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Relação entre espaço sociocultural e o consumo de substâncias psicoativas por adolescentes

RESUMO

Objetivo:

Compreender a relação entre espaço e uso de substâncias psicoativas por adolescentes.

Métodos:

Pesquisa de método misto, conduzida com escolares do 9º ano do ensino fundamental de Divinópolis, Minas Gerais. No eixo quantitativo (n=303) aplicou-se os módulos de informações gerais, uso de bebidas e drogas ilícitas da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar. O eixo qualitativo (n=18) foi preponderante e seguiu-se ao quantitativo. Realizou-se análise descritiva e de fatores associados para as variáveis quantitativas. No qualitativo analisou-se os discursos com base na determinação social.

Resultados:

Não morar com os pais e ter amigos que fazem uso de bebidas foram fatores associados a uma maior probabilidade de uso de bebidas por adolescentes. Os espaços socioculturais do adolescente relacionam-se com o uso de bebidas e suas consequências.

Conclusão:

A visão do adolescente quanto ao uso de substâncias psicoativas é influenciada pelo espaço social e geográfico no qual se insere.

Palavras-chaves:
Comportamento do adolescente; Transtornos relacionados ao uso de substâncias; Relações familiares; Instituições acadêmicas; Relações interpessoais

ABSTRACT

Objective:

To understand the relation between space and psychoactive substance use by adolescents.

Methods:

This is a mixed method study conducted with 9th grade students from an elementary school in Divinópolis, Minas Gerais. In the quantitative phase (n=303), the modules for general information, use of beverages and illegal drugs from the National School Health Survey were applied. The qualitative phase (n=18) was dominant and followed the quantitative. Descriptive and associated factor analyses were performed for the quantitative variables. Concerning the qualitative aspects, speeches were analyzed based on social determination.

Results:

Not living with parents and having friends that drink were factors associated with a higher probability of drinking by adolescents. The adolescents' sociocultural spaces are related to the use of beverages and their consequences.

Conclusion:

The adolescents' views regarding the use of psychoactive substances are influenced by the social and geographical space in which they are inserted.

Keywords:
Adolescent behavior; Substance-related disorders; Family relations; Schools; Interpersonal relations

RESUMEN

Objetivo:

Comprender la relación entre el espacio y el uso de sustancias psicoactivas por parte de los adolescentes.

Métodos:

Una investigación de métodos mixtos, realizada con estudiantes de novena grado de la escuela primaria en Divinópolis, Minas Gerais. En el eje cuantitativo (n=303) aplicamos los módulos de información general, uso de drogas y drogas ilícitas de la Encuesta Nacional de Salud Escolar. El eje cualitativo (n=18) fue predominante y siguió al cuantitativo. El análisis descriptivo y los factores asociados se realizaron para las variables cuantitativas. En lo cualitativo analizam os los discursos basados ​​en la determinación social.

Resultados:

No vivir con padres y tener amigos que usan bebidas fueron factores asociados con una mayor probabilidad de consumo de alcohol por parte de los adolescentes. Los espacios socioculturales de los adolescentes están relacionados con el uso de bebidas y sus consecuencias.

Conclusión:

La visión del adolescente sobre el uso de sustancias psicoactivas está influenciada por el espacio social y geográfico en el que se inserta.

Palabras clave:
Comportamiento del adolescente; Trastornos relacionados con sustancias; Relaciones familiares; Instituciones académicas; Relaciones interpersonales

INTRODUÇÃO

O consumo de substâncias psicoativas (SPA) ocorre em todas as culturas, sendo o álcool uma das principais substâncias utilizadas, causando graves danos à saúde a curto e longo prazos11. Liu Y, Lintonen T, Tynjala J, Villberg J, Valimaa R, Ojala K et al. Socioeconomic differences in the use of alcohol and drunkenness in adolescents: trends in the health behaviour in school-aged children study in Finland 1990-2014. Scand J Public Health. 2018;46(1):102-11. doi: https://doi.org/10.1177/1403494816684118
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. O seu uso por adolescentes é considerado elevado em países em desenvolvimento, como Brasil e China, sendo que na China, o consumo entre adolescentes de 12 a 17 anos, nos últimos 30 dias da pesquisa, foi de 42,2%11. Liu Y, Lintonen T, Tynjala J, Villberg J, Valimaa R, Ojala K et al. Socioeconomic differences in the use of alcohol and drunkenness in adolescents: trends in the health behaviour in school-aged children study in Finland 1990-2014. Scand J Public Health. 2018;46(1):102-11. doi: https://doi.org/10.1177/1403494816684118
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. No Brasil, estudo conduzido em Belo Horizonte, Minas Gerais, relatou um aumento do consumo de bebidas em Binge drinking (beber pesado episódico) no período de 2010 a 2012, indo de 35,6% para 39,9%22. Jorge KO, Ferreira RC, Ferreira EP, Vale MP, Kawachi I, Zorzar PM. Binge drinking and associated factors among adolescents in a city in southeastern Brazil: a longitudinal study. Cad SaúdePública. 2017 Mar;33(2):e00183115. doi: https://doi.org/10.1590/0102-311x00183115
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A Pesquisa nacional de Saúde do Escolar de 2015 (PeNSE, 2015)33. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional de Saúde Escolar 2015. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; 2016., realizada com adolescentes do 9º ano do ensino fundamental relata que 23,8% adolescentes fizeram uso de bebidas alcoólicas em um período de trinta de dias, com prevalência de 22,5% nos meninos e 25,1% nas meninas, a prevalência de uso na vida foi de 55,5%. Este uso precoce de álcool na adolescência pode alterar o desenvolvimento do cérebro, influenciando o desenvolvimento comportamental, emocional e social44. Tapert SF, Schweinsburg AD, Barlett VC, Brown SA, Frank LR, Brown GG, et al. Blood oxygen level dependent response and spatial working memory in adolescents with alcohol use disorders. Alcoholism: clin experim res. 2004;28(10):1577-86. doi: https://doi.org/10.1097/01.alc.0000141812.81234.a6
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Estes números elevados de uso na adolescência relacionam-se com a contemporaneidade em que se tem uma homogeneização das necessidades. O uso de SPA se enquadra como uma destas necessidades, fazendo com que a depender do espaço ocupado socialmente por este jovem, o consumo de SPA, seja tido como necessário55. Almeida MR, Gomes RM. Medicalização social e educação: contribuições da determinação social do processo saúde-doença. Nuances. 2014; 25(1):155-75. doi: https://doi.org/10.14572/nuances.v25i1.2728
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.

O espaço tanto geográfico quanto social que o jovem ocupa e onde interage constitui um forte objeto social, pois faz parte do cotidiano, condicionando em grande parte suas práticas sociais. Pode-se considerar o espaço como produto da ação do homem, estando atrelado a seu passado histórico, lutas e interesses dos grupos que o ocupam ou desejam ocupar66. Santos M. Espaço e sociedade. Petrópolis: Vozes; 1979. .

Nos espaços geográficos encontram-se as instituições como as escola, igrejas, bares e os domicílios que são organizadas pelos indivíduos e grupos sociais conforme suas vivências e bagagem histórico. Assim, cada grupo social organiza e produz seu próprio espaço como um local de sua própria reprodução e reafirmação histórica66. Santos M. Espaço e sociedade. Petrópolis: Vozes; 1979. .

Ao se discutir o uso de SPA por adolescentes, os espaços ocupado por estes merecem destaque, pois é nesta fase da vida que o indivíduo mais procura por conexões, interações e tem-se a necessidade de pertencimento a um grupo77. Oliveira LFR, Gomes MJM, Soares E, Cavalcante MAF, Nascimento EGC. Consumption of alcohol by adolescents: from the act of liberty to risk behavior. Adolesc Saúde. 2017 [cited 2019 Aug 2];14(2):58-65. Available from: Available from: http://adolescenciaesaude.com/detalhe_artigo.asp?id=650&idioma=English
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. Dentre estes espaços tem-se a família e a escola. A família seria importante fonte de relações sociais, sendo a primeira instituição em que o indivíduo interage socialmente. Já na adolescência a escola desponta como espaço essencial de convívio social, abrindo-se assim um leque de interações e ações que moldam o jovem e ao mesmo tempo este jovem modifica o espaço66. Santos M. Espaço e sociedade. Petrópolis: Vozes; 1979. .

O consumo de SPA ocorre em todos estes espaços, tornando o fenômeno cosmopolita e multifatorial, envolvendo determinações tanto singulares quanto gerais. Compreende-se a determinação geral do fenômeno como a dimensão macrossocial, considerando-se o processo de saúde-doença a nível coletivo, a dimensão particular se desenrola nos grupos sociais e os processos singulares ocorrem no cotidiano dos indivíduos, com influência de seu genótipo88. Breilh J. Episteme e práxis social: como se transformam, avançam ou retrocedem os conceitos cientificos. In: Breilh J. Epidemiologia crítica: ciência emancipadora e interculturalidade. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ; 2006. p. 99-111..

Assim, ao se discutir o fenômeno do uso de SPA por adolescentes, os dados meramente descritivos não conseguem abranger a complexidade do problema. A descrição estatística deve caminhar com as discussões em profundidade, uma sustentando a outra, considerando sempre os fatores de uso, mas ao mesmo tempo discutindo sua interface com os espaços em que se desenrola o fenômeno66. Santos M. Espaço e sociedade. Petrópolis: Vozes; 1979. .

Tendo-se por base o exposto, entende-se que é necessário compreender a relação entre espaço e uso de SPA por adolescentes de forma ampla, proporcionando que os profissionais que recebem estes adolescentes na saúde, educação ou sistema judicial não culpabilizem apenas o indivíduo pelo uso de SPA, mas entendam que o fenômeno envolve o espaço e assim trazer para as Unidades de saúde, escolas e locais de reabilitação o protagonismo dos indivíduos.

O presente artigo foi extraído de uma Tese de doutorado que contou com quatro capítulos, em que se discutiu as determinações sociais do uso de SPA na visão dos adolescentes. O capítulo que serviu como base para este artigo analisou o espaço social do adolescente e o uso de SPA.

MÉTODO

O estudo utilizou-se do método misto de pesquisa, este tipo de pesquisa coleta e analisa dados tanto qualitativos quanto quantitativos. A estratégia adotada foi a exploratória sequencial (Quan QUAL). Priorizou-se o eixo qualitativo da pesquisa e os resultados de ambos os eixos foram integrados na interpretação dos dados com base no referencial teórico99. Creswell JW, Plano Clark VL. Pesquisa de métodos mistos. 2ª ed. Porto Alegre: Penso; 2013. .

A realização da fase quantitativa primeiro propiciou o estabelecimento de vínculo com os adolescentes, pois a temática abordada é sensível e envolta em tabus. Assim, muitos alunos poderiam não se sentirem confortáveis em participar da parte qualitativa, expondo suas vivências, além do receio de terem suas respostas disponibilizadas para a escola e/ou responsáveis. Com a aplicação do eixo quantitativo primeiramente, criou-se confiança mutua, o que facilitou a realização das entrevistas semiestruturadas. Além do que, esperava-se com a análise dos dados quantitativos, reconhecer lacunas e possíveis questões importantes para a fase qualitativa.

O estudo foi conduzido com adolescentes que cursavam o 9º ano do ensino fundamental (média de 14 anos de idade) na cidade de Divinópolis, Minas Gerais. Justifica-se a escolha desta amostra por terem o mínimo de escolarização para responder a um questionário autoaplicado, além de ter sido a mesma faixa etária utilizada pela Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar de 2015, cujos questionários relacionados às informações gerais e ao uso de álcool foram utilizados no eixo quantitativo da presente pesquisa33. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional de Saúde Escolar 2015. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; 2016.. Quanto ao período da pesquisa, este foi de maio de 2017 a março de 2018.

O eixo quantitativo caracterizou-se por ser do tipo transversal, em que foram aplicados os módulos de informações gerais e uso de bebidas alcoólicas da Pesquisa nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) do ano de 201533. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional de Saúde Escolar 2015. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; 2016..

Em relação as questões sobre a experimentação e uso de álcool, a PenSE (2015)33. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional de Saúde Escolar 2015. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; 2016.) contém oito questões, que se referem ao adolescente já ter experimentado bebidas, se sim, qual foi a idade de experimentação, quantos dias de uso no mês, número de doses tomadas nos últimos 30 dias, forma de aquisição da bebida, problemas relacionados ao uso, como faltar a escola ou discussões familiares e sobre ter amigos que fazem uso de bebidas.

O estudo seguiu os mesmos critérios de amostragem da pesquisa original33. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional de Saúde Escolar 2015. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; 2016.. O tamanho da amostra foi calculado para fornecer estimativas da prevalência do consumo de álcool nos últimos 30 dias por adolescentes do 9º ano, estimado em torno de 23% para o Brasil33. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional de Saúde Escolar 2015. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; 2016.. Considerando uma população de 3.000 alunos de 9º ano, com um erro amostral máximo de 5%, em valores absolutos, nível de confiança de 95% e efeito do plano amostral (efeito do desenho amostral de conglomerados) de 1,5; estimou-se uma amostra de aproximadamente 375 escolares do 9º ano, já considerando possíveis perdas.

Considerando o número médio de 30 alunos por turma, estimou-se uma amostra de aproximadamente 13 escolas (=375/30), distribuídas proporcionalmente entre os estratos de alocação de escolas públicas e privadas. Sendo que aproximadamente 15% das turmas de 9º da cidade estavam em escolas privadas, contra 85% em escolas públicas. Dessa forma, seguindo a distribuição proporcional, a amostra foi composta por duas escolas privadas e 11 escolas públicas. A escolha se deu por sorteio simples aleatório. Considerando as recusas e perdas previstas, obteve-se 303 respondentes nas 13 escolas selecionadas.

A aplicação dos módulos ocorreu nas próprias instituições, sendo aplicado pela própria pesquisadora, sem a presença de professores em sala. Antes da aplicação do eixo quantitativo, todas as turmas foram visitadas e as informações sobre a pesquisa repassadas.

Como critério de inclusão utilizou-se: estar regularmente matriculado no 9º ano do ensino fundamental das escolas sorteadas e se encontrar presente em sala de aula no dia marcado para explicação do projeto, assim como no dia da aplicação do questionário. Os critérios de exclusão foram: não estar presente no momento da explicação do projeto, assim como no dia da aplicação do questionário não estar em sala de aula. Para os adolescentes que possuíam alguma limitação para o autopreenchimento do questionário, solicitou-se aos monitores destes alunos que os auxiliassem em local reservado a este fim, sem interferência de professores.

Na análise dos dados, primeiramente se fez uma descrição geral das variáveis dos módulos aplicados, com distribuição de frequência, medidas de tendência central (média), variabilidade (desvio-padrão) e posição (mediana, mínimo e máximo). Em um segundo momento associou-se os fatores de uso de álcool por adolescentes, tendo como base o referencial teórico da determinação social88. Breilh J. Episteme e práxis social: como se transformam, avançam ou retrocedem os conceitos cientificos. In: Breilh J. Epidemiologia crítica: ciência emancipadora e interculturalidade. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ; 2006. p. 99-111.. A variável resposta utilizada foi “Alguma vez na vida você tomou uma dose de bebida alcoólica?”, categorizada em sim ou não. Já as variáveis explicativas foram agrupadas em categorias de co-variáveis. Como o presente artigo é um recorte, as co-variaveis aqui analisadas e discutidas serão: sexo (masculino/feminino); dependência administrativa (pública ou privada); com quem mora (pai e mãe/ só mãe/ nem pai e nem mãe); escolaridade materna (estudou até fundamental/médio ou superior) e amigos que bebem (sim/não).

Os dados coletados foram armazenados e organizados em planilha eletrônica e analisados com auxílio do programa estatístico STATA, versão 12.0. Logo depois realizou-se análise descritiva de todas as variáveis estudadas e estimada a prevalência do consumo de álcool na vida com respectivo Intervalo de Confiança de 95% (IC95%).

Para avaliar possíveis fatores associados ao consumo de álcool, na análise univariada, usou-se o teste do qui-quadrado de Pearson. Em seguida foi utilizado o modelo de Poisson com variâncias robustas, tanto simples como múltiplo. Para entrada das variáveis a análise múltipla foi utilizado como referência um valor-p menor que 0,20 na análise univariada. No modelo final permaneceram somente as variáveis com nível de significância igual ou menor do que 5%. Foram estimados os valores de Razão de Prevalência (RP), com Intervalo de Confiança 95% (IC95%).

Após a análise dos dados quantitativos, seguiu-se a aplicação do eixo qualitativo, que foi o preponderante. Com base no referencial teórico e com as análises do eixo quantitativo já realizadas, confeccionou-se o roteiro semiestruturado. Selecionou-se as seis escolas com maior número de alunos do 9º do ensino fundamental que haviam participado da primeira etapa.

As escolas que compuseram a seleção foram: uma escola pública municipal, localizada em bairro periférico, quatro escolas públicas estaduais com realidades diversas e uma escola particular que se encontra no centro da cidade. Após a escolha das escolas sorteou-se três estudantes por instituição, esta escolheu teve como objetivo aumentar a diversidade de olhares acerca do fenômeno, se com os 18 alunos entrevistados não se alcançasse a saturação teórica e de dados, novas entrevistas seriam realizadas, mas obteve-se a saturação com o número inicial de entrevistas1010. Saunders B, Sim J, Kingstone T, Baker S, Waterfield J, Bartlam B, et al. Saturation in qualitative research: exploring its conceptualization and operationalization. Qual Quant. 2018;52(4):1893-907. doi: https://doi.org/10.1007/s11135-017-0574-8
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. O critério de seleção dos participantes do eixo qualitativo foi ter participado do eixo quantitativo e encontrar-se na escola no dia marcado para a entrevista semiestruturada, em caso de o estudante sorteado não estar presente, um novo sorteio foi realizado para a escolha de um novo participante. Os critérios de exclusão foram: não estar presente no dia da entrevista ou se encontrar em outra atividade didática.

A coleta de dados ocorreu nas próprias escolas, em horário de aula, em local privado. O tempo de entrevista foi de média de 25 minutos, utilizou-se gravador, com autorização dos participantes.

Como forma de identificar os entrevistados utilizou-se de códigos alfanuméricos, sendo as letras M (masculino) ou F (feminino), seguido pelo número da entrevista. Todas as entrevistas foram gravadas e logo em seguida transcritas na integra pelos pesquisadores, com utilização da dupla digitação. O diário de campo foi peça importante para a interpretação dos dados da pesquisa e sua discussão.

Os resultados qualitativos foram interpretados por meio da Hermenêutica- dialética, por compreender-se que o estudo deveria abarcar os sentidos dos adolescentes quanto ao uso de SPA e por dialogar com o referencial teórica1111. Alencar TO, Nascimento MA, Alencar BR. Hermenêutica dialética: uma experiência enquanto método de análise na pesquisa sobre o acesso do usuário a assistência farmacêutica. Rev Bras Promoc Saúde. 2012 [cited 2019 Aug 10];25(2):243-50. Available from:Available from: https://periodicos.unifor.br/RBPS/article/view/2236
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. A trajetória se deu na seguinte ordem: Ordenação dos dados, classificação e análise final, com todas etapas dinâmicas e complementares1111. Alencar TO, Nascimento MA, Alencar BR. Hermenêutica dialética: uma experiência enquanto método de análise na pesquisa sobre o acesso do usuário a assistência farmacêutica. Rev Bras Promoc Saúde. 2012 [cited 2019 Aug 10];25(2):243-50. Available from:Available from: https://periodicos.unifor.br/RBPS/article/view/2236
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A ordenação dos dados ocorreu com a leitura das entrevistas juntamente com a leitura do diário de campo. A Classificação dos dados possibilitou a construção dos núcleos de sentido, em que se realizou a síntese horizontal e a vertical. A síntese horizontal permitiu observar as diferenças e igualdades nas falas dos entrevistados, já na vertical foi possível generalizar e se ter uma ideia geral sobre a percepção de cada entrevistado.

Em seguida, realizou-se a leitura transversal de todo o material, confrontando-o com o referencial teórico e o diário de campo. Com base nesta leitura fez-se as determinações fundamentais, que consistiram em um resumo das observações de campo de cada escola juntamente com a análise transversal e horizontal dos núcleos de sentidos. Com estas etapas, construiu-se a determinação geral fundamental de todas as entrevistas. Após estas etapas, três categorias emergiram da análise qualitativa.

Na análise final utilizou-se da estratégia transformativa sequencial, e os eixos quantitativo e qualitativo foram integradas e interpretadas a luz do referencial teórico, instituindo-se quatro capítulos acerca da temática99. Creswell JW, Plano Clark VL. Pesquisa de métodos mistos. 2ª ed. Porto Alegre: Penso; 2013. . O presente artigo discutirá o capítulo intitulo na Tese como “As relações e espaços sociais do adolescente e suas associações com o uso de SPA”.

O presente projeto foi aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFMG, parecer nº 2.007.097. Os indivíduos selecionados assinaram o termo de assentimento livre e esclarecido (TALE) e por se tratar de estudo envolvendo adolescentes, os responsáveis consentiram com a participação dos mesmos por meio do Termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE). A pesquisa atende às determinações da Resolução 466/12, do Conselho Nacional de Saúde.

RESULTADOS

O eixo quantitativo contou com uma amostra representativa de 303 adolescentes que cursavam o 9º ano do ensino fundamental em 2017, dos quais 54,7% (n=158) eram do sexo masculino, com idade média de 14 anos. Quanto aos respondentes do módulo de uso de bebidas alcoólicas, 298 adolescentes responderam se haviam feito uso de bebidas na vida, sendo que destes, 50,3% (n=150) haviam experimentado bebidas na vida, com média de idade de 13 anos (12,8 ± 1,9). A tabela 1 apresenta as análises univariadas para os determinantes associados ao consumo de álcool, pertinentes a discussão do artigo.

Tabela 1 -
Análise univariada da avaliação dos fatores associados ao consumo de álcool. Divinópolis, MG, Brasil, 2017

Segundo resultados do modelo múltiplo (Tabela 2) não morar nem com pai nem com a mãe, além de ter amigos que bebem, foram fatores associados a uma maior probabilidade de uso de bebidas alcoólicas por adolescentes.

Tabela 2 -
Análise multivariada da avaliação dos fatores associados ao consumo de álcool por estudantes do 9º ano do ensino fundamental. Divinópolis, MG, Brasil, 2017

O uso de drogas ilícitas foi relatado por 7,7% (n=23) dos estudantes, dos que experimentaram na vida, o uso de maconha no último mês, foi relatado por 54,2% (n=12) e 4,3% (n=1) consumiram crack no mesmo período.

Na segunda etapa (QUAL) foram entrevistados 18 participantes, em que 50,0% (n=9) eram meninas, com média de idade de 14 anos. Na primeira subcategoria sobre a temática do espaço social e as relações interpessoais do adolescente se analisou a relação da escola com a temática das SPA. Os estudantes relataram que o assunto é pouco abordado nas instituições, independentemente de qual a dependência administrativa ou localização. Informação que dialoga com o eixo quantitativo ao se analisar que não houveram probabilidades diferentes entre o uso de SPA entre escolas públicas e privadas, demonstrando que tanto o uso quanto a forma de abordagem sobre a questão são parecidas entre as instituições da cidade.

Quando a temática é colocada em discussão, a mesma ocorre durante as aulas de biologia ou ensino religioso, demonstrando uma visão biomédica ou relaciona a moral, paradigma que é preponderante na atualidade.

[...] só uma citaçãozinha quando vão falar de órgãos... pulmão... coração... essas coisas, mas a maioria das vezes não tem não. Só algumas palestras que tem sobre cigarro, bebidas e uso de drogas, mas isso é muito raro (M6).

Ela [professora de religião] fala dos malefícios e tal, o por que a pessoa é levada a isso, o que acontece (F14).

A fala da adolescente que será apresentada a seguir (F11) é interessante por relatar que a instituição não deveria abordar o assunto, pois não seria sua responsabilidade. A adolescente é estudante da escola com maior vulnerabilidade social, em que a coordenação em uma conversa com a pesquisadora relatou que muitos alunos daquela escola “dariam em nada”.

Não, eles nunca comentam sobre drogas, nunca, por que não é dá conta deles (F11).

Houve o relato por parte dos alunos que nesta escola a polícia foi acionada devido a um estudante ter sido abordado com drogas ilícitas, como apresentado abaixo:

Eles não tão nem aí [deviam falar sobre o assunto]. Esses dias mesmo, o menino trouxe, né? E estava ali atrás fumando e ficou doido. Chama a polícia, né? O menino passando mal, além de chamar.... Chama a polícia (F11).

O consumo de SPA não ocorre somente na periferia, a escola estadual localizada em bairro nobre da cidade também foi palco de um episódio em que um estudante chegou alcoolizado. Este uso disseminado foi apontado pelo eixo quantitativo ao não se ter diferenças de uso entre as dependências administrativas.

Acho que teve um aluno que apareceu bêbado, aí os professores conversam com ele e tudo, mas na aula não... nem em religião! Eu achei esquisito (M1).

O que diferencia um episódio do outro é a abordagem da escola quanto ao uso de SPA por seus alunos, demonstrando a diferença social do fenômeno.

Ainda sobre a abordagem do tema pelas escolas, a particular trabalha o uso de SPA ao longo do semestre, por meio de projetos sociais que levam os adolescentes a clínicas de reabilitação e palestras ministradas na escola.

Acho que ano passado teve uma palestra, eu estava presente, que falou sobre o uso de álcool e de drogas também. Um pessoal veio conversar com a gente, eram ex usuários, explicando as causas. Tem “cidadão do mundo” que é o projeto que fala sobre o uso de drogas (M18).

Nas escolas públicas a temática é abordada no Programa Educacional de Resistência as Drogas (Proerd), que ocorre no 6º ano do ensino fundamental e demonstra uma visão do uso de SPA relacionado a proibição e ao biologicismo.

Tem vezes que o assunto é abordado. Tem professores que falam. Falam dos efeitos que dá, o que causa.... Quando a gente tinha era do Proerd, né?! E em algumas matérias, de vez em quando cai algumas perguntas assim, mas só algumas (F2).

Ao serem questionados se achavam que a escola deveria abordar o assunto, eles acreditavam que sim, pois o uso de SPA é uma realidade a ser discutida.

Com certeza [seria importante abordar o tema]. Por que tipo assim, a gente está aqui na escola e se eles forem conscientizando a gente... A gente vai estar ciente do que vai acontecer lá fora, você vai saber dizer não (F10).

Mas apesar do assunto ser considerado relevante, ainda é um tabu e as escolas que promovem a discussão do tema podem enfrentar resistência por parte dos pais e alunos. Como apresentado na fala de M18, que estuda na escola particular.

Bom, eu acho que em relação as palestras eu sou até a favor disso, que é uma maneira da pessoa ver e entender o outro lado da história e aprender a não julgar. Só que em relação aos projetos que você tem que ir a instituições, eu acho que depende muito da idade. Eu não sou tão a favor assim. Vou te dar um exemplo: a C*** [comunidade terapêutica], eu queria até ir no ano passado, só que aí eu sentei e falei com meus pais e eles até explicaram, e eu pensei melhor, por que eu acho que depende da pessoa, eu não posso falar que eu posso ir por que tenho emocional forte ou qualquer coisa assim. Por que eu não sei como que é lá, eu sei que é triste a situação deles e eu acho que é muito cedo para uma pessoa, que ainda está jovem, conhecer esse mundo (M18).

A segunda subcategoria mostra as relações familiares com o consumo de SPA, tendo-se que todos os adolescentes possuem em seu meio ao menos um familiar que faz ou já fez uso de SPA de forma abusiva. O consumo é realizado em festas e nas próprias casas dos adolescentes, principalmente em datas comemorativas ou como forma de recepcionar amigos, mas apesar do consumo ser tido como sociável, os adolescentes relatam discussões e episódios de violência devido ao uso excessivo de álcool durante os encontros.

É tipo nos finais de semana, quase todos os finais de semana e em festas, tipo final de ano... páscoa, essas coisas que aí geralmente eles [familiares] bebem muito! E por causa da bebida, eles acabam fazendo coisas que não faziam normalmente... aí gera um tanto de confusão. Por isso eu não vou muito nessas reuniões de família, por que eu não gosto de ver essas coisas (M6).

O oferecimento de álcool como forma de recepcionar os amigos e familiares pode ser considerado como um padrão social, pois os responsáveis pelos adolescentes possuem amigos e familiares que fazem o uso e os adolescentes acabam por reproduzir este comportamento ao se associarem com indivíduos que fazem o uso de álcool, além de o usarem como forma de socializar. Fato que aparece no eixo quantitativo ao se analisar que a maior probabilidade de uso de bebidas é por parte dos adolescentes que tem amigos que também bebem. As falas a seguir de F13 e F14 corroboram o que foi relatado acima.

Uai, quando eles (pais) estão em casa de boa e não vão sair, aí eles bebem nem que seja um copo, eles bebem (F13).

Meus pais também quase não usam não. Minha mãe praticamente não bebe, não gosta e meu pai só às vezes. Só às vezes assim... Ele não gosta muito de beber. Quando chega gente lá em casa aí ele toma um pouquinho com quem chega ou em alguns finais de semana e tal [...] (F14).

Em relação ao uso especifico pelos pais ou responsáveis, os relatos apontam que a maioria fazia uso de bebidas em casa, principalmente aos finais de semana. O uso pelas mães é menos frequente, sendo citado como “uso social”, mas o termo é de difícil mensuração, pois dependerá da realidade de cada família.

Só meu pai [bebe], minha mãe bebe só socialmente. Ela bebe só um Martine ou um vinho. Meu pai é todo dia... Todo dia não, mas sexta, sábado e domingo. Tipo sábado ele começa depois do almoço e para as cinco, domingo também (M15).

O uso de bebidas apesar de ser importante fator socializador para as famílias demonstrou relação com acidentes causados por seu uso abusivo, estes ocorreram principalmente com os pais dos adolescentes.

Mas, meu pai bebe, mas fica normal, ele não descontrolou não. Teve uma vez que ele bebeu tanto que até bateu o carro [demonstra a batida com gestos e risos] É.… só isso. Aí eu falei para ele parar de beber (M4).

[pai] Umas pingas assim, um litro de pinga por dia. Ele já sofreu um acidente por causa disso... ele estava andando de bicicleta assim [barulho] aí veio uma moto e pegou ele. Ele estava tonto (F5).

Os adolescentes têm na família sua instituição primária de socialização e é por meio de observações de comportamentos que apreende sobre os padrões considerados aceitáveis ou não. Ao integrar os discursos dos adolescentes e os dados estatísticos tem-se que os comportamentos familiares em relação ao uso de bebidas e a vulnerabilidade social a que podem estar expostos relacionam-se com as consequências do uso, como observado com adolescentes que não moram com os pais terem maior probabilidade de uso de álcool e a escolaridade materna mais elevada não ter se associado ao consumo, sendo um fator protetor ao adolescente.

Em relação ao uso de droga ilícitas, três adolescentes expuseram o uso pelos pais, com consequências mais graves a curto prazo que o uso de bebidas, sendo que um faleceu, outro se encontrava encarcerado e o terceiro em uma clínica de reabilitação. Os dois primeiros são pais de adolescentes que moram em região de grande vulnerabilidade social e o último reside em umas das regiões mais nobres da cidade.

Meu pai usava drogas e coisas assim. [A morte do pai] foi acidente, né? Ele estava, né? [Sob o efeito de SPA]. Foi acidente... acidente dentro de casa mesmo, deixou o gás ligado, foi acender o isqueiro e [...] (F11).

Eu tenho um pai que tem problema com isso [drogas], ele está em uma clínica de reabilitação [...] Ele (pai) parou um pouco [uso de SPA] depois que saiu da clínica. Na verdade, ele não queria sair da clínica por que ele achava que estava fazendo muito bem para ele, aí ele não conseguiu se controlar (M1).

Agora como ele está preso [pai], mas antes, quando eu visitava ele, ele bebia muito, mas eu nunca cheguei a ver ele “tupicando” de cair não. Mas eu sabia que ele bebia por que ele bebia em casa e ele bebia muito e eu não sei, mas acho que ele fazia uso de outras coisas (F10).

Os relatos demonstram que o uso de drogas ilícitas se encontra difundida entre as classes sociais, o que se modifica são as consequências desse uso, que se altera conforme o estrato social ocupado pelo indivíduo. Enquanto o pai de M1 se encontra em uma clínica particular de reabilitação, os outros dois indivíduos tiveram destinações diferente, um faleceu e outro se encontra preso devido a associação com tráfico de drogas, assim tanto cor da pele, tanto F10 quanto F11 são negras, M1 é branco, quanto espaço ocupado ditam sua posição social.

O consumo de SPA como demonstrado, causa conflitos familiares, acarretando em agressões psicológicas e físicas.

Por que ele [pai] era possesivo de ciúme, aí as vezes ele chegava a agredir ela [mãe]. Eu ficava triste, ficava tentando separar, pedia ele para parar. Só que não adianta, nessa época eu não dava conta de nada. Eu não dou conta de bater no meu pai. Isso era de madrugada, minha mãe trabalhava em uma pizzaria e a pizzaria fechava de madrugada. [...]e ele estava meio ruim aí ele ia bater nela, aí nós acordávamos e via aquilo... A gente gritava socorro, mas ninguém ajudava (F10).

Toda hora ele (pai) queria usar droga e tinha que arrumar dinheiro e aí ele vendia as coisas lá de casa.... Minha mãe separou dele, mas ele roubava do mesmo jeito, só que aí a gente mudou de cidade (F11).

As falas a seguir trazem que o uso de bebidas foi incentivado e ofertado por familiares, geralmente quando os responsáveis diretos não se encontravam, reforçando os resultados do eixo quantitativo sobre maior probabilidade de uso de adolescentes que não moram com ambos os pais, podendo-se assim inferir que a vigilância parental é fundamental na adolescência.

Em casa [local de experimentação], minha mãe não estava lá, só meu pai. [A bebida foi oferecida pelo primo de 14 anos] (F13).

Ahhh meu padrasto, por que meu pai não mora comigo, ele deixa [fazer uso de bebida]. Nas festas ele bebe comigo. Tipo no aniversário de 15 anos a gente bebeu junto. (F9).

A terceira subcategoria expõe o uso de SPA e sua relação com as amizades. Os adolescentes relatam que o uso de SPA depende em grande parte do ciclo de amizades, o que concorda e complementa os dados que apontaram que a maior probabilidade de uso de álcool foi de adolescentes que tinham amigos que também o faziam.

Você tem um amigo, muito amigo seu que bebe e tem amigos ... tipo que bebem... como são essas pessoas que você admira e são seus amigos, você vai acabar querendo seguir eles, aí você acaba bebendo e entrando no mundo das drogas ou do álcool (M6).

Mas apesar de reconhecerem que se tem uma influência dos amigos, os adolescentes descrevem que depende muito de o indivíduo querer ou não fazer o uso, sendo a influência apenas um dos componentes do uso de SPA.

As minhas não [influência de amigos]. A gente vai por que quer, aí fala que foi influenciado, só para dar uma de santo e coitado, mas a gente vai por que quer! (F10)

Se eu tivesse mais amigos que usam e eu tivesse, vamos falar assim, um emocional um pouco mais fraco, eu utilizaria (M18).

Assim, os adolescentes assumem em parte a responsabilidade pelo uso do álcool, como se estivesse relacionado a uma vulnerabilidade de caráter do indivíduo.

Um ponto que diferenciou os adolescentes que usam SPA dos que não utilizam foram seus ciclos de amizades e locais que frequentam. As falas a seguir são de adolescentes que não faziam o uso de álcool.

Eu não gosto muito de sair. Eu prefiro ficar em casa. Ficar lá. Inclusive eles [pais] ficam falando “sai, você só fica dentro de casa. ” Eu não gosto (M14).

Meus amigos são muito parecidos comigo. Eles não vão nessas festas, são mais de ficar em casa, gostam de jogar, igual eu jogo. Tipo eu passo a maior parte do meu tempo jogando no meu Playstation e meus amigos também... nenhum bebe, nem fumam [...] (M6).

Tem-se um comportamento mais pacato dos adolescentes que não bebiam, demonstrando que as relações sociais são importantes e que se tem uma aproximação dos indivíduos com comportamentos semelhantes. Quanto aos adolescentes que faziam uso de bebidas alcoólicas, ao serem questionados sobre como se divertiam, tiveram respostas diferentes.

Eu não saio tanto assim não. Sexta às vezes, por que eu trabalho sábado e domingo. Aí eu só saio sexta, aí tem fim de semana que eu saio de boa, mas é muito difícil eu sair assim... Sexta, sábado e domingo, geralmente eu saio só sexta. A gente vai muito para social e batida e essas coisas. Social é festa na casa de um amigo é só leva o que for beber e comer (M15).

Agora que eu vim para esta escola e minhas amigas me chamam para sair, as vezes elas me pedem para beber aí eu fico meio assim... aí é uma vez ou outra que eu bebo (F7).

Nas falas acima se tem o relato de saírem aos finais de semana, na cidade da pesquisa se tem a relação de diversão com o uso de bebidas, em que se tem poucas opções de lazer que não envolvam o uso de álcool. O passatempo da maioria dos habitantes aos finais de semana se resume aos bares, não se tendo áreas verdes, parques, exposições ou shows na cidade de forma frequente e quando se tem o consumo de bebidas é alto. Assim, os adolescentes ao relatarem que saem aos finais de semana estão reproduzindo a cultura local.

DISCUSSÃO

As instituições normativas como a escola são importantes quando se analisa as relações dos adolescentes com o uso ou não de SPA, pois é neste espaço social que o jovem amplia seu leque social, antes restrito à família. Na análise múltipla dos dados não houve maior probabilidade de uso de álcool relacionado a dependência administrativa, o que dialoga e corrobora com os discursos dos adolescentes.

Este uso disseminado de SPA deve ser analisado em um contexto mais amplo, em que a escola sofre influências da dimensão geral, relacionadas a políticas de governo e ideologia dos pais e da comunidade em que está inserida1212. Borde E, Alvarez MH, Porto MFS. Uma análise crítica da abordagem dos determinantes sociais da saúde a partir da medicina e saúde coletiva latino-americana. Saúde Debate. 2015;39(106):841-54. doi: https://doi.org/10.1590/0103-1104201510600030023
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. Devido a estas forças macrossociais, acaba por reproduzir paradigmas vigentes, como marginalização do usuário de drogas, visão moralista e biologicista quanto ao fenômeno, não conseguindo ressignificar a temática55. Almeida MR, Gomes RM. Medicalização social e educação: contribuições da determinação social do processo saúde-doença. Nuances. 2014; 25(1):155-75. doi: https://doi.org/10.14572/nuances.v25i1.2728
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Os professores tentam trabalhar o assunto, mas devido a formação pessoal e profissional acabam por aprofundar ainda mais os paradigmas vigentes sobre a temática, o que ocorre por fatores relacionados a desvalorização dos professores e diretores que não tem muitas vezes em suas grades curriculares a temática do uso de SPA, além da falta de uma educação permanente relacionada a busca da realidade do território e possíveis ações. Está falta de investimento ou de urgência em se mudar a realidade vigente possui interesses econômicos de se manter a mesma reprodução social e cultural1313. Olenski MCB, Chaves EMS. A reinserção social do dependente de substâncias psicoativas: um debate contemporâneo. Rev Inst Pesq Estudos. 2014 [cited 2019 Aug 5];18(34):1-87. Available from: Available from: http://ojs.ite.edu.br/index.php/css/article/view/146/0
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A família também emerge como fator importante para a discussão, pois assim como a escola é uma instituição, sendo neste caso, a primeira instituição do indivíduo e é por meio dela que se tem a construção dos sujeitos individuais que pela observação de comportamentos construirá seu aprendizado social que é transgeracional e tende a reproduzir comportamentos e repassa-los a gerações futuras, fazendo com que preconceitos e estereótipos fiquem enraizado na sociedade1414. Galhardi CC, Matsukura TS. O cotidiano de adolescents em um centro de atenção psicossocial de álcool e outras drogas: realidades e desafios. Cad Saúde Pública. 2018;34(3):e00150816. doi: https://doi.org/10.1590/0102-311x00150816
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Quando se integrada os eixos qualitativo e quantitativo é possível relacionar os fatores socioeconômicos com o uso ou não de bebidas, pois como analisado, o não morar com os pais surge como determinante de risco para o uso de álcool em adolescentes, em contrapartida tem-se que a escolaridade materna não se associou a este uso, o que pode ser interpretado com base na alta taxa (33,3%) de mães com ensino superior na pesquisa, a PeNSE(2015)33. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional de Saúde Escolar 2015. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; 2016. já demonstrou uma porcentagem de apenas 13,3%. Assim a alta escolaridade materna pode ser percebida como fator protetor a este adolescente, associando-se a uma menor vulnerabilidade social1515. Almeida RMM, Trentini LB, Klein LA, Macuglia GR, Hammer C, Tresmmer M. Uso de álcool, drogas, níveis de impulsividade e agressividade em adolescentes do Rio Grande do Sul. Psico. 2014;45(1):65-72. doi: http://doi.org/10.15448/1980-8623.2014.1.12727
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Analisando as questões relacionadas a família e espaço em que este adolescente circula tem-se como fator primordial, além de ser a base para a discussão da determinação social, a inequidade social, que pode ser percebida quando os adolescentes de locais mais periféricos relatam maiores prejuízos familiares associados ao consumo de SPA em comparação aos adolescentes em melhores situações econômicas. Os fatores socioeconômicos levam a uma condição de vulnerabilidade que ocasionará em opressão e exclusão social88. Breilh J. Episteme e práxis social: como se transformam, avançam ou retrocedem os conceitos cientificos. In: Breilh J. Epidemiologia crítica: ciência emancipadora e interculturalidade. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ; 2006. p. 99-111.,1515. Almeida RMM, Trentini LB, Klein LA, Macuglia GR, Hammer C, Tresmmer M. Uso de álcool, drogas, níveis de impulsividade e agressividade em adolescentes do Rio Grande do Sul. Psico. 2014;45(1):65-72. doi: http://doi.org/10.15448/1980-8623.2014.1.12727
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Dentro destes espaços sociais os adolescentes se associam com outros jovens que compactuam com suas visões de mundo ou que possuem comportamentos que o adolescente deseja compartilhar, dentre estes comportamentos tem-se o consumo de álcool, que socialmente é desejável e estimulado. Assim, o adolescente acaba por iniciar o consumo de álcool ou procurar pessoas que o fazem para se sentir pertencente a um grupo social que possa ser considerado influente1616. Deodato S, Nunes E, Capelas M, Seabra P, Santos AS, Garcia LM. Risk behaviors to psychoactive substances use in children and young people in Lisbon. Enferm Glob. 2017;16(47):98-127. doi: https://doi.org/10.6018/eglobal.16.3.253011
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-1717. Pettigrew S, Biagioni N, Jongenelis MI. Anticipating and addessing event-specific alcohol consumption among adolescents. BMC Public Health. 2016;16:661. doi: https://doi.org/10.1186/s12889-016-3355-8
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Mas apesar dos dois eixos da pesquisa mostrarem a amizade como fator decisivo para o consumo de SPA pelos adolescentes, os mesmos contrapõem estes dados ao afirmar que o uso está relacionado a uma escolha individual e quem o faz de forma exacerbada possui uma vulnerabilidade de caráter. O adolescente relaciona o uso a uma escolha, pois o desejo de consumo é uma produção subjetiva, assim o adolescente acredita que foi uma escolha individual, mas na verdade há vários determinantes gerais e particulares que levam a essa escolha, como mídia e anúncios na televisão e redes sociais1616. Deodato S, Nunes E, Capelas M, Seabra P, Santos AS, Garcia LM. Risk behaviors to psychoactive substances use in children and young people in Lisbon. Enferm Glob. 2017;16(47):98-127. doi: https://doi.org/10.6018/eglobal.16.3.253011
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,1818. Torronen J, Roumeliotis F, Samuelsson E, Kraus L, Room R. Why are people drinking less than earlier? identifying and specifying social mechanisms with a pragmatist approach. Int Drug Policy. 2019;64:13-20. doi: https://doi.org/10.1016/j.drugpo.2018.12.001
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Quanto ao espaço e o consumo de SPA pelos adolescentes, tem-se que apesar da cidade ter bairros com diferentes infraestruturas e renda, seus habitantes circulando na região central aos finais de semana, mas a forma de ocupação dos espaços difere segundo sua classe social, ao se ter os jovens com menor condição financeira fazendo o consumo nas ruas e praças e os com melhores condições em bares e casas de amigos.

As limitações desta pesquisa foram relacionadas a ser um estudo baseado em autos relatos sobre comportamentos de risco, o que pode levar a omissão ou subestimação dos relatos pelos pesquisados. Estudo sobre a confiabilidade das questões da PeNSE33. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional de Saúde Escolar 2015. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; 2016. demonstrou que as questões sobre SPA foram as que tiveram maior inconsistência1919. Ramos DO, Daly M, Seidl-de-Moura ML, Jomar RT, Nadanovsky P. Inconsistent reports of risk behavior among Brazilian middle school students: National School Based Survey of Adolescent Health (PeNSE 2009/2012). Cad Saúde Pública. 2017;33(4):e00145815. doi: https://doi.org/10.1590/0102-311x00145815
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. Como forma de amenizar possíveis omissões, os pesquisadores explicaram sobre a garantia do anonimato previamente nas escolas participantes.

Outras limitações relacionam-se ao estudo ter ocorrido apenas em escolas, apreendendo apenas a realidade dos adolescentes que frequentam estes locais, deixando de captar a realidade dos que se encontram fora da sala de aula e por fim o estudo ocorreu apenas em uma cidade, mas seus resultados podem refletir a realidade nacional, principalmente devido aos resultados do eixo qualitativo terem grande similaridade com os da PeNSE(2015)33. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional de Saúde Escolar 2015. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; 2016..

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo teve como objetivo compreender a relação entre espaço e uso de SPA por adolescentes, captando o como as relações que ocorrem em seu espaço social relacionam-se com sua opinião e comportamentos quanto ao uso de SPA.

O adolescente com base na observação acaba por reproduzir comportamentos sociais e discursos tido como corretos pela comunidade em que se insere. Assim, ao se pensar em intervenções no âmbito do uso de SPA por adolescentes deve-se considerar o espaço social de onde eles provêm, não focando apenas em ações a nível individual, mas envolvendo família e comunidade. Estas ações devem ocorrer nas Unidades de saúde, tendo o enfermeiro como um pilar neste movimento por apresentar maestria em realizar educação em saúde devido sua formação e nas escolas que é o local em que o jovem permanece maior tempo.

Como limitação do estudo teve-se que foi baseado em auto relatos sobre temas considerações tabus, o que pode levar a omissão ou subestimação dos padrões de uso, outro limitador é quanto a captação apenas dos adolescentes regularmente matriculados e frequentes às aulas, deixando de apreender a realidade de uso de SPA pelos adolescentes que não estão na escola.

Agradecimentos:

Este estudo foi financiado por meio de uma bolsa de pesquisa do Ministério da Saúde do Brasil (Projeto n°: 86/25000.192056/2014-16).

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Editado por

Editor associado:

Cíntia Nasi

Editor-chefe:

Maria da Graça Oliveira Crossetti

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    08 Jun 2020
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    11 Set 2019
  • Aceito
    18 Dez 2019
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