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Editorial

EDITORIAL

Editorial

Paulo VidalI; Marcelo S. FerreiraII

IEditor Associado

IIEditor

O pesquisador é por definição aquele que corre atrás de algo que deseja e que lhe escapa. Dessa coisa que o pesquisador jamais capturará, tampouco obterá o controle, senão o essencial cessaria: a própria pesquisa enquanto movimento. Em consequência, o pesquisador continuará a seguir sua idéia fixa, mesmo que informulada, numa corrida sem fim.

Contudo, às vezes essa corrida se detém: outra coisa aparece de repente, que o pesquisador não esperava. Não a "coisa em si" da sua pesquisa, mas alguma coisa fortuita, inesperada, da ordem do detalhe muitas vezes, que encontra como que de passagem e, diante da qual, experimenta obscuramente que encontrou algo. Mas, para que serve o que encontrou por referência ao que buscava? Esta coisa acidental não interrompe o seu programa de pesquisa?

Porém, o achado, caso o pesquisador nele se detenha, se revela de uma fecundidade, de uma generosidade surpreendente: aquilo que o inesperado é incapaz de oferecer - uma confirmação dos pressupostos teóricos da pesquisa - ele concede numa experimentação da pesquisa enquanto encontro de uma verdade que excede o saber já dado.

Em psicanálise, essa defasagem entre teoria e experiência decorre do próprio fato de que o inconsciente se manifesta como uma ruptura na causalidade, uma descontinuidade, um hiato entre causa e efeito. Como Freud escreveu a Ferenczi, "não devemos fabricar teorias: elas devem cair de imprevisto na nossa casa como hóspedes que não tínhamos convidado, quando estávamos ocupados com pesquisas de detalhes" (FREUD, 1996, p. 86).

Por isto, Freud chamava a psicanálise não de "teoria", mas de "movimento" psicanalítico. Na seção temática do presente número de Fractal: Revista de Psicologia, intitulada Dossiê Psicanálise: Work in Progress, recolhemos artigos cujos autores - psicanalistas e interessados pela psicanálise atuantes na universidade e fora dela (saúde mental, arte, filosofia etc.) - não celebram o que já se sabe, apontam impasses e problemas que superam as respostas dadas. Numa palavra, artigos que são pequenas amostras da vitalidade, da inventividade desse canteiro de obras que é a psicanálise hoje.

Além dos trabalhos que se subsidiam em conceitos e intervenções psicanalíticos, o volume atual de Fractal: Revista de Psicologia também torna públicos trabalhos de distintas inspirações teóricas e metodológicas, mantendo a sua política editorial de divulgação de artigos que expressem inquietações em torno do tema da subjetividade. O rigor, a sensibilidade, o diálogo com campos teóricos amplos e o cuidado na elaboração dos textos apresentados a seguir fortalecem a rotina editorial de uma equipe atenta à necessidade de divulgação de conhecimento acumulado na experiência de pesquisa e intervenção. Convidamos nossos leitores a compartilharem conosco o rigor teórico e a importância política das discussões empreendidas nos artigos do volume 22.2 do nosso periódico.

  • FREUD, S.; FERENZI, S. Correspondance 1914/18 Paris: Calmann-Lévy, 1996.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    14 Fev 2011
  • Data do Fascículo
    Ago 2010
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