Significações de professores de ciências a respeito do livro didático

Cassab, Mariana; Martins, Isabel

doi:10.1590/1983-21172008100108

Resumo:

A partir da contribuição teórico-metodológica da análise de discurso francesa investigamos os sentidos que professores de ciências atribuem ao livro didático em um contexto de escolha do material, compreendendo estas significações na relação com o discurso da política do livro didático e da formação docente. Concluímos que são plurais os sentidos atribuídos a um mesmo critério de seleção do material didático, assim como para diferentes critérios, entrelaçando-se nos processos de significação diversas imagens de aluno e ensino. Considerações a respeito da natureza da ciência e veiculação nos livros de preconceitos e doutrinação religiosa se calam no discurso do professor e igualmente constituem suas significações a respeito do livro.

Palavras-Chave:
livro didático; análise do discurso; ensino de ciências.

Abstract:

This research investigates meanings constructed by a group of science teachers about the textbook in the context of group discussions focusing on the selection of materials for classroom use. Based upon French Discourse Analysis we establish relationships between meanings made and the discourses about textbook policies and teacher training. Our analyses show that meanings are constituted with reference to images of students and images of teaching held by the teachers. Such meanings are plural and yet influenced by the illusion of a direct relationship between thought, world and language. Issues concerning the nature of science and the expression of prejudices or religious indoctrination in textbooks are absent in teachers' discourse and are equally constitutive of meanings made.

Key-Words:
textbook; discourse analysis; science education

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

AMARAL, I. A.; MEGID-NETO, J.; FRACALANZA, H.; AMORIM, A. C. R.; SERRÃO, S. M. Avaliando livros didáticos de Ciências. Análise de coleções didáticas de Ciências de 5^a a 8^a séries do Ensino Fundamental. In: Hilário Fracalanza e Jorge Megid-Neto. (Org.). O Livro Didático de Ciências no Brasil. 1 ed. Campinas: Komedi e Faculdade de Educação da Unicamp, 2006, v. 1, p. 197-216.
ARAUJO, W. et al(2001) Análise das imagens em LDs de ciências. 13^o Congresso de Leitura do Brasil. 2001.
BOURDIEU, P. A Leitura uma prática cultural: debate entre Pierre Bourdieu e Roger Chartier. In: CHARTIER, R. Práticas de leitura São Paulo: Estação Liberdade, 1996.
BRANDÃO, H. Introdução à análise do discurso. Campinas, Editora da UNICAMP, 2002.
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: introdução aos parâmetros curriculares nacionais. Brasília, DF: MEC/SEF, 1998.
CARDOSO, S. Discurso e Ensino Belo Horizonte, Autêntica, 1999.
CARNEIRO, M. As imagens no LD. In: Encontro Nacional de Pesquisa em Ensino e Ciências, I, 1997, Águas de Lindóia, SP. Atas: Pág 366-373.(1997)
DIAS, C. Grupo focal: técnica de coleta de dados em pesquisas qualitativas. Informações & Sociedade, v. 10. n.02, 2000.
EDWARDS, D. e MENCER, N. Common Knowledge: the development of understanding in the classroom. London, Routledge, 1987.
FERREIRA, M. Nas trilhas do discurso: A propósito de leitura, sentido e interpretação. In: ORLANDI, E. (Org.). A leitura e os leitores Campinas, Pontes, 1999.
FERREIRA, M. S.; SELLES, S. E. Análise de Livros Didáticos em Ciências: entre as Ciências de Referência e as Finalidades Sociais da Escolarização.. Educação em Foco, Juiz de Fora, v. 8, n. I e II, p. 63-78, 2004.
GRIGOLETTO, M. Leitura e funcionamento do livro didático. In: CORACINI, M. (org.). Interpretação, autoria e legitimação do livro didático Campinas, SP, Pontes, 1999.
HALLIDAY, M. e MARTIN, J. Things and relations: regrammaticising experience as technical knowledge. In: MARTIN e ROBERT VELL. Reading sience: critical and functional perspective on discourses of science London, Routledge, 1998.
HICKS, D. Discurse, learning and teaching. Review of research in education 21, 49-95, 1996.
INDURSKY, F. e LEANDRO FERREIRA, M.C. Michel Pêcheux e a Análise do Discurso: uma relação de nunca acabar. São Carlos, Claraluz, 2005.
KONDER, L. A questão da Ideologia São Paulo, Companhia das Letras, 2002.
KRASILCHIK, M. Reformas e realidade: O caso do ensino de ciências. São Paulo em Perspectiva; 14 (1). 2000.
LIBÂNEO, J.C. Tendências pedagógicas na prática escolar. Revista da ANDES, v.03, n. 06. p 11-19, 1983.
LEMKE, J. Multiplying meaning: visual and verbal semiotics in scientific text. In: Martin, J. e Vell, R. (Eds). Reading Science London, Routledge, 1998.
MACEDO, E. Ciência, tecnologia e desenvolvimento: Uma visão cultural do currículo de ciências. In: LOPES, A. C. e MACEDO, E. (orgs.). Currículo de ciências em debateCampinas. Papirus, 119-152, 2004.
MACHADO, A. Aula de Química: discurso e conhecimento Ijuí; Editora da Unijuí, 1999.
MALDIDIER, D. A inquietação do discurso: (re) ler Michel Pêcheux hoje. Campinas, Pontes, 2003.
MARTIN, J. Literacy in Science: Learning to Handle text as technology. In: Halliday, M. e Martin J. (org.). Writing Science London, The Falmer Press, 1993.
MARTINS, I. et al (2001) Imagens em textos didáticos de ciências para o ensino fundamental. In: Encontro Regional de Ensino de Biologia, I, 2001, Niterói. Anais Pág 262-263.
MARTINS, I. Analisando livros didáticos na perspectiva dos Estudos do Discurso: compartilhando reflexões e sugerindo uma agenda para a pesquisa. Pró-posições vol. 17, n. 1(49), 117-136, jan./abr. 2006.
MORTIMER, E. e MACHADO, A.Sobre chamas e cristais: a linguagem cotidiana, a linguagem científica e o ensino de ciências. In: CHASSOT, A. e OLIVEIRA, R. (Org). Ciência, ética e cultura na educação São Leopoldo, Ed. UNISINOS, 1998.
ORLANDI, E. Discurso, imaginário social e conhecimento. Em Aberto Brasília, ano14, n. 61, jan.-mar, 1994.
ORLANDI, E. Interpretação. Autoria, leitura e efeitos do trabalho simbólico. Petrópolis, Vozes, 1996.
ORLANDI, E. A linguagem e seu funcionamento: As formas do discurso. Campinas, Pontes, 1996.
ORLANDI, E. Análise de discurso: Princípios e Procedimentos. São Paulo, Pontes, 1999.
ORLANDI, E. A AD e seus entremeios: notas a sua história no Brasil. In: Cad.Est.Ling. Campinas, (42):21-40, jan./jun.2002.
PFEIFFER, C. O leitor no contexto escolar. In: ORLANDI, E. (Org ).. A leitura e os leitores Campinas, Pontes, 1999.
PINTO, M. Comunicação e discurso: Introdução à Análise de Discurso São Paulo, Hacker Editores, 1999.
SCHNETZLER, R. O professor de ciências: problemas e tendências de sua formação. In: SCHNETZLER, R. e ARAGÃO, R. (org.). Ensino de ciências: fundamentos e abordagens CAPES-UNIMEP, 2000.
SELLES, S. E.; FERREIRA, M. S. Influências histórico-culturais nas representações sobre as estações do ano em livros didáticos de Ciências. Ciência & educação, Bauru, SP., v. 10, n. 1, p. 101-110, 2004.
SILVA, H. Discursos escolares sobre gravitação newtoniana: textos e imagens na física do ensino médio. Campinas, 2002. Tese (Doutorado em Educação) - UNICAMPI.(2002)
SMOLKA, A.L.B. Construção de conhecimento e produção de sentidos nas relações de ensino. In: Almeida, M. J. e Silva, H. (org). Textos de palestras e sessões temáticas: III Encontro de Linguagens, Leituras e Ensino de Ciências. Graf. FE/UNICAMPI. Campinas: SP, 2000.
SOUZA, D. Autoridade, autoria e livro didático. In: CORACINI, M. (org.). Interpretação, autoria e legitimação do livro didático Campinas, SP, Pontes, 1999.

3
No universo dos 10 professores, que preencheram fichas de caracterização distribuídas durante o grupo focal, nove são formados no curso de ciências biológicas e 01 no extinto curso de história natural. O total de cinco docentes finalizou o curso durante a década de 70, quatro durante a década de 80 e apenas um professor no final da década de 60. Eles apresentam em média 24 anos de docência, sendo que o professor que apresenta o maior tempo de exercício de profissional já leciona há 37 anos e o professor que apresenta o menor tempo de docência, leciona há 12 anos. A carga horária destes professores é, em média, 34 horas/aula. A maior carga horária é de 51 horas/aula e a menor 24 horas/aula. Oito participantes já haviam participado de pelo menos um curso de formação continuada.

Datas de Publicação

Publicação nesta coleção
Jun 2008

Histórico

Recebido
24 Jan 2007
Aceito
22 Ago 2007

This is an open-access article distributed under the terms of the Creative Commons Attribution License

[1] AMARAL, I. A.; MEGID-NETO, J.; FRACALANZA, H.; AMORIM, A. C. R.; SERRÃO, S. M. Avaliando livros didáticos de Ciências. Análise de coleções didáticas de Ciências de 5^a a 8^a séries do Ensino Fundamental. In: Hilário Fracalanza e Jorge Megid-Neto. (Org.). O Livro Didático de Ciências no Brasil. 1 ed. Campinas: Komedi e Faculdade de Educação da Unicamp, 2006, v. 1, p. 197-216.

[2] ARAUJO, W. et al(2001) Análise das imagens em LDs de ciências. 13^o Congresso de Leitura do Brasil. 2001.

[3] BOURDIEU, P. A Leitura uma prática cultural: debate entre Pierre Bourdieu e Roger Chartier. In: CHARTIER, R. Práticas de leitura São Paulo: Estação Liberdade, 1996.

[4] BRANDÃO, H. Introdução à análise do discurso. Campinas, Editora da UNICAMP, 2002.

[5] BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: introdução aos parâmetros curriculares nacionais. Brasília, DF: MEC/SEF, 1998.

[6] CARDOSO, S. Discurso e Ensino Belo Horizonte, Autêntica, 1999.

[7] CARNEIRO, M. As imagens no LD. In: Encontro Nacional de Pesquisa em Ensino e Ciências, I, 1997, Águas de Lindóia, SP. Atas: Pág 366-373.(1997)

[8] DIAS, C. Grupo focal: técnica de coleta de dados em pesquisas qualitativas. Informações & Sociedade, v. 10. n.02, 2000.

[9] EDWARDS, D. e MENCER, N. Common Knowledge: the development of understanding in the classroom. London, Routledge, 1987.

[10] FERREIRA, M. Nas trilhas do discurso: A propósito de leitura, sentido e interpretação. In: ORLANDI, E. (Org.). A leitura e os leitores Campinas, Pontes, 1999.

[11] FERREIRA, M. S.; SELLES, S. E. Análise de Livros Didáticos em Ciências: entre as Ciências de Referência e as Finalidades Sociais da Escolarização.. Educação em Foco, Juiz de Fora, v. 8, n. I e II, p. 63-78, 2004.

[12] GRIGOLETTO, M. Leitura e funcionamento do livro didático. In: CORACINI, M. (org.). Interpretação, autoria e legitimação do livro didático Campinas, SP, Pontes, 1999.

[13] HALLIDAY, M. e MARTIN, J. Things and relations: regrammaticising experience as technical knowledge. In: MARTIN e ROBERT VELL. Reading sience: critical and functional perspective on discourses of science London, Routledge, 1998.

[14] HICKS, D. Discurse, learning and teaching. Review of research in education 21, 49-95, 1996.

[15] INDURSKY, F. e LEANDRO FERREIRA, M.C. Michel Pêcheux e a Análise do Discurso: uma relação de nunca acabar. São Carlos, Claraluz, 2005.

[16] KONDER, L. A questão da Ideologia São Paulo, Companhia das Letras, 2002.

[17] KRASILCHIK, M. Reformas e realidade: O caso do ensino de ciências. São Paulo em Perspectiva; 14 (1). 2000.

[18] LIBÂNEO, J.C. Tendências pedagógicas na prática escolar. Revista da ANDES, v.03, n. 06. p 11-19, 1983.

[19] LEMKE, J. Multiplying meaning: visual and verbal semiotics in scientific text. In: Martin, J. e Vell, R. (Eds). Reading Science London, Routledge, 1998.

[20] MACEDO, E. Ciência, tecnologia e desenvolvimento: Uma visão cultural do currículo de ciências. In: LOPES, A. C. e MACEDO, E. (orgs.). Currículo de ciências em debateCampinas. Papirus, 119-152, 2004.

[21] MACHADO, A. Aula de Química: discurso e conhecimento Ijuí; Editora da Unijuí, 1999.

[22] MALDIDIER, D. A inquietação do discurso: (re) ler Michel Pêcheux hoje. Campinas, Pontes, 2003.

[23] MARTIN, J. Literacy in Science: Learning to Handle text as technology. In: Halliday, M. e Martin J. (org.). Writing Science London, The Falmer Press, 1993.

[24] MARTINS, I. et al (2001) Imagens em textos didáticos de ciências para o ensino fundamental. In: Encontro Regional de Ensino de Biologia, I, 2001, Niterói. Anais Pág 262-263.

[25] MARTINS, I. Analisando livros didáticos na perspectiva dos Estudos do Discurso: compartilhando reflexões e sugerindo uma agenda para a pesquisa. Pró-posições vol. 17, n. 1(49), 117-136, jan./abr. 2006.

[26] MORTIMER, E. e MACHADO, A.Sobre chamas e cristais: a linguagem cotidiana, a linguagem científica e o ensino de ciências. In: CHASSOT, A. e OLIVEIRA, R. (Org). Ciência, ética e cultura na educação São Leopoldo, Ed. UNISINOS, 1998.

[27] ORLANDI, E. Discurso, imaginário social e conhecimento. Em Aberto Brasília, ano14, n. 61, jan.-mar, 1994.

[28] ORLANDI, E. Interpretação. Autoria, leitura e efeitos do trabalho simbólico. Petrópolis, Vozes, 1996.

[29] ORLANDI, E. A linguagem e seu funcionamento: As formas do discurso. Campinas, Pontes, 1996.

[30] ORLANDI, E. Análise de discurso: Princípios e Procedimentos. São Paulo, Pontes, 1999.

[31] ORLANDI, E. A AD e seus entremeios: notas a sua história no Brasil. In: Cad.Est.Ling. Campinas, (42):21-40, jan./jun.2002.

[32] PFEIFFER, C. O leitor no contexto escolar. In: ORLANDI, E. (Org ).. A leitura e os leitores Campinas, Pontes, 1999.

[33] PINTO, M. Comunicação e discurso: Introdução à Análise de Discurso São Paulo, Hacker Editores, 1999.

[34] SCHNETZLER, R. O professor de ciências: problemas e tendências de sua formação. In: SCHNETZLER, R. e ARAGÃO, R. (org.). Ensino de ciências: fundamentos e abordagens CAPES-UNIMEP, 2000.

[35] SELLES, S. E.; FERREIRA, M. S. Influências histórico-culturais nas representações sobre as estações do ano em livros didáticos de Ciências. Ciência & educação, Bauru, SP., v. 10, n. 1, p. 101-110, 2004.

[36] SILVA, H. Discursos escolares sobre gravitação newtoniana: textos e imagens na física do ensino médio. Campinas, 2002. Tese (Doutorado em Educação) - UNICAMPI.(2002)

[37] SMOLKA, A.L.B. Construção de conhecimento e produção de sentidos nas relações de ensino. In: Almeida, M. J. e Silva, H. (org). Textos de palestras e sessões temáticas: III Encontro de Linguagens, Leituras e Ensino de Ciências. Graf. FE/UNICAMPI. Campinas: SP, 2000.

[38] SOUZA, D. Autoridade, autoria e livro didático. In: CORACINI, M. (org.). Interpretação, autoria e legitimação do livro didático Campinas, SP, Pontes, 1999.

Brasil