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O MIDRAXE MACHADIANO EM "NA ARCA"

"IN THE ARK" AND THE MACHADIAN MIDRASH

Resumo

A obra de Machado de Assis tem sido analisada a partir de diferentes perspectivas, de diferentes campos do saber. Uma possibilidade teórica de análise da obra machadiana é da perspectiva dos estudos de religião e da teologia, considerando que já tem sido amplamente observado como Machado utilizou à farta o texto bíblico em vários de seus contos, romances e crônicas, quase sempre com sentido irônico. O presente artigo visa a apresentar como em "Na arca", que aparece em Papéis avulsos, de 1882, Machado apresenta sua versão do episódio bíblico do dilúvio na perspectiva do midraxe, uma (de muitas) abordagem hermenêutica judaica do texto bíblico. Mas o midraxe machadiano não é explicativo, como o judaico. Antes, é irônico, explorando as misérias e falhas humanas.

Machado de Assis; leitura bíblica judaica; midraxe; hermenêutica bíblica; ironia

Abstract

Machado de Assis's work has been analyzed from different perspectives and fields of knowledge. One possibility of theoretical analysis of the Machadian work is from the perspective of religious studies and theology, especially when considering that Machado’s extensive – and almost always ironic – use of biblical texts in his short stories, novels and chronicles has been widely observed. This articles aims at showing how in "Na arca," (In the ark), which is part of the 1882 publication, Papéis avulsos, Machado presents his own version of the biblical narrative of the flood in the perspective of midrash, one (of many) Jewish hermeneutical approaches to the biblical text. However, the Machadian midrash is not explanatory, just like the Jewish one. Rather, it is ironic, exploring human wretchedness and human failures.

Machado de Assis; Jewish biblical reading; Midrash; biblical hermeneutics; irony

A obra de Machado de Assis tem despertado o interesse de estudiosos de variados campos do saber, tais como a psicanálise, a psicologia, a filosofia e a sociologia. Não se entrará no detalhamento da utilização de referenciais teóricos provenientes desses saberes como possíveis lentes hermenêuticas para a obra de Machado. Todos são academicamente legítimos, já consagrados no estudo de textos machadianos. A decisão de não entrar nesse detalhamento se justifica para não se incorrer em desvio do tema do presente artigo, que, tal como já indicado no seu título, pretende abordar o conto "Na arca" como um midraxe de texto bíblico. Dessa maneira, o artigo sugere uma possibilidade analítica dos textos de Machado diferente das tradicionais, consagradas pelo uso na tradição dos estudos machadianos. Partindo-se desse pressuposto, o artigo apresentará uma introdução ao conceito de midraxe, para, na sequência, mostrar como Machado construiu seu conto na forma dessa abordagem judaica do texto bíblico.

Introdução ao conceito de midraxe

Como já afirmado, o foco propriamente do presente artigo é examinar a obra de Machado em perspectiva diferente das tradicionais. No caso, a "tese" do artigo é que, em "Na arca", Machado faz seu próprio midraxe de uma das mais conhecidas narrativas bíblicas, a saber, a do dilúvio, presente nos capítulos 6 a 9 do Gênesis, o primeiro livro da Bíblia. Logo, pretende-se apresentar um estudo de Machado na perspectiva dos estudos de religião. A respeito do lugar da religião na vida, e, via de consequência, na obra de Machado, Raymundo Faoro destacou:

O poeta, em torno dos quarenta anos, entre Iaiá Garcia e Memórias póstumas, chega ao alto da montanha, "e quando ia a descer a vertente do oeste,/ Viu uma cousa estranha,/ uma figura má" (Poesias completas, "No alto"). Este o momento da mudança, radical e qualitativa, longamente gestada e que explode subitamente.

"Era o parto de um novo Machado, uma conversão às avessas. Há conversões de várias naturezas; do ponto de vista canônico, a de Machado só pode ser interpretada como o avesso de uma conversão edificante".1 1 FAORO, Machado de Assis: a pirâmide e o trapézio, p. 405. A citação feita por Faoro é de Augusto Meyer, Machado de Assis. Rio de Janeiro: Livraria São José, 1950, p. 202.

Vê-se então que Machado, conforme a interpretação de Faoro, passou por uma "conversão às avessas", por assim dizer. O que não o impediu de tratar de temas bíblicos, religiosos e/ou teológicos com relativa frequência.

O primeiro passo no esforço de demonstrar a tese pretendida é entender o que é o midraxe.

A palavra midraxe (algumas vezes grafada midrash) deriva da palavra hebraica דךש (darash), que significa "investigar", "pesquisar", associada ao prefixo מ (mi), que é pronome interrogativo: "quem?".2 2 AZEVEDO, Midrash Rabbah: a Torá oral e a discussão rabínica medieval, p. 165. O midraxe é um método judaico de interpretação bíblica que consiste na releitura e recontagem de determinada narrativa, acrescentando-lhe detalhes. Nesse processo, diferentes midraxim3 3 A palavra midraxim (ou midrashim) é a transliteração da forma plural do substantivo masculino midraxe em hebraico. podem chegar a diferentes conclusões, sem que isso seja visto como incoerente ou contraditório.4 4 AZEVEDO, cit. Intérpretes judeus há muito observaram que a narrativa bíblica é enxuta, econômica e concisa por demais. Daí o esforço na criação do midraxe, que busca preencher lacunas, facilitando dessa maneira a compreensão do texto.5 5 Para uma comparação crítica entre as narrativas bíblica e homérica, ver o ensaio "A cicatriz de Ulisses" de Erich Auerbach em seu livro Mimesis. O professor Gerald Bruns, da Universidade Notre Dame, explica:

O termo midraxe deriva de daraxe, significando "estudar", "pesquisar", "investigar", "inquirir"; significa "ir em busca de". Mais geralmente pode ser tomado como significando "explicação", isto é, dar uma explicação do que está escrito, onde a tarefa da explicação é tratar de quaisquer questões ou tópicos levantados quando a Torá é recitada ou estudada, ou aplicável à situação imediata.6 6 BRUNS, Midraxe e alegoria: os inícios da interpretação escritural, p. 670.

Para facilitar a compreensão do midraxe, serão apresentados, na sequência, um texto bíblico e um midraxe desse mesmo texto. Esta apresentação será útil para o próximo momento do presente artigo, em que será exposto seu "ponto", isto é, que em "Na arca" Machado produziu um midraxe da narrativa bíblica do dilúvio.

No caso, serão transcritos o texto que contém a segunda narrativa da criação do homem no Gênesis (coluna da esquerda) e, a seguir (coluna da direita), o midraxe que lhe foi feito:

Gênesis 2.7-25 Como D'us8 8 A tradição judaica, por receio de quebrar a terceira mitzvah ("mandamento") das "Dez Palavras" – os Dez Mandamentos da tradição cristã – que proíbe tomar o nome divino "em vão", nunca escreve a palavra "Deus" por completo, mas sempre de forma apostrofada: D'us, D'os (em espanhol), G'd (em inglês), seguindo o mesmo procedimento em todas as línguas. criou Adão e Eva no sexto dia
7 Então, formou o SENHOR Deus ao homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente. 8 E plantou o SENHOR Deus um jardim no Éden, na direção do Oriente, e pôs nele o homem que havia formado. 9 Do solo fez o SENHOR Deus brotar toda sorte de árvores agradáveis à vista e boas para alimento; e também a árvore da vida no meio do jardim e a árvore do conhecimento do bem e do mal. 10 E saía um rio do Éden para regar o jardim e dali se dividia, repartindo-se em quatro braços. 11 O primeiro chama-se Pisom; é o que rodeia a terra de Havilá, onde há ouro. 12 O ouro dessa terra é bom; também se encontram lá o bdélio e a pedra de ônix. 13 O segundo rio chama-se Giom; é o que circunda a terra de Cuxe. 14 O nome do terceiro rio é Tigre; é o que corre pelo oriente da Assíria. E o quarto é o Eufrates. 15 Tomou, pois, o SENHOR Deus ao homem e o colocou no jardim do Éden para o cultivar e o guardar. 16 E o SENHOR Deus lhe deu esta ordem: De toda árvore do jardim comerás livremente, 17 mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás. 18 Disse mais o SENHOR Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea. 19 Havendo, pois, o SENHOR Deus formado da terra todos os animais do campo e todas as aves dos céus, trouxe-os ao homem, para ver como este lhes chamaria; e o nome que o homem desse a todos os seres viventes, esse seria o nome deles. 20 Deu nome o homem a todos os animais domésticos, às aves dos céus e a todos os animais selváticos; para o homem, todavia, não se achava uma auxiliadora que lhe fosse idônea. 21 Então, o SENHOR Deus fez cair pesado sono sobre o homem, e este adormeceu; tomou uma das suas costelas e fechou o lugar com carne. 22 E a costela que o SENHOR Deus tomara ao homem, transformou-a numa mulher e lha trouxe. 23 E disse o homem: Esta, afinal, é osso dos meus ossos e carne da minha carne; chamar-se-á varoa, porquanto do varão foi tomada. 24 Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne. 25 Ora, um e outro, o homem e sua mulher, estavam nus e não se envergonhavam.7 7 Todas as citações bíblicas deste artigo são extraídas da tradução de João Ferreira de Almeida (BÍBLIA SAGRADA, 1993). D'us criou cada ser em apenas alguns segundos. Adão foi uma exceção. D'us se ocupou com sua Criação por muitas horas. (Ele fez isso para nos mostrar como Adão era importante.) Durante a primeira hora D'us juntou pó de toda a Terra. Durante a segunda hora D'us misturou o pó com a água e amassou-o até formar uma substância parecida com massa. Durante a terceira hora D'us formou o corpo de Adão, seus braços e pernas. Durante a quarta hora D'us soprou a Neshamá (alma) no corpo de Adão. O corpo de Adão era de terra, mas sua alma era um sopro Divino. É por isso que cada pessoa é capaz de se tornar um grande Tsadic,9 9 A palavra Tsadic em hebraico significa "justo". O tema da tsedeqah (algumas vezes transliterada como tsadqá) é dos mais importantes na teologia e na ética do judaísmo. porque nossas almas são fonte de santidade, do Próprio D'us. Durante a quinta hora, Adão se levantou. Durante a sexta hora, D'us trouxe todos os animais perante Adão. Com a sabedoria que D'us lhe deu, Adão pôde dar a cada animal o nome apropriado pelo qual deveria ser chamado. Durante a sétima hora, D'us falou: "Não é bom que Adão fique só. Vou lhe dar uma esposa para ajudá-lo!". D'us provocou em Adão um sono profundo. De um dos ossos que retirou do corpo de Adão, criou a mulher, Eva. D'us fez Eva de uma parte de Adão para que este gostasse de sua esposa tanto quanto dele mesmo. Durante a sexta hora, D'us deu a Adão uma ordem. Adão e Eva no GanEden (Paraíso) D'us colocou Adão e Eva no GanEden, o jardim mais encantador da Terra. Todas as árvores preenchiam o ar com frutas doces e perfumadas de todas as espécies. Adão e Eva só tinham que estender a mão para pegar uma das deliciosas frutas ou beber água do rio cintilante e límpido que corria através do GanEden. D'us ordenou a Adão para cumprir certas Mitsvot.10 10 "Mandamentos" (plural de mitzvah) em hebraico (ver n. 14 supra). Sempre que ele cumpria estas Mitsvot, as plantas do GanEden cresciam. D'us mandou um anjo para o GanEden. O anjo escreveu um livro para Adão que continha muitos segredos de D'us. Adão estudou este livro. Ambos, Adão e Eva eram pessoas santas e puras, onde o mal e a má inclinação não existiam. Eles estavam sempre pensando e fazendo o bem.11 11 CHABAD. Seleções do Midraxe.

Observe-se que na interpretação midráxica (ou midráshica) há detalhes que não constam do texto bíblico. Um exemplo: na narrativa do Gênesis, simplesmente é dito que "o Senhor Deus formou ao homem do pó da terra" (v. 7); já no midraxe, é dito que nesse trabalho o Criador gastou várias horas, com uma nota explicativa: a demora não se deu por falta de perícia, antes serviu para enfatizar a importância do que estava sendo criado, no caso, o ser humano. Com detalhes desse tipo, o midraxe, de maneira criativa, livre, sugestiva, dá informações, amplia a compreensão do texto, fazendo com que seja mais fácil entender seu sentido.

Esta introdução ao conceito de midraxe é útil para entender o que Machado fez em "Na arca": leitor atento da Bíblia (disto dão testemunho eloquente as inúmeras referências bíblicas em seus textos), ele construiu o seu midraxe, mas não com propósito hermenêutico. Antes, com intenção de apontar para a falibilidade humana.

"Na arca" – o midraxe machadiano

O livro Papéis avulsos, de 1882, traz doze contos de Machado, alguns muito conhecidos: "O alienista", "O espelho", "Teoria do medalhão" e "O segredo do bonzo". Todavia, tal como já anunciado, a atenção do presente artigo se volta para "Na arca", que não logrou alcançar a fama que os mencionados contos da mesma coletânea alcançaram.12 12 As referências ao conto são extraídas do site www.dominiopublico.gov.br. Em "Na arca" encontram-se algumas das principais características da obra machadiana, como a ironia13 13 Para uma introdução ao conceito de ironia e seu uso por Machado, consultar, inter alia, ANDRADE, Machado de Assis e John Milton: diálogos pertinentes. p. 32-34. e o pessimismo diante do ser humano, suas escolhas e atitudes. Fernando Machado Brum, em sua dissertação de mestrado em literatura brasileira defendida na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, traz informação histórica sobre a confecção de "Na arca":

O conto "Na arca" foi publicado pela primeira vez na revista O Cruzeiro em 14-5-1878 sob o pseudônimo de Eleazar, nome interessante para publicar uma história que evoca os tempos antes dos patriarcas (Abraão, Isaac e Jacó). É interessante perceber que, ao colocar esse pseudônimo, Machado evocava, entre outros, o filho de Aarão, e, por conseguinte, sobrinho de Moisés, que após a morte do pai assume o papel de sumo sacerdote de Israel. Entre outros ofícios do sumo sacerdote estava o de preservar as histórias e a tradição do povo, por isso ninguém melhor para conhecer a existência de três capítulos inéditos do Gênesis do que Eleazar.14 14 BRUM, Literatura e religião: Estudo das referências religiosas na obra de Machado de Assis, p. 129.

O subtítulo do conto é sugestivo: "Três capítulos inéditos do Gênesis". Estes são: Capítulo A, Capítulo B e Capítulo C, cada qual por sua vez subdividido em pequenas unidades numeradas em ordem crescente, como os versículos, à semelhança dos capítulos dos livros da Bíblia. A narrativa machadiana apresenta a discussão que teria acontecido entre Sem e Jafé, os dois primeiros filhos de Noé, na arca, antes que esta repousasse, findo o dilúvio. Com o acréscimo de três capítulos, evidentemente muitos episódios serão somados à narrativa do Gênesis.15 15 Este é um detalhe que merece ser observado: as narrativas bíblicas, tal como assinalado por Auerbach, são, via de regra, sucintas. Todavia, a narrativa do dilúvio no Gênesis rompe com esse padrão, visto que ocupa quatro capítulos inteiros, isto é, do 6 ao 9. O acréscimo de mais três capítulos do midraxe machadiano aumenta a narrativa consideravelmente! Ainda que Machado não tenha escrito "Na arca" com intenção de fazer um trabalho hermenêutico-exegético, biblistas terão proveito se em seus esforços interpretativos do texto bíblico considerarem a grande "brincadeira" com o texto bíblico feita por Machado. Nesse sentido, Machado antecipa em mais de cem anos (112, para ser mais preciso) o que o cineasta estadunidense Quentin Tarantino fez, no cinema, com seu Pulp Fiction,16 16 No Brasil o filme recebeu o título de Pulp Fiction – Tempo de violência. de 1994, que assumiu contornos de cult movie quando, em uma cena que se tornou antológica, o pistoleiro de aluguel Jules Winfield (interpretado por Samuel L. Jackson) segue uma espécie de ritual, no qual, antes de executar suas vítimas, recita o que seria o texto de Ezequiel 25.17. Mas a versão do texto no filme de Tarantino é bem maior que no texto bíblico propriamente. Tarantino acrescenta frases ao versículo bíblico, fazendo assim seu próprio midraxe do mesmo. Mais de cem anos antes, Machado já lançara mão desse efeito retórico, e não apenas com algumas frases em um versículo, mas com capítulos inteiros em uma narrativa maior.

A narrativa se situa em torno de uma polêmica surgida entre Sem e Jafé, os dois filhos mais velhos de Noé. O Capítulo A apresenta o início do problema entre os irmãos: a arca ainda flutua, e os dois começam a discutir sobre quem seria dono do quê.17 A discussão se torna cada vez mais acalorada, para espanto de Cam, o irmão mais novo. A parte final da discussão é reproduzida na sequência:

17. — Jafé porém replicou: — "Vai bugiar!".18 18 Uma nota pessoal: o autor lembra-se de sua infância, quando ouviu várias vezes sua avó materna, que nasceu em 1909, utilizar a expressão "vai bugiar", que atualmente se encontra em desuso (na verdade, já há muitos anos). O sentido é de "vá amolar outro", "vá pentear macacos", ou "vá lamber sabão". Com que direito me tiras a margem, que é minha, e me roubas um pedaço de terra? Porventura és melhor do que eu,

18. — "Ou mais belo, ou mais querido de meu pai? Que direito tens de violar assim tão escandalosamente a propriedade alheia?"

19. — "Pois agora te digo que o rio ficará do meu lado, com ambas as margens, e que se te atreveres a entrar na minha terra, matar-te-ei como Caim matou a seu irmão."

20. — Ouvindo isto, Cam atemorizou-se muito, e começou a aquietar os dois irmãos,

21. — Os quais tinham os olhos do tamanho de figos e cor de brasa, e olhavam-se cheios de cólera e desprezo.19 19 ASSIS, cit., v. A, 17-21.

O cenário do conflito está armado. Sem e Jafé, motivados por ganância, querem ser donos de toda a extensão da terra. Há que se observar o v. 19, no qual Jafé não tem receio de ameaçar fazer com Sem o que Caim fez com Abel. A referência é claramente ao primeiro assassinato na narrativa bíblica (Gn 4.1-16), que fora exatamente um fratricídio. O curioso é que, na Bíblia, logo no início da narrativa do dilúvio o narrador insere um comentário explicativo para as razões do que se seguirá, isto é, o dilúvio propriamente: "A terra estava corrompida diante de Deus e cheia de violência" (Gn 6. 11). Antecipando já uma conclusão, já em seu primeiro "capítulo perdido" o midraxe machadiano sugere que o dilúvio não adiantou nada: a violência, que levou o Criador a um ato de destruição quase completa, continuava na arca. Jafé parece não ter nenhum problema em fazer o que Caim fez. O capítulo termina com uma expressão que será repetida ao final dos demais capítulos do midraxe de Machado: "A arca, porém, boiava sobre as águas do abismo".20 20 Idem, v. A, 22.

No Capítulo B, Cam, o caçula de Noé, tenta interferir, contudo sem sucesso. Seus esforços em dissuadir os irmãos mais velhos redundam em fracasso. A discussão continua, cada vez mais acalorada, chegando às vias de fato. Cam tenta se interpor entre os irmãos, mas nada consegue de concreto:

9. — Então Sem avançou para Jafé; mas Cam interpôs-se, pondo uma das mãos no peito de cada um;

10. — Enquanto o lobo e o cordeiro, que durante os dias do dilúvio, tinham vivido na mais doce concórdia, ouvindo o rumor das vozes, vieram espreitar a briga dos dois irmãos, e começaram a vigiar-se um ao outro.

11. — E disse Cam: — "Ora, pois, tenho uma ideia maravilhosa, que há de acomodar tudo;"

12. — "A qual me é inspirada pelo amor, que tenho a meus irmãos. Sacrificarei pois a terra que me couber ao lado de meu pai, e ficarei com o rio e as duas margens, dando-me vós uns vinte côvados cada um."

13. — E Sem e Jafé riram com desprezo e sarcasmo, dizendo: — "Vai plantar tâmaras!".21 21 O texto do Gênesis não se preocupa em situar geograficamente a narrativa do dilúvio. A única referência geográfica explícita aparece em 8.4, onde é dito que a arca pousou sobre "as montanhas do Ararate" (na Turquia atual). Toda a tradição monoteísta abraâmica, isto é, judaica, cristã e muçulmana, tem entendido a narrativa como ocorrida no Crescente Fértil, onde é comum o cultivo de tâmaras. Machado segue essa tradição ao colocar os irmãos brigões dizendo a Cam: "Vai plantar tâmaras". O equivalente no contexto cultural brasileiro seria algo como "vá plantar batatas". Guarda a tua ideia para os dias da velhice". E puxaram as orelhas e o nariz de Cam; e Jafé, metendo dois dedos na boca, imitou o silvo da serpente, em ar de surriada.22 22 ASSIS, cit., v. B, 9-13.

Conquanto Cam tenha uma atitude mais irônica e conciliadora que a dos irmãos, ele não é de todo mais inocente: propõe apartar os manos briguentos, mas ao mesmo tempo parece estar possuído pelo mesmo espírito de ganância quando lhes diz: "Sacrificarei pois a terra que me couber ao lado de meu pai, e ficarei com o rio e as duas margens, dando-me vós uns vinte côvados cada um". Não é de se admirar que sua proposta tenha sido imediatamente rejeitada. Chama a atenção no v. 13 a atitude de Jafé: ao zombar do irmão mais novo, ele imita o silvo da serpente. Parece que, de alguma maneira, a serpente do Éden está presente na arca… Cam corre para chamar o pai e as cunhadas, na tentativa de fazê-los parar, e enquanto ele vai, os dois se engalfinhavam. Os v. 21-22 de Machado afirmam:

21. — Na luta, caíram e rolaram, esmurrando-se um ao outro; o sangue saía dos narizes, dos beiços, das faces; ora vencia Jafé,

22. — Ora vencia Sem; porque a raiva animava-os igualmente, e eles lutavam com as mãos, os pés, os dentes e as unhas; e a arca estremecia como se de novo se houvessem aberto as cataratas do céu.23 23 Idem, v. B, 21-22.

A última frase do v. 22 machadiano – "como se de novo se houvessem aberto as cataratas do céu" – é eco de uma expressão que aparece duas vezes na narrativa bíblica do dilúvio, quando o narrador menciona a abertura "das fontes do grande abismo" (Gn. 7.11), dando início à inundação, e depois, quando são fechadas "as fontes do abismo" (8.2). Essas expressões refletem a cosmologia hebraica antiga: a terra estaria envolta por uma grande camada de águas, que se romperam, provocando o dilúvio. Nessa compreensão cosmológica, a terra era circundada por um grande abismo, que continha as águas primordiais, do tempo mítico da criação (cf. Gn 1.2). Logo, a inundação não se deu por conta apenas de chuvas e tempestades, mas pelo rompimento da grande massa de águas, uma espécie de oceano ao redor do planeta.24 24 Devido aos avanços atuais da tecnologia de computação gráfica, esse aspecto da cosmologia semita antiga foi apresentado visualmente com grande acurácia no filme Noé, de 2014, do diretor estadunidense Darren Aronofsky. Em sua leitura bíblica, Machado percebeu a força desta expressão que aponta para "as cataratas do céu". Ao fazer uso dessa expressão, Machado enfatiza a contundência da violência entre os irmãos, que reproduzem na arca a violência que levou a Criador a quase destruir por completo a obra das suas mãos. Enquanto os dois estão quase se matando na pancadaria, o capítulo termina do mesmo modo que o anterior: "A arca, porém, boiava sobre as águas do abismo".25 25 ASSIS, cit., v. B, 25.

Por fim, o Capítulo C apresenta a conclusão do midraxe de Machado. Os dois irmãos só param de brigar quando o pai chega e lhes ordena que parem de imediato: "Erguei-vos, homens indignos da salvação e merecedores do castigo que feriu os outros homens".26 26 Idem, v. C, 7. Noé os repreende, proíbe-os de continuar a discussão e lamenta:

25. — E alçando os olhos ao céu, porque a portinhola do teto estava levantada, bradou com tristeza:

26. — "Eles ainda não possuem a terra e já estão brigando por causa dos limites. O que será quando vierem a Turquia e a Rússia?"

27. — E nenhum dos filhos de Noé pôde entender esta palavra de seu pai.27 27 Idem, v. C, 25-27.

É necessário recordar que a coletânea Papéis avulsos é de 1882. Muito provavelmente Machado faça com esta palavra enigmática, que os filhos de Noé não puderam entender, referência a um fato de cerca de um quarto de século antes: a Guerra da Crimeia, quando a Rússia queria expandir seus domínios rumo ao sul, ameaçando a integridade da Turquia. Os turcos, auxiliados pelos ingleses e pelos sardenhos, lograram êxito em repelir o ataque russo.28 28 MACHADO DE ASSIS.NET. Citações e alusões na ficção de Machado de Assis. E o capítulo termina quase como os dois anteriores: "A arca, porém, continuava a boiar sobre as águas do abismo".29 29 ASSIS, cit., v. C, 28.

A antropologia teológica do midraxe machadiano

Ao fazer o seu midraxe, Machado concomitantemente produz uma teologia, isto é, uma reflexão sobre a fé cristã, a partir da Bíblia. Independentemente de suas convicções religiosas pessoais, o texto de Machado veicula um conteúdo teológico. Para ser mais preciso, em "Na arca" encontra-se uma antropologia teológica em forma literária, isto é, uma reflexão sobre o mistério da humanidade.

Antes de prosseguir, é necessário comentar sobre as relações entre teologia e literatura. Uma possibilidade teórico-metodológica de estabelecer tal diálogo é a que considera o texto literário como portador de uma reflexão teológica. A esse respeito, José Carlos Barcellos, um dos pioneiros na pesquisa acadêmica entre literatura e teologia no Brasil, afirmou que nesse modelo de diálogo "já se faz teologia na própria literatura e precisamente a partir da estrutura linguística que garante a esta última a sua literariedade".30 30 BARCELLOS, Literatura e espiritualidade: uma leitura de Jeunes Annés de Julien Green., p. 69. Esta proposta de Barcellos, a saber, de fazer teologia na própria literatura, constitui-se em abordagem ousada, "pois permitirá encontrar conteúdos teológicos mesmo em obras de autores que se apresentem como sem fé ou sem crença. O/a autor/a pode construir um 'eu lírico' que pode apresentar questões de ordem teológica".31 31 CALDAS, A festa da salvação: um diálogo entre teologia e literatura a partir do conto "A festa de Babette", p. 161.

Seguindo essa proposta epistemológica, conclui-se que Machado, com indisfarçável dose de bom humor, ironiza toda a situação do dilúvio. No versículo 4 de seu Capítulo A, comentou sobre o desejo de Noé de que, passado o dilúvio, sua família viveria "no seio da paz e da concórdia".32 32 ASSIS, cit., v. A, 4. O dilúvio nem havia acabado, e a paz e a concórdia não aconteceram… Muito pelo contrário, a sequência da narrativa mostrará como os filhos de Noé quase se matam, movidos por vil ganância.

Há que se observar também a ironia de que, no relato bíblico, o amaldiçoado é exatamente o filho caçula, Cam. A tradição atribui a Jafé a paternidade dos povos caucasianos indo-europeus, a Sem, a dos semitas médio-orientais, e a Cam, a dos africanos. Essa tradição confere uma marca negativa aos povos africanos negros, que, nessa perspectiva, teriam tido um antepassado maldito. Machado quebra com esse modelo, ao apresentar Cam como aquele que tentou conciliar os irmãos. Estes sim foram amaldiçoados pelo pai. Em seu midraxe, Machado quebra com qualquer paradigma de determinismo étnico ou qualquer suposta inferioridade atribuída a quem tem pele escura. De igual maneira, desconstrói discursos de pretensa superioridade étnica ou racial de povos de pele clara.

É possível concluir que, em seu conto-midraxe, Machado apresenta seu pessimismo em relação ao gênero humano. O dilúvio não valeu para nada. Os homens continuaram tão maus, egoístas e gananciosos como sempre. E enquanto toda aquela confusão acontece na arca, o último versículo do último capítulo de seu midraxe quase repete os finais dos dois capítulos precedentes: "A arca, porém, continuava a boiar sobre as águas do abismo".33 33 ASSIS, cit., v. C, 28. O verbo "continuava" é acrescentado. Enquanto os homens brigam pelo que ainda sequer têm, nem de fato nem de direito, a arca, que os conduz, "boia sobre as águas do abismo". Abismo sugere separação, morte, destruição. Sem e Jafé na arca estão separados um do outro, do irmão mais novo, de suas esposas, e de Deus. Sem e Jafé são figuras da raça humana: não adianta o castigo. Não há esperança para a criatura humana.

O gênio de Machado se expressa na maneira que escolheu para construir sua crítica: a ironia. Ao invés de uma exposição direta, Machado, com muito bom humor e sutileza, apresenta seus acréscimos ao texto bíblico, mostrando sua desesperança em relação ao ser humano.

Certamente outras implicações teológicas e religiosas podem ser extraídas de "Na arca". O presente artigo visa a ser tão somente uma introdução a essa possibilidade de leitura e análise dos textos machadianos.

Referências

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  • ASSIS, Machado de. Na arca. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000234.pdf Acesso em: 14 abr. 2017.
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  • AUERBACH, Erich. Mimesis: a representação da realidade na cultura ocidental. 6. ed. São Paulo: Perspectiva, 2015.
  • AZEVEDO, Leandro Villela de. Midrash Rabbah: a Torá oral e a discussão rabínica medieval. Caderno de Pesquisa do CDHIS, n. 36/37, ano 20, p. 165-174, 2007.
  • BARCELLOS, José Carlos. Literatura e espiritualidade: uma leitura de Jeunes Annés de Julien Green. Bauru: Edusc, 2001.
  • BÍBLIA SAGRADA. Tradução de João Ferreira de Almeida. Versão revista e atualizada no Brasil. 2. ed. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993. Versão on-line. Disponível em: http://www.sbb.org.br/conteudo-interativo/pesquisa-da-biblia/ Acesso em: 13 abr. 2017.
    » http://www.sbb.org.br/conteudo-interativo/pesquisa-da-biblia/
  • BRUM, Fernando Machado. Literatura e religião: estudo das referências religiosas na obra de Machado de Assis. 2009. 180 f. Dissertação (Mestrado em Literatura Brasileira). Instituto de Letras, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2009.
  • BRUNS, Gerald L. Midraxe e alegoria: os inícios da interpretação escritural. In: ALTER, Robert; KERMODE, Frank (orgs.). Guia literário da Bíblia São Paulo: Edunesp, 1997.
  • CALDAS, Carlos. A festa da salvação: um diálogo entre teologia e literatura a partir do conto "A festa de Babette". São Paulo: Garimpo Editorial, 2016.
  • CHABAD. Seleções do Midraxe. Disponível em: http://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/1113301/jewish/-%20Como-Dus-Criou-Ado-e-Eva-no-Sexto-Dia.htm Acesso em: 12 abr. 2017.
    » http://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/1113301/jewish/-%20Como-Dus-Criou-Ado-e-Eva-no-Sexto-Dia.htm
  • FAORO, Raymundo. Machado de Assis: a pirâmide e o trapézio. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1974.
  • MACHADO DE ASSIS.NET. Citações e alusões na ficção de Machado de Assis Disponível em: http://machadodeassis.net/dtb_resposta_contos.asp?Selromance=&Selconto=235&Selcampo=14&Selcondicao=Guerra+da+Crim%E9ia&BtnEnvia.x=26&BtnEnvia.y=5&BtnEnvia=Pesquisar Acesso: 18 abr. 2017.
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  • 1
    FAORO, Machado de Assis: a pirâmide e o trapézio, p. 405. A citação feita por Faoro é de Augusto Meyer, Machado de Assis. Rio de Janeiro: Livraria São José, 1950, p. 202.
  • 2
    AZEVEDO, Midrash Rabbah: a Torá oral e a discussão rabínica medieval, p. 165.
  • 3
    A palavra midraxim (ou midrashim) é a transliteração da forma plural do substantivo masculino midraxe em hebraico.
  • 4
    AZEVEDO, cit.
  • 5
    Para uma comparação crítica entre as narrativas bíblica e homérica, ver o ensaio "A cicatriz de Ulisses" de Erich Auerbach em seu livro Mimesis.
  • 6
    BRUNS, Midraxe e alegoria: os inícios da interpretação escritural, p. 670.
  • 7
    Todas as citações bíblicas deste artigo são extraídas da tradução de João Ferreira de Almeida (BÍBLIA SAGRADA, 1993).
  • 8
    A tradição judaica, por receio de quebrar a terceira mitzvah ("mandamento") das "Dez Palavras" – os Dez Mandamentos da tradição cristã – que proíbe tomar o nome divino "em vão", nunca escreve a palavra "Deus" por completo, mas sempre de forma apostrofada: D'us, D'os (em espanhol), G'd (em inglês), seguindo o mesmo procedimento em todas as línguas.
  • 9
    A palavra Tsadic em hebraico significa "justo". O tema da tsedeqah (algumas vezes transliterada como tsadqá) é dos mais importantes na teologia e na ética do judaísmo.
  • 10
    "Mandamentos" (plural de mitzvah) em hebraico (ver n. 14 supra).
  • 11
    CHABAD. Seleções do Midraxe.
  • 12
    As referências ao conto são extraídas do site www.dominiopublico.gov.br.
  • 13
    Para uma introdução ao conceito de ironia e seu uso por Machado, consultar, inter alia, ANDRADE, Machado de Assis e John Milton: diálogos pertinentes. p. 32-34.
  • 14
    BRUM, Literatura e religião: Estudo das referências religiosas na obra de Machado de Assis, p. 129.
  • 15
    Este é um detalhe que merece ser observado: as narrativas bíblicas, tal como assinalado por Auerbach, são, via de regra, sucintas. Todavia, a narrativa do dilúvio no Gênesis rompe com esse padrão, visto que ocupa quatro capítulos inteiros, isto é, do 6 ao 9. O acréscimo de mais três capítulos do midraxe machadiano aumenta a narrativa consideravelmente! Ainda que Machado não tenha escrito "Na arca" com intenção de fazer um trabalho hermenêutico-exegético, biblistas terão proveito se em seus esforços interpretativos do texto bíblico considerarem a grande "brincadeira" com o texto bíblico feita por Machado.
  • 16
    No Brasil o filme recebeu o título de Pulp Fiction – Tempo de violência.
  • 17
    ASSIS, "Na arca", v. A, 6-21.
  • 18
    Uma nota pessoal: o autor lembra-se de sua infância, quando ouviu várias vezes sua avó materna, que nasceu em 1909, utilizar a expressão "vai bugiar", que atualmente se encontra em desuso (na verdade, já há muitos anos). O sentido é de "vá amolar outro", "vá pentear macacos", ou "vá lamber sabão".
  • 19
    ASSIS, cit., v. A, 17-21.
  • 20
    Idem, v. A, 22.
  • 21
    O texto do Gênesis não se preocupa em situar geograficamente a narrativa do dilúvio. A única referência geográfica explícita aparece em 8.4, onde é dito que a arca pousou sobre "as montanhas do Ararate" (na Turquia atual). Toda a tradição monoteísta abraâmica, isto é, judaica, cristã e muçulmana, tem entendido a narrativa como ocorrida no Crescente Fértil, onde é comum o cultivo de tâmaras. Machado segue essa tradição ao colocar os irmãos brigões dizendo a Cam: "Vai plantar tâmaras". O equivalente no contexto cultural brasileiro seria algo como "vá plantar batatas".
  • 22
    ASSIS, cit., v. B, 9-13.
  • 23
    Idem, v. B, 21-22.
  • 24
    Devido aos avanços atuais da tecnologia de computação gráfica, esse aspecto da cosmologia semita antiga foi apresentado visualmente com grande acurácia no filme Noé, de 2014, do diretor estadunidense Darren Aronofsky.
  • 25
    ASSIS, cit., v. B, 25.
  • 26
    Idem, v. C, 7.
  • 27
    Idem, v. C, 25-27.
  • 28
    MACHADO DE ASSIS.NET. Citações e alusões na ficção de Machado de Assis.
  • 29
    ASSIS, cit., v. C, 28.
  • 30
    BARCELLOS, Literatura e espiritualidade: uma leitura de Jeunes Annés de Julien Green., p. 69.
  • 31
    CALDAS, A festa da salvação: um diálogo entre teologia e literatura a partir do conto "A festa de Babette", p. 161.
  • 32
    ASSIS, cit., v. A, 4.
  • 33
    ASSIS, cit., v. C, 28.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Dez 2017

Histórico

  • Recebido
    27 Abr 2017
  • Aceito
    09 Jul 2017
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