Acessibilidade / Reportar erro

ALFABETIZAÇÃO CIENTÍFICA NO CLUBE DE CIÊNCIAS DO ENSINO FUNDAMENTAL: UMA QUESTÃO DE INSCRIÇÃO1 1 Este trabalho foi originalmente apresentado no V Congresso Internacional de Educação. São Leopoldo, UNISINOS, 2007.

SCIENTIFIC LITERACY AT A SCIENCE CLUB OF ELEMENTARY SCHOOL: A MATTER OF INSCRIPTION

Resumos

Neste trabalho são apresentadas algumas reflexões acerca do processo de alfabetização científica em atividades práticas de um clubinho de ciências. A questão que motivou a pesquisa foi: Quais mediações arti culam a alfabetização científica e a realidade das coisas? A perspectiva teó rico-metodológica valeu-se do conceito latouriano de inscrição e da pers pectiva etnográfica não moderna. A análise foi desenvolvida em duas eta pas: A) uma descrição considerando o efeito da exposição visual como ins crição direta, que mantém dicotomizadas as concepções de natureza e conhecimento; B) levando-se em conta as mediações que se articulam como inscrição para tornar possível um conhecimento científico específi co. Finalizamos propondo que a realidade existe quando a inscrição torna inseparáveis os meios que produzem do que é produzido, segundo um maneirismo particular.

Alfabetização científica; inscrição; clubinho de ciências


This article shows some reflections about the scientific litera cy process in practical work at a science club. The question that motivat ed the research was: What kind of intervention articulates the scientific literacy and the reality? The perspective of this work was based in Latour's concept of inscription and a non-modern ethnographic perspective. The analysis happened in two stages: A) a description considering that the effect of a visual exhibition as direct inscription, keeps the nature and knowledge conceptions separate; B) by considering the interventions that are articulated as inscriptions to enable a specific scientific knowledge. We finalize the article proposing that the reality exists when the inscription makes inseparable the means that produce from what is produced, according to a particular way.

Scientific literacy; inscription; science club


Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

  • ADLER, P A.; ADLER, P. Observational techniques. In: DENZIN, N. K., LINCOLN, Y S. (Ed.). Handbook of qualitative research. Thousand Oaks: Sage, 1994. p. 377-392.
  • BONDÍA, J. L. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, n. 19, p. 20-28, jan./abr., 2002.
  • CALDEIRA, T. P. R. A presença do autor e a pós-modernidade em antropologia. Novos Estudos: Rio de Janeiro, v. 21, p. 133-157, 1988.
  • CEPEDA, A. H. A conexão racional: ruptura e associação na construção da objetividade das Ciências Sociais. 2000. 159 f. Tese (Doutorado em Sociologia) - Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.
  • COLLINS, E.; GREEN, J. Learning in classroom settings: making or breaking a culture. In: MAR SHALL, H. (Ed.). Redefining student learning: roots of educational restructuring. Norwood: Ablex, p. 59-85.{s.d.}
  • COSTA, M. V. A escola tem futuro? Rio de Janeiro: DP&A, 2003.
  • DERRIDA, J. Gramatologia. 2a ed. São Paulo: Perspectiva, 1999.
  • GIROUX, H. A. Praticando estudos culturais nas faculdades de educação. In: SILVA, T. T. (Org.). Alienígenas na sala de aula. Petrópolis: Vozes, 1995. p. 85-103.
  • GOTTSCHALK, S. Postmodern sensibilities and ethnographic possibilities. In: BANKS, A.; BANKS, S. Fiction and social research. London: Sage, 1998. p. 206-226.
  • GRAUE, M. E.; WALSH, D. J. Investigação etnográfica com crianças: teorias, métodos e ética. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2003.
  • KNORR-CETINA, K. D. The manufacture of knowledge: an essay on the constructivist and contex tual nature of science. New York: Pergamon Press, 1981.
  • KROPF, S. P.; FERREIRA, L. O. A prática da Ciência: uma etnografia no laboratório. História, Ciências, Saúde - Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 4, n. 3, p. 589-597, nov. 1997.
  • LARROSA, J. Tecnologias do Eu e educação. In: SILVA, T. T. (Org.). O sujeito da educação: estudos foucaultianos. Petrópolis: Vozes, 1994. p. 35-87.
  • LATOUR, B. Ciência em ação: como seguir cientistas e engenheiros sociedade afora. São Paulo: UNESP, 2000.
  • LATOUR, B. Give me a laboratory and I will raise the world. In: MULKAY, M.; KNORR-CETINA, K. (Ed.). Science observed:perspectives on the study of science. London: Sage, 1983. p. 141-170.
  • LATOUR, B. Jamais fomos modernos. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1994.
  • LATOUR, B. L'Anthropologie des sciences. Culture Technique, Paris, v. 14, p. 4-9. 1985.
  • LATOUR, B. Pasteur on lactic acid yeast: a partial semiotic analysis. Configurations, v. 1, n. 1, p. 129-146, 1993.
  • LATOUR, B. A esperança de pandora: ensaios sobre a realidade dos estudos científicos. Bauru: EDUSC, 2001.
  • LATOUR, B.; WOOLGAR, S. A vida de laboratório: a produção dos fatos científicos. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1997.
  • LAW, J. Notes on the theory of actor-network: ordering, strategy and heterogeneity. Systems Practice, v. 5, n. 4, p. 379-393, 1992.
  • LENOIR, T. A ciência produzindo a natureza: o museu de história naturalizada. Epistéme, Porto Alegre, v. 2, n. 4, p. 55-72, 1997.
  • LENOIR, T. Instituindo a Ciência: A produção cultural das disciplinas científicas. São Leopoldo: UNISINOS, 2004.
  • McROBBIE, A. Pós-marxismo e estudos culturais. In: SILVA, T. T. (Org.).. Alienígenas na sala de aula Petrópolis: Vozes, 1995. p. 39-60.
  • OLIVEIRA, M. A. O laboratório didático de química: uma micronarrativa etnográfica pela ótica do conceito de articulação. Ciência & Educação. São Paulo, v. 14, p. 101-114, 2008.
  • RUIZ, M. D. Trivialidade e transcendência, usos sociais e políticos do turismo cultural. In: LAR ROSA, J.; SKLIAR, C. (Org.). Habitantes de babel: política e poéticas da diferença. Belo Horizonte: Autêntica, 2001. p. 163-185.
  • SERRES, M. Luzes: cinco entrevistas com Bruno Latour. São Paulo: Unimarco, 1999.
  • SILVA, T. T. O currículo como fetiche: a poética e a política do texto curricular. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.
  • SOARES, M. Letramento e alfabetização: as muitas facetas.. Revista Brasileira de Educação Rio de Janeiro, n. 25, p. 5-17, jan./fev./mar./abr. 2004.
  • STREET, B. What's "new" in new literacy studies? Critical approaches to literacy in theory and practice. Current issues in comparative education. New York, v. 5, n. 2, may, 2003.
  • WOLLACE, S. Towards a symmetric (social-material) ethnography: theorizing innovation and conservation practices in health care. In: SOCIETY FOR SOCIAL STUDIES OF SCIENCE AND EUROPEAN ASSOCIATION FOR THE STUDY OF SCIENCE AND TECHNOLO GY Conference, 2004, Paris. Anais eletrônicos... Paris, 2004
  • WORTMANN, M. L. C.; VEIGA-NETO, A. Estudos culturais da ciência & educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2001.
  • 1
    Este trabalho foi originalmente apresentado no V Congresso Internacional de Educação. São Leopoldo, UNISINOS, 2007.
  • 2
    A representação como uma forma de alfabetização científica, distingue-se neste trabalho de estu dos, acerca da imagem da ciência, em termos de inscrição, ou seja, como registros que possam ser imediatamente utilizados em outros registros. Silva (2003, p. 53) diz que as "duas noções começam a se separar [...], na medida em que a noção de imagem está inscrita numa epistemologia realista. O conceito de imagem está ligado aos de imitação, reprodução, mimese, reflexo, analogia, ícone. Todos eles expressando alguma forma de conexão intrínseca, necessária - uma correspondência - entre a imagem e a realidade que ela supostamente reflete, reproduz, imita [...] o real nunca é ques tionado como sendo, ele próprio, um produto da representação. Em contraste, a noção de repre sentação, tal como utilizada na análise cultural, está centrada nos aspectos de construção e de pro dução das práticas de significação. A imagem reflete a realidade; a imagem "é" a realidade. (isto é: a realidade que importa)".
  • 3
    Discuto o problema da inscrição como estando por trás da produção dos fatos científicos em Oliveira (2008).
  • 4
    O nome da atuante foi alterado. A expressão atuante tem importância neste trabalho, por pro porcionar que humanos e não-humanos sejam simetricamente considerados nos exames das prá ticas laboratoriais. Dentro de uma rede de relações os atuantes estão inscritos por métodos de tra dução e autorizados a representar ou utilizar as articulações singulares da rede da qual fazem parte. Na concepção de Latour o ator só pode ser entendido por intermédio de sua atuação, ou seja quando outros atores da rede são "modificados, perturbados ou criados pela personagem em apre ço" (LATOUR, 2001, p. 143).
  • 5
    Diz Latour que um "dispositivo de inscrição é qualquer estrutura - sejam quais forem seu tama nho, sua natureza e seu custo - que possibilite uma exposição visual de qualquer tipo" em uma situação de prática de laboratório. Não são quaisquer instrumentos que são capazes de produzir a inscrição, e também não se pode definir apriori quais serão estes instrumentos; a natureza da ins crição está implicada nas articulações possíveis no interior de uma prática específica (LATOUR, 2000, p. 112).
  • 6
    Filme: Austin Powers: O Espião Irresistível. Realizado por Jay Roach, EUA, 1999, Cor - 95 min. Com: Mike Myers, Heather Graham e Michael York.
  • 7
    Tomarei o conceito de letramento como indissociável do conceito de alfabetização, conforme o que preconiza Soares (2004).
  • 8
    Moisés Alves de Oliveira - Doutor em Educação pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). Professor do Departamento de Química/Programa de Pós- Graduação em Ensino de Ciências e Educação Matemática/Grupo de Pesquisa em Estudos Culturais das Ciências e da Educação, Universidade Estadual de Londrina (UEL), Paraná. E-mail: moises@uel.br

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Ago 2010

Histórico

  • Recebido
    17 Set 2008
  • Aceito
    11 Out 2009
Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais Av. Antonio Carlos, 6627, CEP 31270-901 Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil, Tel.: (55 31) 3409-5338, Fax: (55 31) 3409-5337 - Belo Horizonte - MG - Brazil
E-mail: ensaio@fae.ufmg.br