Acessibilidade / Reportar erro

Declaração prévia de vontade do paciente terminal: reflexão bioética

Prior declaration of will of the terminal patient: bioethical reflection

Declaración previa de voluntad del paciente terminal: una reflexión bioética

Resumos

O desenvolvimento científico-tecnológico traz benefícios inquestionáveis às diversas esferas da saúde humana. Constantemente somos surpreendidos com as inovações terapêuticas e possibilidades de intervenção nos processos da vida humana, a exemplo do prolongamento artificial da vida. Destarte, necessita-se de reflexões bioéticas que objetivem debater a limitação médico-terapêutica, subsidiada pelo princípio do respeito à autonomia, de forma a fornecer mecanismos que garantam a concretização do respeito à vontade do paciente terminal. A partir do método dialético como orientador do processo de investigação e de análise, este artigo buscou apreender as diversas perspectivas a que está submetida a discussão em pauta. A abordagem em relação à declaração é pouco conhecida, embora tenha protagonizado recentemente o cenário normativo. Espera-se que este debate possa proporcionar subsídios à atual discussão, para que sejam empreendidas novas ações que visem a proposta fundamental da própria declaração: a garantia de respeito à vontade do paciente terminal.

Bioética; Autonomia pessoal; Doente terminal


The scientific and technological development brings unquestionable benefits to many spheres of human health. Therapeutic innovations and possibilities of interventions in human life processes, such as the artificial extension of life, have constantly amazed us. Therefore, we need to think carefully in order to discuss medical-therapeutic limitations, taking into account the principle of respect for autonomy, and lay down new guidelines seeking to meet the will of a terminal patient. By using the dialectic method as a guide to the investigation and analysis process, the present article sought to grasp the different perspectives to which the current discussion is subject. The approach to the statement is still poorly known, although it has lately been the main focus in the regulatory setting. This debate is expected to be able to provide inputs to the current discussion, so that new actions can be taken aiming at the key proposal of the statement itself: the guarantee of complying with a terminal patient's will.

Bioethics; Personal autonomy; Terminally ill


El desarrollo científico-tecnológico trae incuestionables ventajas en las distintas esferas de la salud humana. Constantemente nos sorprenden las innovaciones terapéuticas y posibilidades de intervención en los procesos de la vida humana, a ejemplo de la prolongación artificial de la vida. De esta manera, se necesitan reflexiones bioéticas que tengan como objetivo debatir la limitación médico terapéutica, subsidiada por el principio del respeto a la autonomía, para el suministro de los mecanismos que garantizan la concreción del respeto a la voluntad del paciente terminal. A partir del método dialéctico como orientador del proceso de investigación y de análisis, el presente artículo buscó aprehender las diversas perspectivas a la que está sometida la discusión en agenda. El abordaje en relación a la declaración todavía es poco conocida, aunque haya recién protagonizado el escenario normativo. Se espera que este debate pueda proporcionar subsidios a la actual discusión, para que se emprendan nuevas acciones que objetiven la propuesta fundamental de la propia declaración: la garantía de respeto a la voluntad del paciente terminal.

Bioética; Autonomía personal; Enfermo terminal


  • 1
    United States. President's Commission for the Study of Ethical Problems in Medicine and Biomedical Research. Deciding to forego life-sustaining treatment. Washington: Government Printing Office; 1983.
  • 2
    Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia. Ortotanásia deve entrar no novo Código de Ética Médica [internet]. 25 ago. 2009 [acesso 10 jan 2011]. Disponível: http://www.cremeb.org. br/cremeb.php?m=site.item&item=241&idioma=br
  • 3
    The Hastings Center. The goals of medicine: setting new priorities. Hastings Cent Rep. 1996; 26(6):special supplement.
  • 4
    Kipper D. O problema das decisões médicas envolvendo o fim da vida e propostas para nossa realidade. Bioética. 1999;7(1):59-70.
  • 5
    Pessini L. Distanásia: até quando investir sem agredir? Bioética. 1996;4(1):31-43.
  • 6
    Mota JAC. Quando um tratamento torna-se fútil? Bioética. 1999;7(1):35-9.
  • 7
    Schiff R, Rajkumar C, Bulpitt C. Views of elderly people on living wills: interview study. BMJ. 2000;320(7250):1640-1.
  • 8
    Muñoz DR, Fortes PAC. O princípio da autonomia e o consentimento livre e esclarecido. In: Costa SIF, Oselka G, Garrafa V, coordenadores. Iniciação à bioética. Brasília: Conselho Federal de Medicina; 1998. p. 53-70.
  • 9
    Beauchamp TL, Childress JF. Princípios de ética biomédica. 4ª ed. São Paulo: Loyola; 2002.
  • 10
    Kant I. Fundamentação da metafísica dos costumes. São Paulo: Abril Cultural; 1980.
  • 11
    Kant I. Crítica da razão pura. Lisboa: Calouste Gulbenkian; 1994.
  • 12
    Kant I. Crítica da razão prática. Lisboa: Edições 70; 1986.
  • 13
    Kant I. Op. cit. 1980. p. 43.
  • 14
    Mill JS. Utilitarianism. New York: A Meridian Book, 1974. On liberty; p. 135.
  • 15
    Mill JS. El Utilitarismo: un sistema de la lógica. Madrid: Alianza Editorial, 1997.
  • 16
    Guisán E. Introducción. In: Mill JS. Op. cit. 1997. p. 7-34.
  • 17
    Clotet J. O respeito à autonomia e aos direitos dos pacientes. Rev Assoc Med Rio Grande do Sul. 2009 Out-Dez;53(4):433.
  • 18
    Goldim J. Princípios éticos. [internet]. 6 jan. 2003 [acesso 15 jan. 2011]. Disponível: http://www.bioetica.ufrgs.br/princip.htm
  • 19
    The National Commission for the Protection of Human Subjects of Biomedical and Behavioral Research. Belmont Report: ethical principles and guidelines for the protection of human subjects of research, 18 april 1979. [internet]. Bethesda: Office of Human Suject Research; [acesso 23 mar. 2010]. Disponível: http://ohsr.od.nih.gov/guidelines/belmont.html
  • 20
    Beauchamp TL, Childress JF. Op. cit. p.11.
  • 21
    Diniz D, Guilhem D. O que é bioética. São Paulo: Brasiliense; 2002.
  • 22
    Stancioli BS. Relação jurídica médico-paciente. Belo Horizonte: Del Rey; 2004.
  • 23
    Conselho da Europa. Convenção para a protecção dos direitos do homem e da dignidade do ser humano face às aplicações da biologia e da medicina. [internet]. 4 abr. 1997 [acesso 21 nov. 2010]. Disponível: http://www.gddc. pt/direitos-humanos/textos-internacionais-dh/tidhregionais/convbiologia NOVO.html
  • 24
    United Nations Educational, Scientific and Cultural Organizations (Unesco). Universal Declaration on Bioethics and Human Rights. [internet]. Paris: Unesco; 2005 [access may 2010]. Available: http://unesdoc.unesco.org/images/0014/001461/146180E.pdf
  • 25
    Conselho Federal de Medicina. Resolução nº 1.931, de 17 de setembro de 2009 [internet]. Aprova o Código de Ética Médica e revoga a Resolução CFM no 1.246/1998. [acesso 24 maio 2010]. Disponível: http://www.portalmedico.org.br/resolucoes/cfm/2009/1931_2009.html
  • 26
    Pereira AGD. O consentimento informado na experiência europeia. [internet]. Trabalho apresentado no I Congresso Internacional sobre: "Os desafios do Direito face às novas tecnologias"; Ribeirão Preto, São Paulo. 10 nov. 2010 [acesso 12 jan. 2011]. Disponível: https://estudogeral.sib. uc.pt/jspui/bitstream/10316/14549/1/Aspectos%20do%20consentimento%20informado%20 e%20do%20testamento%20Vital%20Andr%C3%A9%20Pereira%20Ribeir%C3%A3o%20Preto.pdf
  • 27
    Clotet J. Reconhecimento e institucionalização da autonomia do paciente: um estudo da "The Patient Self-determination Act". Bioética. [internet]. 1993 [acesso 18 set. 2010];1(2):157-163. Disponível: http://www.portalbioetica.com.br/adm/artigos/reconhecimento_clotet.pdf
  • 28
    Clotet J. Op. cit. 2009:432-5.
  • 29
    Rocha EGFM. Direito à verdade e autonomia da vontade no enfermo. De jure: revista jurídica do Ministério Público do Estado de Minas Gerais. 2007 Jan-Jun;(8):222-34.
  • 30
    Reiriz AB, Scatola RP, Buffon VR. Cuidados paliativos, a terceira via entre eutanásia e distanásia: ortotanásia. Prática Hospitalar. 2006;48:77-82.
  • 31
    Rocha AR. Análise bioética da percepção de um grupo de profissionais da classe médica acerca da declaração prévia de vontade do paciente terminal. Revista de Graduação da PUCRS. [internet]. 2011[acesso 20 jan. 2012]:4(2). Disponível: http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/ graduacao/article/view/10033/7074
  • 32
    Pessini L. Eutanásia: por que abreviar a vida. São Paulo: Loyola; 2004.
  • 33
    Villas-Bôas ME. Da eutanásia ao prolongamento artificial: aspectos polêmicos na disciplina jurídico-penal do final de vida. Rio de Janeiro: Forense; 2005.
  • 34
    Pithan LH. O princípio da dignidade da pessoa humana como fundamento jurídico das ordens de não ressuscitação. Porto Alegre: Edipucrs; 2004.
  • 35
    Cortes CC. Historia los cuidados paliativos. [internet]. Sociedad Española de Cuidados Paliativos; 1997 [acesso 20 abr. 2011]. Disponível: http://www.secpal.com/presentacion/index. php?acc=historia%20CP
  • 36
    Brandão LCB. Novo código de ética médica entra em vigor. Direito e Saúde. [internet]. 12 abr. 2010 [acesso 21 jul. 2010]. Disponível: http://direitoesaude.wordpress.com/2010/04/12/novocodigo-de-etica-medica-entra-em-vigor/
  • 37
    São Paulo (Estado). Lei nº 10.241, de 17 de março de 1999. Dispõe sobre os direitos dos usuários dos serviços e das ações de saúde no Estado e dá outras providências. Diário Oficial do Estado de São Paulo. 18 mar. 1999;Seção 1:1.
  • 38
    Brasil. Ministério da Justiça. Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente. Resolução nº 41, de 13 de outubro de 1995. Dispõe sobre os direitos da criança e do adolescente hospitalizados. Diário Oficial da União. 17 out. 1995;Seção 1.
  • 39
    Conselho Federal de Medicina. Resolução CFM nº 1.995, de 9 de agosto de 2012. Dispõe sobre as diretivas antecipadas de vontade dos pacientes. [internet]. 31 ago. 2012 [acesso 11 jan. 2013]. Disponível: http://www.portalmedico.org.br/resolucoes/CFM/2012/1995_2012.pdf
  • 40
    Lima PMS. Aspectos éticos e legais da aplicabilidade da ortotanásia. Jus Societas. 2010;3(4):58-77.
  • 41
    Penalva LD. Declaração prévia de vontade do paciente terminal. Rev bioét (Impr.). 2009;17(3):523- 43.
  • 42
    Penalva LD. As contribuições da experiência estrangeira para o debate acerca da legitimidade do testamento vital no ordenamento jurídico brasileiro. [internet]. Trabalho publicado nos Anais do XVII Congresso Nacional do Conpedi, realizado em Brasília-DF nos dias 20, 21 e 22 de novembro de 2008 [acesso 10 abr. 2011]. Disponível: http://advocacia.pasold.adv.br/artigos/arquivos/ testamento_vital_-_contribuicao.pdf
  • 43
    Osborne D. Testamento vital. Jornal Clarim. 25 fev. 2011;(757):A2.
  • 44
    Goldim J. Caso Karen Ann Quinlan. [internet]. 1997 [acesso 22 mar. 2011]. Disponível: http://www.ufrgs.br/bioetica/karenaq.htm
  • 45
    Goldim J. Caso Nancy Cruzan. [internet]. 26 mar. 2005 [acesso 22 mar. 2011]. Disponível: http://www.ufrgs.br/bioetica/nancy.htm
  • 46
    Associação Portuguesa de Bioética. Estudo nº E/17/APB/10 - Testamento vital. [internet]. 18 set. 2010 [acesso 5 maio 2011]. Relator: Rui Nunes. Disponível: http://www.sbem-fmup.org/fotos/ gca/1284923005parecer-testamento_vital.pdf
  • 47
    Lusa. Modelo do testamento vital deve caber à entidade reguladora da saúde, defende Associação de Bioética. Público. [internet]. 15 mar. 2011 [acesso 20 abr. 2011]. Disponível: http://publico. pt/1484962
  • 48
    Portugal. Projecto de lei nº 413/XI/2ª. Direito dos doentes à informação e ao consentimento informado. [internet]. 23 set. 2010 [acesso 15 mar. 2013]. Disponível: http://issuu.com/ mariadebelemroseira/docs/pjl413-xi#
  • 49
    Portugal. Projecto de lei nº 414/XI/2ª. Testamento vital. [internet]. 23 set. 2010 [acesso 15 mar. 2013]. Disponível: http://www.parlamento.pt
  • 50
    Portugal. Projecto de lei nº 428/XI. Preconiza que as declarações antecipadas de vontade apenas produzam efeito em casos de doença terminal. [internet]. 7 out. 2010 [acesso 15 mar. 2013]. Disponível: http://www.parlamento.pt
  • 51
    Portugal. Projecto de lei nº 429/XI/2 a Diretivas antecipadas de vontade. [internet]. 7 out. 2010 [acesso 15 mar. 2013]. Disponível: http://www.parlamento.pt
  • 52
    Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida. Memorando sobre os projetos de lei relativos às declarações antecipadas de vontade. [internet]. dez. 2010 [acesso 15 mar. 2013]. Disponível: http://www.cnecv.pt/admin/files/data/docs/1293115784_Memorando%20Parecer%2059%20 CNECV_DAV.pdf
  • 53
    Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida. Parecer nº 59/CNECV/2010. Parecer sobre os projectos de lei relativos às declarações antecipadas de vontade. [internet]. dez. 2010 [acesso 15 mar. 2013]. Disponível: http://www.cnecv.pt/admin/files/data/docs/1293115760_Parecer%20 59%20CNECV%202010%20DAV.pdf
  • 54
    PLMJ Sociedade de Advogados. O testamento vital. Nota Informativa. [internet]. jul. 2012 [acesso 15 mar. 2013]. Disponível: http://www.plmj.com/xms/files/newsletters/2012/Julho/ Testamento_Vital.pdf
  • 55
    Portugal. Assembleia da República. Lei nº 25/2012. Regula as diretrizes antecipadas de vontade. [internet]. 16 jul. 2012 [acesso 15 mar. 2012]. Disponível: http://www.portaldasaude.pt/NR/ rdonlyres/0B43C2DF-C929-4914-A79A-E52C48D87AC5/0/TestamentoVital.pdf
  • 56
    Sánchez CL. Testamento vital y voluntad del paciente (conforme a la Ley 41/2002, de 14 de noviembre). Madrid: Dykinson; 2003. p. 30.
  • 57
    Moraes MCB. Danos à pessoa humana: uma leitura civil constitucional dos danos morais. Rio de Janeiro: Renovar; 2003.
  • 58
    Pessini L, Barchifontaine CP. Fundamentos de bioética. São Paulo: Paulus; 1996. p.187.
  • 59
    Oliveira FT, Flávio DA, Marengo MO, Silva RHA. Bioética e humanização na fase final da vida: visão de médicos. Rev bioét (Impr.). 2011;(1):247-58.
  • 60
    Diniz D. Por que morrer? Um comentário ao filme Mar Adentro. Alter Revista de Estudos Psicanalíticos. 2004;23(1):123-6.
  • 61
    Junges JR, Cremonese C, Oliveira EA, Souza LL, Backes V. Reflexões legais e éticas sobre o final da vida: uma discussão sobre a ortotanásia. Rev bioét (Impr.). 2010;18(2):275-88. p. 284.
  • 62
    Morais IM. Autonomia pessoal e morte. Rev bioét (Impr.). 2010;18(2):289-309.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    18 Out 2013
  • Data do Fascículo
    Abr 2013

Histórico

  • Recebido
    08 Ago 2012
  • Aceito
    08 Mar 2013
  • Revisado
    22 Fev 2013
Conselho Federal de Medicina SGAS 915, lote 72, CEP 70390-150, Tel.: (55 61) 3445-5932, Fax: (55 61) 3346-7384 - Brasília - DF - Brazil
E-mail: bioetica@portalmedico.org.br