Acessibilidade / Reportar erro

Alta hospitalar responsável: validação de conteúdo de atividades do enfermeiro

RESUMO

Objetivo:

Desenvolver e validar uma lista de atividades a serem realizadas pelo enfermeiro na alta hospitalar responsável.

Método:

Estudo de validação de conteúdo. Os 14 itens gerados foram organizados em uma escala Likert e submetidos à apreciação de juízes, através da Técnica Delphi. Avaliou-se relevância, clareza nos enunciados e ordem sequencial de execução. O consenso para as respostas foi pré-estabelecido em 0,80 e calculado o índice de validade de conteúdo dos itens.

Resultados:

Oito profissionais participaram da validação da listagem construída. Na Delphi 1, o índice de validade de conteúdo variou de 0,70 (contato pós alta e agendamento de visita domiciliar) a 1,0 e, na Delphi 2, encontrou-se variação de 0,60 (contato telefônico pós alta) a 1,0.

Conclusão:

Foram validadas 13 das 14 atividades propostas. A listagem de atividades construída pode contribuir para o processo de alta segura, a continuidade e integralidade do cuidado e, ainda, para a redução das readmissões.

Palavras-chave:
Alta do paciente; Continuidade da assistência ao paciente; Avaliação de processos em cuidados de saúde; Avaliação em enfermagem; Estudo de validação

ABSTRACT

Objective:

To develop and validate a list of activities to be performed by the nurse at the responsible hospital discharge.

Method:

Content validation study. The 14 generated items were organized on a Likert scale and submitted to judges’ appreciation, using the Delphi Technique. Relevance, explicitness in the statements and the sequential order of execution were evaluated. The consensus for the answers was pre-established at 0.80 and the content validity index was calculated.

Results:

Eight professionals participated in the validation of the created list. In Delphi 1, the content validity index ranged from 0.7 (post-discharge contact and home visit scheduling) to 1.0 and in Delphi 2, a range from 0.60 (post-discharge telephone contact) to 1.0.

Conclusion:

13 of the 14 proposed activities were validated. The created list of activities can contribute to the safe discharge process, the continuity and comprehensiveness of care and, also, to the reduction of readmissions.

Keywords:
Patient discharge; Continuity of patient care; Process assessment, health care; Nursing assessment; Validation study

RESUMEN

Objetivo:

Ejecutar y validar un listado de actividades que deben realizar los enfermeros en el alta hospitalaria responsable.

Método:

Estudio de validación de contenido. Los 14 ítems producidos fueron organizados en una escala Likert y sometidos a apreciación de jueces, mediante la Técnica Delphi. Se evaluó relevancia, claridad de los enunciados y orden secuencial de ejecución. El consenso para las respuestas fue preestablecido en 0,80 y calculado el índice de validación de contenido. Resultados: Ocho profesionales participaron en la validación de la lista construida. En Delphi 1, el índice de validación de contenido varió de 0,7 (contacto post-alta y programación de visita domiciliaria) a 1,0 y en Delphi 2, se encontró variación de 0,60 (contacto telefónico post-alta) a 1,0.

Conclusión:

Fueron validadas 13 de las 14 actividades propuestas. El listado de actividades obtenido puede contribuir con el proceso de alta segura, con la continuidad e integralidad del cuidado y, también, con la reducción de reingresos en los hospitales.

Palabras clave:
Alta del paciente; Continuidad de la atención al paciente; Evaluación de procesos, atención de salud; Evaluación en enfermería; Estudio de validación

INTRODUÇÃO

O planejamento da alta tem sido descrito como um caminho para qualificar o atendimento e minimizar riscos de complicações após a internação hospitalar(11. Gonçalves-Bradley DC, Lannin NA, Clemson LM, Cameron ID, Shepperd S. Discharge planning from hospital. Cochrane Database Syst Rev. 2016;(1):CD000313. doi: https://doi.org/10.1002%2F14651858.CD000313.pub5
https://doi.org/10.1002%2F14651858.CD000...
). Recomenda-se seu início precoce, com abordagem interprofissional e sistêmica, incluindo o paciente/família nas decisões sobre os cuidados, e elegendo um coordenador para articular os recursos e transferir as informações entre os níveis de atenção à saúde(22. Mennuni M, Gulizia MM, Alunni G, Amico AF, Bovenzi FM, Caporale R, et al. ANMCO position paper: hospital discharge planning: recommendations and standards. Eur Heart J Suppl. 2017;19(suppl D):D244-D255. doi: https://doi.org/10.1093/eurheartj/sux011
https://doi.org/10.1093/eurheartj/sux011...
). Além disso, defende-se um pacote de medidas envolvendo práticas padronizadas, orientações e acompanhamento domiciliar ao paciente/familiar, intervenções educativas junto aos profissionais de saúde e discussões periódicas entre os serviços(33. Hesselink G, Zegers M, Vernooij-Dassen M, Barach P, Kalkman C, Flink M, et al. Improving patient discharge and reducing hospital readmissions by using Intervention Mapping. BMC Health Serv Res. 2014;14:389. doi: https://doi.org/10.1186/1472-6963-14-389
https://doi.org/10.1186/1472-6963-14-389...
).

Entretanto, no cenário de prática, este plano inicia-se, geralmente, próximo à data de alta do paciente(44. Lima MADS, Magalhães AMM, Oelke ND, Marques GQ, Lorenzini E, Weber LAF, et al. Care transition strategies in Latin American countries: an integrative review. Rev Gaúcha Enferm. 2018;39:e20180119. doi: https://doi.org/10.1590/1983-1447.2018.20180119
https://doi.org/10.1590/1983-1447.2018.2...
) e restrita aos cuidados habituais sem conexão com um coordenador formal do processo(11. Gonçalves-Bradley DC, Lannin NA, Clemson LM, Cameron ID, Shepperd S. Discharge planning from hospital. Cochrane Database Syst Rev. 2016;(1):CD000313. doi: https://doi.org/10.1002%2F14651858.CD000313.pub5
https://doi.org/10.1002%2F14651858.CD000...
). Os pacientes e familiares, muitas vezes, não são inseridos no planejamento dos cuidados dificultando a adesão e a manutenção da assistência no domicílio(55. Hestevik CH, Molin M, Debesay J, Bergland A, Bye A. Older persons’ experiences of adapting to daily life at home after hospital discharge: a qualitative metasummary. BMC Health Serv Res. 2019;19:224.doi: https://doi.org/10.1186/s12913-019-4035-z
https://doi.org/10.1186/s12913-019-4035-...
).

A alta responsável está prevista na legislação brasileira(66. Ministério da Saúde (BR. Gabinete do Ministro). Portaria nº 3.390, de 30 de dezembro de 2013. Institui a Política Nacional de Atenção Hospitalar (PNHOSP) no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), estabelecendo-se as diretrizes para a organização do componente hospitalar da Rede de Atenção à Saúde (RAS) [Internet]. Brasília, DF: Ministério da Saúde; 2013 [cited 2019 Jan 15]. Available from: Available from: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2013/prt3390_30_12_2013.html
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis...
) e pode ser compreendida como um processo de transição do cuidado do paciente hospitalizado para outros níveis de atenção à saúde, em especial para a Atenção Primária. Este modelo de continuidade da assistência considera a participação e o desenvolvimento da autonomia do paciente/família sobre os cuidados; a articulação entre os diferentes pontos da rede e a adoção de mecanismos de desospitalização(66. Ministério da Saúde (BR. Gabinete do Ministro). Portaria nº 3.390, de 30 de dezembro de 2013. Institui a Política Nacional de Atenção Hospitalar (PNHOSP) no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), estabelecendo-se as diretrizes para a organização do componente hospitalar da Rede de Atenção à Saúde (RAS) [Internet]. Brasília, DF: Ministério da Saúde; 2013 [cited 2019 Jan 15]. Available from: Available from: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2013/prt3390_30_12_2013.html
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis...
).

O enfermeiro exerce papel central para garantir a continuidade do tratamento e a segurança do paciente no autocuidado liderando e coordenando este processo. Desta forma, atua como mediador nas ações interprofissionais atentando para as necessidades e preocupações do paciente/família(77. Thoma JE, Waite MA. Experiences of nurse case managers within a central discharge planning role of collaboration between physicians, patients and other healthcare professionals: a sociocultural qualitative study. J Clin Nurs. 2019;27:224. doi: https://doi.org/10.1111/jocn.14166
https://doi.org/10.1111/jocn.14166...
). No planejamento da alta, este profissional gerencia, junto à equipe interprofissional, situações que requerem maior demanda de atenção no domicílio(88. Hayajneh AA, Hweidi IM, Abu Dieh MW. Nurses' knowledge, perception and practice toward discharge planning in acute care settings: a systematic review. Nurs Open. 2020;7(5):1313-20. doi: https://doi.org/10.1002/nop2.547
https://doi.org/10.1002/nop2.547...
), dentre elas, condição de cronicidade, cuidados paliativos e utilização de dispositivos e equipamentos para a saúde(99. Ministério da Saúde (BR). Gabinete do Ministro. Portaria nº 825, de 25 de abril de 2016. Redefine a atenção domiciliar no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) e atualiza as equipes habilitadas. Diário Oficial União. 2016 abr 26 [cited 2021 Jul 13];153(78 Seção 1): 33-38. Available from: Available from: https://pesquisa.in.gov.br/imprensa/jsp/visualiza/index.jsp?data=26/04/2016&jornal=1&pagina=33&totalArquivos=112
https://pesquisa.in.gov.br/imprensa/jsp/...
).

Embora a transição do cuidado na alta hospitalar (responsável) esteja legitimada, cada instituição hospitalar estabelece seu próprio fluxo de trabalho. Assim, as várias atividades desenvolvidas pelo enfermeiro durante o plano de alta podem diferir entre as instituições de saúde. Apesar de existir referência internacional(1010. Bulechek GM, Butcher HK, Dochterman J, Wagner CM. NIC: Nursing Interventions Classifications [Internet]. 6. Ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2019. ) quanto às atividades desempenhadas pelo enfermeiro no plano da alta não foram identificados, até o momento, estudos abordando este modelo (alta responsável), proposto nacionalmente, para a continuidade do cuidado após a internação hospitalar. Faz-se necessário, então, mapear e obter consenso de especialistas para a realidade brasileira.

Os achados aqui apresentados constituem-se em parte inicial de uma investigação mais abrangente denominada “Transferência do cuidado na alta hospitalar: tempo dedicado pela enfermagem e efetividade do processo”, de um programa de mestrado, e vincula-se ao grupo de pesquisa Gestão de Serviços de Saúde e de Enfermagem (GESTSAÚDE). O presente estudo procura esclarecer a questão: Quais atividades os enfermeiros deveriam realizar no processo de alta responsável? Elas são validadas por especialistas? E para tanto, tem por objetivo desenvolver e validar uma lista de atividades a serem realizadas pelo enfermeiro na alta hospitalar responsável.

MÉTODO

Este estudo de validação de conteúdo seguiu as duas etapas propostas na literatura(1111. Lynn MR. Determination and quantification of content validity. Nurs Res.1986;35(6), 382-5. doi: https://doi.org/10.1097/00006199-198611000-00017
https://doi.org/10.1097/00006199-1986110...
), ou seja, estágio de desenvolvimento (aqui denominado mapeamento de atividades) e estágio de julgamento e quantificação. No primeiro, ocorreu identificação do construto (alta hospitalar responsável) com busca na literatura e desenvolvimento de uma listagem das atividades/itens a serem realizadas pelo enfermeiro durante o processo de alta. A seguir, um grupo de juízes avaliou a relevância dos itens gerados (parte qualitativa) e o índice de validade de conteúdo dos itens (IVC-I) foi calculado (parte quantitativa) a partir da proporção de concordância dos especialistas.

A validade de conteúdo possibilita verificar se os itens que compõem uma escala (atividades) representam adequadamente o construto sob análise(1212. Polit DF, Beck CT, Owen SV. Is the CVI an acceptable indicator of content validity? Appraisal and recommendations. Res Nurs Health. 2007;30(4):459-67. doi: https://doi.org/10.1002/nur.20199
https://doi.org/10.1002/nur.20199...
). Atividades, neste estudo, são consideradas as ações ou comportamentos específicos da equipe de enfermagem, no desdobramento de uma intervenção, para alcance de resultados(1010. Bulechek GM, Butcher HK, Dochterman J, Wagner CM. NIC: Nursing Interventions Classifications [Internet]. 6. Ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2019. ).

Constituíram-se em fontes de informação para o mapeamento das atividades de alta: a) Portaria nº 3390 do Ministério da Saúde sobre as diretrizes para a organização do componente hospitalar da Rede de Atenção à Saúde (RAS)(66. Ministério da Saúde (BR. Gabinete do Ministro). Portaria nº 3.390, de 30 de dezembro de 2013. Institui a Política Nacional de Atenção Hospitalar (PNHOSP) no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), estabelecendo-se as diretrizes para a organização do componente hospitalar da Rede de Atenção à Saúde (RAS) [Internet]. Brasília, DF: Ministério da Saúde; 2013 [cited 2019 Jan 15]. Available from: Available from: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2013/prt3390_30_12_2013.html
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis...
) e o manual de planejamento e gestão das altas elaborado pela instituição investigada; b) a Classificação das Intervenções de Enfermagem (NIC) Plano de Alta (7370)(1010. Bulechek GM, Butcher HK, Dochterman J, Wagner CM. NIC: Nursing Interventions Classifications [Internet]. 6. Ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2019. ); c) padrões e recomendações internacionais sobre planejamento de alta(22. Mennuni M, Gulizia MM, Alunni G, Amico AF, Bovenzi FM, Caporale R, et al. ANMCO position paper: hospital discharge planning: recommendations and standards. Eur Heart J Suppl. 2017;19(suppl D):D244-D255. doi: https://doi.org/10.1093/eurheartj/sux011
https://doi.org/10.1093/eurheartj/sux011...
-44. Lima MADS, Magalhães AMM, Oelke ND, Marques GQ, Lorenzini E, Weber LAF, et al. Care transition strategies in Latin American countries: an integrative review. Rev Gaúcha Enferm. 2018;39:e20180119. doi: https://doi.org/10.1590/1983-1447.2018.20180119
https://doi.org/10.1590/1983-1447.2018.2...
); e, d) demais produção científica sobre a temática(55. Hestevik CH, Molin M, Debesay J, Bergland A, Bye A. Older persons’ experiences of adapting to daily life at home after hospital discharge: a qualitative metasummary. BMC Health Serv Res. 2019;19:224.doi: https://doi.org/10.1186/s12913-019-4035-z
https://doi.org/10.1186/s12913-019-4035-...
,1313. Siqueira TH, Vila VSC, Weiss ME. Cross-cultural adaptation of the instrument readiness for hospital discharge scale - adult form. Rev Bras Enferm. 2018;71(3):983-91. doi: http://doi.org/10.1590/0034-7167-2017-0241
http://doi.org/10.1590/0034-7167-2017-02...
-1515. Costa MFBNA, Andrade SR, Soares CF, Ballesteros Pérez EI, Capilla Tomás S, Bernardino E. The continuity of hospital nursing care for primary health care in Spain. Rev Esc Enferm USP. 2019;53:e03477. doi: http://doi.org/10.1590/S1980-220X2018017803477
http://doi.org/10.1590/S1980-220X2018017...
), dentre outros.

A listagem construída a partir destas múltiplas fontes, retiradas as duplicidades, seguiu ordem cronológica das etapas da alta responsável. Os 14 itens gerados foram organizados em uma escala Likert de quatro pontos evitando-se o ponto neutro. Os escores para cada item foram: 1. discordo totalmente, 2. discordo, 3. concordo e 4. concordo totalmente.

Os itens abordavam, sequencialmente, a identificação dos critérios de elegibilidade, a comunicação com o médico sobre a previsão da data da alta, o planejamento da alta responsável com a equipe interprofissional, a coleta de informações do paciente e sua família, a inserção e orientação destes nos cuidados em domicílio, o registro em prontuário, a coordenação da equipe, a formalização da contrarreferência e ações pós alta para resolução de problemas identificados.

O formulário gerado pelo mapeamento das atividades foi inserido no aplicativo Google Forms permitindo auto preenchimento. Na parte inicial, após explicação dos objetivos da pesquisa, seguiu-se o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) para assinalar aceite, espaço para dados pessoais e profissionais dos participantes finalizando-se pelas 14 atividades propostas no formato Likert.

Para validar o conteúdo da listagem gerada empregou-se a técnica Delphi. Nela, questionários estruturados são apresentados, de forma sequencial, a um grupo de profissionais (juízes) com conhecimento especifico em um determinado assunto, em busca de consenso. O número de fases varia em cada estudo, mas geralmente encontra-se entre duas e quatro(1616. Keeney S, Hasson F, McKenna H. Consulting the oracle: ten lessons from using the Delphi technique in nursing research. J Adv Nurs. 2006;53(2):205-12. doi: https://doi.org/10.1111/j.1365-2648.2006.03716.x.
https://doi.org/10.1111/j.1365-2648.2006...
).

Como critérios de elegibilidade para compor o grupo de juízes consideraram-se atuação de, no mínimo, um ano no processo de alta hospitalar responsável e/ou produção científica relacionada à temática. Os pesquisadores foram localizados na Plataforma Lattes no sítio eletrônico do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Já os demais profissionais, através de indicação por pares ou gerentes de serviços de enfermagem.

Os juízes foram contactados por correio eletrônico com envio de link de acesso ao formulário online. Lembretes foram enviados quando excediam o prazo de preenchimento de 15 dias. Solicitou-se apreciação quanto à pertinência do conteúdo e a redação de cada atividade (item) da alta responsável avaliando se apresentavam relevância, clareza nos enunciados e ordem sequencial de execução(1616. Keeney S, Hasson F, McKenna H. Consulting the oracle: ten lessons from using the Delphi technique in nursing research. J Adv Nurs. 2006;53(2):205-12. doi: https://doi.org/10.1111/j.1365-2648.2006.03716.x.
https://doi.org/10.1111/j.1365-2648.2006...
). Ainda, que justificassem sua escolha e apresentassem sugestões para melhoria, caso julgassem necessário. A coleta dos dados ocorreu entre os meses de abril e agosto de 2020.

A análise estatística foi conduzida por meio do programa computacional The SAS System for Windows (Statistical Analysis System), versão 9.2 (SAS Institute Inc, 2002-2008, Cary, NC, USA). Incluiu a analise descritiva das variáveis categóricas (frequência absoluta e percentual) e numéricas (valores de média (M) e desvio padrão (DP), mediana (MD) e quartis (Q1 e Q3).

Na análise quantitativa das respostas avaliou-se o IVC-I, ou seja, mensurou-se a proporção de concordância em cada um dos itens (atividades) da listagem entre os avaliadores (grupo de juízes). Este índice é mensurado considerando-se a quantidade de itens que receberam classificação de 3 e 4 dividido pelo número de juízes(1212. Polit DF, Beck CT, Owen SV. Is the CVI an acceptable indicator of content validity? Appraisal and recommendations. Res Nurs Health. 2007;30(4):459-67. doi: https://doi.org/10.1002/nur.20199
https://doi.org/10.1002/nur.20199...
). Estes autores advogam, que neste processo, uma escala ordinal transforma-se em uma escala dicotômica (conteúdo válido x conteúdo inválido) e, portanto, o IVC-I deve ser ajustado através do kappa modificado(K*) para evitar a concordância ao acaso(1212. Polit DF, Beck CT, Owen SV. Is the CVI an acceptable indicator of content validity? Appraisal and recommendations. Res Nurs Health. 2007;30(4):459-67. doi: https://doi.org/10.1002/nur.20199
https://doi.org/10.1002/nur.20199...
).

Dessa forma, para cada um dos 14 itens das diversas fases Delphi, foi calculada a probabilidade de concordância por chance (pc), o índice de validade de conteúdo do item (IVC-I) e o kappa modificado (K*). Adotou-se o valor mínimo de concordância de 0,80, como recomendado(1212. Polit DF, Beck CT, Owen SV. Is the CVI an acceptable indicator of content validity? Appraisal and recommendations. Res Nurs Health. 2007;30(4):459-67. doi: https://doi.org/10.1002/nur.20199
https://doi.org/10.1002/nur.20199...
). Para a interpretação do Kappa utilizou-se os valores: ≤ 0,40 (pobre), 0,40 - 0,59 (moderado), 0,60 - 0,74 (bom) e >0,74 (excelente)(1717. Fleiss JL, Levin B, Paik MC. Statistical methods for rates and proportions. New Jersey: John Wiley & Sons; 2003.).

Antecipando a coleta de dados, o projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da instituição campo de estudo - CAAE08412019.4.0000.5415 e parecer nº 3.198.240/2019. Obteve-se aceite dos participantes por meio da assinatura do TCLE através do formulário enviado.

RESULTADOS

Dos profissionais convidados, oito retornaram os questionários. Os avaliadores eram do sexo feminino, com idade média de 36,1 (Dp=6,9; variação 24-43) anos e tempo de atuação profissional (sete enfermeiros clínicos e um gerente) de 11,2 (Dp=6,6; variação 1-20) anos; cinco tinham especialização e três mestrado.

A aplicação da Delphi ocorreu em duas fases. Na Delphi 1, apresentada na Tabela 1, a média da concordância sobre as atividades do enfermeiro variou de 3,2 (contato pós alta e agendamento de visita domiciliar) a 4,0 (critérios de elegibilidade; coleta de informação; comunicação paciente e família e ensino de manuseio de equipamentos).

Tabela 1 -
Médias e medianas das respostas obtidas dos juízes sobre as atividades do enfermeiro na alta hospitalar responsável na fase Delphi 1. São José do Rio Preto, São Paulo, Brasil, 2020

Nesta mesma fase, o IVC-I variou de 0,7 (contato pós alta e agendamento de visita domiciliar) a 1,0 (critérios, previsão de alta, projeto terapêutico, coleta e compartilhamento de informações, documentação, comunicação e orientação paciente/família, manuseio equipamentos e coordenação equipe). Os valores do K* mostraram-se entre 0,72 a 1,0 - considerado excelente (Tabela 2).

Tabela 2 -
Índice de Validade de Conteúdo e Kappa modificado referente às respostas obtidas dos juízes sobre as atividades do enfermeiro na alta hospitalar responsável na fase Delphi 1. São José do Rio Preto, São Paulo, Brasil, 2020

A partir das respostas obtidas no primeiro questionário mudanças foram efetuadas na segunda versão da listagem de atividades. Diante de justificativas apontadas pelos juízes alguns termos foram incluídos ou revisados para melhor clareza dos enunciados. Optou-se pela inversão dos itens 5 e 6 considerando que a comunicação e inclusão do paciente/familiar no planejamento da alta deve preceder o registro em prontuário ou eletronicamente, seguindo, assim, uma cronologia na dinâmica do processo. A avaliação da efetividade do plano de alta (item 14) foi validada, mas com extensas ressalvas por parte dos juízes, e assim, optou-se por sua reformulação. Neste segundo momento, apenas cinco juízes retornaram as respostas dos questionários.

Na fase Delphi 2 (Tabela 3), a média da concordância sobre as atividades do enfermeiro variou de 2,8 (contato telefônico pós alta) a 4,0 (previsão de alta, projeto terapêutico, orientação e comunicação ao paciente/família, coordenação da equipe e agendamento de visita domiciliar).

Tabela 3 -
Medias e medianas das respostas obtidas dos juízes sobre as atividades do enfermeiro na alta hospitalar responsável na fase Delphi 2. São José do Rio Preto, São Paulo, Brasil, 2020

Quanto aos resultados do IVC-I, da fase Delphi 2 (Tabela 4), todos os itens receberam o valor 1,0 exceto o item 12 relativo ao contato telefônico pós alta que obteve valor de 0,60; Já os valores do K* variaram de 0,42 (moderado) -1,0 (excelente).

Tabela 4 -
Índice de Validade de Conteúdo e Kappa modificado referente às respostas obtidas dos juízes sobre as atividades do enfermeiro na alta hospitalar responsável na fase Delphi 2. São José do Rio Preto, São Paulo, Brasil, 2020

A listagem final das 13 atividades validadas a serem realizadas pelos enfermeiros na alta hospitalar responsável encontra-se apresentada no Quadro 1.

Quadro 1 -
Atividades a serem realizadas pelo enfermeiro na alta hospitalar responsável validadas pelos juízes. São José do Rio Preto, São Paulo 2021

DISCUSSÃO

Esta investigação teve por propósito desenvolver e validar uma lista de atividades realizadas pelo enfermeiro na alta hospitalar responsável. As múltiplas fontes de informação utilizadas, reunindo diretrizes e recomendações internacionais, nacionais, institucionais e achados de pesquisas sobre a temática permitiram o mapeamento, em ordem sequencial de execução, de 14 atividades integrantes deste processo.

Um grupo de oito profissionais, selecionados através da técnica Delphi, participou da validação de conteúdo da listagem construída. Este método interativo de múltiplas fases para obtenção de consenso é considerado prático, possibilita a inclusão de elevado número de especialistas, eliminando barreiras geográficas e preservando o anonimato(1616. Keeney S, Hasson F, McKenna H. Consulting the oracle: ten lessons from using the Delphi technique in nursing research. J Adv Nurs. 2006;53(2):205-12. doi: https://doi.org/10.1111/j.1365-2648.2006.03716.x.
https://doi.org/10.1111/j.1365-2648.2006...
). Em virtude da influência da composição do grupo de profissionais sobre os resultados obtidos e possibilidade de viés na pesquisa(1616. Keeney S, Hasson F, McKenna H. Consulting the oracle: ten lessons from using the Delphi technique in nursing research. J Adv Nurs. 2006;53(2):205-12. doi: https://doi.org/10.1111/j.1365-2648.2006.03716.x.
https://doi.org/10.1111/j.1365-2648.2006...
), atenção especial foi dada ao conhecimento e experiência profissional dos participantes priorizando-se aqueles com atuação clínica, em instituições públicas e privadas, junto a pacientes em cuidados paliativos, situação de cronicidade e cuidados de maior complexidade assistencial, no processo de alta responsável.

Já na fase Delphi 1 foram obtidos escores médios e IVC-I altos para a maioria das atividades mostrando alta concordância entre os juízes. Das 14 atividades listadas, dez apresentaram IVC-I e Kappa* máximos (1,0). Isto evidencia que aspectos como identificação de critérios de elegibilidade; contato com o médico para previsão de alta hospitalar; estabelecimento do projeto terapêutico junto à equipe multiprofissional, coleta de informações do paciente para verificação dos fatores facilitadores e restritores para a continuação dos cuidados no domicílio; comunicação e orientação paciente/família; coordenação da equipe profissional; documentação, encaminhamentos e compartilhamento de informações com o município de origem e ensino de manuseio de equipamentos encontram-se incorporados na rotina diária do profissional.

Estudos apontaram(77. Thoma JE, Waite MA. Experiences of nurse case managers within a central discharge planning role of collaboration between physicians, patients and other healthcare professionals: a sociocultural qualitative study. J Clin Nurs. 2019;27:224. doi: https://doi.org/10.1111/jocn.14166
https://doi.org/10.1111/jocn.14166...
,1515. Costa MFBNA, Andrade SR, Soares CF, Ballesteros Pérez EI, Capilla Tomás S, Bernardino E. The continuity of hospital nursing care for primary health care in Spain. Rev Esc Enferm USP. 2019;53:e03477. doi: http://doi.org/10.1590/S1980-220X2018017803477
http://doi.org/10.1590/S1980-220X2018017...
,1818. Acosta AM, Câmara CE, Weber LAF, Fontenele RM. Nurse's activities in care transition: realities and challenges. J Nurs UFPE online. 2018;12(12):3190-7. doi: https://doi.org/10.5205/1981-8963-v12i12a231432p3190-3197-2018
https://doi.org/10.5205/1981-8963-v12i12...
) que o enfermeiro está diretamente ligado à coordenação do processo de alta responsável participando ativamente no alinhamento da equipe interprofissional na elaboração do projeto terapêutico. Desta forma, busca entre os membros da equipe, aqueles envolvidos, especificamente, na demanda de cada paciente/família de acordo com o uso de dispositivos e complexidade assistencial, para articulação com o município de origem e continuação dos cuidados no domicílio. Atividades direcionadas à educação em saúde tanto do paciente como família/cuidador foram identificadas como as mais realizadas por enfermeiros que atuam na transição do cuidado(1818. Acosta AM, Câmara CE, Weber LAF, Fontenele RM. Nurse's activities in care transition: realities and challenges. J Nurs UFPE online. 2018;12(12):3190-7. doi: https://doi.org/10.5205/1981-8963-v12i12a231432p3190-3197-2018
https://doi.org/10.5205/1981-8963-v12i12...
). A importância da escolha do momento adequado - preferencialmente na admissão ou nos primeiros dias de internação - tem sido destacada(22. Mennuni M, Gulizia MM, Alunni G, Amico AF, Bovenzi FM, Caporale R, et al. ANMCO position paper: hospital discharge planning: recommendations and standards. Eur Heart J Suppl. 2017;19(suppl D):D244-D255. doi: https://doi.org/10.1093/eurheartj/sux011
https://doi.org/10.1093/eurheartj/sux011...
,44. Lima MADS, Magalhães AMM, Oelke ND, Marques GQ, Lorenzini E, Weber LAF, et al. Care transition strategies in Latin American countries: an integrative review. Rev Gaúcha Enferm. 2018;39:e20180119. doi: https://doi.org/10.1590/1983-1447.2018.20180119
https://doi.org/10.1590/1983-1447.2018.2...
,1818. Acosta AM, Câmara CE, Weber LAF, Fontenele RM. Nurse's activities in care transition: realities and challenges. J Nurs UFPE online. 2018;12(12):3190-7. doi: https://doi.org/10.5205/1981-8963-v12i12a231432p3190-3197-2018
https://doi.org/10.5205/1981-8963-v12i12...
).

Não alcançaram o valor mínimo de concordância estabelecido (IVC-I ≥ 0,80)(1212. Polit DF, Beck CT, Owen SV. Is the CVI an acceptable indicator of content validity? Appraisal and recommendations. Res Nurs Health. 2007;30(4):459-67. doi: https://doi.org/10.1002/nur.20199
https://doi.org/10.1002/nur.20199...
) as atividades “Contato pós alta” e “Agendamento da visita domiciliar” ambas com IVC-I de 0,75 e K* 0,72. De acordo com os relatos dos juízes, estas atividades apresentam relevância para a continuação do cuidado. No entanto, para alguns elas deveriam ser realizadas pela Atenção Básica em Saúde (ABS), ou seja, o município de origem do paciente; para outros, apenas para pacientes com maior demanda de cuidados na alta hospitalar.

Na segunda rodada Delphi, houve consenso dos juízes quanto à realização pelo enfermeiro de “Agendamento da visita domiciliar” (atividade 13) e “Identificação de problemas pós alta” (atividade 14), ambas com IVC-I e K* 1,0. A modificação na redação e na abrangência das ações parece ter se mostrado determinante para a concordância. Assim, o agendamento e realização da visita domiciliar limitou-se, apenas, à inclusão de pacientes com maior demanda de necessidades de cuidados (uso de equipamentos/aparatos ou cuidados de maior complexidade técnica).

“Identificação de problemas pós alta” originou-se da reestruturação da atividade “Avaliação da efetividade do plano de alta”, aprovada na fase Delphi 1, mas com muitos questionamentos dos juízes. Embora concordassem com a importância desta avaliação como forma de evitar falhas no processo e estabelecer melhorias preocupavam-se quanto à forma de operacionalização. Assim, na nova redação, houve maior especificação incorporando ações como a identificação de problemas após a alta hospitalar e o estabelecimento do plano de cuidados para sua resolutividade. Ainda, a forma como poderia ocorrer - via telefone ou em visita ao domicílio - e o envolvendo da unidade da ABS de referência, quando necessário.

Parece contraditório que a visita domiciliar tenha alcançado consenso entre os juízes, mas não o acompanhamento do paciente/família através de contato telefônico, até sete dias após a alta, para esclarecer dúvidas e reforçar orientações - IVC-I 0,60 e K*0,42. Isto pode ser explicado, em parte, pelo número de juízes ter sido reduzido para cinco, na Fase 2, apesar dos vários lembretes enviados. O monitoramento do paciente/família através de contato telefônico e visitas domiciliares contribui sobremaneira para os resultados assistenciais pós alta(1414. Weber LAF, Lima MADS, Acosta AM, Marques GQ. Care transition from hospital to home: integrative review. Cogitare Enferm. 2017;(22)3:e47615. doi: http://doi.org/10.5380/ce.v22i3.47615
http://doi.org/10.5380/ce.v22i3.47615...
).

A sobrecarga de trabalho e a consequente limitação do tempo para comunicação interprofissional torna o processo de alta responsável vulnerável impactando na qualidade das orientações e informações para a transição do cuidado(1414. Weber LAF, Lima MADS, Acosta AM, Marques GQ. Care transition from hospital to home: integrative review. Cogitare Enferm. 2017;(22)3:e47615. doi: http://doi.org/10.5380/ce.v22i3.47615
http://doi.org/10.5380/ce.v22i3.47615...
,1818. Acosta AM, Câmara CE, Weber LAF, Fontenele RM. Nurse's activities in care transition: realities and challenges. J Nurs UFPE online. 2018;12(12):3190-7. doi: https://doi.org/10.5205/1981-8963-v12i12a231432p3190-3197-2018
https://doi.org/10.5205/1981-8963-v12i12...
). Para fortalecer a articulação entre a Atenção Hospitalar e a ABS alguns países como Canadá(1919. Aued GK, Bernardino E, Lapierre J, Dallaire C. Liaison nurse activities at hospital discharge: a strategy for continuity of care. Rev Latino-Am Enfermagem. 2019;27:e3162. doi: http://doi.org/10.1590/1518-8345.3069.3162.
http://doi.org/10.1590/1518-8345.3069.31...
), Espanha(1515. Costa MFBNA, Andrade SR, Soares CF, Ballesteros Pérez EI, Capilla Tomás S, Bernardino E. The continuity of hospital nursing care for primary health care in Spain. Rev Esc Enferm USP. 2019;53:e03477. doi: http://doi.org/10.1590/S1980-220X2018017803477
http://doi.org/10.1590/S1980-220X2018017...
) e Portugal(2020. Martins MM, Aued GK, Ribeiro OMPL, Santos MJ, Lacerda MR, Bernardino E. Discharge management to ensure continuity of care: experience of portuguese liaison nurses. Cogitare Enferm. 2018;(23)3:e58449. doi: http://doi.org/10.5380/ce.v23i3.58449
http://doi.org/10.5380/ce.v23i3.58449...
) adotaram o modelo “enfermeiro de ligação”. Este profissional coordena o processo de alta, compartilhando informações entre os dois níveis de atenção, realizando planejamento de cuidados, atividades educativas e monitorando o atendimento das necessidades de atenção do paciente/família(1919. Aued GK, Bernardino E, Lapierre J, Dallaire C. Liaison nurse activities at hospital discharge: a strategy for continuity of care. Rev Latino-Am Enfermagem. 2019;27:e3162. doi: http://doi.org/10.1590/1518-8345.3069.3162.
http://doi.org/10.1590/1518-8345.3069.31...
).

No Brasil, algumas iniciativas, neste sentido, já despontam(2121. Ribas EN, Bernardino E, Larocca LM, Poli Neto P, Aued GK, Silva CPC. Nurse liaison: a strategy for counter-referral. Rev Bras Enferm. 2018;71(Suppl 1):546-53. doi: http://doi.org/10.1590/0034-7167-2017-0490
http://doi.org/10.1590/0034-7167-2017-04...
). Seriam de grande valia, também, como forma de redução da carga de trabalho dos enfermeiros das unidades de internação uma vez que a coordenação do processo de alta responsável demanda tempo e eles já se encontram sobrecarregados com as ações assistenciais e gerenciais.

A redução do número de juízes na fase Delphi 2, poderia ser considerada uma limitação do estudo. Contudo, não existe na literatura critérios estabelecidos para a quantidade de profissionais na composição do grupo(1616. Keeney S, Hasson F, McKenna H. Consulting the oracle: ten lessons from using the Delphi technique in nursing research. J Adv Nurs. 2006;53(2):205-12. doi: https://doi.org/10.1111/j.1365-2648.2006.03716.x.
https://doi.org/10.1111/j.1365-2648.2006...
). Considera-se três especialistas como o número mínimo aceitável para a mensuração da validade de conteúdo(1212. Polit DF, Beck CT, Owen SV. Is the CVI an acceptable indicator of content validity? Appraisal and recommendations. Res Nurs Health. 2007;30(4):459-67. doi: https://doi.org/10.1002/nur.20199
https://doi.org/10.1002/nur.20199...
). O interesse e o compromisso são considerados aspectos que favorecem a retenção dos juízes durante as fases(1212. Polit DF, Beck CT, Owen SV. Is the CVI an acceptable indicator of content validity? Appraisal and recommendations. Res Nurs Health. 2007;30(4):459-67. doi: https://doi.org/10.1002/nur.20199
https://doi.org/10.1002/nur.20199...
).

Ainda, a não validação de uma das atividades poderia ter conduzido para uma terceira fase Delphi. Isto não ocorreu devido a perda de juízes frente à situação sanitária ocasionada pela pandemia COVID-19 e o limite temporal para condução do estudo. A fase Delphi 2 foi conduzida durante a pandemia de COVID-19, com grande impacto nos cenários de prática e na carga de trabalho, segurança física e emocional dos profissionais de saúde. Os juízes eram, em sua maioria, enfermeiros clínicos. Assume-se, nesta técnica que o número de rodadas de questionários (fases) continua até que se obtenha o consenso do grupo ou o número de respostas dos questionários diminuam.

A diversidade de contextos de prática, organização e dinâmicas de trabalho dos juízes contribuíram para uma listagem de atividades em conformidade com a realidade das instituições de saúde brasileiras. O mapeamento validado, em ordem sequencial de realização das atividades, pode ser utilizado como um checklist para nortear o planejamento e avaliação do sistema de alta hospitalar com propostas de melhorias. Possibilita, ainda, a avaliação do tempo dedicado pelo enfermeiro na condução das diversas etapas da alta responsável e mensuração da carga de trabalho para adequação do quadro de pessoal. Desta forma, contribui para o processo de alta segura e humanizada, a continuidade e integralidade do cuidado e, ainda, para a redução das readmissões e gastos hospitalares.

CONCLUSÃO

Foram validadas 13 das 14 atividades propostas para a alta hospitalar responsável. “Realizar acompanhamento do paciente/família através de contato telefônico até sete dias após a alta hospitalar para esclarecer dúvidas e reforçar orientações”, não obteve consenso pré-estabelecido para as respostas. Recomenda-se novas pesquisas junto à maior número de enfermeiros, atuantes no processo de alta responsável, para estudar a viabilidade do enfermeiro hospitalar realizar o acompanhamento do paciente/família após a internação.

REFERENCES

  • 1. Gonçalves-Bradley DC, Lannin NA, Clemson LM, Cameron ID, Shepperd S. Discharge planning from hospital. Cochrane Database Syst Rev. 2016;(1):CD000313. doi: https://doi.org/10.1002%2F14651858.CD000313.pub5
    » https://doi.org/10.1002%2F14651858.CD000313.pub5
  • 2. Mennuni M, Gulizia MM, Alunni G, Amico AF, Bovenzi FM, Caporale R, et al. ANMCO position paper: hospital discharge planning: recommendations and standards. Eur Heart J Suppl. 2017;19(suppl D):D244-D255. doi: https://doi.org/10.1093/eurheartj/sux011
    » https://doi.org/10.1093/eurheartj/sux011
  • 3. Hesselink G, Zegers M, Vernooij-Dassen M, Barach P, Kalkman C, Flink M, et al. Improving patient discharge and reducing hospital readmissions by using Intervention Mapping. BMC Health Serv Res. 2014;14:389. doi: https://doi.org/10.1186/1472-6963-14-389
    » https://doi.org/10.1186/1472-6963-14-389
  • 4. Lima MADS, Magalhães AMM, Oelke ND, Marques GQ, Lorenzini E, Weber LAF, et al. Care transition strategies in Latin American countries: an integrative review. Rev Gaúcha Enferm. 2018;39:e20180119. doi: https://doi.org/10.1590/1983-1447.2018.20180119
    » https://doi.org/10.1590/1983-1447.2018.20180119
  • 5. Hestevik CH, Molin M, Debesay J, Bergland A, Bye A. Older persons’ experiences of adapting to daily life at home after hospital discharge: a qualitative metasummary. BMC Health Serv Res. 2019;19:224.doi: https://doi.org/10.1186/s12913-019-4035-z
    » https://doi.org/10.1186/s12913-019-4035-z
  • 6. Ministério da Saúde (BR. Gabinete do Ministro). Portaria nº 3.390, de 30 de dezembro de 2013. Institui a Política Nacional de Atenção Hospitalar (PNHOSP) no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), estabelecendo-se as diretrizes para a organização do componente hospitalar da Rede de Atenção à Saúde (RAS) [Internet]. Brasília, DF: Ministério da Saúde; 2013 [cited 2019 Jan 15]. Available from: Available from: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2013/prt3390_30_12_2013.html
    » http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2013/prt3390_30_12_2013.html
  • 7. Thoma JE, Waite MA. Experiences of nurse case managers within a central discharge planning role of collaboration between physicians, patients and other healthcare professionals: a sociocultural qualitative study. J Clin Nurs. 2019;27:224. doi: https://doi.org/10.1111/jocn.14166
    » https://doi.org/10.1111/jocn.14166
  • 8. Hayajneh AA, Hweidi IM, Abu Dieh MW. Nurses' knowledge, perception and practice toward discharge planning in acute care settings: a systematic review. Nurs Open. 2020;7(5):1313-20. doi: https://doi.org/10.1002/nop2.547
    » https://doi.org/10.1002/nop2.547
  • 9. Ministério da Saúde (BR). Gabinete do Ministro. Portaria nº 825, de 25 de abril de 2016. Redefine a atenção domiciliar no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) e atualiza as equipes habilitadas. Diário Oficial União. 2016 abr 26 [cited 2021 Jul 13];153(78 Seção 1): 33-38. Available from: Available from: https://pesquisa.in.gov.br/imprensa/jsp/visualiza/index.jsp?data=26/04/2016&jornal=1&pagina=33&totalArquivos=112
    » https://pesquisa.in.gov.br/imprensa/jsp/visualiza/index.jsp?data=26/04/2016&jornal=1&pagina=33&totalArquivos=112
  • 10. Bulechek GM, Butcher HK, Dochterman J, Wagner CM. NIC: Nursing Interventions Classifications [Internet]. 6. Ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2019.
  • 11. Lynn MR. Determination and quantification of content validity. Nurs Res.1986;35(6), 382-5. doi: https://doi.org/10.1097/00006199-198611000-00017
    » https://doi.org/10.1097/00006199-198611000-00017
  • 12. Polit DF, Beck CT, Owen SV. Is the CVI an acceptable indicator of content validity? Appraisal and recommendations. Res Nurs Health. 2007;30(4):459-67. doi: https://doi.org/10.1002/nur.20199
    » https://doi.org/10.1002/nur.20199
  • 13. Siqueira TH, Vila VSC, Weiss ME. Cross-cultural adaptation of the instrument readiness for hospital discharge scale - adult form. Rev Bras Enferm. 2018;71(3):983-91. doi: http://doi.org/10.1590/0034-7167-2017-0241
    » http://doi.org/10.1590/0034-7167-2017-0241
  • 14. Weber LAF, Lima MADS, Acosta AM, Marques GQ. Care transition from hospital to home: integrative review. Cogitare Enferm. 2017;(22)3:e47615. doi: http://doi.org/10.5380/ce.v22i3.47615
    » http://doi.org/10.5380/ce.v22i3.47615
  • 15. Costa MFBNA, Andrade SR, Soares CF, Ballesteros Pérez EI, Capilla Tomás S, Bernardino E. The continuity of hospital nursing care for primary health care in Spain. Rev Esc Enferm USP. 2019;53:e03477. doi: http://doi.org/10.1590/S1980-220X2018017803477
    » http://doi.org/10.1590/S1980-220X2018017803477
  • 16. Keeney S, Hasson F, McKenna H. Consulting the oracle: ten lessons from using the Delphi technique in nursing research. J Adv Nurs. 2006;53(2):205-12. doi: https://doi.org/10.1111/j.1365-2648.2006.03716.x.
    » https://doi.org/10.1111/j.1365-2648.2006.03716.x.
  • 17. Fleiss JL, Levin B, Paik MC. Statistical methods for rates and proportions. New Jersey: John Wiley & Sons; 2003.
  • 18. Acosta AM, Câmara CE, Weber LAF, Fontenele RM. Nurse's activities in care transition: realities and challenges. J Nurs UFPE online. 2018;12(12):3190-7. doi: https://doi.org/10.5205/1981-8963-v12i12a231432p3190-3197-2018
    » https://doi.org/10.5205/1981-8963-v12i12a231432p3190-3197-2018
  • 19. Aued GK, Bernardino E, Lapierre J, Dallaire C. Liaison nurse activities at hospital discharge: a strategy for continuity of care. Rev Latino-Am Enfermagem. 2019;27:e3162. doi: http://doi.org/10.1590/1518-8345.3069.3162.
    » http://doi.org/10.1590/1518-8345.3069.3162.
  • 20. Martins MM, Aued GK, Ribeiro OMPL, Santos MJ, Lacerda MR, Bernardino E. Discharge management to ensure continuity of care: experience of portuguese liaison nurses. Cogitare Enferm. 2018;(23)3:e58449. doi: http://doi.org/10.5380/ce.v23i3.58449
    » http://doi.org/10.5380/ce.v23i3.58449
  • 21. Ribas EN, Bernardino E, Larocca LM, Poli Neto P, Aued GK, Silva CPC. Nurse liaison: a strategy for counter-referral. Rev Bras Enferm. 2018;71(Suppl 1):546-53. doi: http://doi.org/10.1590/0034-7167-2017-0490
    » http://doi.org/10.1590/0034-7167-2017-0490

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    23 Maio 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    18 Fev 2021
  • Aceito
    22 Set 2021
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Escola de Enfermagem Rua São Manoel, 963 -Campus da Saúde , 90.620-110 - Porto Alegre - RS - Brasil, Fone: (55 51) 3308-5242 / Fax: (55 51) 3308-5436 - Porto Alegre - RS - Brazil
E-mail: revista@enf.ufrgs.br