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A superfície de jogo pode influenciar o desempenho tático de jogadores de futebol?

Does playing surface influence the tactical performance of soccer players?

Resumos

Este artigo objetiva comparar o desempenho tático de jogadores de futebol em três superfícies distintas de jogo (grama artificial, grama natural e terra) e verificar as diferenças entre o desempenho tático ofensivo e defensivo nessas superfícies. A amostra integra 3.999 ações táticas realizadas por 84 jogadores sub-13, sendo 1.136 ações realizadas no campo de grama natural, 2.183 no campo de grama artificial e 680 no campo de terra. O instrumento utilizado para coleta e análise dos dados foi o FUT-SAT, que avalia o desempenho tático dos jogadores. Para aferir as diferenças entre as variáveis, recorreu-se aos testes one-way Anova e Kruskal-Wallis. Não foram verificadas diferenças no desempenho tático para as distintas superfícies de jogo, apesar do desempenho defensivo ter se revelado inferior ao ofensivo (p<0,001). Logo, conclui-se que a superfície de jogo não parece influenciar o desempenho tático dos jogadores.

Superfície de Jogo; Futebol; Desempenho Tático


This paper aims to compare the tactical performance of soccer players in three different playing surfaces (artificial grass, natural grass and gravel), as well as to check for differences between offensive and defensive tactical performance. The sample comprised 3,999 tactical actions performed by 84 U-13 players, being 1,136 actions on natural grass field, 2,183 on artificial grass field and 680 on gravel field. The instrument used for data collection and analysis was FUT-SAT, which assesses the tactical performance of players. In order to check for differences between variables, one-way ANOVA and Kruskal-Wallis were run. Tactical performance was not different between playing surfaces. However, in general, the defensive tactical performance proved to be poorer than the offensive one (p<0.001). Therefore, it is concluded that the playing surface had no influence on the tactical performance and players evidenced better offensive tactical performance rather than a defensive one.

Playing Surface; Soccer; Tactical Performance


ARTIGOS DE OPINIÃO

A superfície de jogo pode influenciar o desempenho tático de jogadores de futebol?

Does playing surface influence the tactical performance of soccer players?

Rodrigo de Miranda Monteiro SantosI; Carlos Miguel Morais Coelho DiasII; Júlio Manuel Garganta da SilvaIII; Israel Teoldo da CostaIV

IGraduado. Membro do Núcleo de Pesquisa e Estudos em Futebol da Universidade Federal de Viçosa, Viçosa-MG, Brasil

IIGraduado. Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, Porto, Portugal

IIIDoutor. Professor da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, Porto, Portugal

IVDoutor. Professor do Departamento de Educação Física da Universidade Federal de Viçosa, Viçosa-MG, Brasil

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Rodrigo de Miranda Monteiro Santos. Núcleo de Pesquisa e Estudos em Futebol, Departamento de Educação Física, Universidade Federal de Viçosa - UFV. Av. P.H. Rolfs, S/N. Campus Universitário, CEP: 36.570-000, Viçosa - MG, Brasil. E-mail: mirandamonteiro@globo.com

RESUMO

Este artigo objetiva comparar o desempenho tático de jogadores de futebol em três superfícies distintas de jogo (grama artificial, grama natural e terra) e verificar as diferenças entre o desempenho tático ofensivo e defensivo nessas superfícies. A amostra integra 3.999 ações táticas realizadas por 84 jogadores sub-13, sendo 1.136 ações realizadas no campo de grama natural, 2.183 no campo de grama artificial e 680 no campo de terra. O instrumento utilizado para coleta e análise dos dados foi o FUT-SAT, que avalia o desempenho tático dos jogadores. Para aferir as diferenças entre as variáveis, recorreu-se aos testes one-way Anova e Kruskal-Wallis. Não foram verificadas diferenças no desempenho tático para as distintas superfícies de jogo, apesar do desempenho defensivo ter se revelado inferior ao ofensivo (p<0,001). Logo, conclui-se que a superfície de jogo não parece influenciar o desempenho tático dos jogadores.

Palavras-chave: Superfície de Jogo. Futebol. Desempenho Tático.

ABSTRACT

This paper aims to compare the tactical performance of soccer players in three different playing surfaces (artificial grass, natural grass and gravel), as well as to check for differences between offensive and defensive tactical performance. The sample comprised 3,999 tactical actions performed by 84 U-13 players, being 1,136 actions on natural grass field, 2,183 on artificial grass field and 680 on gravel field. The instrument used for data collection and analysis was FUT-SAT, which assesses the tactical performance of players. In order to check for differences between variables, one-way ANOVA and Kruskal-Wallis were run. Tactical performance was not different between playing surfaces. However, in general, the defensive tactical performance proved to be poorer than the offensive one (p<0.001). Therefore, it is concluded that the playing surface had no influence on the tactical performance and players evidenced better offensive tactical performance rather than a defensive one.

Keywords: Playing Surface. Soccer. Tactical Performance.

INTRODUÇÃO

A literatura tem indicado que o tipo de superfície sobre qual o jogo de Futebol é realizado pode afetar a natureza e a dinâmica do jogo (LEES; LAKE, 2003; GIBBS; ADAMS; BAKER, 1993). Logo, a interação do jogador com o campo de jogo parece ser relevante para o desempenho esportivo. Nomeadamente, a natureza das superfícies dos terrenos de jogo pode condicionar a realização de comportamentos em função da regularidade da trajetória imprimida e a imprimir à bola (LEES; LAKE, 2003).

A variabilidade nas condições de prática do Futebol era desencorajada no passado, e alguns autores chegavam a considerar sua redução ou até mesmo eliminação como alternativas para que se conseguisse maior solidez na realização de ações por parte dos jogadores (FONSECA; GARGANTA, 2006). Todavia, essa variabilidade - que é a característica proeminente do futebol de rua, notoriamente praticado em superfícies irregulares, como os campos de terra – afigura-se importante para promover a adaptação e a plasticidade das habilidades técnicas dos jogadores (FONSECA; GARGANTA, 2006).

A prática do futebol de rua ou em superfícies irregulares não assegura, no entanto, que um jogador alcance o alto nível no futuro, já que se ele não souber utilizar a informação adquirida neste contexto para atingir os objetivos do jogo de Futebol, seu aprendizado terá parca utilidade (FONSECA; GARGANTA, 2006). Estes autores acrescentam ainda que um jogador que consegue fazer uso de tal informação de forma objetiva, certamente se desenvolverá de modo significativo, pois estará fortalecendo a conexão entre o conhecimento e a ação. Isso sugere que embora os jovens possam se desenvolver a partir da prática informal do Futebol, nem sempre atingem idêntico nível de desempenho no futuro (MOMBAERTS, 1999).

Alguns estudos foram conduzidos no intuito de avaliar as condições das superfícies de jogo, tanto para uso comunitário quanto para utilização em competições profissionais (FIFA, 2001; THE FOOTBALL ASSOCIATION, 2005). Esses trabalhos foram realizados de forma a garantir à população em geral e aos profissionais do esporte, uma boa prática do jogo de futebol em campos de grama natural e artificial. A partir de pesquisas como essas, as superfícies do jogo de Futebol foram aperfeiçoadas em resposta às exigências de segurança e dinâmica do jogo (LEES; LAKE, 2003). Outro trabalho recente sobre os tipos de superfície no Futebol revelou a significativa influência da superfície de jogo sobre a intensidade do exercício em jogos reduzidos (BRITO; KRUSTRUP; REBELO, 2012). No entanto, nenhum dos estudos citados avaliou o desempenho tático dos jogadores em função das superfícies estudadas. Além disso, presume-se que por terem sido realizados em países europeus (onde a incidência de campos de grama artificial e natural é reconhecidamente maior do que em países menos desenvolvidos), estes estudos não consideraram os campos de terra ou terrenos irregulares (cuja incidência é, por outro lado, reconhecidamente maior em países menos desenvolvidos) entre as superfícies avaliadas.

Outros estudos destacaram, por sua vez, os benefícios da prática do Futebol na rua ou em superfícies irregulares para a formação das habilidades motoras e cognitivas inerentes ao jogo de Futebol (MICHELS, 2001; FONSECA; GARGANTA, 2006; ARAÚJO et al., 2010). Alguns trabalhos relevantes foram desenvolvidos no intuito de avaliar a qualidade das superfícies usadas nesta modalidade esportiva, no que diz respeito às suas implicações sobre fatores alheios ao desempenho tático, tais como a determinação de padrões para os campos de jogo em diferentes categorias e os principais equipamentos utilizados pelos jogadores na prática do Futebol (BAKER; BELL, 1986; LEES; LAKE, 2003; WINTERBOTTOM, 1985).

A importância do desempenho tático no jogo de Futebol tem sido destacada por vários autores que vêm estudando e relatando dados referentes à análise de jogos (REEP; BENJAMIN, 1968; GRÉHAIGNE; GODBOUT; BOUTHIER, 1997; MOMBAERTS, 1997; PACHECO, 2005). Estes dados têm sido utilizados de forma cada vez mais abrangente para o treinamento e otimização da performance tática, tanto ao nível profissional quanto para a identificação de talentos (CARLING; WILLIAMS; REILLY, 2005).

A partir da análise da literatura, é possível perceber que as condições da superfície onde o jogo de futebol é praticado têm merecido especial atenção de pesquisadores nas últimas décadas, assim como outras variáveis que podem, em maior ou menor grau, alterar os comportamentos desempenhados em campo. Do mesmo modo, os dados obtidos a partir da análise do desempenho tático têm se mostrado fundamentais para que se consiga aperfeiçoar o próprio desempenho, pois facultam informações preciosas para o treinamento, cuja função deve ser a de reproduzir as variáveis especificadoras do processo competitivo ao qual tem de servir (GARGANTA, 2009). A relevância do presente estudo vai ao encontro das necessidades de se comparar o desempenho tático de jogadores de futebol em diferentes superfícies. Sendo assim, o objetivo deste artigo é comparar o desempenho tático de jogadores deste jogo esportivo em três diferentes tipos de superfície, bem como verificar se houve diferenças entre o desempenho tático ofensivo e defensivo para cada uma das superfícies.

MATERIAIS E MÉTODOS

Amostra

A amostra deste estudo compõe-se de 3.999 ações táticas realizadas por 84 jogadores da categoria sub-13, sendo 1.136 ações realizadas no campo de grama natural (538 ofensivas e 598 defensivas), 2.183 no campo de grama artificial (1.041 ofensivas e 1.142 defensivas) e 680 no campo de terra (322 ofensivas e 358 defensivas).

Instrumento

O instrumento utilizado para a observação e análise do desempenho tático dos jogadores foi o Sistema de Avaliação Tática no Futebol (FUT-SAT), desenvolvido e validado por Teoldo et al. (2011). O teste foi realizado em um campo com uma área de 36 m de comprimento por 27 m de largura e possui duração de 4 min. Cada uma das duas equipes que realizam o teste é formada por três jogadores de linha mais um goleiro, que defende uma baliza de 6 m de largura por 2 m de altura. Todas as regras do jogo de futebol se aplicam ao teste, à exceção da regra do impedimento. As análises das ações táticas foram realizadas através do software Soccer Analyser®. Os dados obtidos foram inseridos em uma planilha ad hoc do programa Microsoft Excel®, que permite a realização automática do cálculo dos Índices de Performance Tática Ofensivo (IPTO) e Defensivo (IPTD), a fim de quantificar o desempenho tático dos jogadores em cada uma das superfícies.

PROCEDIMENTOS

Todos os sujeitos que participaram da realização do estudo assinaram um termo de consentimento, declarando estarem de acordo com os procedimentos dos testes, bem como com a utilização e publicação dos resultados. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade do Porto, através do protocolo de código CEFADE 15/2013.

Após a distribuição dos jogadores em equipes e a entrega de coletes numerados, os atletas foram orientados acerca do objetivo do teste e, após as devidas explanações, foram concedidos 30 segundos de familiarização.

MATERIAL

Para a gravação dos jogos referentes ao teste foi utilizada uma câmera filmadora digital SAMSUNG modelo H106. Os arquivos de vídeo obtidos a partir das gravações foram inseridos em formato digital em um computador portátil LG modelo E500 com processador Intel T2370, através de um cabo IEEE 1394, e convertidos para o formato "avi". Para edição e armazenamento dos vídeos foi utilizado o software Utilius VS®.

Análise Estatística

Análises descritivas foram realizadas (Frequência, Média e Desvio-Padrão). O teste de normalidade Kolmogorov-Smirnov foi aplicado para verificar a distribuição dos dados. Os testes de one-way Anova e Kruskal-Wallis foram utilizados para verificar diferenças entre as variáveis, ambos com um nível de significância de 0,05. Para a comparação entre os valores do Índice de Performance Tática Defensivo (IPTD) e Ofensivo (IPTO), utilizou-se o teste t pareado, com nível de significância de 0,05. Para o tratamento dos dados foi utilizado o software SPSS (Statistical Package for Social Science) for Windows®, versão 17.0.

Análise da Fiabilidade

As observações referentes ao FUT-SAT foram realizadas por três observadores treinados que revelaram concordância interobservadores superior a 0,80. A fiabilidade intraobservador foi também verificada, apresentando valores de 0,95 (erro-padrão=0,014), 0,89 (erro-padrão=0,022) e 0,92 (erro-padrão=0,018) para o primeiro, o segundo e o terceiro avaliadores, respectivamente. Esses valores são superiores ao apontado como de referência (0,75) pela literatura (BAKEMAN; GOTTMAN, 1997). Para a análise da fiabilidade, foram reavaliadas 563 ações táticas realizadas pelos jogadores, ou 14,07% da amostra, uma porcentagem mais elevada do que a apontada como referência (10%) por Tabachnick e Fidell (2012). A análise das fiabilidades foi realizada através do teste Kappa de Cohen.

RESULTADOS

Na Tabela 1 são mostrados os dados referentes ao desempenho tático geral dos jogadores em cada uma das superfícies de jogo. Os campos de grama sintética e de terra proporcionaram valores absolutos mais elevados para o Índice de Performance Tática Ofensivo (IPTO) em relação ao campo de grama natural que, por sua vez apresentou valor absoluto superior no Índice de Performance Tática Defensivo (IPTD). Todavia, as diferenças mencionadas não se mostraram estatisticamente significativas (p>0,05).

É possível, contudo, notar que os valores de IPTO e IPTD revelaram diferenças entre si, com os valores de IPTO mostrando-se significativamente mais elevados do que os de IPTD para todas as superfícies (p<0,001), demonstrando que o desempenho tático ofensivo dos jogadores foi superior ao defensivo para todas as superfícies.

DISCUSSÃO

O objetivo deste artigo consiste em comparar o desempenho tático de jogadores de Futebol da categoria sub-13 em três diferentes tipos de superfície, bem como verificar diferenças entre o desempenho tático ofensivo e defensivo para cada uma das superfícies consideradas.

Os desempenhos táticos ofensivo, defensivo e global dos jogadores não mostraram variações significativas em decorrência da superfície de jogo utilizada. Logo, foi possível verificar que o desempenho tático dos jogadores não foi influenciado pelo tipo de superfície onde se realizaram os testes. O estudo de Teoldo et al. (2009), que avaliou a relevância do tipo de superfície, dimensão da baliza e tempo de jogo na aplicação do teste de campo do FUT-SAT, já havia revelado que os campos de terra e de grama natural não parecem exercer influência significativa sobre o comportamento tático dos jogadores. Os resultados desse artigo estão em consonância com os do presente estudo e evidenciam que o tipo de superfície onde se realiza o jogo de Futebol não parece influenciar o desempenho tático dos jogadores. No que concerne ao processo de treinamento no Futebol, fica evidenciado através dos resultados obtidos que a habilidade tática dos jogadores pode ser desenvolvida de igual forma em quaisquer das superfícies mencionadas nesses estudos.

Em estudo que avaliou a qualidade de campos de grama artificial e de grama natural em função de características referentes ao jogo de Futebol, foram encontradas diferenças em relação ao quique e rolagem da bola, tração estática e intensidade de impacto (BAKER; BELL, 1986). Porém, de acordo com o presente artigo, as diferenças observadas no estudo citado não se mostraram relevantes para o desempenho tático dos jogadores, já que não se observaram quaisquer alterações significativas nos valores dos Índices de Performance Tática no que diz respeito às superfícies avaliadas.

Em futuros estudos, afigura-se recomendável avaliar o impacto que a natureza da superfície do terreno pode ter nos tipos de habilidades técnicas utilizadas e a interação destas com os comportamentos táticos adotados.

Entretanto, apesar de os resultados não mostrarem alterações significativas no desempenho tático dos jogadores em relação às três superfícies, naquilo que diz respeito, principalmente, ao campo de terra, o que parece exercer alguma influência é a diversidade de experiências motoras e cognitivas às quais os jogadores estão sujeitos neste tipo de superfície. Essa diversidade é produto da prática informal do Futebol, pois, no futebol de rua a liberdade de ação não está limitada a um modelo de jogo coletivo pré-determinado (FONSECA; GARGANTA, 2006). Esses autores destacam ainda que ao praticarem o Futebol sobre estas superfícies, os jogadores são, frequentemente, dirigidos por um professor ou treinador, e, portanto, estão condicionados pelas determinações de comportamento tático pré-estabelecidas, opinião também evidenciada por Lopes e Silva (2009). Ainda neste contexto, é possível afirmar que os jogadores podem beneficiar de uma prática não estruturada, porque têm liberdade para criar, modificar e aplicar as regras, bem como para encontrar soluções para as diferentes situações de jogo próprias deste ambiente e que podem ser incrementadas pela variabilidade proporcionada pela superfície (WEIN, 2007; ARAÚJO et al., 2010).

A premissa de que a maior variabilidade de experiências motoras e cognitivas a que os jogadores estão sujeitos em um campo de terra influenciaria em seu desempenho também não foi evidente no presente estudo. Algumas características do campo de terra, como a irregularidade do piso e da trajetória da bola, e como consequência, da dinâmica de jogo, deveriam, pelo menos em teoria, suscitar uma ampliação do repertório de habilidades motoras e cognitivas dos jogadores - principalmente no que diz respeito à plasticidade de habilidades técnicas - e como resultado, influenciar o seu desempenho tático (FONSECA; GARGANTA, 2006). A opinião de Michels (2001), sobre a influência do futebol praticado nesse contexto, parece estar em conformidade com a dos autores acima citados, já que este declara haver vantagem por parte dos jogadores africanos e sul-americanos em comparação com os europeus em termos de agilidade, coordenação e velocidade, graças às condições favoráveis à prática informal do Futebol presentes nestes continentes e, principalmente, à irregularidade dos terrenos onde se pratica o esporte.

Ciente desta realidade e considerando o processo de ensino-aprendizagem próprio deste contexto, é recomendável que a escola de futebol - cujo surgimento remonta à extinção do futebol de rua - anteveja a importância do sincronismo entre o ensino das habilidades técnicas esportivas, o aprimoramento das capacidades cognitivas e o trabalho com as formas básicas de movimento, visando o desenvolvimento da motricidade e do comportamento tático do jogador (FREIRE, 2006).

Foram observadas diferenças entre os Índices de Performance Tática Ofensivo (IPTO) e Defensivo (IPTD). O IPTO dos jogadores avaliados em todas as superfícies foi significativamente maior do que o IPTD, demostrando que o desempenho tático na parte defensiva foi pior quando comparado ao desempenho tático na parte ofensiva. Há condicionantes que podem explicar essa ocorrência, como por exemplo a suposição de que um jogador deverá defender bem individualmente a fim de que possa defender bem coletivamente, além de possuir certo nível de qualidades técnicas, táticas e mentais importantes para gerir esta fase do jogo (HUGHES, 1994). Considerando tais exigências, é evidente a necessidade, face ao número reduzido de jogadores e às transições mais rápidas e frequentes, de maior cooperação por parte de cada atleta, seja na fase defensiva ou ofensiva, durante o jogo de 3 x 3, em comparação com o 11 x 11. Por conseguinte, um dos aspectos que também parece digno de nota ao se considerar as diferenças encontradas entre os desempenhos táticos ofensivos e defensivos, é o fato de que se torna necessária a introdução de uma cultura defensiva em uma equipe, desde que essa esteja clara a todos os jogadores e que seja abordada de forma específica no processo de treinamento (AMIEIRO, 2006). Todavia, novas pesquisas podem fornecer mais interpretações para a razão de tal diferença, de modo a confirmar ou refutar a hipótese de que há maior dificuldade por parte dos jogadores na realização de ações táticas defensivas.

CONCLUSÃO

Os resultados obtidos neste estudo revelaram não haver diferenças significativas no desempenho tático de jogadores de Futebol da categoria sub-13 em função das três superfícies de jogo avaliadas: campo de grama artificial, campo de terra e campo de grama natural. No entanto, foi possível notar diferenças significativas entre os Índices de Performance Tática Ofensivo (IPTO) e Defensivo (IPTD) para todas as superfícies, tendo o IPTO obtido valores estatisticamente mais elevados em relação ao IPTD. Portanto, conclui-se que o desempenho tático dos jogadores não foi influenciado pela superfície de jogo e que esses atletas apresentaram desempenho tático ofensivo superior ao defensivo para todas as superfícies.

Recebido em 17/08/2012

Revisado em 22/01/2013

Aceito em 22/03/2013

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    Rodrigo de Miranda Monteiro Santos.
    Núcleo de Pesquisa e Estudos em Futebol, Departamento de Educação Física, Universidade Federal de Viçosa - UFV.
    Av. P.H. Rolfs, S/N. Campus Universitário, CEP: 36.570-000, Viçosa - MG, Brasil.
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      04 Nov 2013
    • Data do Fascículo
      Jun 2013

    Histórico

    • Recebido
      17 Ago 2012
    • Aceito
      22 Mar 2013
    • Revisado
      22 Jan 2013
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