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Espiritualidade aplicada à medicina

Resumo

Espiritualidade é a força que une os diferentes aspectos componentes do ser e, quando trabalhada, proporciona uma vivência harmônica e promove equilíbrio entre bem-estar físico, social e mental. Nesse sentido, objetivou-se abordar, secularmente, como a espiritualidade é vista na medicina, sua influência na saúde e a percepção de profissionais e pacientes acerca desse assunto. Para tanto, realizou-se revisão narrativa que priorizou buscas na plataforma PubMed por meio dos seguintes descritores: “medicine and spirituality and secularismo” e “placebo effect and spirituality and medicine”. Em seguida foram analisadas fontes referenciadas pela leitura dos artigos primordiais. Percebeu-se que há confusão quanto ao uso do termo espiritualidade e que a capacidade e efetividade do cuidado espiritual prestado por profissionais da saúde são débeis, contrastando com inúmeros benefícios oferecidos por essa atenção, que é uma ferramenta para um trabalho mais ético e humano.

Medicina; Espiritualidade; Secularismo; Efeito placebo

Abstract

Spirituality is a uniting force between different constituents of the human being and, when exercised, provides a harmonious experience and promotes balance between physical, social, and mental well-being. As such, this narrative review proposes a secular approach to how spirituality is understood by medicine, its influence on health, and how it is perceived by professionals and patients. Bibliographic search was conducted on the PubMed database, using the following descriptors: “medicine and spirituality and secularism” and “placebo effect and spirituality and medicine.” After reading the primary articles, the referenced sources were analyzed. Results show a confusion on how the term spirituality is used and a weak capacity and effectiveness with respect to the spiritual care provided by health personnel, thus ignoring the several benefits offered by such care, which is a tool for a more ethical and humane work.

Medicine; Spirituality; Secularism; Placebo effect

Resumen

La espiritualidad es la fuerza que une los diferentes componentes del ser y al estimularse proporciona una experiencia armoniosa, además de promover el equilibrio de bienestar físico, social y mental. Ante lo anterior, este texto tuvo por objetivo abordar cómo se ve secularmente la espiritualidad en la medicina, su influencia en la salud y la percepción de profesionales y pacientes sobre este tema. Para ello, se realizó una revisión narrativa en la base de datos PubMed utilizando los siguientes descriptores: “medicine and spirituality and secularismo” y “placebo effect and spirituality and medicine”. Después, se analizaron las fuentes mediante la lectura de los artículos principales. Se encontró una confusión con relación al uso del término espiritualidad, y es deficiente la habilidad y eficacia del cuidado espiritual que brindan los profesionales de la salud, contrastando con los numerosos beneficios de este cuidado, una herramienta para un trabajo más ético y humanizado.

Medicina; Espiritualidad; Secularismo; Efecto placebo

Espiritualidade é a busca por significado que proporciona ao ser humano harmonia entre corpo, mente e espírito. O significado e o propósito de vida são conceituações pessoais, definidas pela vivência da pessoa em sua totalidade: organismo, sentido e experiência 11. Teixeira EFB, Mueller MC, Silva JDT. Espiritualidade e qualidade de vida. Porto Alegre: EDIPUCRS; 2004. p. 8-9.. Nessa percepção, espiritualidade é uma ferramenta que permite ao indivíduo sentir e reagir conforme suas convicções.

De maneira didática, pode-se entender espiritualidade como a cultura do ser. Assim, diversos meios têm a capacidade de constituir essa identidade, como crença religiosa, convívio social e familiar, cultura geográfica, práticas meditativas, ioga e outras atividades. Portanto, exercício espiritual é tudo aquilo que o indivíduo pratica que lhe possibilita viver em plenitude, ou que pelo menos o ajuda e influencia em momentos difíceis, em tomadas de decisões e no modo de encarar qualquer situação.

Além disso, na avaliação da qualidade de vida proposta pela Organização Mundial da Saúde (OMS), espiritualidade é entendida como a percepção do indivíduo sobre sua posição no contexto da cultura em que vive e de seus valores em relação a seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações. Ou seja, trata-se de um conceito abrangente que se aplica na relação complexa entre saúde física, estado psicológico, nível de independência, relacionamentos e crenças pessoais.

Assim, espiritualidade e, consequentemente, o significado de vida que ela proporciona são, também, constituintes da dimensão multifatorial de qualidade de vida 22. . The World Health Organization Quality of Life Assessment (WHOQOL): position paper from the World Health Organization. Soc Sci Med [Internet]. 1995 [acesso 19 out 2022];41(10):1403-9. DOI: 10.1016/0277-9536(95)00112-k. Portanto, embora seja componente do ser, a espiritualidade é um domínio único, devendo, logo, ser encarada como tal 33. Brady MJ, Peterman AH, Fitchett G, Mo M, Cella D. A case for including spirituality in quality of life measurement in oncology. Psychooncology [Internet]. 1999 [acesso 19 out 2022];8(5):417-28. DOI: 10/b8bxr6.

Saúde e espiritualidade

A partir da compreensão da integralidade e da complexidade do ser, é possível encaixar a discussão acerca da espiritualidade na área da saúde. Por exemplo, no processo de adoecimento, a dor não se associa apenas ao estresse físico, mas também à percepção do doente. Dessa maneira, pode-se associar a espiritualidade à parte intrínseca da experiência da doença 44. Puchalski CM. The spiritual dimension: the healing force for body and mind. Cons-Ciências [Internet]. 2004 [acesso 19 out 2022];2:173-95. p. 183. Disponível: http://hdl.handle.net/10284/777
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O cuidado espiritual é estudado no campo da saúde como ferramenta que permite enfrentar situações difíceis e a espiritualidade é tratada pela OMS como fator influente na qualidade de vida. Assim, necessidades espirituais não surgem apenas em momentos de insatisfação com a vida ou debilidade física, pois são inerentes ao ser, relacionadas ao comportamento e ao ponto de vista de cada um 33. Brady MJ, Peterman AH, Fitchett G, Mo M, Cella D. A case for including spirituality in quality of life measurement in oncology. Psychooncology [Internet]. 1999 [acesso 19 out 2022];8(5):417-28. DOI: 10/b8bxr6,55. Büssing A, Janko A, Baumann K, Hvidt NC, Kopf A. Spiritual needs among patients with chronic pain diseases and cancer living in a secular society. Pain Med [Internet]. 2013 [acesso 19 out 2022];14(9):1362-73. DOI: 10.1111/pme.12198. Portanto, trabalhar esses cuidados em meio ao caos, à insegurança e à doença tende a melhorar a qualidade de vida e o bem-estar, propiciando meio mais adequado à recuperação física do paciente.

Espiritualidade não é uma escolha, apenas faz parte da natureza humana. Nesse sentido, o indivíduo é entendido como um todo que se manifesta na interação entre recursos espirituais e necessidades do corpo físico. Assim, a dor pode ser mais bem tolerada e haver bem-estar em um contexto de sintomatologia quando o paciente se utiliza desses recursos e estabelece alto nível de significado, otimismo e sentimento de esperança 33. Brady MJ, Peterman AH, Fitchett G, Mo M, Cella D. A case for including spirituality in quality of life measurement in oncology. Psychooncology [Internet]. 1999 [acesso 19 out 2022];8(5):417-28. DOI: 10/b8bxr6,55. Büssing A, Janko A, Baumann K, Hvidt NC, Kopf A. Spiritual needs among patients with chronic pain diseases and cancer living in a secular society. Pain Med [Internet]. 2013 [acesso 19 out 2022];14(9):1362-73. DOI: 10.1111/pme.12198,66. LeDoux J. O cérebro emocional: os misteriosos alicerces da vida emocional. São Paulo: Objetiva; 1996..

É inevitável a inversa relação entre propósito de vida e mortalidade, de modo que uma vida com significado tem sido citada em vários estudos como beneficiadora do sistema imunológico e de comportamentos saudáveis. Além disso, resultaria em menores riscos de doenças cardiovasculares, redução da taxa de depressão e melhor qualidade de vida, condições que promovem maior longevidade 33. Brady MJ, Peterman AH, Fitchett G, Mo M, Cella D. A case for including spirituality in quality of life measurement in oncology. Psychooncology [Internet]. 1999 [acesso 19 out 2022];8(5):417-28. DOI: 10/b8bxr6,77. Koenig HG. Religion, spirituality, and medicine: research findings and implications for clinical practice. South Med J [Internet]. 2004 [acesso 19 out 2022];97(12):1194-200. DOI: 10.1097/01.SMJ.0000146489.21837.CE.

Corpo e mente

Muitos estudos discutem o feedback corporal relacionado a funções cerebrais envolvidas com a emoção e vice-versa. William James 88. James W. What is an emotion? Mind [Internet]. 1884 [acesso 18 nov 2022];9(34):188-205. Disponível: https://bit.ly/3UTjXZB
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afirma ser difícil imaginar a emoção sem sua expressão corporal. LeDoux 66. LeDoux J. O cérebro emocional: os misteriosos alicerces da vida emocional. São Paulo: Objetiva; 1996. comprova o uso desse feedback ao solicitar que os participantes de sua pesquisa fizessem expressões faciais relacionadas a diferentes estados emocionais e, em seguida, respondessem a um questionário sobre seus sentimentos. Verificou-se que estes haviam sido significativamente influenciados pelas expressões faciais, refletindo estados de espírito positivos e negativos 66. LeDoux J. O cérebro emocional: os misteriosos alicerces da vida emocional. São Paulo: Objetiva; 1996..

É de extrema importância relembrar que as influências emocionais no corpo físico são inúmeras, muitas já consagradas e conhecidas. Ansiedade crônica, períodos longos de tristeza, pessimismo e estresse dobram o risco de o indivíduo ser acometido por dores de cabeça, úlceras gástricas, asma e – o que mais chama atenção – problemas cardíacos. Ironson e colaboradores 99. Ironson G, Taylor CB, Boltwood M, Bartzokis T, Dennis C, Chesney M et al. Effects of anger on left ventricular ejection fraction in coronary artery disease. Am J Cardiol [Internet]. 1992 [acesso 19 out 2022];70(3):281-5. DOI: 10.1016/0002-9149(92)90605-x
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avaliaram pacientes que já haviam sofrido ataque cardíaco e demonstraram que, conforme eles descreviam momentos de raiva, o bombeamento cardíaco diminuía em até 5%, chegando a 7% ou mais em alguns casos.

No estudo de John Barefoot citado por Goleman 1010. Goleman D. Inteligência emocional: a teoria revolucionária que redefine o que é ser inteligente. 2ª ed. São Paulo: Objetiva; 1995., verificou-se que, no processo de angiografia, a extensão da lesão coronariana se correlacionava à contagem em teste de rancor. Obviamente, essas sensações ruins não foram causa exclusiva do acometimento cardíaco, mas estavam relacionadas a ele. Com conclusões semelhantes, Powell, Thoresen e Pattillo 1111. Powell L, Thoresen C, Pattillo J, Simon SR. Emotional arousal as a predictor of long-term mortality and morbidity in post-MI men. Circulation [Internet]. 1990 [acesso 18 nov 2022];82(4 supl 3):III259. Disponível: https://bit.ly/3EiyarW
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acompanharam, durante dez anos, 929 homens que sofreram ataque cardíaco e perceberam que aqueles que facilmente sentiam raiva tinham três vezes mais chance de morrer por parada cardíaca em comparação aos indivíduos de temperamento mais estável.

Cohen, Tyrrell e Smith 1212. Cohen S, Tyrrell DAJ, MD, Smith AP. Psychological stress and susceptibiltiy to the common cold. N Engl J Med [Internet]. 1991 [acesso 19 out 2022];325(9):606-12. DOI: 10.1056/NEJM199108293250903 notaram relação direta entre o nível de tensão e a chance de contrair resfriado, de modo que, na exposição ao vírus, 27% dos que viviam em baixa tensão contraíram o resfriado, contra 47% entre os mais tensos. Trata-se, portanto, de mais um fator capaz de debilitar o sistema imunológico.

Compete, ainda, citar a meditação, prática simples e laica que trabalha basicamente com a atenção e a respiração, mostrando-se favorável ao bem-estar e ao propósito de vida 1313. Cohen R, Bavishi C, Rozanski A. Purpose in life and its relationship to all-cause mortality and cardiovascular events: a meta-analysis. Psychosom Med [Internet]. 2016 [acesso 19 out 2022];78(2):122-33. DOI: 10.1097/PSY.0000000000000274. Puchalski 1414. Puchalski CM. The role of spirituality in health care. Proc (Bayl Univ Med Cent) [Internet]. 2017 [acesso 19 out 2022];14(4):352-7. p. 352. DOI: 10.1080/08998280.2001.11927788 observou que em média 15 minutos de meditação, duas vezes ao dia, refletiram na diminuição da frequência cardíaca e respiratória e em ondas cerebrais mais lentas, sendo importantes, também, para melhorar a qualidade do sono, reduzir a ansiedade e atuar como fator positivo em casos de infertilidade e síndrome pré-menstrual.

Outro fator de risco de mortalidade é a ausência de relacionamentos, pois a sensação subjetiva de solidão, de não ter com quem compartilhar intimidade, duplica as chances de contrair doenças. Quanto a isso, já em 1988, House, Landis e Umberson 1515. House JS, Landis KR, Umberson D. Social relationships and health. Science [Internet]. 1988 [acesso 19 out 2022];241(4865):540-5. DOI: 10.1126/science.3399889 avaliaram que a solidão tem tanta importância na mortalidade quanto tabagismo, hipertensão arterial, sedentarismo, obesidade e colesterol alto.

Goleman 1010. Goleman D. Inteligência emocional: a teoria revolucionária que redefine o que é ser inteligente. 2ª ed. São Paulo: Objetiva; 1995. destaca a importância do cuidado emocional antecedendo algum contexto da saúde que gere ansiedade, como cirurgias, ao mostrar que a recuperação desse procedimento pode se adiantar em até três dias quando se oferecem aos pacientes técnicas de relaxamento, atendendo a todas as suas dúvidas e perguntas. Além disso, observa o potencial ganho financeiro em uma medicina humanística. Por exemplo, ao cuidar da depressão dos idosos em conjunto com terapêutica ortopédica para fratura da bacia, foi possível antecipar a alta destes em até dois dias, gerando, entre o total de pacientes, uma economia de quase 100 mil dólares.

Obviamente, sentimentos bons não bastam para curar enfermidades, mas impactam no curso da doença, como analisado na constatação de que fumo e bebida alcoólica em maior escala, em associação com baixa frequência de exercício físico, são mais presentes em pessoas pessimistas 1010. Goleman D. Inteligência emocional: a teoria revolucionária que redefine o que é ser inteligente. 2ª ed. São Paulo: Objetiva; 1995.. Além disso, como referido por Williams e Chesney 1616. Williams RB, Chesney MA. Psychosocial factors and prognosis in established coronary artery disease. JAMA [Internet]. 1993 [acesso 19 out 2022];270(15):1860-1. DOI:10.1001/jama.1993.03510150094038, a depressão eleva em cinco vezes a chance de morte após o tratamento de ataque cardíaco. Portanto, é antiético ignorar o que a expressão emocional gera no corpo e, por isso, seria desumano relevar todos esses fatores de risco.

Relação médico e paciente

Segundo Puchalski, Frankl afirma que o homem não é destruído pelo sofrimento, mas pelo sofrimento sem significado 1414. Puchalski CM. The role of spirituality in health care. Proc (Bayl Univ Med Cent) [Internet]. 2017 [acesso 19 out 2022];14(4):352-7. p. 352. DOI: 10.1080/08998280.2001.11927788. A debilidade física, em qualquer nível, pode tornar difícil ao paciente lidar com questões profundas da vida, como a perda de propósito, em razão da preocupação com o futuro 1414. Puchalski CM. The role of spirituality in health care. Proc (Bayl Univ Med Cent) [Internet]. 2017 [acesso 19 out 2022];14(4):352-7. p. 352. DOI: 10.1080/08998280.2001.11927788.

Nesse sentido, percebe-se o quanto o papel de profissionais de saúde, principalmente médicos, deve ampliar-se ao cuidado espiritual. Assim, considerando que a assistência centrada no relacionamento médico-paciente tende a aumentar a confiança e o sentimento de esperança, levar em consideração a totalidade do ser proporcionaria ainda mais bem-estar ao paciente 44. Puchalski CM. The spiritual dimension: the healing force for body and mind. Cons-Ciências [Internet]. 2004 [acesso 19 out 2022];2:173-95. p. 183. Disponível: http://hdl.handle.net/10284/777
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,77. Koenig HG. Religion, spirituality, and medicine: research findings and implications for clinical practice. South Med J [Internet]. 2004 [acesso 19 out 2022];97(12):1194-200. DOI: 10.1097/01.SMJ.0000146489.21837.CE,1010. Goleman D. Inteligência emocional: a teoria revolucionária que redefine o que é ser inteligente. 2ª ed. São Paulo: Objetiva; 1995..

A essência espiritual existe. Estudos demonstram a influência dos recursos internos do indivíduo e do relacionamento médico-paciente nos resultados de saúde com trabalhos sobre o efeito placebo. Isso não significa que uma pílula sem efeitos biológicos é capaz de trazer benefícios, mas que a crença e o pensamento positivo do paciente e do profissional, em conjunto com o cuidado médico integral, têm potencial em contribuir para a melhora do quadro de saúde do doente 1414. Puchalski CM. The role of spirituality in health care. Proc (Bayl Univ Med Cent) [Internet]. 2017 [acesso 19 out 2022];14(4):352-7. p. 352. DOI: 10.1080/08998280.2001.11927788,1717. Bonnet U. Ein kurzes Essay über die Spiritualität von Placebo aus (evolutionär) psychiatrischer Sicht. Fortschr Neurol Psychiatr [Internet]. 2018 [acesso 19 out 2022]; 87(7):347-54. DOI: 10.1055/a-0637-1940

18. Kohls N, Sauer S, Offenbächer M, Giordano J. Spirituality: an overlooked predictor of placebo effects? Philos Trans R Soc B Biol Sci [Internet]. 2011 [acesso 19 out 2022];366(1572):1838-48. DOI: 10.1098/rstb.2010.0389
-1919. Baldacchino D, Draper P. Spiritual coping strategies: a review of the nursing research literature. J Adv Nurs [Internet]. 2001 [acesso 19 out 2022];34(6):833-41. DOI: 10.1046/j.1365-2648.2001.01814.x.

Desse modo, para realizar um trabalho compassivo, é de extrema importância, antes de tudo, que os profissionais de saúde ofereçam um atendimento humanizado. Assim, é preciso saber ouvir o paciente, entender seus medos, expectativas e dores, colher uma história espiritual, analisando as dimensões do indivíduo e de seus familiares.

Apenas com o conhecimento das crenças, limitações e necessidades do doente, é possível uma atuação multidisciplinar para atender às causas multifatoriais de uma enfermidade. Um exemplo é quando paciente que não sente melhoras com a medicação, apresentando qualidade de vida prejudicada por essa circunstância e sentimentos depressivos, sem propósito de vida, sente-se melhor com orientações e indicação de meditação em conjunto com o tratamento convencional 1414. Puchalski CM. The role of spirituality in health care. Proc (Bayl Univ Med Cent) [Internet]. 2017 [acesso 19 out 2022];14(4):352-7. p. 352. DOI: 10.1080/08998280.2001.11927788.

Não basta associar a terapia convencional à não convencional, é preciso conhecer o indivíduo que receberá cuidados. Por exemplo, Cohen, Bavishi e Rozanski 1313. Cohen R, Bavishi C, Rozanski A. Purpose in life and its relationship to all-cause mortality and cardiovascular events: a meta-analysis. Psychosom Med [Internet]. 2016 [acesso 19 out 2022];78(2):122-33. DOI: 10.1097/PSY.0000000000000274 relatam que pessoas que fazem trabalho voluntário têm sua mortalidade reduzida, ressaltando, contudo, que esse efeito positivo somente se efetiva naqueles que o fazem de maneira altruísta, e não por seguir uma orientação isoladamente.

Porém, segundo Koenig 77. Koenig HG. Religion, spirituality, and medicine: research findings and implications for clinical practice. South Med J [Internet]. 2004 [acesso 19 out 2022];97(12):1194-200. DOI: 10.1097/01.SMJ.0000146489.21837.CE, a maioria dos médicos não compreende as razões para abordar questões espirituais em suas consultas. Por isso, é necessário aprofundar estudos e disseminar informações para profissionais de saúde visando ao cuidado espiritual, ou seja, à compreensão da totalidade do ser.

Deficiência do cuidado espiritual pelos profissionais

Respostas hormonais, autonômicas e comportamentais são geradas pelo sistema emocional a diferentes estímulos, e elas são diferentes em cada pessoa, uma vez que percepções e sentimentos são construções individuais estabelecidas pela criação, pela cultura e pelas experiências. Além disso, Leventhal e Scherer 2020. Leventhal H, Scherer K. The relationship of emotion to cognition: a functional approach to a semantic controversy. Cogn Emot [Internet]. 1987 [acesso 19 out 2022];1(1):3-28. DOI: 10.1080/02699938708408361 afirmam que a emoção sincroniza atividades cerebrais e estas se refletem no corpo.

Nesse sentido, é indispensável questionar o conhecimento médico quanto às emoções de seus pacientes. Será que entender os sentimentos destes e orientá-los a buscar apoio em algum meio que proporcione ferramentas para controlar a emoção e manter-se em harmonia proporcionaria melhores condições para lutar contra a doença? Aparentemente sim, pois o ser é único no que tange à constituição de seus componentes – corpo, mente e espírito –, logo, quando se cuida apenas do corpo, a pessoa não é cuidada em sua totalidade e seu bem-estar poderá estar comprometido ou ser obstáculo à involução da doença.

É imprescindível colher toda a história do paciente, não bastando uma anamnese dos sintomas físicos. Dessa forma, é preciso verificar crenças, limitações, medos, relacionamentos sociais e familiares, problemas cotidianos, como no trabalho, hábitos, estilo de vida e interesses. Somente assim se entende o paciente como um todo, sendo possível trabalhar sua totalidade e fazer as devidas orientações e encaminhamentos a setores que trabalhem sua espiritualidade.

Para isso, contudo, é fundamental a presença compassiva e atenciosa do profissional, que deve ter clareza dos limites médicos, os quais abrangem a percepção da integralidade do cliente e uma orientação sensível dos cuidados que poderiam auxiliá-lo. Ou seja, o trabalho aprofundado deve ser deixado à liderança religiosa, ao psicólogo, à instrutora de ioga, e assim sucessivamente, de acordo com as necessidades analisadas 77. Koenig HG. Religion, spirituality, and medicine: research findings and implications for clinical practice. South Med J [Internet]. 2004 [acesso 19 out 2022];97(12):1194-200. DOI: 10.1097/01.SMJ.0000146489.21837.CE,1414. Puchalski CM. The role of spirituality in health care. Proc (Bayl Univ Med Cent) [Internet]. 2017 [acesso 19 out 2022];14(4):352-7. p. 352. DOI: 10.1080/08998280.2001.11927788. A essência do cuidado espiritual é, portanto, ouvir e ser presente ao outro em seu tempo de necessidade 44. Puchalski CM. The spiritual dimension: the healing force for body and mind. Cons-Ciências [Internet]. 2004 [acesso 19 out 2022];2:173-95. p. 183. Disponível: http://hdl.handle.net/10284/777
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Trabalho envolvendo pacientes no fim da vida associou apoio espiritual a melhor qualidade de vida e menos intervenções invasivas, contudo, notou-se que apenas 51% dos médicos desejaram treinamento em cuidado espiritual, apesar de 80% considerarem esse tipo de cuidado interessante 2121. Balboni MJ, Sullivan A, Amobi A, Phelps AC, Gorman DP, Zollfrank A et al. Why is spiritual care infrequent at the end of life? Spiritual care perceptions among patients, nurses, and physicians and the role of training. J Clin Oncol [Internet]. 2012 [acesso 19 out 2022];31(4):461-7. DOI: 10.1200/JCO.2012.44.6443
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. Talvez esse interesse – que pode ser considerado baixo diante dos benefícios – se deva ao ideal de Descartes, conforme destacado por Damásio 2222. Damásio A. O erro de Descartes: emoção, razão e o cérebro humano. São Paulo: Companhia das Letras; 2012., quanto à geometrização do homem, que trouxe grandes avanços à medicina. Atualmente, porém, nota-se um esquecimento das necessidades não materiais do indivíduo, como a emoção, ligada às sensações viscerais, por exemplo.

Então, quais seriam os motivos para o cuidado espiritual ainda não ser amplamente oferecido? Tempo disponível, dúvidas quanto aos benefícios e desconforto ao praticar o cuidado espiritual são as principais queixas dos profissionais 77. Koenig HG. Religion, spirituality, and medicine: research findings and implications for clinical practice. South Med J [Internet]. 2004 [acesso 19 out 2022];97(12):1194-200. DOI: 10.1097/01.SMJ.0000146489.21837.CE,2121. Balboni MJ, Sullivan A, Amobi A, Phelps AC, Gorman DP, Zollfrank A et al. Why is spiritual care infrequent at the end of life? Spiritual care perceptions among patients, nurses, and physicians and the role of training. J Clin Oncol [Internet]. 2012 [acesso 19 out 2022];31(4):461-7. DOI: 10.1200/JCO.2012.44.6443
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, entretanto, Koenig 77. Koenig HG. Religion, spirituality, and medicine: research findings and implications for clinical practice. South Med J [Internet]. 2004 [acesso 19 out 2022];97(12):1194-200. DOI: 10.1097/01.SMJ.0000146489.21837.CE alega que uma rápida história espiritual acrescenta no máximo dois minutos no atendimento médico, além de não ser necessário colhê-la a cada visita médica e de todos os pacientes. Com isso, é possível pensar que a baixa oferta desse tipo de cuidado deve-se à falta de treinamento dos profissionais, pois, se houvesse preparo, estes saberiam no mínimo o momento e a duração do processo.

Dessa maneira, apesar da deficiente capacitação do profissional em meios acadêmicos, a transformação do entendimento sobre a importância do cuidado espiritual é o primeiro passo para despertar interesse no médico, e esta é uma das finalidades deste artigo. Além disso, é imprescindível destacar um significativo pré-requisito para a aplicabilidade desse cuidado: o profissional da saúde precisa ter experiência espiritual. Assim, por meio de religião já praticada ou arte, música, meditação e ioga, entre muitas práticas que possibilitam essa vivência, o médico precisa se tornar compassivo às necessidades espirituais de seus pacientes 44. Puchalski CM. The spiritual dimension: the healing force for body and mind. Cons-Ciências [Internet]. 2004 [acesso 19 out 2022];2:173-95. p. 183. Disponível: http://hdl.handle.net/10284/777
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Este trabalho pretende analisar, na literatura do campo de saúde, a influência da espiritualidade no contexto da clínica médica, bem como sua relação na vida do paciente e na atuação do profissional. Nessa perspectiva, busca-se esclarecer se é importante aplicar o cuidado espiritual no atendimento ao paciente, assim como identificar se há conhecimento e treinamento do médico nessa área, buscando entender como são a receptividade e a necessidade do cuidado espiritual pelo paciente e determinando como a espiritualidade influencia sua saúde. Além disso, é importante lembrar que este trabalho se empenha no reconhecimento secular do assunto, o que não impede admitir a religião como prática espiritual.

Método

Mediante revisão narrativa de caráter analítico com a finalidade de estudar a interação entre medicina e espiritualidade, esta pesquisa descritiva buscou resultados qualitativos e quantitativos, com predomínio dos primeiros.

Para a coleta de informações, utilizou-se a plataforma virtual PubMed e um artigo da Escola de Medicina da George Washington University, considerando os critérios de inclusão a seguir: artigos em inglês e/ou português publicados entre 1995 e 2018; estudos que correlacionassem espiritualidade com saúde e/ou qualidade de vida e/ou a medicina; e artigos sobre a construção do termo “espiritualidade” e sua aplicabilidade na prática clínica, podendo ser a favor. Os descritores utilizados foram: “medicine and spirituality and secularism” e “placebo effect and spirituality and medicine”, todos selecionados mediante consulta ao portal Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) 2323. Descritores em Ciências da Saúde [Internet]. [s.d.] [acesso 19 out 2022]. Disponível: https://bit.ly/3gfGOzo
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.

Foram excluídos artigos de cunho exclusivamente religioso, visando a uma análise secular. Mantiveram-se publicações que apresentaram doenças e cuidados específicos em busca de ampliar o conhecimento de espiritualidade na área médica. Para mais, também foram estudadas algumas referências bibliográficas citadas nos artigos incluídos, além de livros associados ao assunto.

Uma primeira avaliação foi feita baseando-se em autoria, ano de publicação, objetivo e método utilizado, a fim de construir um apanhado que contemplasse os critérios de inclusão. Aqueles que corresponderam aos critérios de exclusão ou não se alinhavam aos de inclusão foram rejeitados, e os que não puderam ser excluídos com certeza foram lidos secundariamente.

Assim, seguiu-se uma análise que abrangia o modo como o termo “espiritualidade” era utilizado por cada autor, uma vez que esse conceito ainda gera confusão entre as pessoas. O estudo foi prosseguido por leitura atenta do contexto em que os artigos foram elaborados, aferindo se havia ou não envolvimento de profissionais da saúde e avaliando o quão preparados estes estavam para o cuidado espiritual.

Por conseguinte, estabeleceu-se uma comparação entre as necessidades do cuidado espiritual entre pacientes e profissionais, além de observar o quanto esse cuidado era efetivado. Por fim, procurou-se elencar possíveis influências e benefícios da espiritualidade na saúde, na qualidade de vida e na clínica médica.

Resultados

Ao realizar a busca por meio dos descritores no período descrito pelos critérios de inclusão, foram encontrados 140 artigos. A partir de uma leitura exploratória, selecionaram-se 15 trabalhos que correlacionassem espiritualidade a saúde e/ou prática clínica e/ou qualidade de vida. A maioria dos estudos ressaltava a correlação da espiritualidade com a melhoria do bem-estar e com o enfrentamento no período da doença.

Nessa perspectiva, coube observar o modo como o termo “espiritualidade” foi utilizado por cada autor, a fim de elucidar a abordagem utilizada e embasar este estudo, visto que a análise dos textos demonstra utilização do termo “espiritualidade” como sinônimo de “religiosidade”. Identificaram-se alguns artigos com tal confusão de conceitos e outros com o uso coerente, entretanto, muitos dos trabalhos disponíveis utilizados nas revisões sistemáticas se apresentam com a compreensão incorreta de espiritualidade (Quadro 1).

Quadro 1
Uso do termo “espiritualidade” nos artigos analisados

Assim, o não entendimento dessa expressão pode ter influenciado os resultados, uma vez que, ao realizar pesquisas diretamente com pacientes, estes poderiam não conhecer o sentido de espiritualidade caso este não fosse explicado corretamente. Além disso, cabe ressaltar a utilização de um pequeno número de material para a construção deste texto, o que limitou a efetividade do assunto.

No Quadro 2, há uma avaliação de contextos variados, com predomínio de pesquisas voltadas a quadros clínicos mais graves, seguidas de abordagem relacionada à atuação dos profissionais de saúde, o que demonstra pouca efetividade do cuidado espiritual e pouco preparo para tal. Por fim, avaliou-se a percepção dos pacientes quanto ao cuidado espiritual e constatou-se que a espiritualidade é uma necessidade para muitos deles, embora, na maioria das vezes, não seja atendida. Em contrapartida a essa deficiente prática do cuidado espiritual, muitos dos trabalhos evidenciaram interação benéfica entre espiritualidade e cuidado integral do paciente na saúde, como descrito no Quadro 3.

Quadro 2
Contextos analisados dos estudos, abordagem quanto aos profissionais de saúde e percepção do paciente quanto ao cuidado espiritual

Quadro 3
Benefícios da espiritualidade aplicada na atenção à saúde

Discussão

Antes de tudo, é fundamental conhecer o conceito de espiritualidade, pois uma compreensão incorreta pode alterar a análise e a elaboração de trabalhos e pesquisas e, principalmente, a atuação médica. É bastante comum confundir espiritualidade e religiosidade, visto que a primeira engloba a segunda, porém esta última, se trabalhada exclusivamente, pode excluir aquela de indivíduos não religiosos. Pesut e colaboradores 2525. Pesut B, Fowler M, Taylor EJ, Reimer-Kirkham S, Sawatzky R. Conceptualising spirituality and religion for healthcare. J Clin Nurs [Internet]. 2008 [acesso 19 out 2022];17(21):2803-10. DOI: 10.1111/j.1365-2702.2008.02344.x criticam o modo como a espiritualidade é tratada atualmente, afirmando que não é fundamentado na teologia e na filosofia, pois simplesmente recria o discurso religioso de maneira vaga e sem benefícios.

Os autores afirmam que há um confronto entre termos, ressaltando que a maior característica da espiritualidade é se opor à religião, sugerindo existir uma tendência à separação desses conceitos 2525. Pesut B, Fowler M, Taylor EJ, Reimer-Kirkham S, Sawatzky R. Conceptualising spirituality and religion for healthcare. J Clin Nurs [Internet]. 2008 [acesso 19 out 2022];17(21):2803-10. DOI: 10.1111/j.1365-2702.2008.02344.x. Outros trabalhos também destacam que muitos estudiosos tendem a conceber características de bom e ruim para espiritualidade e religião, respectivamente 55. Büssing A, Janko A, Baumann K, Hvidt NC, Kopf A. Spiritual needs among patients with chronic pain diseases and cancer living in a secular society. Pain Med [Internet]. 2013 [acesso 19 out 2022];14(9):1362-73. DOI: 10.1111/pme.12198, havendo, ainda, aqueles que empregam os termos de maneira similar. Por exemplo, Koenig 77. Koenig HG. Religion, spirituality, and medicine: research findings and implications for clinical practice. South Med J [Internet]. 2004 [acesso 19 out 2022];97(12):1194-200. DOI: 10.1097/01.SMJ.0000146489.21837.CE ressalta que os conceitos de espiritualidade e religiosidade foram utilizados de maneira intercambiável, com maior relevância à religião, por haver mais entendimento sobre seu significado.

A espiritualidade não deve ser usada para marginalizar a religião. Pelo contrário, é preciso dar importância, em meio técnico e prático, a um conceito que favoreça todos os pacientes e, inclusive, a religião pode ser um mecanismo encontrado pelo indivíduo para seu alinhamento espiritual. Entretanto, se o profissional de saúde se utiliza exclusivamente do sentido de religião, ele terá dificuldade de abordar a integralidade do indivíduo descrente.

Nesse sentido, percebe-se grave deficiência da compreensão desse construto e dificuldade de utilizá-lo em trabalhos científicos 33. Brady MJ, Peterman AH, Fitchett G, Mo M, Cella D. A case for including spirituality in quality of life measurement in oncology. Psychooncology [Internet]. 1999 [acesso 19 out 2022];8(5):417-28. DOI: 10/b8bxr6. Há resultados em que necessidades existenciais, de paz interior e doação não diferiram significativamente entre céticos e não céticos 55. Büssing A, Janko A, Baumann K, Hvidt NC, Kopf A. Spiritual needs among patients with chronic pain diseases and cancer living in a secular society. Pain Med [Internet]. 2013 [acesso 19 out 2022];14(9):1362-73. DOI: 10.1111/pme.12198. Por esse caminho, destinar o sentido de espiritualidade unicamente à religião e à crença em Deus excluiria um grande número de pessoas do cuidado espiritual 1919. Baldacchino D, Draper P. Spiritual coping strategies: a review of the nursing research literature. J Adv Nurs [Internet]. 2001 [acesso 19 out 2022];34(6):833-41. DOI: 10.1046/j.1365-2648.2001.01814.x.

Em contrapartida a essa discussão, Paley 2626. Paley J. Religion and the secularisation of health care. J Clin Nurs [Internet]. 2009 [acesso 19 out 2022];18(14):1963-74. DOI: 10.1111/j.1365-2702.2009.02780.x faz uma importante colocação sobre a ilógica necessidade de conceituar religião e espiritualidade baseando-se exclusivamente na teologia e na filosofia. Isso não leva em consideração o fato de que outras ciências, como antropologia, psicologia, sociologia e neurologia, também discursam sobre a natureza humana.

Observa-se, ainda, que a teologia não é um estudo universal reconhecido por todas as religiões. Embora Paley 2626. Paley J. Religion and the secularisation of health care. J Clin Nurs [Internet]. 2009 [acesso 19 out 2022];18(14):1963-74. DOI: 10.1111/j.1365-2702.2009.02780.xtenha esse posicionamento, é imprescindível notar suas considerações de que profissionais de saúde não carecem de cuidado espiritual, pois o estado laico exige separação da ordem civil da religiosa. Assim, configura-se mais uma confusão ou não entendimento acerca do cuidado espiritual, uma vez que não fere a laicidade de país, mas, quando ausente, deixa de contribuir para o bem-estar e a atenção humanizada ao paciente.

Historicamente, a medicina busca solucionar a desordem clínica, muitas vezes esquecendo-se do doente e do quão influenciado o corpo é pela mente. O adoecimento é um complexo que engloba corpo físico, fatores sociais e espirituais, de modo que o ser é afetado em sua unicidade. Consequentemente, o paciente demonstra insegurança, tem sua personalidade perturbada com o não reconhecimento de si e conscientiza-se de sua vulnerabilidade 44. Puchalski CM. The spiritual dimension: the healing force for body and mind. Cons-Ciências [Internet]. 2004 [acesso 19 out 2022];2:173-95. p. 183. Disponível: http://hdl.handle.net/10284/777
http://hdl.handle.net/10284/777...
,1010. Goleman D. Inteligência emocional: a teoria revolucionária que redefine o que é ser inteligente. 2ª ed. São Paulo: Objetiva; 1995.,1919. Baldacchino D, Draper P. Spiritual coping strategies: a review of the nursing research literature. J Adv Nurs [Internet]. 2001 [acesso 19 out 2022];34(6):833-41. DOI: 10.1046/j.1365-2648.2001.01814.x,2424. Bai M, Lazenby M, Jeon S, Dixon J, McCorkle R. Exploring the relationship between spiritual well-being and quality of life among patients newly diagnosed with advanced cancer. Palliat Support Care [Internet]. 2015 [acesso 19 out 2022];13(4):927-35. DOI: 10.1017/S1478951514000820.

No entanto, em uma abordagem a pacientes em salas de espera, constatou-se que, da média de três ou mais perguntas que desejavam fazer ao médico, apenas cerca de uma e meia era respondida. Infelizmente, essa realidade gera maiores insegurança e medo, além da dificuldade de seguir a prescrição médica, causada pelo não atendimento das necessidades emocionais 1010. Goleman D. Inteligência emocional: a teoria revolucionária que redefine o que é ser inteligente. 2ª ed. São Paulo: Objetiva; 1995..

Embora tenham observado muita variação em suas análises, Harrison e colaboradores 2727. Harrison JD, Young JM, Price MA, Butow PN, Solomon MJ. What are the unmet supportive care needs of people with cancer? A systematic review. Support Care Cancer [Internet]. 2009 [acesso 19 out 2022];17(8):1117-28. DOI: 10.1007/s00520-009-0615-5 identificaram algumas das necessidades de pacientes em tratamento contra câncer não atendidas, relacionadas aos domínios psicológico (12-85%), espiritual (14-51%) e da comunicação (2-57%), destacando-se o potencial dessa privação em interferir negativamente no bem-estar dos pacientes.

Com base no Quadro 3, percebe-se o quanto profissionais de saúde perdem ao negligenciar o cuidado espiritual, como melhora na qualidade de vida, suporte no enfrentamento da patologia e ressignificação desta. Esses benefícios tornariam o paciente mais apto ao tratamento, seja por aderir a melhores hábitos de vida, seja por apresentar emocional estabilizado.

Entretanto, muitos profissionais da saúde não dão crédito à ligação entre emocional e corpo físico, por vez tachando essa correlação de trivial 1010. Goleman D. Inteligência emocional: a teoria revolucionária que redefine o que é ser inteligente. 2ª ed. São Paulo: Objetiva; 1995.. Em vista disso, questiona-se se é recorrente a investigação por meio de perguntas breves dirigidas àqueles que apresentam dificuldade de aderir ao tratamento ou mesmo têm resposta ineficiente a este, tais quais: “como é seu relacionamento com sua família?”, “você está preocupado com algo?” e “o que está afligindo você?”. Aparentemente isso não é recorrente – basta relembrar que apenas metade das perguntas dos pacientes é respondida.

Com isso, vê-se a importância de tornar a espiritualidade frequente na clínica médica 1010. Goleman D. Inteligência emocional: a teoria revolucionária que redefine o que é ser inteligente. 2ª ed. São Paulo: Objetiva; 1995., uma vez que ela se refere à essência da pessoa, sendo capaz de influenciar mente, corpo, saúde e comportamento. Além disso, a espiritualidade pode unificar os aspectos do indivíduo e, quando trabalhada, ser um mecanismo de sintonia entre estes.

O estado de equilíbrio relaciona-se ao entendimento do significado da vida, assim como seu propósito, atuando no bem-estar físico, psíquico e social e colaborando com o enfrentamento de problemas 1919. Baldacchino D, Draper P. Spiritual coping strategies: a review of the nursing research literature. J Adv Nurs [Internet]. 2001 [acesso 19 out 2022];34(6):833-41. DOI: 10.1046/j.1365-2648.2001.01814.x. Assim, a espiritualidade desempenha importante papel na compreensão da doença e do sofrimento pelo paciente 33. Brady MJ, Peterman AH, Fitchett G, Mo M, Cella D. A case for including spirituality in quality of life measurement in oncology. Psychooncology [Internet]. 1999 [acesso 19 out 2022];8(5):417-28. DOI: 10/b8bxr6,1313. Cohen R, Bavishi C, Rozanski A. Purpose in life and its relationship to all-cause mortality and cardiovascular events: a meta-analysis. Psychosom Med [Internet]. 2016 [acesso 19 out 2022];78(2):122-33. DOI: 10.1097/PSY.0000000000000274.

Para reforçar essa ideia, considerando que a natureza subjetiva da dor já é conhecida pela prática médica, o grau de sofrimento pode ser variável em duas pessoas com mesmo grau de dor. A espiritualidade é, então, um suporte para o modo de valorização da vida e da condição médica, ainda que existam sintomas 33. Brady MJ, Peterman AH, Fitchett G, Mo M, Cella D. A case for including spirituality in quality of life measurement in oncology. Psychooncology [Internet]. 1999 [acesso 19 out 2022];8(5):417-28. DOI: 10/b8bxr6.

A essência espiritual pode ser a solução de muitas doenças incuráveis, pois por meio dela o paciente sente-se mais confortável para aceitar tudo o que está acontecendo com ele e, consequentemente, sua qualidade de vida tende a melhorar. No estudo de Puchalski 1414. Puchalski CM. The role of spirituality in health care. Proc (Bayl Univ Med Cent) [Internet]. 2017 [acesso 19 out 2022];14(4):352-7. p. 352. DOI: 10.1080/08998280.2001.11927788, 93% de 108 mulheres responderam que suas crenças espirituais as auxiliaram a suportar o câncer 1414. Puchalski CM. The role of spirituality in health care. Proc (Bayl Univ Med Cent) [Internet]. 2017 [acesso 19 out 2022];14(4):352-7. p. 352. DOI: 10.1080/08998280.2001.11927788.

Com isso, pode-se considerar também a importância de uma conduta voltada ao bem-estar espiritual em recém-diagnosticados com câncer avançado e o quanto isso resultaria em maior satisfação com a vida para esses pacientes 2424. Bai M, Lazenby M, Jeon S, Dixon J, McCorkle R. Exploring the relationship between spiritual well-being and quality of life among patients newly diagnosed with advanced cancer. Palliat Support Care [Internet]. 2015 [acesso 19 out 2022];13(4):927-35. DOI: 10.1017/S1478951514000820. Portanto, é indiscutível a aplicabilidade da espiritualidade à saúde e que o propósito de vida trazido por ela tem a capacidade de levar vitalidade e contentamento ao paciente, proporcionando comportamentos que facilitam a terapêutica convencional, como um estilo de vida e hábitos emocionais saudáveis 1313. Cohen R, Bavishi C, Rozanski A. Purpose in life and its relationship to all-cause mortality and cardiovascular events: a meta-analysis. Psychosom Med [Internet]. 2016 [acesso 19 out 2022];78(2):122-33. DOI: 10.1097/PSY.0000000000000274.

Em contrapartida, Balboni e colaboradores 2121. Balboni MJ, Sullivan A, Amobi A, Phelps AC, Gorman DP, Zollfrank A et al. Why is spiritual care infrequent at the end of life? Spiritual care perceptions among patients, nurses, and physicians and the role of training. J Clin Oncol [Internet]. 2012 [acesso 19 out 2022];31(4):461-7. DOI: 10.1200/JCO.2012.44.6443
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mostram que pacientes receberam 13% de cuidado espiritual de enfermeiros e 6% de seus médicos e, ao questionar os profissionais, os primeiros disseram ter proporcionado esses cuidados a 31% de seus pacientes, e os últimos, a 24% 2121. Balboni MJ, Sullivan A, Amobi A, Phelps AC, Gorman DP, Zollfrank A et al. Why is spiritual care infrequent at the end of life? Spiritual care perceptions among patients, nurses, and physicians and the role of training. J Clin Oncol [Internet]. 2012 [acesso 19 out 2022];31(4):461-7. DOI: 10.1200/JCO.2012.44.6443
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. Esses números seriam questionáveis ao imaginar, por exemplo, que um desses pacientes tenha procurado atendimento por causa de uma simples cefaleia. No entanto, esse estudo foi realizado com indivíduos no fim da vida, momento muito delicado que requer, mais do que nunca, atendimento integral.

No tocante ao grau de importância do cuidado espiritual, 65% dos entrevistados de uma pesquisa consideraram positivo o fato de os médicos conversarem com eles sobre espiritualidade, porém apenas 10% afirmaram ter vivenciado esses momentos com seus profissionais. Ainda, analisando pacientes com alterações pulmonares, verificou-se que 66% destes concordavam que uma abordagem espiritual fortaleceria sua confiança em seus médicos, e 94% dos que consideravam esse quesito importante gostariam de ter essa conversa com os profissionais e que estes fossem sensíveis a suas crenças 1414. Puchalski CM. The role of spirituality in health care. Proc (Bayl Univ Med Cent) [Internet]. 2017 [acesso 19 out 2022];14(4):352-7. p. 352. DOI: 10.1080/08998280.2001.11927788.

Além disso, 50% dos entrevistados afirmaram que os médicos deveriam realizar o cuidado espiritual em casos graves, mesmo não dando importância a essa conduta 1414. Puchalski CM. The role of spirituality in health care. Proc (Bayl Univ Med Cent) [Internet]. 2017 [acesso 19 out 2022];14(4):352-7. p. 352. DOI: 10.1080/08998280.2001.11927788. Já quanto aos médicos e enfermeiros, estes também concordaram que o cuidado espiritual deveria ao menos ser aplicado ocasionalmente no tratamento de pacientes com câncer avançado 2121. Balboni MJ, Sullivan A, Amobi A, Phelps AC, Gorman DP, Zollfrank A et al. Why is spiritual care infrequent at the end of life? Spiritual care perceptions among patients, nurses, and physicians and the role of training. J Clin Oncol [Internet]. 2012 [acesso 19 out 2022];31(4):461-7. DOI: 10.1200/JCO.2012.44.6443
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. Percebe-se, assim, o não alinhamento entre médicos e pacientes verificado no Quadro 2, mesmo sabendo que as crenças destes interferem em seu comportamento e em decisões diante do enfrentamento de doenças 1414. Puchalski CM. The role of spirituality in health care. Proc (Bayl Univ Med Cent) [Internet]. 2017 [acesso 19 out 2022];14(4):352-7. p. 352. DOI: 10.1080/08998280.2001.11927788.

Nesse sentido, Koenig 77. Koenig HG. Religion, spirituality, and medicine: research findings and implications for clinical practice. South Med J [Internet]. 2004 [acesso 19 out 2022];97(12):1194-200. DOI: 10.1097/01.SMJ.0000146489.21837.CEcita estudo de Silvestri e colaboradores realizado com 100 pacientes com câncer avançado, seus cuidadores e 257 oncologistas, no qual se pediu que os participantes classificassem, por ordem de importância, uma série de fatores capazes de influenciar a decisão pelo tratamento quimioterápico. Todos os grupos consideraram a recomendação médica o elemento mais importante. Em segundo lugar, para pacientes e seus familiares, veio a fé em Deus, o que vai de encontro à opinião dos médicos, para os quais este era o fator menos relevante.

Embora este artigo tenha utilizado os termos “religião” e “espiritualidade” como intercambiáveis, sabe-se que, conforme visto anteriormente, a segunda engloba a primeira. Nessa perspectiva, novamente se comprovam a falta de discussão desse tema entre os envolvidos 77. Koenig HG. Religion, spirituality, and medicine: research findings and implications for clinical practice. South Med J [Internet]. 2004 [acesso 19 out 2022];97(12):1194-200. DOI: 10.1097/01.SMJ.0000146489.21837.CE e a grande problemática em torno das diferentes compreensões sobre o cuidado espiritual.

Balboni e colaboradores 2121. Balboni MJ, Sullivan A, Amobi A, Phelps AC, Gorman DP, Zollfrank A et al. Why is spiritual care infrequent at the end of life? Spiritual care perceptions among patients, nurses, and physicians and the role of training. J Clin Oncol [Internet]. 2012 [acesso 19 out 2022];31(4):461-7. DOI: 10.1200/JCO.2012.44.6443
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, em estudo sobre a falta de cuidado espiritual para pacientes com câncer terminal, deixaram claro aos participantes que estes não precisavam considerar-se espiritualizados ou religiosos para responder à pesquisa. Os resultados foram os seguintes: na relação entre pacientes e enfermeiros, 41% destes e 67% daqueles classificam o impacto das experiências com o cuidado espiritual como muito positivo, e, entre pacientes e médicos, 20% destes e 72% daqueles avaliaram com essa mesma classificação; 81% e 63% dos pacientes responderam que nunca receberam cuidados espirituais de médicos e enfermeiros, respectivamente. Essa realidade decorre do fato de mais de 80% desses profissionais não terem sidos treinados para exercer o cuidado espiritual.

O uso da espiritualidade é fator de grande alívio mesmo em situações exaustivas. A respeito disso, avaliação da qualidade de vida na oncologia verificou, entre pacientes com elevado bem-estar espiritual, que 78,6% dos que não apresentavam fadiga e 66,2% dos que a apresentavam sentiam prazer em viver; em contrapartida, apenas 26,8% e 10,7%, respectivamente, daqueles com baixo bem-estar espiritual mencionaram essa satisfação 33. Brady MJ, Peterman AH, Fitchett G, Mo M, Cella D. A case for including spirituality in quality of life measurement in oncology. Psychooncology [Internet]. 1999 [acesso 19 out 2022];8(5):417-28. DOI: 10/b8bxr6.

Por tudo isso, o exercício da espiritualidade na clínica médica não apenas se demonstrou importante, mas condição sine qua non para o exercício ético da medicina, de modo a tratar o paciente com mais compaixão, compreendendo sua integralidade.

Considerações finais

Este estudo possibilitou compreender a espiritualidade na perspectiva da saúde, demonstrando que ainda é necessário disseminar conhecimento até mesmo no que toca à compreensão correta do termo, a fim de aumentar sua aplicabilidade na prática médica, a qual ainda é muito baixa. Com isso, busca-se proporcionar aos pacientes os benefícios do cuidado espiritual levantados por esta pesquisa.

Ressalta-se, por fim, que o escopo deste trabalho não é o ideal, haja vista a baixa abordagem da temática.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Fev 2023
  • Data do Fascículo
    Oct-Dec 2022

Histórico

  • Recebido
    20 Jul 2021
  • Revisado
    26 Out 2022
  • Aceito
    27 Out 2022
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