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CICLOTURISMO: ORIGEM E CONCEITO DA PALAVRA A PARTIR DE KOSELLECK

CYCLOTOURISM: ORIGIN AND CONCEPT OF THE WORD BASED ON KOSELLECK

RESUMO:

Este artigo investigou o emprego da palavra cicloturismo em pesquisas científicas. Notou-se uma variedade de conceitos para a palavra, com destaque para duas situações: (i) bicicleta como principal meio de transporte nos deslocamentos durante toda a viagem e (ii) bicicleta como uma das alternativas de meio de transporte nos deslocamentos turísticos em áreas urbanas. Esta ambiguidade trouxe o questionamento de qual atividade se apresenta como mais adequada para o uso da palavra cicloturismo. A investigação da melhor adequação de uso da nomenclatura de acordo com a atividade utilizou como referência o trabalho de Koselleck, intitulado “Uma história dos conceitos: problemas teóricos e práticos”. Assim, a partir do estudo etimológico da palavra bicicleta, averiguou-se a relação entre o prefixo ciclo e bicicleta. Somado a isso, discutiram-se os conceitos de cicloturismo abordados por autores brasileiros e estrangeiros. O levantamento mostrou que os brasileiros utilizam apenas o termo cicloturismo, independente da atividade, e que os estrangeiros trabalham os termos bicycletourism e cyclotourism, mas sem necessariamente estarem se referindo a atividades turísticas diferentes. Por fim, compreendeu-se que a expressão Turismo de Bicicleta deve ser utilizada para designar um segmento turístico e que este deva ser composto por dois subsegmentos: cicloturismo urbano (atividade que faz uso da bicicleta em deslocamentos turísticos curtos) e cicloviagem (atividade turística em que a bicicleta atua como principal meio de transporte para o deslocamento durante toda a viagem).

PALAVRAS-CHAVE:
Turismo de bicicleta; Cicloturismo urbano; Cicloviagem

ABSTRACT:

This article investigates the use of the word cycling tourism in scientific research. A variety of concepts for the word was noted, with emphasis on two situations: (i) use of a bicycle as the main mode of transport throughout the trip and (ii) use of a bicycle as one of the alternative means of transport for tourist trips in urban areas. This ambiguity led to the question of which activity is most appropriate for the use of the word cycling tourism. The investigation of the best use of the nomenclature according to the activity took, as its reference, Koselleck’s work entitled “A History of concepts: theoretical and practical Problems”. Thus, from the etymological study of the word bicycle, the relationship between the prefix cycle and bicycle was verified. In addition, the concepts of cycling tourism used by Brazilian and foreign authors were discussed. The survey showed that Brazilians use only the term cycling tourism, regardless of the activity, and that foreigners use the terms bicycle tourism and cycling tourism, but without necessarily referring to different tourist activities. Finally, it was understood that the expression Bicycle Tourism should be used to designate a tourism segment, and that it should be composed of two sub-segments: urban cycling tourism (the use of a bicycle for short tourist trips) and cycle trips (the use of a bicycle as the main means of transport throughout the trip).

KEYWORDS:
Bicycle tourism; Urban cycling tourism; Cycling trip

RESUMEN:

artículo investigó el uso de la palabra cicloturismo en la investigación científica. Se observó una variedad de conceptos para la palabra, con énfasis en dos situaciones: (i) la bicicleta como el principal medio de transporte por lo largo del viaje y (ii) la bicicleta como uno de los medios de transporte alternativos para desplazamientos turísticos en zonas urbanas. Esta ambigüedad condujo a la pregunta qué actividad es más apropiada para el uso de la palabra cicloturismo. Para la investigación del mejor uso de la nomenclatura según la actividad, utilizó la referencia del trabajo de Koselleck titulado: “Una historia de conceptos: problemas teóricos y prácticos”. Así, a partir del estudio etimológico de la palabra bicicleta, se verificó la relación entre el prefijo del ciclo y de la bicicleta. Además, se discutieron los conceptos del cicloturismo abordados por autores brasileños y extranjeros. La encuesta mostró que los brasileños usan solo el término cicloturismo, independiente de la actividad, y que los extranjeros usan los términos bicycle tourism y cycling tourism, pero sin referirse necesariamente a diferentes actividades turísticas. Por fin, se entendió que la expresión Turismo en Bicicleta debería usarse para designar un segmento turístico y que debería consistir en dos segmentos: cicloturismo urbano (actividad que hace uso de la bicicleta en paseos turísticos cortos) y cicloviaje (actividad turística donde la bicicleta es el principal medio de transporte para todo el viaje).

PALABRAS CLAVE:
Turismo en bicicleta; Cicloturismo urbano; Cicloviaje

INTRODUÇÃO

Alguns estudos e mercados da atividade turística se apresentam segregados. Do ponto de vista do marketing, o mercado se caracteriza como uma separação que busca identificar grupos com comportamentos semelhantes, visando facilitar a dinâmica de comercialização dos pacotes turísticos pelas agências e operadoras de viagens (Moraes, 1999Moraes, C. C. A. (1999). Turismo - segmentação de mercado: um estudo introdutório. In: M. G. R., Ansarah (Org.). Turismo: segmentação de mercado (pp. 13-33). São Paulo: Futura. ; Oliveira, 2015Oliveira, R. J. (2015). Marketing nos destinos: a segmentação da demanda turística. In: A. P., Netto & M. G. E., Ansarah. Produtos turísticos e novos segmentos de mercado: Planejamento, criação e comercialização (pp. 2-34). Baurueri: Manole. ). A segmentação turística pode ser explicada como uma demanda potencial dividida em grupos com interesses em comum e que, para o marketing, esse grupo com características homogêneas se torna o segmento-alvo (Oliveira, 2015Oliveira, R. J. (2015). Marketing nos destinos: a segmentação da demanda turística. In: A. P., Netto & M. G. E., Ansarah. Produtos turísticos e novos segmentos de mercado: Planejamento, criação e comercialização (pp. 2-34). Baurueri: Manole. ).

Assim como o marketing, os estudos turísticos utilizam segmentos que podem ser determinados de acordo com as motivações da viagem, com uma mudança no comportamento do consumidor, ou a partir das bases de segmento, como apresentam Lohmann e Netto (2012Lohmann, G. & Netto, A. P. (2012). Segmentação do turismo. In: G., Lohmann & A. P., Netto. Teoria do turismo: Conceitos, Modelos e Sistemas (2a ed., pp. 170-181). São Paulo: Aleph. ). Os autores listam uma série de segmentos turísticos a partir de bases de segmento. Uma das bases citadas pelos autores diz respeito aos meios de transportes, dividindo-os em: turismo de caminhada, turismo aéreo, turismo rodoviário, turismo ferroviário, turismo marítimo, turismo fluvial/lacustre e cicloturismo.

O Decreto Nº 7.381, de âmbito nacional referente à Política Nacional de Turismo, categoriza o cicloturismo como uma ramificação do turismo de aventura junto a atividades como arvorismo, boia cross, balonismo, bungee jump, cachoeirismo, caminhada de longo curso, canoagem, canionismo, cavalgada, escalada, espeleoturismo, flutuação, mergulho, turismo fora de estrada, rafting, rapel, tirolesa, voo livre, wind surf e kite surf (Brasil, 2010Brasil. (2010 ). Decreto-Lei n. 7.381, de 02 de dezembro de 2010. Recuperado de http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Decreto/D7381.htm.
http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/_A...
).

Da mesma maneira, para a Associação Brasileira de Normas Técnicas (2017Associação Brasileira de Normas Técnicas. (2017). NBR 15509-1: Cicloturismo - Parte 1: Requisitos para produto. [s.i]: ABNT. Recuperado de https://bibliotecas.sebrae.com.br/chronus/ARQUIVOS_ CHRONUS/bds/bds.nsf/2F70BE3A59690911832576BA004E4078/$File/NT000439D2.pdf.
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), o cicloturismo seria uma subsegmentação do turismo de aventura, sendo caracterizado pela “movimentação turística decorrente da prática de atividades de caráter recreativo e não competitivo” (Brasil, 2010Brasil. (2010 ). Decreto-Lei n. 7.381, de 02 de dezembro de 2010. Recuperado de http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Decreto/D7381.htm.
http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/_A...
).

Na União Européia (UE), o cicloturismo se apresenta como o resultado das políticas de saúde integradas com políticas de mobilidade por bicicleta em função dos bilhões de euros que podem ser economizados, € 513,19 e € 191,27 bilhões respectivamente (Russar, 2017Russar, J. A. M. (2017). Bicicleta como política de saúde pública: pedalando pelo bem estar das pessoas, comunidades e planeta. Recuperado de http://bicicletanosplanos.org/wp-content/ uploads/2018/02/Infogra%CC%81fico-Bicicleta-e-sau%CC%81de-Bicicleta-nos-Planos.pdf.
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). Por isso, a política da bicicleta na UE tem investido em infraestrutura, tais como ciclovias, ciclofaixas e vias compartilhadas contínuas por meio do acalmamento e pacificação das ruas, sinalização, iluminação, pavimentação e segurança pública. Tudo isto somado à integração modal, existência de sistema de bicicletas públicas compartilhadas e ações complementares para desestímulo ao carro (ITDP, 2017Instituto de Políticas de Transporte & Desenvolvimento Brasil. (2017). Guia de planejamento cicloinclusivo. Rio de Janeiro: ITDP. Recuperado de http://itdpbrasil.org.br/wp-content/uploads/2017/09/guia-cicloinclusivo-ITDP-Brasil-setembro-2017.pdf.
http://itdpbrasil.org.br/wp-content/uplo...
).

De acordo com Telles (2018TELLES, R. (2018). Cicloturismo: lazer e mobilidade sustentável. Recuperado de http://bicicletanosplanos. org/wp-content/uploads/2018/06/Infogra%CC%81fico-Cicloturismo-Bicicleta-nos-Planos.pdf.
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), quando há existência de mobilidade urbana que integre a bicicleta, automaticamente, o cicloturismo é promovido. Tal afirmativa pode ser verificada ao se notar os números da EuroVelo, projeto que tem como objetivo conectar os países europeus por meio de ciclorrotas turísticas.

Até 2016 a Europa apresentava 2,3 bilhões de cicloviagens feitas por bicicletas, o impacto total do cicloturismo na Europa foi, em média, de 44 bilhões de euros. Estima-se que até 2020 serão mais de 60 milhões de cicloviagens, gerando mais de 7 bilhões de euros por ano (Deslandes, 2019Deslandes, M. European Cyclist’s Federation - ECF. In: F. P. M., EDRA (Org.). Cicloturismo: reflexões e experiências contemporâneas (Cap. 2, pp. 25-29). Niterói: Faculdade de Turismo e Hotelaria, 2019. Recuperado de http://www.each.usp.br/turismo/livros/cicloturismo_reflexoes_e_experiencias_contemporaneas.pdf.
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).

No Brasil, a política da mobilidade por bicicleta ainda aparece de forma bastante tímida. Até 2011, a soma de investimento do Ministério das Cidades na construção de ciclovias era de R$ 20,2 milhões, em 63 municípios brasileiros (Associação Brasileira do Setor de Bicicletas, 2018Associação Brasileira do Setor de Bicicletas. (2018, novembro). Aliança Bike. Encontro Para Desenvolvimento do Cicloturismo, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 2. ), o que representa apenas 1,13% do total. Até 2015, o país apresentava 2.500 km de ciclovias e ciclofaixas e 75 milhões de bicicletas (Guth e Andrade, 2018Guth, D. & Andrade, V. (Orgs.). (2018). Economia da bicicleta no Brasil. Rio de Janeiro: UFRJ. ).

Por outro lado, o faturamento das empresas de turismo de aventura e ecoturismo passou de R$ 491,5 milhões em 2008 para R$ 515,9 milhões em 2009 (Associação Brasileira do Setor de Bicicletas, 2018). Mas, de acordo com Guth e Andrade (2018Guth, D. & Andrade, V. (Orgs.). (2018). Economia da bicicleta no Brasil. Rio de Janeiro: UFRJ. ), o fato de o cicloturismo se tratar de atividade agrupada como subsegmento do Turismo de Aventura e Ecoturismo no país se apresenta com certo grau de informalidade e acaba por dificultar a comercialização de serviços e produtos, inviabilizando sua quantificação.

De modo geral, observa-se que a palavra cicloturismo vem sendo utilizada tanto para se referir ao turismo de aventura e/ou ecoturismo como à viagem em si, com o uso da bicicleta como transporte. Sobre isto, inclusive, Telles (2018TELLES, R. (2018). Cicloturismo: lazer e mobilidade sustentável. Recuperado de http://bicicletanosplanos. org/wp-content/uploads/2018/06/Infogra%CC%81fico-Cicloturismo-Bicicleta-nos-Planos.pdf.
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) diferencia nomeando-os como cicloturismo convencional e cicloturismo urbano:

Normalmente o cicloturismo é relacionado a viagens de um ou mais dias, passando por ambientes rurais. Neste caso, o ciclista carrega tudo o que vai precisar nos alforjes (bolsas laterais) e dorme uma noite em cada local diferente. Mas o cicloturismo urbano vem crescendo muito ultimamente. Muita gente percebeu que a bicicleta é o melhor veículo para se conhecer uma cidade. Pedalando se vai numa velocidade ótima para se deslocar e observar o entorno ao mesmo tempo. (Telles, 2018TELLES, R. (2018). Cicloturismo: lazer e mobilidade sustentável. Recuperado de http://bicicletanosplanos. org/wp-content/uploads/2018/06/Infogra%CC%81fico-Cicloturismo-Bicicleta-nos-Planos.pdf.
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, pp. 1).

Assim, entende-se que a bicicleta pode ser utilizada em experiências turísticas diferentes. Logo, pergunta-se: por que o cicloturismo deve ser um subsegmento e não um segmento?

Ademais, ao analisar os tipos de segmentos com base nos meios de transporte, abordados por Lohmann e Netto (2012Lohmann, G. & Netto, A. P. (2012). Segmentação do turismo. In: G., Lohmann & A. P., Netto. Teoria do turismo: Conceitos, Modelos e Sistemas (2a ed., pp. 170-181). São Paulo: Aleph. ), com exceção do cicloturismo, todos começam com a palavra turismo. Então, por que não se utilizar o termo turismo de bicicleta, em vez de cicloturismo? Esta denominação, cicloturismo, para designar a atividade está adequada? A que tipo de atividade o termo se refere? Além de cicloturismo, há ainda a utilização de palavras como ciclomobilidade, ciclovia e outras que utilizam o prefixo ciclo para remeter à bicicleta. Neste caso, o prefixo ciclo estaria mais adequado que a utilização do prefixo biciclo para remeter à bicicleta?

Para responder essas perguntas, primeiramente, se fez uma abordagem sucinta do estudo dos conceitos de Koselleck. Em um segundo momento, analisou-se a origem da palavra bicicleta na tentativa de compreender a relação com a palavra cicloturismo. Por fim, buscou-se por definições de autores que estudam o cicloturismo para verificar a ocorrência do uso da palavra cicloturismo e se há algum autor que utilize outro termo para designar a mesma atividade.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Antes de adentrar nos estudos para compreender a formação da palavra cicloturismo e sua conceituação, será preciso abordar a história dos conceitos de Reinhart Koselleck, historiador alemão que faz uma reflexão sobre a origem das palavras e seus conceitos. A partir do estudo desse pesquisador, será possível traçar os principais conceitos referentes à atividade turística que utiliza a bicicleta como meio de transporte.

Kosellek (1992Koselleck, R. (1992). Uma história dos conceitos: problemas teóricos e práticos. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, 5 (10), 134-146. ) lista seis pontos referentes à história dos conceitos. Entretanto, para este trabalho, ater-se-á aos pontos um e três, destacados pelo autor por serem os pontos mais importantes para a definição de um conceito. No primeiro ponto, o autor explica o que pode vir a ser um conceito a respeito do qual seria possível conceder uma história, fazendo a distinção entre conceito e palavra. Em relação a isso, ele afirma que “cada palavra remete a um sentido, que por sua vez indica um conteúdo” (1992, p. 135). Entretanto, o autor deixa claro que nem todas as palavras existentes no léxico “pode se transformar em um conceito e pode ter uma história”, exemplificando com as palavras “oh! ah!”(1992, p. 134).

Algumas palavras sugerem associações, que “pressupõe um mínimo de sentido comum [...] uma pré-aceitação de que se trata de palavras importantes e significativas”, por exemplo, Estado, Revolução e História. As três palavras remetem a seus significados, assim, pode-se citar Estado, que remete à ideia de país e/ou nação. Ainda é possível, a partir da Begriffsgeschichte (história dos conceitos), determinar a partir de quando um conceito “tornou-se fruto de uma teorização” e quanto tempo levou para isso acontecer (KOSELLECK, 1992Koselleck, R. (1992). Uma história dos conceitos: problemas teóricos e práticos. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, 5 (10), 134-146. , p. 135). Assim, a história dos conceitos também fornece a origem da palavra.

Koselleck (1992Koselleck, R. (1992). Uma história dos conceitos: problemas teóricos e práticos. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, 5 (10), 134-146. ) argumenta que, a partir da história conceitual (begriffsgeschichte), é possível determinar quando um conceito passou a ser teorizado e em quanto tempo isso ocorreu. Ao pensar na palavra bicicleta, por exemplo, ela remete a um objeto, utilizado como meio de transporte, recreação ou lazer, que possui duas rodas sob um quadro e que se move por meio da força humana sobre os pedais. Como se apresenta mais adiante, a palavra cicloturismo possui formulação recente, uma vez que esta palavra ainda não se encontra nos dicionários físicos.

No terceiro ponto, relacionado aos critérios seletivos quando pensado na escrita de uma história, Koselleck (1992Koselleck, R. (1992). Uma história dos conceitos: problemas teóricos e práticos. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, 5 (10), 134-146. ) utiliza duas perspectivas para a análise de conceitos. A primeira seria a partir do texto/contexto (parágrafo) em que pode ser feita uma análise do conteúdo a partir da palavra. Assim, o autor diz que “todo conceito se articula a um certo contexto sobre o qual também pode atuar, tornando-o compreensível”. A segunda perspectiva acontece a partir da comparação de textos, que pode ser parágrafos ou apenas trechos, sendo possível conceituar uma palavra. A análise de conceituação a partir de comparação de textos requer estudo mais detalhado.

Fazendo uso da comparação conceitual que Koselleck propõe, poderiam ser analisados trechos ou parágrafos para verificar os conceitos de cicloturismo e bicicleta, ter-se-ia, por exemplo, no seguinte trecho de Santos, Campos e Alves (2016Santos, C. A. J., Campos, A. C. & Alves, L. A. C. (2016). Cicloturismo: mobilidade urbana e valorização do turismo da cidade de Aracajú - Sergipe. Revista de Direito da Cidade, 8, 1800-1824. doi: 10.12957/rdc.2016.22642.
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, p. 1807):

Neste caminho, as discussões em torno do uso da bicicleta trazem indagações importantes sobre o seu papel e lugar no sistema viário, nos sistemas de transportes e em que medida contribui para modificar a imagem da cidade, bem como, na melhoria da qualidade de vida da população. Para responder estas perguntas e propor o cicloturismo como alternativa viável para o desenvolvimento da atividade turística em Aracaju é que apresentamos a seguir uma análise dos sistemas de bicicletas públicas em algumas cidades europeias e latino-americanas. (Santos et al., 2016Santos, C. A. J., Campos, A. C. & Alves, L. A. C. (2016). Cicloturismo: mobilidade urbana e valorização do turismo da cidade de Aracajú - Sergipe. Revista de Direito da Cidade, 8, 1800-1824. doi: 10.12957/rdc.2016.22642.
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, pp. 1807).

A análise da citação anterior possibilita conceituar duas palavras, bicicleta e cicloturismo. Primeiramente, a aparição da palavra bicicleta na primeira linha do parágrafo traz como conteúdo a bicicleta como meio de transporte e parte integrante do sistema viário. Da mesma forma, acontece com a palavra cicloturismo, sendo conceituado como uma atividade turística que faz uso da bicicleta como meio de transporte. De acordo com Koselleck (2006Koselleck, R. (2006). Futuro passado: contribuições à semântica dos tempos históricos (W. P. Maas & C. A. Pereira, Trad.). Rio de Janeiro: Puc Rio. , p. 109), o que pode determinar o sentido de uma palavra é seu uso, porém o conceito “deve-se manter polissêmico”. Sendo assim, o conceito deve apresentar uma multiplicidade de sentidos. Portanto, pode-se analisar a palavra cicloturismo, e o conceito agregado a ela por diferentes autores, utilizando o método de comparação conceitual. A palavra cicloturismo, como será apresentada mais à frente, é trabalhada com diferentes sentidos.

A combinação do termo ciclo com a palavra turismo resulta na palavra cicloturismo. Eventos realizados no Brasil utilizaram a nomenclatura cicloturismo fazendo referência às atividades turísticas que envolvem a bicicleta como meio de transporte, sem que houvesse distinção entre as diferentes atividades existentes. Este tipo de uso indiscriminado pode causar alguns problemas de entendimento no conteúdo tratado (Quadro 1).

Quadro 1
Título de eventos/seminários

Nos exemplos apresentados no Quadro 1, a palavra cicloturismo é utilizada, apesar dos diferentes focos atribuídos a ela. Este pode ser considerado um equívoco, uma vez que cicloturismo toma diferentes significados, dificultando a compreensão do destinatário da mensagem. Nos três casos não é possível, apenas pelo título do evento/ seminário, identificar o tipo de atividade cicloturística que está sendo trabalhada.

Torna-se necessário compreender como a palavra cicloturismo é utilizada pelos pesquisadores brasileiros do tema relacionado. Ao pesquisar qual ou quais termos foram utilizados para se referir à utilização da bicicleta na atividade turística, verificou-se que a palavra cicloturismo, em alguns momentos, aparece relacionada a outros termos, como ciclovias e ciclomobilidade. Alguns autores brasileiros fazem a utilização do termo:

  • Netto e Ansarah (2009Netto, A. & Ansarah, M. G. R. (2009). Segmentação em turismo: panorama atual. In: A. P., Netto & M. G. R., Ansarah (Eds.). Segmentação do mercado turístico: estudos, produtos e perspectivas (pp. 19-43). Barueri: Manole. ) apresentam uma lista de segmentos turísticos, dentre eles o cicloturismo;

  • Serrano, Cesar e Prado (2015Serrano, C. ; Cesar, L. F. & Prado, M. C. (Eds.). (2015). Cicloturismo: mobilidade, estilo de vida e experiência. In: A. P., Netto & M. G. R., Ansarah (Eds.). Produtos turísticos e novos segmentos de mercado: Planejamento, criação e comercialização (pp. 339-350). Barueri: Manole . ) discorrem um capítulo sobre cicloturismo;

  • Santos, Campos e Alves (2016Santos, C. A. J., Campos, A. C. & Alves, L. A. C. (2016). Cicloturismo: mobilidade urbana e valorização do turismo da cidade de Aracajú - Sergipe. Revista de Direito da Cidade, 8, 1800-1824. doi: 10.12957/rdc.2016.22642.
    doi: 10.12957/rdc.2016.22642...
    ) utilizam o cicloturismo como objeto de estudos;

  • Carvalho (2017Carvalho, C. Q. R. (2017). Planeamento da Rota Cicloturística EuroVelo 3 - Rota dos Peregrinos em Portugal. Construção de um modelo SIG baseado na optimização de percursos e no apoio à decisão (Dissertação de mestrado). Instituto Superior de Agronomia, Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal. Recuperado de https://www.repository.utl.pt/handle/10400.5/14830.
    https://www.repository.utl.pt/handle/104...
    ) escreveu dissertação de mestrado que aborda o cicloturismo;

  • Teixeira e Edra (2017Teixeira, C. A. & Edra, F. P. M. (2017). Análise quantitativa de artigos publicados sobre bicicleta. In: F. P. M., Edra, J., Castro & L. E. C., Saldanha (Orgs.) Cicloturismo urbano em foco (pp. 50-62). Niterói: FTH/ UFF. Recuperado de http://planett.coppe.ufrj.br/images/documentos/publicacoes/2017.09---I-Encontro-para-o-Desenvolvimento-do-Cicloturismo.pdf.
    http://planett.coppe.ufrj.br/images/docu...
    , 2018Teixeira, C. A. & Edra, F. P. M. (2018). Bicicleta no planejamento urbano e nas estratégias: um aproveitamento para o turismo. Revista Turismo e Desenvolvimento, Aveiro, 1 (30), 37-49. Recuperado de http://revistas.ua.pt/index.php/rtd/article/view/11442. ) utilizam os termos cicloturismo, cicloturistas e ciclovias.

Em relação ao uso do termo CycleTourism, Deus (2019Deus, F. M. L. de. (2019). Cicloturismo: roteiros brasileiros. (Trabalho de conclusão de curso). Universidade Federal Fluminense, Niterói, Rio de Janeiro, Brasil. ), a partir de pesquisa em artigos científicos na base de dados CAFe, também observou a variedade de usos em relação ao termo (Quadro 2).

Quadro 2
Variedade de usos do termo cicloturismo em artigos internacionais

Nota-se, no Quadro 2, outro segmento de turismo, o turismo esportivo, contemplando o ciclismo esportivo como mais uma forma de uso do termo cicloturismo.

Prosseguindo, além do termo cicloturismo, fez-se uma busca por possíveis palavras que remetam à ideia da utilização da bicicleta na atividade turística. Utilizaram-se três palavras-chave: bicicloturismo, cicloturismo e turismo de bicicleta. Efetuou-se a pesquisa no site de buscas Google, nos dias 12, 15, 19, 24 e 28 de outubro de 2018, para saber quantos resultados gerariam cada uma das palavras-chave (Tabela 1).

Tabela 1:
Busca no Google por palavras-chave

Na Tabela 1, destacam-se dois aspectos relacionados aos resultados da pesquisa das palavras-chave. Primeiro, nota-se a existência de uma oscilação em relação à quantidade de dados gerados pelas palavras-chave cicloturismo e bicicloturismo, enquanto a palavra-chave turismo de bicicleta apresentou crescimento nos resultados no dia 19/10/18, e posterior queda nas duas datas seguintes. Ainda assim, manteve um aumento em relação ao primeiro dia.

Segundo, apesar do termo cicloturismo ser o mais utilizado pelos pesquisadores, a palavra-chave que gerou maior resultado de busca no Google foi turismo de bicicleta. Este termo pode ser encontrado em artigos científicos escritos na língua inglesa, como exemplo Lamont (2008Lamont, M. J. (2008). Wheels of change: a model of whole tourism systems for independent bicycle tourism. Proceedings of Re-creating Tourism, Hanmer Springs, New Zealand, 3 (5). ), que utiliza o termo bicycletourism, o que em tradução livre seria turismo de bicicleta.

Uma pesquisa do termo bicycletourism na base de dados CAFe em 15/10/2019 contemplando o período de 2008 a 2018 apresentou mais 2.359 artigos.

Assim, questiona-se qual dos três termos seria o mais apropriado. As conceituações dessa atividade turística são diferentes? Para responder estas duas perguntas, optou-se por buscar a origem da palavra cicloturismo na língua portuguesa por ser o termo mais utilizado por autores brasileiros.

METOLOGIA

Esta pesquisa é de cunho bibliográfico, pois se caracteriza pela utilização de fonte de informação a partir de dados dispersos de diferentes tipos de publicações como artigos científicos e livros, por exemplo, e aplicando a técnica de análise de conteúdo (GIL, 2008Gil, A. C. (2008). Métodos e Técnicas de pesquisa social (6a ed.). São Paulo: Editora Atlas. ; LIMA e MIOTO, 2007Lima, T. C. S. & Mioto, R. C. T. (2007). Procedimentos metodológicos do conhecimento científico: a pesquisa bibliográfica. Katálysis, Florianópolis, 10, 37-45. Recuperado de http://www.scielo.br/ scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-49802007000300004.
http://www.scielo.br/ scielo.php?script=...
).

A pesquisa bibliográfica implica na identificação e no estudo de pesquisas publicadas (VEAL, 2011Veal, A. J. (2011). Metodologia de Pesquisa em Lazer e Turismo (G. Guerra & M. Alfruigui, Trad.) São Paulo: Aleph .) em que, segundo Gil (2008Gil, A. C. (2008). Métodos e Técnicas de pesquisa social (6a ed.). São Paulo: Editora Atlas. , p. 50), apresenta a vantagem de “permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisas diretamente.”

Assim, a partir da leitura de artigos e livros relacionados ao cicloturismo, pode-se observar que a palavra cicloturismo é apresentada, principalmente, para designar dois tipos de atividades turísticas diferentes, dependendo do conteúdo do trabalho e do pesquisador.

Alguns pesquisadores trabalham o conceito da palavra como a atividade turística que faz uso da bicicleta como meio de transporte na área urbana e por períodos não superiores a 24 horas. Outros trabalham a perspectiva da bicicleta como meio de transporte em viagens longas.

Como este artigo se trata de pesquisa bibliográfica, a fim de compreender e contribuir para o melhor entendimento dos estudos em turismo, realizaram-se duas investigações. A primeira tratou da etimologia da palavra cicloturismo, buscando verificar se o prefixo ciclo seria a redução de bicicleta. Para isso, a investigação iniciou-se com a origem da palavra bicicleta.

No segundo momento da investigação, após verificar que ciclo pode ser utilizado não apenas como referência à bicicleta, foram utilizados alguns autores com o intuito de saber qual termo eles utilizam (bicicloturismo, cicloturismo ou turismo de bicicleta), assim como de que forma os conceitos são trabalhados.

A partir das duas investigações, sugere-se o uso do termo turismo de bicicleta como definição de segmento turístico que utilize a bicicleta e não mais como atividade dentro de diferentes segmentos, como foi verificado no caso de turismo de aventura, ecoturismo ou turismo esportivo. E que as duas modalidades turísticas de bicicleta sejam designadas por termos diferentes: Cicloturismo Urbano para referenciar as atividades de bicicleta no meio urbano e Cicloviagens para as viagens de longas distâncias realizadas com o uso da bicicleta como meio de transporte.

RESULTADOS

O termo ciclo era a forma abreviada de biciclo, “veículo de duas rodas” (Santos; Rio-Torto, 2016Santos, C. A. J., Campos, A. C. & Alves, L. A. C. (2016). Cicloturismo: mobilidade urbana e valorização do turismo da cidade de Aracajú - Sergipe. Revista de Direito da Cidade, 8, 1800-1824. doi: 10.12957/rdc.2016.22642.
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, p. 80) e, a partir do surgimento do veículo de três rodas, houve a necessidade da distinção entre os dois veículos com o uso dos prefixos bi e tri, bicyclo e tricyclo, respectivamente (Wüster apud Santos; Rio-Torto, 2016). O prefixo bi, com origem no latim bis, quer dizer duas ou que repete duas vezes (Houaiss, 2009Keeling, A. (1999). Cycle Tourism. Sustrans Routes For People (pp. 1-20). Londres. Recuperado de http:// www.tourisminsights.info/ONLINEPUB/ONLINEP/PDFS/SUSTRAN/SUSTRANS%20-%20CYCLE%20 TOURISM.pdf.
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). Enquanto a palavra cycle deriva do latim cyclos e do grego kúklos, e possui significado de roda, círculo, ciclo. Assim, a junção do prefixo bi com cycle tem-se bicycle, que de maneira genérica significa duas rodas. A palavra bicycle se difundiu também na língua inglesa, com mesma grafia e significado.

No francês se acresceu o sufixo -tte, formando a palavra bicyclette. Herisson (1956, p. 35) explica que, na língua francesa, para o diminutivo de uma palavra, deve-se utilizar os sufixos -tte e -ton (apudTurunen, 2006Turunen, V. (2006). Diminutivo em português e em francês: um pouquinho é unpetitpeu. Múltiplas Perspectivas em Linguística, Uberlândia, 3008-3016. Recuperado de http://www.filologia.org.br/ ileel/artigos/artigo_500.pdf.
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, p. 3011). A palavra bicicleta na língua portuguesa tem, portanto, origem na palavra francesa bicyclette (Jeuge-Maynart, 2012Jeuge-Maynart, I. (Ed.). (2012). Le Petit Larousse Ilustré. Paris: Larousse. , p. 122).

Com relação ao significado das palavras triciclo e bicicleta, o dicionário Houaiss (2009Keeling, A. (1999). Cycle Tourism. Sustrans Routes For People (pp. 1-20). Londres. Recuperado de http:// www.tourisminsights.info/ONLINEPUB/ONLINEP/PDFS/SUSTRAN/SUSTRANS%20-%20CYCLE%20 TOURISM.pdf.
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) apresenta quatro significados diferentes para triciclo, todos estão relacionados à meio de transporte:

1. antiga carruagem de três rodas; 2. Velocípede de três rodas; 3. Veículo similar, impulsionado a manivela ou a motor, usado por deficientes físicos; 4. Veículo de três rodas, com caixa para o transporte de cargas pequenas. (Houaiss, 2009Keeling, A. (1999). Cycle Tourism. Sustrans Routes For People (pp. 1-20). Londres. Recuperado de http:// www.tourisminsights.info/ONLINEPUB/ONLINEP/PDFS/SUSTRAN/SUSTRANS%20-%20CYCLE%20 TOURISM.pdf.
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, pp. 1).

O mesmo dicionário apresenta bicicleta como:

Veículo composto de um quadro (‘conjunto de tubos metálicos’), assentado sobre duas rodas iguais alinhadas uma atrás da outra e com raios metálicos, das quais a da frente é comandada por um guidom e funciona como diretriz, e a de trás, ligada a um sistema de pedais acionados pelo bicicletista, funciona como motriz. (Houaiss, 2009Keeling, A. (1999). Cycle Tourism. Sustrans Routes For People (pp. 1-20). Londres. Recuperado de http:// www.tourisminsights.info/ONLINEPUB/ONLINEP/PDFS/SUSTRAN/SUSTRANS%20-%20CYCLE%20 TOURISM.pdf.
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, pp. 1).

Estudo sobre a ocorrência de ciclo nas palavras da língua portuguesa desenvolvido por Santos e Rio-Torto (2016Santos, A. V. & Rio-Torto, G. (2016). De biciclo a ciclovia: estudo morfolexical de ciclo no português contemporâneo. Revista de Estudos Linguísticos, Juiz de Fora, 20 (2), 79-99. Recuperado de http://www.ufjf.br/revistaveredas/files/2016/12/SANTOS-E-RIO-TORTO-pronto-1.pdf.
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) tinha a hipótese baseada na ideia de que ciclo seria um termo genérico para bicicleta, triciclo e motocicleta. Ao final da pesquisa, as autoras concluíram que a palavra ciclo não possui sentido exclusivamente referente à bicicleta. Contudo, a morfologia de ciclo .é constituinte temática correspondente à forma reduzida biciclo” (Santos; Rio-Torto, 2016, p. 80).

O termo biciclo tem origem no inglês e no francês, ambos com a mesma grafia, bicycle (Santos; Rio-Torto, 2016Santos, A. V. & Rio-Torto, G. (2016). De biciclo a ciclovia: estudo morfolexical de ciclo no português contemporâneo. Revista de Estudos Linguísticos, Juiz de Fora, 20 (2), 79-99. Recuperado de http://www.ufjf.br/revistaveredas/files/2016/12/SANTOS-E-RIO-TORTO-pronto-1.pdf.
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). Os dicionários Michaelis On-line e o Dicionário On-line de Português (Figueiredo, 2018; Trevisan, 2018) definem a palavra biciclo como veículo de duas rodas com diâmetros diferentes, sendo a roda dianteira, que funcionava como força motriz, e a roda traseira menor. Tanto biciclo como bicicleta são conceituados como meios de transportes e possuem estruturas semelhantes, diferenciando-se, principalmente, no tamanho das rodas.

Desde o surgimento do primeiro veículo de duas rodas à propulsão humana, o veículo sofreu modificações ao longo do tempo, o que acabou contribuindo para sua melhoria até chegar ao modelo conhecido como bicicleta (Figura 1). O primeiro modelo de veículo com duas rodas foi a draisiana, datada de 1817, seguido do velocípede em 1861, do biciclo em 1874, e finalmente a bicicleta (Belotto; Nakamori; Fonseca, 2016Belotto, J. C. A., Nakamori, S. & Fonseca, K. F. O. (2016). Ciclovida: Pedalando na cidade (2a ed.). Paraná: UFPR/PROEC. ; Schetino, 2008Schetino, A. M. (2008). Pedalando na modernidade: a bicicleta e o ciclismo na transição do século XIX para o XX. Rio de Janeiro: Apicuri. ).

Figura 1
Evolução do veículo de duas rodas à propulsão humana

Para Santos e Rio-Torto (2018), o termo ciclo, nas palavras monociclo, biciclo, triciclo e quadriciclo, significa roda; e os prefixos mono, bi e tri se referem à quantidade de rodas. Deve-se considerar, ainda, a origem da palavra bicicleta, em que cicle se refere a ciclo, que por sua vez se refere à roda. A palavra bicicloturismo não seria mais apropriada, uma vez que o prefixo biciclo não estaria englobando os meios de transporte à propulsão humana, tais como as bicicletas e os triciclos. Antes de determinar o termo mais adequado, se cicloturismo ou turismo de bicicleta, se vê necessário considerar a origem das palavras com os conceitos atribuídos à atividade turística de bicicleta.

Para conceituar e verificar qual termo melhor se ajusta à atividade turística que utiliza a bicicleta, buscaram-se os conceitos e as definições atribuídos pelos autores nacionais e internacionais (Quadro 3). Para conceituar tal atividade, utilizou-se a comparação de textos citada por Koselleck (1992Koselleck, R. (1992). Uma história dos conceitos: problemas teóricos e práticos. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, 5 (10), 134-146. ), porém adaptando para a comparação de conceitos.

Quadro 3
Conceitos e definições

Percebe-se, a partir das definições apresentadas no Quadro 3, que alguns autores utilizam o mesmo termo para se referirem a duas atividades distintas, (i) a viagem de longa distância feita de bicicleta e (ii) a utilização da bicicleta no meio urbano para a atividade turística. Apesar de ambas as atividades utilizarem a bicicleta nos deslocamentos, o meio que se percorre, o tipo de interação que o turista tem com o espaço e o tempo de utilização são diferentes, assim como os propósitos e as motivações.

Diante do exposto, a origem das palavras e os conceitos atribuídos pelos autores, pode-se considerar que nem o termo cicloturismo nem o termo turismo de bicicleta poderiam ser descartados ou considerados equivocados. O termo cicloturismo, em que ciclo seria o termo genérico para roda, abrange os veículos não motorizados como as bicicletas e os triciclos. E a expressão turismo de bicicleta incluiria tanto o uso da bicicleta em atividades turísticas no meio urbano quanto em longas viagens. Portanto, sugere-se a utilização da expressão turismo de bicicleta com duas vertentes, o cicloturismo urbano e as cicloviagens (Figura 2) ou, ainda, considerar o turismo de bicicleta como segmento turístico e cicloturismo urbano e cicloviagem como subsegmentos turísticos.

Figura 2
Estrutura do turismo de bicicleta

A partir da origem dos termos e da comparação das definições dos autores, pode-se conceituar:

  • Turismo de bicicleta: atividade turística, na qual o turista opta como meio de transporte a bicicleta ou o triciclo, podendo ocorrer nas cidades ou entre as cidades, com duração de parte do dia ou vários dias consecutivos ou não.

  • Cicloturismo urbano: atividade turística, em que o turista pode optar por realizar os trajetos até os atrativos turísticos ou conhecer a cidade de bicicleta, podendo a bicicleta ou o triciclo ser o principal meio de transporte ou transporte de apoio durante a experiência turística.

  • Cicloviagem: viagem de longa distância que utiliza a bicicleta como principal meio de transporte ao mesmo tempo em que é o principal atrativo da viagem. As viagens de bicicleta tendem a durar dois dias ou mais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo apresentou os principais pontos abordados por Koselleck, que foram utilizados como base desta pesquisa para se chegar à origem da palavra cicloturismo e desenvolver um conceito da atividade. O termo cicloturismo, abordado de maneira genérica por alguns autores, deixa o entendimento um pouco confuso em relação ao tipo de atividade, se for considerado, por exemplo, que há necessidades diferentes para o cicloturista urbano e o cicloviajante.

A conceituação e a definição dos termos para cada atividade contribuirão para o desenvolvimento de pesquisas focadas em cada um dos segmentos do turismo de bicicleta, auxiliando no desenvolvimento das atividades em particular e não de forma generalizada. Cada um desses segmentos possui necessidades diferentes e, portanto, precisam ser estudadas e analisadas de maneiras diferentes. A separação desta atividade turística também poderá ser mais bem compreendida pelo leitor das pesquisas publicadas, pois a partir do termo utilizado se saberá qual o tipo de turismo de bicicleta o autor se refere.

Esta pesquisa poderia ter uma continuação ampliando a origem da palavra para as línguas inglesa e espanhola. Apesar de terem sido utilizadas pesquisas de língua inglesa, estas foram apenas usadas na busca de conceitos da atividade.

Ademais, acredita-se que os subsegmentos Cicloturismo e Cicloviagens não representam a complexidade do segmento Turismo de Bicicleta. Sugere-se que estudos sobre ciclismo esportivo e mountain bike sejam realizados com o fim de verificar a possibilidade de ampliação do segmento Turismo de Bicicleta.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    12 Ago 2020
  • Data do Fascículo
    May-Aug 2020

Histórico

  • Recebido
    17 Jun 2019
  • Aceito
    06 Dez 2019
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