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Hábitos e percepções socioambientais na universidade: educação física e fisioterapia em foco

Habits and socio environmental perceptions in university: physical education and physiotherapy on focus

Resumos

Esta pesquisa, de corte transversal, foi realizada por meio de uma investigação descritiva exploratória, com abordagem quantitativa dos dados. O objetivo do estudo foi investigar os hábitos e as percepções socioambientais de 132 universitários (professores, alunos e profissionais técnicos ou voluntários) integrantes de laboratórios e núcleos de pesquisa, vinculados predominantemente às áreas Educação Física e Fisioterapia, de uma universidade pública do Estado de Santa Catarina. O instrumento utilizado para a coleta de dados foi um questionário adaptado da base de instrumentos de percepção socioambiental do Núcleo de Estudos de Percepção Ambiental (NEPA) da Faculdade Brasileira (UNIVIX, Vitória/ES). Os resultados encontrados enfatizam a importância e a necessidade de inserção, de diferentes formas, do tema socioambiental no contexto universitário, no sentido de permitir maior acesso a conteúdos capazes de influenciar positivamente, de maneira direta ou indireta, a saúde e a qualidade de vida, preciosos à Educação Física e à Fisioterapia.

Ambiente; Educação Física; Fisioterapia


This research, cross-sectional, was conducted by means of an exploratory descriptive research with quantitative data approach. The aim of the study was to investigate the habits and socio environmental perceptions of 132 university (teachers, students and technical professionals or volunteers) members of laboratories and research centers, linked predominantly to areas of Physical Education and Physiotherapy, in a public university State of Santa Catarina. The instrument used for data collection was a questionnaire adapted from instruments based socio environmental perception awareness of the Study of Environmental Perception (NEPA), Faculty Brazilian (UNIVIX, Vitória/ES). The results emphasize the importance and necessity of inclusion of different forms of socio environmental issue in the university context, in order to allow greater access to content capable of positively influencing, directly or indirectly, the health and quality of life, precious to Physical Education and Physiotherapy.

Environment; Physical Education; Physiotherapy


INTRODUÇÃO

Nos diferentes espaços de atuação profissional é possível perceber um crescente interesse pelos temas que envolvem as questões ambientais. Tal interesse parece ter sido impulsionado pelas características da sociedade contemporânea, alicerçada no processo produtivo industrial e na expansão dos horizontes do conhecimento (NEBEL, 2010NEBEL, G. C. S. A percepção da questão ambiental, como fator competitivo, na gestão das empresas do setor moveleiro no município de Pelotas (RS). 2010. 94f. Monografia (Graduação em Bacharelado em Administração)-Faculdade de Administração e de Turismo, Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, 2010.; DOMINGUES; KUNZ; ARAÚJO, 2013). Embora a articulação entre indústria e ciência esteja contribuindo para o progresso científico, para o crescimento da mobilidade pessoal e da produção industrial, e para a ampliação dos assentamentos humanos nas cidades, uma série de efeitos nocivos ao ambiente foi agravada nas últimas décadas, sendo acompanhada de significativas mudanças nas relações sociais, políticas, econômicas e educacionais (DIAS, 2011DIAS, G. F. Educação ambiental: princípios e práticas. 9. ed. São Paulo: Gaia, 2011.).

Marinho, Santos e Farias (2012)MARINHO, A.; SANTOS, P. M.; FARIAS, G. O. Competências e formação profissional: reflexões sobre um projeto de ensino. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, Brasília, v. 20, n. 3, p. 46-54, 2012. salientam que se faz necessário o redirecionamento das questões socioambientais para serem tratadas no âmbito educacional. Isso porque a educação está sendo entendida como uma ferramenta significativa para a efetivação de mudanças diversas requeridas na atualidade. A legislação brasileira destaca a necessidade de implantação da educação ambiental de modo contínuo e transversal, em todos os níveis de ensino, nas instâncias formal e não formal (BRASIL, 1981BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Lei n. 6.938, de 31 de agosto de 1981: dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Brasília, 1981., 1988BRASIL. Constituição (1988). Constituição Federativa do Brasil. Cap. 6: Meio Ambiente, Art. 225. Brasília, 1988., 1997BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: introdução aos Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: MEC/SEMTEC, 1997.). No entanto, a efetiva inclusão desta temática na educação ainda não está completamente evidente, especificamente no contexto do ensino superior universitário (SORRENTINO; NASCIMENTO, 2010SORRENTINO, M.; NASCIMENTO, E. P. Universidade e políticas públicas de educação ambiental. Educação em Foco, Juíz de Fora, v. 14, n. 2, p. 15-38, 2010.).

No que se refere especificamente à área das Ciências da Saúde, particularmente no contexto de cursos universitários de formação profissional em Educação Física e em Fisioterapia, a ausência de abordagem das questões ambientais sob uma perspectiva transversal e transdisciplinar parece estar ainda mais evidente. Embora essas áreas do conhecimento sejam reconhecidas pelas diferentes possibilidades de inter-relações de seu objeto de estudo (o movimento humano) com o ambiente e a sociedade, iniciativas de educação ambiental ainda parecem ser pouco exploradas, podendo, por exemplo, limitar campos de atuação profissional e dificultar a disseminação de valores e conhecimentos relacionados, por exemplo, aos cuidados com o ambiente (LEITE; CAETANO, 2004LEITE, D. M. T.; CAETANO, C. A. Educação física, esporte e lazer na natureza: preservação, modismo, apologia. Será tudo isso? Motrivivência, Florianópolis, ano 16, n. 22, p. 137-143, 2004.; INÁCIO, 2006INÁCIO, H. L. D. Lazer, educação e meio ambiente: uma aventura em construção. Pensar a Prática, Goiânia, v. 9, n. 1, p. 45-63, 2006.; MARINHO; INÁCIO, 2007MARINHO, A.; INÁCIO, H. L. D. Educação Física, meio ambiente e aventura: um percurso por vias instigantes. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Florianópolis, v. 28, n. 3, p. 55-70, 2007.; MARINHO; SANTOS; FARIAS, 2012MARINHO, A.; SANTOS, P. M.; FARIAS, G. O. Competências e formação profissional: reflexões sobre um projeto de ensino. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, Brasília, v. 20, n. 3, p. 46-54, 2012.; DOMINGUES; KUNZ; ARAÚJO, 2013).

A educação ambiental está sendo entendida como educação política, podendo ser concretizada como um espaço privilegiado no constante movimento de mudança para melhores condições de vida, em estreita relação com outros campos de atuação e formação. Nesse sentido, pode potencializar a participação e o engajamento crítico e criativo dos indivíduos, uma vez que prepara o cidadão para reivindicar justiça social, cidadania e ética nas relações sociais e com o ambiente (REIGOTA, 2009REIGOTA, M. A. S. O que é educação ambiental. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 2009.; MARINHO, 2004MARINHO, A. Atividades na natureza, lazer e educação ambiental: refletindo sobre algumas possibilidades. Motrivivência, Florianópolis, ano 16, n. 22, p. 47-70, 2004.).

Para que este entendimento de educação ambiental possa prevalecer na sociedade, é preciso que seja possibilitada vez e voz aos diferentes indivíduos de determinados contextos (SORRENTINO, 2002SORRENTINO, M. Desenvolvimento sustentável e participação: algumas reflexões em voz alta. In: LOUREIRO, C. F. B.; LAYARGUES, P. P.; CASTRO, R. S. Educação ambiental: repensando o espaço da cidadania. São Paulo: Cortez, 2002. p. 15-21.). Os sentidos humanos estão entre o que se pode considerar as principais fontes de informações sobre o ambiente. Daí decorre a importância de investigação da percepção socioambiental, especialmente quando se vislumbra um processo construtivo de educação por meio da participação efetiva dos envolvidos (FERNANDES et al., 2004FERNANDES, R. S.; SOUZA, V. J.; PELISSARI, V. B.; FERNANDES, S. Uso da percepção ambiental como instrumento de gestão em aplicações ligadas às áreas educacional, social e ambiental. In: ENCONTRO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM AMBIENTE E SOCIEDADE, 2., 2004, Indaiatuba. Anais... Indaiatuba: ANPPAS, 2004. p. 1-15.).

Fernandes e Pelissari (2003) ressaltam que cada indivíduo percebe, reage e responde diferentemente em relação ao ambiente em que está inserido. O comportamento decorrente é o resultado das percepções (individuais e coletivas) dos processos cognitivos, julgamentos, expectativas e vivência de cada um. A percepção socioambiental é, em essência, a visão de como cada indivíduo sente o ambiente que o cerca, e o que o leva, a partir dessa percepção, a interagir (positiva ou negativamente) com o seu entorno.

Nesse sentido, as investigações sobre percepção socioambiental devem estar atreladas à compreensão das diferentes formas de relação do ser humano com as realidades imediatas, nas quais se inserem a coletividade e o lugar habitado (MARIN, 2008MARIN, A. A. Pesquisa em educação ambiental e percepção ambiental. Revista Pesquisa em Educação Ambiental, São Carlos, v. 3, n. 1, p. 203-222, 2008.; BRANDALISE et al., 2009BRANDALISE, L. T.; BERTOLINI, G. R. F.; ROJO, C. A.; LEZANA, Á. G. R.; POSSAMAI, O. A percepção e o comportamento ambiental dos universitários em relação ao grau de educação ambiental. Gestão e Produção, São Carlos, v. 16, n. 2, p. 273-285, 2009.). Estudos realizados por Ottaiano (2007)OTTAIANO, L. M. B. Gestão de resíduos na construção civil: percepção ambiental dos alunos de arquitetura e engenharia. 2007. 95f. Dissertação (Especialização em Gestão Ambiental)-Programa de Pós-graduação em Gestão Ambiental, Faculdade Brasileira UNIVIX, Vitória, 2007., Fernandes et al. (2008)FERNANDES, R. S.; DIAS, D. G. M. C.; SERAFIM, G. S.; ALBUQUERQUE, A. Avaliação da percepção ambiental da sociedade frente ao conhecimento da legislação ambiental básica. Direito, Estado e Sociedade, Rio de Janeiro, n. 33, p. 149-160, 2008., Brandalise et al. (2009)BRANDALISE, L. T.; BERTOLINI, G. R. F.; ROJO, C. A.; LEZANA, Á. G. R.; POSSAMAI, O. A percepção e o comportamento ambiental dos universitários em relação ao grau de educação ambiental. Gestão e Produção, São Carlos, v. 16, n. 2, p. 273-285, 2009., Melo e Korf (2010)MELO, E. F. R. Q.; KORF, E. P. Percepção e sensibilização ambiental de universitários sobre os impactos ambientais da disposição de resíduos sólidos urbanos em Passo Fundo - RS. Revista Brasileira de Educação Ambiental, Porto Alegre, v. 5, n. 1, p. 45-54, 2010. e Silva et al. (2011)SILVA, A. D. V.; MENDONÇA, A. W.; MARCOMIN, F. E.; MAZZUCO, K. T. M.; BECKER, R. R. Percepção ambiental como ferramenta para processos de educação ambiental na universidade. Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental, Rio Grande, v. 27, p. 1-21, 2011. são alguns exemplos que visam à investigação e à análise da percepção socioambiental em segmentos educacionais formadores de opinião, tais como alunos, professores e funcionários de distintas áreas do conhecimento e inseridos em instituições de ensino fundamental ao superior.

Apesar da existência dessas pesquisas pontuais, não foram identificados, no cenário nacional, estudos desse teor relacionados aos segmentos da Educação Física e/ou da Fisioterapia. Frente a esta lacuna científica, o presente estudo tem como objetivo investigar os hábitos e as percepções socioambientais de universitários (professores, alunos e profissionais técnicos ou voluntários) integrantes de laboratórios e núcleos de pesquisa vinculados predominantemente à área da Educação Física e da Fisioterapia, no contexto de uma universidade pública do Estado de Santa Catarina.

É importante esclarecer a opção, neste estudo, pelo termo "percepção socioambiental" em detrimento de "percepção ambiental", entendendo que percepções sobre o ambiente envolvem coletividades e questões sociais, as quais, por sua vez, influenciam e são influenciadas pelas questões ambientais. Além disso, optou-se pelo termo "ambiente" ao invés de "meio ambiente", tendo em vista que, etimologicamente, "meio" (do latim medium) pode ser entendido como o lugar e o contexto imediato, nos quais se encontra ou se movimenta qualquer ser vivo; enquanto "ambiente" (do latim ambire) é o que está periférico, que envolve o ser vivo, o seu entorno imediato, completando e reforçando a ideia de "meio". Assim, o uso isolado ou conjunto das duas palavras (um pleonasmo justificável) não modifica o significado essencial daquilo que representam, em seus respectivos contextos.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Tipo de pesquisa

Esta pesquisa, de corte transversal, foi realizada por meio de uma investigação descritiva exploratória, com abordagem quantitativa dos dados. De acordo com Gaya (2008)GAYA, A. Ciências do movimento humano: introdução à metodologia da pesquisa. Porto Alegre: Artmed, 2008., esse tipo de pesquisa demarca características ou delineia o perfil de determinado grupo ou população, podendo também contribuir para o esclarecimento de possíveis relações de um fenômeno com outras variáveis. A abordagem quantitativa, por sua vez, é apontada por Marconi e Lakatos (2007)MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Técnicas de pesquisa: planejamento e execução de pesquisas, amostragens e técnicas de pesquisa, elaboração, análise e interpretação dos dados. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2007. como sendo capaz de estabelecer relações e causas levando em consideração as quantidades, a partir de dados expressos com medidas numéricas.

Participantes do estudo

Participaram desta investigação 132 indivíduos de uma universidade pública do Estado de Santa Catarina, vinculados a 24 laboratórios e núcleos de pesquisa das áreas do conhecimento Educação Física (18) e Fisioterapia (6). Entre eles, 55 são alunos de graduação dos cursos de Educação Física e de Fisioterapia, 36 alunos de pós-graduação em Ciências do Movimento Humano, 23 professores e 18 técnicos universitários ou profissionais voluntários.

A escolha pelos integrantes dos laboratórios e núcleos de pesquisa da instituição em questão se deu pelo fato de esses espaços se configurarem como possibilidades importantes de investigação, uma vez que contemplam, em um único local, diferentes recursos humanos envolvidos com as áreas do conhecimento supracitadas. A amostragem por conveniência foi utilizada por meio da investigação de todos os indivíduos que estavam presentes nos dias e horários agendados para a coleta de dados.

Instrumento de coleta de dados

Utilizou-se um questionário adaptado da base de instrumentos de percepção socioambiental do Núcleo de Estudos de Percepção Ambiental (NEPA) da Faculdade Brasileira (UNIVIX), localizada em Vitória (ES). Esse núcleo é reconhecido nacionalmente por seus estudos relacionados à percepção socioambiental, particularmente, por intermédio de parcerias com o Ministério da Educação. Os trabalhos realizados pelo NEPA estão centrados em segmentos formadores de opinião nas áreas educacional, social e ambiental. Seus instrumentos de percepção socioambiental vêm sendo utilizados com o intuito de auxiliar no desenvolvimento e na gestão da temática ambiental, principalmente no âmbito de instituições de ensino públicas e privadas (FERNANDES et al., 2004FERNANDES, R. S.; SOUZA, V. J.; PELISSARI, V. B.; FERNANDES, S. Uso da percepção ambiental como instrumento de gestão em aplicações ligadas às áreas educacional, social e ambiental. In: ENCONTRO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM AMBIENTE E SOCIEDADE, 2., 2004, Indaiatuba. Anais... Indaiatuba: ANPPAS, 2004. p. 1-15.).

Em virtude de o questionário ter sido adaptado para o contexto específico da instituição na qual foi desenvolvido este estudo, foi efetuado um processo de validação de conteúdo e avaliação de clareza de linguagem, seguindo as orientações de Santos e Gheller (2012). Dessa forma, o instrumento foi submetido à apreciação de cinco professores doutores especialistas na área, os quais atribuíram um conceito a cada questão componente de acordo com a seguinte escala intervalar: 0 a 4 (não válida / confusa); 5 a 7 (pouco válida / pouco clara); e 8 a 10 (válida / clara). Todas as questões foram consideradas válidas e claras. Este processo foi desenvolvido em parceria com o NEPA, ciente dos limites dessa técnica, mas com o rigor científico necessário para tal. Portanto, o questionário utilizado foi organizado em três blocos principais:

a) Características gerais dos participantes do estudo: sexo; idade; área do conhecimento predominantemente vinculada ao laboratório ou núcleo de pesquisa; função desempenhada no laboratório (professor, aluno de pós-graduação, aluno de graduação, técnico universitário e voluntários); tempo de inserção no laboratório; curso de formação inicial e de pós-graduação (em andamento ou concluído).

b) Hábitos referentes às questões socioambientais: frequência e turno no laboratório ou núcleo de pesquisa; manutenção das luzes acesas no laboratório; e separação dos resíduos produzidos nesse ambiente.

c) Percepção socioambiental: interesse pelos assuntos relacionados ao ambiente; percepção de importância das informações sobre o ambiente para a formação profissional; conhecimento sobre a existência de disciplinas e/ou projetos de educação ambiental na estrutura curricular dos cursos em que estão inseridos, assim como da produção científica acerca desta temática no laboratório que integram; preferência por tipos de abordagem do assunto no contexto universitário; participação e interesse por iniciativas de qualificação profissional sobre o tema; e percepção de causar danos ao ambiente universitário, assim como de atitudes para cuidar deste ambiente.

Procedimentos de coleta de dados

De acordo com a disponibilidade dos integrantes dos laboratórios e núcleos de pesquisa investigados, foram agendados dias e horários para a realização da coleta de dados durante os anos de 2011 e 2012. Os indivíduos que estavam presentes nos laboratórios nestes momentos foram convidados a participar voluntariamente do estudo.

Nessas ocasiões, os participantes receberam todas as informações sobre a procedência e o objetivo da pesquisa. Ao concordarem em participar do estudo, assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido. Salienta-se que a realização desta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisas com Seres Humanos (CEPSH) da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), sob número de protocolo 28/2011.

Análise estatística

As informações coletadas foram organizadas com a utilização do programa computacional SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) versão 17.0. Aplicou-se a estatística descritiva por meio de medidas como média, desvio padrão, frequência simples e percentual, principalmente para caracterizar os participantes do estudo. Além disso, foi utilizada a estatística inferencial para associar as variáveis qualitativas relacionadas aos hábitos e percepções socioambientais com os diferentes grupos de indivíduos investigados neste estudo, conforme a função desempenhada no laboratório e o curso de formação inicial. Para tanto, aplicou-se o Teste Qui-Quadrado e o Teste Exato de Fisher. Este último foi utilizado especialmente nos casos em que 25% ou mais do percentual de células da tabela cruzada de associação das variáveis apresentaram frequências esperadas menores que cinco. Em ambos os testes foi adotado o nível de significância de 5%.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na Tabela 1 estão apresentadas as características dos participantes do estudo, referentes ao sexo, à idade, à área do conhecimento do laboratório de pesquisa, à função desempenhada e ao tempo de participação no laboratório, ao período do dia de maior frequência no laboratório e ao curso de formação inicial. Os participantes apresentaram média de idade de 27,6±8,4 anos, sendo possível observar que a maioria é aluno (69%) de cursos de graduação (41,7%) ou de pós-graduação (27,3%), e do sexo feminino (60,6%).

Tabela 1-
Características dos participantes do estudo.

A maior parte dos laboratórios e núcleos de pesquisa está predominantemente vinculada à área da Educação Física, sendo que 79,5% dos participantes do estudo integram os laboratórios desta área. Na mesma perspectiva, dentre os 41,7% alunos de graduação investigados, a maioria (58,2%) está cursando Educação Física. Este resultado está relacionado ao fato de a universidade investigada ter dois cursos de Educação Física, um de Bacharelado e um de Licenciatura, repercutindo na maior quantidade de alunos e professores vinculados a essa área do conhecimento. Além disso, recentemente foi implantado o curso de mestrado em Fisioterapia nesta instituição, e, como fruto desse processo, ainda estão sendo criados laboratórios e núcleos de pesquisa vinculados a essa última área.

Embora no contexto da pós-graduação, a maioria dos alunos tenha concluído sua formação inicial em Fisioterapia, de forma geral, o curso de formação inicial mais frequente entre os participantes do estudo foi o de Educação Física (50%). Alguns indivíduos (11%) relataram cursos de graduação em áreas como Medicina, Enfermagem e Ciências da Computação. Diante disto, estes cursos foram agrupados na categoria "outros". A predominância de indivíduos vinculados à Educação Física e à Fisioterapia, neste estudo, pode contribuir significativamente para que sejam vislumbradas as primeiras investigações sobre hábitos e percepções socioambientais relacionados a estas áreas.

No que se refere aos 23 professores investigados, destaca-se que 73,9% coordenam o laboratório ou núcleo de pesquisa investigado, enquanto 26,1% atuam como colaboradores ou pesquisadores. Os demais recursos humanos que integraram estas análises desempenham funções relacionadas principalmente a atividades administrativas e de auxílio voluntário no desenvolvimento de pesquisas científicas, sendo dois técnicos universitários e 16 profissionais voluntários de diferentes áreas.

Observa-se que os períodos do dia de maior frequência nos laboratórios são o vespertino (81,1%) e o matutino (45,5%). Considerando que muitos indivíduos (34,1%) frequentam estes ambientes em mais de um período do dia, a maioria mantém maior frequência no período diurno. Nota-se, ainda, que 68,2% dos investigados estão vinculados aos laboratórios e núcleos de pesquisa da instituição há mais de um ano. Este fato se torna importante, tendo em vista que se acredita na relação do tempo de envolvimento com determinado contexto social para a construção de hábitos e a efetivação de percepções sobre o ambiente.

Na Tabela 2 estão apresentadas as associações entre a função dos investigados (professor, técnico universitário e outros profissionais, aluno de pós-graduação e aluno de graduação) e os hábitos e percepções socioambientais.

Tabela 2-
Associação entre função no laboratório e hábitos e percepções socioambientais

É possível observar que existem associações estatisticamente significativas entre a função desempenhada no laboratório e a frequência semanal neste ambiente (p-valor = 0,012), assim como entre a função e a participação em iniciativas de qualificação profissional oferecidas na universidade sobre assuntos relacionados ao ambiente (p-valor = 0,015). No primeiro caso, fica evidente que os professores frequentam mais o ambiente dos laboratórios e núcleos de pesquisa (82,6%), seguidos pelos alunos de pós-graduação (66,7%) e de graduação (60%), e pelos técnicos universitários e outros profissionais (33,3%). Este último grupo de indivíduos pode ter apresentado menor frequência uma vez que foi constituído, em sua maioria, por profissionais voluntários (16), em detrimento aos técnicos universitários que atuam nestes espaços (2) e supostamente deveriam frequentá-los mais vezes.

Apesar destas diferenças, destacam-se os percentuais expressivos de frequência semanal nos espaços dos laboratórios por todos os tipos de recursos humanos, os quais compõem a universidade como um todo. Seja qual for o segmento social, Silva et al. (2011)SILVA, P. P. C.; CHAO, C. H. N. Práticas corporais na natureza: por uma educação ambiental. Revista da Educação Física/UEM, Maringá, v. 22, n. 1, p. 89-97, 2011. enfatizam que, quando se trata de discutir a educação ambiental com vistas à construção de sociedades sustentáveis, é de suma importância a responsabilidade individual, a organização social e a participação compartilhada, viabilizando ações e decisões para a solução de problemas vivenciados pela comunidade. Na visão dos autores, são indispensáveis mudanças que garantam uma relação harmoniosa entre os seres humanos e o ambiente.

No segundo caso, apesar de a maioria dos investigados (93,9%) afirmar que não participou de iniciativas de qualificação profissional sobre a temática relacionada ao ambiente nos dois últimos anos, pode-se observar que os técnicos universitários e os profissionais voluntários (22,2%), bem como os professores (8,7%), estão participando mais de discussões sobre o tema por meio de eventos, cursos e/ou palestras, quando comparados aos alunos da graduação (2,8%) e da pós-graduação (1,8%). Silva et al. (2011)SILVA, P. P. C.; CHAO, C. H. N. Práticas corporais na natureza: por uma educação ambiental. Revista da Educação Física/UEM, Maringá, v. 22, n. 1, p. 89-97, 2011. investigaram a percepção socioambiental de funcionários técnicos em diferentes setores, no contexto de uma universidade privada da região sul do Estado de Santa Catarina, também constatando um percentual considerável de participantes de ações ou projetos de educação ambiental.

Acredita-se que os profissionais técnicos e os voluntários possam estar à procura dessas iniciativas para complementar sua formação profissional, mas conforme sugerem Silva et al. (2011)SILVA, P. P. C.; CHAO, C. H. N. Práticas corporais na natureza: por uma educação ambiental. Revista da Educação Física/UEM, Maringá, v. 22, n. 1, p. 89-97, 2011., seria interessante verificar, em pesquisas futuras, os fatores que vêm influenciando a participação dessas pessoas nos projetos de cunho ambiental dentro e fora da universidade. Além disso, diante dos resultados do presente estudo, pode-se refletir sobre estratégias de identificação dos motivos da baixa participação de alunos nas iniciativas oferecidas na universidade, a fim de repensá-las e de estimulá-los ao envolvimento com os assuntos sobre a temática socioambiental.

Acredita-se que por ainda estarem em formação, muitas vezes, os alunos possam ficar a mercê de disciplinas e/ou projetos de extensão pontuais sobre o assunto. Isso porque, em outra pergunta do questionário (a qual não teve os resultados apresentados na Tabela 2 por não fazer sentido incluí-la nas associações dos testes estatísticos utilizados), 15,9% afirmaram ter participado de disciplinas e/ou projetos envolvendo o tema educação ambiental durante seus cursos de formação inicial. Ainda, 56% apontaram a preferência por abordagens sobre o ambiente no contexto universitário por meio de disciplinas, e 62,1% por meio de cursos e/ou projetos de ensino e/ou de extensão que envolvessem a instituição e a comunidade que está a sua volta.

Particularmente, no contexto da universidade investigada, não pode ser observada a existência efetiva de disciplinas específicas sobre a temática socioambiental na estrutura curricular dos cursos de graduação em Educação Física e Fisioterapia. No entanto, identifica-se um projeto de ensino que vem realizando, desde 2011, um ciclo de oficinas e palestras sobre educação ambiental e qualidade de vida, na tentativa de promover discussões e apresentar possibilidades de intervenção profissional relativas a esta temática. Além disso, o projeto objetiva estimular o senso crítico em relação aos problemas socioambientais e instigar a adoção de atitudes cotidianas adequadas para evitar o desperdício dos recursos naturais.

Seria ingênuo acreditar que disciplinas ou projetos isolados seriam suficientes para disseminar princípios, valores e conteúdos relativos à educação que se idealiza para o ambiente. Seja qual for a ação, deveria ser concretizada transversalmente ao projeto político pedagógico dos cursos envolvidos, bem como atrelada a políticas sociais mais amplas. Contudo, ainda assim, devem-se valorizar as iniciativas que surgem, como o projeto de ensino mencionado anteriormente, pois embora, muitas vezes, essas iniciativas possam ser modestas e/ou isoladas, em um futuro próximo, podem vir a fazer parte de políticas e programas mais amplos, conforme níveis de engajamento e desenvolvimento.

Em outra direção, não foram constatadas, neste estudo, associações significativas entre a função desempenhada no laboratório e as demais variáveis analisadas, ou seja, independentemente de ser professor, aluno, técnico universitário ou profissional voluntário, os hábitos e percepções socioambientais são os mesmos. Esse fato se torna preocupante quando se observa que em todos os grupos de indivíduos, a maioria (94,7%) tem o hábito de manter as luzes acesas no laboratório, ainda que o período do dia de maior frequência neste ambiente seja o matutino e/ou o vespertino. Além disso, a maior parte (69,7%) não tem o hábito de separar os resíduos produzidos nestes espaços e 56,8% consideram não estarem tomando nenhuma atitude para cuidar do ambiente universitário.

Barcelos (2008)BARCELOS, V. Educação ambiental: sobre princípios, metodologias e atitudes. Petrópolis: Vozes, 2008. pontua que mudanças de hábitos, valores, representações, conceitos, preconceitos e atitudes estão diretamente relacionados a questões que não se limitam ao campo do conhecimento sistematizado. Para tanto, as intervenções no âmbito da educação ambiental devem priorizar a sensibilização das pessoas, construindo espaços de convivência, para que valores como a solidariedade, a cooperação, a participação, a responsabilidade, sejam uma prática constante entre todos os envolvidos em determinado contexto. Conforme salientam Silva e Chao (2011)SILVA, P. P. C.; CHAO, C. H. N. Práticas corporais na natureza: por uma educação ambiental. Revista da Educação Física/UEM, Maringá, v. 22, n. 1, p. 89-97, 2011., uma educação sensibilizadora fortalece a relação entre o ser humano e a natureza no tocante à responsabilidade ambiental, trazendo novas experiências e contribuindo para o desenvolvimento do potencial crítico dos indivíduos, podendo, ainda, ser capaz de fazê-los assumir um compromisso ético com a sociedade e a natureza.

Apesar dessas evidências acerca de hábitos que podem ser considerados prejudiciais ao ambiente entre os participantes deste estudo, observa-se uma divisão entre as respostas "sim" e "não" no questionamento acerca da percepção de causar danos ao ambiente universitário. Para subsidiar a discussão desses resultados, recorre-se à Moradillo e Oki (2004)MORADILLO, E. F.; OKI, M. C. M. Educação ambiental na universidade: construindo possibilidades. Química Nova, Salvador, v. 27, n. 2, p. 332-336, 2004., pois estes autores salientam que a globalização dos problemas ambientais e a sua compreensão são de responsabilidade de todo o conjunto das sociedades. A educação formal, como um dos espaços coletivos para produção/reflexão de conhecimentos, deve ser desafiada a inserir nas suas práticas pedagógicas a perspectiva ambiental como um dos eixos norteadores para a construção de significados que possam levar à superação do atual contexto social de degradação e exploração da natureza, incluindo o próprio ser humano.

Nesse sentido, enfatiza-se a necessidade de disponibilização de informações e da realização de debates e reflexões acerca dos problemas socioambientais e dos hábitos pessoais que podem contribuir para o agravamento destes problemas. Por outro lado, Toledo, Pelicioni e Giatti (2005)TOLEDO, R. F.; PELICIONI, M. C. F.; GIATTI, L. L. Levantamento de necessidades socioambientais em comunidade indígena do Distrito de Iauaretê do Município de São Gabriel da Cachoeira/AM. In: REUNIÃO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM EDUCAÇÃO, 28., 2005, Caxambu. Anais... Caxambu: ANPED NACIONAL, 2005. p. 1-13. apontam que nem sempre as dificuldades encontradas para a concretização da educação ambiental e para a mudança de hábitos relacionados ao ambiente se devem à falta de informação e de conhecimento acerca dos problemas ambientais. Em muitas situações, tais dificuldades são devidas à inexistência de planejamento da própria organização, assim como de distorções de percepção e ausência de incorporação das questões ambientais no processo educativo.

Essa reflexão se torna pertinente, especialmente quando se considera que a maioria dos investigados (93,2%) afirmou ter interesse por todos ou por alguns assuntos da temática socioambiental, assim como pela participação em iniciativas de qualificação profissional na área (54,5%). Além disso, a maior parte (78,8%) percebeu a importância das informações socioambientais para a sua formação profissional.

Direciona-se novamente às discussões para a necessidade de se abordar, discutir e possibilitar espaços para a intervenção e a reflexão acerca das questões socioambientais no contexto universitário (MARINHO; SANTOS; FARIAS, 2012MARINHO, A.; SANTOS, P. M.; FARIAS, G. O. Competências e formação profissional: reflexões sobre um projeto de ensino. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, Brasília, v. 20, n. 3, p. 46-54, 2012.), seja por meio de iniciativas de aperfeiçoamento profissional, por intermédio de disciplinas desenvolvidas nos cursos de formação inicial e continuada, e/ou a partir de projetos desenvolvidos de forma mais ampla no contexto universitário. Especificamente nos cursos de formação inicial em Educação Física, Marinho (2004)MARINHO, A. Atividades na natureza, lazer e educação ambiental: refletindo sobre algumas possibilidades. Motrivivência, Florianópolis, ano 16, n. 22, p. 47-70, 2004. destaca a necessidade de um repensar sobre o ambiente (incluindo a prática, a conservação ambiental e o processo educativo como aspectos interdependentes) e de novos aprendizados para a atuação profissional nessa área, os quais podem ser atendidos mediante reformulações nos conteúdos de ensino a fim de privilegiar a atual demanda relacionada ao ambiente.

Entre os investigados do presente estudo, 26,5% acreditam que deveria existir uma disciplina específica para tratar dos assuntos da temática socioambiental nos cursos de formação profissional da universidade investigada, e 29,5% gostariam que este tema fosse abordado em todas as disciplinas destes cursos. Hein, Kronke e Rocha (2009)HEIN, N.; KROENKE, A.; ROCHA, I. Percepção ambiental dos graduandos em Engenharia de Produção em uma universidade do Vale do Itajaí - SC. Tecno-lógica, Santa Cruz do Sul, v. 13, n. 2, p. 70-74, 2009. consideram o ambiente das salas de aulas no ensino superior um espaço privilegiado para o conhecimento sistematizado sobre a educação ambiental.

Nesse sentido, encontra-se uma oportunidade privilegiada para os cursos de Educação Física e de Fisioterapia, os quais poderiam agregar valor em diferentes disciplinas, implementando transversalmente a questão ambiental. As diferentes formas de abordagem do corpo e do movimento humano, se discutidas a luz de uma proposta de educação ambiental, provavelmente contribuiriam com ganhos relacionados à saúde e à qualidade de vida, além de possibilitar modificações nas relações estabelecidas entre os seres humanos e o ambiente (SILVA; CHAO, 2011SILVA, P. P. C.; CHAO, C. H. N. Práticas corporais na natureza: por uma educação ambiental. Revista da Educação Física/UEM, Maringá, v. 22, n. 1, p. 89-97, 2011.).

De acordo com Moradillo e Oki (2004)MORADILLO, E. F.; OKI, M. C. M. Educação ambiental na universidade: construindo possibilidades. Química Nova, Salvador, v. 27, n. 2, p. 332-336, 2004., é consensual a necessidade de mudança de mentalidade na busca de novos valores e de uma nova ética para reger as relações ambientais, cabendo à educação, em todos os níveis de ensino, um papel fundamental nesse processo. No entanto, os mesmos autores reconhecem que o exercício da educação ambiental tem encontrado dificuldades associadas à falta de recursos, à pouca valorização do professor, ao pouco envolvimento da comunidade nas decisões e ao planejamento da instituição de ensino, aliada à própria rigidez da estrutura de grande parte das organizações. Tais dificuldades, entretanto, não podem ser assumidas como impeditivos para as mudanças requeridas nos cursos de formação inicial, especialmente no que se refere às áreas Educação Física e Fisioterapia.

Com o intuito de melhor explorar estas áreas do conhecimento, na Tabela 3 estão apresentadas as associações entre o curso de formação inicial e os hábitos e percepções socioambientais dos participantes deste estudo.

Tabela 3-
Associação entre a formação inicial e os hábitos e percepções socioambientais.

Constatou-se que, com exceção da associação verificada entre o curso de graduação e a variável qualificação profissional, não há associação significativa entre as variáveis analisadas, ou seja, independentemente do curso, os hábitos e percepções sobre o ambiente são os mesmos. Apesar de serem observados percentuais expressivamente baixos para a participação em iniciativas de qualificação profissional na área socioambiental, encontrou-se que os indivíduos com formação inicial em outras áreas do conhecimento, como Enfermagem, Medicina, Farmácia e Ciências da Computação, participaram mais destas iniciativas oferecidas nos dois últimos anos no contexto da universidade investigada (13,3%), em comparação aos indivíduos com formação inicial em Educação Física (9,1%), concluída ou em andamento.

Destaca-se, ainda, que nenhum investigado com formação inicial em Fisioterapia aderiu às iniciativas desse teor. Esse aspecto deve ser considerado quando é vislumbrado o desenvolvimento de cursos, projetos e outras atividades que abordem o ambiente com o intuito de atingir indivíduos com diferentes formações, especialmente porque entre os resultados deste estudo foi evidenciado que a maioria dos participantes, com formação inicial em todas as áreas investigadas, tem interesse pelos assuntos socioambientais. Resta saber o motivo de não terem participado de algumas iniciativas desenvolvidas na instituição nos dois últimos anos. Talvez seja o caso de serem ouvidos e estimulados a falar para que seus interesses possam ser mais bem atingidos.

Particularmente com relação à Educação Física, deve-se considerar que algumas atividades esportivas representam formas diferenciadas de relação com o corpo, podendo se converter em elementos sociais que produzem e acompanham o pensamento coletivo (BETRÁN, 1995BETRÁN, J. O. Las actividades físicas de aventura en la naturaleza: análisis sociocultural. Apunts: Educación Física y Deportes, Barcelona, n. 41, p. 5-8, 1995.). Juntamente com o movimento esportivo atual, no qual estão inseridas inúmeras atividades em contato direto com o ambiente natural, pode-se observar uma significativa disseminação dos assuntos e interesses relacionados às questões ambientais, sendo estas atividades algumas das possibilidades de inserção nas iniciativas de educação ambiental voltadas a esta área (MARINHO, 2001MARINHO, A. Lazer, natureza e aventura: compartilhando emoções e compromissos. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Florianópolis, v. 22, n. 2, p. 143-153, 2001., 2013MARINHO, A. Introdução aos estudos das atividades de aventura: características, concepções e conceitos. In: BERNARDES, L. A. Atividades e esportes de aventura para profissionais de Educação Física. São Paulo: Phorte, 2013. p. 23-38.).

Silva e Chao (2011)SILVA, P. P. C.; CHAO, C. H. N. Práticas corporais na natureza: por uma educação ambiental. Revista da Educação Física/UEM, Maringá, v. 22, n. 1, p. 89-97, 2011. enfatizam a necessidade de desenvolver a temática ambiental, especialmente no âmbito do lazer, no sentido de despertar a sensibilização dos praticantes acerca das questões ambientais. Além disso, destacam a Educação Física escolar como uma possibilidade fértil de viabilização dessa proposta. Neste contexto, Ruiz e Schwartz (2002)RUIZ, J.; SCHWARTZ, G. M. O jogo e a arte como estratégias para a educação ambiental no contexto escolar. Revista da Educação Física/UEM, Maringá, v. 13, n. 2, p. 127-132, 2002.abordam a importância dos elementos lúdicos e estéticos, especialmente por meio do jogo e das diferentes formas de manifestações artísticas, como fatores de sensibilização e conscientização dos indivíduos, considerando a influência positiva que estes exercem, favorecendo uma possível mudança de valores e atitudes, e estimulando a difusão de posturas conservacionistas e mais humanas.

Diante deste cenário, emerge a percepção de que os problemas relacionados aos recursos naturais, bem como sua apropriação e conservação, são derivados não unicamente da natureza, mas também da cultura, da educação, da política. Enfatiza-se a necessidade de os envolvidos, que dão base a estas esferas, participarem igualmente. É pertinente, portanto, refletir sobre as necessidades humanas e seus valores socialmente construídos (SERRANO, 2000SERRANO, C. A educação pelas pedras: ecoturismo e educação ambiental. São Paulo: Chronos, 2000.), especialmente quando se consideram os resultados encontrados nesse estudo.

A partir da necessidade dessas reflexões, direciona-se a atenção para outros resultados encontrados nesta investigação, os quais permitem sintetizar que a maioria dos participantes afirmou ter hábitos considerados desfavoráveis ao ambiente, tais como manter as luzes acesas no laboratório (94,7%) e não separar os resíduos produzidos nesse ambiente (69,7%). Além disso, a maioria dos indivíduos que concluiu ou está cursando Educação Física ou Fisioterapia, dividiu-se entre as respostas "sim" e "não", no que se refere à percepção de danos causados ao ambiente universitário, e afirmou não estar tendo atitudes para cuidar deste ambiente, estes resultados não corroboram com o encontrado em um estudo similar realizado por Fernandes et al. (2004)FERNANDES, R. S.; SOUZA, V. J.; PELISSARI, V. B.; FERNANDES, S. Uso da percepção ambiental como instrumento de gestão em aplicações ligadas às áreas educacional, social e ambiental. In: ENCONTRO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM AMBIENTE E SOCIEDADE, 2., 2004, Indaiatuba. Anais... Indaiatuba: ANPPAS, 2004. p. 1-15. com alunos e professores vinculados a diferentes cursos de graduação de uma universidade privada de Vitória (ES), os quais perceberam, em sua maioria, causar danos ao ambiente, mas não deixaram de tomar atitudes para contribuir com os cuidados necessários ao mesmo.

Em contrapartida, a maior parte dos investigados neste estudo percebeu a importância das informações sobre esta temática para a sua formação profissional (78,8%) e afirmou ter interesse pelos assuntos socioambientais (93,2%) e por qualificação profissional na área (54,5%). Conforme acredita Sorrentino (2002)SORRENTINO, M. Desenvolvimento sustentável e participação: algumas reflexões em voz alta. In: LOUREIRO, C. F. B.; LAYARGUES, P. P.; CASTRO, R. S. Educação ambiental: repensando o espaço da cidadania. São Paulo: Cortez, 2002. p. 15-21., deve-se, portanto, possibilitar às pessoas condições efetivas de participação no debate sobre a temática ambiental, fornecendo-lhes informações e possibilidades de falar e serem ouvidas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados do estudo ora apresentado demonstram que, independentemente do curso de formação inicial e da função desempenhada nos laboratórios e núcleos de pesquisa vinculados predominantemente à Educação Física e à Fisioterapia, a maioria dos alunos, professores, técnicos universitários e voluntários afirmaram ter interesse na obtenção de informações sobre o ambiente. Contudo, aspectos relacionados a hábitos positivos, percepções sobre danos causados e atitudes efetivas para cuidar do ambiente ainda não estão completamente evidentes.

Ao partir do pressuposto de que o contexto universitário é fértil para a disseminação do assunto socioambiental, podendo ser precursor de intervenções que repercutam em novas maneiras de se relacionar com o ambiente, acredita-se que as constatações deste estudo podem estimular novas reflexões, discussões e iniciativas voltadas à inserção da educação ambiental de forma transversal nos cursos de formação profissional em Educação Física e Fisioterapia.

É possível concordar com Marinho e Inácio (2007)MARINHO, A.; INÁCIO, H. L. D. Educação Física, meio ambiente e aventura: um percurso por vias instigantes. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Florianópolis, v. 28, n. 3, p. 55-70, 2007.sobre a importância de focalizar a ligação da Educação Física com o ambiente nos cursos de graduação desta área, estendendo tal importância à área da Fisioterapia. Iniciativas que aproximem mais diretamente os campos de intervenção profissional da Educação Física e da Fisioterapia com a temática socioambiental, por exemplo, envolvendo atividades de aventura na natureza ou recursos naturais utilizados como alternativas na reabilitação, podem ser promissoras para atender aos interesses primários dessas áreas e para estimular os indivíduos a se engajarem em outras atividades sobre o tema. Tais iniciativas podem, inclusive, repercutir em formas de comportamento e de atitudes mais favoráveis ao ambiente de estudo/trabalho capazes de refletir, progressiva e gradualmente, em um contexto mais amplo, envolvendo as residências, os bairros e a comunidade com um todo.

Apesar das limitações deste estudo, especialmente por não aprofundar e/ou incluir todas as possibilidades de hábitos e percepções socioambientais, e por investigar um único contexto em particular, destaca-se seu ineditismo nas áreas Educação Física e Fisioterapia, acreditando-se em suas possíveis contribuições para o desenvolvimento da temática em questão. Sugere-se a continuidade e a realização de novos estudos com a proposta ora discutida, promovendo novas contribuições para as áreas de conhecimento envolvidas.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jul-Sep 2014

Histórico

  • Recebido
    29 Maio 2013
  • Revisado
    09 Abr 2014
  • Aceito
    20 Jun 2014
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