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DE QUE CIDADANIA ESTAMOS FALANDO? UMA REVISÃO DE LITERATURA DAS PESQUISAS EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS COM PERSPECTIVA DE FORMAÇÃO PARA CIDADANIA

¿DE QUÉ CIUDADANÍA ESTAMOS HABLANDO? UNA REVISIÓN BIBLIOGRÁFICA DE INVESTIGACIONES EN EDUCACIÓN EN CIENCIAS CON UNA PERSPECTIVA DE FORMACIÓN PARA LA CIUDADANÍA

WHAT CITIZENSHIP ARE WE TALKING ABOUT? A LITERATURE REVIEW OF RESEARCH IN SCIENCE EDUCATION WITH A PERSPECTIVE ON TRAINING FOR CITIZENSHIP

RESUMO:

Considerando os recorrentes ataques ao estado democrático de direito e ao conhecimento científico, o presente trabalho se caracteriza como uma revisão da literatura que pretende investigar como o Ensino de Ciências tem tratado a formação para a cidadania. Partindo de discussões teóricas que diferenciam modelos de cidadania e de cidadão conforme teorias políticas contemporâneas, foram analisados 64 artigos publicados em periódicos nacionais de Qualis A1, A2 e B1. Os resultados evidenciam uma pluralidade discursiva - apesar da escassez de abordagens que considerem a polissemia do conceito de cidadania - e apontam para o favorecimento de modelos democráticos liberais e de lógica socializante em detrimento de propostas participativas. Predominam investigações no âmbito da Educação Básica, as quais majoritariamente se alinham ao liberalismo político, e destaca-se uma possível dificuldade da área em conceber as disciplinas científicas como elementos de superação de desigualdades e busca por justiça social.

Palavras-chave:
Ensino de Ciências; Cidadania; Democracia; Política

RESUMEN:

Considerando los recurrentes ataques al Estado democrático de derecho y al conocimiento científico, este trabajo se caracteriza por ser una revisión bibliográfica cuyo objetivo es investigar cómo la Enseñanza de las Ciencias ha tratado la formación para la ciudadanía. A partir de discusiones teóricas que diferencian modelos de ciudadanía y ciudadano según las teorías políticas contemporáneas, se analizaron 64 artículos publicados en revistas nacionales de Qualis A1, A2 y B1. Los resultados resaltan una pluralidad discursiva -a pesar de la escasez de enfoques que consideren la polisemia del concepto de ciudadanía- y apuntan la posibilidad de favorecer modelos democráticos liberales y lógicas socializadoras en detrimento de propuestas participativas. Predominan las investigaciones en el ámbito de la Educación Básica, las cuales mayoritariamente se alinean con el liberalismo político, y se destaca una posible dificultad en el área para concebir las asignaturas científicas como elementos para la superación de las desigualdades y la búsqueda de la justicia social.

Palabras clave:
Enseñanza de las Ciencias; Ciudadanía; Democracia; Política

ABSTRACT:

Considering the recurrent attacks on the democratic rule of law and scientific knowledge, the present work is characterized as a literature review that intends to investigate how Science Teaching has treated the citizenship education. Starting from theoretical discussions that differentiate citizenship and citizen models according to contemporary political theories, 64 articles published in national journals of Qualis A1, A2 and B1 were analyzed. The results show a discursive plurality - despite the scarcity of approaches that consider the polysemy of the concept of citizenship - and point to the favoring of liberal and socializing democratic models to the detriment of partipatory proposals. Investigations in the scope of Basic Education predominate, which portray the strong presence of political liberalism, and a possible difficulty in the area in conceiving scientific disciplines as elements for overcoming inequalities and the search for social justice is highlighted.

Keywords:
Science Teaching; Citizenship; Democracy; Policy

INTRODUÇÃO

Ao decorrer dos últimos anos a sociedade brasileira tem presenciado uma onda de fortes ataques ao Estado democrático. O período foi marcado por diversas manifestações cujos participantes clamavam por intervenção militar e pela volta da ditadura, além de fazerem duros ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF), ao Supremo Tribunal Eleitoral (STE) e ao Supremo Tribunal de Justiça (STJ). Esses eventos culminaram no questionamento do resultado das eleições presidenciais de 2022, com atos que se espalharam por todo o Brasil, e no recente ataque à Praça dos Três Poderes em Brasília, evidenciando a fragilidade da democracia brasileira - que, além de recente, se caracteriza por períodos de avanços e de retrocessos (Avritzer, 2018Avritzer, L. (2018). O pêndulo da democracia no Brasil: uma análise da crise 2013-2018. Novos Estudos - CEBRAP, 37(1), 273-289.). Soma-se a isso o fato de que os debates públicos também foram tomados por diferentes ondas de notícias falsas, movimentos anticiência e negacionistas de forma geral, colocando o Brasil no cenário da pós-verdade (Lima et al., 2019Lima, N. W., Vazata, P. A. V., Moraes, A. G., Ostermann, F., & Cavalcanti, C. J. de H. (2019). Educação em Ciências nos tempos de pós-verdade: reflexões metafísicas a partir dos Estudos das Ciências de Bruno Latour. Revista Brasileira de Pesquisa Em Educação Em Ciências, 155-189.), um fenômeno não somente epistêmico, mas, sobretudo, político, uma vez que são os fatos socialmente sensíveis que usualmente são alvo das disputas de narrativas (Latour, 2020Latour, B. (2020). Onde Aterrar? Como se orientar politicamente no Antropoceno? Bazar do Tempo.; Lima & Nascimento, 2021Lima, N. W., & Nascimento, M. M. (2021). Aterrando no Sul: uma proposta político-epistemológica para a área de educação em ciências do Antropoceno. Ciência & Educação, no prelo.).

Assim, o atual contexto potencializa a necessidade de questionamentos sobre o papel e a função da educação no Brasil contemporâneo: falta espaço na Educação Básica para discussões de cunho político? Estaria a educação tão voltada para a aprendizagem de conceitos que esquece da formação integral do cidadão? Ainda que seja ingênuo responsabilizar a educação por movimentos que envolvem os mais diversos setores da sociedade e que mobilizam diferentes interesses políticos, o fato é que o principal marco do Estado democrático no país, a Constituição de 1988, institui que a educação objetive a formação para a cidadania e oriente as demais leis que regulamentam a educação formal no Brasil - tais como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) e, mais recentemente, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) - que reafirmam tal propósito para as diversas áreas do conhecimento, inclusive para as Ciências Naturais e da Terra. Contudo, as definições de cidadania presentes nos documentos oficiais costumam ser genéricas (Palma Filho, 1998Palma Filho, J. C. (1998). Cidadania e educação. Cadernos de Pesquisa, (104), 101-121.). A BNCC, por exemplo, é apontada pela literatura da área de Educação e Ensino como fruto de uma política neoliberal, concebida em prol do mercado e da manutenção do capitalismo (Costa & Silva, 2019Costa, M. D. O., & Silva, L. A. D. (2019). Educação e democracia: Base Nacional Comum Curricular e novo ensino médio sob a ótica de entidades acadêmicas da área educacional. Revista Brasileira de Educação, 24.; Filipe et al, 2021Filipe, F. A., Silva, D. D. S., & Costa, Á. D. C. (2021). Uma base comum na escola: análise do projeto educativo da Base Nacional Comum Curricular. Ensaio: Avaliação e Políticas Públicas em Educação, 29, 783-803.; Marsiglia et al., 2017Marsiglia, A. C. G., Pina, L. D., Machado, V. O., & Lima, M. (2017). A Base Nacional Comum Curricular: um novo episódio de esvaziamento da escola no Brasil. Germinal: marxismo e educação em debate, 9(1), 107-121.; Silva & Gonçalves, 2023Silva, D. P., & Gonçalves, M. D. A. (2023). Mas, afinal, que sujeito é esse? Dilemas ético-políticos, concepções de democracia e os sujeitos da aprendizagem na BNCC do Ensino Médio. Educar em Revista, 38.) e incapaz de promover o pleno desenvolvimento dos indivíduos (Saviani, 2016Saviani, D. (2016). Educação escolar, currículo e sociedade: o problema da Base Nacional Comum Curricular. Movimento-revista de educação, (4).) uma vez que, como reflexo dos interesses neoliberais, reduz a atuação dos cidadãos a consumidores e força de trabalho (Giron, 2008Giron, G. R. (2008). Políticas públicas, educação e neoliberalismo: o que isso tem a ver com cidadania. Educ. Puc, 17-26.).

No entanto, entre os diversos propósitos associados à formação científica, a cidadania é amplamente adotada no discurso de pesquisadores e professores de ciências e parece haver um consenso de que o sujeito precisa conhecer as ciências para que possa desenvolver plenamente suas atribuições de cidadão, desenvolvendo autonomia sobre o entendimento dos problemas públicos e sendo capaz de se posicionar e agir sobre eles (Auler & Delizoicov, 2001Auler, D., & Delizoicov, D. (2001). Alfabetização científico-tecnológica pra quê? Ensaio - Pesquisa Em Educação Em Ciências, 03(1), 122-134.). Nesse contexto, a defesa da educação científica passa pelo reconhecimento de que os problemas contemporâneos de grande relevância são, em sua maioria, de caráter sociocientífico (Zeidler et al., 2005Zeidler, D. L., Sadler, T. D., Simmons, M. L., & Howes, E. V. (2005). Beyond STS: A research-based framework for socioscientific issues education. Science Education, 89(3), 357-377.), isto é, são de interesse público e político, mas são atravessados por uma dimensão científica (Auler & Bazzo, 2001Auler, D., & Delizoicov, D. (2001). Alfabetização científico-tecnológica pra quê? Ensaio - Pesquisa Em Educação Em Ciências, 03(1), 122-134.), não podendo ser reduzido à dimensão científica nem à dimensão política (Latour, 2013Latour, B. (2013). Jamais Fomos Modernos. Editora 34.). Entretanto, não é evidente quais são as atribuições da educação científica, como o cidadão utilizará o conhecimento de ciências e quais serão suas implicações na sociedade como um todo. A ciência e a tecnologia são partes integrais e indissociáveis da sociedade contemporânea, mas o conhecimento científico e tecnológico pode ser manipulado de formas diversas conforme a tendência política da sociedade em que se encontra, conforme Pinhão e Martins (2016Pinhão, F., & Martins, I. (2016). Cidadania e Ensino De Ciências: questões para o debate. Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências(Belo Horizonte), 18(3), 9-29.) apontam, a formação científica para a cidadania é ambígua, podendo conter diferentes significados de acordo com o modelo de sociedade democrática adotado. A propósito, essa tem sido uma característica recorrente das políticas neoliberais, que jogam no campo da ambiguidade para sustentar reformas que precarizam a educação disfarçadas por conceitos amplos e vazios (Vilanova & Martins, 2017Vilanova, R., & Martins, I. (2017). Individualism, instrumental reason and policy texts: some considerations from the perspective of contemporary political philosophy. Cultural Studies of Science Education, 12(4), 835-841.).

Nesse sentido, é fundamental que aprofundemos o debate sobre formação para cidadania presente na literatura da área de pesquisa em Educação em Ciências, reconhecendo, principalmente, quais são os compromissos epistêmicos e políticos concretos que estão sendo adotados com as pesquisas desenvolvidas. Dessa forma, com o objetivo de demonstrar como a área de Ensino de Ciências se posiciona quanto à formação para a cidadania e, portanto, na construção de uma sociedade democrática e capaz de lidar com os desafios contemporâneos, o presente trabalho se caracteriza como uma revisão da literatura sistemática e integrativa que busca responder as seguintes questões de pesquisa: a) Como a área de Ensino de Ciências idealiza o papel do cidadão na sociedade? b) De acordo com as pesquisas da área, de que maneira o conhecimento científico pode contribuir para a atuação do cidadão na sociedade? c) De acordo com as pesquisas da área, como as disciplinas científicas podem contribuir no fortalecimento do Estado Democrático e quais estratégias podem ser tomadas com esse propósito? d) Qual a principal tendência de modelo de cidadania e, portanto, de democracia, os estudos da área de Ensino de Ciências pretendem fomentar?

AS DIFERENTES FACES DA CIDADANIA

Todo modelo de sociedade concebe um ideal de cidadão (Silva, 2010Silva, T. (2010). Documentos de Identidade: Uma Introdução às teorias do currículo. Autentica.). Não é por acaso que filósofos dedicados a discutir modelos políticos, historicamente, também se dedicaram a pensar sobre modelos educacionais e de currículo, como Platão e Rousseau, para mencionar dois exemplos (Lima, 2022Lima, N. W. (2022). O papel da educação no mundo pós-pandemia: pela (re)fundação de uma pedagogia de virtudes com inspiração herbartiana. Revista Brasileira de Ensino de Ciências e Matemática, 5(1 SE-Artigos).; Smith, 2012Smith, S. (2012). Political Philosophy. Yale University Press.). Assim, o cidadão ideal concebido para uma democracia liberal é diferente daquele concebido em um modelo de democracia mais participativa. Isto é, os valores promovidos e, portanto, fomentados pela estrutura curricular, explícita ou oculta, são diferentes. Por esse motivo, o termo cidadania, se usado de forma descuidada e irreflexiva, pode implicar a adoção de compromissos políticos e educacionais, às vezes, contraditórios entre si (Vilanova & Martins, 2017Vilanova, R., & Martins, I. (2017). Individualism, instrumental reason and policy texts: some considerations from the perspective of contemporary political philosophy. Cultural Studies of Science Education, 12(4), 835-841.). Desta forma, considerando que diversas são as correntes teóricas que buscam definir modelos de sociedades democráticas e que cada corrente confere aos conceitos de democracia e cidadania características específicas (Martell, 2020Martell, G. W. (2020). Educação em ciências e suas relações com a democracia. Dissertação (Mestrado em Ensino de Física). Universidade Federal do Rio Grande do Sul.), com o objetivo de identificar um panorama geral da literatura em Ensino de Ciências, partimos das discussões de Pinhão e Martins (2016Pinhão, F., & Martins, I. (2016). Cidadania e Ensino De Ciências: questões para o debate. Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências(Belo Horizonte), 18(3), 9-29.) para caracterizar cinco diferentes modelos democráticos organizacionais.

A principal premissa associada ao modelo democrático liberal clássico é de que a existência de direitos universais - civis, políticos e sociais - seriam capazes de garantir a igualdade social (T. Marshall, 1967Marshall, T. H. (1967). Cidadania, classe social e status. Zahar Editores.; Pinhão & Martins, 2016Pinhão, F., & Martins, I. (2016). Cidadania e Ensino De Ciências: questões para o debate. Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências(Belo Horizonte), 18(3), 9-29.). Nesse contexto impera a lógica meritocrática e ocorre o apagamento das desigualdades econômicas e culturais. Além disso, a democracia liberal limita a participação dos cidadãos ao cumprimento de deveres - para que os direitos sejam respeitados - e sua atuação política é centrada no direito ao voto, de modo que as decisões ficam restritas aos representantes e aos especialistas. Por outro lado, ainda baseado em princípio liberais, Pinhão e Martins (2016)Pinhão, F., & Martins, I. (2016). Cidadania e Ensino De Ciências: questões para o debate. Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências(Belo Horizonte), 18(3), 9-29. definem o modelo democrático liberal multicultural, que problematiza a universalidade de direitos e reconhece a existência de uma pluralidade de contextos sociais e culturais. Contudo, embora essa forma de liberalismo reconheça a diferença, associa o pertencimento a uma determinada cultura a fatores individuais - como liberdade de escolha e autonomia (Pinhão & Martins, 2016Pinhão, F., & Martins, I. (2016). Cidadania e Ensino De Ciências: questões para o debate. Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências(Belo Horizonte), 18(3), 9-29.).

Mais voltados para a “lógica socializante” (Kreuger & Ramos, 2017Kreuger, S. B., & Ramos, P. (2017). Concepções de cidadania na Educação em Ciências: o que dizem os Projetos Político-Pedagógicos e os professores de escolas municipais de Petrópolis - RJ. Ensaio Pesquisa Em Educação Em Ciências (Belo Horizonte), 19(0), 1-23.) estão os modelos democráticos republicano e procedimentalista. O modelo republicano, que em certos pontos se alinha ao comunitarismo (Kreuger & Ramos, 2017Kreuger, S. B., & Ramos, P. (2017). Concepções de cidadania na Educação em Ciências: o que dizem os Projetos Político-Pedagógicos e os professores de escolas municipais de Petrópolis - RJ. Ensaio Pesquisa Em Educação Em Ciências (Belo Horizonte), 19(0), 1-23.; Toti, 2011Toti, F. A. (2011). Educação científica e cidadania: as diferentes concepções e funções do conceito de cidadania nas pesquisas em educação em ciências. Tese (Doutorado em Educação). Universidade Federal de São Carlos.), surge como uma crítica ao liberalismo e ao formato de democracia representativa. Nesse modelo os processos políticos devem estar submetidos à ética e aos valores cívicos, contando com a participação ativa dos indivíduos (Habermas, 1995Habermas, J. (1995). Três modelos normativos de democracia. Lua nova: revista de cultura e política, 39-53.; Pinhão & Martins, 2016Pinhão, F., & Martins, I. (2016). Cidadania e Ensino De Ciências: questões para o debate. Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências(Belo Horizonte), 18(3), 9-29.), contudo são desconsideradas possíveis contradições e diferenças na construção de valores na sociedade, bem como a existência de desigualdades e injustiças sociais ou culturais (Pinhão & Martins, 2016Kreuger, S. B., & Ramos, P. (2017). Concepções de cidadania na Educação em Ciências: o que dizem os Projetos Político-Pedagógicos e os professores de escolas municipais de Petrópolis - RJ. Ensaio Pesquisa Em Educação Em Ciências (Belo Horizonte), 19(0), 1-23.). Na interface entre o liberalismo e o republicanismo, Habermas propõe o modelo democrático procedimentalista que “ao mesmo tempo em que busca garantir os direitos individuais, situa o indivíduo em um contexto cultural específico (cultura política) e uma comunidade maior” (Pinhão & Martins, 2016Pinhão, F., & Martins, I. (2016). Cidadania e Ensino De Ciências: questões para o debate. Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências(Belo Horizonte), 18(3), 9-29., p.15). Nessa proposta, o autor defende o ato comunicativo entre governo, leis e cidadãos, e busca superar a dicotomia entre Ciência e Política a partir de sua integração no processo de tomada de decisão (Pinhão & Martins, 2016). De modo geral, os modelos democráticos de lógica socializante buscam descentralizar os processos de tomada de decisão, fazendo com que todo o tipo de problema social possa ser discutido e solucionado de acordo o desejo da população (Pinhão & Martins, 2016Pinhão, F., & Martins, I. (2016). Cidadania e Ensino De Ciências: questões para o debate. Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências(Belo Horizonte), 18(3), 9-29.).

Por fim, os modelos democráticos participativos, que se configuram sobretudo em cenários pós-coloniais, buscam romper com identidades atribuídas por Estados autoritários anteriores a partir de uma nova configuração social e estatal, mais inclusiva e capaz de superar antigas opressões (Santos, 2002Santos, B. D. S. (2002). Democratizar a democracia: os caminhos da democracia participativa. Civilização Brasileira.). Embora as democracias participativas se estabeleçam de formas diferentes conforme as demandas de cada sociedade (Santos, 2002Santos, B. D. S. (2002). Democratizar a democracia: os caminhos da democracia participativa. Civilização Brasileira.), Boaventura de Souza Santos aponta para a valorização da participação e para a ecologia de saberes, de modo que as decisões coletivas sejam tomadas considerando diferentes formas de conhecimento (Pinhão & Martins, 2016Pinhão, F., & Martins, I. (2016). Cidadania e Ensino De Ciências: questões para o debate. Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências(Belo Horizonte), 18(3), 9-29.). Contudo, Pinhão e Martins (2016)Pinhão, F., & Martins, I. (2016). Cidadania e Ensino De Ciências: questões para o debate. Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências(Belo Horizonte), 18(3), 9-29.destacam o cuidado necessário com discussões participativas, que podem levar a um negacionismo científico.

Para cada modelo democrático, ademais, existe um cidadão ideal concebido, ou seja, um sujeito que adota um conjunto de valores e práticas específicas que são considerados positivos para aquele modelo de sociedade. Partindo de Westheimer e Kahne (2004Westheimer, J., & Kahne, J. (2004). What kind of citizen? The politics of educating for democracy. American Educational Research Journal, 41(2), 237-269.), assim de como estudos anteriores (Kreuger & Ramos, 2017Kreuger, S. B., & Ramos, P. (2017). Concepções de cidadania na Educação em Ciências: o que dizem os Projetos Político-Pedagógicos e os professores de escolas municipais de Petrópolis - RJ. Ensaio Pesquisa Em Educação Em Ciências (Belo Horizonte), 19(0), 1-23.; Pietrocola & Souza, 2019Pietrocola, M., & Souza, C. R. (2019). A sociedade de risco e a noção de cidadania: desafios para a educação científica e tecnológica. Linhas Críticas, 25, 56-73.), e tendo em vista o compromisso do Ensino de Ciências para com a formação integral do cidadão, é possível diferenciar as abordagens da educação científica conforme três possíveis modelos de cidadão idealizado.

Alinhado às perspectivas democráticas liberais está o cidadão individualmente responsável. Este indivíduo tem consciência do impacto de suas atitudes diárias na sua vida e na comunidade em que vive e o Ensino de Ciências contribui com a cidadania na medida que mantém o cidadão bem informado para realizar suas escolhas (Westheimer & Kahne, 2004Westheimer, J., & Kahne, J. (2004). What kind of citizen? The politics of educating for democracy. American Educational Research Journal, 41(2), 237-269.). Contudo, segundo essa perspectiva os problemas socioambientais seriam causados por atitudes irresponsáveis individuais e poderiam ser resolvidos na medida que cada cidadão, ciente de seus direitos e deveres, agisse de maneira que ambos sejam cumpridos (Westheimer & Kahne, 2004Westheimer, J., & Kahne, J. (2004). What kind of citizen? The politics of educating for democracy. American Educational Research Journal, 41(2), 237-269.). Por outro lado, alinhado a perspectivas democráticas de lógica socializante (Kreuger & Ramos, 2017Kreuger, S. B., & Ramos, P. (2017). Concepções de cidadania na Educação em Ciências: o que dizem os Projetos Político-Pedagógicos e os professores de escolas municipais de Petrópolis - RJ. Ensaio Pesquisa Em Educação Em Ciências (Belo Horizonte), 19(0), 1-23.) está o cidadão participativo. Este indivíduo busca por soluções para os problemas da comunidade em que está inserido - é engajado em projetos coletivos para o bem-estar social, participa de fóruns comunitários, manifesta sua opinião sobre questões sociocientíficas (Westheimer & Kahne, 2004Westheimer, J., & Kahne, J. (2004). What kind of citizen? The politics of educating for democracy. American Educational Research Journal, 41(2), 237-269.) e o Ensino de Ciências contribui com a cidadania na medida em que fornece ao cidadão subsídios para tomar decisões dentro de sua comunidade. Tal perspectiva converge com modelos de lógica socializante, uma vez que insere o indivíduo dentro de um contexto sociocultural e descentraliza o processo de tomada de decisão. O cidadão orientado para a justiça social, por sua vez, se aproxima de perspectivas democráticas participativas (Pinhão & Martins, 2016Pinhão, F., & Martins, I. (2016). Cidadania e Ensino De Ciências: questões para o debate. Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências(Belo Horizonte), 18(3), 9-29.), e é definido como aquele que é capaz de identificar as raízes dos problemas sociais e que busca a superação das opressões - ele pode economizar água e participar de campanhas em prol do abastecimento da comunidade, mas percebe o consumo desenfreado do capitalismo como o principal responsável pela escassez (Westheimer & Kahne, 2004Westheimer, J., & Kahne, J. (2004). What kind of citizen? The politics of educating for democracy. American Educational Research Journal, 41(2), 237-269.). Sua ação é menos voltada para atitudes individuais e de alcance limitado, mas inclui a participação em movimentos sociais e projetos que proporcionem mudanças sistêmicas na sociedade.

Desta forma, reconhecendo a pluralidade de concepções associadas ao conceito de cidadania e as possíveis atribuições do cidadão idealizado nos diferentes modelos democráticos, pretendemos investigar como tais perspectivas estão refletidas na literatura e na área de Ensino de Ciências.

METODOLOGIA

O método de pesquisa aplicado ao longo deste estudo caracteriza-se como uma revisão bibliográfica sistemática, cuja fundamentação está ancorada no princípio da revisão integrativa delineado por Botelho, Cunha e Macedo (2011Botelho, L. L. R., Cunha, C. C. A., & Macedo, M. (2011). O Método da Revisão Integrativa nos Estudos Organizacionais. Gestão e Sociedade, 5(11), 121.). A revisão sistemática é aquela que busca responder a questões de pesquisa específicas utilizando de métodos para identificar, selecionar e avaliar estudos. Dentre os diferentes modelos de revisão sistemática que a literatura aponta, a revisão integrativa consiste em uma síntese de estudos anteriores que busca resumir o passado da literatura com o propósito de fornecer uma compreensão sobre determinado fenômeno.

Conforme Botelho, Cunha e Macedo (2011Botelho, L. L. R., Cunha, C. C. A., & Macedo, M. (2011). O Método da Revisão Integrativa nos Estudos Organizacionais. Gestão e Sociedade, 5(11), 121.), uma revisão bibliográfica sistemática deve incluir seis etapas: a primeira etapa consiste na identificação do tema e na seleção das questões de pesquisa, na segunda etapa devem ser estabelecidos os critérios de inclusão e exclusão; na terceira etapa realiza-se a identificação dos estudos pré-selecionados e selecionados; na quarta etapa, realiza-se a categorização dos estudos selecionados; na quinta etapa, devem ocorrer a análise e a interpretação dos estudos selecionados e, por fim, a sexta etapa consiste na apresentação da revisão ou síntese do conhecimento.

Desta forma, na seção 3 estão descritas as etapas 2 e 3 - contendo o processo de busca, os critérios e buscadores utilizados, além de incluir os critérios de seleção e os estudos selecionados; na seção 4 são abordadas as etapas 4 e 5 - categorização os estudos selecionados, discussão e interpretação dos estudos; por fim, a seção 5 contempla a etapa 6 - contendo a síntese do conhecimento.

TEMA, CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO E SELEÇÃO DE TRABALHOS

O propósito central desta pesquisa é identificar as articulações entre Ensino de Ciências e as diferentes concepções de formação para cidadania, estabelecendo um panorama geral da área. A pesquisa ocorreu através de sites e buscadores das revistas Qualis A1, A2 e B1 (do quadriênio 2013-2016) das áreas de Ensino e Educação. Assim, primeiramente, determinamos que o trabalho ficaria circunscrito à análise das pesquisas em Ensino ou Educação em Ciências que tivessem como tema central a noção de formação para cidadania, ou seja, trabalhos que apenas mencionassem essas expressões sem tomá-las como tema principal não seriam de interesse. Portanto, o primeiro critério de inclusão foi a presença das palavras “cidadania” e “ciências” no título de artigos de revistas da área de Educação. Por outro lado, em periódicos voltados ao Ensino de Ciências, a presença da palavra “cidadania” no título do artigo foi suficiente para sua seleção. Ademais, a presença de alguns periódicos tanto no Qualis para Ensino quanto no Qualis para Educação resultou na repetição de 38 artigos na Quadro 1, mas que foram desconsiderados para a soma final de 64 trabalhos.

Quadro 1
Total de artigos selecionados conforme classificação dos periódicos

Caracterização dos trabalhos selecionados

Após a seleção dos trabalhos, foi elaborada a Tabela 2, que está em anexo e consiste em uma matriz de síntese com os principais pontos da revisão da literatura.

Primeiramente, os trabalhos foram agrupados conforme sua natureza, sendo empírica (n=40) ou teórica (n=24), e os trabalhos empíricos foram classificados, ainda, conforme sua proposta, subdividindo-se em Intervenções (n=23) ou Análises do Discurso (n=17). Em seguida, foi investigado se, ao longo do texto, os autores explicitam a complexidade envolvida na conceitualização de cidadania ou tratam-na sem essa consideração teórica - isto é, se admitem sua natureza polissêmica e associada aos diferentes modelos de democracia, ou se agem como se uma houvesse apenas uma cidadania possível - e se algum modelo de cidadão, conforme a proposta de Westheimer e Kahne (2004Westheimer, J., & Kahne, J. (2004). What kind of citizen? The politics of educating for democracy. American Educational Research Journal, 41(2), 237-269.), é privilegiado direta ou indiretamente. Dentre outros aspectos, também buscamos identificar os trabalhos que discutem aspectos de Natureza da Ciência (NdC) e questões identitárias e/ou de gênero.

DISCUSSÃO

Com o intuito de verificar possíveis tendências nos trabalhos sobre Ensino de Ciências e cidadania, foram realizadas as seguintes análises gráficas.

Primeiramente, foi traçada uma análise quanto aos anos de publicação dos estudos que fazem parte da revisão, em que é possível identificar uma tendência de crescimento no número de artigos publicados sobre o tema nos periódicos nacionais ao longo das últimas duas décadas.

Figura 1
Gráfico de distribuição dos anos de publicação dos artigos da revisão

Quanto aos modelos de cidadania adotados pelos trabalhos incluídos nesta revisão, é possível identificar o favorecimento de iniciativas voltadas ao cidadão individualmente responsável e ao cidadão participativo. Também é significativo o número de artigos que opta por não se posicionar a favor de um modelo específico.

Figura 2
Gráfico de distribuição dos modelos de cidadão privilegiados pelos trabalhos

De modo geral, no que diz respeito ao conceito de cidadania, é pequena a parcela de trabalhos que considera sua natureza polissêmica, e a maioria dos artigos adota uma postura reducionista. Entretanto, no contexto das análises discursivas é possível perceber a existência de uma abordagem mais ampla.

Figura 3
Gráfico de distribuição do posicionamento dos artigos frente a natureza do conceito de cidadania

A análise subsequente será dividida em relação aos estudos empíricos e teóricos. E dentro de cada categoria, as demais dimensões de análise serão discutidas.

DISCUSSÃO DOS TRABALHOS DE NATUREZA EMPÍRICA

Ao todo foram identificados 40 trabalhos de natureza empírica, que foram subdivididos em trabalhos de análise de discursos (n=17) e trabalhos com intervenções (n=23).

Discussão dos trabalhos com análise de discursos

Dos artigos de natureza empírica que buscam explorar os discursos na interface entre Ensino de Ciências e formação para a cidadania (n=17), é possível, primeiramente, categorizar duas classes distintas: trabalhos que abordam a problemática a partir de análises bibliográficas (n=6) e aqueles que buscam identificar as articulações entre Ensino de Ciências e cidadania no discurso de professores e estudantes (n=12)1 1 O estudo de Kreuger e Ramos (2021) aparece nas duas categorias, pois estuda as concepções de cidadania nos Projetos Político-Pedagógicos e nos discursos de professores. . Os trabalhos investigam a temática principalmente no contexto da Educação Básica (n=15), com poucas investigações no contexto da Educação de Jovens e Adultos (EJA) e no contexto do Ensino Superior (n=2).

De modo geral, no que diz respeito à cidadania, mais da metade dos trabalhos trazem discussões sobre o conceito (n=11), dos quais uma parcela significativa considera sua polissemia (n=9). Os demais estudos tratam o conceito de forma periférica e/ou superficial (n=6). Quanto às perspectivas de cidadania adotadas, embora uma grande parcela não indique o privilégio de algum modelo específico (n=6), destacam-se os trabalhos que privilegiam a formação do cidadão participativo (n=6) e do cidadão individualmente responsável (n=5). É possível identificar, também, que as investigações de Ensino de Ciências no contexto da formação para a cidadania estão fortemente associadas ao tema da Educação Ambiental (EA) (n=8).

As análises bibliográficas foram realizadas sobre livros didáticos de Ciências (n=2), legislações brasileiras que orientam a educação formal (n=1), políticas públicas sobre o meio ambiente (n=1), Projetos Políticos Pedagógicos (n=1) e Projetos Políticos Curriculares (n=1).

Voltadas ao estudo de livros didáticos estão as pesquisas de Freitas e Martins (2008Freitas, E. O., & Martins, I. (2008). Transversalidade, formação para a cidadania e promoção da saúde no livro didático de ciências. Ensino, Saude e Ambiente, 1(1), 12-28.) e Vilanova (2013Vilanova, R. (2013). Discursos da cidadania e educação em ciências nos livros didáticos. Revista Ensaio, 15(2), 141-154.), que ocorreram no contexto da Educação Básica e restritas ao Ensino Fundamental. Freitas e Martins (2008), ao investigar como os livros didáticos de Ciências dialogam com as orientações dos PCNs sobre cidadania e promoção à saúde, identificaram uma defasagem entre as orientações e as abordagens presentes nos livros didáticos. Vilanova (2013)Vilanova, R. (2013). Discursos da cidadania e educação em ciências nos livros didáticos. Revista Ensaio, 15(2), 141-154., por outro lado, centrou sua investigação nos discursos sobre cidadania trazidos pelos livros didáticos de Ciências, a autora optou por restringir sua análise às perspectivas associadas ao liberalismo político e identificou uma pluralidade de discursos humanistas e cientificistas, ressaltando um estado de tensão na área.

Centrados no estudo de documentos estão os trabalhos de Anello (2004Anello, L. F. S. (2004). A intersetorialidade das políticas púnlicas nacionais de meio ambiente, Educação Ambiental e construção da cidadania. Revista Eletrônica Do Mestrado Em Educação Ambiental, 13, 52-63.), que investigou como as políticas públicas de meio ambiente se articulam com a EA e a construção da cidadania no contexto nacional, apontando para a existência de bases conceituais e legais para a construção de uma EA, mas a falta de políticas voltadas a cidadania e promoção da participação social, e Piassi (2011Piassi, L. P. (2011). Educação científica no ensino fundamental: os limites dos conceitos de cidadania e inclusão veiculados nos PCN. Ciência & Educação (Bauru), 17(4), 789- 805.) que, por outro lado, explorou os limites do conceito de cidadania presentes nos PCNs, evidenciando o caráter passivo do cidadão descrito no documento e o apagamento do protagonismo dos indivíduos na construção e transformação da sociedade. No que se trata de pesquisas associadas a currículo, Kreuger e Ramos (2017Kreuger, S. B., & Ramos, P. (2017). Concepções de cidadania na Educação em Ciências: o que dizem os Projetos Político-Pedagógicos e os professores de escolas municipais de Petrópolis - RJ. Ensaio Pesquisa Em Educação Em Ciências (Belo Horizonte), 19(0), 1-23.), partindo da categorização proposta por Whesteimer e Kahne (2004), investigaram os conceitos de cidadão presentes no Projetos Político-Pedagógicos de quatro escolas de Petrópolis-RJ e identificaram uma hibridização de conceitualizações.

A partir dos resultados de estudos que exploram as articulações entre Ensino de Ciências e cidadania no discurso de professores e estudantes (n=8) é possível constatar que grande parte dos profissionais da educação possuem uma visão de cidadania específica e, sobretudo, associada a modelos democráticos liberais - contribuindo, principalmente, para uma formação de indivíduos individualmente responsáveis. Na pesquisa realizada por Santos, Bispo e Omena (2005Santos, P. O., Bispo, J. S., & Omena, M. L. R. A. (2005). O ensino de ciências naturais e cidadania sob a ótica de professores inseridos no programa de aceleração de aprendizasgem da EJA. Ciência & Educação, 11(3), 411-426.) os autores verificaram que os professores de Ciências Naturais possuem pouca percepção de seu papel na construção da cidadania de seus educandos e que seus discursos refletem, principalmente, o privilegiamento de tendências alinhadas a políticas liberais. Kreuger e Ramos (2017Kreuger, S. B., & Ramos, P. (2017). Concepções de cidadania na Educação em Ciências: o que dizem os Projetos Político-Pedagógicos e os professores de escolas municipais de Petrópolis - RJ. Ensaio Pesquisa Em Educação Em Ciências (Belo Horizonte), 19(0), 1-23.), ao investigarem as representações de cidadania nos discursos de professores de ciências dos anos finais do Ensino Fundamental, identificaram o privilegiamento do modelo de cidadão individualmente responsável (Westheimer & Kahne, 2004Westheimer, J., & Kahne, J. (2004). What kind of citizen? The politics of educating for democracy. American Educational Research Journal, 41(2), 237-269.), o que é compatível com modelos de democracia liberal e também é ressaltado nas pesquisas de Déjardin (2018Déjardin, I. P. (2018). Possibilidades socioambientais e interdisciplinares da cidadania a partir do que dizem alunos e professores de uma escola pública de ensino fundamental em Salvador-Bahia. Educação (UFSM), 43(1), 27-40.), em que os professores recorrem, principalmente, à noção de direitos e deveres do cidadão para explicar o que compreendem por cidadania, e Cosenza et al (2014Cosenza, A., Freire, L. M., Espinet, M., & Martins, I. (2014). Relações entre justiça ambiental, ensino de ciências e cidadania em construções discursivas docentes. Revista Brasileira de Pesquisa Em Educação Em Ciências, 14(2), 89-98.), que perceberam a desvalorização das dimensões participativas e emancipatórias nos discursos dos professores. Tendência verificada, também, por Vittorazzi e Silva (2020Vittorazzi, D. L., & Silva, A. M. T. B. (2020). As representações do ensino de ciências de um grupo de professores do ensino fundamental: implicações na formação científica para a cidadania. Ensaio Pesquisa Em Educação Em Ciências (Belo Horizonte), 22, 1-22.) que, ao entrevistarem professores do Ensino Fundamental no contexto da alfabetização científica, constataram uma grande ênfase no ensino de conceitos e procedimentos científicos - que, de maneira isolada, não favorecem a construção de cidadanias participativas e/ou emancipatórias -, e por Ferreira e Freitas (2013Ferreira, D. T., & Freitas, N. M. S. (2013). Ensino de ciências e cidadania: perspectivas para o consumo sustentável. Amazônia: Revista de Educação Em Ciências e Matemáticas, 10(19), 78.) que, ao investigar como os professores inserem discussões sobre consumo e suas consequências nas disciplinas de Ciências da Natureza, perceberam que se limita ao cidadão-consumidor consciente - perspectiva que evidencia o caráter passivo do indivíduo frente os problemas sociocientíficos.

Tais resultados se alinham às pesquisas que investigam os discursos de estudantes, pois, conforme apontam Santos, Costa e Souza (2020Santos, L. R. O., Costa, J. J., & Souza, R. M. (2020). Educação (Ambiental) para a cidadania: ações e representações de estudantes da Educação Básica. Revista Eletrônica Do Mestrado Em Educação Ambiental, 37(1), 188-207.) e Déjardin (2018Déjardin, I. P. (2018). Possibilidades socioambientais e interdisciplinares da cidadania a partir do que dizem alunos e professores de uma escola pública de ensino fundamental em Salvador-Bahia. Educação (UFSM), 43(1), 27-40.), as representações sociais do conceito de cidadania em estudantes da Educação Básica, de modo geral, estão fortemente associadas à função normativa, ao cidadão detentor de direitos e deveres.

O estudo de Vilardi, Prata e Martins (2012Vilardi, L. G. A., Prata, R. V., & Martins, I. (2012). Educação para a cidadania: o papel da prática pedagógica na formação para a tomada de decisão. Revista Brasileira de Pesquisa Em Educação Em Ciências, 12(3), 9-24.), por sua vez, parte de uma entrevista com um professor de histórico ativista para investigar o favorecimento da aprendizagem para a tomada de decisão - perspectiva que pode ser associada às democracias republicanas, comunitaristas e participativas - e seus resultados destacam a necessidade de conceber a escola como um espaço político, buscando engajamento significativo e compromisso social por meio de temas que possuam significado real para os estudantes. Considerando o contexto indicado pela literatura, este trabalho se mostra de extrema relevância, pois aponta direções para uma educação compromissada com outras formas de cidadania.

No contexto do Ensino Superior (n=2) estão os trabalhos de Dickmann e Henrique (2017Dickmann, I., & Henrique, L. (2017). Formação de educadores ambientais no ensino superior: currículo, cidadania e consciência ambiental. Dialogia, 27, 115-129.), que voltaram sua atenção para a formação de professores de uma universidade comunitária de Santa Catarina e identificaram que temáticas como cidadania, educação crítica, conscientização e EA só estão presentes, de modo articulado, no curso da área das Ciências, o que, segundo os autores, suprime o caráter socio-político-cultural das questões sociocientíficas; e Nunes e Galieta (2020Nunes, R. S., & Galieta, T. (2020). Formação para cidadania e ensino de ciências: reflexões a partir do estágio supervisionado. Alexandria: Revista de Educação em Ciência e Tecnologia 13(2), 51-74.) que, ao investigar os conceitos de cidadania empregados nas disciplinas de estágio supervisionado de uma universidade fluminense, constataram o privilegiamento de discursos participativos e voltados para a justiça social, em detrimento de discursos liberais - o que representa, de certa forma, uma tentativa de superação do discurso meritocrático.

Discussão dos trabalhos envolvendo intervenções

Dos estudos que se concentram no relato e/ou análise de intervenções (n=23), uma parcela majoritária é voltada para a Educação Básica (n=16), embora existam propostas para o Ensino Técnico (n=1), para a formação continuada de professores (n=3), no contexto da educação não-formal (n=2) e prisional (n=1).

Quanto às dimensões de cidadania trazidas pelos autores, são poucos os trabalhos que desenvolvem discussões sobre o conceito (n=8) e uma parcela ainda menor considera sua polissemia (n=3). A maioria dos estudos não aprofunda o que entende por cidadania e não traz definições explícitas. Ademais, se destacam os trabalhos que privilegiam o cidadão individualmente responsável (n=11) e a formação do cidadão participativo (n=10), enquanto a abordagem voltada para justiça social tem pouca adoção (n=2). É possível identificar, também, que as intervenções de Ensino de Ciências no contexto da formação para a cidadania estão fortemente associadas a EA (n=14).

Os relatos de abordagens que favorecem a perspectiva de cidadão individualmente responsável incluem a problematização da produção de resíduos no contexto escolar (Moro & Grabauska, 2001Moro, C. R., & Grabauska, C. (2001). Educação Ambiental e cidadania - uma prática escolar. Educação, 26(1), 35-48.) e das concepções sobre meio ambiente e impactos do ser humano na natureza (Ribeiro et al, 2021Ribeiro, C. S., Coutinho, C., & Boer, N. (2021). Letramento e cidadania ambiental no contexto escolar. REMEA - Revista Eletrônica Do Mestrado Em Educação Ambiental, 38(2), 266-287.), e a aplicação de atividades educativas sobre saúde (Araújo et al., 2017; Milléo et al., 2009Milléo, J., Kovaliczn, R. A., Rocha, D. C., Andrade, A. L., Nogueira, M. K. F. S., Godoy, M. T., & Ferreira, A. R. (2009). Oficinas temáticas envolvendo biologia e cidadania. Conexão UEPG, 7(1), 42-49.) e sobre a utilização de plantas medicinais (Mauli et al, 2007Mauli, M. M., Fortes, A. M. T., & Antunes, F. (2007). Cidadania e educação ambiental: plantas medicinais no contexto escolar. Acta Scientiae, 9(2), 91-107.). Além disso, Costa et al (2021Costa, P. M. A., Silva, L. A. M., & Santos, E. M. (2021). Cultura, meio ambiente e cidadania - conhecendo a Caatinga e a Pedra do Reino por meio de uma trilha interpretativa. Experiências Em Ensino de Ciências, 16(2), 225-244.) narram a aplicação de uma trilha interpretativa cujo objetivo foi explorar questões históricas, culturais e ambientais da Caatinga; Pitanga (2022Pitanga, Â. F. (2022). Disruptores endócrinos uma jornada temática referenciada na pedagogia 5C’s: criticidade, conhecimento científico, criatividade, colaboração e cidadania. Experiências Em Ensino de Ciências, 17(1), 243-261.) relata a aplicação de uma proposta metodológica e discute suas potencialidades na superação do ensino tradicional, e Gava e Oliveira (2021Gava, J. E. D., & Oliveira, J. G. (2021). Educação Ambiental com abordagem CTS/CTSA na Educação de Jovens e Adultos: um caminho para o exercício da cidadania. Revista Eletrônica Debates Em Educação Científica e Tecnológica, 10(01), 148-172.) descrevem a elaboração e aplicação de práticas didáticas na EJA voltadas para a sustentabilidade e o consumo sustentável. No contexto do Ensino Superior, Nogueira et al (2018Nogueira, S. R. A., Yamasaki, A. A., Silva, I. F. R., Queiroz, L. F. M., & Vasconselos, J. M. P. (2018). Reflexões sobre aprender/ensinar Química: interdisciplinaridade, biotecnologia, audiovisual, cidadania e direitos humanos em sala de aula. Revista de Educação, Ciências e Matemática, 8(3), 88-109.) discorrem sobre como a elaboração de uma oficina interdisciplinar que foi capaz de complexificar a visão de licenciandos sobre o papel do professor, e Brasil (2004Brasil, R. F. (2004). Projeto Cidadania Ativa: Um exemplo de Educação Ambiental no Curso de Direito da Unifor. Revista Eletrônica Do Mestrado Em Educação Ambiental, 13, 115-124.) descreve como um realizado por estudantes do curso de Direito em comunidades do Ceará, promove a EA com a divulgação de direitos e deveres ambientais. Embora tais abordagens sejam de extrema relevância para a Educação em Ciências, colocam o indivíduo em uma posição passiva frente aos problemas sociocientíficos, uma vez que nesse contexto o conhecimento científico contribui para a tomada de decisões individuais, criando um cidadão bem informado e responsável, mas não estimula sua participação na construção de uma sociedade mais justa e democrática.

Por outro lado, as propostas alinhadas à promoção de cidadãos participativos, incluem trabalhos como o de Pires e Bromberger (2007Pires, A. P. G., & Bromberger, S. M. T. (2007). A Educação Ambiental e o trabalho de cidadania com adolescentes. Ambiente & Educação, 12, 91-100.), que relatam o processo de construção e aplicação de oficinas didático-científicas com o objetivo de abordar a EA e questões sobre saúde; Burjaili e Ribeiro (2004Burjaili, M. M., & Ribeiro, R. (2004). A Ciência desafiada pela cidadania. Revista de Educação Popular, 3, 65-66.), que descrevem um projeto em que professores, estudantes e representantes locais investigaram os principais problemas de uma comunidade, suas causas e possíveis soluções com o objetivo de propor mudanças no contexto local; Silva e Assis (2017Silva, L. R., & Assis, A. E. S. Q. (2017). O Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica para o Ensino Médio (PIBIC-EM): a política pública, a ciência e a cidadania. Revista Exitus, 7(1), 78.), que analisam como o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica para o Ensino Médio (PIBIC-EM) contribuiu na formação crítica dos participantes, constatando uma mudança na postura quanto à NdC e o reconhecimento de sua capacidade de reivindicar direitos; Oliveira et al (2017Oliveira, D. L., Sabino, C. V. S., & Matos, C. B. (2017). Oficina de panificação: cidadania, ascensão socioeconômica, conhecimento científico e diálogo entre gerações. Experiências Em Ensino de Ciências, 12(4), 42-59.), que relatam uma proposta de alfabetização científica centrada na valorização de saberes populares, identificando que a estratégia propiciou um maior interesse dos jovens e favoreceu a aprendizagem. Para além do contexto da Educação Básica, Honorato e Lima (2011Honorato, S. C., & Lima, I. M. S. O. (2011). Interesse Público: parceria no fortalecimento da cidadania ambiental1. Ambiente & Educação, 16(1), 13-36.) realizam a análise do Programa de Educação Ambiental em comunidades de Área de Preservação Ambiental (APA), identificando sua capacidade de promover a cidadania e estimular o protagonismo dos indivíduos, Casimiro (2014Casimiro, L. (2014). Projeto Rondon: Uma Lição De Cidadania Extensão. Revista Monografias Ambientais, 13(5), 4028-4033.) relata a experiência e o impacto social do Projeto Rondon - em que estudantes universitários contribuem para o desenvolvimento sustentável de comunidades em condição de vulnerabilidade social -, e Delgado-Mendez et al (2021Delgado-Mendez, J. M., Moreira, J. A., Dias-Trindade, S., & Machado, A. (2021). Educação e cidadania ambiental em contexto prisional - um programa de extensão universitária para cidadãos reclusos. Revista Eletrônica de Educação, 15, e4710042.) descrevem os resultados de programa de extensão universitária que busca trabalhar Educação e Cidadania Ambiental em contexto prisional. Ademais, as propostas de formação continuada de professores trazidas por Lock e Kist (2010Lock, A. P., & Kist, A. C. F. (2010). Projeto “Meio Ambiente e Cidadania” como ferramenta de transformação e apoio ao programa de festão ambiental no município de Jaguari/RS. Monografias Ambientais, 5(5), 1107-1114.), Manzochi e Carvalho (2008Manzochi, L. H., & Carvalho, L. M. (2008). Educação Ambiental formadora de cidadania em perspectiva emancipatória: constituição de uma proposta para a formação continuada de professores. Pesquisa Em Educação Ambiental, 3(2), 103-124.) e Machado et al (2015Machado, J. T., Trovarelli, R. A., Battaini, V., Brianezi, T., Alves, D., Biasoli, S., Silva, L. F. da, Sim, E. F. C., & Sorrentino, M. (2015). Espaço educadores sustentáveis: a dimensão da cidadania incorporada a partir de processoes educadores ambientalistas. Comunicações, 22, 217-240.) também são alinhadas à formação do cidadão participativo, em que a EA é vista como um caminho para o Ensino de Ciências compromissado com a formação para a cidadania.

Quanto aos trabalhos voltados para a justiça social, foram consideradas as práticas de Vieira e Domingos (2021Vieira, L. F., & Domingos, P. (2021). O direito à cidade como perspectiva para prática da EA Crítica e cidadania emancipatória: Ensino, Saude e Ambiente, 14(esp.), 536-551. https://doi.org/10.22409/resa2021.v14iesp..a50764
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) que, ao investigar as áreas da cidade acessadas por jovens de origens periféricas, identificaram a exclusão dos jovens de baixa renda das áreas mais privilegiadas do Rio de Janeiro, resultando na limitação de suas perspectivas de futuro e redução das suas oportunidades de formação cultural e intelectual, e Netto et al (2012Netto, T. A., Silva, M. M., & Hillig, C. (2012). Educação Ambiental e cidadania: experiência projeto arquitetos do saber. Monografias Ambientais, 5(5), 992-999.) que relatam um projeto realizado no Rio Grande do Sul, no qual buscaram ampliar o conhecimento sobre Ciências, Tecnologia, Agroecologia e Política e as perspectivas de futuro de alunos de uma comunidade em condição de vulnerabilidade social.

DISCUSSÃO DOS TRABALHOS DE NATUREZA TEÓRICA.

Dos estudos de natureza teórica (n=24), destacam-se os que estão na interface entre Ensino de Ciências, cidadania e EA (n=11) e no contexto da alfabetização e letramento científico (n=6). Quanto às discussões sobre cidadania trazidas pelos autores, uma pequena parcela considera sua polissemia (n=6) e quanto às perspectivas adotadas, se destacam os trabalhos que privilegiam a formação do cidadão participativo (n=12) e que não privilegiam nenhuma versão (n=7), as perspectivas de cidadão individualmente responsável (n=4) e voltado para a justiça social (n=1) são pouco adotadas.

Entre os estudos que trazem discussões voltadas para o favorecimento do cidadão participativo, Pian (1992Pian, M. C. D. (1992). O ensino de ciência e cidadania. Em Aberto, 11(55), 49-56.) reconstrói a associação histórica entre Ensino de Ciências e cidadania, destacando as potencialidades de uma educação científica voltada para a formação crítica e participativa dos indivíduos; Praia, Gil-Pérez e Vilches (2007Praia, J., Gil-Pérez, D., & Vilches, (2007). O papel da Natureza da Ciência na educação para a cidadania. Ciência & Educação, 13(2), 141-156.) defendem a alfabetização científica como essencial à cidadania por fornecer uma quantidade mínima de conhecimentos para a tomada de decisão consciente em questões sociocientíficas, e destacam, ainda, que a compreensão de aspectos sobre NdC contribuem nesse processo. Da mesma forma, Ceschim e Oliveira (2018Ceschim, B., & Oliveira, T. B. (2018). Transgênicos, letramento científico e cidadania. Revista Brasileira de Ensino de Ciência e Tecnologia, 11(1), 131-154.) argumentam que o Ensino de Ciências voltado ao letramento científico pode romper com o ensino tradicional de conceitos e contribuir na formação de indivíduos participativos e engajados no debate público, e Santos (2014Santos, W. L. P. (2014). Educação CTS e cidadania: confluências e diferenças. Amazônia: Revista de Educação Em Ciências e Matemáticas, 9(17), 49-62.) destaca que, embora não se possa reduzir todo o Ensino de Ciências à perspectiva CTS, a educação voltada para esta abordagem pode contribuir na preparação de indivíduos para a tomada de decisão em questões sociocientíficas.

No contexto da EA, destacam-se os trabalhos que articulam-na à propostas metodológicas com o intuito de promover o desenvolvimento de cidadãos participativos e uma melhor compreensão de problemas sociocientíficos, em que os autores propõe que as práticas de EA ocorram a partir da abordagem de problemas locais (Colombo, 2014Colombo, S. R. (2014). A Educação Ambiental como instrumento na formação da cidadania. Revista Brasileira de Pesquisa Em Educação Em Ciências, 14, 67-75.) e do uso de casos controversos (Farias & Barolli, 2013Farias, C. R. O., & Barolli, E. (2013). Casos controversos sob o enfoque de um paradigma indiciário: o ensino de ciências no horizonte formativo da cidadania ambiental. Perspectiva, 31(3), 1131-1156.), e indicam as potencialidades de aliar a EA à Aprendizagem Serviço, Fóruns Comunitários (Silva & Araújo, 2019Silva, M. A. M., & Araújo, U. F. (2019). Aprendizagem-serviço e fóruns comunitários: articulações para a construção da cidadania na educação ambiental. Ambiente & Educação, 24(1), 257-273.) e práticas de ativismo (Reis, 2021Reis, P. (2021). Cidadania Ambiental e Ativismo Juvenil. Ensino de Ciências e Tecnologia Em Revista - ENCITEC, 11(2), 05-24.). Por outro lado, ainda no contexto da EA, existem trabalhos de revisão da literatura para debater questões sociocientíficas específicas em sintonia com a educação para a cidadania, contando com discussões voltadas para a poluição atmosférica (Nóbrega, 2008Nóbrega, M. R. (2008). Esse ar deixou minhas vistas cansadas, nada de mais... um trinômio imperativo: educação ambiental, cidadania e qualidade do ar. Revista Eletrônica Do Mestrado Em Educação Ambiental, 21, 319-331.), a preservação dos recursos hídricos (Santos & Batista, 2018Santos, L. H., & Batista, R. O. S. (2018). Educação, ética e sustentabilidade no fortalecimento à cidadania ambiental. Revista EDaPECI, 18(2), 73-82.), a adoção de projetos interdisciplinares (Locatelli, 2020Locatelli, T. (2020). A utilização da tecnologia, oficinas e jornadas interdisciplinares para desenvolver a aprendizagem significativa da educação ambiental: um ato de cidadania. Revista Monografias Ambientais, 1, 14.) e o consumo consciente de energia elétrica (Fortes & João, 2021Fortes, A. G., & João, A. A. (2021). Ensino de Física e cidadania: perspectivas para o consumo consciente de eletricidade em Moçambique. Revista de Estudos e Pesquisas Sobre Ensino Tecnológico, 7(e178521), 1-15.), e os trabalhos de Silva e El-Hani (2014)Silva, L. R., & Assis, A. E. S. Q. (2017). O Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica para o Ensino Médio (PIBIC-EM): a política pública, a ciência e a cidadania. Revista Exitus, 7(1), 78. e Nepomuceno e Guimarães (2013Nepomuceno, A. L. O., & Guimarães, M. (2013). Caminhos da práxis participativa à construção da cidadania socioambiental. Revista de Educação Ambiental, 21(1), 59-74.), que se posicionam a favor de uma EA crítica que não reduza os problemas sociocientíficos à natureza, mas que leve em consideração aspectos sociopolíticos e explore ações para além do indivíduo.

Ademais, Pinhão e Martins (2016Pinhão, F., & Martins, I. (2016). Cidadania e Ensino De Ciências: questões para o debate. Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências(Belo Horizonte), 18(3), 9-29.) exploram a forma como o conceito de cidadania pode adquirir diferentes significados conforme os diferentes modelos políticos e como a cidadania foi historicamente associada ao Ensino de Ciências nas propostas educacionais do Estado brasileiro e Verrangia e Silva (2010Verrangia, D., & Silva, P. B. G. (2010). Cidadania, relações étnico-raciais e educação: Desafios e potencialidades do ensino de Ciências. Educação e Pesquisa, 36(3), 705-718.), partindo do compromisso do Ensino de Ciências com a formação para a cidadania, argumentam que as relações étnico-raciais são imprescindíveis para a formação integral do cidadão e fornecem caminhos para abordagens que podem contribuir na luta pelo fim do preconceito e descriminação racial. Pietrocola e Souza (2019Pietrocola, M., & Souza, C. R. (2019). A sociedade de risco e a noção de cidadania: desafios para a educação científica e tecnológica. Linhas Críticas, 25, 56-73.) e Miranda e Zaneti (2020Miranda, D. B., & Zaneti, I. C. B. B. (2020). A abordagem socioambiental na educação em ciências como caminho para a construção da cidadania na sociedade de risco. Ensaio Pesquisa Em Educação Em Ciências (Belo Horizonte), 22, 1-21.), por sua vez, partem do conceito de Sociedade de Risco de Ulrich Beck para discutir como o Ensino de Ciências pode ampliar discussões sobre problemas sociocientíficos e, dessa forma, contribuir no processo de formação da cidadania e na tomada de decisão.

Ainda no âmbito das discussões teóricas são feitas problematizações sobre o papel da divulgação científica em contextos sociais nos quais o acesso às informações sobre Ciência é limitado (Albagli, 1996Albagli, S. (1996). Divulgação científica: informação científica para a cidadania?Ciência Da Informação, 25(3), 396-404.) e à educação com ênfase na aprendizagem de Ciência e Tecnologia, com a defesa de que o ensino formal deve priorizar a formação do indivíduo (Oliveira et al., 2000Oliveira, A., Barreto, F. C., Filho, H., Domingues, I., Beirão, P. S., Barbosa, R. A. N. M., & Almeida, V. A. F. (2000). Preparando o futuro: educação, ciência e tecnologia - suas implicações para a formação da cidadania. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, 81(198), 316-341.). Além disso, estudos refletem sobre como estereótipos associados à Ciência podem afastar jovens com potenciais criativos (Meis & Fonseca, 1992Meis, L., & Fonseca, L. (1992). O Ensino de Ciência e cidadania. Em Aberto, 11(55), 57-62.) e argumentam em prol da aprendizagem significativa como forma de favorecer a cidadania (Moreira, 2021Moreira, M. A. (2021). A relevãncia do conhecimento científico para a cidadania e a incoerência da educação em ciências1. Experiências Em Ensino de Ciências, 16(1), 1-9.), associam a cidadania ao conhecimento e domínio de conceitos científicos (Cavalcante, 1999Cavalcante, M. A. (1999). O Ensino de uma NOVA FÍSICA e o Exercício da Cidadania. Revista Brasileira de Ensino de Física, 21(4), 550-551.) e exploram o conceito de cidadania a partir da concepção dos Direitos Humanos (Lopes et al., 2012Lopes, J. R., Victer, E. F., & Flóra, M. J. S. (2012). Cidadania: Reflexões Sobre Sua Construção. Revista de Educação, Ciências e Matemática, 2, 81-96.).

SÍNTESE DO CONHECIMENTO

Ao realizar a revisão bibliográfica sobre o Ensino de Ciências e a formação para a cidadania, foram levantados 64 artigos provindos de revistas de Ensino e Educação Qualis A1, A2 e B1, classificadas conforme o quadriênio 2013-2016. Foi identificada uma tendência de crescimento no número de artigos publicados sobre o tema ao longo das duas últimas décadas. Também foi possível perceber que os estudos da área apresentam um foco direcionado para a Educação Básica, especialmente no Ensino Fundamental. De modo geral, com este estudo podemos perceber que a área ainda aborda a temática da cidadania de forma insipiente e pouco rigorosa, e tal percepção só foi possível por meio da classificação dos trabalhos em categorias. Entretanto, devemos ressaltar a limitação metodológica que existe por trás de toda a proposta estruturalista que acaba por simplificar a realidade a modelos que nem sempre dão conta do todo. Desta forma, quando classificamos um artigo a uma categoria, não pretendemos dizer que o estudo se limite rigorosamente a um modelo específico, mas que apresenta traços que se aproximam desse modelo em questão. Ademais, os problemas reais que afetam o cotidiano dos indivíduos não se restringem a uma forma ou outra de utilização do conhecimento científico, mas ao reconhecimento de que, por vezes, diferentes formas de ação serão necessárias e, portanto, cabe a educação em ciências fornecer subsídios para que os cidadãos saibam de posicionar frente as questões sociocientíficias que podem vir a acometer suas vidas e comunidades.

Quanto à conceitualização da cidadania no contexto educacional, os discursos de professores (Cosenza et al., 2014Cosenza, A., Freire, L. M., Espinet, M., & Martins, I. (2014). Relações entre justiça ambiental, ensino de ciências e cidadania em construções discursivas docentes. Revista Brasileira de Pesquisa Em Educação Em Ciências, 14(2), 89-98.; Déjardin, 2018Déjardin, I. P. (2018). Possibilidades socioambientais e interdisciplinares da cidadania a partir do que dizem alunos e professores de uma escola pública de ensino fundamental em Salvador-Bahia. Educação (UFSM), 43(1), 27-40.; Ferreira & Freitas, 2013Ferreira, D. T., & Freitas, N. M. S. (2013). Ensino de ciências e cidadania: perspectivas para o consumo sustentável. Amazônia: Revista de Educação Em Ciências e Matemáticas, 10(19), 78.; Kreuger & Ramos, 2017Kreuger, S. B., & Ramos, P. (2017). Concepções de cidadania na Educação em Ciências: o que dizem os Projetos Político-Pedagógicos e os professores de escolas municipais de Petrópolis - RJ. Ensaio Pesquisa Em Educação Em Ciências (Belo Horizonte), 19(0), 1-23.; P. O. Santos et al., 2005Santos, P. O., Bispo, J. S., & Omena, M. L. R. A. (2005). O ensino de ciências naturais e cidadania sob a ótica de professores inseridos no programa de aceleração de aprendizasgem da EJA. Ciência & Educação, 11(3), 411-426.) e estudantes (Déjardin, 2018Déjardin, I. P. (2018). Possibilidades socioambientais e interdisciplinares da cidadania a partir do que dizem alunos e professores de uma escola pública de ensino fundamental em Salvador-Bahia. Educação (UFSM), 43(1), 27-40.; L. R. Santos et al., 2020Santos, L. R. O., Costa, J. J., & Souza, R. M. (2020). Educação (Ambiental) para a cidadania: ações e representações de estudantes da Educação Básica. Revista Eletrônica Do Mestrado Em Educação Ambiental, 37(1), 188-207.) estão principalmente associados a princípios liberais e se alinham às políticas educacionais brasileiras, que favorecem um modelo de cidadão passivo (Piassi, 2011Piassi, L. P. (2011). Educação científica no ensino fundamental: os limites dos conceitos de cidadania e inclusão veiculados nos PCN. Ciência & Educação (Bauru), 17(4), 789- 805.) e não investem em estratégias para a promoção da cidadania participativa (Anello, 2004Anello, L. F. S. (2004). A intersetorialidade das políticas púnlicas nacionais de meio ambiente, Educação Ambiental e construção da cidadania. Revista Eletrônica Do Mestrado Em Educação Ambiental, 13, 52-63.). Desse modo, faltam estudos no âmbito formação inicial de professores e no contexto universitário de modo geral. É preciso investigar quais compromissos políticos e sociocientíficos estão sendo perpetuados na formação dos futuros professores de ciências e quais estratégias podem ser capazes de ampliar seus posicionamentos.

Embora os ensaios teóricos e as análises discursivas contem com uma pluralidade de conceitualizações sobre cidadania e, sobretudo, tendências políticas alinhadas a promoção do cidadão participativo e a modelos democráticos de lógica socializante, os relatos de intervenções apontam por um caminho diferente, em que se sobressaem abordagens consistentes com posicionamentos liberais - o que pode ser um reflexo da dificuldade de fugir da lógica social dominante ou uma consequência de políticas públicas consistentes com o liberalismo político. Faltam iniciativas que articulem o conhecimento científico a práticas que favoreçam a construção de uma sociedade mais justa e capaz de superar as desigualdades sociais e econômicas. Destacamos, ainda, a falta de iniciativas que discutam questões identitárias, raciais e de gênero na interface entre Ensino de Ciências e cidadania - o que evidencia uma possível dificuldade da área em conceber as disciplinas científicas como elementos de superação das desigualdades e de busca por justiça social. Mais uma vez, torna-se evidente a importância de investigações no contexto do Ensino Superior e de fomento à discussões democráticas na formação inicial de professores de ciências, pois, o favorecimento de modelos democráticos mais justos depende de que os professores tratem a escola como um espaço político (Vilardi et al., 2012Vilardi, L. G. A., Prata, R. V., & Martins, I. (2012). Educação para a cidadania: o papel da prática pedagógica na formação para a tomada de decisão. Revista Brasileira de Pesquisa Em Educação Em Ciências, 12(3), 9-24.).

Ademais, os ensaios teóricos apontam potencialidades na articulação de questões sociocientíficas a estratégias que favoreçam o engajamento social dos alunos com problemas reais, que sejam de interesse e façam sentido para os estudantes e nesse contexto, abordagens CTS/CTSA (Pietrocola & Souza, 2019Pietrocola, M., & Souza, C. R. (2019). A sociedade de risco e a noção de cidadania: desafios para a educação científica e tecnológica. Linhas Críticas, 25, 56-73.; Santos, 2014Santos, W. L. P. (2014). Educação CTS e cidadania: confluências e diferenças. Amazônia: Revista de Educação Em Ciências e Matemáticas, 9(17), 49-62.), estratégias de Ativismo (Reis, 2021Reis, P. (2021). Cidadania Ambiental e Ativismo Juvenil. Ensino de Ciências e Tecnologia Em Revista - ENCITEC, 11(2), 05-24.), Aprendizagem Serviço (Silva & Araújo, 2019Silva, M. A. M., & Araújo, U. F. (2019). Aprendizagem-serviço e fóruns comunitários: articulações para a construção da cidadania na educação ambiental. Ambiente & Educação, 24(1), 257-273.), abordagens de casos controversos (Farias & Barolli, 2013Farias, C. R. O., & Barolli, E. (2013). Casos controversos sob o enfoque de um paradigma indiciário: o ensino de ciências no horizonte formativo da cidadania ambiental. Perspectiva, 31(3), 1131-1156.) e elementos de NdC (Praia et al., 2007Praia, J., Gil-Pérez, D., & Vilches, (2007). O papel da Natureza da Ciência na educação para a cidadania. Ciência & Educação, 13(2), 141-156.) podem ser de grande contribuição. Contudo, é necessário ter clareza que o processo de construção da cidadania não se restringe ao espaço escolar, que os estudantes já são cidadãos, que estão inseridos em práticas e vivências sociais específicas e, dessa forma, já se preocupam com problemas e questões reais (Piassi, 2011Piassi, L. P. (2011). Educação científica no ensino fundamental: os limites dos conceitos de cidadania e inclusão veiculados nos PCN. Ciência & Educação (Bauru), 17(4), 789- 805.).

Por fim, ainda que não se possa restringir ou limitar o papel de um cidadão e a forma como ele articulará o conhecimento científico a modelos predeterminados, e tendo em vista que do ponto de vista pragmático pode ser mais interessante considerar a coexistência de diferentes posicionamentos conforme as situações cotidianas com que o indivíduo se depara, as pesquisas de Ensino de Ciências apontam um compromisso com a preparação do sujeito para a tomada de decisões - tanto em nível individual, quanto em nível comunitário - beneficiando discussões e práticas voltadas aos modelos de cidadão participativo e individualmente responsável. Desta forma, o principal papel do conhecimento científico parece estar em servir de ferramenta para que o cidadão seja capaz de se posicionar e tomar decisões. Embora tal propósito possa parecer razoável e singular, existe um abismo político entre o cidadão que utiliza do conhecimento científico apenas para escolher entre o alimento orgânico ou não e o cidadão que conhecendo as ciências é capaz de se posicionar em assembleias e manifestações coletivas contra o uso de agrotóxicos - o primeiro aceita passivamente as condições impostas pelo Estado, enquanto que o segundo participa do processo de construção de políticas que possam privilegiar um modelo mais justo de sociedade. Desta forma, destacamos, mais uma vez, a importância de que professores e pesquisadores da área tenham clareza do compromisso político associados às suas práticas, pois a ambiguidade favorece um modelo que não dá conta dos problemas contemporâneos e, ainda que os ensaios teóricos avancem nas articulações entre o Ensino de Ciências e propostas políticas de caráter mais participativo, as práticas relatadas em trabalhos empíricos, assim como as representações dos professores e estudantes, reforçam a forte presença do posicionamento político liberal na área de Ensino e Educação em Ciências.

AGRADECIMENTOS

Todos os autores agradecem à CAPES pelo apoio ao Programa de Pós-Graduação, a autora 1 agradece especificamente à CAPES pela bolsa de doutorado e o autor 2 agradece ao CNPq pela bolsa de produtividade nível 2.

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  • 1
    O estudo de Kreuger e Ramos (2021) aparece nas duas categorias, pois estuda as concepções de cidadania nos Projetos Político-Pedagógicos e nos discursos de professores.

Declaração sobre disponibilidade de dados

  • Data Availability Statement

    O conjunto de dados que dá suporte aos resultados deste estudo está disponível no dataverse Scielo EPEC e pode ser acessado em https://data.scielo.org/dataset.xhtml?persistentId=doi:10.48331/scielodata.S0NMG8
  • O CECIMIG agradece ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico) e à FAPEMIG (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais) pela verba para a editoração deste artigo.

Editado por

Editor responsável: Luciana Massi

Disponibilidade de dados

O conjunto de dados que dá suporte aos resultados deste estudo está disponível no dataverse Scielo EPEC e pode ser acessado em https://data.scielo.org/dataset.xhtml?persistentId=doi:10.48331/scielodata.S0NMG8

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    13 Nov 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    04 Abr 2023
  • Aceito
    28 Set 2023
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