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Qualidade de vida no trabalho e Burnout em trabalhadores da estratégia saúde da família

RESUMO

Objetivo:

Analisar a correlação entre qualidade de vida no trabalho e as dimensões do Burnout em trabalhadores da Estratégia Saúde da Família.

Métodos:

Estudo correlacional, transversal, executado com 112 trabalhadores, no período pandêmico (outubro/2020 a junho/2021), em Palmas/Tocantins. Utilizou-se o Questionário de avaliação da qualidade de vida no trabalho (QWLQ-bref) e o Maslach Burnout Inventory - Human Services Survey (MBI-HSS).

Resultados:

Identificou-se correlação negativa forte entre Exaustão Emocional e os domínios Físico/Saúde, Profissional e Escore Total da Qualidade de Vida no Trabalho; e correlação negativa moderada entre Despersonalização e todos os domínios da Qualidade de Vida no Trabalho. A Realização Profissional apresentou correlação positiva moderada com os domínios Psicológico, Pessoal e com o Escore Total da Qualidade de Vida no Trabalho.

Conclusão:

Os melhores índices de Qualidade de Vida no Trabalho estiveram correlacionados a menores escores de Exaustão Emocional e Despersonalização e a maiores escores de Realização Profissional.

Palavras-chave:
Esgotamento profissional; Qualidade de vida; Atenção primária à saúde; Estratégias de saúde nacionais.

ABSTRACT

Objective:

To analyze the correlation between quality of life at work and Burnout in workers in the Family Health Strategy.

Methods:

Correlational, cross-sectional study carried out with 112 workers, in the pandemic period (October/2020 to June/2021), in Palmas/Tocantins. The Quality of Work Life Assessment Questionnaire (QWLQ-bref) and the Maslach Burnout Inventory - Human Services Survey (MBI-HSS) were used.

Results:

A strong negative correlation was identified between Emotional Exhaustion and the Physical/Health, Professional and Total Quality of Life Score at work; and moderate negative correlation between Depersonalization and all domains of Quality of Work Life. Professional Achievement showed a moderate positive correlation with the Psychological and Personal domains and with the Total Quality of Work Life Score.

Conclusion:

The best Quality of Work Life indices were correlated with lower Emotional Exhaustion and Depersonalization scores and higher scores of Professional Achievement.

Keywords:
Burnout; professional. Quality of life. Primary health care. National health strategies.

RESUMEN

Objetivo:

Analizar la correlación entre calidad de vida en el trabajo y Burnout en trabajadores de la Estrategia Salud de la Familia.

Métodos:

Estudio correlacional, transversal, realizado con 112 trabajadores, en el período de pandemia (octubre/2020 a junio/2021), en Palmas/Tocantins. Se utilizaron el Quality of Work Life Assessment Questionnaire (QWLQ-bref) y el Maslach Burnout Inventory - Human Services Survey (MBI-HSS).

Resultados:

Se identificó una fuerte correlación negativa entre el Agotamiento Emocional y el Score de Calidad de Vida Física/Salud, Profesional y Total en el trabajo; y correlación negativa moderada entre Despersonalización y todos los dominios de Calidad de Vida Laboral. El Logro Profesional mostró una correlación positiva moderada con los dominios Psicológico y Personal y con el Puntaje de Calidad de Vida Laboral Total.

Conclusión:

Los mejores índices de Calidad de Vida Laboral se correlacionaron con puntajes más bajos de Agotamiento Emocional y Despersonalización y puntajes más altos de Logro Profesional.

Palabras clave:
Agotamiento profesional; Calidad de vida; Atención primaria de salud; Estrategias de salud nacionales.

INTRODUÇÃO

Os trabalhadores da Estratégia Saúde da Família (ESF) são elementos fundamentais dentro da Atenção Primária à Saúde (APS), pois prestam cuidados e acompanham as famílias do território adscrito durante e em todo o ciclo da vida, contribuindo com a efetivação das políticas de saúde11. Lima GKM, Gomes LMX, Barbosa TLA. Qualidade de vida no trabalho e nível de estresse dos profissionais da atenção primária. Saúde Debate. 2020;44(126):774-89. doi: https://doi.org/10.1590/0103-1104202012614
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. Nessa perspectiva, compreende-se que as condições de trabalho estão diretamente relacionadas às condições de saúde e qualidade de vida,exercendo influência nas demais pessoas envolvidas nesse processo e consequentemente na qualidade dos serviços de saúde oferecidos22. Mendes M, Trindade LL, Pires DEP, Martins MMFPS, Ribeiro OMPL, Forte ECN, et al. Nursing practices in the family health strategy in Brazil: interfaces with illness. Rev Gaúcha Enferm. 2021;42(spe):e20200117. doi: https://doi.org/10.1590/1983-1447.2021.20200117
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A Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) pode ser entendida como um conjunto de ações e práticas organizacionais que tem como objetivo implantar e desenvolver melhorias e inovações a nível gerencial, estrutural e tecnológico33. Limongi França AC. Práticas de recursos humanos: conceitos, ferramentas e procedimentos. São Paulo: Atlas; 2007., podendo trazer benefícios tanto para os trabalhadores pela produção de prazer, realização e bem-estar, como para a organização, pelos resultados alcançados, incluindo aumento da qualidade dos serviços prestados e da produtividade.

Nessa mesma perspectiva, pesquisadores nacionais44. Lourenção LG. Qualidade de vida, engagement, ansiedade e depressão entre gestores de Unidades da Atenção Primária à Saúde. Rev Port Enferm Saúde Mental. 2018;(20):58-64. doi: https://doi.org/10.19131/rpesm.0227
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,55. Dias LOG, Carvalho VCS, Gomes MFP, Reticena KO, Santos MS, Fracolli LA. Investigação da Síndrome de Burnout em trabalhadores da Estratégia Saúde da Família de um município do interior do estado de São Paulo. Rev Atenção Saúde. 2020 [cited 2019 Jun 02];18(65):48-58. Available from: Available from: https://seer.uscs.edu.br/index.php/revista_ciencias_saude/article/view/6603
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) e internacionais66. Orrù G, Marzetti F, Conversano C, Vagheggini G, Miccoli M, Ciaccini R, et al. Secondary traumatic stress and Burnout in healthcare workers during COVID-19 outbreak. Int J Environ Res Public Health. 2021;18(1):337. doi: https://doi.org/10.3390/ijerph18010337
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,77. Lasalvia A, Amaddeo F, Porru S, Carta A, Tardivo S, Bovo C, et al. Levels of burn-out among healthcare workers during the COVID-19 pandemic and their associated factors: a cross-sectional study in a tertiary hospital of a highly burdened area of north-east Italy. BMJ Open. 2021;11(1):e045127. doi: https://doi.org/10.1136/bmjopen-2020-045127
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têm investigado a presença de transtornos psíquicos, incluindo o Burnout nos trabalhadores da saúde, uma vez que produz impacto não apenas na qualidade de vida dos trabalhadores, como na qualidade do trabalho executado e, consequentemente, na segurança dos pacientes.

A Síndrome de Burnout, resultado de exposição prolongada a estressores crônicos emocionais e interpessoais decorrentes do trabalho, leva ao rompimento do compromisso com o trabalho, tornando-o insatisfatório e sem significado88. Maslach C, Leiter MP. The truth about burnout: how organization cause, personal stress and what to do about it. San Francisco: Jossey-Bass; 2000.. Desencadeia consequentemente estados emocionais negativos, que levam ao surgimento da exaustão emocional, da despersonalização ou cinismo (resposta negativa interpessoal quando as pessoas são tratadas com cinismo ou frieza, como se fossem objetos)e da perda da realização profissional88. Maslach C, Leiter MP. The truth about burnout: how organization cause, personal stress and what to do about it. San Francisco: Jossey-Bass; 2000..

Desta forma, o Burnout é caracterizado pelo estresse crônico existente no ambiente de trabalho99. Caixeta NC, Silva GN, Queiroz MSC, Nogueira MO, Lima RR, Queiroz VAM, et al. A Síndrome de Burnout entre as profissões e suas consequências. Braz J Hea Rev. 2021;4(1):593-610. doi: https://doi.org/10.34119/bjhrv4n1-051
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somado a um intenso esgotamento funcional e psicológico1010. Latorraca CAC, Pacheco RL, Martimbianco ALC, Riera R, et al. O que as revisões sistemáticas Cochrane dizem sobre prevenção e tratamento da síndrome de burnout e estresse no trabalho. Diagn Tratamento. 2019:24(3):119-25.que reduz a qualidade dos serviços prestados pelos profissionais por passarem a desempenhar o trabalho sem qualquer satisfação, motivação e prazer99. Caixeta NC, Silva GN, Queiroz MSC, Nogueira MO, Lima RR, Queiroz VAM, et al. A Síndrome de Burnout entre as profissões e suas consequências. Braz J Hea Rev. 2021;4(1):593-610. doi: https://doi.org/10.34119/bjhrv4n1-051
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Ademais, durante a pandemia da COVID-19, os trabalhadores da ESF foram expostos a mudança brusca no processo de trabalho, visto que no primeiro ano do enfrentamento, passaram a atender majoritariamente pacientes de demanda espontânea, com sintomas sugestivos de COVID-19 e fizeram o acompanhamento dos casos leves e moderados. Contudo, estiveram expostos ao risco de adoecimento e morte, além do medo de contaminar amigos e familiares, enfrentando condições adversas de trabalho, com falta de equipamentos de proteção individual, resultando em sofrimento psíquico e forte impacto psicossocial1111. Oliveira GS, Monteiro LS, Carvalho MFAA, Freire AKS. Saúde mental em tempos da pandemia da COVID-19: concepções dos trabalhadores da atenção primaria a saúde. Res SocDev. 2020;9(10):e9449109339. doi: http://doi.org/10.33448/rsd-v9i10.9339
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.Esse cenário resultou em tensão maior no ambiente de trabalho, influenciando no nível de Burnout dos trabalhadores da saúde1212. Molero Jurado MDM, Martos Martínez Á, Perez-Fuentes MDC, Castiñera López H, Gásquez Linares JJ. Job strain and burnout in Spanish nurses during the COVID-19: resilience as a protective factor in a cross-sectional study. Hum Resour Health. 2022;20(1):79. doi: https://doi.org/10.1186/s12960-022-00776-3
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Estudo realizado no período anterior a pandemia em uma cidade da região nordeste do Brasil encontrou elevado nível de Burnout na ESF, com 38,3% dos profissionais acometidos1313. Tomaz HC, Tajra FS, Lima ACG, Santos MM. Síndrome de Burnout e fatores associados em profissionais da Estratégia Saúde da Família. Interface. 2020;24(Supl 1):e190634. doi: https://doi.org/10.1590/Interface.190634
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.Em relação a qualidade de vida, outro estudo encontrou que cerca de 22% dos profissionais de enfermagem da ESF apresentaram classificação para qualidade de vida de regular a muito ruim, com melhores escores nos domínios relações sociais e psicológico1414. Silva KG, Parreira PMSD, Soares SSS, Coropes VBAS, Souza NVDO, Farias SNP. Quality of life of nursing professionals working in the family health strategy. Rev Enf Ref. 2020;V(4):e20028. doi: https://doi.org/10.12707/RV20028
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Neste contexto, é fundamental a realização do diagnóstico situacional para subsidiar políticas organizacionais proativas visando a prevenção do adoecimento psíquico dos trabalhadores e melhora dos resultados em saúde dentro e fora de períodos pandêmicos.

Partindo do princípio de que a QVT pode configurar-se como um fator de proteção contra a Síndrome de Burnout, acredita-se que investigar este construto seja relevante para compreender essa relação, para poder utilizá-la como ferramenta pelos gestores de instituições de saúde para subsidiar a elaboração e adoção de estratégias para a construção de ambiente laboral que seja promotor da saúde dos trabalhadores da ESF, além de contribuir para melhor qualidade da assistência e maior produtividade.

Além disso, na literatura científica ainda há poucas pesquisas envolvendo a saúde dos trabalhadores da ESF, mais especificamente no período pandêmico e na região norte do Brasil. Se faz necessário o estudo e aprofundamento dos conhecimentos sobre a QVT e Síndrome de Burnout no intuito de buscar estratégias de aprimoramento das condições de saúde dos trabalhadores da ESF para a garantia do desempenho satisfatório de suas funções e eficaz aproveitamento das políticas de saúde da APS1515. Maganhoto AMS. Qualidade de vida no/do trabalho dos profissionais da estratégia de saúde da família [dissertação].Uberlândia: Universidade Federal de Uberlândia; 2021. doi: http://doi.org/10.14393/ufu.di.2021.672
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Considerando os dados descritos anteriormente, este estudo objetivou analisar a correlação entre qualidade de vida no trabalho e as dimensões do Burnout em trabalhadores da ESF.

MÉTODOS

Trata-se de um estudo correlacional, transversal, com abordagem quantitativa, executado por meio de amostragem não probabilística, por conveniência.

A pesquisa foi realizada no período pandêmico (COVID-19) de outubro de 2020 a junho de 2021 quando foram convidados todos os trabalhadores da ESF lotados nas 34 Unidades Básicas de Saúde (UBS) do município de Palmas (TO), distribuídas entre oito territórios de saúde.

As UBS abrigam as equipes da ESF, que atendem a população de áreas pré-determinadas. Dados do Ministério da Saúde sobre a cobertura da Atenção Básica à Saúde (ABS) indicam que Palmas (TO) possui 67 equipes de Estratégia Saúde da Família (ESF), com 461 agentes comunitários de saúde e agentes de endemias, 134 auxiliares/técnicos de enfermagem, 67 auxiliares/técnicos em saúde bucal, 67 cirurgiões dentista, 67 enfermeiros e 67 médicos, totalizando 863 trabalhadores. Estes proporcionam cobertura a 79,20% da população de 291.855 pessoas. A cobertura da ABS no município é de 100%1616. Ministério da Saúde (BR). Gabinete do Ministro. Portaria nº 2.436, de 21 de setembro de 2017. Aprova a Política Nacional de Atenção Básica, estabelecendo a revisão de diretrizes para a organização da Atenção Básica, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Diário Oficial União. 2017 set 22 [cited 2019 Jun 02];154(183 Seção 1):68-76. Available from: Available from: https://pesquisa.in.gov.br/imprensa/jsp/visualiza/index.jsp?data=22/09/2017&jornal=1&pagina=68&totalArquivos=120
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Participaram os trabalhadores que atenderam os seguintes critérios de inclusão: ser profissional da ESF e estar exercendo o seu trabalho presencialmente no período da coleta de dados. Foram excluídos três participantes que deixaram de responder mais de 20% das questões dos instrumentos de coleta de dados, no intuito de evitar interferência na análise dos dados.

A coleta de dados foi realizada após os trabalhadores da ESF serem convidados para participação, sendo fornecidas todas as informações pertinentes ao estudo. Aqueles que concordaram verbalmente em participar do estudo receberam um envelope contendo o instrumento de coleta de dados junto com duas vias do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Posteriormente, os pesquisadores retornaram para buscar os questionários preenchidos por até três vezes.

Para a coleta de dados foram utilizados o Questionário de Perfil dos Participantes da Pesquisa, o Questionário de avaliação da qualidade de vida no trabalho - QWLQ-brefe o Maslach Burnout Inventory - Human Services Survey (MBI-HSS).

O Quality of Working Life Questionnaire - QWLQ-bref, um modelo abreviado do questionário QWLQ-78, foi elaborado nos parâmetros do WHOQOL-100 da Organização Mundial de Saúde. Foi idealizado por quatro pesquisadores1717. Cheremeta M, Pedroso B, Pilatti LA, Kovaleski JL. Construção da versão abreviada do QWLQ-78: um instrumento de avaliação da qualidade de vida no trabalho. R Bras Qual Vida. 2011;03(1):01-15. doi: https://doi.org/10.3895/S2175-08582011000100001
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,sendo composto por 20 questões subdivididas em quatro domínios: Físico/Saúde, Psicológico, Pessoal e Profissional, com respostas baseadas na escala de Likert (com pontuação de 1 a 5), sendo que maiores pontuações nestes domínios indicam um maior nível de QVT.

Para avaliar a presença da Síndrome de Burnout foi utilizado o MBI-HSS, elaborado por Maslach e Jackson1818. Maslach C, Jackson SE. The measurement of experienced burnout. J OccupBehav. 1981;2(2):99-113. doi: https://doi.org/10.1002/job.4030020205
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e traduzido e validado para o português por Lautert1919. Lautert L. O desgaste do profissional enfermeiro [tese]. Salamanca: Universid Pontificia Salamanca; 1995 [cited 2019 Jun 02]. Available from: Available from: https://summa.upsa.es/viewer.vm?id=14014⟨=es
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. É constituído por 22 itens, distribuídos numa escala de 5 pontos, que varia de “nunca” (0) até “diariamente” (4). Avalia como é a vivência do trabalhador no seu trabalho, em três dimensões: Exaustão Emocional (EE), Despersonalização (DE) e Realização Profissional (RP). Pontuações elevadas nas dimensões Exaustão Emocional e Despersonalização, associadas à baixa pontuação na dimensão Realização Profissional indicam Burnout1919. Lautert L. O desgaste do profissional enfermeiro [tese]. Salamanca: Universid Pontificia Salamanca; 1995 [cited 2019 Jun 02]. Available from: Available from: https://summa.upsa.es/viewer.vm?id=14014⟨=es
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Os dados foram inseridos no Software Statistical Package for the Social Sciences for Windows (SPSS®) versão 22.0, com dupla digitação independente. Após a correção de erros e inconsistências, foram realizadas análises descritivas e inferenciais pertinentes ao estudo. Para análise das associações entre as dimensões dos construtos QVT e Síndrome de Burnout foi utilizado a correlação de Pearson. Considerou-se os valores das correlações entre 0,30 e 0,50 como moderada e acima de 0,50, forte2020. Ajzen I, Fishbein M. Understanding attitudes and predicting social behavior. Englewood Cliffs, New Jersey: Prentice Hall; 1980..

Os dados foram coletados após autorização da Comissão de Avaliação de Projetos de Pesquisa da Secretaria Municipal de Saúde de Palmas-TO e aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Tocantins (UFT) aprovado com Parecer nº 3.677.932 sob CAAE n° 21331419.3.0000.5519.

Após anuência, os participantes receberam uma via do TCLE, elaborado segundo os preceitos da Resolução 466/12.

RESULTADOS

A Tabela 1 apresenta a categorização do perfil dos participantes da pesquisa. Na totalidade, participaram 112 trabalhadores, com idade média de 39,71 anos (DP 9,34, com variação de 23 a 58 anos). Maioria é do sexo feminino (82,10%), metade são casados ou estão em união estável (50,00%), 90,18% declararam ser responsáveis totalmente ou parcialmente pelo sustento da família e mais da metade possui ensino superior completo ou pós-graduação(56,25%).

Sobre o cargo, a maior participação foi de agentes comunitários de saúde (ACS) (32,15%), seguidos pelos auxiliares ou técnicos de enfermagem (25,89%). Maior proporção (46,40%) dos trabalhadores possuem contrato de trabalho efetivo. Do total, 82,14% não possuem outro emprego. Quanto à realização frequente de atividades físicas ou de lazer, pouco mais da metade (53,57%) declarou realizá-las.

Quanto à renda pessoal mensal, a média foi de R$ 3.671,34 (equivalente a três salários mínimos), com salários declarados variando de R$ 1.100,00 a R$ 10.000,00 (DP R$ 2.221,79).

Tabela 1 -
Categorização do perfil dos trabalhadores da ESF. Palmas, Tocantins, Brasil, 2020/2021

A média de tempo de atuação na ESF foi de nove anos (DP 7,66 anos; mínimo 2 meses; máximo 22 anos), com uma média de horas trabalhadas por semana de 44,48 horas (DP 9,9; mínimo 24 horas; máximo 64 horas).

Verifica-se na Tabela 2 que as menores médias na avaliação da QVT foram atribuídas aos domínios Físico/Saúde (3,73) e Profissional (3,75), considerando pontuações de 1 a 5 na escala de Likert.

Tabela 2 -
Avaliação da Qualidade de Vida no Trabalho pelos trabalhadores da Estratégia Saúde da Família. Palmas, Tocantins, Brasil, 2020/2021

Na avaliação das dimensões de Burnout, considerando a escala de 0 a 4, a Despersonalização apresentou a menor média (0,80) e a Realização Profissional a maior (2,91) (Tabela 3). O Burnout é caracterizado por pontuação elevada nas dimensões Despersonalização e Exaustão Emocional e baixa na dimensão Realização Profissional1919. Lautert L. O desgaste do profissional enfermeiro [tese]. Salamanca: Universid Pontificia Salamanca; 1995 [cited 2019 Jun 02]. Available from: Available from: https://summa.upsa.es/viewer.vm?id=14014⟨=es
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Tabela 3 -
Avaliação das dimensões de Burnout pelos trabalhadores da Estratégia Saúde da Família. Palmas, Tocantins, Brasil,2020/2021

Na Tabela 4 verifica-se que ao correlacionar as dimensões de Burnout com os domínios da QVT identificou-se correlação negativa forte entre Exaustão Emocional e Físico/Saúde, Profissional e o Escore total de QVT. Todos os domínios da QVT tiveram correlação positiva forte com o Escore Total de QVT.

Também se verifica na Tabela 4, correlação negativa moderada entre Despersonalização e todos os domínios da QVT. A Realização Profissional apresentou correlação positiva moderada com os domínios Psicológico, Pessoal e com o Escore Total da QVT.

Tabela 4 -
Correlação entre os domínios da Qualidade de vida no Trabalho e as dimensões de Burnout em trabalhadores da ESF. Palmas, Tocantins, Brasil,2020/2021

DISCUSSÃO

Em relação à categorização demográfica da população participante deste estudo, grande parte dos trabalhadores da ESF são mulheres e uma parcela considerável são casadas e responsáveis pelo sustento da família, um perfil que se confirma em outras pesquisas brasileiras realizadas nos estados de Mato Grosso do Sul, Paraná, São Paulo2121. Sumiya A, Pavesi E, Macêdo JA, Farhat G, Trelha CS. Mudanças de hábitos de vida em trabalhadores da atenção primária durante a pandemia de COVID-19. J Manag Prim Health Care. 2020;12:1-13. doi: https://doi.org/10.14295/jmphc.v12.1106
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e Minas Gerais2222. Azevedo ARI. Estresse ocupacional de trabalhadores da atenção primária à saúde no contexto da pandemia COVID-19 [dissertação]. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais; 2022 [cited 2019 Jun 02]. Available from: Available from: http://hdl.handle.net/1843/41548
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. Este é um fator que pode influenciar positivamente na QVT, já que a família pode ser uma motivação para o trabalho, além de um ambiente familiar agradável poder proporcionar bem-estar e descanso para melhor desempenho no trabalho2323. Rautenbach C, Rothmann S. Antecedents of flourishing at work in a fast-moving consumer goods company. J Psychol Afr. 2017;27(3):227-34. doi: https://doi.org/10.1080/14330237.2017.1321846
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.

Outro estudo2424. Pantoja FGB, Silva MVS, Andrade MA, Santos AAS. Avaliação do burnout em trabalhadores de um hospital universitário do município de Belém (PA). Saúde Debate. 2017;41(spe2):200-14. doi: https://doi.org/10.1590/0103-11042017S217
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demonstrou que os trabalhadores casados tinham menor prevalência de Burnout comparado aos solteiros. Em contrapartida, o excesso de tarefas e dificuldade em conciliar as demandas profissionais e familiares, pode ser um fator desencadeante de estresse, exaustão física e emocional2525. Dalmolin GL, Possebon MR, Lanes TC, Shutz TC, Munhoz OL, Andolhe R. Estresse ocupacional e síndrome de burnout entre trabalhadores de saúde. Recien. 2022;12(37):67-77. doi: https://doi.org/10.24276/rrecien2022.12.37.67-77
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. Há evidências de que a dupla jornada de trabalho doméstico e profissional influencia negativamente na saúde mental e física das mulheres que trabalham na APS2626. Lua I, Almeida MMG, Araújo TMD, Soares JFS, Santos KOB. Autoavaliação negativa da saúde em trabalhadoras de enfermagem da atenção básica. Trab Educ Saúde. 2018;16(3):1301-19. doi: https://doi.org/10.1590/1981-7746-sol00160
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Mais de 40% dos participantes da pesquisa possuem contrato efetivo de trabalho, conferindo maior estabilidade financeira, como também maioria dos participantes não possuem outro vínculo empregatício, diferindo do encontrado em outros cenários2424. Pantoja FGB, Silva MVS, Andrade MA, Santos AAS. Avaliação do burnout em trabalhadores de um hospital universitário do município de Belém (PA). Saúde Debate. 2017;41(spe2):200-14. doi: https://doi.org/10.1590/0103-11042017S217
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, o que contribui para redução do desgaste físico e psicológico que levam ao Burnout2525. Dalmolin GL, Possebon MR, Lanes TC, Shutz TC, Munhoz OL, Andolhe R. Estresse ocupacional e síndrome de burnout entre trabalhadores de saúde. Recien. 2022;12(37):67-77. doi: https://doi.org/10.24276/rrecien2022.12.37.67-77
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.

A carga horária média de trabalho esteve em conformidade com outro estudo. Há evidências de que a carga horária excessiva contribui para um maior nível de estresse, desgaste físico e psicológico além de baixa realização profissional, contribuindo para o desenvolvimento de Burnout2727. Rocha RPS, Valim MD, Oliveira JLC, Ribeiro AC. Características do trabalho e estresse ocupacional entre enfermeiros hospitalares. Enferm Foco. 2019;10(5):51-7. doi: https://doi.org/10.21675/2357-707X.2019.v10.n5.2581
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.

Embora a média salarial dos participantes tenha sido relativamente baixa e com grande variação devido ao valor de remuneração discrepante entre as categorias profissionais na ESF, um estudo demonstrou que a média salarial alta está associada à maior prevalência de Burnout2424. Pantoja FGB, Silva MVS, Andrade MA, Santos AAS. Avaliação do burnout em trabalhadores de um hospital universitário do município de Belém (PA). Saúde Debate. 2017;41(spe2):200-14. doi: https://doi.org/10.1590/0103-11042017S217
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, visto que muitos trabalhadores no intuito de alcançarem melhores salários, recorrem a outros empregos2828. Lopes CCP, Ribeiro TP, Martinho NJ. Síndrome de Burnout e sua relação com a ausência de qualidade de vida no trabalho do enfermeiro. Enferm Foco. 2012;3(2):97-101. doi: https://doi.org/10.21675/2357-707X.2012.v3.n2.264
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, tendo que realizar mais horas de trabalho, sem horas de descanso e lazer.

Maioria dos profissionais declarou realizar atividades físicas e de lazer, sendo esta uma característica protetora de Burnout, pois há evidências de alta prevalência de Burnout em trabalhadores sedentários2929. Diniz LS. Prevalência da Síndrome de Burnout em trabalhadores da atenção primária à saúde e fatores associados [dissertação]. Viçosa: Universidade Federal de Viçosa; 2018 [cited 2019 Jun 02]. Available from: Available from: https://locus.ufv.br//handle/123456789/20729
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A correlação negativa forte entre a dimensão Exaustão Emocional de Burnout e os domínios Físico/Saúde, Profissional e o Escore total da QVT, indicam que quanto maior a exaustão emocional, menores foram os escores atribuídos para esses domínios da QVT.

Vale destacar que na avaliação da QVT, as menores médias foram atribuídas aos mesmos domínios, ou seja, Físico/Saúde, Profissional e Escore total. No período pandêmico, os profissionais da ESF tiveram que enfrentar desafios inerentes ao cenário atípico, tanto no campo familiar como profissional, acarretando em problemas emocionais e psíquicos1111. Oliveira GS, Monteiro LS, Carvalho MFAA, Freire AKS. Saúde mental em tempos da pandemia da COVID-19: concepções dos trabalhadores da atenção primaria a saúde. Res SocDev. 2020;9(10):e9449109339. doi: http://doi.org/10.33448/rsd-v9i10.9339
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, decorrentes muitas vezes da má qualidade do sono e do descanso, pela sobrecarga física e psicológica neste período pandêmico e em consequência por não se sentirem confortáveis no ambiente laboral com a mudança abrupta dos hábitos de vida, por terem que se afastar de seus familiares devido ao maior risco de infecção em que ficaram submetidos, pela falta de treinamento adequado e rápido para lidar com esse contexto e também o sentimento de impotência por terem que lidar com uma doença ainda um tanto desconhecida2121. Sumiya A, Pavesi E, Macêdo JA, Farhat G, Trelha CS. Mudanças de hábitos de vida em trabalhadores da atenção primária durante a pandemia de COVID-19. J Manag Prim Health Care. 2020;12:1-13. doi: https://doi.org/10.14295/jmphc.v12.1106
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. Fatores esses que contribuem para a maior exaustão emocional nesses profissionais, como ressaltado por outros estudos66. Orrù G, Marzetti F, Conversano C, Vagheggini G, Miccoli M, Ciaccini R, et al. Secondary traumatic stress and Burnout in healthcare workers during COVID-19 outbreak. Int J Environ Res Public Health. 2021;18(1):337. doi: https://doi.org/10.3390/ijerph18010337
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,77. Lasalvia A, Amaddeo F, Porru S, Carta A, Tardivo S, Bovo C, et al. Levels of burn-out among healthcare workers during the COVID-19 pandemic and their associated factors: a cross-sectional study in a tertiary hospital of a highly burdened area of north-east Italy. BMJ Open. 2021;11(1):e045127. doi: https://doi.org/10.1136/bmjopen-2020-045127
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Sobre a correlação negativa moderada entre Despersonalização e todos os domínios da QVT, verificou-se que quanto maior os escores atribuídos para QVT, menor despersonalização. A literatura evidencia que quanto mais o profissional permanece insatisfeito com o seu trabalho e não se sente bem, mais indiferença e distanciamento pode ter das pessoas no seu ambiente de trabalho levando até mesmo à desumanização do processo de cuidado e ao absenteísmo1111. Oliveira GS, Monteiro LS, Carvalho MFAA, Freire AKS. Saúde mental em tempos da pandemia da COVID-19: concepções dos trabalhadores da atenção primaria a saúde. Res SocDev. 2020;9(10):e9449109339. doi: http://doi.org/10.33448/rsd-v9i10.9339
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,3030. Santos HEC, Garcia GPA, Fracarolli IFL, Marziale MHP. Burnout, instabilidade no trabalho, distúrbios osteomusculares e absenteísmo em profissionais de saúde: revisão de escopo. Cienc Enferm. 2021;27:37. doi: https://doi.org/10.29393/CE27-37BIHM40037
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Nesse sentido, esta é uma condição perturbante, considerando que os profissionais da ESF prestam cuidado direto aos pacientes. Sabe-se que para garantir a qualidade desse cuidado, é imprescindível o estabelecimento de vínculoscom as famílias atendidas, objetivandoacolhimento devido e uma relação de confiança, tarefas essas que exigem do profissional da ESF determinada empatia e sensibilidade com os outros. O desenvolvimento dessas característicascostuma ser mais difícil em profissionais que sofrem dedespersonalização3131. Celestino LC. O trabalho do enfermeiro da Estratégia Saúde da Família: condições de trabalho, riscos psicossociais e estratégias de gerenciamento [dissertação]. Ribeirão Preto: Universidade de São Paulo; 2018. doi: https://doi.org/10.11606/d.22.2019.tde-27032019-164349
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Ademais, o profissional acometido por Burnout está mais propenso a apresentar dificuldades na relação com a equipe de trabalho, impactando negativamente na sua qualidade de vida3232. Ramos CEB, Farias JA, Costa MBS, Fonseca LCT. Impactos da Síndrome de Burnout na qualidade de vida dos profissionais de enfermagem da atenção básica à saúde. R Bras Ci Saúde. 2019;23(3):285-96. doi: https://doi.org/10.22478/ufpb.2317-6032.2019v23n3.43595
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A Realização Profissional apresentou correlação positiva moderada com os domínios Psicológico, Pessoal e com o Escore Total da QVT, indicando que quanto maior foi a pontuação para esses domínios, maior a realização profissional. Autores confirmam que o bem-estar psicológico e a felicidade no campo pessoal contribuem para melhor qualidade de vida, maior engajamento e automotivação para o trabalho3333. Sgarbossa M, Mozzato AR. Motivos que levam os trabalhadores ao florescimento no ambiente de trabalho: uma revisão integrativa da literatura. Rev Gesto. 2020;8(1):30-43. doi: http://doi.org/10.31512/gesto.v8i1.3424
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É importante ressaltar que o domínio Psicológico apresentou correlação positiva forte com o pessoal, profissional, além da QVT, assim como o domínio Profissional apresentou correlação positiva forte com Físico/Saúde, Psicológico e Pessoal. Ao considerar as dificuldades enfrentadas por esses profissionais no período pandêmico, com os medos decorrentes de contaminação pelo vírus e grande número de mortes até mesmo de parentes e amigos, essas correlações demonstram a relevância da saúde psicológica para a garantia da QVT. Como apresentado em estudo realizado na Indonésia3434. Sunjaya DK, Herawati DMD, Siregar AYM. Depressive, anxiety, and burnout symptoms on health care personnel at a month after COVID-19 outbreak in Indonesia. BMC Public Health. 2021;21(1):227. doi: https://doi.org/10.1186/s12889-021-10299-6
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, a incidência de sintomas de depressão, ansiedade e estresse entre os profissionais da saúde durante a pandemia, foi também um fator contribuinte para a incidência de sinais de Burnout.

A Exaustão Emocional apresentou correlação positiva forte com a Despersonalização, colaborando com o fortalecimento da premissa de que a Exaustão emocional leva à Despersonalização, por ser muitas vezes um mecanismo de defesa dos profissionais contra a exaustão emocional e baixa realização pessoal3535. Oliveira F, Feltrin SP, Nunes RZS, Vitali MM, Tuon L, Amboni G, et al. Qualidade de vida no trabalho e Burnout em equipes de Estratégia Saúde da Família. Mundo Saúde. 2020;44:475-85. doi: https://doi.org/10.15343/0104-7809.202044475485
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. Assim faz-se necessário intervir nos aspectos que levam a Exaustão emocional com intuito de prevenir a despersonalização e proteger a saúde dos trabalhadores e a qualidade do serviço oferecido por esses à comunidade.

Dentre as limitações do estudo, estão a dificuldade de coleta de dados presencialmente durante o período pandêmico, devido a restrições sanitárias e sobrecarga de trabalho dos profissionais de saúde prejudicando o número de participações, além do tipo de método que não permite estabelecer causalidade. Vale destacar a possibilidade de viés devido aos participantes serem constituídos apenas de trabalhadores ativos, não conseguindo alcançar os afastados do contexto laboral, inclusive por consequências na saúde física e psíquica.

Os resultados desta pesquisa podem contribuir na prática, por demonstrar a importância da realização de um diagnóstico sobre a QVT e Burnout nos trabalhadores da ESF, buscando identificar os nós críticos para intervenção de forma a prevenir o adoecimento psíquico, subsidiando a tomada de decisão em relação às condições de trabalho tanto no contexto pandêmico como no dia a dia.

CONCLUSÃO

Em meio ao enfrentamento de uma pandemia, os resultados do presente estudo apontam correlação entre QVT e Burnout nos trabalhadores da ESF, onde melhores índices de QVT estiveram relacionados a menores escores na Exaustão Emocional, Despersonalização e maiores escores de Realização Profissional.

Além disso, a correlação forte entre exaustão emocional e despersonalização, ambas características de Burnout, explicitam a importância da QVT para menores índices dessa síndrome. Soma-se a isso, a importância da QVT para a qualidade da prestação dos cuidados no contexto da ESF com menos profissionais acometidos pela exaustão emocional e despersonalização.

Assim, a partir do diagnóstico identificado, destaca-se a necessidade de desenvolvimento de estratégias e ações pelos gestores locais a fim de garantir melhores condições de trabalho para superação, buscando melhor qualidade de vida no trabalho e menores chances de adoecimento por Burnout.

Agradecimentos:

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ-Brasil) pelas bolsas de iniciação científica para as coautoras Viviane Reis Nunes e Bianca Guimarães Lima.

À Universidade Federal do Tocantins (UFT) pela bolsa ao coautor Mateus Portilho Pires por meio do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC-UFT).

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Editado por

Editor associado:

Rosana Maffacciolli

Editor-chefe:

João Lucas Campos de Oliveira

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Jul 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    10 Set 2022
  • Aceito
    23 Dez 2022
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