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Uma estratégia de ensino inspirada em Lakatos com instrução de racionalidade por uma reconstrução racional didática

A teaching strategy inspired in Lakatos with rationality instruction trough a rational didactical reconstruction

Resumo:

O desenvolvimento de estratégias para o ensino de conceitos científicos por inspiração na filosofia da ciência tem sido objeto de vários estudos na área de Educação em Ciências. Com base em alguns desses trabalhos, esta pesquisa estrutura uma proposta de estratégia para o ensino de Física que inclui a Reconstrução Racional Didática (RRD) com visão filosófica implícita inspirada na epistemologia e reconstrução racional de Lakatos. A inclusão da RRD como um passo específico de uma estratégia de ensino lakatosiana tem a intenção de exemplificar situações racionais de comparação de teorias rivais e, com isso, preparar o aluno para posteriores debates entre concepções rivais alternativas e científicas de modo a auxiliar o aprendizado destas últimas.

Palavras-chave:
ensino de física; estratégias racionais de ensino; analogia; história e filosofia da ciência.

Abstract:

The development of scientific concepts teaching strategies inspirited in the philosophy of science has been object of various studies in Science Education. Based on some of these studies, this research structures a physics teaching strategy proposal which includes a Didactical Rational Reconstruction (DRR) with a implicit philosophical view inspired in the Lakatos' epistemology and rational reconstruction. The inclusion of the DRR as a specific step of a Lakatosian teaching strategy has the intention to exemplify rational situations comparing rival theories and, with that, preparing the student for further debates between alternative and scientific rival theories in order to help the learning of the last ones.

Keywords:
physics teaching; teaching rational strategies; analogy; history and philosophy of science.

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  • I
    As teorias filosófico/epistemológicas acerca da racionalidade diferem no papel atribuído ao julgamento baseado em argumentação racional, em que a noção de regras tem sido um assunto de intenso escrutínio filosófico. Brown (1994, 2006) vem defendendo o modelo de julgamento de racionalidade de Reiner (1994) e Siegel (2004), ao passo que Siegel (ibid.) propõe um modelo híbrido de racionalidade. Não se pretende aqui aprofundar discussões teóricas nesse sentido, mas, ao se inspirar no critério racional (universal e atemporal - que será explicitado na seção da apresentação desta estratégia) latatosiano de avaliação e escolha entre programas de pesquisa rivais para auxiliar a educação racional de conceitos científicos, pode-se dizer que a estratégia aqui proposta tende para o modelo clássico de racionalidade. Por modelos clássicos de racionalidade entende-se o modelo adotado pelos neo-positivistas e por Popper, em que a razão se apóia em regras atemporais e, em última instância, explicitáveis (Assis, 1993). É preciso dizer que, embora o modelo clássico de racionalidade tenha sido altamente criticado por desconsiderar o papel do julgamento na argumentação racional, a necessidade da conformidade com regras daquele modelo é resgatada no recente modelo híbrido de Siegel (2004, p. 609). Isso porque ele admite que "a racionalidade é satisfazer critério(s), é normativa pelo menos em certa extensão, e mostra o que é merecedor de convicção, ou decisão, ou ação ", e defende que a racionalidade é uma "função de razões, critérios, consistência e (assim) regras ". Esse modelo de Siegel (ibid.) é discordante daqueles de teóricos como Govier (apud Siegel 2004) que, na defesa do modelo de julgamento de Brown (1994), entende que "somente cumprir regras universais não é a racionalidade ". Desse impasse teórico, portanto, nada impede o entendimento de que o ensino racional seja aquele em que se estabeleça um aprimoramento do conhecimento de lógica (em que haja a conformidade com critérios e regras) nos alunos para auxiliá-los na maneira como eles aprendem os conteúdos científicos estudados.
  • II
    O programa de pesquisa de Newton, por exemplo, continha em seu "núcleo" as três leis do movimento e a Lei da Gravitação Universal.
  • III
    Capacidade de um programa de pesquisa em antecipar teoricamente fatos novos, como, também, recém interpretados em seu crescimento. É interessante dizer que um fato novo pode ser um fato improvável, ou mesmo proibido por outra teoria rival (Lakatos, 1970, p. 142).
  • IV
    Para Lakatos (1971, p. 105), a história interna ou reconstrução racional prevalece sobre a história externa porque a maioria dos problemas importantes da história externa se define mediante a história interna.
  • V
    Lakatos afirma que um dos mais interessantes problemas da história externa é especificar as condições psicológicas e, certamente, sociais que são necessárias para tornar possível o progresso científico. No entanto, ele critica que elas nunca são suficientes, pelo fato de que na simples formulação do problema "externo" é preciso que se inclua alguma teoria metodológica, alguma definição de ciência. Assim, a história da ciência é uma história de acontecimentos que são selecionados e interpretados de uma maneira normativa.
  • VI
    Apresentada em seguida.
  • VII
    Visto que nesta ocasião não se propõe a apresentação explícita da Filosofia de Lakatos em sala de aula. A inclusão filosófica ocorre em limites e, acima de tudo, implícita nas discussões.
  • VIII

    Mais especificamente, uma série de teorias. Ou na maior definição, um autêntico programa de pesquisa.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jun 2008

Histórico

  • Recebido
    27 Abr 2007
  • Aceito
    03 Out 2007
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