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Os psicofármacos como uma necessidade temporal da atualidade: uma perspectiva psicológica

RESUMO DE TRABALHO ACADÊMICO

Os psicofármacos como uma necessidade temporal da atualidade: uma perspectiva psicológica* * Monografia apresentada ao Curso de Psicologia da Universidade Federal Fluminense à banca examinadora como requisito obrigatório para obtenção do grau de Bacharel em Psicologia

Hérica Cristina Batista GonçalvesI; Roberto Godofredo Fabri FerreiraII

IPsicóloga formada pela Universidade Federal Fluminense E-mail: hericacris@yahoo.com.br

IIMédico e Professor adjunto da Universidade Federal Fluminense. Especialista em psiquiatria pelo Instituto de Psiquiatria da UFRJ. Mestre em História pela Universidade Federal Fluminense. Doutor em História pela Universidade Federal Fluminense. Experiência na área de Morfologia, com ênfase em Neuroanatomia Humana, Professor da pós-graduação em História da UFF e regente de coral. E-mail: rgfabri@yahoo.com.br

A pós-modernidade vive uma crise onde todos os valores pregados pela Revolução Francesa e pelo Estado do Bem-Estar não se concretizaram. A felicidade para todos, a igualdade, a fraternidade e a liberdade se tornaram conceitos fora da realidade, nem são atualmente considerados como realizáveis. O racionalismo cartesiano nos levou a acreditar na lógica de que todo conhecimento verdadeiro só poderia vir através da ciência, do método racional e desprovido de emoções. A verdade só poderia ser encontrada através da objetividade do pensamento lógico-matemático e da visão mecanicista do mundo. Pensamento que contribuiu para o desenvolvimento do Iluminismo, da Revolução Científica e da evolução do capitalismo. Assim, vemos uma sociedade marcada pelo capitalismo pós-industrial, consumo exacerbado, movimento constante, efemeridade e fragilidade dos laços afetivos entre as pessoas. É neste contexto que surgem os especialistas com seus recursos técnicos, tendo em mente "um homem" cujas capacidades são ilimitadas, cabendo a eles a tarefa de desenvolvê-las ou "corrigir as disfunções" que impedem a sua manifestação. Com o avanço da biomedicina e da engenharia genética, novos métodos de diagnóstico e de tratamento estão sendo criados, o que torna a questão da medicalização cada vez mais complexa. Um exemplo bastante comum é o diagnóstico da hiperatividade. Uma criança que não se comportava bem na escola era, alguns anos atrás, um caso para que os pais e a escola repensassem os médotos de ensino, de recuperação e de educação dessa criança. Mas hoje, o mesmo caso é considerado pertinente à saúde e, por isso, merecedor de diagnóstico: hiperatividade, a criança é um problema a ser resolvido pelo médico, que receita um derivado da anfetamina, o metilfenidato, que fará com que ela se comporte. Assim, o que antes se considerava "característica de personalidade", hoje é convertido em doença. A absolutização da medicação, aparentemente sugerida pelas indústrias farmacêuticas, tem como propósito ser agente construtor de um sujeito sem conflitos, como mais um instrumento de modelização subjetiva, de formatação de padrões de normalidade que pretendem dar conta de todos os conflitos da natureza. É constatado o que Foucault denominou de biopoder, o poder sobre a vida, que se transformou em mais um instrumento de modelização subjetiva da vida em todos os seus aspectos. Com isso, a medicalização da vida vem se caracterizando por transformar fenômenos de ordem social, política e econômica em problemas médicos, é uma conseqüência direta do biopoder exercido pela lógica do capitalismo. O "tradicional diálogo", dá lugar aos exames clínicos para a obtenção do diagnóstico. Assistimos, atualmente, uma progressiva compreensão neuroquímica dos fenômenos psíquicos, onde todos os dias são criadas novas patologias para as quais se busca uma solução medicamentosa. Vale ressaltar que não é intenção em momento algum de fechar as temáticas desenvolvidas durante o trabalho. O que é pretendido, longe de ser uma conclusão, é uma reflexão sobre os modos de encarar e vivenciar a medicalização. Bem como sua utilização na contemporaneidade, que influencia a vida psíquica e social do indivíduo como um dos mecanismos mais estruturantes das práticas médicos psiquiátricas. Assim nos interrogamos: até que ponto as novas tecnologias atuarão como forma de controle da vida com objetivo de solucionar os paradoxos da existência humana?

Palavras-chave: medicalização social; Farmacologia, modelização subjetiva.

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    Monografia apresentada ao Curso de Psicologia da Universidade Federal Fluminense à banca examinadora como requisito obrigatório para obtenção do grau de Bacharel em Psicologia
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      03 Mar 2009
    • Data do Fascículo
      Dez 2008
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