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História da psicologia social no Rio de Janeiro: dois importantes personagens

The history of social psychology in Rio de Janeiro: two important characters

Resumos

A psicologia social de meados da década de 1960 e início da década de 1970 conheceu, segundo alguns autores, o que se denominou "crise". Nas décadas seguintes, as discordâncias teóricas e metodológicas presentes neste campo evidenciaram não apenas posições antagônicas em relação a temas importantes no campo da psicologia social, como também deram visibilidade a alguns autores que representavam estas rivalidades. No Brasil e, mais especificamente no Rio de Janeiro, dois personagens importantes tiveram seus nomes e suas obras relacionados a estes antagonismos: Schneider e Rodrigues. Nosso objetivo será apresentar um relato da história destes importantes personagens da psicologia social no Rio de Janeiro.

Psicologia Social; História; Biografia; Aroldo Rodrigues; Eliezer Schneider


Social psychology, from the mid 1960's to the beginning of the 1970's, went through, according to some authors, what is called "crisis". Throughout the following decades, theoretical and methodological disagreements present in this field have shown not only antagonistic positions in relation to important themes in the field of social psychology, but have also shed light on some authors who represented these rivalries. In Brazil, particularly in Rio de Janeiro, two important characters had their names and works connected to these antagonisms: Schneider & Rodrigues. Our aim is to present an account of history of these important characters of the social psychology in Rio de Janeiro.

Social Psychology; History; Biography; Aroldo Rodrigues; Eliezer Schneider


TEMÁTICAS DIVERSAS

História da psicologia social no Rio de Janeiro: dois importantes personagens

The history of social psychology in Rio de Janeiro: two important characters

Renato Sampaio Lima

Psicólogo. Doutor em Psicologia Social pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Professor Adjunto do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Sergipe. Endereço: Universidade Federal de Sergipe, Centro de Educação de Ciências Humanas. Av. Marechal Rondon, s/n - Jardim Rosa Elze. CEP: 49100-000 - Aracaju, SE - Brasil E-mail: renatosamp@uol.com.br

RESUMO

A psicologia social de meados da década de 1960 e início da década de 1970 conheceu, segundo alguns autores, o que se denominou "crise". Nas décadas seguintes, as discordâncias teóricas e metodológicas presentes neste campo evidenciaram não apenas posições antagônicas em relação a temas importantes no campo da psicologia social, como também deram visibilidade a alguns autores que representavam estas rivalidades. No Brasil e, mais especificamente no Rio de Janeiro, dois personagens importantes tiveram seus nomes e suas obras relacionados a estes antagonismos: Schneider e Rodrigues. Nosso objetivo será apresentar um relato da história destes importantes personagens da psicologia social no Rio de Janeiro.

Palavras-chave: Psicologia Social; História; Biografia; Aroldo Rodrigues; Eliezer Schneider.

ABSTRACT

Social psychology, from the mid 1960's to the beginning of the 1970's, went through, according to some authors, what is called "crisis". Throughout the following decades, theoretical and methodological disagreements present in this field have shown not only antagonistic positions in relation to important themes in the field of social psychology, but have also shed light on some authors who represented these rivalries. In Brazil, particularly in Rio de Janeiro, two important characters had their names and works connected to these antagonisms: Schneider & Rodrigues. Our aim is to present an account of history of these important characters of the social psychology in Rio de Janeiro.

Key words: Social Psychology. History. Biography. Aroldo Rodrigues. Eliezer Schneider.

APRESENTAÇÃO

Ao longo das décadas de 60, 70 e 80, dois importantes personagens influenciaram a Psicologia Social no Rio de Janeiro: Eliezer Schneider e Aroldo Rodrigues. O primeiro atuou no campo da institucionalização da psicologia, junto com outros professores como Antonio Gomes Penna e Franco Lo Presti Seminério. O segundo fez parte da primeira turma de psicologia da Pontifícia Universidade Católica (PUC) e foi o mais considerado representante da Psicologia Social norte-americana no Brasil. Em função das contribuições de ambos, tanto teóricas como na formação de pesquisadores no campo da Psicologia Social no Rio de Janeiro, apresentaremos algumas de suas posições sobre temas importantes no campo da psicologia social.

A partir de meados da década de 60 e início da década de 70, a Psicologia Social se depara com o que alguns autores (RODRIGUES; ASSMAR; JABLONSKI, 2000; LANE, 1981; ARRUDA, 1992) denominaram "crise" no campo da Psicologia Social. Esta crise pode ser compreendida como um momento de reflexão sobre as bases teóricas e metodológicas da Psicologia Social cognitiva norte-americana. Tanto Schneider como Aroldo Rodrigues participaram ativamente deste processo de discussões.

A CONTRIBUIÇÃO DE ELIEZER SCHNEIDER

A entrada de Schneider na psicologia ocorreu bem antes do reconhecimento desta como profissão. Segundo Jacó-Vilela (2001, p. 13):

A oportunidade de ingresso de Schneider na Psicologia surge através de um concurso do DASP, em 1941, para "Técnico de Assuntos Educacionais", o que lhe possibilita ingressar no Instituto de psicologia - então um órgão suplementar da Universidade do Brasil, atual UFRJ - e dedicar-se às atividades de "psicologista", sob a orientação de Jayme Grabois, à época diretor do órgão.

Embora Schneider faça parte de uma geração, os chamados "Psicologistas", que foi importante para a institucionalização da psicologia no país e no Rio de Janeiro, com a reforma universitária de 1968, tornou-se professor de psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ingressou também na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), aposentou-se compulsoriamente nos anos 80 da UFRJ e da UERJ, mas permaneceu vinculado à Universidade Gama Filho (UGF). Ao longo de mais de 40 anos de ensino e pesquisa, publicou em torno de 108 artigos. No entanto, o que gostaríamos de destacar é a publicação do seu único livro, Psicologia Social - Histórica, Cultural e Política, (SCHNEIDER, 1978). No segundo capítulo deste, cujo título é "A Psicologia Social no Estudo da Cultura e da História", encontramos algumas de suas idéias sobre o campo da Psicologia Social. O capítulo apresenta autores como Wundt, Claparède, Dewey, Hull, Spence, Lewin, entre outros, destacando-se a importância dada à abordagem histórica e à influência da cultura (SCHNEIDER, 1978). Discordando de toda uma tradição experimentalista na psicologia, sendo Spence1 1 Spence foi professor de Schneider durante seu mestrado na Iowa University e um dos mais destacados discípulos de Clark Hull. um dos representantes citados, Schneider (1978) afirma que sua opção está longe daquela apresentada por Wundt, que distinguia a Psicologia Experimental Fisiológica da Psicologia dos Povos. Para Schneider (1978), haveria uma Psicologia Social da Cultura e da História que, não sendo isolada do restante da psicologia, poderia fazer uso de seus conceitos básicos na busca da compreensão de processos micro e macrossociais. Schneider (1978) não reprovava a existência da psicologia experimental, mas considerava seus limites. Para isso, cita um artigo de Nevit Sanford de 1965, com o título "Estudarão os Psicólogos os problemas humanos?", com o qual concorda em relação ao combate à posição dominante de então, de que a psicologia experimental seria a verdadeira ciência psicológica (SCHNEIDER, 1978).

Schneider se voltava, desde o início do seu ingresso na psicologia, para a problemática humana e talvez esse interesse tenha sido decisivo na sua inclinação para o campo da Psicologia Social. Segundo Krüger (2001), essa predileção por tal área da psicologia teria ocorrido em função da sugestão, dada por um dos professores de Schneider, de que ele explorasse, no seu retorno ao Brasil, temas relativos à dinâmica de grupo. É importante o fato de Schneider ter feito referências, nas décadas de 70 e 80, a obras que apresentavam resistência ao modo hegemônico de se fazer psicologia. Em artigos como "A Psicologia Social no Brasil" (SCHNEIDER, 1971), e "A psicologia social como problema humano - uma síntese psico-histórica de seus primórdios" (SCHNEIDER, 1985), Schneider apresentava uma preocupação com a necessidade de a Psicologia Social se voltar para temas que não serviriam apenas para a formulação de teorias generalistas, mas que pudessem contribuir para o entendimento do humano em sua diversidade histórica e cultural.

Embora Schneider tenha feito sua formação em psicologia nos Estados Unidos, na Iowa University, isso não o impossibilitou de apresentar uma visão crítica sobre os caminhos que a psicologia tomou naquele país. Diferentemente de Aroldo Rodrigues, e talvez por pertencerem a gerações distintas, não buscou simplesmente, no seu retorno ao Brasil, reproduzir os conhecimentos da psicologia norte-americana.

Em relação ao campo da Psicologia Social é importante frisarmos a aproximação de Schneider a autores como Klineberg. Segundo ele:

Klineberg destaca a importância das normas culturais da conduta e a abordagem comparativa intercultural, humana, com o decidido apoio de Chauvin, Duijker e outros participantes que, apesar da prudência de Zazzo quanto aos limites da comparabilidade, nela encontram novas perspectivas para o desenvolvimento da Psicologia Social (SCHNEIDER,1978, p. 78).

É ainda importante destacarmos que Schneider estava atento às renovações no campo da Psicologia Social não apenas nos Estados Unidos, mas também na Europa. Schneider (1978) afirma que Moscovici e Argyle teriam contribuído com as obras Sociedade contra Natureza e A Interação Social para importantes reflexões no campo da Psicologia Social. Para Sá (2001), Schneider teve uma importante participação na discussão crítica do campo da Psicologia Social no Rio de Janeiro:

De fato, como explicar, em face do caráter auto-contido, isolacionista e dogmático da Psicologia Social de trinta anos atrás, que se tenha criado, pelo menos no Rio de Janeiro, uma receptividade tão boa às orientações alternativas que começaram a emergir depois da "crise da Psicologia Social dominante"? De onde esses cariocas, psicólogos sociais brasileiros de segunda geração, dentre os quais me incluo, receberam informação sobre uma forma mais ampliada, diversificada e flexível de compreender a disciplina e seu objeto, de tal modo a criar neles a sensibilidade para a exploração posterior de alternativas explícitas? A minha resposta convicta é a seguinte: das aulas do prof. Eliezer Schneider, em especial das que ele dava nas Universidades Federal e do Estado do Rio de Janeiro - UFRJ e UERJ (SÁ, 2001, p. 41).

Ao longo de sua vida acadêmica, Schneider foi professor de várias instituições públicas e privadas, entre elas: a UFRJ, a UERJ, a UGF, a Universidade Santa Úrsula (USU), a Faculdade de Humanidades Pedro II (FAHUPE), a Faculdade Celso Lisboa e o Instituto de Seleção e Orientação Profissional (ISOP). Segundo Penna (2001), a entrada de Schneider na Universidade do Estado do Rio de Janeiro no ano de 1965 ocorreu a partir do convite feito pelo professor Hans Ludwig Lippmann para que assumisse a disciplina de Psicologia Social. Schneider manteve-se como professor nesta disciplina durante toda a sua permanência nessa instituição. Ainda como nos lembra Penna (2001), Schneider teria tentado participar do concurso para a vaga de professor adjunto de Psicologia Social na Universidade Federal Fluminense, porém, como era necessário um atestado de ideologia concedido pelo DOPS, desistiu de sua inscrição no referido concurso.

A compreensão de Schneider sobre a Psicologia Social era muito própria à história desse acadêmico que, ao longo de sua vida, apresentou um espírito aberto às contribuições das várias psicologias e aos conhecimentos oriundos de outras áreas. Para esse pesquisador brasileiro, a Psicologia Social deveria reunir o estudo dos processos micro e macrossociais com temas da cultura e da história. Segundo Krüger (2001), Schneider teria se aproximado do projeto de Lucien Febvre de integração das ciências sociais, entre elas a psicologia. No entanto, se esse ideal multidisciplinar estava presente em Schneider ele "reservava à psicologia uma posição epistemológica mais relevante" (KRUGER, 2001, p. 63).

Para Jacó-Vilela (2001, p. 21),

[...] a principal influência de Schneider se encontra, sem dúvida, na formação de toda uma geração de psicólogos sociais que, com ele, aprendemos a estender nosso olhar além do paradigma individualista que geralmente caracteriza a Psicologia.

Muitos de seus alunos concordariam com tal afirmação e resgatariam muitas outras histórias sobre a vida acadêmica desse professor e pesquisador que incentivou a busca da liberdade intelectual, sendo esta qualidade importante para toda uma geração que experimentou a crítica de um modelo de psicologia que vinha predominantemente dos Estados Unidos e que começava a se esgotar nas décadas de 60 e 70.

Não encontramos em Schneider um interesse claro pelo tema da transformação social, o que seria característico de algumas psicologias sociais no Brasil a partir da década de 80. Schneider não era certamente partidário dos ideais positivistas, mas buscou pensar o campo da Psicologia Social integrado à psicologia geral. Houve na sua análise da Psicologia Social no Brasil2 2 Trabalho apresentado no Fórum de Psicologia Social, realizado em outubro de 1970, organizado pela Associação Brasileira de Psicologia Aplicada. um entendimento da importância do psicólogo social para o desenvolvimento social do país.

Em face dos objetivos e programas de desenvolvimento econômico do Brasil, implicando obrigatoriamente nas humaníssimas metas de benefício e desenvolvimento geral de sua população, há um papel decisivo que pode ser desempenhado pelo psicólogo e pelo educador sob a ação nuclear e catalisadora do psicólogo social (SCHNEIDER, 1971, p. 12).

Schneider não buscou estabelecer uma Psicologia Social que se afastasse completamente dos conceitos mais gerais da psicologia, diferentemente do que aconteceria com a Psicologia Social no Brasil a partir da década de 80. Desde então, muitos psicólogos passariam a trazer influências de outros campos, a partir das leituras de Marx, Foucault, Deleuze e Guattari e tantos outros interlocutores, o que levaria à constituição de diversas psicologias sociais com bases teóricas predominantemente não-psicológicas.

A INFLUÊNCIA DE AROLDO RODRIGUES

A Psicologia Social no Brasil, antes da denominada "crise da Psicologia Social", apresentava uma forma predominantemente norte-americana. O grande representante dessa Psicologia Social no Brasil e no Rio de Janeiro, como afirmamos, foi Aroldo Rodrigues. Nesse período não havia maiores contestações de uma psicologia que tinha como grandes representantes pesquisadores que estavam do outro lado do Atlântico. Como afirmamos anteriormente, no Rio de Janeiro, Schneider talvez tenha sido uma das poucas vozes dissonantes.

Aroldo Rodrigues formou-se na Pontifícia Universidade Católica, no ano de 1956 e, em seguida, deu prosseguimento aos seus estudos na University of Kansas, retornando ao Brasil em 1959, com o grau de mestre em psicologia. Logo foi convidado, pelo padre Bënko,3 3 Padre Benkö, Natural de Paks, Hungria. Cursou, entre 1949 e 1951, licenciatura em Psicologia na Universidade Católica de Louvain. Na mesma instituição doutorou-se em Psicologia Aplicada. No ano de 1954 fixa residência no Brasil. Em 1957, aceita o convite do padre Alonso e passa a dirigir o Instituto de Psicologia Aplicada, na PUC-RJ. para ser professor na PUC. Depois de alguns anos como professor de psicologia e com uma carga de trabalho pesada, acabou retornando aos Estados Unidos, com o incentivo de Padre Bënko, para fazer o doutorado. Sobre esse episódio, afirma Aroldo Rodrigues (2008, p. 10):

Fr. Antonius Bënko, a Ph.D. in psychology from the University of Louvain, Belgium, had taken over the coordination of the course created by Hanns Lippmann, and encouraged me to go back to the United States to attain my Ph.D.. He promised to hold my position at the Catholic University until my return, and that a promotion would be automatic should I come back with the degree. With these incentives I applied to UCLA for the 1962/63 academic year.4 4 Padre Antonius Bënko, Ph.D. em Psicologia pela Universidade de Louvain, na Bélgica, assumiu a coordenação do curso criado por Hanns Lippmann, e me incentivou a voltar aos Estados Unidos para fazer meu Ph.D. Ele prometeu manter a minha posição na Universidade Católica até o meu regresso, e que haveria uma promoção automática a partir do meu retorno com o grau de doutor. Com estes incentivos eu me candidatei à UCLA para o ano letivo de 1962/63. (Tradução nossa).

Na University of Califórnia, Los Angeles (UCLA), fez seu doutorado sob a orientação de Hal Kelley. Definitivamente as experiências acadêmicas nessa instituição norte-americana fizeram Aroldo Rodrigues permanecer na área de Psicologia Social. Durante quatro anos, teve um treinamento que privilegiava o uso da metodologia experimental e da estatística, além de fazer vários cursos de Psicologia Social. Nesse momento os pesquisadores do campo da Psicologia Social norte-americana de que Aroldo Rodrigues mais se aproximou foram: Fritz Heider, Theodore M. Newcomb e Robert Zajonc, dedicando-se principalmente à teoria do equilíbrio de Heider.

Aroldo Rodrigues retornou ao Brasil no ano de 1966, com Ph.D. em psicologia, e retomou suas atividades como professor na PUC. Porém, como comenta:

Things went well at first, but soon started to change. The huge difference between the facilities I was used to at UCLA, and the limitations of the incipient department of psychology of the Catholic University immediately indicated to me that I had to lower considerably my level of aspiration as far as research activity was concerned. Worse than that, however, to my deep disappointment, students and colleagues alike showed very little, if any at all, interest in my research on balance theory.5 5 As coisas foram bem no início, mas logo começaram a mudar. A enorme diferença entre as instalações que eu utilizava na UCLA, e as limitações do incipiente departamento de psicologia da Universidade Católica imediatamente indicou-me que eu tinha de baixar consideravelmente o meu nível de aspiração, como as atividades de investigação que estavam em causa. Pior que isso, no entanto, foi a minha profunda decepção com alunos e colegas que mostraram muito pouco, se houve algum, interesse na investigação na teoria do equilíbrio. (Tradução nossa). (RODRIGUES, 2008, p. 12)

O clima inamistoso identificado por Aroldo Rodrigues talvez já representasse os efeitos da "crise da Psicologia Social", no Brasil. No entanto, o confronto com o modelo norte-americano se acirrou nas décadas de 70 e 80. Segundo Rodrigues (2008), os psicólogos no Brasil não se interessavam por metodologia nem por teoria, mas, quase exclusivamente, por política. Para Bomfim (2003), a "crise" no Brasil se refletiu em fóruns de discussão que buscavam repensar os impasses teóricos e metodológicos. Em outubro de 1970, realizou-se no Rio de Janeiro, o "Fórum de Psicologia Social", promovido pela Associação Brasileira de Psicologia Aplicada. Entre os participantes desse evento, estavam: Antonio Gomes Penna, Aroldo Rodrigues, Ataliba Crespo, Arrigo Angelini, Célio Garcia e Eliezer Schneider.

Em 1973, Aroldo Rodrigues foi eleito presidente da Associação Latino-Americana de Psicologia Social (ALAPSO). Tal fato ocorreu provavelmente em função do destaque que o professor carioca alcançara, não apenas no Rio de Janeiro, mas no restante do país e na América Latina. Essa mesma associação tinha algumas ramificações, como a Associação Chilena de Psicologia Social (ACHIPSO) e a Associação Venezuelana de Psicologia Social (AVEPSO). A Associação Brasileira de Psicologia Social (ABRAPSO) surgiria, em 1980, a partir de uma discordância com a ALAPSO, e tendo como principal personagem desse rompimento Silvia Lane. Nos anos que se seguiriam, a professora da PUC de São Paulo seria a principal personagem do confronto com o professor da PUC do Rio de Janeiro. Um dos temas em destaque nessa contraposição, além do modelo de homem e sociedade, girou em torno da neutralidade do pesquisador em Psicologia Social e do status de ciência deste campo da psicologia. Sobre essas diferenças, Rodrigues (1986, p. 43) afirma:

Um exemplo eloqüente da divergência existente entre os psicólogos sociais sobre o que seja a Psicologia Social pode ser visto, aqui entre nós, ao compararmos os livros de Psicologia Social de minha autoria e o livro intitulado Psicologia Social editado por Silvia Lane e Wanderley Codo. Um leigo que pretendesse inteirar-se acerca do que seria este setor do conhecimento chamado de Psicologia Social e lesse esses livros, seguramente ficaria mais confuso do que antes de fazê-lo.

Silvia Lane defendeu uma posição diferente da sustentada por Aroldo Rodrigues. O debate entre essas propostas foi registrado na revista Psicologia: ciência e profissão, com o título: "A tecnologia social na psicologia: controvérsias" (LANE, 1985). Se, para Rodrigues, a Psicologia Social é uma ciência básica e neutra que permitiria a solução de problemas sociais, através de suas aplicações, para Lane (1985) tal concepção poderia transformar o psicólogo em agente da adaptação. Segundo essa autora, "o fundamental, [...] é a psicologia rever sua prática, pois teoria e prática têm de vir juntas. Não se pode dividir a Psicologia Social em ciência aplicada e pura" (LANE, 1985, p. 19).

Não há dúvida que Aroldo Rodrigues assegurava a separação entre psicologia e política a partir de uma visão de conhecimento científico consolidada na Psicologia Social norte-americana e na sua forma de pensar a psicologia. A necessidade de se adequar à exigência de fazer pesquisas, que levasse em conta a realidade brasileira e a solução de problemas sociais, levou Aroldo Rodrigues à denominada Tecnologia Social, apresentada por Jacob Varela.

Em síntese, as dificuldades de Aroldo Rodrigues podem ser compreendidas em função das novas exigências que os psicólogos sociais no Brasil se faziam: a necessidade de uma pesquisa que pensasse a realidade social brasileira e a possibilidade de sua transformação.

UM DEBATE EM TORNO DA NEUTRALIDADE E DA LIBERDADE ACADÊMICA

Um acontecimento, denominado por Antonio Paim (1979) como a "Crise da PUC", nos ajuda a compreender como Aroldo Rodrigues pensava a relação entre psicologia e política. Segundo Paim (1979), o debate sobre o que se convencionou denominar de "Crise da PUC-RJ" desenvolveu-se em diversas linhas, mas o que ele se propôs a tratar, se restringe aos desdobramentos, aos embates que se seguiram após a censura de um texto filosófico.

A professora Anna Maria Moog Rodrigues, esposa de Aroldo Rodrigues, pediu seu afastamento da PUC após ter sido censurada, pelo então diretor do Departamento de Filosofia, professor Raul Landim, por ter colocado, entre as referências bibliográficas da disciplina História do Pensamento, o capítulo "A Filosofia como Autoconsciência de um Povo", do livro Pluralismo e Liberdade de Miguel Reale (1998).6 6 Miguel Reale (1910-2006) catedrático de Direito, ex-Reitor da Universidade de São Paulo e membro da Academia Brasileira de Letras, é autor de obras de várias áreas como: História, Filosofia, Sociologia e Direito.

A professora Rodrigues encaminhou carta, com seu pedido de demissão, ao Jornal do Brasil, que a publicou no dia 14/03/1979. No dia 18, o mesmo jornal publica o artigo "O Declínio da Liberdade Acadêmica - a crise não é a que vem de fora, mas a que vem de dentro", de Aroldo Rodrigues (1979a). Este texto não fazia menção, mas estava claramente relacionado ao caso da sua esposa e promoveu intensos debates entre os intelectuais cariocas.7 7 A série de cartas, extraídas, em grande parte, do Jornal do Brasil, da Folha de São Paulo e do Estado de São Paulo foi compilada e publicada por Antonio Paim no livro Liberdade Acadêmica e Opção Totalitária, de 1979. Analisaremos aqui apenas os artigos dos professores Aroldo Rodrigues, Luiz Alfredo Garcia-Roza e Eurico de Lima Figueiredo.

Para Aroldo Rodrigues (1979a), a liberdade acadêmica é algo essencial no dia-a-dia da academia, sem a qual a troca de idéias, o debate e a discordância não podem se fazer presentes. Segundo este autor, no mundo acadêmico de hoje verifica-se uma substituição do papel do cientista voltado para o estudo desapaixonado do real, pelo do político engajado em fazer prevalecer uma determinada corrente ideológica (RODRIGUES, 1979a, p. 35).

Nessas linhas temos claramente a defesa da neutralidade científica e da liberdade acadêmica. Ainda segundo Rodrigues (1979a), se não conseguirmos nos afastar do debate apaixonado que a politização do saber gera, teremos como conseqüência uma psicologia considerada como uma "força social" e não como uma disciplina científica.

Fazendo menção ao clima acadêmico não apenas na psicologia, mas nas universidades, em seus departamentos, nas reuniões científicas e culturais e nas associações discentes e docentes do final da década de 70, afirmava que a opinião que não corroborasse as posições da esquerda marxista não seria bem vista e nem aceita. Aroldo Rodrigues (1979a) faz alusão não apenas à PUC do Rio de Janeiro, mas também à PUC de São Paulo, à Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e à Sociedade de Psicologia de Ribeirão Preto. A denominada "ditadura ideológica" estaria presente nas universidades, produzindo sectarismo e identidade de conteúdo (RODRIGUES, 1979a). Segundo ele, as fontes de referência eram sempre as mesmas, variando de acordo com a área do encontro. Se fosse Educação, deveria estar presente o nome de Paulo Freire, se Sociologia, os nomes de Marx e de Fernando Henrique Cardoso, se História, Nelson Werneck Sodré, se Teologia, os nomes dos autores da Teologia da Libertação, se Filosofia e Psicologia, Marx, mas também Althusser e Foucault (RODRIGUES, 1979a).

Aroldo Rodrigues (1979a) lembra de um convite que recebeu da Associação dos Estudantes de Pós-Graduação da PUC-RJ para participar de uma mesa redonda. Ao chegar ao local, ele constatou que os outros participantes da mesa tinham todos a mesma inclinação ideológica. Após falar sobre os problemas da pós-graduação de psicologia no Brasil de forma objetiva, notou que os outros debatedores e os ouvintes em geral "não queriam saber de problemas objetivos"(RODRIGUES, 1979a, p. 40), mas de discussões sobre luta de classes e controle do Estado fascista. Aroldo Rodrigues (1979a) encerra afirmando que seu artigo foi escrito com o objetivo de se contrapor ao absolutismo ideológico.

Acreditamos que esse artigo contribui para uma compreensão de muitos debates que foram travados ao longo da década de 80, na Psicologia Social. O posicionamento político de Aroldo Rodrigues foi polêmico e respondeu por outros fatos, como o ocorrido na UFF, no ano de 1985, e sobre o qual nos debruçaremos mais adiante.

Voltando ao artigo, a resposta do professor Luiz Alfredo Garcia-Roza (1979) veio no dia 23/03/1979, com o título "Neutralidade Científica". O professor de filosofia e psicologia da UFRJ e de psicologia da UERJ começou seu artigo discordando da concepção de Aroldo Rodrigues. Para Garcia-Roza (1979, p. 54), essa liberdade preconizada pelo professor da PUC era um "mito que visa encobrir a mais sutil das formas de dominação de saber". A desvinculação entre saber e poder não acarretaria, para Garcia-Roza, liberdade acadêmica. Se para Aroldo Rodrigues o comprometimento político do saber gerava perda de racionalidade, para Garcia-Roza (1979) era algo intrínseco à produção do conhecimento e à ciência. O debate pode ser resumido em suas próprias palavras:

O que fica claro no artigo do professor Rodrigues é que o compromisso ideológico é visto como um estigma para a ciência. Como se fosse possível um saber neutro; como se o saber não implicasse necessariamente uma forma de compromisso, sob pena de não estar dizendo nada sobre coisa nenhuma. É o modelo angélico imposto à ciência. Esta deve ser como os anjos: não ter sexo. E se por um acaso sua sexualidade aparece, deve ser neutralizada (GARCIA-ROZA, 1979, p. 55).

Para Garcia-Roza (1979), o que deveria ser temido era a neutralidade do saber e não a sua parcialidade, sendo aquela a forma mais sutil e violenta de dominação. Em relação à objetividade na ciência, obtida por se situar como descrição de fatos, afirmou que não existe um dado que possa ser "considerado como um em-si ou como algo que se oferece docilmente à nossa interpretação" (GARCIA-ROZA, 1979, p. 56). Todo dado já é uma interpretação, pois essa ocorre a partir de um lugar, de certos princípios, sejam eles científicos ou não.

No dia 01/04/1979, é publicado no Jornal do Brasil o artigo do professor Eurico de Lima Figueiredo. Professor de Ciência política da UFF, Figueiredo (1979) discorda da opinião de Aroldo Rodrigues, que reduz o saber científico nacional ao marxismo. Não há, no seu ponto de vista, "uma ideologia oficial do saber nacional" (FIGUEIREDO, 1979, p. 73), mas discordâncias e choque de perspectivas.

No artigo publicado, no mesmo jornal, no dia 8/4/1979, Aroldo Rodrigues (1979b) responde aos professores Garcia-Roza e Figueiredo. Seus argumentos caminham principalmente em defesa de que posições divergentes deveriam ter lugar na academia, onde o respeito e a mútua convivência devem representar a liberdade acadêmica.

O debate que se estendeu ao longo de vários artigos poderia nos levar a análises distintas sobre a denominada crise da PUC-RJ. No entanto, nos restringimos ao comentário de algumas idéias de Aroldo Rodrigues sobre a liberdade acadêmica, a neutralidade científica e a psicologia como ciência. Seus argumentos sobre esses temas estariam na base de suas discordâncias e contraposições a uma Psicologia Social que começava a se estabelecer institucionalmente no Rio de Janeiro, no final da década de 70 e que teve influências de teóricos como: Marx, Foucault, Deleuze, etc.

Em 1976, Aroldo Rodrigues havia sido eleito presidente da Sociedade Interamericana de Psicologia. A Psicologia Social pensada na ALAPSO (Associação Latino-Americana de Psicologia Social) e na Sociedade Interamericana de Psicologia expressava a posição teórica de seu presidente. A reunião de organização da ABRAPSO, que aconteceu após o retorno de Silvia Lane do encontro da ALAPSO em Caracas, Venezuela, ocorreu a partir da busca por parâmetros teóricos e metodológicos para a Psicologia Social no Brasil. Isso explicaria a não participação de Aroldo Rodrigues.

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA: A PRIMEIRA CHEFIA DE AROLDO RODRIGUES (1966-1969)

O nome de Aroldo Rodrigues figura na história do curso de psicologia da PUC desde o seu início, pois fez parte da primeira turma iniciada ainda na Santa Casa de Misericórdia, em 1953. Após dois afastamentos, para fazer o mestrado e depois o doutorado, no ano de 1966 assume pela primeira vez a chefia do curso de psicologia.

Segundo Osuna (1998), houve inicialmente, no período de Aroldo Rodrigues, um incremento do setor de Seleção e Orientação Profissional e Industrial (SOS). Porém, o que nos interessa foi o destaque dado à sua área de interesse: a Psicologia Social de base experimental. No ano de 1967, entre os laboratórios criados, com o objetivo de pesquisa científica e experimental, estava o laboratório de Psicologia Social experimental. Havia um claro investimento em psicologia básica e em Psicologia Social e, segundo Osuna (1998), nessa época o curso de psicologia da PUC recebeu a visita de vários professores dos Estados Unidos, reforçando a base conceitual que Aroldo Rodrigues buscava implementar.

A SEGUNDA CHEFIA (1972-1976)

Aroldo Rodrigues voltou à chefia depois da gestão de Carlos Paes de Barros (1969-1972), na qual a psicologia clínica alcançou um desenvolvimento considerável. O professor Aroldo Rodrigues se deparou com uma resistência ao seu trabalho que cresceu ao longo da sua permanência à frente do curso de psicologia. Cabe ressaltar que, conforme afirma Osuna (1998), durante a coordenação de Carlos Paes de Barros o setor que ganhou destaque foi o de psicologia comunitária, criado em 1971.8 8 Conforme aponta Soares (2001), este termo veio a denominar outros possíveis campos de atuação do psicólogo, como alternativa à prática clínica então hegemônica e não deve ser confundido com a teoria da psicologia comunitária.

Durante a gestão de Aroldo Rodrigues, sua opção por uma psicologia experimental levou a um maior investimento na área de seleção e orientação vocacional em detrimento do setor de psicologia clínica, que apresentava uma demanda cada vez maior por parte dos alunos. Entre 1976 e 1977, permaneceu na chefia a professora Angela Biaggio. Vinda de doutorado nos Estados Unidos, a professora Biaggio era considerada uma escolha de prestígio para a PUC. Porém, Biaggio deparou-se durante a sua breve permanência na chefia do curso de psicologia com a resistência de alunos e alguns professores. Houve uma cisão clara entre o grupo de Aroldo Rodrigues e os demais professores. A demissão de dois docentes da área de clínica acirrou ainda mais os ânimos e pouco a pouco os experimentalistas perderam espaço na PUC. Em novembro de 1976, com a posse de Biaggio como diretora, professores como Cláudia Rego, Glória Maria Lages e alguns outros tiveram suas funções reduzidas. A partir desse acontecimento, vários alunos insatisfeitos com as mudanças buscaram explicações junto à direção. Segundo a professora Inez Farah (apud RODRIGUES, 1977, p. 18), "existia uma decisão de transformar o curso de psicologia da PUC em um curso de psicologia experimental".. Mesmo o curso de mestrado da instituição, apesar de ter uma área de concentração em psicologia clínica, era fortemente orientado para a psicologia experimental. No depoimento de uma estudante de graduação em psicologia temos um pouco do que estava em questão:

Os fatos estão principalmente relacionados com as trocas na direção do Departamento desde 72 - das mãos do professor Paes e Barros para as de Aroldo Rodrigues e deste para Angela Biaggio; esses dois últimos seguidores de uma corrente de psicologia experimental, que nos vem sendo impingidas negligenciando-se todas as outras posições que a psicologia possa assumir e barrando a tentativa dos estudantes e alguns professores de fazerem uma psicologia adequada à realidade brasileira (RODRIGUES, 1977, p. 19).

Este episódio nos leva a considerar, de um lado, os embates presentes na psicologia no Rio de Janeiro na década de 70, quando uma psicologia de base positivista se fazia presente e buscava estabelecer sua hegemonia e, de outro, uma resistência a essa forma de pensamento e teoria.

O pedido de demissão do professor Aroldo Rodrigues, em 1979, permitiu que o ensino de psicologia na PUC se voltasse predominantemente para a área de psicologia clínica.

No ano de 1983, Aroldo Rodrigues assumiu o cargo de professor na Universidade Gama Filho e, ao mesmo tempo, a responsabilidade pela coordenação do Mestrado em Psicologia Social, na mesma Universidade. Substituindo o professor Antonio Gomes Penna, sua coordenação logo imprimiu ao Programa de Psicologia Social uma orientação experimental, que não fora possível preservar na PUC-RJ. Alguns de seus alunos, como Eveline Maria L. Assmar e Cílio R. Ziviani o ajudariam a manter os princípios de uma Psicologia Social experimental.

Em 1984, Aroldo Rodrigues tentou fazer concurso para o cargo de Professor Titular da disciplina Psicologia Social na Universidade Federal Fluminense. A sua busca por uma vaga em uma universidade pública, por considerar as condições de trabalho melhores, foi inviabilizada pela não aceitação da sua inscrição pelos professores desta mesma instituição. Embora não houvesse concordância no corpo docente, este negou a concessão do documento de notório saber que lhe permitiria fazer o concurso.

É possível que, diferentemente de como o concebe Aroldo Rodrigues, esse acontecimento seja uma resposta aos episódios de 1976, quando houve uma greve dos alunos em resposta à demissão de alguns professores e o de 1979, como apresentamos anteriormente. Em 1984, a comunidade acadêmica de psicologia no Rio de Janeiro tinha pleno conhecimento da inclinação teórica do professor Aroldo Rodrigues, porém o que provocou resistência à sua participação no concurso teria sido sua posição política entre 1976 e 1979, na PUC-RJ. Conforme afirma Lima (2008), houve uma divisão no corpo docente em relação à participação do professor Aroldo Rodrigues no concurso da UFF.

Em 1991, após muitos desgastes, Aroldo Rodrigues deixa o Brasil e vai lecionar na Universidade do Estado da Califórnia, em Fresno, Estados Unidos. Os embates com os psicólogos no Rio de Janeiro ocorreram, sobretudo, em função da discordância quanto ao modelo de ciência e psicologia. Na PUC-RJ, a discordância relativa ao predomínio da clínica psicanalítica, considerada por Aroldo Rodrigues como não científica, retirou-lhe, aos poucos, o respaldo que tinha da direção da instituição.

Quanto aos psicólogos sociais do Rio de Janeiro, a figura que poderia lhe impor mais ressalvas seria Eliezer Schneider. A forma que este construía as aulas de Psicologia Social permitiu-lhe escapar do simples uso dos manuais norte-americanos e utilizar referências de áreas como a sociologia, a antropologia e a filosofia. No entanto, não havia produção bibliográfica tão sistematizada como os vários livros que apresentavam a Psicologia Social norte-americana. Além disso, a partir de 1972, o livro Psicologia Social (RODRIGUES; ASSMAR; JABLONSKI, 2000) passou a ser uma referência no estudo da Psicologia Social. Tal livro encontra-se atualmente na 18ª edição no Brasil, sendo também editado em vários outros países da América Latina.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A apresentação da história destes dois personagens nos aproxima das discordâncias e confrontos presentes no campo da Psicologia Social no Rio de Janeiro, nas décadas de 1960, 70 e 80. As contribuições destes autores ainda se fazem sentir, seja a partir das discordâncias que ainda geram, seja em função de suas colaborações teóricas, metodológicas e pela formação de pesquisadores no campo da Psicologia Social.

A partir da "crise", como sustenta Rodrigues (1979c), a Psicologia Social passou a se preocupar com a relevância social das pesquisas em psicologia. Todavia, diferentemente desse autor, que fez uso da solução apresentada por Varela com a Tecnologia Social, os psicólogos sociais críticos à posição de Aroldo Rodrigues sustentaram a necessidade de a psicologia transformar a realidade social brasileira.

Um trabalho que busque apresentar a constituição recente do campo da Psicologia Social no Rio de Janeiro, mais do que contribuir para a apresentação de temas que promoveram uma reflexão sobre as rupturas teóricas e metodológicas neste campo, permite pensarmos sobre os outros caminhos que começam a se delinear na Psicologia Social em nosso país.

NOTAS

Recebido em: maio de 2009

Aceito em: agosto de 2009

  • ARRUDA, A. A Associação Brasileira de Psicologia Social (ABRAPSO). In: CONGRESSO BRASILEIRO DE PSICOLOGIA DA COMUNIDADE E TRABALHO SOCIAL, 1. Anais... . Belo Horizonte: Rumos, 1992. p. 359-361, tomo 2.
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  • LIMA, R. S. História da Psicologia Social no Rio de Janeiro entre as décadas de 1960 e 1990 2008. 190 p. Tese. (Doutorado)__Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2008.
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  • ______. O declínio da liberdade acadêmica: a crise não é a que vem de fora, mas a que vem de dentro. In: PAIM, A. Liberdade acadêmica e opção totalitária: um debate memorável. São Paulo: Artenova, 1979a.
  • ______. Lições da Crise da PUC. In: PAIM, A. Liberdade acadêmica e opção totalitária: um debate memorável. São Paulo: Artenova, 1979b.
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  • _____. Psicologia Social: histórica - cultural - política. Rio de Janeiro: Guanabara Dois, 1978.
  • _____. A Psicologia Social no Brasil. Arquivos Brasileiros de Psicologia Aplicada, Rio de Janeiro, v. 23, n. 4, p. 9-13, out./dez. 1971.
  • SOARES, A. B. Psicologia, comunidade e intervenções: olhares em (DES) construção. 2001. Dissertação (Mestrado) - Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2001.
  • 1
    Spence foi professor de Schneider durante seu mestrado na Iowa University e um dos mais destacados discípulos de Clark Hull.
  • 2
    Trabalho apresentado no Fórum de Psicologia Social, realizado em outubro de 1970, organizado pela Associação Brasileira de Psicologia Aplicada.
  • 3
    Padre Benkö, Natural de Paks, Hungria. Cursou, entre 1949 e 1951, licenciatura em Psicologia na Universidade Católica de Louvain. Na mesma instituição doutorou-se em Psicologia Aplicada. No ano de 1954 fixa residência no Brasil. Em 1957, aceita o convite do padre Alonso e passa a dirigir o Instituto de Psicologia Aplicada, na PUC-RJ.
  • 4
    Padre Antonius Bënko, Ph.D. em Psicologia pela Universidade de Louvain, na Bélgica, assumiu a coordenação do curso criado por Hanns Lippmann, e me incentivou a voltar aos Estados Unidos para fazer meu Ph.D. Ele prometeu manter a minha posição na Universidade Católica até o meu regresso, e que haveria uma promoção automática a partir do meu retorno com o grau de doutor. Com estes incentivos eu me candidatei à UCLA para o ano letivo de 1962/63. (Tradução nossa).
  • 5
    As coisas foram bem no início, mas logo começaram a mudar. A enorme diferença entre as instalações que eu utilizava na UCLA, e as limitações do incipiente departamento de psicologia da Universidade Católica imediatamente indicou-me que eu tinha de baixar consideravelmente o meu nível de aspiração, como as atividades de investigação que estavam em causa. Pior que isso, no entanto, foi a minha profunda decepção com alunos e colegas que mostraram muito pouco, se houve algum, interesse na investigação na teoria do equilíbrio. (Tradução nossa).
  • 6
    Miguel Reale (1910-2006) catedrático de Direito, ex-Reitor da Universidade de São Paulo e membro da Academia Brasileira de Letras, é autor de obras de várias áreas como: História, Filosofia, Sociologia e Direito.
  • 7
    A série de cartas, extraídas, em grande parte, do Jornal do Brasil, da Folha de São Paulo e do Estado de São Paulo foi compilada e publicada por Antonio Paim no livro Liberdade Acadêmica e Opção Totalitária, de 1979.
  • 8
    Conforme aponta Soares (2001), este termo veio a denominar outros possíveis campos de atuação do psicólogo, como alternativa à prática clínica então hegemônica e não deve ser confundido com a teoria da psicologia comunitária.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      01 Out 2009
    • Data do Fascículo
      Ago 2009

    Histórico

    • Aceito
      Ago 2009
    • Recebido
      Maio 2009
    Universidade Federal Fluminense, Departamento de Psicologia Campus do Gragoatá, bl O, sala 334, 24210-201 - Niterói - RJ - Brasil, Tel.: +55 21 2629-2845 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
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