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O impacto da reconstrução mamária na qualidade de vida e na autoestima de mulheres submetidas à mastectomia

Prezado editor,

Recentemente, Alves et al.11 Alves VL, Sabino Neto M, Abla LEF, Oliveira CJR, Ferreira LM. Avaliação precoce da qualidade de vida e autoestima de pacientes mastectomizadas submetidas ou não à reconstrução mamária. Rev Bras Cir Plást. 2017;32(2):208-17. publicaram neste periódico um estudo transversal avaliando o impacto da reconstrução mamária na qualidade de vida e na autoestima de 59 mulheres submetidas à mastectomia. Nesse estudo, após 30 dias da cirurgia, não se observou diferença entre os grupos avaliados. No artigo publicado, os autores expõem uma ampla discussão acerca do tema e propõem possíveis justificativas para os desfechos semelhantes entre os diferentes grupos analisados11 Alves VL, Sabino Neto M, Abla LEF, Oliveira CJR, Ferreira LM. Avaliação precoce da qualidade de vida e autoestima de pacientes mastectomizadas submetidas ou não à reconstrução mamária. Rev Bras Cir Plást. 2017;32(2):208-17..

Entretanto, acreditamos que algumas questões metodológicas possam ter contribuído para os resultados inesperados do referido estudo, como o tamanho amostral reduzido e a seleção aleatória das pacientes. Da mesma forma, destaca-se o viés inerente à aplicação de questionários pela própria equipe assistente, apesar da utilização de instrumentos validados internacionalmente. Por fim, considerando o impacto psicológico do diagnóstico de câncer de mama e da própria cirurgia radical, questiona-se a efetividade da avaliação psicossocial ainda no período de pós-operatório.

Em Goiás, um estudo caso-controle que incluiu 167 mulheres observou maior insatisfação com a imagem corporal entre as portadoras de câncer de mama, sobretudo entre aquelas submetidas à mastectomia. Já a autoestima foi negativamente afetada entre as mulheres insatisfeitas com a sua imagem corporal22 Prates ACL, Freitas-Junior R, Prates MFO, Veloso MF, Barros NM. Influence of Body Image in Women Undergoing Treatment for Breast Cancer. Rev Bras Ginecol Obstet. 2017;39(4):175-83.. Apesar das diferenças metodológicas, esse estudo reforça o conceito de que a mastectomia sem reconstrução acarreta prejuízo à autoestima e também à qualidade de vida dessas mulheres33 Dauplat J, Kwiatkowski F, Rouanet P, Delay E, Clough K, Verhaeghe JL, et al.; STIC-RMI working group. Quality of life after mastectomy with or without immediate breast reconstruction. Br J Surg. 2017;104(9):1197-206..

Dessa forma, a presente carta acrescenta algumas considerações referentes à discussão crítica do artigo conduzido por Alves et al.11 Alves VL, Sabino Neto M, Abla LEF, Oliveira CJR, Ferreira LM. Avaliação precoce da qualidade de vida e autoestima de pacientes mastectomizadas submetidas ou não à reconstrução mamária. Rev Bras Cir Plást. 2017;32(2):208-17., valorizando o entendimento do processo psicológico após o tratamento cirúrgico do câncer de mama.

  • Instituição: Universidade Federal de Goiás, Goiânia, GO, Brasil.

REFERÊNCIAS

  • 1
    Alves VL, Sabino Neto M, Abla LEF, Oliveira CJR, Ferreira LM. Avaliação precoce da qualidade de vida e autoestima de pacientes mastectomizadas submetidas ou não à reconstrução mamária. Rev Bras Cir Plást. 2017;32(2):208-17.
  • 2
    Prates ACL, Freitas-Junior R, Prates MFO, Veloso MF, Barros NM. Influence of Body Image in Women Undergoing Treatment for Breast Cancer. Rev Bras Ginecol Obstet. 2017;39(4):175-83.
  • 3
    Dauplat J, Kwiatkowski F, Rouanet P, Delay E, Clough K, Verhaeghe JL, et al.; STIC-RMI working group. Quality of life after mastectomy with or without immediate breast reconstruction. Br J Surg. 2017;104(9):1197-206.

Resposta

Autoria SCIMAGO INSTITUTIONS RANKINGS

Prezados autores,

Os Sres. apontam que a presente pesquisa foi composta por 59 voluntárias, porém a mesma contou com a participação de 89 pacientes. E sugerimos dar continuidade a pesquisa.

Referente as questões metodológicas, declaramos que seria importante a utilização do questionário QLQ-BR23, pois trata se de um instrumento especifico para avaliar a qualidade de vida das pacientes com câncer de mama, já que o QLQ-C30 avalia a qualidade de vida dopacienteportadordo câncer. Destaforma, conseguiremosanalisar se de fatoneste período de pós operatório (um mês) há alterações significativas na QV e AE das voluntárias. Concordo que seria importante aumentar o número de participantes da pesquisa. Além disso, é fundamental que estas mulheres sejam avaliadas no momento do diagnóstico do câncer, durante o tratamento com quimioterapia e radioterapia, avaliar imediatamente após a mastectomia, após um, três, seis e doze meses deste procedimento, bem como após a reconstrução mamária e simetrização das mesmas.

Por este motivo temos a intenção de darmos continuidade à pesquisa.

Entretanto, ao ler vosso artigo deparei me com uma metodologia e critérios de inclusão diferentes do proposto pelo atual artigo, uma vez que os Sres. trabalharam com pacientes em tratamento quimioterápico, e algumas literaturas apontam que seus efeitos colaterais podem interferir na autoestima, qualidade de vida e imagem pessoal. Além disso, o instrumento que os Sres. utilizaram avalia especificamente a imagem pessoal, e o artigo de Alves et al. não trabalharam com a avaliação da imagem pessoal e nem com pacientes em tratamento quimioterapico. Desta forma, acredita se que o impacto seja diferente justamente pelos efeitos indesejáveis da quimioterapia. Seria interessante darmos continuidade junto aos Sres com os três instrumentos, aumentarmos o número de voluntárias e desenharmos em que momento iriamos avaliar estas possíveis alterações.

Outro dado relevante é a questão de regionalidade e a questão religiosa que não foram avaliadas em ambos os artigos. Aqui em São Paulo, em nossas práticas, observamos que a primeira sentença que vem à cabeça da paciente é a “MORTE”, quando a mesma percebe que seu prognóstico pode ser melhor do que ela imagina os valores em relação a vida também são outros, ou seja, o estar sem a mama é só uma passagem e enfrentamento da doença. Porém, estes dados também precisam ser avaliados na população descrita anteriormente, pois só assim saberemos, se a questão crença, Estado, e outros valores interferem negativamente ou não e em que momento as alterações são ou não instaladas. Desta forma, nós profissionais da área da saúde poderemos intervir com nossos tratamentos para potencializarmos os resultados esperados, melhorando assim a qualidade de vida, autoestima e imagem pessoal.

Fiz a leitura do vosso artigo “Influence of body image in women undergoing treatment for breast cancer. Rev Bras Ginecol Obstet. 2017”, e acredito que poderíamos dar continuidade na pesquisa e delimitarmos melhor a população estuda em ambas as pesquisas, ou seja, Alves et al. e por Prates et al.

Answer

Autoria SCIMAGO INSTITUTIONS RANKINGS

Dear authors,

You indicated that the present study included 59 volunteers. However, 89 patients were enrolled. In addition, we suggest continuing the research.

With regard to methodological issues, it would be important to use the QLQ-BR23 questionnaire, because it specifically evaluates the quality of life in patients with breast cancer, whereas the QLQ-C30 evaluates the quality of life of cancer patients. The use of the former allows the assessment of possible changes in the quality of life and self-esteem of study participants in the postoperative period (1 month).

I agree that it is important to increase the number of participants in the study. Furthermore, the participants need to be evaluated at the time of cancer diagnosis; during chemotherapy and radiotherapy; immediately after mastectomy; at 1, 3, 6, and 12 months after mastectomy; after breast reconstruction and symmetrization. For this reason, we suggest continuing the research.

However, after reading your article, I observed that the methodology and inclusion criteria were different from those proposed in the present study. You evaluated patients on chemotherapy, and some studies indicate that the side effects of chemotherapy may interfere with self-esteem, quality of life, and personal image. In addition, the instrument used in your study specifically evaluates personal image, whereas the study by Alves et al. did not evaluate personal image or patients on chemotherapy. Therefore, the effect of breast reconstruction may have varied, precisely because of the undesirable effects of chemotherapy. For this reason, it is necessary to continue the study using the three instruments, increasing the number of participants, and designing the time points to evaluate these possible changes.

Regional considerations and religious beliefs are also relevant, but were not addressed in these two studies. In our practice in São Paulo, we have observed that the first thought that comes to the patient’s mind is “DEATH,” until she realizes that her prognosis may be better than she imagines. In addition, life values change, and affected women recognize that the condition of not having breasts is temporary, and is part of the process of coping with the disease. However, these data also need to be analyzed in the population described previously to determine the influence of beliefs, State, and other factors, and whether or not these factors apply. In addition, this analysis will allow health professionals to recommend treatments that maximize the expected results and thus improve the quality of life, self-esteem, and personal image.

I read your article “Influence of body image in women undergoing treatment for breast cancer” (Rev Bras Ginecol Obstet. 2017), and I believe we should continue the research and better define these two study populations (Alves et al. and Prates et al.).

  • Institution: Universidade Federal de Goiás, Goiânia, GO, Brazil.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    29 Maio 2023
  • Data do Fascículo
    2017

Histórico

  • Recebido
    03 Ago 2017
  • Aceito
    23 Set 2017
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