O prebriefing na simulação clínica em enfermagem: revisão de escopo

RESUMO

Objetivo

Mapear o conceito e elementos estruturais da fase de prebriefing nas simulações clínicas em enfermagem.

Método

Scoping review com buscas, entre maio e junho de 2021, nas bases de dados Pub Med, Biblioteca Virtual em Saúde, EMBASE, CINAHL, SCOPUS e Web of Science, Catálogo de Teses & Dissertações da CAPES, Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações e Google Scholar, nos idiomas português, espanhol e inglês, sem limite de tempo.

Resultados

Foram selecionados 24 estudos. Em 17 artigos (70,8%), os autores utilizaram a grafia prebriefing (em itálico e emendado), para se referir a etapa que antecede a simulação, incluindo atividades preparatórias e orientações. Foram descritos métodos alternativos para o prebriefing (práticas reflexivas, laboratórios, jogos e vídeos).

Conclusão

Não há consenso a respeito do conceito e dos elementos que compõem o prebriefing. Essa etapa da simulação contribui na satisfação, participação e segurança psicológica do participante, com melhores resultados de aprendizagem.

Palavras-chave
Treinamento com simulador de alta fidelidade; Treinamento por simulação; Simulação de paciente; Enfermagem; Educação em enfermagem; Tecnologia educacional

ABSTRACT

Objective

To map the concept and structural elements of the prebriefing phase in clinical simulations in nursing.

Method

Scoping review with searches between May and June 2021 in the databases PubMed, Virtual Health Library, EMBASE, CINAHL, SCOPUS, Web of Science, CAPES Catalog of Theses and Dissertations, Brazilian Digital Library of Theses and Dissertations and Google Scholar, in portuguese, spanish and english, without time limit.

Results

24 studies were selected. In 17 articles (70.8%) the authors used the spelling prebriefing (in italics and amended), to refer to the stage that precedes the simulation, including preparatory activities and guidance. Alternative methods for prebriefing were described (reflective practices, laboratories, games and videos).

Conclusion

There is no consensus regarding the concept and elements that constitute the prebriefing. This simulation stage contributes to participant satisfaction, participation and psychological safety, with better learning outcomes.

Keywords
High fidelity simulation training; Simulation training; Patient simulation; Nursing; Education, nursing; Educational technology

RESUMEN

Objetivo

Mapear el concepto y elementos estructurales de la fase prebriefing em simulaciones clínicas em enfermería.

Método

Scoping review con búsquedas entre mayo y junio de 2021 en las bases de datos PubMed/PMC, Virtual Health Library, EMBASE, CINAHL, SCOPUS, Web ofScience, Catálogo de Tesis y Disertaciones de la CAPES, Biblioteca Digital Brasileña de Tesis y Disertaciones y Google Scholar, en portugués, español e inglés, sin límite de tiempo.

Resultados

Se seleccionaron 24 estudios. En 17 artículos (70,8%) los autores utilizaron la ortografía prebriefing (en cursiva y corregida) para referirse a la etapa que precede la simulación, incluyendo actividades preparatorias y orientaciones. Se describieron métodos alternativos para el prebriefing (prácticas reflexivas, laboratorios, juegos y videos).

Conclusión

No existe consenso en cuanto al concepto y elementos que componen el prebriefing. Esta etapa de la simulación contribuye a la satisfacción, participación y seguridad psicológica del participante, con mejores resultados de aprendizaje.

Palabras clave
Enseñanza mediante simulación de alta fidelidad; Entrenamiento simulado; Simulación de paciente; Enfermería; Educación en enfermería; Tecnología educacional

INTRODUÇÃO

A preocupação com a segurança do paciente tem suscitado discussões sobre a educação na saúde, com vistas à proteção do paciente. A simulação clínica tem se mostrado cada vez mais eficaz para atender essa demanda, por ser uma estratégia pedagógica que se destina a construir um cenário o mais real possível, se aproximando da experiência prática, em um ambiente seguro e controlado1^,2.

Amplamente utilizada no ensino de graduação e na formação de profissionais de enfermagem, a simulação clínica pode ser realizada em laboratórios de simulação, dotados de recursos audiovisuais e tecnologia avançada, como também no próprio ambiente em que os profissionais atuam. Simuladores de baixa, média e alta fidelidade podem ser utilizados, de acordo com os objetivos de aprendizagem. A condução das etapas da simulação, bem como as boas práticas são orientadas pela International Nursing Association for Clinical Simulation and Learning (INACSL), associação que objetiva melhorar a segurança do paciente por meio da excelência na simulação de cuidados em saúde e enfermagem1^-3.

As etapas que compõem a simulação clínica são organizadas em diferentes fases. A primeira fase, conhecida como pré-simulação, consiste na preparação dos participantes do cenário em relação ao conteúdo que será abordado. A segunda fase é chamada de prebriefing, que são informações e orientações aos participantes imediatamente antes da cena, revisando os objetivos de aprendizagem e norteando sobre os equipamentos, manequins, funções, tempo e cenário. A participação é o momento em que o aprendiz realiza ações no desenvolvimento da cena simulada, e o debriefing, a reflexão sobre o que aconteceu na cena, que ocorre após a finalização do cenário4.

Para o cumprimento de seus padrões de boas práticas, a INACSL recomenda, dentre outros critérios, iniciar a simulação com o prebriefing, como um método de facilitação para preparar os participantes para a Experiência Baseada em Simulação (EBS). Buscando atender esse critério, a fase de prebriefing deve ser estruturada, planejada e conduzida imediatamente antes do cenário, incluindo orientações sobre a simulação e a identificação das expectativas dos participantes, além de atividades que promovam ambiente seguro para o aprendizado. O facilitador ainda pode considerar a utilização de um plano de prebriefing escrito ou gravado para padronização do processo e conteúdo do cenário, principalmente em avaliações de alta performance3.

A operacionalização da simulação clínica é de grande importância para o processo de ensino-aprendizagem, considerando que a inserção dos aprendizes na prática é algo desafiador5. Sendo assim, a padronização na sua execução e abordagem são benéficas, não apenas para fins de pesquisa, mas também na avaliação do participante e na imersão completa na experiência da simulação. Para que isso ocorra, faz-se necessário se dedicar a cada um dos componentes da simulação para torná-los explícitos para o ensino-aprendizagem5^,6.

Apesar da simulação já estar consolidada como estratégia pedagógica, estudos revelam que os participantes demonstram altos níveis de estresse e ansiedade, associados à atividade simulada, destacando a necessidade de buscar maneiras de minimizar tais sentimentos5^,7. Diante desse fato, o momento do prebriefing parece ser ideal para amenizar essas emoções ao fornecer orientações específicas e a preparação necessária para o bom desenvolvimento dos cenários.

Não foram encontradas na literatura científica revisões de escopo que apresentassem como tema central o prebriefing na simulação em enfermagem, foi identificada apenas uma revisão integrativa nacional8 que objetivava diferenciar as fases de pré-simulação e briefing.

Há necessidade de esclarecer conceitos e sanar determinadas lacunas sobre esse tema, visto que ainda são incipientes discussões acerca do prebriefing, principalmente em âmbito nacional. Sendo assim, o objetivo desta revisão de escopo é mapear o conceito e elementos estruturais da fase de prebriefing nas simulações clínicas em enfermagem.

MÉTODO

Tipo de Estudo

Trata-se de uma Scoping Review, de acordo com o método estabelecido pelo Joanna Briggs Institute (JBI) e com base nas recomendações do Preferred Reporting Items for Systematic reviews and Meta-Analyses - extension for scoping reviews (PRISMA-ScR)9^,10. Esse método demonstra padronização, organização e robustez na pesquisa. Para a construção da pergunta de pesquisa foi utilizado a regra “PCC”, que significa: População, Conceito e Contexto. Foi definido: P: profissionais e estudantes de enfermagem (nível médio de ensino profissionalizante e superior). C: Prebriefing, uma das etapas que compõem a simulação clínica, que ocorre imediatamente antes da cena, e que contribui para melhores práticas dessa estratégia de ensino-aprendizagem. C: Simulação Clínica. Portanto, a pergunta de pesquisa foi: quais são os conceitos e elementos estruturais da fase de prebriefingnas simulações clínicas em enfermagem? O protocolo de pesquisa foi registrado na Open Science Framework, doi: https://doi.org/10.17605/OSF.IO/5TESH.

Coleta de dados

As buscas ocorreram de maio a junho de 2021, nas seguintes bases de dados: Excerpta Medicadata BASE (EMBASE), Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature (CINAHL), SCOPUS, Web of Science, e nos portais: Medical Literature Analysis and Retrieval System (PUBMED), Medical Literature Analysis and Retrieval System Central (PUBMED PMC), Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). Além das bases de dados, também foi realizada busca de literatura cinzenta no Catálogo de Teses & Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e no repositório da Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD), além de consulta ao Google Scholar. As referências dos artigos selecionados também foram consultadas com o intuito de resgatar outros estudos sobre o tema da pesquisa.

Na estratégia de busca, foram utilizados os Descritores em Ciências da Saúde” (DeCS) e do “Medical Subject Head Medical Subject Headings” (MeSH): ("High Fidelity Simulation Training" OR "Simulation Training" OR "Patient Simulation") AND ("pre-briefing" OR "briefing" OR Prebriefing) AND realizada a truncatura em Nursing. Junto aos descritores foram empregados os termos booleanos: AND e OR. Foram critérios de inclusão: estudos publicados em periódicos ou repositórios pré-print, nos idiomas inglês, espanhol ou português, com metodologias de abordagem quantitativa ou qualitativa, além de revisões sistemáticas e integrativas, sem limite de tempo. Foram excluídos os estudos que: apenas citavam o prebriefing como uma das etapas da simulação clínica, sem aprofundar-se na descrição de como foi conduzida; que não mencionavam o referencial teórico utilizado ou as etapas que foram realizadas; e os que não exploravam outros aspectos relacionados a essa fase da simulação.

Os resultados da busca foram exportados e transferidos para o gerenciador bibliográfico Endnote. Os estudos foram triados, inicialmente, mediante leitura do título e resumo, por dois revisores independentes, evitando o risco de viés, por meio do aplicativo Rayyan. Esse aplicativo foi desenvolvido pelo Qatar Computing Research Institute (QCRI) e facilita o processo de análise inicial de títulos e resumos, usando um procedimento de semiautomação enquanto incorpora um alto nível de usabilidade⁽¹¹⁾. Nos casos de conflito, houve discussão entre os pesquisadores para se chegar a um consenso e julgamento de um terceiro revisor. Após essa primeira etapa, ocorreu a leitura na íntegra dos estudos para selecionar aqueles que comporiam a presente revisão.

Análise e tratamento dos dados

Os dados extraídos dos estudos foram tabulados em um instrumento adaptado do JBI, incluindo: autor, país de origem, ano de publicação; objetivos; população e tamanho amostral; metodologia; tipo de intervenção (estratégia utilizada pelos estudos para aplicar o prebriefingnas simulações clínicas); resultados; e principais achados relacionados à pergunta de pesquisa, registrando-os em uma tabela no Excel (Microsoft Office). O uso desse instrumento foi para minimizar o risco de viés, assim um piloto foi realizado pelos pesquisadores para identificar lacunas no instrumento. A revisão de escopo dispensa a avaliação de qualidade metodológica dos estudos incluídos. O método de tratamento e resumo dos dados foram mapeados conforme temática e seguiram-se as determinações do PRISMA-ScR. A análise do conteúdo deu-se a partir da leitura atentiva e detalhada dos estudos, que foram agrupados conforme suas semelhanças, emergindo quatro temas que atendiam ao objetivo desta revisão de escopo.

Aspectos éticos

O presente estudo consiste em uma revisão de escopo, dessa forma não há necessidade de submissão ao Comitê de Ética em Pesquisa.

RESULTADOS

Foram identificados 226 artigos além de outros 11 estudos provenientes das listas de referências e repositórios de pesquisas não publicadas. Foram excluídos 95 artigos por duplicidade, resultando em 142 artigos para leitura de títulos e resumos. Dois revisores independentes selecionaram 36 artigos para leitura do texto completo. Após essa leitura, foram excluídos 12 artigos que não respondiam à questão de pesquisa, ou que apenas citavam a fase de prebriefing como uma etapa da simulação. Os artigos que foram excluídos ao longo do processo de seleção (leitura de título e resumo e/ou do texto na íntegra) não apresentavam enfoque na fase de prebriefing, apenas citando o desenvolvimento dessa etapa como parte da simulação. Com isso, 24 atenderam os critérios de inclusão e fizeram parte da amostra final (Figura 1).

Figura 1 -
Fluxograma do processo de seleção de artigos da revisão, PRISMA-ScR. Campinas, São Paulo, Brasil, 2022

Do total de artigos, 15 foram desenvolvidos nos Estados Unidos da América (EUA). O idioma predominante foi a língua inglesa, sendo encontrado apenas um em língua portuguesa. Em relação ao ano de publicação, 2016 (n=4) e 2019 (n=4), ganharam destaque. A maior parte dos estudos (n=23) apresentou como público-alvo estudantes de enfermagem, sendo que um deles também incluiu a participação de estudantes de medicina. Apenas um estudo (n=1) foi direcionado a profissionais de enfermagem. As características dos estudos incluídos encontram-se no Quadro 1.

Devido às especificidades da revisão de escopo, não houve necessidade de realizar análise do rigor metodológico dos estudos selecionados. A amostra foi composta por revisões da literatura (n=9), estudos quase experimentais (n=4), estudos de intervenção (n=2), editoriais (n=2), grupo focal com análise qualitativa (n=1), estudo qualitativo de análise da interação (n=1), método misto (n=1), método Delphi (n=1), Tese (n=1), estudo de avaliação triangulada (n=1), estudo quantitativo de análise retrospectiva (n=1).

Quadro 1 -
Registros incluídos pela revisão de escopo, segundo título, periódico e país de origem. Campinas, São Paulo, Brasil, 2022

Título	Periódico	País de origem
The Impact of Simulation Prebriefing on Perceptions of Overall Effectiveness, Learning, and Self-Confidence in Nursing Students12	Nursing Education Perspectives	EUA
Prebriefing in Simulation-Based Learning Experiences13	Nurse Educator	EUA
Expert Role Modeling Effect on Novice Nursing Students’ Clinical Judgment14	Clinical Simulation Nursing	EUA
Psychological Safety in Nursing Simulation15	Nurse Educator	Coreia do Sul
Setting Learners up for Success: Presimulation and Prebriefing Strategies16	Teaching and Learning in Nursing	EUA
Nursing Students' Perceptions of Briefing in Simulation17	Walden Dissertations and Doctoral Studies	EUA
Use of Prebriefing in Nursing Simulation: A Literature Review18	Journal of Nursing Education	Canadá
Impact of prebriefing on competency performance, clinical judgment and experience in simulation: An experimental study19	Nurse Education Today	Canadá
Quality with quantity? Evaluating interprofessional faculty prebriefsand debriefs for simulation training using vídeo20	Surgery	EUA
Cognitive load experienced by nurses in simulation-based learningexperiences: Anintegrativereview21	Nurse Education Today	EUA
Effects of Prebriefing on Psychological Safety and Learning Outcomes22	Clinical Simulation Nursing	Coreia do Sul
Guidelines and Essential Elements for Prebriefing23	Journal of The Society for Simulation in Healthcare	EUA
A Systematic Review of Health Care Presimulation Preparation and Briefing Effectiveness24	Clinical Simulation Nursing	Canadá
Effectiviness of neonatal emergency nursing education through simulation training: Flipped learning based on Tanner’sClinical Judgement Model25	Nursing Open	Coreia do Sul
Instructional Problems in Briefings: How to Prepare Nursing Students for Simulation-Based Cardiopulmonary Resuscitation Training26	Clinical Simulation Nursing	Noruega
Creating context with prebriefing: A case exampleusingsimulation27	Journal of Nursing Education and Practice	EUA
Pré-simulação, pré-briefing ou briefing na simulação em enfermagem: quais as diferenças?8	Revista eletrônica de enfermagem	Brasil
Prebriefing in Nursing Simulation: A Concept Analysis Using Rodger’s Methodology28	Clinical Simulation Nursing	EUA
Establishing a Safe Container for Learning in Simulation The Role of the PresimulationBriefing29	Simulation in Healthcare	EUA
Effect of Step-Based Prebriefing Activities on Flow and Clinical Competency of Nursing Students inSimulation-BasedEducation30	Clinical Simulation Nursing	Coreia do Sul
The Prebriefing Concept: A Delphi Study of CHSEExperts31	Clinical Simulation Nursing	EUA
Prebriefing in Nursing Simulation: A Concept Analysis32	Clinical Simulation Nursing	Canadá/EUA
Prebriefing: An Equal to Debriefing?33	Journal of Perioperative & Critical IntensiveCare Nursing	EUA
Simulation: Pre-briefing Preparation, Clinical Judgment and Reflection.What is the Connection?34	Journal of Contemporary Medicine	EUA

• Fonte: Dados da pesquisa, 2021.

Após a leitura e extração dos dados, os conteúdos foram agrupados em suas semelhanças e diferenças, emergindo quatro categorias: Conceitos de prebriefing; Efetividade do prebriefing; Elementos essenciais para o prebriefing; e Métodos alternativos de prebriefing.

Conceito de prebriefing:diversos termos foram utilizados pelos autores para se referir a essa fase (pré-cenário; pré-simulação; preparação; briefing; pré-cenário huddle; pré-simulação briefing; reflexão antes da ação)12^,18^,28^,32. O prebriefing pode ser definido como a etapa que antecede a simulação, sendo elemento indispensável na aprendizagem baseada em simulação, composto por atividades de orientação e de engajamento da aprendizagem, planejamento e facilitação8^,12^,18^,31^,32. Não existe um consenso quanto ao seu tempo de duração, podendo variar de 5 a 30 minutos, a depender da abordagem de cada facilitador, dos objetivos de aprendizagem do cenário e das necessidades dos aprendizes18^,21.

Efetividade do prebriefing: efeitos positivos na satisfação24^,30, participação e eficácia geral da experiência de simulação12; reduz o estresse e ansiedade, quando esse momento de orientação ocorre antes da cena25^,34; proporciona um ambiente psicologicamente seguro15^,29; melhora os resultados de aprendizagem12^,17^,24^,30; promove pensamento crítico e o julgamento clínico19^,25^,34; possibilita a prática reflexiva33^,34; e aumenta a autoconfiança12^,25^,30^,34.

Elementos essenciais para o prebriefing: podem ser divididos em três aspectos, as orientações sobre o cenário, a reflexão antes da ação e a criação de um ambiente seguro de aprendizagem. As orientações devem abordar o ambiente da simulação e todos os elementos que envolvem o cenário (objetivos de aprendizagem; papéis dos participantes e dos facilitadores; equipamentos, materiais e manequins a serem utilizados; debriefing; detalhes logísticos; introdução ao caso clínico com histórico do paciente, dentre outras informações; revisão dos critérios e medidas de avaliação, integridade acadêmica e contrato de ficção)12^,13^,16^,18^,20^,22^,23^,25^,26^,28^,29. Na reflexão, antes da ação, o facilitador deve identificar as expectativas dos aprendizes13^,23^,28; promover a revisão do conteúdo do cenário12^,28; permitir que os participantes elaborem um plano de ação/cuidado, previamente, à execução do cenário12^,13^,16^,18; destinar um tempo para a preparação do aprendiz para o cenário16^,23^,31. Na criação de um ambiente seguro de aprendizagem, o facilitador deve realizar o contrato fictício; considerar as preocupações e o fator ansiedade do participante, bem como seu nível de conhecimento/experiência; assegurar o respeito e a confidencialidade.

Métodos alternativos de prebriefing: podem ser desenvolvidas práticas reflexivas (prebriefing estruturado - incluindo os conhecimentos prévios do aprendiz, mapeamento de conceito e reflexão antes da ação19^,22; análise da reflexão de um enfermeiro recém-formado sobre a temática do cenário); treino de técnicas ou prática de habilidades em laboratório12^,22^,26^,28^,30; jogos (jogo de cartas, como o jogo do “Pior Cenário”)27; e vídeos12^,16^,18 (vídeos informativos para revisão de conceitos e conteúdo; vídeo de demonstração do cenário - podendo ser desenvolvido por um enfermeiro expert como modelo - expert role modeling video14.

DISCUSSÃO

Esta revisão de escopo possibilitou apresentar um mapeamento de publicações/trabalhos sobre a fase do prebriefing nas simulações clínicas em enfermagem. A língua inglesa foi predominante nas publicações, em detrimento de outros idiomas, como o português. Vale ressaltar que o único artigo nacional incluído na revisão, foi localizado no momento da busca por outras fontes, uma vez que não utilizou, entre seus descritores, os termos “briefing” ou “pré-briefing” ou “prebriefing”, não sendo possível identificá-lo nas bases de dados e portais. Tais fatos reforçam a necessidade dessa revisão sobre a temática central do prebriefing, em âmbito nacional.

Mesmo com a organização dos componentes da simulação feita por Jeffries35, a definição e a estrutura do prebriefing permaneceram obscuras. O grande entrave inicia-se com qual termo utilizar, pré-briefing/prebriefing, briefing ou ambos?

Evidências sugerem que a fase que inicia e antecede a simulação é chamada de preparação, sendo dividida em duas etapas: 1. pré-simulação (disponibilização de materiais para estudo prévio dos conteúdos teóricos e treinamento de habilidades necessárias para a execução do cenário); e 2. prefriefing/briefing8^,24.

Por outro lado, enquanto alguns autores consideram os termos prebriefing e briefing como sinônimos8, outros estabelecem uma dicotomia entre tais fases, enquanto momentos distintos e com objetivos diferenciados. Alguns autores, se referem à fase de briefing como o conjunto de três etapas: 1-Prebriefing (preparação do grupo com destaque para os objetivos de aprendizagem, explicação de como será a simulação e criação de um ambiente seguro e de confiança); 2-Orientações (ambiente, equipamentos e tecnologia da simulação); 3-Briefing (apresentação do cenário, papéis, situação, contexto, ambiente e tempo do cenário e esclarecimento de dúvidas)36. Em outra definição, o termo briefing, descrito separadamente, pode ser diferenciado de prebriefing, ao fazer referência apenas às orientações operacionais realizadas antes do início do cenário, não incluindo a facilitação no pensar os cuidados de enfermagem e reflexão32.

A INACSL, em 2015, passou a utilizar o termo briefing para se referir ao momento que inicia a experiência baseada em simulação. Para eles, esse momento compreende três diretrizes: 1-Estabelecimento de um ambiente de integridade, confiança e respeito, identificação das expectativas para os participantes e para os facilitadores da simulação, incluindo o estabelecimento de regras claras e um contrato de ficção; 2-Estabelecimento de atividades de orientação ao participante, espaço, manequim, simulador, métodos de avaliação, funções, tempo, objetivos, situação do paciente e limitações; 3-Um plano de briefing escrito ou gravado, padronizando o processo e o conteúdo para cada cenário37. Porém, em 2016, a mesma instituição utilizou o termo prebriefing em suas orientações de boas práticas3.

Em 2021, a INACSL definiu o prebriefing como um de seus padrões de boas práticas para a simulação em enfermagem38, dando destaque a essa fase que, em publicações anteriores, era considerada apenas um dos componentes do padrão “Design da Simulação”3.

Dessa forma, com as diretrizes mais recentes da INACSL, o prebriefing passou a ser considerado como o conjunto de todas as atividades que antecedem o cenário de simulação, com o intuito de criar um ambiente de aprendizagem psicologicamente seguro. Por sua vez, o prebriefingé dividido em dois componentes: preparação e briefing. A INACSL estabeleceu ainda nove critérios envolvendo o prebriefing, divididos em critérios gerais e específicos (preparação ebriefing)38.

Estudo recente utilizou o termo prebriefing como compreendendo desde o envio de materiais científicos aos participantes até o momento que antecede a cena39. Já um artigo publicado em 2021, que construiu e validou cenários de simulação em estomaterapia, separou os momentos, sendo o prebriefing como o momento de reconhecimento do cenário, e o briefing composto por instruções imediatamente antes da cena40.

Na análise dos artigos selecionados, não foi possível identificar um consenso em relação à escrita do termo prebriefing, e o seu conceito. Dos 24 artigos dessa revisão, a maioria utilizou o termo prebriefing (n=17, 70,8%), seguido dos termos pré-briefing (n=3, 12,5%), pré simulação (n=3, 12,5%) e briefing (n=1, 4,2%). Além disso, os termos briefing e prebriefing foram considerados sinônimos em três estudos24^,25^,29. Apesar disso, é unânime, entre os autores, a necessidade de estruturar o momento que antecede o cenário, a fim de preparar o aluno para as ações que serão esperadas em cada cena, dotando-os de conhecimento e habilidades para serem capazes de experienciar a simulação37.

Apesar do pouco destaque na literatura em relação à etapa do prebriefing, já se sabe da influência que exerce nos participantes, podendo afetar na satisfação, participação e na eficácia geral da experiência da simulação. Os estudantes relatam altos níveis de estresse e ansiedade ao participar de uma simulação, o que pode inibir o aprendizado. Contudo, se forem expostos a um momento que antecede a cena, que os orientem em relação aos seus papéis, ao comportamento desejado, aos equipamentos que compõem o cenário e a forma de avaliação, sentem-se mais seguros, o que melhora a aprendizagem e o engajamento. Ademais, a etapa de prebriefing atua também na formação de uma identidade profissional15^,39.

Nessa perspectiva, a experiência baseada em simulação, quando realizada de maneira estruturada, seguindo as boas práticas, proporciona aos estudantes vivências de situações clínicas em um ambiente controlado, priorizando a segurança do paciente com a utilização de novas tecnologias, além de proporcionar diversas outras habilidades profissionais41.

Os achados da presente revisão, sobre quais seriam os elementos essenciais para compor um prebriefing de qualidade, são corroborados pelos padrões de boas práticas da INACSL, que elencam os seguintes elementos: identificar as expectativas dos participantes e dos facilitadores; incorporar atividades que contribuam para o estabelecimento de um ambiente de integridade, confiança e respeito; realizar contrato fictício; incorporar orientações sobre o espaço, equipamento, simulador, método de avaliação, papéis, tempo, objetivos, situação do paciente e limitações3.

Não existe consenso sobre um modelo único a ser seguido, uma vez que o prebriefing pode variar de acordo com as especificidades de cada cenário e do seu público-alvo. Estudo recente explorou os padrões e diretrizes para o prebriefing, por meio de uma compilação dos elementos essenciais identificados na literatura científica e em documentos de organizações de simulação. Como produto dessa revisão, os autores estabeleceram os seguintes elementos como essenciais: preparando a cena (segurança psicológica, contrato fictício, confidencialidade, comunicação e logística); expectativas (do facilitador e do participante); debriefing (propósito, método e processo); cenário de simulação (backstory, objetivos, papéis e avaliação); orientação da sala de simulação (modalidade e equipamentos); tempo de preparação (revisão de informações específicas do caso)23.

Grande parte dos estudos sobre simulação clínica, identificados na literatura não mencionam a fase de prebriefing, e quando o fazem, geralmente, apenas citam de maneira superficial a sua inclusão como parte da experiência de simulação. Estudo nacional que descreveu o processo de construção e validação de cenário sobre parto e nascimento humanizados, abordou com detalhamento a fase de prebriefing, envolvendo as etapas de pactuação de regras, orientações sobre os papéis, respeito mútuo e confidencialidade. Nesse mesmo estudo, o prebriefing contou, ainda, com outros elementos, como a identificação de experiências prévias dos participantes, revisão dos objetivos do cenário, tempo estimado da cena, orientações sobre o ambiente, equipamentos e manequins, sendo oferecido também um momento para que os participantes se familiarizassem com o cenário39.

Entende-se que as orientações durante o prebriefing podem ser realizadas por meio de textos, vídeos ou mesmo através da fala inicial do facilitador. Destarte, o facilitador possui liberdade pedagógica para desenvolver propostas e estratégias inovadoras de como se darão as orientações do prebriefing.

Dentre os estudos analisados, também foram possíveis identificar experiências e estratégias que transcendem o modelo tradicional de prebriefing. Estudo que contou com a participação de 76 estudantes de enfermagem, por exemplo, avaliou os efeitos de uma estratégia de prebriefing estruturado em comparação ao prebriefing tradicional. A atividade de prebriefing considerada tradicional incluía orientação sobre o equipamento, ambiente, manequim, papéis, tempo, objetivos e situação do paciente, enquanto o Modelo de Prebriefing Estruturado, apresentado como uma possível alternativa, incluía, além das atividades tradicionais, os aspectos de conhecimentos e aprendizados prévios, mapeamento de conceito e reflexão antes da ação. Verificou-se que o Modelo de Prebriefing Estruturado é capaz de impactar, positivamente, no desempenho das competências, no julgamento clínico e nas percepções sobre o prebriefing, melhorando a aprendizagem significativa da simulação19.

Os estudos, identificados nesta revisão, que descrevem métodos alternativos de prebriefing, destacam a experiência de utilizar uma sequência de atividades educativas em um cenário de simulação sobre deterioração clínica em paciente cardíaco. As atividades que compuseram o prebriefing desse cenário foram as seguintes: reflexão de uma enfermeira recém-formada sobre sua primeira experiência com um protocolo de atendimento ao paciente cardíaco; prática de avaliação cardíaca incluindo a identificação de ritmos cardíacos com um manequim de alta fidelidade; uso de um jogo chamado de “Pior Cenário” para aplicar os “Hs” e “Ts” do Advanced Cardiac Life Support (ACLS); exibição de quatro minutos do vídeo de “Megacódigo e Conceito de Ressuscitação em Equipe” e discussão dos papéis dos membros da equipe. Tais atividades contribuíram para que a experiência de simulação atingisse resultados de aprendizagem favoráveis27.

Estudo nacional recente sobre a construção, a validação e a aplicação de cenário simulado na área de estomaterapia, por exemplo, descreveu o uso de vinhetas clínicas que foram afixadas nas portas das salas do cenário, a serem analisadas pelos candidatos antes de adentrarem o ambiente de simulação, para operacionalização da etapa de briefing. Esse mesmo estudo ainda abordou a estratégia de aplicar avaliação escrita com questões de múltipla escolha aos participantes antes do desenvolvimento do cenário, considerando-a como uma etapa preparatória importante para que os objetivos da simulação fossem alcançados40. Um dos estudos que compuseram a presente revisão, também mencionou o Quiz como uma estratégia preparatória de simulação, porém como parte integrante da etapa de pré-simulação e não prebriefing, ou seja, não ocorrendo imediatamente antes da execução das cenas16.

As potenciais limitações desta revisão de escopo consistem na escassez de estudos nacionais, e na restrição aos idiomas inglês, português e espanhol. Os termos prebriefing, pré-briefing, briefing não são indexados no DeCS/MeSH, o que pode ter limitado as buscas nas bases de dados e portais.

CONCLUSÃO

Concluiu-se, com os achados desta revisão, que a grafia mais adequada para se referir à etapa que antecede os cenários de simulação é prebriefing, em itálico e emendado, tendo como embasamento a nomenclatura utilizada pela INACSL, além do fato da maioria dos autores utilizarem esse termo, o que proporciona maior padronização entre as produções científicas. É unânime entre os autores a relevância do prebriefing para garantir a segurança psicológica do aprendiz, contribuindo para sua satisfação, redução da ansiedade e melhora nos resultados de aprendizagem, sendo considerado etapa essencial na experiência de aprendizagem baseada em simulação.

Também foi possível verificar que não existe padrão único e imutável dos elementos essenciais que devem compor um prebriefing de qualidade, havendo flexibilidade a depender das especificidades de cada cenário. Entretanto, esta revisão evidenciou como componentes indispensáveis: fornecer orientações sobre o cenário; estimular a reflexão antes da ação; e promover um ambiente seguro de aprendizagem (contrato fictício, respeito e confidencialidade). Cabe ao facilitador pensar e desenvolver estratégias inovadoras de prebriefing, por exemplo, jogos educativos, vídeos e treino de habilidades, transcendendo os métodos tradicionais.

As implicações desta revisão para a prática de simulação clínica em enfermagem abrangem a valorização e a padronização do prebriefing, enquanto etapa crucial e de importância para o ensino baseado em simulação, além de fornecer subsídios aos facilitadores para o planejamento e implementação de um prebriefing estruturado, de acordo com os conceitos e elementos estruturais desta fase,trazendo contribuições para o ensino de enfermagem/saúde.

Os termos prebriefing, pré-briefing, briefing não são indexados no DeCS/ MeSH, limitando uma unificação na linguagem e o uso da terminologia para pesquisa em múltiplos idiomas, diante disso, a sugestão da sua inclusão será encaminhada via formulário ao DeCS/MeSH.

Contudo, ainda é incipiente o número de estudos sobre o prebriefing, especialmente em âmbito nacional, sendo necessário esforços da comunidade científica para o desenvolvimento de outras pesquisas sobre o tema, visando maiores esclarecimentos e padronização que leve ao aprimoramento dessa importante etapa da simulação.

Agradecimentos

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), processo nº 409758/2021-3.

REFERENCES

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Editado por

Editor associado

Luccas Melo de Souza

Editor-chefe

Maria da Graça Oliveira Crossetti

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  28 Nov 2022
• Data do Fascículo
  2022

Histórico

• Recebido
  05 Abr 2022
• Aceito
  06 Set 2022