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Círculo de cultura no suporte ao processo identitário de adolescentes: uma pesquisa-ação

RESUMO

Objetivo:

Relatar e discutir a experiência do Círculo de Cultura em espaço escolar, com atenção a identidade social de adolescentes.

Método:

Pesquisa-ação, realizada sob pressupostos do Círculo de Cultura, no período de agosto a dezembro de 2019. Participaram 16 adolescentes, matriculados no Ensino Fundamental, em escola pública estadual, do distrito rural de uma cidade do interior paulista. A coleta dos dados deu-se por registros fotográficos, observação participante e diário de campo.

Resultados:

As relações de amizade foram elencadas como pauta dos Círculos de Cultura, quando foi oportunizado diálogos de seus estruturantes e influência na construção identitária.

Conclusão:

Círculos de Cultura mediado por profissionais de saúde no cenário escolar tem potência para problematizar a realidade particular da vida de cada adolescente e, simultaneamente dialogar sobre o comum, aspecto que empodera para projetos identitários.

Palavras-chave:
Adolescente; dentificação social; Educação em saúde; Enfermagem; Pesquisa sobre serviços de saúde

ABSTRACT

Objective:

To report and discuss the experience of the Circle of Culture in a school space, with attention to the social identity of adolescents.

Method:

Action research, conducted under the assumptions of the Circle of Culture, from August to December 2019. Participants were 16 adolescents, enrolled in Elementary School, in a state public school, in the rural district of a city of São Paulo. Data collection took place through photographic records, participant observation and field diary.

Results:

The relations of friendship were the central agenda of the Circles of Culture when dialogues about their structuring and influence on the identity construction were developed.

Conclusion:

Circles of Culture mediated by health professionals in the school setting have the power to problematize the reality of each adolescent’s life and, simultaneously, dialogue about the common, an aspect that empowers identity projects.

Keywords:
Adolescent; Social identification; Health education.; Nursing; Health services research

RESUMEN

Objetivo:

Relatar y discutir la experiencia del Círculo de Cultura en un espacio escolar, con atención a la identidad social de los adolescentes.

Método:

Investigación-acción, realizada bajo los supuestos del Círculo de Cultura, de agosto a diciembre de 2019. Participaron 16 adolescentes, matriculados en la Enseñanza Fundamental, en una escuela pública, en el distrito rural de una ciudad de São Paulo. La recolección de datos se realizó a través de registros fotográficos, observación participante y diario de campo.

Resultados:

Las relaciones de amistad fueron catalogadas como la agenda de los Círculos de Cultura, cuando los diálogos de su estructuración e influencia en la construcción identitaria fueron ofrecidos.

Conclusión:

Los Círculos de Cultura mediados por profesionales de la salud en el ámbito escolar tienen el poder de problematizar la realidad particular de la vida de cada adolescente y, simultáneamente, dialogar sobre lo común, aspecto que potencia para proyectos identitarios.

Palabras clave:
Adolescente; Identificación social; Educación em salud; Enfermería; 0Investigación sobre servicios de salud

INTRODUÇÃO

As adolescências são diversas, envolvem elaborações corporais, psicológicas, relacionais e de valores, com vistas a construção identitária e autonomia11. Fernandes ESF, Santos AM. Mismatches between professional education and care needs of the adolescents in Primary Health Care. Interface. 2020;24:e190049. doi: https://doi.org/10.1590/Interface.190049
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. As particularidades do contexto social, recursos, valores e vulnerabilidades, influenciam-nas22. Andrews JL, Foulkes L, Blakemore SJ. Peer influence in adolescence: public-health implications for COVID-19. Trends Cogn Sci. 2020;24(8):585-7.doi: https://doi.org/10.1016/j.tics.2020.05.001
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,33. Janssen LHC, Verkuil B, Van Houtum LAEM, Wever MCM, Elzinga BM. Perceptions of parenting in daily life: adolescent-parent differences and associations with adolescent affect. J Youth Adolesc. 2021;50(12):2427-43. doi: https://doi.org/10.1007/s10964-021-01489-x.
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. A Organização Mundial da Saúde (OMS) e o sistema de saúde brasileiro tomam a faixa dos dez aos dezenove anos como das adolescências, abarcando cerca de 26% da população mundial44. Organização Pan-Americana de Saúde. Estratégia e plano de ação para a saúde do adolescente e do jovem: relatório final [Internet]. Washington, DC: OPAS; 2019 [cited 2022 Apr 29]. Available from: https://www.paho.org/pt/documentos/cd57inf8-estrategia-e-plano-acao-para-saude-do-adolescente-e-do-jovem-relatorio-final
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.

A construção identitária integra projeto de vida, tema estrutural das Diretrizes Nacionais para a Atenção Integral à Saúde de Adolescentes e Jovens55. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Diretrizes nacionais para a atenção integral à saúde de adolescentes e jovens na promoção, proteção e recuperação da saúde [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2010 [cited 2022 Apr 29]. Available from: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes_nacionais_atencao_saude_adolescentes_jovens_promocao_saude.pdf
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. Tecê-lo envolve o conhecer a si, a historicidade familiar e social, aspectos que perpassam a identidade social55. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Diretrizes nacionais para a atenção integral à saúde de adolescentes e jovens na promoção, proteção e recuperação da saúde [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2010 [cited 2022 Apr 29]. Available from: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes_nacionais_atencao_saude_adolescentes_jovens_promocao_saude.pdf
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-77. Quiroga F,Capella C,Sepulveda G,Conca G, Miranda J. Identidad personal en niños y adolescentes: estudio cualitativo. Rev Latinoam Cienc Soc Niñez Juv. 2021;19(2):1-25. doi: https://doi.org/10.11600/rlcsnj.19.2.4448
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, reconstruções e transições de sentidos, princípios e valores55. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Diretrizes nacionais para a atenção integral à saúde de adolescentes e jovens na promoção, proteção e recuperação da saúde [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2010 [cited 2022 Apr 29]. Available from: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes_nacionais_atencao_saude_adolescentes_jovens_promocao_saude.pdf
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, desdobramentos à autonomia, protagonismo na tomada de decisões e definição de ações88. Cook EC, Wilkinson K, Stroud LR. The role of stress response in the association between autonomy and adjustment in adolescents. Physiol Behav. 2018;189:40-9. doi: https://doi.org/10.1016/j.physbeh.2018.02.049
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.

A identidade social dos adolescentes é determinada a partir das inserções sociais e as interações ali concebidas, com desdobramentos para o desenvolvimento, enfrentamentos e atitudes positivas99. Viduani A, Benetti S, Martini T, Buchweitz C, Ottman K, Wahid SS, et al. Social isolation as a core feature of adolescent depression: a qualitative study in Porto Alegre, Brazil. Int J Qual Stud Health Well-being. 2021;16(1):1978374. doi: https://doi.org/10.1080/17482631.2021.1978374
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.

Neste cenário, a escola propicia relações com pares, favorecendo habilidades sociais, concomitante à reflexão e integração de saberes. Caracteriza-se como ambiente promissor para ações de promoção e educação em saúde, visionando posicionamentos e tomadas de decisão1010. Videto DM, Dake JA. Promoting health literacy through defining and measuring quality school health education. Health Promot Pract. 2019;20(6):824-33. doi: https://doi.org/10.1177/1524839919870194
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a partir do empoderamento, compartilhamento de conhecimentos, críticas e recriações1111. Sevalho G. O conceito de vulnerabilidade e a educação em saúde fundamentada em Paulo Freire. Interface. 2018;22(64):177-88. doi: https://doi.org/10.1590/1807-57622016.0822
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.

Fundamentado nos princípios da intersetorialidade e da territorialidade, o Programa Saúde na Escola (PSE) intenciona solidez na parceria entre escola e setor saúde, sobretudo com desenvolvimento de ações de educação e de promoção da saúde sob horizonte do cuidado integral1212. Lopes IE, Nogueira JAD, Rocha DG. Eixos de ação do Programa Saúde na Escola e Promoção da Saúde: revisão integrativa. Saúde Debate. 2018;42(118):773-89. doi: https://doi.org/10.1590/0103-1104201811819
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,1313. Silva AA, Gubert FA, Barbosa Filho VC, Freitas RWJF, Vieira-Meyer APGF, Pinheiro MTM, et al. Health promotion actions in the School Health Program in Ceará: nursing contributions. Rev Bras Enferm. 2021;74(1):e20190769. doi: https://doi.org/10.1590/0034-7167-2019-0769
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. Nesta direção, o profissional de saúde, em especial a enfermagem pode ocupar lugar privilegiado e assumir a interlocução desta parceria.

As intervenções desenvolvidas no âmbito do PSE tendem a ser centradas na atenção, prevenção ou manejo de comportamentos de risco, com posicionamento verticalizado e prescritivo, cujos alcances são descritos como pouco efetivos, em especial pela insuficiência de interlocução com os contextos pessoais, familiares, sociais e culturais1212. Lopes IE, Nogueira JAD, Rocha DG. Eixos de ação do Programa Saúde na Escola e Promoção da Saúde: revisão integrativa. Saúde Debate. 2018;42(118):773-89. doi: https://doi.org/10.1590/0103-1104201811819
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. Nessa direção, sinaliza-se relevância da adoção de abordagens participativas e dialógicas para a construção de conhecimento em espaço escolar. O Círculo de Cultura (CC) sobressai enquanto estratégia, visto estruturar-se no diálogo, reflexão crítica e produção compartilhada entre adolescentes e mediadores 1414. Silva LG, Andrade BP, Rocha GS, Silva HEO, Costa TR, Machado YMS, et al. Circle of culture as an instrument for promoting the health of adolescents: report by nursing academics. Res Soc Dev. 2022;11(1):e32711124849. doi: https://doi.org/10.33448/rsd-v11i1.24849
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Diante do exposto, elencou-se enquanto questão de pesquisa: Quais os alcances da adoção da tecnologia CC em espaço escolar para apoiar as construções identitárias de adolescentes? O objetivo do estudo foi relatar e discutir a experiência do Círculo de Cultura em espaço escolar, com atenção à construção da identidade social de adolescentes.

MÉTODO

Pesquisa-ação (PA), de natureza qualitativa, desenvolvida sob pressupostos do Círculos de Cultura (CC)1515. Freire P. Pedagogia do oprimido. 64. ed. São Paulo: Paz e Terra; 2017.. Os CC estruturam-se no participante ativo, intencionam circularidade, diálogo, partilha de experiências e saberes. Concebem que experiências de vida participativas e contextualizadas evocam reflexões, consciência crítica e posturas sociais ativas1414. Silva LG, Andrade BP, Rocha GS, Silva HEO, Costa TR, Machado YMS, et al. Circle of culture as an instrument for promoting the health of adolescents: report by nursing academics. Res Soc Dev. 2022;11(1):e32711124849. doi: https://doi.org/10.33448/rsd-v11i1.24849
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,1515. Freire P. Pedagogia do oprimido. 64. ed. São Paulo: Paz e Terra; 2017.. Assim, a proposta foi de promover diálogo sobre as relações e a identidade social dos adolescentes, para com eles processar a exploração das questões que estão remetidas nesta temática, apoiado nos CC.

Todos os adolescentes, regularmente matriculados na turma do oitavo ano do Ensino Fundamental de uma escola pública estadual do distrito rural de uma cidade do interior paulista, foram convidados a integrarem a atividade. Dos 32 adolescentes, 16 optaram por participar e buscaram as documentações éticas para tal; 14 não apresentaram a anuência para a pesquisa; e 2 tiveram a participação negada pelos responsáveis.

Participaram do estudo 16 adolescentes com idades entre 13 e 14 anos que atenderam os critérios de inclusão: ser adolescente regularmente matriculado na instituição de ensino e estar no ano selecionado ao estudo, indicação realizada pela direção da escola. E como critério de exclusão estabeleceu: (b) ausentar-se por dois encontros seguidos da atividade proposta. A intencionalidade do cenário e participantes, reforça a participação espontânea e integração dos adolescentes aos CC, imprescindível ao método.

A escolha desse cenário deu-se visto a discrepância da zona rural, quando comparadas às áreas urbanas, tanto no prisma estrutural, cultural e, sobretudo, quanto ao meio ambiente. Adicionalmente, trata-se de área negligenciada pelas pesquisas. No território rural, as vulnerabilidades se revelam na escassez de opções de lazer e cultura, esportes ou ambientes de convívio público, e pelas influências negativas trazidas pelas desigualdades social, política e econômica, o que também expõe o adolescente a situações de risco, refletindo na sua saúde1616. Silva JF, Matsukura TS, Ferigato SH, Cid FB. Adolescence and mental health from the perspective of Primary Healthcare professionals. Interface. 2019;23:e18063. doi: https://doi.org/10.1590/Interface.180630
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. Nesse sentido, compreender como os adolescentes significam esse ambiente rural é potente à criação de estratégias de enfrentamento das nuances vivenciadas, projetos de vida e construção identitária.

A atividade e, portanto, a coleta de dados, foi desenvolvida ao longo de julho a dezembro de 2019, totalizando seis CC, todos mediados pela primeira autora deste artigo, sob o apoio da segunda autora, com duração média de 90 minutos cada. Eles ocorreram no espaço escolar, em horário de aula estabelecido pela direção da escola. Ambas as mediadoras detinham aproximação com a temática das adolescências e envolveram-se, prévio ao desenvolvimento dos CC, em formação livre para facilitação de grupos. A segunda autora, cursa complementação pedagógica, com leituras e discussões sobre Paulo Freire.

Considerando que a PA prevê a participação ativa dos envolvidos no seu processo, a coleta de dados ocorreu em duas etapas sequenciais1717. Thiollent M. Metodologia da pesquisa-ação. 18. ed. São Paulo: Cortez; 2011.. A primeira, planejamento da intervenção, compreendeu a investigação temática dos CC, na qual se buscou aproximação dos adolescentes e introdução ao tema da identidade social. A segunda, implantação e avaliação da atividade, ocorreu concomitante ao desenvolvimento dos CC, compreendendo as fases de tematização e problematização.

A intervenção ocorreu mensalmente, e era intercalada quinzenalmente com encontro de planejamento. A dinâmica ocorria da seguinte forma: imediatamente após os CC, as mediadoras registravam informações e percepções acerca do experienciado que compuseram o diário de campo de cada qual. Portanto, reuniu-se um conjunto de 12 registros de campo com uma média de 800 palavras cada. Os registros serviam para o planejamento dos CC, assim como foram dados para o estudo.

Atualmente, sabe-se que a construção do círculo é ativa, formada pelos saberes de todos os participantes, sem rigidez quanto a conteúdo e pautado na construção coletiva, a partir do encontro e tomando o vivido1818. Costa MAR, Spigolon DN, Teston EF, Souza VS, Marquete VF, Matsuda LM. Paulo Freire research itinerary contribution in the field of nursing investigation. J Nurs UFPE on line. 2018;12(2):546-53. doi: https://doi.org/10.5205/1981-8963-v12i2a109935p546-553-2018
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. Desse modo, ao término de cada encontro fazia-se uma avaliação do experienciado entre mediadoras e adolescentes, e buscava-se estabelecer um tema para o próximo encontro.

As etapas do CC1515. Freire P. Pedagogia do oprimido. 64. ed. São Paulo: Paz e Terra; 2017. foram seguidas, sendo elas: a) a investigação temática, aproximação dos participantes e seu contexto de vida, com intenção de ponto de partida para o processo educacional, quando temas centrais derivam dessa interação; b) a tematização, processo no qual os temas e palavras geradoras são codificados e decodificados buscando a reflexão do vivido e o seu significado social, possibilitando a construção do conhecimento e compreensão sobre a realidade, na perspectiva de intervir criticamente sobre ela; c) a problematização, reflexão do conhecimento primário, a fim de transformar o contexto vivido, destacando o protagonismo do sujeito.

A observação participante, o conjunto de anotações em diário de campo e registros fotográficos dos CC compuseram dados para a presente PA. O diário de campo foi a estratégia utilizada para o registro das observações participantes, reflexões e conhecimentos do produzido; trata-se de um método abrangente no registro de observação frente aos acontecimentos, sentimentos, experiências e reflexões do pesquisador e participantes durante a pesquisa1919. Campos JLA, Silva TC, Albuquerque UP. Observação participante e diário de campo: quando utilizar e como analisar? In: Albuquerque UP, Cunha LVFC, Lucena RFP, Alves RRN, editores. Métodos de pesquisa qualitativa para etnobiologia. Recife: Nupeea; 2021. p. 95-112..

Para análise articulou-se os diferentes instrumentos de pesquisa disposto, visando à qualidade e profundidade dos dados apreendidos2020. Santos KS, Ribeiro MC, Queiroga DEU, Silva IAP, Ferreira SMS. The use of multiple triangulations as a validation strategy in a qualitative study. Cien Saude Colet. 2020;25(2):655-64. doi: https://doi.org/10.1590/1413-81232020252.12302018
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. A partir descrição minuciosa das atividades nos CC, obtidas pelos instrumentos dispostos, compreendendo as observações, discussões, experiência das atividades e o significado da vivência educativa pelos atores sociais envolvidos, estes foram organizados, analisados e interpretados sob a luz da análise de conteúdo2121. Cardoso MRG, Oliveira GS, Ghelli KGM. Análise de conteúdo: uma metodologia de pesquisa qualitativa. Cad Fucam. 2021 [cited 2022 Apr 29];20(43):98-111. Available from: https://revistas.fucamp.edu.br/index.php/cadernos/article/view/2347
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,com base na fundamentação teórica do CC. Ou seja, os registros de campo de ambas as mediadoras e as descrições das fotos a partir das palavras dos adolescentes foram submetidos a leituras reiterativas para definição acerca do corpus, quando as regras da exaustividade, representatividade, homogeneidade e pertinência guiaram o processo. Após, os corpus foram apreciados no conteúdo manifesto e nomeada e descrita a categoria de cada CC.

O estudo foi aprovado por Comitê de Ética em Pesquisa sob o CAAE nº 15201219.6.0000.5504, e autorizado pela Diretoria Regional de Ensino, respeitando os preceitos da Resolução 466/2012 e 510/2016.

RESULTADOS

Conhecendo o contexto escolar - Investigação temática

Dezesseis adolescentes integraram a PA, sete meninos e nove meninas, sendo que seis com 13 anos e dez com 14 anos de idade.

A etapa de investigação temática buscou desvelar o universo vocabular através da aproximação do território a ser investigado e os atores sociais ali inseridos. Essa aproximação ocorreu a partir de três visitas ao ambiente escolar. A primeira esteve mais direcionada à interação com a diretora e coordenadora pedagógica, enquanto as duas outras estiveram direcionadas aos educadores e educandos. Nas conversas iniciais, os atores da escola falaram acerca do espaço, território e suas percepções sobre a vida e saúde de forma livre.Assim, em conjunto com os educadores da escola, foi delimitado a turma que seria convidada ao estudo, escolha essa pautada no entendimento se ser o grupo de maior conflito interacional.

Os educadores debruçaram um olhar a aspectos negativos dos educandos, com diretivas à comportamentos de risco, como: sexualidade precoce, violência e uso de drogas, destacando esses como preditos a esse território rural. Apontam ainda, tratar-se de um espaço com pouco olhar e ações para a saúde e vida dessa população. Já os adolescentes, mostraram-se curiosos, ao mesmo tempo que satisfeitos pela proposta de uma atividade direcionada a eles e seus interesses (Notas de Campo, 05/08/2019).

A apresentação entre nós e eles ocorreu simultaneamente, durante as conversas, quando a proposta de intervenção também era exposta.

Senti interesse da parte dos adolescentes em ter uma atividade diferente do usual, aparentou-me que o diferente chamava atenção, assim como o poder falar sobre o que gostariam de falar. O espaço inusual parecia despertar interesse e motivação(Notas de campo, 08/08/2019).

Essas primeiras entradas ocorreram ao longo da mesma semana. Posteriormente, retornamos para apresentar, de fato, a proposta aos adolescentes, ação realizada a partir da leitura conjunta e dialogada do Termo de Assentimento Livre e Esclarecido. Ao término dessa conversa, foi esclarecida a necessidade de os responsáveis registrarem o consentimento via Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Deixamos cópias com cada um deles e fizemos o combinado de que em nosso próximo encontro, iríamos recolher os documentos.

A inserção no espaço social dos adolescentes permitiu aproximação com formas de se relacionar, alguns hábitos e experiências de vida.

Trata-se de adolescentes que estão a construir os processos interacionais, gostam de conversar acerca das amizades, anseios pela escuta e apoio aos conflitos familiares e pessoais, assim como o compartilhamento de sentimentos acerca dos relacionamentos amorosos que estão se iniciando. Também retratam sobre a escassez de espaços e atividades promotoras de bem-estar e lazer no território em que vivem(Notas de campo, 08/08/2019).

Desenvolvendo os Círculos de Cultura - tematizando e problematizando

A PA contou com seis CC, que foram nomeados conforme sua tematização: ‘Desvendando as relações’; ‘Significando a relação de amizade’; ‘Apoiando um ao outro’; ‘Confiando nas relações’; ‘As nuances da amizade’; e ‘Desvelando o Eu na relação de amizade’ (Quadro 1).

O CC prevê um ambiente oposto aos espaços educacionais tradicionais, desenvolvidos através da disposição dos participantes em roda, ambiente externos e atividades lúdicas, favorecendo a interação e o diálogo entre si, com construção mútua de conhecimento. Portanto, considerando que este estudo é desenvolvido com adolescentes, os CC ocorreram ao ar livre, no jardim, pátio e quadra de esportes e tiveram enquanto disparadores atividades dinâmicas, propostas pelas moderadoras para potencializar a participação e interação entre os participantes.

Quadro 1 -
Círculos de Cultura desenvolvidos em escola no território rural para a promoção de diálogo sobre as relações e a identidade social de adolescentes. São Carlos, São Paulo, Brasil, 2022

A partir dos CC foi possível apreender que as experiências coletivas alcançadas nas interações inferem no desenvolvimento social dos adolescentes. O pertencimento grupal, assim com as condições que possibilitam essas interações direcionam as ações individuais e coletivas destes na sociedade. Assim, temos que a construção identitária ocorre a partir das transformações dos adolescentes que dar-se através da pertença e reconhecimento grupal, com desenvolvimento de habilidades relacionais, que contribuem ao autoconhecimento, autonomia e atitudes positivas embasadas em princípios e valores, indispensável a adultez.

DISCUSSÃO

A escola é reconhecida pelos adolescentes enquanto um espaço para experimentação de relações sociais e pertencimento, onde permanecem a maior parte do dia1212. Lopes IE, Nogueira JAD, Rocha DG. Eixos de ação do Programa Saúde na Escola e Promoção da Saúde: revisão integrativa. Saúde Debate. 2018;42(118):773-89. doi: https://doi.org/10.1590/0103-1104201811819
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,1313. Silva AA, Gubert FA, Barbosa Filho VC, Freitas RWJF, Vieira-Meyer APGF, Pinheiro MTM, et al. Health promotion actions in the School Health Program in Ceará: nursing contributions. Rev Bras Enferm. 2021;74(1):e20190769. doi: https://doi.org/10.1590/0034-7167-2019-0769
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,2222. Faial LCM, Silva RMCRA, Pereira ER, Faial CSG. Health in the school: perceptions of being adolescent. Rev Bras Enferm. 2019;72(4):964-72. doi: https://doi.org/10.1590/0034-7167-2018-0433
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. Nesse cenário, o Programa Saúde na Escola (PSE) é uma importante estratégia intersetorial de promoção da saúde, educação em saúde e cuidado integral. A forma como o profissional de saúde se insere na escola e movimenta o PSE é determinante para seus alcances1212. Lopes IE, Nogueira JAD, Rocha DG. Eixos de ação do Programa Saúde na Escola e Promoção da Saúde: revisão integrativa. Saúde Debate. 2018;42(118):773-89. doi: https://doi.org/10.1590/0103-1104201811819
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, quando ações participativas e dialógicas favorecem consideração e acolhimento das particularidades sociais, econômicas e culturais, aspecto alcançado com a experiência aqui relatada.

As intervenções da saúde nas escolas tendem a ser discursivas, centradas na concepção do adolescente como receptáculo de informações. O CC fez o deslocamento dos adolescentes para o lugar de partícipes ativos e o profissional de saúde como mediador de debates de pautas, com a criação de um espaço dialógico sobre questões que vivenciam e conformam vidas. No e partir do coletivo a consciência e crítica da realidade foi sendo tecida, com consideração às particularidades daqueles adolescentes que ali estavam, empoderamento para experimentação de exercício de novos comportamentos pessoais e sociais2323. Brandão NetoW, Silva CO, Amorim RRT, Aquino JM, Almeida Filho AJ, Gomes BMR, et al. Formation of protagonist adolescents to prevent bullying in school contexts. Rev Bras Enferm. 2020;73(Suppl 1):e20190418. doi: https://doi.org/10.1590/0034-7167-2019-0418
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. Desde o primeiro CC ‘Desvendando as relações’, essa estratégia de intervenção foi significada pelos participantes do estudo como libertadora, um espaço para expressar sentimentos. Dessa forma, percebe-se que, para eles, os CC é uma experiência enriquecedora e diferente de tudo àquilo que eles perpassam no processo educacional.

Nos CC os adolescentes vivenciaram a escuta e voz de si e de outros, com possível descoberta do EU e do outro nas relações2323. Brandão NetoW, Silva CO, Amorim RRT, Aquino JM, Almeida Filho AJ, Gomes BMR, et al. Formation of protagonist adolescents to prevent bullying in school contexts. Rev Bras Enferm. 2020;73(Suppl 1):e20190418. doi: https://doi.org/10.1590/0034-7167-2019-0418
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, aspecto que tende a derivar em reconhecimento das relações interpessoais como integrantes do projeto de vida2424. Silva MW, Franco ECD, Gadelha AKOA, Costa CC, Sousa CF. Adolescence and Health: meanings assigned by adolescents. Res Soc Dev. 2021;10(2):e27510212482. doi: https://doi.org/10.33448/rsd-v10i2.12482
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. O Projeto de Vida, tema estrutural da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde de Adolescentes e Jovens, é pontuado como um processo de fortalecimento da identidade dos adolescentes, envolvendo a construção do ser, o conhecer-se a si mesmo, valores pessoais, o contexto familiar e social, reconhecendo-se como atuante e determinador do seu futuro55. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Diretrizes nacionais para a atenção integral à saúde de adolescentes e jovens na promoção, proteção e recuperação da saúde [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2010 [cited 2022 Apr 29]. Available from: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes_nacionais_atencao_saude_adolescentes_jovens_promocao_saude.pdf
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. Processo esse que envolve além da identidade pessoal, a identidade social que é influenciada pelas interações, pertencimento grupal e as relações sociais ali estabelecidas, inferências essas reconhecidas neste estudo.

‘Significando a relação de amizade’ propôs através da dinâmica da estátua móvel a dialógica do movimento de produção coletiva do símbolo da amizade versus o não movimento da estátua, que traduz no reconhecimento de papeis no processo interacional e a inferência das ações individuais no reconhecimento coletivo, uma reflexão do papel do EU nas relações e as implicações deste no desenvolver identitário.

As relações de amizade foram assinaladas como determinantes de sentimentos, humor, estima, bem-estar psicológico. Atuam dualmente, quando suporte2424. Silva MW, Franco ECD, Gadelha AKOA, Costa CC, Sousa CF. Adolescence and Health: meanings assigned by adolescents. Res Soc Dev. 2021;10(2):e27510212482. doi: https://doi.org/10.33448/rsd-v10i2.12482
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) favorecem companheirismo, intimidade e enfrentamentos2525. Chiu K, Clark DM, Leigh E. Prospective associations between peer functioning and social anxiety in adolescents: a systematic review and meta-analysis. J Affect Disord. 2021;279:650-61. doi: https://doi.org/10.1016/j.jad.2020.10.055
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, e quando intervenientes conflitos e rejeição grupal2525. Chiu K, Clark DM, Leigh E. Prospective associations between peer functioning and social anxiety in adolescents: a systematic review and meta-analysis. J Affect Disord. 2021;279:650-61. doi: https://doi.org/10.1016/j.jad.2020.10.055
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. O pertencimento grupal e o anseio pelas relações de amizade está referendado como relevante às adolescências2626. Chen X, Li L, Lv G, Li H. Parental behavioral control and bullying and victimization of rural adolescents in China: the roles of deviant peer affiliation and gender. Int J Environ Res Public Health. 2021;18(9):4816. doi: https://doi.org/10.3390/ijerph18094816
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.

Relações familiares também são determinantes ao bem-estar dos adolescentes2727. Fernandes HIVM, Andrade LMC, Martins MM, Rolim KMC, Millions RM, Frota MA, et al. Happiness as a strength in the promotion of adolescent and adult young health. Rev Bras Enferm. 2020;73(3):e20190064. doi: https://doi.org/10.1590/0034-7167-2019-0064
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, foram mencionadas no CC, não chegaram a ser aprofundadas nas discussões mas, a segurança estabelecida a partir dos vínculos parentais direciona adolescentes a ações positivas tanto consigo próprios como com os outros2828. Pinheiro MC, Días D, Rocha M. Vinculação aos pares e comportamentos de bullying na adolescência: o efeito mediador da autoestima. Av Psicol Latinoam. 2020;38(1):48-65. doi: https://doi.org/10.12804/revistas.urosario.edu.co/apl/a.5898
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.Para os adolescentes deste estudo a interação parental foi mencionada a partir de um olhar mais negativo2929. Mastrotheodoros S, Van der Graaff J, Deković M, Meeus WHJ, Branje S. Parent-adolescent conflict across adolescence: trajectories of informant discrepancies and associations with personality types. J YouthAdolesc.2020;49(1):119-35. doi: https://doi.org/10.1007/s10964-019-01054-7
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, interface essa, que destacam as relações de amizade como suporte a esses enfrentamentos.

A tendência de olhar para as adolescências como “um período de transição” vem favorecendo o esquecimento das necessidades desta população. Acresce-se outra tendência, a de olhar quando da presença de certas situações, a exemplo de gravidez, uso de substâncias, violências. Estes vieses desfavorecem estabelecimento de relações que os empodere, aposte na autonomia e protagonismo.

Em consonância ao parágrafo anterior os CC ‘Apoiando um ao outro’, ‘Confiando nas relações’, ‘As nuances da amizade’ e ‘Desvelando o EU na relação de amizade’,retratam acerca dos valores necessários à relação de amizade, propiciando um processo interacional dos adolescentes consigo mesmo, com reflexão acerca de suas ações nessas relações e projeções de vida. Destarte, a interação grupal com objetivo de apoio, alcance de metas e tomada de decisão é propulsora da identidade e autonomia dos adolescentes.

Os CC alargaram repertório de conhecimentos, atitudes e habilidades para a vida, com indicativas para serem adotados por profissionais de saúde. Neles movimentam-se os princípios da dialogicidade, do reconhecimento, respeito e valorização dos diferentes. Isto alinha-se ao posto na Política Nacional de Educação Popular em Saúde, instituída pela Portaria 2.761/2013 no âmbito do Sistema Único de Saúde3030. Ministério da Saúde (BR). Gabinete do Ministro. Portaria nº. 2761, de 19 de novembro de 2013. Institui a Política Nacional de Educação Popular em Saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde (PNEPS-SUS). Diário Oficial União. 2013 nov 20 [cited 2022 Apr 29];150(225 Seção 1):62-3. Available from: https://pesquisa.in.gov.br/imprensa/jsp/visualiza/index.jsp?data=20/11/2013&jornal=1&pagina=62&totalArquivos=168
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e balizas das Diretrizes Nacionais para a Atenção Integral à Saúde de Adolescentes e Jovens55. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Diretrizes nacionais para a atenção integral à saúde de adolescentes e jovens na promoção, proteção e recuperação da saúde [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2010 [cited 2022 Apr 29]. Available from: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes_nacionais_atencao_saude_adolescentes_jovens_promocao_saude.pdf
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.

Ao colocar o adolescente em roda, sem uma verticalidade, escutando outros, dialogando com eles, provê-se contato com o diferente, intensificam-se reflexão sobre o que ali ocorre e, esse processo é emancipatório, ensina todos a partir da realidade de cada um e do coletivo, alarga repertórios para a vida2424. Silva MW, Franco ECD, Gadelha AKOA, Costa CC, Sousa CF. Adolescence and Health: meanings assigned by adolescents. Res Soc Dev. 2021;10(2):e27510212482. doi: https://doi.org/10.33448/rsd-v10i2.12482
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. Outro destaque dessa estratégia é a aposta em espaços dinâmicos, ao ar livre e com disparadores a partir das necessidades apreendidas e conhecimentos construídos nos encontros anteriores.

Assim, esse estudo a partir dos alcances apresentados, reforça a potência dos CC para o desenvolvimento do PSE e para o suporte às construções identitárias de adolescentes e seus projetos de vida.

CONCLUSÃO

A inserção dos CC mediado por profissionais de saúde no cenário escolar favorece uma articulação do PSE, PNEPS e das Diretrizes Nacionais para a Atenção Integral à Saúde de Adolescentes e Jovens, com projeções positivas a saúde dos adolescentes, visto a recomendação dessas diretrizes para ações participativas, dialógicas e horizontalizadas, com abordagem para além das vulnerabilidades, mas com diretivas ao projeto de vida. Em consonância, o CC foi potente, permitiu diálogos de suporte ao processo de construção da identidade social.

Os achados do estudo apontaram as relações de amizade enquanto âncoras nos enfrentamentos sociais do adolescer, ascendendo a importância da compreensão dessas interações e pertencimento grupal para autonomia e desenvolvimento social de adolescentes.

As atividades propostas efetivaram a voz e escuta em grupo, sob o respeito à diversidade de concepções de modos de vida e de ser adolescente. A experiência permite recomendar atividades pautadas nos CC para a parceria entre saúde e educação e, nesta direção, as formações de profissionais da saúde e educação carecem de apostas na pessoa do adolescente e no diálogo igualitário.

Como limite, aponta-se o fato de a atividade ter sido desenvolvida em um único cenário. Apesar disto, a literatura referenda as revelações obtidas, derivando apontamentos e reflexões passíveis de serem tomados em outros cenários e para a qualificação da parceria saúde e educação. Sugere-se que estudos futuros explorem as relações familiares na tessitura do projeto de vida de adolescentes e sua relação com percepção negativa acerca da vida adulta, aspecto relevante às discussões de empoderamento e suporte ao adolescente e jovem.

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Editado por

Editor associado:

Jéssica Teles Schlemmer

Editor-chefe:

João Lucas Campos de Oliveira

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    23 Jun 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    15 Jul 2022
  • Aceito
    26 Set 2022
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