Avanços no processo de avaliação da pós-graduação em Enfermagem

A pós-graduação desempenha um importante papel no desenvolvimento acadêmico, científico e tecnológico de um país, e no Brasil não é diferente. Na enfermagem, a formação de mestres e doutores está calcada na ideia de ensino/movimento, ou seja, não ocorre de modo linear, mas exige troca entre os atores envolvidos por meio da reflexão crítica da prática assistencial, das relações de trabalho e no desenvolvimento da ciência e tecnologia na área de Saúde e Enfermagem.

Assim, refletir sobre indicadores da pós-graduação é (re)pensar caminhos, organização e significados da formação stricto sensu na área de Enfermagem, o que nos remete a questionar: avançamos? E quais os desafios a enfrentar?

A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) é uma fundação vinculada ao Ministério da Educação (MEC) do Brasil que atua na expansão e consolidação da pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado), desde 1951, com objetivo de formação continuada de pessoal de nível superior. Em 1981, a elaboração do Plano Nacional de Pós-Graduação Stricto Sensu passou a ser responsabilidade da instituição, devendo esta então elaborar, avaliar, acompanhar e coordenar as atividades relativas ao ensino de mestrado e doutorado. Com objetivo de assegurar e manter qualidade dessa formação, a CAPES tem um sistema de avaliação que pode ser dividido em dois processos: entrada e permanência dos cursos em 49 áreas.

A avaliação de permanência passou a ser quadrienal em 2013 e no último quadriênio (2017-2020) evoluiu com uma forte tendência para a multidimensionalidade1. O processo avaliativo teve como pressuposto a importância da reflexão e aprimoramento do modelo de avaliação da pós-graduação brasileira, entendendo que as universidades devem ser protagonistas de seu planejamento e avaliação, valorizando o impacto social e econômico do conhecimento gerado e focado nas necessidades regionais e nacionais.

A inclusão de indicadores que valorizam a formação dos pós-graduandos, a inovação, a internacionalização e a transferência de conhecimento para a sociedade demonstrou ser essencial. A qualidade dos projetos desenvolvidos, a interdisciplinaridade e a infraestrutura adequada também foram valorizadas.

A ficha de avaliação foi constituída por três quesitos com 12 itens/indicadores. No quesito proposta do programa, são avaliadas a articulação, aderência e atualização das áreas de concentração, linhas de pesquisa, projetos em andamento e estrutura curricular, bem como a infraestrutura disponível, em relação aos objetivos, missão e modalidade do programa. São também analisados o perfil do corpo docente e sua adequação à proposta, assim como o planejamento estratégico do programa, considerando também articulações com o planejamento estratégico da instituição, com vistas à gestão do seu desenvolvimento futuro, adequação e melhorias da infraestrutura e melhor formação de seus alunos, vinculada à produção intelectual - bibliográfica, técnica e/ou artística. Os processos, procedimentos e resultados da autoavaliação do programa, com foco na formação discente e produção intelectual também compõem o item de avaliação deste quesito.

A inovação na avaliação do segundo quesito (formação) foi a inclusão do item referente à qualidade e adequação das teses, dissertações ou equivalente em relação às áreas de concentração e linhas de pesquisa do programa e à análise do destino, atuação e avaliação dos egressos do programa em relação à formação recebida. Manteve-se neste quesito, a análise da qualidade da produção intelectual de discentes e egressos, da qualidade das atividades de pesquisa e da produção intelectual do corpo docente no programa e da qualidade e envolvimento do corpo docente em relação às atividades de formação no programa.

Por fim, no quesito impacto na sociedade, avalia-se o impacto e caráter inovador da produção intelectual em função da natureza do programa, o impacto econômico, social e cultural do programa, além da internacionalização, inserção (local, regional, nacional) e visibilidade do programa.

A área da Enfermagem terminou o mais recente ciclo avaliativo com 78 programas, sendo 37 mestrados e doutorados acadêmicos, 2 mestrados e doutorados profissionais, 16 mestrados acadêmicos, 22 mestrados profissionais e 2 doutorados acadêmicos2.

O processo avaliativo da área desvendou caminhos e desafios que conjuntamente temos a enfrentar. Entre eles destacamos a superação da diversidade, considerando as diferenças regionais e nacionais, bem como, as diferentes tradições da pós-graduação, centradas somente na avaliação da produção científica.

Nesse sentido, tem-se o desafio de ampliar a formação de doutores em enfermagem, por meio de parcerias interinstitucionais nacionais e internacionais, promovendo a reflexão sobre boas práticas de pesquisas e desenvolvimento de pesquisas estratégicas que se orientem pela agenda nacional de prioridades em saúde e sustentabilidade do Sistema Único de Saúde (SUS).

Do mesmo modo, salientamos a importância da inclusão dos jovens doutores nos programas de mestrado e doutorado para renovação do quadro docente, para consolidação e cooperação com o desenvolvimento de centros de excelência de ensino e pesquisa, resultando em inovação para o cuidado, gestão e conhecimento em Enfermagem.

A avaliação dos cursos de pós-graduação no Brasil é um tema de extrema importância para garantir a excelência e a relevância do sistema acadêmico. No entanto, é necessário superar os desafios existentes e buscar perspectivas de melhoria que levem em consideração a diversidade e a complexidade dos cursos. A flexibilização do processo de avaliação e o envolvimento de todos os atores têm se mostrado fundamentais para o aprimoramento da qualidade da pós-graduação brasileira. Somente assim poderemos formar profissionais qualificados e contribuir de maneira significativa para o avanço científico, tecnológico e social do país.

REFERENCES

• 1. Ministério da Educação (BR) . Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Orientações sobre o processo avaliativo CAPES - Ciclo 2017-2020 [Internet]. Brasília, DF: CAPES; 2020 [ citado 2022 maio 25]. Disponível em: https://www.gov.br/capes/pt-br/centrais-de-conteudo/documentos/avaliacao/ORIENTAES_PROCESSO_AVALIATIVO_INFORMATIVO_1.pdf
  » https://www.gov.br/capes/pt-br/centrais-de-conteudo/documentos/avaliacao/ORIENTAES_PROCESSO_AVALIATIVO_INFORMATIVO_1.pdf
• 2. Ministério da Educação (BR). Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Diretoria de Avaliação [Internet]. Relatório de avaliação - Enfermagem. DF: CAPES; 2021 [ citado 2022 maio 25]. Disponível em: https://www.gov.br/capes/pt-br/centrais-de-conteudo/documentos/avaliacao/19122022_RelatriodaAvaliaodareaenfermagemfinal.pdf 2022
  » https://www.gov.br/capes/pt-br/centrais-de-conteudo/documentos/avaliacao/19122022_RelatriodaAvaliaodareaenfermagemfinal.pdf 2022

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  21 Ago 2023
• Data do Fascículo
  2023