Este primeiro número da Machado de Assis em linha a sair num mês de abril (a revista passa a ser publicada em abril, agosto e dezembro) mantém a variedade de assuntos e a amplitude geográfica que a caracterizam.
De Porto Alegre, temos as leituras de dois contos de Machado de Assis pelo viés da clínica psicanalítica. Lucia Serrano Pereira analisa “A cartomante” como exemplo do “efeito de vertigem”, que define como marca dos contos machadianos, provocadores de uma desestabilização inquietante nos leitores. Robson de Freitas Pereira, por sua vez, aproxima a situação do leitor diante do conto “Pai contra mãe” com a situação do analisando e do analista. Os dois artigos fazem parte de um conjunto de textos, a serem publicados pela MAEL ao longo de 2016, que têm como ponto comum a participação dos seus autores na Jornada "La clinique du spéculaire dans l'½uvre de Machado de Assis", realizada em Paris, em 2002, com a presença de psicanalistas, historiadores e críticos literários franceses e brasileiros.
Helena é assunto de outros dois artigos deste número. André Cabral de Almeida Cardoso, de Niterói, lê o romance à luz do romance sentimental europeu e de seu impacto sobre a produção literária brasileira; Priscila Salvaia, de Campinas, adiciona à análise do romance os papéis de gênero, utilizando para seu estudo a versão publicada em folhetim, em 1876.
Também de Niterói publicamos o ensaio de Benito Petraglia, que questiona o método crítico de Roberto Schwarz na sua análise da crônica conhecida como “O punhal de Martinha”. E de Belo Horizonte temos o artigo de Marcelo Fonseca Ribeiro de Oliveira, jovem estudioso de Machado de Assis, sobre a presença da filosofia cínica em Quincas Borba.
Este número presta homenagem, na seção “Da tradição crítica”, a Raimundo Magalhães Júnior, biógrafo e responsável pela revelação, na década de 1950, de muitos escritos pouco conhecidos de Machado de Assis. Em se tratando de textos pouco conhecidos, a MAEL traz neste número um depoimento raro, talvez único em sua extensão e interesse, de Aluísio Azevedo sobre Machado de Assis.
Para completar a edição, Walter Costa, Editor Colaborador para a área de Estudos da Tradução, resenha o livro “Um apólogo” de Machado de Assis em seis vozes, que reúne traduções do célebre diálogo da linha e da agulha para seis línguas.
Machado de Assis em linha, com este número 17, torna-se uma publicação quadrimestral. Trata-se de um grande desafio para a única revista brasileira dedicada a um autor literário, não por acaso o escritor brasileiro mais celebrado e estudado no país e no exterior, cuja obra deu origem a uma fortuna crítica numerosa e complexa, que envolve não só os estudos literários, mas diversas áreas do conhecimento.
A decisão de torná-la quadrimestral foi tomada pelo Conselho Editorial, reunido em agosto de 2015 na Fundação Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro. O objetivo da mudança é atender a critérios estabelecidos pelo SciELO (Scientific Electronic Library Online, principal meio de indexação e difusão da MAEL), de modo a avançar no processo de profissionalização da revista, incremento que pressupõe a obtenção de recursos junto às agências financiadoras.
Entretanto, os critérios para obtenção do financiamento que CAPES e CNPq concedem anualmente às publicações científicas foram alterados sem qualquer aviso prévio no final de 2015, em função de cortes orçamentários, e a revista não pôde obter recursos da CAPES-CNPq para este ano de 2016.
Assim, a MAEL entra numa nova fase de profissionalização retornando, lamentavelmente, à situação dos seus primeiros números, produzidos à custa de trabalho voluntário e não remunerado.
Essa circunstância, que esperamos passageira, obrigou-nos a suspender o processo de transformação da MAEL numa revista totalmente bilíngue português-inglês, além de adiar outros projetos em curso, que implicam contratação de prestadores de serviços.
Esperamos que esta seja uma situação temporária e que as agências de fomento possam viabilizar a continuidade de um projeto editorial, que é também um projeto acadêmico, científico e cultural, em torno de uma das poucas unanimidades, ou quase unanimidades, que o país pôde construir ao longo de sua história.
Hélio de Seixas Guimarães, Editor
Universidade de São Paulo
São Paulo, São Paulo, Brasil
Marta de Senna, Editora Sênior
Fundação Casa de Rui Barbosa
Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil
Abril de 2016
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
Abr 2016
