formação acadêmica e da capacitação profissional55. Gomes NP, Erdmann AL. Violência conjugal na perspectiva de profissionais da Estratégia Saúde da Família: problema de saúde pública e a necessidade do cuidado à mulher. Rev Lat-Am Enfermagem. 2014;(22):76-84..

O baixo conhecimento epidemiológico dos profissionais do estudo pode estar associado à dificuldade de relacionar a violência com os sinais relatados pelas mulheres. O desconhecimento da epidemiologia também é relatado em uma pesquisa realizada em Ribeirão Preto1515. Hasse M, Vieira EM. Como os profissionais de saúde atendem mulheres em situação de violência? uma análise triangulada de dados. Saúde Debate. 2014;38(102):482-93.. O pouco conhecimento dos profissionais sobre a prevalência de mulheres agredidas e a presença da lesão corporal pode impedir a investigação daquelas que chegam à unidade com ferimentos por violência. A agressão física é a mais reconhecida nos espaços de saúde, no entanto, invisível nas condutas profissionais33. Almeida LR, Silva ATMC, Machado LS. O objeto, a finalidade e os instrumentos do processo de trabalho em saúde na atenção à violência de gênero em um serviço de atenção básica. Interface (Botucatu). 2014;18(48):47-59..

A maior parte dos profissionais desconhecia a alta prevalência de violência na gravidez. Diversos estudos têm apresentado a prevalência da violência na gestação, como o realizado com 232 gestantes em acompanhamento pré-natal, que revelou que 55,2% sofreram algum tipo de violência do parceiro íntimo alguma vez na vida e em 15,5% essa violência ocorreu durante a gestação1616. Rodrigues DP, Gomes-Sponholz FA, Stefanelo J, Nakano AMS, Monteiro JCS. Violência do parceiro íntimo contra a gestante: estudo sobre as repercussões nos resultados obstétricos e neonatais. Rev Esc Enferm USP . 2014;48(2):206-13.. Neste sentido, destaca-se que a assistência pré-natal de qualidade é um fator potencializador da atenção às mulheres em situação de violência1717. Viellas EF, Gama SG, Carvalho ML, Pinto LW. Factors associated with physical aggression in pregnant women and adverse outcomes for the newborn. J Pediatr. 2013;89(1):83-90..

Pouco menos da metade dos profissionais não sabia que é necessária a realização da notificação compulsória. Ainda que tenham conhecimento sobre esta, um fator que interfere é o não reconhecimento da violência, principalmente em casos velados1515. Hasse M, Vieira EM. Como os profissionais de saúde atendem mulheres em situação de violência? uma análise triangulada de dados. Saúde Debate. 2014;38(102):482-93.. Quando não identificam, acabam não notificando a violência, e deste modo contribuem para a invisibilidade desta no cenário dos serviços de saúde44. Guedes RN, Fonseca RMGS, Egry EY. Limites e possibilidades avaliativas da Estratégia Saúde da Família para a violência de gênero. Rev Esc Enferm USP. 2013;47(2):304-11..

Grande parte dos profissionais desconhecia que deve perguntar diretamente à mulher se sofre violência. Quando questionados sobre a forma de perguntar às mulheres sobre a violência, preferiram uma abordagem indireta, que pode estar relacionada ao medo de ofender a usuária e à noção de que o problema é de cunho privado88. Vicente LM, Vieira EM. O conhecimento sobre a violência de gênero entre estudantes de medicina e médicos residentes. Rev Bras Educ Med. 2009;33(1):63-71.. É necessário que os profissionais melhorem suas habilidades para detecção da violência, realizando perguntas de triagem de modo habitual1313. Sánchez CAV, Fernández CG, Díaz AS. Violencia de género: conocimientos y actitudes em enfermería. Aten Primaria . 2016;48(10):623-6.. Embora a maioria não se sinta confortável, precisam incluir questionamentos diretos acerca da violência na rotina dos atendimentos às mulheres.

A maior parte dos profissionais entendem que a mulher e o agressor devem receber atendimento psicoterápico, que a mulher deve fazer uso de medicamento calmante para enfrentar a situação e que a terapia de casal é uma alternativa para a solução do problema. Essa noção medicalizadora situa o problema no âmbito do normal e do patológico44. Guedes RN, Fonseca RMGS, Egry EY. Limites e possibilidades avaliativas da Estratégia Saúde da Família para a violência de gênero. Rev Esc Enferm USP. 2013;47(2):304-11..

Quase a totalidade dos profissionais desconhecia que há protocolos do Ministério da Saúde para atender a mulher em situação de violência, salvo em casos de violência sexual, que no estudo em tela era de conhecimento da maioria. Se, por um lado, os protolocos fornecem subsídios para o desenvolvimento de ações, por outro, podem ser limitadores, visto que cada ‘caso é um caso’1515. Hasse M, Vieira EM. Como os profissionais de saúde atendem mulheres em situação de violência? uma análise triangulada de dados. Saúde Debate. 2014;38(102):482-93.) e, portanto, necessitaria de um olhar singular. Apesar destas divergências, é inegável que a falta de tecnologias de identificação e enfrentamento da violência na prática dos profissionais limita as ações a questões biológicas44. Guedes RN, Fonseca RMGS, Egry EY. Limites e possibilidades avaliativas da Estratégia Saúde da Família para a violência de gênero. Rev Esc Enferm USP. 2013;47(2):304-11..

Para a implementação de um protocolo é necessário que os profissionais incluíssem em suas práticas tecnologias que privilegiassem a intersubjetividade, a interação e a escuta sensível. Aliado a isso é imperativo que olhem para a mulher além do biológico, considerando sua inserção no contexto sociocultural, cuja vida e ações são influenciadas por ele44. Guedes RN, Fonseca RMGS, Egry EY. Limites e possibilidades avaliativas da Estratégia Saúde da Família para a violência de gênero. Rev Esc Enferm USP. 2013;47(2):304-11..

A maioria dos profissionais sabia que deve orientar a mulher a realizar a denúncia na delegacia de polícia. Para tanto, a capacitação profissional torna-se indispensável, pois permite que os profissionais estejam aptos para dar orientações pertinentes às mulheres1818. Nascimento EFGA, Ribeiro AP, Souza ER. Perceptions and practices of Angolan health care professionals concerning intimate partner violence against women. Cad Saúde Pública. 2014;30(6):1229-38.. Ademais, esta capacitação pode prevenir a revitimização das mulheres, pois a partir dela poderão ofertar uma assistência qualificada1818. Nascimento EFGA, Ribeiro AP, Souza ER. Perceptions and practices of Angolan health care professionals concerning intimate partner violence against women. Cad Saúde Pública. 2014;30(6):1229-38..

Evidencia-se, que profissionais com menor tempo de serviço apresentaram maior conhecimento das condutas frente à usuária, e, também, se sentiam mais à vontade ao questioná-las sobre a violência. Metade dos profissionais com mais de 10 anos de assistência acreditava que não se deve aconselhar a mulher a deixar o parceiro e notificar o fato, sendo esta proporção ainda maior naqueles que receberam capacitação. Esta noção pode estar associada à ideia de que a denúncia é o mesmo que a notificação e ao desconhecimento da obrigatoriedade da notificação, situação evidenciada em estudo serviços de atenção primária de Belo Horizonte e Minas Gerais1919. Kind L, Orsini MLP, Nepomuceno V, Gonçalves L, Souza GA, Ferreira MFF. Subnotificação e (in)visibilidade da violência contra as mulheres na atenção primária a saúde. Cad Saúde Pública . 2013;29:(9):1805-15.. O fato de os profissionais acreditarem que não devem aconselhar a separação da usuária pode ser porque acreditavam que, embora sofrendo violência, a usuária não deseja a separação e que a permanência da mulher na relação associa-se à crença do casamento como realização feminina, e também por dependência social e econômica de seus parceiros55. Gomes NP, Erdmann AL. Violência conjugal na perspectiva de profissionais da Estratégia Saúde da Família: problema de saúde pública e a necessidade do cuidado à mulher. Rev Lat-Am Enfermagem. 2014;(22):76-84..

CONCLUSÃO

Neste estudo constatou-se que a violência de gênero era considerada como demanda pelos profissionais das unidades da ESF cenário do estudo. No entanto, estes não se sentiam à vontade para abordar o assunto com as usuárias e, alguns, nunca questionaram sobre esta problemática.

Evidenciou-se conhecimento quanto às definições, epidemiologia e manejo dos casos de violência. Por outro lado, havia desconhecimento acerca das taxas de violência durante a gestação. Alguns profissionais acreditavam que não devem notificar a violência contra mulher. Possivelmente não tiverem informações sobre notificação compulsória, o que contribui para a ausência de registros. Os profissionais com menor tempo de assistência apresentaram resultados mais positivos em relação à atuação em situações de violência.

Dentre as limitações do estudo, registra-se que este apresentou a visão de profissionais da ESF, havendo, no entanto, profissionais de outros setores envolvidos no atendimento de mulheres em situação de violência de gênero. Ainda, os resultados não podem ser generalizados, tendo vista as características dos participantes e do contexto do estudo, as quais revelam singularidades.

Entende-se que os benefícios do estudo para o ensino e a pesquisa em saúde e enfermagem consistem em fornecer evidências sobre o conhecimento e as fragilidades nas condutas profissionais. Essas evidências oferecerão subsídios para desenvolver ações educativas em serviço por meio de estudos de intervenção, visando qualificar a atuação dos profissionais frente aos casos de violência de gênero.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    02 Jul 2018
  • Data do Fascículo
    2018

Histórico

  • Recebido
    14 Fev 2017
  • Aceito
    27 Jul 2017
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