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Viabilidade de aplicação de um instrumento para a avaliação da qualidade dos processos de detecção e seleção de talentos esportivos na realidade brasileira

Viability of application of an instrument for evaluating the quality processes of detection and selection of sporting talent in brazilian reality

Resumos

Programas de detecção e seleção de talentos esportivos existem em diferentes países. Independente do contexto, a existência destes programas visa a formação de atletas que possuam níveis internacionais de desempenho. Em termos de avaliação, os programas de talentos esportivos geralmente possuem como critério principal os resultados finais alcançados, o que leva a questionamentos sobre as ações realizadas durante os processos realizados. O objetivo deste estudo foi verificar a viabilidade da aplicação do questionário elaborado para avaliar a qualidade dos processos de detecção e seleção de talentos esportivos, proposto por Rütten, Ziemainz e Röger (2005). Através de Análise Fatorial Exploratória os resultados validam a utilização do modelo para avaliação dos processos de detecção e seleção de talentos esportivos no Brasil. Futuros estudos poderão se utilizar do modelo e questionário utilizados neste estudo e também comparar a realidade de outros países com a realidade brasileira.

Talentos esportivos; Qualidade; Esporte de alto rendimento; Avaliação


Detection and selection programs of sporting talent exist in different countries. Regardless the context, the existence of such programs aimed the develop of athletes who will have international levels of performance. In terms of evaluation, the sport talent programs usually have as the main criterion the final results, which leads questions about the actions performed during the process performed. The aim of this study was to verify the viability of the survey designed to assess the quality of procedures for detection and selection of sports talents, proposed by Rütten, Ziemainz e Röger (2005).Through Exploratory Factor Analysis results validate the use of the model for evaluation of the procedures for detection and selection of sports talents in Brazil. Future studies may be used the model and survey used in this study and also compare the reality of other countries with the Brazilian reality.

Sport talent; Quality; High performance sport; Evaluation


INTRODUÇÃO

A temática relacionada aos Talentos Esportivos é um importante assunto no âmbito da Educação Física e Esporte. Talentos esportivos são denominados aqueles indivíduos que possuem desempenho e condições de sucesso acima da média populacional em determinadas atividades e práticas esportivas (ABBOTT, 2006ABBOTT, A. Talent identification and development in sport. Thousand Oaks: SAGE Publications, 2006.; BÖHME, 1994BÖHME, M. T. S. Talento esportivo I: aspectos teóricos. Revista Paulista de Educação Física, São Paulo, v. 8, n. 2, p. 90-100, 1994., 2011BÖHME, M. T. S. Esporte infanto-juvenil: treinamento a longo prazo. Teoria e prática. São Paulo: Phorte, 2011.; VAEYENS et al., 2008VAEYENS, R.; GÜLLICH, A.; WARR, C. R.; PHILIPPAERTS, R. Talent identification and development programmes in sport : current models and future directions. Sports Medicine, Auckland, v. 38, n. 9, p. 703-714, 2008.). De forma clássica, diversos autores focaram seus estudos nas diferentes características que um indivíduo deve possuir para ser considerado um talento esportivo (ABBOTT; COLLINS, 2002ABBOTT, A.; COLLINS, D. A Theoretical and empirical analysis of a 'State of the Art' talent identification model. High Ability Studies, Abingdon, v. 13, n. 2, p. 157-178, 2002.; ERICSSON; KRAMPE; TESCH-RÖMER, 1993ERICSSON, K. A.; KRAMPE, R. T.; TESCH-RÖMER, C. The role of deliberate practice in the acquisition of expert performance. Psychological Review, Washington D.C., v. 100, n. 3, p. 363-406, 1993.; LIDOR; CÔTÉ; HACKFORT, 2009LIDOR, R.; CÔTÉ, J.; HACKFORT, D. ISSP position stand: to test or not to test? The use of physical skill tests in talent detection and in early phases of sport development. International Journal of Sport and Exercise Psychology, Abingdon, v. 7, n. 2, p. 131-146, 2009.).

Atualmente, é consenso que jovens atletas talentosos devem ser tratados através de abordagens multidimensionais, sejam em termos de suas características individuais (BURWITZ; MOORE; WILKINSON, 1994BURWITZ, L.; MOORE, P. M.; WILKINSON, D. M. Future directions for performance-related sports science research: an interdisciplinary approach. Journal of Sports Sciences, Abingdon, v. 12, n. 1, p. 93-109, 1994.), ou em termos ligados às suas particularidades e até em sua vida educacional e profissional (WYLLEMAN; REINTS; DE KNOP, 2013WYLLEMAN, P.; REINTS, A.; DE KNOP, P. A developmental and holistic perspective on athletic career development. In: SOTIRIADOU, P.; DE BOSSCHER, V. (Ed.). Managing high performance sport. London; New York: Routledge, 2013. p. 159-182.). Ou seja, os talentos esportivos devem ser desenvolvidos a partir de suas características psicológicas, biológicas, sociais, de seu desempenho e também em relação às etapas de sua vida social, acadêmica e profissional.

O desenvolvimento de indivíduos talentosos é considerado fator crucial para o alcance de resultados positivos no esporte de alto rendimento. Diferentes autores sugerem que características intrapessoais, a família e até o ambiente podem influenciar nas oportunidades e apoios para o desenvolvimento de talentos esportivos (DE BOSSCHER et al., 2006DE BOSSCHER, V.; DE KNOP, P.; VAN BOTTENBURG, M.; SHIBLI, S. A Conceptual framework for analysing sports policy factors leading to international sporting success. European Sport Management Quarterly, Abingdon, v. 6, n. 2, p. 185-215, jun. 2006.; DURAND-BUSH; SALMELA, 2001DURAND-BUSH, N.; SALMELA, J. H. The development of talent in sport. In: SINGER, R. N.; HAUSENBLAS, H. A.; JANELLE, C. (Ed.). The development of talent in sport. 2nd ed. New York: John Wiley & Sons, 2001. p. 269-289.; GAGNÉ, 2000GAGNÉ, F. Understanding the complete choreography of talent development through DMGT-based analysis. In: HELLER K. A.; MÖNKS F. J.: SUBOTNIK R.; STERNBERG R. J. (Ed.). International handbook of giftedness and talent. 2nd ed. Oxford: Elsevier, 2000. p. 67-79.; TRANCKLE; CUSHION, 2006TRANCKLE, P.; CUSHION, C. J. Rethinking giftedness and talent in sport. Quest, New York, v. 58, n. 2, p. 265-282, 2006.).

De acordo com o estado atual de pesquisas nessa temática, não é possível fazer um prognóstico exato sobre o sucesso do talento esportivo. Entretanto, pesquisas apontam que a elaboração de diretrizes gerais para o Treinamento a Longo Prazo de atletas, assim como a implementação de programas e políticas esportivas integradas que envolvam a Detecção, Seleção de Talentos Esportivos (DSTE), assim como sua promoção, favorecem a possibilidade de um melhor desenvolvimento de atletas de elite (BÖHME, 2004BÖHME, M. T. S. Talento esportivo. In: TANI, G.; MARQUES, A.; GAYA, A. (Ed.). Desporto para crianças e jovens: razões e finalidades. Porto Alegre: UFRGS, 2004. p. 235-249., 2007BÖHME, M. T. S. A contribuição da pós-graduação em Educação Física da Escola de Educação Física e Esporte no desenvolvimento da linha de pesquisa em esporte infanto-juvenil, treinamento a longo prazo e talento esportivo. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, São Paulo, v. 21, n. esp., p. 115-130, 2007.; DE BOSSCHER et al., 2009DE BOSSCHER, V.; DE KNOP, P.; VAN BOTTENBURG, M.; SHIBLI, S.; BINGHAM, J. Explaining international sporting success: an international comparison of elite sport systems and policies in six countries. Sport Management Review, Sydney, v. 12, n. 3, p. 113-136, 2009.; DIGEL, 2002DIGEL, H. A comparison of competitive sport systems. New Studies in Athletics, Monaco, v. 17, n. 1, p. 37-50, 2002.; VAEYENS et al., 2009VAEYENS, R.; LENOIR, M.; WILLIAMS, A. M.; PHILIPPAERTS, R. M. Talent identification and promotion programmes of Olympic athletes. Journal of sports sciences, Abingdon, v. 27, n. 13, p. 1367-1380, 2009.).

Existem diferentes programas sistemáticos para o desenvolvimento de talentos esportivos, entre eles o da Alemanha (RÜTTEN; ZIEMAINZ, 2003RÜTTEN, A.; ZIEMAINZ, H. Looking to the future: Analysis of Talent Identification and Development Systems in Different Countries. IV International Forum on Elite Sport, v. 1, n. 1, p. 9-11, 2003.), o da Austrália (BÖHME, 2011BÖHME, M. T. S. Esporte infanto-juvenil: treinamento a longo prazo. Teoria e prática. São Paulo: Phorte, 2011.; SOTIRIADU; SHILBURY, 2009SOTIRIADU, K.; SHILBURY, D. Australian elite athlete development: an organizational perspective. Sport Management Review, Sydney, v. 12, n. 3, p. 137-148, 2009.), o da China (HOULIHAN; GREEN, 2008HOULIHAN, B.; GREEN, M. Comparative Elite Sport Development. Systems, Structures and public policy. London: Elsevier, 2008.) e o do Reino Unido (MARTINDALE; COLLINS; ABRAHAM, 2007MARTINDALE, R.; COLLINS, D.; ABRAHAM, A. Effective talent development: the elite coach perspective in UK sport. Journal of Applied Sport Psychology, Abingdon, v. 19, n. 2, p. 187-206, 2007.). Independente do país, algumas características comuns podem ser encontradas para uma sistematização do desenvolvimento de talentos esportivos: primeiro, a implementação de ações no esporte de base que possibilitem a prática e participação esportiva; segundo, a existência de processos relacionados com a detecção/seleção de jovens talentos; e terceiro, a promoção de atletas talentosos que irão integrar equipes nacionais para a participação nas principais competições internacionais existentes (DE BOSSCHER et al., 2008DE BOSSCHER, V.; BINGHAM, J.; SHIBLI, S.; VAN BOTTENBURG, M.; DE KNOP, P. The global sporting arms race: an international comparative study on sports policy factors leading to international sporting success. Aachen: Meyer & Meyer, 2008.).

Em termos de avaliação, os programas de talentos esportivos geralmente possuem como critério principal os resultados finais alcançados, o que leva a questionamentos sobre as ações realizadas durante os processos existentes no desenvolvimento dos atletas (RÜTTEN; ZIEMAINZ; RÖGER, 2005RÜTTEN, A.; ZIEMAINZ, H.; RÖGER, U. Qualitätsgesichertes System der Talentsuche und auswahl - Theoretischer ansatz, methode erste ergebnisse. In: EMRICH, E.; GÜLLICH, A.; BÜCH, M. P. (Ed.). Beiträge zum nachwuchsleistungssport. Schorndorf: Hofmann-Verlag, 2005. p. 45-74.). Por exemplo, existem ressalvas quanto aos métodos praticados pelos chineses na detecção e seleção de indivíduos nos processos de formação de atletas de alto rendimento (GUO; WANG, 2001GUO, J.; WANG, Y. A.A study of the background of 'studying-training integration' sports talents cultivation mode in the new information era the present situation of Chinese sports background analysis. In: INTERNATIONAL CONFERENCE, CSEE. Advances in Computer Sciences, Environment, Ecoinformatics and Education, 2001. Wuhan. Proceedings... Wuhan: CSEE, 2001. p. 17-21.; HOULIHAN; GREEN, 2008HOULIHAN, B.; GREEN, M. Comparative Elite Sport Development. Systems, Structures and public policy. London: Elsevier, 2008.). Na verdade, há uma falta de informação sobre a qualidade da maioria dos sistemas de desenvolvimento de talentos esportivos existentes e espalhados pelo mundo (RÖGER et al., 2010RÖGER, U.; RÜTTEN, A.; ZIEMAINZ, H.; HILL, R. Quality of talent development systems: results from an international study. European Journal for Sport and Society, Bern, v. 7, n. 1, p. 7-19, 2010.).

Uma avaliação da qualidade dos processos existentes nos programas pode resultar na adoção de ações mais adequadas no desenvolvimento de atletas. A avaliação dos processos e das ações para a melhora dos procedimentos remetem à Gestão da Qualidade, que abrange um conjunto de ações engajadas em planejar, organizar e controlar a qualidade de processos em um sistema organizacional (DEMING, 2000DEMING, W. E. Out of the crisis. Cambridge: MIT Press, 2000.; EVANS; LINDSAY, 2008EVANS, J. R.; LINDSAY, W. M. The management and control of quality. Mason: Thomson South-Western, 2008.).

Rütten, Ziemainz e Röger (2005)RÜTTEN, A.; ZIEMAINZ, H.; RÖGER, U. Qualitätsgesichertes System der Talentsuche und auswahl - Theoretischer ansatz, methode erste ergebnisse. In: EMRICH, E.; GÜLLICH, A.; BÜCH, M. P. (Ed.). Beiträge zum nachwuchsleistungssport. Schorndorf: Hofmann-Verlag, 2005. p. 45-74. desenvolveram um modelo para a avaliação da qualidade dos processos que envolvem a detecção e seleção de jovens atletas, constituindo uma possível ferramenta para a análise da qualidade de programas de desenvolvimento de talentos esportivos. De acordo com Röger et al. (2010)RÖGER, U.; RÜTTEN, A.; ZIEMAINZ, H.; HILL, R. Quality of talent development systems: results from an international study. European Journal for Sport and Society, Bern, v. 7, n. 1, p. 7-19, 2010. o modelo foi aplicado em 4 países que tradicionalmente conquistam sucesso em Jogos Olímpicos: Austrália, China, Alemanha e Estados Unidos, proporcionando não só um diagnóstico, mas também um instrumento que compara a qualidade do desenvolvimento de talentos esportivos entre diferentes países.

O modelo de Rütten, Ziemainz e Röger (2005)RÜTTEN, A.; ZIEMAINZ, H.; RÖGER, U. Qualitätsgesichertes System der Talentsuche und auswahl - Theoretischer ansatz, methode erste ergebnisse. In: EMRICH, E.; GÜLLICH, A.; BÜCH, M. P. (Ed.). Beiträge zum nachwuchsleistungssport. Schorndorf: Hofmann-Verlag, 2005. p. 45-74., denominado Qualidade dos Programas de Detecção e Seleção do Talento Esportivo (QPDSTE), é constituído por três dimensões e suas respectivas sub-dimensões. Cada dimensão do modelo possui características particulares, mas a qualidade de cada dimensão e a inter-relação entre elas determinam a avaliação geral de um programa de detecção e seleção dos talentos esportivos.

A primeira dimensão é denominada "Estrutura" e considera as características físicas e organizacionais para a realização dos processos de Detecção e Seleção (e também da Promoção), de atletas. Como sub-dimensões, na "Estrutura" estão os "Objetivos" (ações formais com especificação escrita e com concretude), "Recursos" (aplicações e responsabilidades de recursos humanos, materiais e financeiros), "Oportunidades/Apoio" ("janela de oportunidades" que o sistema oferece aos talentos) e "Procedimentos/Regulamentação" (deveres e regras para a serem seguidas pelas instituições envolvidas no desenvolvimento de talentos).

A segunda dimensão envolve os "Processos", que no modelo são determinados por ações de Planejamento, Implementação e Controle. O Planejamento envolve a realização de um plano diretor e a consideração de novos conhecimentos científicos no desenvolvimento de talentos. As ações de Implementação incluem diferentes premissas para a execução efetiva dos programas. No Controle estão os procedimentos para a avaliação dos programas.

A terceira e última dimensão é denominada "Resultados", entendido como a existência de número de atletas com potencial para conquistas esportivas internacionais (principalmente em Campeonatos Mundiais e Jogos Olímpicos) e também pela satisfação dos stakeholders (gestores, técnicos e atletas) pelos números alcançados.

Neste sentido, o objetivo deste estudo foi verificar a viabilidade da aplicação do modelo e de seu respectivo questionário elaborado por Rütten, Ziemainz e Röger (2005)RÜTTEN, A.; ZIEMAINZ, H.; RÖGER, U. Qualitätsgesichertes System der Talentsuche und auswahl - Theoretischer ansatz, methode erste ergebnisse. In: EMRICH, E.; GÜLLICH, A.; BÜCH, M. P. (Ed.). Beiträge zum nachwuchsleistungssport. Schorndorf: Hofmann-Verlag, 2005. p. 45-74. para a avaliação da qualidade dos processos de detecção e seleção de talentos esportivos na realidade brasileira. A utilização do modelo desenvolvido por estes autores poderá contribuir para a avaliação da qualidade, assim como a identificação dos problemas na detecção e seleção de talentos esportivos brasileiros e comparar os resultados observados com os de outros países.

MÉTODOS

Este estudo caracteriza-se como uma pesquisa exploratória, relacionada com a qualidade da detecção e seleção de talentos esportivos na realidade brasileira. O principal objetivo das pesquisas exploratórias é proporcionar uma melhor compreensão de um problema enfrentado. Dadas essas características, as constatações da pesquisa exploratória devem ser consideradas primárias, com resultados não definitivos, mas que irão gerar dados para pesquisas posteriores (MALHOTRA, 2011MALHOTRA, N. K. Pesquisa de marketing: uma orientação aplicada. 6. ed. Porto Alegre: Bookman, 2011.). Para atingir os objetivos, foi realizada Análise Fatorial Exploratória com os dados provenientes do instrumento desenvolvido por Rütten, Ziemainz e Röger (2005)RÜTTEN, A.; ZIEMAINZ, H.; RÖGER, U. Qualitätsgesichertes System der Talentsuche und auswahl - Theoretischer ansatz, methode erste ergebnisse. In: EMRICH, E.; GÜLLICH, A.; BÜCH, M. P. (Ed.). Beiträge zum nachwuchsleistungssport. Schorndorf: Hofmann-Verlag, 2005. p. 45-74. aplicado em atletas brasileiros.

Instrumentos

Os questionários elaborados para a avaliação englobam as 3 dimensões do modelo de Rütten, Ziemainz e Röger (2005)RÜTTEN, A.; ZIEMAINZ, H.; RÖGER, U. Qualitätsgesichertes System der Talentsuche und auswahl - Theoretischer ansatz, methode erste ergebnisse. In: EMRICH, E.; GÜLLICH, A.; BÜCH, M. P. (Ed.). Beiträge zum nachwuchsleistungssport. Schorndorf: Hofmann-Verlag, 2005. p. 45-74. e suas respectivas sub-dimensões indicadas na Figura 1.

Figura 1 -
Modelo Qualidade dos Programas de Detecção e Seleção do Talento Esportivo (QPDSTE). Fonte: Adaptado de Rütten, Ziemainz e Röger (2005).

Cada sub-dimensão possui variáveis sobre a qualidade de processos que envolvem a Detecção e Seleção de talentos esportivos. As variáveis são apresentadas em formato de sentenças/afirmações e os respondentes julgam tal afirmação em uma escala de Likert de 5 níveis: "não acontece" (1), "quase nunca acontece" (2), "em parte" (3), "acontece quase sempre" (4) e "acontece sempre" (5).

Na Tabela 1, são apresentados o número de variáveis (afirmações) correspondente a cada dimensão e suas respectivas sub-dimensões.

Tabela 1 -
Descrição do questionário do modelo QPDSTE.

Após autorização dos autores para a utilização do modelo, foram realizadas duas traduções dos respectivos questionários (Qualitätsgesichertes System der Talentsuche, -auswahl und -förderung) do alemão para o português; uma de forma livre por uma pesquisadora brasileira e outra por tradutora juramentada. As duas traduções realizadas foram analisadas item a item a fim de verificar a existência de discordância entre as mesmas, dando origem ao questionário sobre a Qualidade dos Programas de Detecção e Seleção do Talento Esportivo (QPDSTE) na língua portuguesa. Para a validação do conteúdo do questionário, foi submetido à análise de juízes (três pesquisadores na área de educação física e esporte). Tendo sido verificado consenso entre os juízes da validade do instrumento. Foi realizado estudo piloto com atletas de alto rendimento das modalidades de remo e ginástica para eventuais correções antes de sua aplicação definitiva. Estes procedimentos seguiram os conceitos de Pasquali (2003)PASQUALI, L. Psicometria: teoria dos testes na psicologia e na educação. Petrópolis: Vozes, 2003. para a validação transcultural do questionário.

Esta pesquisa foi aprovada pela Comissão de Ética em Pesquisa da Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo (protocolo nº 2010/12).

Amostra e Procedimentos

O questionário foi aplicado em uma amostra de 211 atletas brasileiros de nível nacional e internacional, escolhidos pelos critérios de disponibilidade e acessibilidade baseados em Creswell e Clark (2011)CRESWELL, J. W.; CLARK, V. L. P. Designing and conducting mixed methods research. 2nd ed. Los Angeles: SAGE Publications, 2011.. A amostra se apresentou como satisfatória segundo Hair et al. (2009)HAIR, J. F.; BLACK, W. C.; BABIN, B. J.; ANDERSON, R. E.; TATHAM, R. L. Análise multivariada de dados. 6a ed. Porto Alegre: Bookman, 2009. (minímo de 5 respondentes para cada item que compõe um instrumento) para a realização de Análise Fatorial em cada dimensão. Os indivíduos foram contatados por meio telefônico e/ou eletrônico para o convite à participação na pesquisa e posteriormente foi realizado agendamento para a aplicação do instrumento. Os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, salvaguardando a confidencialidade, sigilo e privacidade dos sujeitos e também foram instruídos sobre os objetivos do projeto e orientados sobre o conteúdo do questionário.

Os atletas brasileiros tiveram como perfil: idade variando entre 13 e 25 anos (Média =17,80 DP=2,61), gênero de 121 do sexo masculino (57,3%) e 90 do sexo feminino (42,7%) e com relação à modalidade praticada 61% eram atletas de natação, 22% de atletismo e 17% de judô.

Análise Estatística

O propósito essencial de uma análise fatorial é descrever, se possível, as covariâncias entre as variáveis em um número menor de variáveis (não observáveis) denominados fatores. Em outras palavras, a análise fatorial avalia os inter-relacionamentos entre as variáveis, num esforço para encontrar um conjunto de fatores que exprima o que as variáveis originais partilham em comum (HAIR et al., 2009HAIR, J. F.; BLACK, W. C.; BABIN, B. J.; ANDERSON, R. E.; TATHAM, R. L. Análise multivariada de dados. 6a ed. Porto Alegre: Bookman, 2009.). Para as análises foi utilizado o programa SPSS for Windows versão 20.0.

Para viabilizar a Análise Fatorial Exploratória, foram verificados os dados ausentes, índices de Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) e os valores dos testes de esfericidade (Teste de Bartlett) para os conjuntos de variáveis referentes a "Estrutura", "Processos" e "Resultados". Quanto à verificação dos dados, foram excluídas as variáveis com mais de 40% de valores ausentes. Para manter a amostra total, foi realizado a atribuição de valores ausentes pelo método EM. Sobre o KMO, são considerados adequados valores próximos de 1,0, enquanto que valores menores que 0,5 indicam a inadequação do procedimento. O teste de esfericidade de Bartlett indica que há correlação entre as variáveis quando p < 0.05 (HAIR et al., 2009HAIR, J. F.; BLACK, W. C.; BABIN, B. J.; ANDERSON, R. E.; TATHAM, R. L. Análise multivariada de dados. 6a ed. Porto Alegre: Bookman, 2009.).

A Análise Fatorial Exploratória foi feita através do método de componentes principais seguida de uma rotação VARIMAX. O número de fatores obtidos foram aqueles cujos autovalores (eigenvalues) eram maiores ou iguais a 1. Foram consideradas as variáveis com cargas fatoriais acima de 0,4 e comunalidade acima de 0,5. As variáveis que possuíam carga fatorial representativa em mais de um fator foram excluídas da análise (HAIR et al., 2009HAIR, J. F.; BLACK, W. C.; BABIN, B. J.; ANDERSON, R. E.; TATHAM, R. L. Análise multivariada de dados. 6a ed. Porto Alegre: Bookman, 2009.).

Para todos os fatores extraídos de todos os componentes foi calculada a consistência interna para se aferir a precisão da medida de cada um dos fatores dos componentes. Para tanto foi utilizado o cálculo do Alpha de Cronbach que é uma das formas de se estimar a confiabilidade de um instrumento utilizado em pesquisa científica (BALBINOTTI, 2005BALBINOTTI, M. A. A. Para se avaliar o que se espera: reflexões acerca da validade dos testes psicológicos. Aletheia, Canoas, n. 21, n. 21, p. 43-52, 2005.; FREITAS; RODRIGUES, 2005FREITAS, A. L. P.; RODRIGUES, S. G. A avaliação da confiabilidade de questionários: uma análise utilizando o coeficiente alfa de Cronbach. Anais: XII Simpósio de Engenharia de Produção (SIMPEP), Bauru, v. 1, n. 1, p. 1-12, 2005.). Foram considerados satisfatórios os resultados do Alpha de Cronbach acima de 0,60 (HAIR et al., 2009HAIR, J. F.; BLACK, W. C.; BABIN, B. J.; ANDERSON, R. E.; TATHAM, R. L. Análise multivariada de dados. 6a ed. Porto Alegre: Bookman, 2009.).

RESULTADOS

Os valores de KMO se apresentaram adequados e os resultados do teste de esfericidade de Bartlett indicam que houve correlação entre as variáveis, apresentando valores menores que 0.05. Após os procedimentos da realização da Análise Fatorial Exploratória, do total de 36 variáveis originais da dimensão "Estrutura", restaram 16 variáveis que atenderam os critérios estipulados (carga fatorial maior que 0,4e comunalidade acima de 0,5). Foram extraídos 4 fatores que explicaram 66,93% da variância total do constructo. Na Tabela 2 são apresentados os resultados da dimensão "Estrutura".

O fator 1 (Recursos Humanos/Objetivos) foi responsável por 38,10 % da variância total, com uma consistência interna medida através do Alpha de Cronbach igual a 0,88, e foi composto por 6 variáveis que possuem como característica conteúdo pertinente às sub-dimensões "Recursos" e "Objetivos". O fator 2 (Regulamentação) explicou 11,02 % da variância total, com Alpha de Cronbach igual a 0,86, e foi composto por 4 variáveis pertinentes à sub-dimensão "Procedimentos/Regulamentação". Os fatores 3 (Apoios com 4 variáveis) e 4 (Critérios com 3 variáveis), explicaram 9,77% e 8,00% da variância, e apresentaram um Alpha de Cronbach igual a 0,76 e 0,47, respectivamente. As variáveis contidas no fator 3 possuem características pertinentes às Possibilidades/Apoios, e as contidas no fator 4 possuem pertinência com "Objetivos".

Como pode ser observado na Tabela 3, foi extraído 1 fator na dimensão "Processos", sendo que o mesmo explica 43,59% da variância total do constructo, apresentando um Alpha de Cronbach igual a 0,67. A comunalidade para todos os itens deste fator encontram-se abaixo do esperado. Das 11 variáveis originais da dimensão "Processos", 5 variáveis atenderam os critérios estipulados (carga fatorial acima de 0,40).

Para a dimensão "Resultados", Tabela 4, foi extraído um único fator que explica 69,71% do total da variância do constructo, com um Alpha de Cronbach igual a 0,88, composto por 5 variáveis, sendo que o instrumento original é composto por 6 variáveis.

Tabela 2 -
Análise fatorial correspondente à dimensão "Estrutura".

Tabela 3 -
Análise fatorial correspondente à dimensão "Processos".
Tabela 4 -
Análise fatorial correspondente à dimensão "Resultados".

DISCUSSÃO

De acordo com Böhme (2011)BÖHME, M. T. S. Esporte infanto-juvenil: treinamento a longo prazo. Teoria e prática. São Paulo: Phorte, 2011., Meira, Bastos e Böhme (2012)MEIRA, T. B.; BASTOS, F. C.; BÖHME, M. T. S. Análise da estrutura organizacional do esporte de rendimento no Brasil: um estudo preliminar. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, São Paulo, v. 26, n. 2, p. 251-262, 2012., Massa, Uezu e Böhme (2010)MASSA, M.; UEZU, R.; BÖHME, M. T. S. Judocas olímpicos brasileiros: fatores de apoio psicossocial para o desenvolvimento do talento esportivo. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, São Paulo, v. 24, n. 4, p. 471-481, 2010. e Matsudo, Rivet e Pereira (1987)MATSUDO, V. K.; RIVET, R. E.; PEREIRA, M. H. Standard score assessment on physique and performance of Brazilian athletes in a six tiered competitive sports model. Journal of Sports Sciences, Abingdon, v. 5, n. 1, p. 49-53, 1987 o Brasil possui programas assistemáticos, de forma que clubes e até a família se responsabilizam pelo desenvolvimento de atletas que representarão o país nas principais competições esportivas internacionais. Logo, a variabilidade considerável encontrada nas respostas neste estudo pode ser resultado desta característica assistemática. Por outro lado, é possível identificar pontos na composição dos fatores para uma discussão consistente quanto a qualidade dos processos de DSTE da amostra utilizada neste artigo.

Os resultados na dimensão "Estrutura" mostraram que o fator foi formado em maior parte por itens da sub-dimensão "Recursos". Realmente, com mais recursos, maior é a possibilidade de se manter equipes técnicas permanentes (DE BOSSCHER et al., 2008DE BOSSCHER, V.; BINGHAM, J.; SHIBLI, S.; VAN BOTTENBURG, M.; DE KNOP, P. The global sporting arms race: an international comparative study on sports policy factors leading to international sporting success. Aachen: Meyer & Meyer, 2008.), o que na visão de atletas, é mais perceptível. Por outro lado, das 12 variáveis iniciais da sub-dimensão "Recursos", apenas 3 tiveram cargas fatoriais consideráveis. Subentende-se que as outras variáveis podem não estar presentes na DSTE no Brasil, ou não são importantes na visão dos atletas brasileiros participantes desta pesquisa. Das variáveis excluídas, três diziam respeito à iniciação esportiva na escola; as demais variáveis estavam relacionadas com os meios financeiros e sua distribuição, utilização e disponibilidade em longo prazo.

Realmente, a estrutura do esporte de alto-rendimento no Brasil ainda possui problemas como, por exemplo: inexistência de diagnóstico e das necessidades de cada modalidade; deficiências operacionais nos centros de treinamento existentes; dificuldades de conciliação entre educação e o desenvolvimento do atleta; falta de profissionalização da carreira de atletas; déficit de formação esportiva de base; consideráveis problemas no grande contingente de crianças/jovens sem acesso a iniciação da prática esportiva, escolas públicas desvinculadas da iniciação esportiva e a dificuldade de acesso pela população a clubes sócio-esportivos. Esses dados foram divulgados no "Relatório de Auditoria Operacional: Esporte de Alto Rendimento" do Tribunal de Contas da União (BRASIL, 2011BRASIL. Tribunal de Contas da União. Relatório de Auditoria Operacional: Esporte de Alto Rendimento. Brasília: TCU, Secretaria de Fiscalização e Avaliação de Programas de Governo, 2011.). A participação esportiva e o acesso às modalidades Olímpicas são requisitos para que os processos de DSTE. Se esta etapa não acontece com qualidade, a possibilidade de existência de atletas de alto rendimento com potencial de sucesso internacional diminui (BÖHME, 2011BÖHME, M. T. S. Esporte infanto-juvenil: treinamento a longo prazo. Teoria e prática. São Paulo: Phorte, 2011.; DE BOSSCHER et al., 2008DE BOSSCHER, V.; BINGHAM, J.; SHIBLI, S.; VAN BOTTENBURG, M.; DE KNOP, P. The global sporting arms race: an international comparative study on sports policy factors leading to international sporting success. Aachen: Meyer & Meyer, 2008.).

O fato das variáveis relacionadas com a sub-dimensão "Objetivos" estarem distribuídos em dois fatores (fator 1 e fator 4) também é preocupante, já que boa parte dos países que possuem sucesso no esporte internacional possuem objetivos claros, assim como metas e diretrizes (mesmo que mínimas) para o alcance dos resultados esperados (GREEN; OAKLEY, 2001GREEN, M.; OAKLEY, B. Elite Sport development systems and playing to win: uniformity and diversity in international approaches. Leisure Studies, Abingdon, v. 20, n. 4, p. 247-267, 2001.; MARTINDALE; COLLINS; ABRAHAM, 2007MARTINDALE, R.; COLLINS, D.; ABRAHAM, A. Effective talent development: the elite coach perspective in UK sport. Journal of Applied Sport Psychology, Abingdon, v. 19, n. 2, p. 187-206, 2007.; SOTIRIADU; SHILBURY, 2009SOTIRIADU, K.; SHILBURY, D. Australian elite athlete development: an organizational perspective. Sport Management Review, Sydney, v. 12, n. 3, p. 137-148, 2009.). As variáveis relacionadas com os "Objetivos" possuem baixa carga e o fator 4 apresentou um Alpha de Cronbach igual a 0,47 (considerado baixo) além de explicar apenas 8% do constructo formado.

Quanto ao fator 2, relacionado com "Procedimentos/Regulamentação", as variáveis apontam que, segundo a opinião dos atletas participantes deste estudo, existe uma regulamentação sobre os processos de Detecção e Seleção de jovens atletas. Por outro lado, esses resultados sugerem uma imposição de "regulamentos" já que as variáveis são respectivamente: "Regulado centralmente", "Confederações fazem muitos regulamentos", "Estado tem papel forte", "Leis e regulamentos tem grande papel". Enquanto que duas variáveis excluídas foram: "Os procedimentos são fornecidos/disponíveis" e "Muitos procedimentos éticos são considerados" (por exemplo, o direito da criança realizar ou não os testes).

Muitos países com sucesso esportivo internacional possuem diretrizes e regulamentos centralizados, que dependendo do contexto, são realizados por diferentes organizações, como Ministério do Esporte, Comitê Olímpico Nacional, organização Nacional do Esporte, etc. (DE BOSSCHER et al., 2006DE BOSSCHER, V.; DE KNOP, P.; VAN BOTTENBURG, M.; SHIBLI, S. A Conceptual framework for analysing sports policy factors leading to international sporting success. European Sport Management Quarterly, Abingdon, v. 6, n. 2, p. 185-215, jun. 2006.; GREEN; OAKLEY, 2001GREEN, M.; OAKLEY, B. Elite Sport development systems and playing to win: uniformity and diversity in international approaches. Leisure Studies, Abingdon, v. 20, n. 4, p. 247-267, 2001.; HOULIHAN; GREEN, 2008HOULIHAN, B.; GREEN, M. Comparative Elite Sport Development. Systems, Structures and public policy. London: Elsevier, 2008.). Entretanto, os Estados Unidos são o melhor exemplo de que os regulamentos e diretrizes não necessitam ser tão centralizados ou não são determinantes para o sucesso internacional (RÖGER et al., 2010RÖGER, U.; RÜTTEN, A.; ZIEMAINZ, H.; HILL, R. Quality of talent development systems: results from an international study. European Journal for Sport and Society, Bern, v. 7, n. 1, p. 7-19, 2010.). O importante é que eles sejam éticos e disponíveis, características que estão presentes nas variáveis do modelo, mas que não compuseram o fator 2.

As variáveis que formaram o fator 3 dizem respeito às questões relacionadas com a sub-dimensão "Oportunidades/Apoios". O fator foi composto por 4 variáveis, das 11 originais, evidenciando que os atletas consideraram essenciais o "Apoio da mídia", "Apoio da população", "Apoio dos políticos locais" e "Apoio da elite política" para a DSTE. A exclusão das variáveis: "Apoio das escolas"; "Apoio dos pais", "Trabalho conjunto dos funcionários de esporte e os da política", "Número de talentos que vêm de outras modalidades", "Apoio econômico", "Atletas de elite como modelo", "Apoio da Ciência"; demonstra que os apoios disponíveis para jovens atletas poderiam ser muito mais abrangentes.

Além disso, não estão no fator 3 as variáveis relacionadas com as "janelas de oportunidades". Diferentes autores sugerem que é essencial que existam possibilidades para que os Talentos Esportivos tenham sucesso no futuro (CSIKSZENTMIHALYI; RATHUNDE; WHALEN, 1996CSIKSZENTMIHALYI, M.; RATHUNDE, K.; WHALEN, S. Talented teenagers. The roots of success & failure. Cambridge: Cambridge University Press, 1996.; MARTINDALE; COLLINS; DAUBNEY, 2005MARTINDALE, R.; COLLINS, D.; DAUBNEY, J. Talent development: a guide for practice and research within sport. Quest, New York, v. 57, n. 4, p. 353-375, 2005.; TRANCKLE; CUSHION, 2006TRANCKLE, P.; CUSHION, C. J. Rethinking giftedness and talent in sport. Quest, New York, v. 58, n. 2, p. 265-282, 2006.). A família, o ambiente e principalmente programas bem estruturados (cientificamente e economicamente) podem gerar oportunidades sejam elas esportivas, acadêmicas ou profissionais. (DE BOSSCHER et al., 2006DE BOSSCHER, V.; DE KNOP, P.; VAN BOTTENBURG, M.; SHIBLI, S. A Conceptual framework for analysing sports policy factors leading to international sporting success. European Sport Management Quarterly, Abingdon, v. 6, n. 2, p. 185-215, jun. 2006.; DURAND-BUSH; SALMELA, 2001DURAND-BUSH, N.; SALMELA, J. H. The development of talent in sport. In: SINGER, R. N.; HAUSENBLAS, H. A.; JANELLE, C. (Ed.). The development of talent in sport. 2nd ed. New York: John Wiley & Sons, 2001. p. 269-289.; GAGNÉ, 2000GAGNÉ, F. Understanding the complete choreography of talent development through DMGT-based analysis. In: HELLER K. A.; MÖNKS F. J.: SUBOTNIK R.; STERNBERG R. J. (Ed.). International handbook of giftedness and talent. 2nd ed. Oxford: Elsevier, 2000. p. 67-79.; TRANCKLE; CUSHION, 2006TRANCKLE, P.; CUSHION, C. J. Rethinking giftedness and talent in sport. Quest, New York, v. 58, n. 2, p. 265-282, 2006.; WYLLEMAN; REINTS; DE KNOP, 2013WYLLEMAN, P.; REINTS, A.; DE KNOP, P. A developmental and holistic perspective on athletic career development. In: SOTIRIADOU, P.; DE BOSSCHER, V. (Ed.). Managing high performance sport. London; New York: Routledge, 2013. p. 159-182.). Essas variáveis não tiveram importância significativa na opinião dos atletas participantes desta pesquisa.

Como evidenciado nos resultados, a dimensão "Processos" teve 5 variáveis de 11 originais e um único fator formado (com Alpha de 0,674), o que é congruente ao modelo original de Rütten, Ziemainz e Röger (2005)RÜTTEN, A.; ZIEMAINZ, H.; RÖGER, U. Qualitätsgesichertes System der Talentsuche und auswahl - Theoretischer ansatz, methode erste ergebnisse. In: EMRICH, E.; GÜLLICH, A.; BÜCH, M. P. (Ed.). Beiträge zum nachwuchsleistungssport. Schorndorf: Hofmann-Verlag, 2005. p. 45-74.. As variáveis que formaram o fator evidenciam quais os processos mais comuns na escolha de jovens atletas talentosos. Foram excluídas variáveis relacionadas com a documentação e acessibilidade dos processos, planejamento dos programas, além da consideração de conhecimento científico nos processos e a consideração de características psicológicas dos atletas, deixando claro que as ações da dimensão "Processos" indicadas no modelo proposto (Planejamento, Implementação e Controle) não são realizadas de forma satisfatória.

A dimensão "Resultados" obteve índices satisfatórios, com um único fator formado com 5 variáveis, explicando 69% do constructo (Alpha de 0,889), o que evidência a consistência entre as variáveis. Apenas uma variável foi excluída do modelo original, mas extremamente determinante, pois diz respeito à existência de relação adequada entre o custo e resultado da DSTE.

Segundo Santos, Da Costa e Silva (2012)SANTOS, S. C.; DA COSTA, L.; SILVA, C. H. V. Rio 2016 e o plano brasil medalhas: seremos uma potência olímpica? Podium Sport, Leisure and Tourism Review, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 64-82, 2012. os programas para o desenvolvimento do esporte brasileiro são muitas vezes emergenciais visando apenas o resultado em determinado momento, havendo um esquecimento por parte dos gestores de todos os processos de formação de atletas e a consolidação em longo prazo de um sistema sólido de DSTE. Consequentemente há um descompasso entre custo, benefício e resultados em longo prazo.

Apesar da dimensão "Resultados" ter mostrado mais consistência nas análises, as dimensões anteriores provocam muitas dúvidas sobre a qualidade da detecção e seleção de talentos esportivos. É comum no Brasil o argumento que o esporte possui um papel de contribuição social. No próprio site oficial do Ministério do Esporte pode ser observado esta característica dos programas de esporte de base no Brasil. Por outro lado, segundo o Tribunal de Contas da União, programas sociais que utilizam o esporte como argumento possuem baixa vinculação ao esporte de alto rendimento (BRASIL, 2011BRASIL. Tribunal de Contas da União. Relatório de Auditoria Operacional: Esporte de Alto Rendimento. Brasília: TCU, Secretaria de Fiscalização e Avaliação de Programas de Governo, 2011.). Os apontamentos do órgão regulador e das outras referências citadas durante esta discussão apenas confirmam a qualidade deficiente da DSTE na amostra de atletas brasileiros utilizadas para a verificação da viabilidade de aplicação do modelo proposto por Rütten, Ziemainz e Röger (2005)RÜTTEN, A.; ZIEMAINZ, H.; RÖGER, U. Qualitätsgesichertes System der Talentsuche und auswahl - Theoretischer ansatz, methode erste ergebnisse. In: EMRICH, E.; GÜLLICH, A.; BÜCH, M. P. (Ed.). Beiträge zum nachwuchsleistungssport. Schorndorf: Hofmann-Verlag, 2005. p. 45-74..

Deve-se levar em consideração que os resultados apresentados são um retrato da visão do atleta ao respeito da DSTE e talvez algumas informações destas etapas não estejam claras para os mesmos. Além disso, os atletas participantes da amostra eram provenientes de diferentes modalidades esportivas. Levando-se em consideração a diferença de desenvolvimento de atletas entre as modalidades no Brasil, dados mais consistentes poderiam ser obtidos se o modelo fosse aplicado em cada esporte específico.

Ainda assim, uma das principais contribuições deste estudo foi o da formação de fatores em todas as dimensões ("Estrutura", "Processos" e "Resultados") condizente com o modelo de Rütten, Ziemainz e Röger (2005)RÜTTEN, A.; ZIEMAINZ, H.; RÖGER, U. Qualitätsgesichertes System der Talentsuche und auswahl - Theoretischer ansatz, methode erste ergebnisse. In: EMRICH, E.; GÜLLICH, A.; BÜCH, M. P. (Ed.). Beiträge zum nachwuchsleistungssport. Schorndorf: Hofmann-Verlag, 2005. p. 45-74., sugerindo que a estrutura conceitual é aplicável para se analisar a qualidade da DSTE no Brasil. É possível traçar também um paralelo com realidades de outros países, de forma a identificar os pontos relevantes das ações desenvolvidas por outras nações e compará-las com a realidade nacional.

Röger et al. (2010)RÖGER, U.; RÜTTEN, A.; ZIEMAINZ, H.; HILL, R. Quality of talent development systems: results from an international study. European Journal for Sport and Society, Bern, v. 7, n. 1, p. 7-19, 2010. aplicaram o mesmo modelo em Austrália, China, Alemanha e EUA. Apesar da semelhança na formação dos fatores, o número de variáveis presentes nos resultados de Röger et al. (2010)RÖGER, U.; RÜTTEN, A.; ZIEMAINZ, H.; HILL, R. Quality of talent development systems: results from an international study. European Journal for Sport and Society, Bern, v. 7, n. 1, p. 7-19, 2010. em todas as dimensões foram maiores e os índices de Alpha de Cronbach são mais consistentes quando comparados aos encontrados neste estudo, sugerindo que o desenvolvimento de talentos esportivos na Austrália, China, Alemanha e EUA possuem maior qualidade do que no Brasil.

Compreender os vários aspectos envolvidos nos processos de DSTE é importante no que tange a busca por qualidade e estratégias para maximizar os resultados pretendidos. De posse destas informações também é possível traçar um paralelo com realidades de outros países e identificar os pontos relevantes das ações desenvolvidas por outras nações e compará-las com a realidade nacional. Ao mesmo tempo que situações que não são desenvolvidas satisfatoriamente em outros países podem evidenciar possíveis particularidades positivas do Brasil, possibilitando que os trabalhos nesses fatores sejam feitos de forma mais eficiente, contribuindo para o aperfeiçoamento e gestão de programas de talentos esportivos.

CONCLUSÃO

Este trabalho permitiu demonstrar a aplicação do modelo elaborado por Rütten, Ziemainz e Röger (2005)RÜTTEN, A.; ZIEMAINZ, H.; RÖGER, U. Qualitätsgesichertes System der Talentsuche und auswahl - Theoretischer ansatz, methode erste ergebnisse. In: EMRICH, E.; GÜLLICH, A.; BÜCH, M. P. (Ed.). Beiträge zum nachwuchsleistungssport. Schorndorf: Hofmann-Verlag, 2005. p. 45-74. em atletas brasileiros e a avaliação da qualidade dos processos de DSTE. As três dimensões utilizadas pelo modelo ("Estrutura", "Processos" e "Resultados") contribuem para a avaliação da qualidade dos Programas de Detecção e Seleção do Talento Esportivo.

Como limitações, o caráter amostral pode ser melhorado, já que foram apresentados resultados apenas da opinião de atletas de três modalidades esportivas: atletismo, natação e judô. No entanto, os resultados aqui apresentados viabilizam a aplicação de instrumento para a avaliação da qualidade dos processos de Detecção e Seleção, sendo que futuros trabalhos acadêmicos podem replicar o modelo e contribuir para a melhora das análises sobre a qualidade da DSTE no Brasil e realizar comparação entre países que tiveram o mesmo objetivo.

A discussão sobre o tema sugere que é necessário a busca por soluções visando a melhora da qualidade no desenvolvimento de jovens atletas no Brasil. As organizações esportivas brasileiras responsáveis pelo desenvolvimento do esporte de base podem, por exemplo, aplicar o instrumento em talentos de modalidades especifica e investir na melhoria de variáveis que não foram evidenciadas como significativas na análise estatística apresentada.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Sep-Dec 2014

Histórico

  • Recebido
    23 Mar 2014
  • Revisado
    19 Maio 2014
  • Aceito
    22 Set 2014
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