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Editorial

As relações entre as obras de Machado de Assis e Camilo Castelo Branco marcam este décimo quinto número da Machado de Assis em linha, que traz quatro artigos dedicados à comparação entre dois escritores contemporâneos, aproximados pela língua e separados pelo Atlântico.

Para compor esse pequeno dossiê, recuperamos para a seção “Da tradição crítica” o ensaio “Camilo e Machado de Assis”, no qual Josué Montello recolhe nas filigranas dos romances camilianos e machadianos afinidades estilísticas e também filosóficas entre os dois escritores. Paulo Motta Oliveira, da Universidade de São Paulo, trata das afinidades entre os narradores de Camilo e Machado trazendo para a cena um terceiro elemento surpreendente: o Gabriel Lambert de Alexandre Dumas. Henrique Marques Samyn, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, contrasta na sua comparação dois personagens, o Félix de Ressurreição e o Simão de Amor de perdição, observando como por meio deles Camilo e Machado fazem uma crítica das representações românticas da subjetividade masculina. Os modos críticos como ambos se posicionam diante do cientificismo e do Naturalismo constituem o centro da discussão proposta por Luciene Marie Pavanelo, da Universidade Estadual Paulista, num artigo que analisa dois romances do autor português e um conto do escritor brasileiro.

Flávio Ricardo Vassoler, doutorando na Universidade de São Paulo, que realiza estágio doutoral na Northwestern University, nos Estados Unidos, faz uma análise comparativa de “A figura no tapete”, de Henry James, e “Teoria do medalhão”, de Machado; seu objetivo é mostrar como ambos os escritores fundam suas narrativas sobre inescapáveis contradições.

Jaison Luís Crestani apresenta os resultados de sua pesquisa de pós-doutorado na Universidade de São Paulo num artigo que busca compreender as ligações entre Iaiá Garcia e Memórias póstumas de Brás Cubas examinando o material que Machado de Assis publicou no jornal O Cruzeiro em 1878; para o autor, esses textos são fundamentais para compreender as transformações da escrita machadiana na passagem da década de 1870 para a de 1880.

Também a respeito desse momento decisivo da trajetória de Machado de Assis, temos a colaboração de Antônio Marcos Sanseverino, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que propõe uma releitura dos poemas que integram os Cantos ocidentais, de 1880, contemporâneos portanto das Memórias póstumas; Antônio Sanseverino mostra as conexões entre a poesia e a prosa do escritor, reivindicando também para os poemas suas marcas de modernidade.

O ressentimento é o tema explorado por Vitor Cei, da Universidade Federal do Espírito Santo, em seu artigo sobre Dom Casmurro, no qual mostra como o ciúme e o prazer das dores velhas movem o narrador Bento Santiago.

O texto de Paul Dixon, de Purdue University, propõe a categoria do “narrador homeopático” como elemento fundamental para a caracterização do projeto de escrita machadiano, no qual interessariam mais as perguntas que as respostas, o que permite ao leitor uma grande liberdade de interpretação do texto.

Para arrematar o número, Alex Sander Luiz Campos, do Instituto Federal do Norte de Minas Gerais, escreve uma resenha sobre as crônicas publicadas por Machado de Assis no jornal luso-brasileiro O Futuro entre 1862 e 1863, recentemente publicadas pela Editora da Unicamp em livro organizado por Rodrigo Camargo Godoi. O Futuro foi fundado e dirigido pelo poeta Faustino Xavier de Novais, irmão de Carolina, o primeiro dos Novais a emigrar para o Brasil no final da década de 1850. Em Portugal, Faustino era amigo de Camilo; no Rio de Janeiro, logo se tornou amigo de Machado, como demonstra o convite que fez ao jovem escritor brasileiro para colaborar nas páginas do seu jornal, que reuniu alguns dos escritores mais conhecidos dos dois lados do Atlântico.

Assim, este número 15 abre e fecha sob o signo de Camilo, tratando das relações de Machado com escritores portugueses e com Portugal.

Hélio de Seixas Guimarães, Editor
Universidade de São Paulo
São Paulo, São Paulo, Brasil
Marta de Senna, Editora Sênior
Fundação Casa de Rui Barbosa
Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil
Junho de 2015

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jun 2015
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