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Editorial

Considerando-se a variedade dos colaboradores deste número, filiados a diversas instituições do Brasil e do Exterior, os artigos que compõem a Machado de Assis em linha 18 apresentam muitas confluências. Os doze textos que compõem esta “edição da maioridade” da MAEL podem ser divididos em dois grupos: o primeiro composto de artigos que investigam as dimensões de incerteza e indeterminação do universo machadiano e um segundo grupo formado por textos raros ou pouco conhecidos, garimpados por pesquisadores de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo e Pará.

O primeiro conjunto se abre com o ensaio de Élide Valarini Oliver, no qual a pesquisadora investiga reverberações dos escritos de Spinoza e Voltaire, além dos de Leopardi, na conformação da teoria do Humanitismo, apresentada pela primeira vez nas Memórias póstumas de Brás Cubas e desenvolvida em Quincas Borba. Com erudição filosófica e teológica, a professora e ensaísta radicada em Santa Barbara, na Califórnia, nos mostra como a caricatura que Voltaire faz de Spinoza e o modo como Leopardi representa as discordâncias entre os dois filósofos servem de matéria para a teoria inventada pelo filósofo de Barbacena. Mais que isso, mostra a posição ousada do escritor, que retiraria da Natureza – e do plano divino? – o protagonismo nos destinos da espécie.

As cogitações em torno do acaso como lance determinante para os destinos das personagens machadianas – e dos homens – e as possibilidades de uso pedagógico dessa concepção do mundo e das coisas são o tema comum dos artigos de Marcos Namba Beccari, Alessandra Maria Moreira Gimenes, Neide Luzia de Rezende, Alessandra Carbonero Lima, Marcos Sidnei Pagotto-Euzebio e Leandro Santos Resende. Juntos, os pesquisadores do Paraná e de São Paulo compõem o dossiê “Machado de Assis e a educação”, em que dialogam com as proposições inovadoras de Rogério de Almeida em O imaginário trágico de Machado de Assis (resenhado na MAEL 16), fundamentadas em ideias de Friedrich Nietzsche e Clément Rosset. Uma outra dimensão do trágico, em suas matrizes shakespearianas, é o assunto de Eder Rodrigues Pereira sobre o conto “A cartomante”, outra contribuição que nos chegou de São Paulo.

Dando continuidade à publicação de textos sobre Machado de Assis e a crítica psicanalítica, para a qual contamos com a colaboração de Lúcia Serrano Pereira, de Porto Alegre, trazemos neste número a contribuição de Roland Chemama. O psicanalista francês, referência nos estudos sobre literatura e psicanálise, propõe uma leitura aproximativa do texto literário, encarando-o como um conjunto de significantes que vêm do Outro e que, por isso, deve ser lido em seu caráter enigmático. Ana Maria Medeiros da Costa, do Rio de Janeiro, parte do conceito de narcisismo das pequenas diferenças, de Freud, para tratar da impossibilidade da escolha em Esaú e Jacó.

O texto da tradição crítica, de autoria de Álvaro Lins, um dos maiores e mais polêmicos representantes da chamada crítica de rodapé, que tinha seu principal fórum nos jornais, mostra que já em 1940 a crítica ressaltava o caráter enigmático e relativista da ficção de Machado e o mistério insondável de suas criaturas.

O segundo grupo de textos que compõem esta edição traz à luz e discute materiais raros, alguns até agora desconhecidos até mesmo pelos mais dedicados machadianos. Os musicólogos Mauro Camilo de Chantal Santos, Arnon Sávio Reis de Oliveira e Patrícia Valadão Almeida de Oliveira, de Minas Gerais, tratam da canção composta por Hostílio Soares para um dos poemas mais celebrados de Machado de Assis, “A Carolina”, homenagem póstuma do escritor à sua esposa e companheira de 35 anos. A análise minuciosa das relações entre texto e música é acompanhada pela reprodução integral da partitura original.

José Américo Miranda, do Espírito Santo, e Alex Sander Luiz Campos, de Minas Gerais, recuperaram das páginas do Jornal do Commercio de 1898 um texto crítico de Machado de Assis não referido pelas excelentes bibliografias do autor. Felipe Pereira Rissato, do Pará, depois de pesquisa em vários arquivos do país, finalmente localizou no Arquivo Museu de Literatura Brasileira da Fundação Casa de Rui Barbosa uma nota de 1884 em que Machado de Assis mais uma vez expressava sua admiração pela Itália.

Assim, pensamos que a MAEL atinge sua maioridade em grande forma, dando continuidade ao projeto de trazer aos estudos machadianos reflexões e contribuições de pesquisadores das mais variadas áreas do conhecimento e formações acadêmicas diversas.

Hélio de Seixas Guimarães, Editor
Universidade de São Paulo
São Paulo, São Paulo, Brasil
Marta de Senna, Editora Sênior
Fundação Casa de Rui Barbosa
Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil
Agosto de 2016

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Ago 2016
Universidade de São Paulo - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas Av. Prof. Luciano Gualberto, 403 sl 38, 05508-900 São Paulo, SP Brasil - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: machadodeassis.emlinha@usp.br