Acessibilidade / Reportar erro

Novos rumos da avaliação da pós-graduação brasileira e os desafios da área de Enfermagem

Este número especial da Revista Gaúcha de Enfermagem comemora os 68 anos da Escola de Enfermagem (EENF) e os 20 anos do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (PPGENF) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Contemplam resultados de pesquisas originais e inéditas, relatos de experiências e revisões sistemáticas da literatura sobre temáticas que têm contribuído com a transição e translação do conhecimento nos diferentes contextos das práticas de enfermagem. Esta iniciativa visa dar visibilidade à produção científica acadêmica que tem enfrentado o desafio de alinhar-se aos preceitos definidos para a avaliação da pós-graduação brasileira pela CAPES, realinhados em 2019.

O sistema de pós-graduação stricto sensu no Brasil contabilizou, em julho de 2019, 6.935 cursos: 3.652 mestrados, 2.401 doutorados, 851 mestrados profissionais e 31 doutorados profissionais. Até 2017 foram titulados 61.158 mestres (50.316 acadêmicos e 10.842 profissionais) e 21.591 doutores(11. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior Internet. Brasília, DF: Capes; c2016-2019 29 de julho de 2019 citado 2019 jul 29. Plataforma Sucupira: cursos avaliados e reconhecidos; aprox. 1 tela. Disponível em: https://sucupira.capes.gov.br/sucupira/public/consultas/coleta/programa/quantitativos/quantitativoAreaAvaliacao.jsf
https://sucupira.capes.gov.br/sucupira/p...
)
, de forma que neste ano foi parcialmente atingida a meta 14 do Plano Nacional de Pós-graduação (2011-2020), relativa à formação de mestres e doutores(22. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (BR). Plano Nacional de Pós-Graduação - PNPG 2011-2020. Brasília, DF: CAPES; 2010 citado 2019 jul 15. v.1. https://www.capes.gov.br/images/stories/download/Livros-PNPG-Volume-I-Mont.pdf
https://www.capes.gov.br/images/stories/...
)
.

São reconhecidos os excelentes resultados obtidos pela pós-graduação brasileira ao longo dos anos, e o importante papel da avaliação no seu aperfeiçoamento. Porém, é evidente que, dada à expansão do sistema, o modelo de avaliação até agora adotado atingiu seu ponto de esgotamento, precisando ser revisto.

Nesse contexto, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) aprovou nova ficha de avaliação a ser utilizada na quadrienal 2017-2020, com redução no número de quesitos e itens quando comparada à ficha anterior. Propôs-se foco na qualidade da formação de mestres e doutores; destaque a itens que mais discriminam a qualidade dos programas; ênfase maior à avaliação de resultados do que de processos; valorização do protagonismo das áreas na construção de indicadores adequados a cada modalidade, respeitando especificidades, mas mantendo-se a comparabilidade entre elas. A coordenação da área de enfermagem tem trabalhado com os coordenadores de programa em diferentes oportunidades, para definição de seus indicadores de avaliação, os quais foram aplicados na avaliação de meio termo, devendo passar por ajustes antes da avaliação quadrienal.

No âmbito deste novo ciclo de avaliação, destacam-se três desafios da pós-graduação em enfermagem: o planejamento dos programas, articulado ao Plano de Desenvolvimento das Instituições a que estão vinculados, seu impacto social e o foco nos egressos. Considera-se que o planejamento estratégico do programa é importante ferramenta para impulsionar o seu crescimento e qualificação. Dessa forma, o planejamento dos programas de pós-graduação da área de enfermagem precisa estar inserido na conjuntura e na especificidade de cada universidade, considerando a situação, os contextos nacional e internacional, as demandas regionais, os desafios econômicos e sociais, os indicadores de saúde e as necessidades sociais e de desenvolvimento do Sistema Único de Saúde (SUS).

Cada programa precisa planejar estrategicamente o seu futuro e deixar claro como o fez, considerando os desafios internacionais da área de enfermagem na produção do conhecimento, a qualificação teórica, metodológica e tecnológica de seus alunos e egressos e sua inserção social. Deve, também, considerar o atendimento de demandas atuais e/ou futuras de desenvolvimento nacional, regional ou local, por meio da formação de profissionais capacitados para a solução de problemas de forma inovadora.

O planejamento de cada programa precisa estar voltado ao desenvolvimento de boas práticas em saúde, com vistas à translação do conhecimento e sua aplicação em serviços de saúde, além do atendimento aos desafios apresentados por problemas complexos, relacionados ao cuidado, à gestão e às políticas no setor. Deve ter como ponto de partida sua autoavaliação, e este será um dos quesitos avaliados, considerando processos, procedimentos, instrumentos e resultados empreendidos pelos programas, com foco na formação discente e produção intelectual, na perspectiva de sua inserção social e/ou científica e/ou tecnológica e/ou profissional.

Quanto aos egressos, espera-se o incremento de mestres e doutores, acadêmicos e profissionais, em cargos de tomada de decisão, com incorporação dos mesmos em ambientes laborais correspondente a sua área de interesse, e consequente aumento de sua renda. Ademais, a aprovação para ocupação de cargos públicos e as mudanças implementadas por estes egressos nos serviços de saúde são pontos relevantes para o estabelecimento do impacto econômico produzido pelos programas. Por isso será importante, cada vez mais, que os programas sigam seus egressos, de forma a identificar a inserção profissional e a nucleação produzida por eles. Pode ser útil acompanhar os resultados de suas pesquisas, financiamentos obtidos, inserção em programas de pós-graduação e no mercado de trabalho e efetiva orientação de alunos, entre outras atividades relevantes.

O desafio abrange aspectos relativos à avaliação qualitativa das produções. Os programas serão avaliados considerando suas dissertações e teses mais relevantes e, no caso da enfermagem, os critérios para esta indicação estão sendo elaborados pelos coordenadores de programas e coordenação da área de avaliação - Capes. A avaliação da produção bibliográfica será viabilizada pelo Qualis Referência, que tem como base indicadores bibliométricos, os quais consideram o número de citações do periódico. Os programas serão avaliados no conjunto das publicações e indicarão aquelas que consideram de maior relevância dentre elas. É desafio da pós-graduação em enfermagem que os docentes produzam com seus discentes e egressos e que essa produção tenha qualidade, de forma a constituir fonte de conhecimento para pesquisadores nacionais e internacionais, ampliando possibilidades de interlocução e fortalecendo a enfermagem enquanto ciência. Sobre a produção técnica, principalmente dos programas profissionais, o desafio também está na realização em coparticipação de docentes e discentes e egressos. São da mesma forma relevantes aspectos como sua exata distinção enquanto produto da pós-graduação, as formas de divulgar e de informar esta produção, para viabilizar a identificação do impacto produzido, tanto político, quanto social e econômico.

Remete-se, neste último aspecto, o desafio da demonstração do impacto social promovido pelo programa, devendo refletir na formação de recursos humanos qualificados para atuar de forma proativa e integrada na sociedade, no aprimoramento da gestão pública e na redução da dívida social, bem como para a formação de público que faça uso dos recursos da ciência e dos conhecimentos decorrentes de pesquisas. Inserem-se neste campo, os serviços e atendimentos à comunidade desenvolvidos com efetiva participação de docentes e discentes do programa, visando soluções e/ou respostas a situações emergentes do cotidiano da prática nas instituições de saúde no contexto do SUS, do ensino e dos desafios das ações para implantação das políticas públicas.

Finalmente, é preciso ressaltar que a pesquisa no país é realizada, principalmente, no interior da pós-graduação e que os desafios devem ser enfrentados com a participação de discentes, docentes e apoio de servidores técnico administrativos. Neste sentido, reafirma-se a necessidade de valorização destes atores e a compreensão que a pós-graduação tem como finalidade primeira, a formação qualificada para a produção do conhecimento. Para tanto, é imperativo que haja dotação de recursos assegurada e infraestrutura adequada para fomento à ciência, tecnologia e inovação no país.

References

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    09 Dez 2019
  • Data do Fascículo
    2020
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Escola de Enfermagem Rua São Manoel, 963 -Campus da Saúde , 90.620-110 - Porto Alegre - RS - Brasil, Fone: (55 51) 3308-5242 / Fax: (55 51) 3308-5436 - Porto Alegre - RS - Brazil
E-mail: revista@enf.ufrgs.br