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FORMAÇÃO SÓCIO-ESPACIAL SUDOESTE PARANAENSE

LA FORMACIÓN SOCIAL-ESPACIAL DEL SUDOESTE DEL PARANÁ

RESUMO

O objetivo principal foi desenvolver análise sobre a formação sócio-espacial do Sudoeste paranaense, apresentando a gênese das cidades que compõem a rede urbana de Francisco Beltrão e de Pato Branco. Utilizaram-se procedimentos metodológicos e operacionais tanto de caráter quantitativos como qualitativos, bem como revisão bibliográfica, coleta de dados secundários em diversas instituições, sem se esquecer de ampla pesquisa documental em jornais regionais e em bibliografias que trataram da temática. Ainda como procedimentos, utiliza-se neste trabalho a categoria de Formação Sócio-Espacial. Esta categoria vincula-se com a perspectiva da geografia histórica urbana, pois procura realizar uma análise do processo histórico, buscando desvelar os pilares da organização/transformação espacial que decorre da unidade da continuidade e da descontinuidade. Como resultados da pesquisa, atingiu-se os objetivos de desvelar a formação sócio-espacial da região e de sua gênese, evolução e situação atual vinculando a essa perspectiva a rede urbana.

Palavras-chave:
Geografia histórica urbana; Rede Urbana; Centros Urbanos; Francisco Beltrão; Pato

RESUMEN

El objetivo principal de este trabajo fue desarrollar un análisis acerca de la formación socio-espacial del sudoeste de Paraná, presentando la génesis de las ciudades que conforman la red urbana de Francisco Beltrão y de Pato Branco. Se utilizaron algunos procedimientos metodológicos y operativos para realizar la investigación, tanto de carácter cuantitativo como cualitativo, así como revisión bibliográfica, colecta de datos secundarios en varias instituciones, sin olvidar una extensa investigación documental en periódicos y bibliografías regionales que trataban del tema. Sin embargo, como procedimientos, se utiliza en este trabajo la categoría de Formación Socio-espacial. Esta categoría está vinculada a la perspectiva de la geografía histórica urbana, debido trata de realizar un análisis del proceso histórico, buscando destapar los pilares de la transformación organización / espacio que se deriva de la unidad de la continuidad y de la discontinuidad. Como resultados de la investigación, se alcanzaron los objetivos de desvelar la formación socio-espacial de la región y su génesis, evolución y situación actual, vinculando a esta perspectiva la red urbana.

Palabras clave:
Geografía histórica urbana; Red Urbana; Centros urbanos; Francisco Beltrão; Pato

ABSTRACT

The main objective of this work was to develop an analysis of the social-spatial formation of the Southwest of Paraná, presenting the genesis of the cities that make up the urban networks of Francisco Beltrão and Pato Branco. Various quantitative and qualitative methodological and operational procedures were used to carry out the research, including a bibliographic review, the collection of secondary data from several institutions, extensive documentary research in regional newspapers and bibliographies dealing with the theme. As a procedure, this work uses the category of Social-Spatial Formation. Therefore, it understands its evolution, its current situation, its historical change and its relations as a concrete-historical, geographically localized reality. This category is linked to the perspective of historical urban geography, as it seeks to analyze the historical process to unveil the pillars of spatial organization / transformation that result from the unity of continuity and discontinuity. As a result of the research, the objectives of unveiling the social-spatial formation of the region and its genesis, evolution and current situation were reached by linking this perspective to the urban network.

Keywords:
Urban historical geography; Urban Network; Urban centers; Francisco Beltrão; Pato

INTRODUÇÃO

O objetivo principal deste trabalho foi desenvolver uma análise sobre a formação sócio-espacial do Sudoeste paranaense, apresentando a gênese das cidades que compõem a rede urbana de Francisco Beltrão e a rede urbana de Pato Branco. Pois, se entende que esta formação foi determinante para o povoamento e, portanto, para a origem das cidades, que por sua vez, evidenciará a formação da rede urbana.

Se justificando devido a relativa ausência de estudos sobre a temática da geografia histórica, com a utilização da formação sócio-espacial como categoria de análise no Sudoeste paranaense.

Alguns procedimentos metodológicos e operacionais foram utilizados para a realização da pesquisa, tanto de caráter quantitativos como qualitativos, como trabalhos considerados de gabinete, como revisão bibliográfica, coleta de dados secundários em diversas instituições, como junto ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Instituto de Terras, Cartografia e Geologia do Paraná (ITCG), sem se esquecer de ampla pesquisa documental em jornais regionais e em bibliografias que trataram da temática, sempre prezando o bom desenvolvimento da pesquisa. Além de trabalhos de campo, uma das principais ferramentas do geógrafo, afim de melhor entender a realidade histórico-geográfica destas localidades.

Ainda como procedimentos, utiliza-se neste trabalho a categoria de Formação Sócio-Espacial (proposta por Milton Santos em 1977SANTOS, M. Sociedade e Espaço: A Formação Social como Teoria e como Método. Boletim Paulista de Geografia, São Paulo, n.54, p.81-100, jun. 1977.), está se refere à análise da concreticidade de uma sociedade, logo, compreende sua evolução, sua situação atual, sua mudança histórica e suas relações sendo está uma realidade histórico-concreta, geograficamente localizada. Esta categoria vincula-se com a perspectiva da geografia histórica urbana, pois procura realizar uma análise do processo histórico, buscando desvelar os pilares da organização/transformação espacial que decorre da unidade da continuidade e da descontinuidade. Assim, a geografia histórica é, fundamentalmente, um estudo geográfico sobre o passado, na essência é um estudo de geografia e não de história.

O presente trabalho está dividido em quatro partes, na primeira apresenta-se a introdução; na sequência o aporte teórico, onde busca-se apresentar as categorias de análise que são as perspectivas para o desenvolvimento do presente trabalho, como a formação sócio-espacial, a questão da rede urbana e suas propostas de análise, perpassando desde autores considerados como uma referência para a geografia urbana e, portanto essenciais da literatura urbana, assim, esta segunda parte vem como forma de permitir ao leitor um melhor entendimento da análise como um todo; na terceira inicia-se a discussão sobre a formação do Sudoeste paranaense e a colonização da região na primeira metade do século XX, fundamental para compreender a formação regional; na quarta parte verifica-se a intensificação do povoamento e gênese das cidades da rede urbana de Francisco Beltrão e de Pato Branco, além das considerações finais e as respectivas referências.

APORTES TEÓRICOS

As propostas de Walter Christaller (teoria dos lugares centrais, 1933), August Lösch (teoria geral da localização, 1940), etc., tornaram-se manuais importantes na literatura sobre as cidades estruturadas em redes. No Brasil, alguns pesquisadores comungaram desse tipo de análise, como os próprios analistas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e pioneiros nos estudos Pierre Deffontaines, Aroldo Azevedo, somados aos trabalhos de Pierre Monbeig (1943MONBEIG, P. O estudo geográfico das cidades. Boletim Geográfico, a. 1, n. 7, p. 7-29, 1943., 1952MONBEIG, P. Pionners et Planteurs de São Paulo. Paris: Librairie Armand Colin, 1952., 1954)MONBEIG, P. Resumo da Geografia Econômica do café. Boletim Geográfico, a.12, n. 122, p.276-287, set./out., 1954., Pedro Pinchas Geiger (1963)GEIGER, P. P. Evolução da rede urbana brasileira. Rio de Janeiro: Centro Bras. de Pesq. Educ., 1963., Roberto Lobato Corrêa (1967)CORRÊA, R. L. Os estudos de redes urbanas no Brasil. Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, v. 29, n. 4, p. 93-116, out./dez. 1967. Disponível em <http://biblioteca.ibge.gov.br>. Acesso em 07/06/2007.
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etc., os quais analisaram a gênese e a evolução da rede urbana delineada entre as décadas de 1940 e 1960.

A inserção dos estudos sobre rede urbana no Brasil tem sua gênese a partir da publicação do artigo de Deffontaines (1944DEFFONTAINES, P. Como se constituiu no Brasil a Rede das Cidades. Boletim Geográfico, v.2, n. 14, p. 141-148, maio, 1944. e 1945)DEFFONTAINES, P. Como se constituiu no Brasil a Rede das Cidades II. Boletim Geográfico, v.2, n. 15, p. 299-308, maio, 1945. "Como se constituiu no Brasil a rede das cidades", no Boletim Geográfico (publicado pelo Conselho Nacional de Geografia (CNG), através do IBGE). Neste artigo, Deffontaines (1944, p.141)DEFFONTAINES, P. Como se constituiu no Brasil a Rede das Cidades. Boletim Geográfico, v.2, n. 14, p. 141-148, maio, 1944. inicia sua discussão com algumas questões relevantes, dentre elas: "como uma região foi dotada de aglomerações urbanas? Como nasceram elas, onde se instalaram, por que progrediram? Como se cria uma rede urbana? [...]". Tais questionamentos estão diretamente relacionados ao surgimento e a evolução de centros urbanos em uma determinada região e, consequentemente, com a estruturação de suas respectivas redes, indicando, em sua evolução histórica e geográfica, a possibilidade de reconhecimento de diversos momentos, reveladores dos processos de mudança sócio-espacial.

Deffontaines (1944DEFFONTAINES, P. Como se constituiu no Brasil a Rede das Cidades. Boletim Geográfico, v.2, n. 14, p. 141-148, maio, 1944.; 1945)DEFFONTAINES, P. Como se constituiu no Brasil a Rede das Cidades II. Boletim Geográfico, v.2, n. 15, p. 299-308, maio, 1945. assinala o estado da arte do sistema urbano brasileiro das décadas de 1930-1940, assegurando que a rede urbana brasileira se encontrava em sua "infância", marcada pela expectativa de crescimento e instabilidade das cidades. Para este autor, a configuração da rede de cidades no Brasil neste período, se configura em uma formação desagregada em pequenos núcleos e não em um sistema urbano articulado. Já outros pesquisadores em estudos posteriores mencionam não haver uma rede de cidades no Brasil naquele momento, pois o conceito de rede urbana se refere a um conjunto de cidades espacial e funcionalmente articulado. Concordamos com o conceito de rede urbana, igualmente com o assinalado por Deffontaines, que apontou que a rede de cidades estava em formação, nas palavras do autor, estava na "infância".

Em 1956, durante o Congresso da União Geográfica Internacional (UGI), realizado no Rio de Janeiro, a temática da rede urbana aparece novamente e, a partir de então, vários pesquisadores realizaram análises sobre o tema. Os anos seguintes ao Congresso foram marcados pelo fortalecimento do intercâmbio entre geógrafos franceses e brasileiros, parceria promovida desde a fundação da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade do Distrito Federal (UDF), que envolveram profissionais, como Pierre Deffontaines, Pierre Monbeig, Roger Bastide, etc. Na sequência destacaram-se Michel Rochefort e Pierre George, integrantes da Geografia Ativa.

Vale sublinhar que Rochefort, orientou o Grupo de Trabalho de Geografia Urbana do Departamento de Geografia do CNG, que resultou no trabalho, "O Rio de Janeiro e sua região", coordenado por Lysia Bernardes (1964)BERNARDES, L. M. C. O Rio de Janeiro e sua Região. Rio de Janeiro: IBGE/CNG, 1964.; além do método de classificação das redes urbanas, de grande estima para o trabalho "Evolução da rede urbana brasileira" de Pedro Geiger (1963)GEIGER, P. P. Evolução da rede urbana brasileira. Rio de Janeiro: Centro Bras. de Pesq. Educ., 1963.; somadas às publicações editadas pelo CNG-IBGE, sobretudo, o "Esboço preliminar de divisão do Brasil em espaços homogêneos e espaços polarizados" (IBGE, 1967IBGE, Inst. Bras. de Geog. e Estat. Esboço preliminar de divisão do Brasil em espaços homogêneos e espaços polarizados. Rio de Janeiro, 1967.), e "Subsídios à regionalização" (IBGE, 1968IBGE, Inst. Bras. de Geog. e Estat. Subsídios à Regionalização. Rio de Janeiro: 1968.). Assim, percebemos que durante a UGI de 1956 e no decorrer dos anos 1960 os estudos urbanos (destaque as redes urbanas) marcaram intensa presença no Brasil.

Desde sua introdução até os dias atuais o tema passou por diversas fases de difusão e/ou realinhamento dos estudos e de confrontações do ponto de vista teórico-metodológico. Tais avanços podem ser entendidos a partir da vasta bibliografia com destaque aos trabalhos de Deffontaines (1944DEFFONTAINES, P. Como se constituiu no Brasil a Rede das Cidades. Boletim Geográfico, v.2, n. 14, p. 141-148, maio, 1944.; 1945 [publicado originalmente em 1938 na França])DEFFONTAINES, P. Como se constituiu no Brasil a Rede das Cidades II. Boletim Geográfico, v.2, n. 15, p. 299-308, maio, 1945.; Monbeig (1943)MONBEIG, P. O estudo geográfico das cidades. Boletim Geográfico, a. 1, n. 7, p. 7-29, 1943.; Rochefort (1961)ROCHEFORT M. Métodos de estudos das redes urbanas: interesse da análise e do setor terciário da população ativa. Boletim Geográfico, a. 19, n. 160, p. 3-19, jan./fev., 1961.; Geiger (1963)GEIGER, P. P. Evolução da rede urbana brasileira. Rio de Janeiro: Centro Bras. de Pesq. Educ., 1963.; Bernardes (1964)BERNARDES, L. M. C. O Rio de Janeiro e sua Região. Rio de Janeiro: IBGE/CNG, 1964.; Corrêa (1967CORRÊA, R. L. Os estudos de redes urbanas no Brasil. Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, v. 29, n. 4, p. 93-116, out./dez. 1967. Disponível em <http://biblioteca.ibge.gov.br>. Acesso em 07/06/2007.
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; 1988CORRÊA, R. L. A rede de localidades centrais nos países subdesenvolvidos. Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, v. 50, n. 1, p. 61-83, jan./mar. 1988. Disponível em <http://biblioteca.ibge.gov.br>. Acesso em 08/06/2007.
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; 1989CORRÊA, R. L. A rede urbana. São Paulo: Ática, 1989. 96p.; 1997)CORRÊA, R. L. Interações Espaciais. In: CASTRO, Iná E. de; GOMES, Paulo Cesar da C.; CORRÊA, Roberto L. (Org.). Explorações geográficas. RJ: Bertrand Brasil, 1997. p. 279-318.; MÜller (1969)MÜLLER, N. L. Evolução e estado atual dos estudos de geografia urbana no Brasil. Boletim Geográfico, Rio de Janeiro, n. 209, p. 28-64, mar./abr. 1969.; Santos (1979SANTOS, M. O espaço dividido. Rio de Janeiro: F. Alves, 1979.; 1993)SANTOS, M. A urbanização brasileira. São Paulo: Hucitec, 1993.; Fresca (1990FRESCA, T. M. A dinâmica funcional da rede urbana do oeste paulista. 1990. 281f. Dissertação (Mestrado em Geografia) PPGG, UFSC, Florianópolis.; 2000)FRESCA, T. M. Transformações da rede urbana do Norte do Paraná. 2000. Tese. (Doutorado em Geografia Humana) Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo.; IBGE (1972IBGE, Inst. Bras. de Geog. e Estat. Divisão do Brasil em regiões funcionais urbanas. Rio de Janeiro, 1972. 110p.; 1987IBGE, Inst. Bras. de Geog. e Estat. Regiões de influência das cidades brasileiras. Rio de Janeiro, 1987.; 2000IBGE, Inst. Bras. de Geog. e Estat. Censo demográfico - Paraná - 2000. Rio de Janeiro: IBGE, 2000.; 2008)IBGE, Inst. Bras. de Geog. e Estat. Regiões de influência das cidades 2007. Rio de Janeiro: IBGE, 2008. 201p. Disponível em <http://www.ibge.gov.br/home/geociencias/geografia/regic.shtm>. Acesso em 12/10/2008.
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; IPEA (2002)IPARDES; IPEA. Configuração atual e tendências da rede urbana do Brasil. Brasília: IPEA, 2002.; IPARDES (2002)IPARDES; IPEA. Configuração atual e tendências da rede urbana do Brasil. Brasília: IPEA, 2002.; Bessa (2007)BESSA, K. A dinâmica da rede urbana no Triângulo Mineiro. Uberlândia: [s.n.], 2007. 348p., etc., nos quais se realizaram avaliações da produção geográfica sobre redes urbanas no Brasil, bem como produziram-se proposições teóricas e metodológicas para tais estudos.

A rede urbana constitui-se em um "[...] conjunto de centros funcionalmente articulados", o que por sua vez, reflete e condiciona as transformações econômico-sociais (CORRÊA, 1989CORRÊA, R. L. A rede urbana. São Paulo: Ática, 1989. 96p., p.8). O importante é compreender que para desvelar uma dada rede urbana, a análise de sua gênese e dinâmica se torna imprescindível e, deve ser buscada em seu processo histórico, atribuindo a rede uma natureza e dimensão sócio-espacial, que reflete e condiciona a sociedade que a produziu. Assim, a rede urbana seria "[...] um produto social, historicamente contextualizado, cujo papel crucial é o de, através de interações sociais espacializadas, articular toda a sociedade numa dada porção do espaço, garantindo a sua existência e reprodução" (CORRÊA, 1997CORRÊA, R. L. Interações Espaciais. In: CASTRO, Iná E. de; GOMES, Paulo Cesar da C.; CORRÊA, Roberto L. (Org.). Explorações geográficas. RJ: Bertrand Brasil, 1997. p. 279-318., p.93).

Sendo a rede urbana uma dimensão sócio-espacial da sociedade, constata-se que os processos de concepção, apropriação e circulação do valor excedente, frequentemente modificado, já que é integrado a divisão territorial do trabalho, estão igualmente em constante alteração. O que, todavia nos faz entender que a "[...] rede urbana constitui-se simultaneamente em um reflexo da e uma condição para a divisão territorial do trabalho" (CORRÊA, 1989CORRÊA, R. L. A rede urbana. São Paulo: Ática, 1989. 96p., p.48).

Este trabalho buscou utilizar a categoria de Formação Sócio-Espacial, proposta por Milton Santos (1977)SANTOS, M. Sociedade e Espaço: A Formação Social como Teoria e como Método. Boletim Paulista de Geografia, São Paulo, n.54, p.81-100, jun. 1977., para analisar a formação do Sudoeste Paranaense, bem como a gênese e estruturação da rede de cidades de Francisco Beltrão e de Pato Branco. Esta categoria busca desvelar formações históricas e geograficamente localizadas, isto é, formações sócio-espaciais.

A formação sócio-espacial refere-se à análise da concreticidade de uma sociedade (compreendendo sua evolução, sua situação atual, sua mudança histórica e suas relações) sendo esta uma realidade histórico-concreta, geograficamente localizada. Sua base de explicação é a produção, ou seja, o trabalho, onde o homem transforma o espaço. Seu estudo possibilita "[...] a apreensão do particular como uma cisão do todo, um momento do todo, assim como o todo reproduzido numa de suas frações. [...] mas sempre um conhecimento específico, apreendido num dado momento de sua evolução" (SANTOS, 1977SANTOS, M. Sociedade e Espaço: A Formação Social como Teoria e como Método. Boletim Paulista de Geografia, São Paulo, n.54, p.81-100, jun. 1977., p.84). Assim, o primeiro passo para entender a formação sócio-espacial de uma dada rede urbana seria atingir a realidade.

As formações sócio-espaciais, como etapas de um processo histórico, fazem referência ao desenvolvimento desigual das sociedades, o que, por sua vez, desvelam dados basilares para esclarecer por que países, regiões e por que não cidades diferenciam-se uns dos outros. O que, todavia, quer dizer que, a base da organização/transformação espacial coexiste no embate entre o que esta posto e o que se estabelece como novo, resultando em um espaço desigual e combinado, que decorre da unidade da continuidade e da descontinuidade (SANTOS, 1985SANTOS, M. Espaço e método. São Paulo: Nobel, 1985.).

COLONIZAÇÃO NOS DOIS PRIMEIROS QUARTÉIS DO SÉCULO XX

O Sudoeste paranaense se formou a partir de uma das últimas áreas ocupadas pela fronteira agrícola no Estado do Paraná. Tem a particularidade de ser uma área colonizada por pequenos agricultores (colonos) gaúchos e catarinenses, descendentes de imigrantes alemães e italianos, que se dedicavam à policultura. Todavia, pode-se dizer que esta característica é contemporânea, pois apenas a partir dos anos 1940-50, se estabelece um povoamento célere por colonos migrantes.

O Sudoeste originou-se a partir da região dos Campos de Palmas, pois a área atual da mesorregião Sudoeste paranaense pertencia ao território do município de Palmas, este teve sua instalação em 1879. Nesta época a área territorial do Estado do Paraná estendia-se até o rio Uruguai, na divisa com o Rio Grande do Sul. Não existindo qualquer município formalmente instalado na atual região Oeste de Santa Catarina, que pertencia, portanto, ao município de Palmas.

A formação sócio-espacial de Palmas é caracterizada por uma vegetação natural de campos, na qual se desenvolveu uma classe de latifundiários pecuaristas. Esta dinâmica econômico-espacial recebeu destaque na literatura sobre redes urbanas, Corrêa (2006, p.284)CORRÊA, R. L. Estudos sobre a rede urbana. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006. 336p. menciona que uma das características desta formação sócio-espacial consiste na "[...] drenagem da renda fundiária rural pela cidade, a partir do absenteísmo dos grandes proprietários [...]", outra característica é a formação de uma rede urbana com menor densidade e maior espaçamento de centros.

O povoamento que daria origem à cidade de Palmas teve seu início por volta de 1840, sendo que, em 1846 "[...] uma picada ligava Palmas diretamente aos Campos Gerais, passando o [rio] Iguaçu no sítio da atual cidade de União da Vitória [...]" (BERNARDES, 1952BERNARDES, N. Expansão do povoamento no Estado do Paraná. Revista Brasileira de Geografia, 1952., p. 436). A ocupação dos campos de Palmas ampliou-se próximo ao apagar das luzes do século XIX, através de estímulos do governo estadual, somados as concessões de sesmarias que favoreceram as atividades pecuárias.

Do mesmo modo que Palmas, porém mais recentemente, foi o caso do município de Clevelândia, que localizado igualmente nos campos de Palmas e instalado em 28 de junho de 1892, fundado por fazendeiros de gado vindos de Guarapuava. A instalação do município de Clevelândia ocorreu com o desmembramento de terras antes pertencentes ao município de Palmas.

Tanto Palmas, como Clevelândia, fazem parte de uma formação social que tem como particularidade a grande propriedade, que em sua gênese tinha a classe dos latifundiários como dominante, a pecuária foi durante muito tempo senão a única, a principal atividade. Essa foi a característica dos dois primeiros quartéis do século XX. Após este período, outras atividades começaram a galgar destaques como a atividade madeireira, com as indústrias de Laminados, Compensados etc., além da modernização da agricultura com a introdução de culturas mecanizadas.

No decorrer dos primeiros 50 anos do século XX, o processo de colonização se intensifica nas áreas de matas fechadas que, atualmente pertencem ao Sudoeste paranaense. Esta, portanto, refere-se à outra formação sócio-espacial, que tem seu alicerce na pequena produção mercantil, diferentemente da formação sócio-espacial campestre, que se fundamenta no latifúndio. A rede urbana da formação sócio-espacial baseada na pequena produção mercantil exibe uma hierarquia mais nítida, com oferta e demanda equilibrada de funções produtivas, comerciais e de serviços.

Outra formação sócio-espacial, bem como outra combinação geográfica emerge na colonização das áreas de matas do Sudoeste. Nesta formação, ocorreu algo muito parecido com a combinação descrita por Cholley (1964)CHOLLEY, A. Observações sobre alguns pontos de vista geográficos (part. 2). Boletim Geográfico. Rio de Janeiro: IBGE, n.180, p. 267-276. 1964. Disponível em <http://biblioteca.ibge.gov.br>. Acesso em 05/08/2008.
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para o Oeste Canadense, particularmente, para as áreas de pradarias. Nesta região "[...] um sistema de policultura se desenvolveu, mais denso, que permitiu o amortecimento do efeito das crises agrícolas e condicionou um povoamento e uma estrutura social mais estratificada e mais capaz de alcançar equilíbrio" (CHOLLEY, 1964CHOLLEY, A. Observações sobre alguns pontos de vista geográficos (part. 2). Boletim Geográfico. Rio de Janeiro: IBGE, n.180, p. 267-276. 1964. Disponível em <http://biblioteca.ibge.gov.br>. Acesso em 05/08/2008.
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, p.142-143).

As combinações geográficas que podem ser consideradas para que no Sudoeste paranaense ocorresse uma colonização baseada na pequena produção mercantil, se deve ao fato de que esta região era coberta por matas densas, inclusive, com ampla extensão de florestas de araucária (Araucária angustifólia), além de esta região contar com um relevo bastante acidentado, fator limitante para a utilização e conservação dos solos, que favorece a erosão e dificulta a utilização de maquinários, o que na prática carecia de maiores e complexos cuidados com a formação das pastagens, portanto de maior emprego de mão-de-obra, do que em áreas campestres (MAACK, 2002MAACK, R. Geografia física do estado do Paraná. Curitiba, PR: Imprensa Oficial do PR, 2002.).

Estas combinações, consideradas, permitem esboçar as múltiplas determinações geográficas, para que nesta região tenha ocorrido uma formação sócio-espacial de pequena produção mercantil.

Até o ano de 1938 existiam apenas as vilas Chopim e Bom Retiro (atual Pato Branco) e alguns povoados no atual Sudoeste paranaense, além das sedes municipais de Clevelândia e Palmas e da vila de Mangueirinha (que se localizam fora da atual Mesorregião Sudoeste, porém foram as responsáveis pela gênese desta região). A colonização do Sudoeste iniciou de leste para oeste, o que por sua vez, deve ser atribuído às lógicas geratrizes da formação sócio-espacial, pois foi a partir de Palmas e Clevelândia que teve início o povoamento e a construção da infraestrutura necessária, responsável pelo meio de comunicação, através das estradas e caminhos que fazem a ligação, mesmo que precária com as vilas e povoados do nascente Sudoeste paranaense.

As primeiras e principais atividades desenvolvidas nas vilas e povoados do Sudoeste foram inicialmente a extração da erva-mate e logo após a produção de suínos. Tanto a atividade de extração da erva-mate, que era transportada em tropas de mulas, quanto a produção de suínos, que eram levados "tocados a pé" até os frigoríficos, não apresentaram, estímulos para implantação de infraestrutura rodoviária, o que por sua vez, depreciava a intensificação do povoamento regional.

A próxima seção dá continuidade à seção atual e, busca por sua vez, apresentar os fatores que contribuíram para a intensificação do povoamento, bem como, discute-se algumas características peculiares da origem dos núcleos urbanos das duas redes urbanas que se formaram na região.

GÊNESE DAS CIDADES DA REDE URBANA DE FRANCISCO BELTRÃO E DE PATO BRANCO

A gênese dos núcleos urbanos do Sudoeste paranaense (Rede de Francisco Beltrão e Pato Branco) pode ser caracterizada, basicamente, pela coleta e expedição dos produtos agrícolas e pela distribuição de bens e serviços. Dessa maneira, a rede de cidades originou-se relacionada às necessidades de venda e compra de produtos pelos colonos. "[...] toda aglomeração é para uma região rural um centro de consumo e permite sair de uma economia absolutamente fechada que impede todo progresso" (DEFFONTAINES, 1945DEFFONTAINES, P. Como se constituiu no Brasil a Rede das Cidades II. Boletim Geográfico, v.2, n. 15, p. 299-308, maio, 1945., p. 308). A essa complexidade genética da rede urbana soma-se, o papel desempenhado pelo Governo Federal, que com a Colônia Agrícola Nacional General Osório (CANGO), trouxe os primeiros resquícios do urbano para a formação de algumas cidades da região, com destaque para Francisco Beltrão e Pato Branco. Acrescenta-se ainda, a presença de uma serraria que contribuiu para formação de um centro com função industrial.

A gênese dos centros urbanos no Sudoeste paranaense derivou das mais distintas necessidades para o sucesso da ocupação da região por colonos produtores e consumidores e, segundo Corrêa (1970b)CORRÊA, R. L. Cidade e Região no Sudoeste Paranaense. RBG. v.32, n. 2, p. 3-155. 1970b. Disponível em <http://biblioteca.ibge.gov.br>. Acesso em 07/06/2007.
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tal processo pode ser sintetizado, em duas maneiras.

Na primeira, os núcleos urbanos originaram-se através de uma ocupação espontânea onde o caboclo, "[...] dono de uma 'bodega' e de uma 'posse', loteava e vendia diversas partes aos [...]" colonos recém-chegados, e aos "[...] comerciantes, alfaiates e ferreiros, entre outros, dando origem a um povoado, que em breve receberia uma capela e outros serviços. Posteriormente fazia-se a medição e demarcação da área da futura sede municipal" (CORRÊA, 1970bCORRÊA, R. L. Cidade e Região no Sudoeste Paranaense. RBG. v.32, n. 2, p. 3-155. 1970b. Disponível em <http://biblioteca.ibge.gov.br>. Acesso em 07/06/2007.
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, p. 127-128).

A outra maneira que se processou a origem e formação dos núcleos urbanos no Sudoeste paranaense, diz respeito à ação colonizadora oficial (CORRÊA, 1970bCORRÊA, R. L. Cidade e Região no Sudoeste Paranaense. RBG. v.32, n. 2, p. 3-155. 1970b. Disponível em <http://biblioteca.ibge.gov.br>. Acesso em 07/06/2007.
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).

A instalação de uma serraria de certo porte foi, também, fator de surgimento de núcleo urbano. Numa fase que antecedia à colonização, uma companhia madeireira instalava uma serraria no meio da mata, surgindo em torno um aglomerado de função industrial, onde alguns comerciantes se estabeleciam para atender às necessidades dos operários. Em breve, com a penetração espontânea de colonos nas áreas pertencentes ou não às madeireiras, o núcleo passava a ser o ponto focal para os colonos, ganhando novas funções relacionadas às necessidades do mundo rural [...] (CORRÊA, 1970bCORRÊA, R. L. Cidade e Região no Sudoeste Paranaense. RBG. v.32, n. 2, p. 3-155. 1970b. Disponível em <http://biblioteca.ibge.gov.br>. Acesso em 07/06/2007.
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, p.129).

Portanto, iniciada a chegada dos colonos as áreas previamente loteadas pelos caboclos ou pelas companhias colonizadoras e/ou pela CANGO imediatamente dava-se início a instalação da primeira atividade industrial, as serrarias. A esse respeito, destaca-se que a instalação desta atividade, realizou-se também conforme Fresca (1990)FRESCA, T. M. A dinâmica funcional da rede urbana do oeste paulista. 1990. 281f. Dissertação (Mestrado em Geografia) PPGG, UFSC, Florianópolis. como a primeira atividade industrial na gênese das cidades do Oeste Paulista, assim, o processo ocorria da seguinte maneira,

[...] a região ainda coberta por mata, o desmatamento se fazia necessário para começar os trabalhos de produção agrícola. E as serrarias estavam presentes em quase todos os patrimônios a fim de transformar a floresta em matéria-prima para as construções. Resulta daí o fato de que nestes patrimônios a maior parte das edificações serem de madeira (FRESCA, 1990FRESCA, T. M. A dinâmica funcional da rede urbana do oeste paulista. 1990. 281f. Dissertação (Mestrado em Geografia) PPGG, UFSC, Florianópolis., p.75).

Assim, o deslocamento populacional para o Sudoeste foi fundamental e os industriais, sobretudo, os madeireiros, também tiveram uma importância ímpar, para a ocupação, pois foram eles, ao lado dos pequenos agricultores que realizaram a derrubada das matas com suas árvores de grandiosos troncos. A esse respeito Voltolini (2000)VOLTOLINI, S. Retorno 3: ciclo da madeira em Pato Branco. Pato Branco, PR: Imprepel, 2000. nos diz que:

A simultânea ou posterior vinda dos madeireiros foi recebida com júbilo pelo agricultor, em toda a área de domínio mais intenso da floresta da Araucária. Os donos das serrarias, por sua vez, não deixaram de externar plena satisfação com a cordial deferência [...] O colono, ansioso por ver sua terrinha liberada para o cultivo, já tinha chegado até a pagar pela derrubada dos pinheiros que, mesmo no chão, eram incômodo ainda por anos e anos. De repente... uma loteria! Tiravam-lhe os pinheiros e ainda pagavam por isso! [...] Os madeireiros, por sua vez, passaram a adquirir a matéria-prima de suas indústrias por preços irrisórios, altamente compensadores, que eles mesmos fixavam e eram aceitos sem relutância pelos 'felizes' fornecedores (VOLTOLINI, 2000VOLTOLINI, S. Retorno 3: ciclo da madeira em Pato Branco. Pato Branco, PR: Imprepel, 2000., p. 74-75).

Portanto, os madeireiros donos de serrarias, foram bem recebidos pelos colonos e sua atividade econômica, representou um dos focos da gênese do urbano na região.

Na primeira fase da formação dos núcleos urbanos, estes, realizavam seus vínculos com as áreas agrícolas de sua hinterlândia. Assim, a cidade é o "foco de gravitação da vida regional" (BERNARDES, 1964BERNARDES, L. M. C. O Rio de Janeiro e sua Região. Rio de Janeiro: IBGE/CNG, 1964., p.3). E os primeiros vínculos entre a cidade e a região rural, se davam entre os pequenos agricultores que vendiam seus produtos e adquiriam bens de consumo dos pequenos comerciantes, também conhecidos na região como aqueles que possuíam uma bodega (pequeno comércio de "secos e molhados"). Portanto, o desenvolvimento dos centros urbanos, permaneceu conectado, às mais distintas necessidades do universo colonial, "[...] mas a diferenciação entre eles processou-se de acordo com as facilidades que tiveram de se tornarem focos de áreas maiores e mais povoadas [...]". Entre os centros que exerceram uma diferenciação espacial e destacaram-se dos demais, podemos mencionar Pato Branco e Francisco Beltrão, "[...] enquanto as demais sedes municipais permaneceram com atuação, quer de compra de produtos rurais, quer de venda de bens de consumo, limitada basicamente aos respectivos municípios, quer dizer, limitada às áreas rurais próximas [...]" (CORRÊA, 1970bCORRÊA, R. L. Cidade e Região no Sudoeste Paranaense. RBG. v.32, n. 2, p. 3-155. 1970b. Disponível em <http://biblioteca.ibge.gov.br>. Acesso em 07/06/2007.
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, p. 129).

Assim, Pato Branco e Francisco Beltrão, dois centros que tiveram importante aporte do poder público estadual e federal (CANGO) e foram, podemos dizer os dois centros escolhidos desde suas gêneses para comandarem a região e, por sua vez, suas redes urbanas. Vale ressaltar que, na fase inicial da formação dos núcleos urbanos, Pato Branco possuía um nível de centralidade superior a Francisco Beltrão e, por este caminho exercia domínio regional, vinculado à distribuição de bens e serviços, está posição de destaque frente à circulação regional se manteve pelo menos até meados de 1950, pois a vila Pato Branco, beneficiou-se por ser o ponto final da rodovia proveniente de União da Vitória [está rodovia foi a primeira instalada na região, o que por sua vez, foi a porta de entrada para a colonização regional. A mesma foi expandida para Francisco Beltrão poucos anos depois], atuando vigorosamente na comercialização "[...] de porcos, couros e peles, tendo já em 1940 cerca de 1.000 habitantes. Seus bodegueiros, 'caboclos' [...], realizavam tanto transações com a população de toda a região, como os bodegueiros das áreas mais remotas, assegurando [...] uma função regional [...]" (CORRÊA, 1970aCORRÊA, R. L. O sudoeste paranaense antes da colonização. RBG, v.32, n.1, p. 87-98, jan./mar. 1970a. Disponível em <http://biblioteca.ibge.gov.br>. Acesso em 07/06/2007.
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, p. 95-96). Portanto, Pato Branco constituiu-se desde o início como um entreposto comercial e, com a colonização realizada posteriormente, pelos então "colonos" a função regional de Pato Branco foi reforçada.

O nascimento dos centros urbanos efetuaram-se, inicialmente, na periferia oriental, centro-meridional e ocidental do Sudoeste paranaense, com o aparecimento das cinco primeiras sedes municipais e suas áreas territoriais, todas instaladas em 14 de dezembro de 1952, sendo elas respectivamente: Pato Branco, Francisco Beltrão, Capanema, Santo Antônio do Sudoeste e Barracão, todos desmembrados do território municipal de Clevelândia, vide figura 1.

Figura 1
Desmembramento da Região Sudoeste do Paraná em 1952

Deste modo, tem-se o início das cidades e da vida urbana no Sudoeste paranaense. As cidades locais que foram sendo instaladas passaram a desempenhar um papel fundamental no processo de ocupação do território. A presença de uma cidade representava como fato concreto a possibilidade de que as terras seriam ocupadas rapidamente. Cada cidade atendia as necessidades básicas da população urbana e rural em termos de bens e serviços (FRESCA, 1990FRESCA, T. M. A dinâmica funcional da rede urbana do oeste paulista. 1990. 281f. Dissertação (Mestrado em Geografia) PPGG, UFSC, Florianópolis.).

A ocupação desempenhada pelos caboclos, portanto, anterior à chegada dos colonos, realizou através do sistema agrícola primitivo, a devastação de algumas áreas florestais, ocupação que se tornou o embrião da gênese de muitas das atuais cidades, através de seus pequenos povoados. Entre estes primeiros núcleos, são heranças do período ervateiro (ciclo da erva-mate no Paraná) os povoados de Barracão, fronteira com Bernardo de Irigoyen/AG, Santo Antônio do Sudoeste, fronteira com San Antônio/AG e Pato Branco, que em 1924 aparecia como Vila Nova e, possuía função de centro intermediário nas transações vinculadas a erva-mate, realizadas pelos bodegueiros.

Portanto, a origem da cidade de Barracão, Santo Antônio do Sudoeste e Pato Branco, numa fase pré-colonial, esteve ligada à atividade da erva-mate. Pato Branco originado espontânea e desordenadamente, foi ampliado graças à ação de um órgão de colonização do governo (Colônia Bom Retiro), que ali instalou a sede de um núcleo colonial e realizou a demarcação e o loteamento.

A partir de 1945, o povoamento da região apresentou considerável expansão com o advento do fluxo migratório de colonos de origem catarinense e rio-grandense. Destacando que, Pato Branco era o ponto final da rodovia (com linha de ônibus) proveniente das áreas de emigração, além da rodovia procedente de União da Vitória. E era de Pato Branco que partiam os ônibus para as áreas de povoamento do interior do Sudoeste, sobretudo para a Vila Marrecas, atual Francisco Beltrão.

Em 1948, Pato Branco já exibia distinções que lhe permitia destacar-se dos demais núcleos,

[...] possuindo firmas varejistas que distribuíam, entre outros artigos, máquinas de costura, cofres, pneumáticos, aparelhos de rádio, ferragens, etc. Possuía, ainda, [...] uma torrefação de café, selaria, oficina mecânica, escritório de contabilidade, um recém-inaugurado hospital dotado de aparelho de raio X, e uma de suas firmas possuía uma filial na Vila Marrecas, o atual município de Francisco Beltrão (Corrêa, 1970, p. 132).

Pato Branco somava 3.434 habitantes em 1950, e de tal maneira, como asseverou o autor supracitado, reforçou seu nível de centralidade, adquirindo novas funções exclusivas, tais como: curso ginasial, estação de rádio e agência bancária.

A partir de 1950, Francisco Beltrão, progressivamente vai se transformando em um importante centro coletor da produção rural e forte rival de Pato Branco na distribuição de bens de consumo e serviços. Em 1951, já existiam "[...] 350 casas residenciais, hospital, igreja, escola, farmácia, 25 casas comerciais, 2 oficinas mecânicas, 2 ferrarias, 5 marcenarias, 2 moinhos, 2 alfaiatarias, 2 matadouros, 3 hotéis e 1 fábrica de refrigerantes" (MARTINS, 1986MARTINS, R. S. Entre jagunços e posseiros. Francisco Beltrão: Edição do autor, 1986., p.33).

Em Francisco Beltrão, é importante destacar que, além das forças promovidas pela CANGO (poder Federal) que deu os primeiros incentivos para a industrialização na região, através dela surgiram "[...] a primeira selaria, marcenaria, olaria, cerâmica, ferraria e oficina mecânica [...]" (LAZIER, 1997LAZIER, H. Análise histórica da posse da terra no sudoeste paranaense. Francisco Beltrão: Grafit, 1997., p. 40-1), a influência da indústria também teve papel preponderante para o desenvolvimento, sobretudo, da área urbana e um dos exemplos a ser citado é a indústria Camilotti Camidoor, que se instalou em 1954 e até os dias atuais possui sua planta industrial instalada no mesmo local, que por sua vez, corresponde ao centro da cidade (o coração da cidade) e causa incômodo aos moradores vizinhos. Em conversas, na indústria e com o poder local, constataram-se informações que apontam ainda não existir um plano concreto do município ou intenções da empresa de realocar a planta industrial.

[...] a expressiva densidade rural, advinda de uma ocupação de pequenos proprietários policultores, faz com que na vida de relações geradas pelo comércio e serviços, as cidades regionais assumam enorme importância. É através delas que se realizam as transações ligadas à coleta e expedição dos produtos agrícolas e ao consumo de produtos industrializados e de serviços. [...] as cidades regionais estão voltadas muito mais para o comércio e a prestação de serviços, sendo ao mesmo tempo centros de coleta e expedição de produtos agrícolas e de distribuição de bens e serviços. E é, sobretudo, através desses modos de relacionamento que o Sudoeste participa de um conjunto espacial mais amplo que encontra em Curitiba, Rio de Janeiro e São Paulo, os seus principais focos (CORRÊA, 1970bCORRÊA, R. L. Cidade e Região no Sudoeste Paranaense. RBG. v.32, n. 2, p. 3-155. 1970b. Disponível em <http://biblioteca.ibge.gov.br>. Acesso em 07/06/2007.
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, p.11).

Tais relações vinculadas às atividades terciárias proporcionam a formação de uma rede urbana no Sudoeste, refletindo a densidade da população rural e também a diversidade de suas relações.

Na sequência ocorre a fundação de mais duas sedes municipais no Sudoeste, Chopinzinho e Coronel Vivida que desmembraram-se de Mangueirinha e foram instaladas em 14 de dezembro de 1955 (veja a figura 2). Estes dois municípios tiveram suas gêneses vinculadas à ação de um órgão de colonização oficial que realizou a demarcação e o loteamento, Chopinzinho possui em sua gênese, uma singularidade, este foi sede da Colônia Militar do Chopim, instalada em 1882, a qual lentamente foi estruturando as bases para formar um núcleo urbano.

Figura 2
Desmembramento da Região Sudoeste do Paraná em 1955

Em 1961, ocorre a instalação de mais oito sedes municipais, conforme visualizado na figura 3. São João que desmembrou-se de Chopinzinho; Mariópolis, Vitorino e Renascença desmembraram-se de Clevelândia; Dois Vizinhos desmembrou-se de Pato Branco; Marmeleiro desmembrou-se de Francisco Beltrão, Ampére desmembrou-se de Capanema e de Santo Antônio do Sudoeste; e por último Pérola do Oeste desmembrou-se de Capanema.

Figura 3
Desmembramento da Região Sudoeste do Paraná em 1961

As cidades de Dois Vizinhos, Ampére, Pérola do Oeste, Vitorino, Renascença, Marmeleiro e São João originaram-se tendo como foco da vida urbana a "bodega". Os processos de constituição destes núcleos urbanos realizaram-se, essencialmente da mesma maneira como o transcorrido em Dois Vizinhos, que lá pelos idos de 1948/1949/1950 existiam duas bodegas, estas constituíram os primeiros focos de vida urbana, realizavam trocas de bens de consumo procedentes da população luso-brasileira, principalmente peles e couros. "[...] Por volta de 1953, com a crescente penetração de colonos nas redondezas, o bodegueiro de origem europeia loteou a 'posse' que possuía e construiu uma capela; em breve, começando a surgir outros comerciantes e os primeiros serviços para atender às necessidades dos colonos cada vez mais numerosos [...]" (CORRÊA, 1970bCORRÊA, R. L. Cidade e Região no Sudoeste Paranaense. RBG. v.32, n. 2, p. 3-155. 1970b. Disponível em <http://biblioteca.ibge.gov.br>. Acesso em 07/06/2007.
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, p.128).

O núcleo urbano de Mariópolis originou-se pela ação das companhias colonizadoras "Apucarana" e "Comercial". Destacando que, o município de Mariópolis teve origem ligada à Fazenda São Francisco Sales, que veio recebendo desde 1930 os primeiros pioneiros a fim de desenvolver a colonização, mas foi somente no findar dos anos 1940 que a Clevelândia Industrial e Territorial Ltda. (CITLA) adquiriu parte da área (terra em litígio) e através das colonizadoras iniciou a venda das colônias (cada uma com 10 alqueires), em 1949 a CITLA construiu a primeira serraria que contribuiu para a derrubada dos pinheiros e construção das habitações, durante a década de 1950 as serrarias se multiplicaram, além da intensificação do povoamento.

Os próximos quatro núcleos urbanos instalados datam de 1963, São Jorge do Oeste que se desmembrou de São João; Verê que se desmembrou de Dois Vizinhos; Realeza que desmembrou-se de Ampére; e Planalto que desmembrou-se de Capanema.

As cidades de Planalto e São Jorge do Oeste tiveram suas origens vinculadas à ação de companhias colonizadoras "Apucarana" e "Comercial".

A gênese de Verê iniciou-se nos anos 1920, momento que ocorre a penetração de população luso-brasileira, e a partir de 1950 com o começo da intensificação populacional, os primeiros focos de vida urbana foram estruturados pelos colonos recém-chegados que montaram seus pequenos comércios a fim de atender a população instalada e a que estava adentrando, além disso, os primeiros colonos foram os responsáveis por adquirirem as terras dos caboclos e a lotearem.

Realeza teve sua gênese a partir da instalação de uma serraria, numa fase que antecedeu a colonização, como menciona Corrêa (1970b, p. 129)CORRÊA, R. L. Cidade e Região no Sudoeste Paranaense. RBG. v.32, n. 2, p. 3-155. 1970b. Disponível em <http://biblioteca.ibge.gov.br>. Acesso em 07/06/2007.
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"[...] surgiu em decorrência da instalação, por volta de 1960, de uma serraria das indústrias CAZACA Ltda., que loteou as terras em torno do estabelecimento industrial. A ocupação do atual município se fez posteriormente à implantação do núcleo urbano [...]". Deste modo, a indústria serviu de primeiro foco da vida urbana, pois as famílias dos operários chegavam e construíam suas residências com madeira dos pinheiros que eram abundantes na época e que a própria serraria fornecia e descontava dos salários, estas famílias se instalavam próximas a serraria, formando ai uma vila (foco urbano) e foram destas famílias que se originaram os primeiros pequenos comércios, para atender o mercado consumidor local que aos poucos se formava, constituído por operários e colonos.

Em 1964, mais cinco sedes municipais foram instaladas, conforme se observa na figura 4: Santa Izabel do Oeste que desmembrou-se de Ampére; Salto do Lontra e Enéas Marques desmembraram-se de Francisco Beltrão; Itapejara do Oeste desmembrou-se de Pato Branco e de Francisco Beltrão e, por último Salgado Filho que desmembrou-se de Barracão.

Figura 4
Desmembramento da Região Sudoeste do Paraná em 1964

Santa Izabel do Oeste teve sua gênese vinculada a uma serraria (função industrial).

O núcleo urbano de Enéas Marques, Itapejara do Oeste, Salto do Lontra e Salgado Filho originaram-se, semelhantemente ao centro de Dois Vizinhos, ou seja, foram núcleos originados a partir da ação de um caboclo/colono que, normalmente de posse de uma área, loteava e vendia várias partes aos recém-chegados, além disso, possuíam também pequenos comércios responsáveis por atender a população e realizar a coleta e expedição dos produtos da área rural.

Na década de 1960, a maior parte da população do Sudoeste residia na zona rural. Para se ter uma ideia da intensidade desta realidade, basta verificar os dados do Censo Demográfico (IBGE, 1960IBGE, Inst. Bras. de Geog. e Estat. Censo demográfico - Paraná - 1960. Rio de Janeiro: IBGE, 1960. v. 1. Tomo 14.), que informa que o total da população do Sudoeste é constituído por 225.347 habitantes e o grau de urbanização somava aproximadamente 12%, logo, 88% eram habitantes rurais. Esses dados reforçam que a extração do mate e a criação de suínos, atividades econômicas basilares anteriores ao ciclo madeireiro no sudoeste, pouco contribuíram no processo de ocupação, porém foi durante o ciclo madeireiro, responsável pela derrubada da floresta, que abriu espaço para a produção rural, que a intensificação da ocupação do Sudoeste se concretizou com pequenos produtores mercantis.

Assim, o Sudoeste paranaense conheceu, durante as décadas de 1950 e 1960, o surgimento dos primeiros núcleos urbanos e sua intensificação, pois foram fundadas 24 sedes municipais. Oliveira (2001)OLIVEIRA, D. de. Urbanização e industrialização no Paraná. Curitiba: SEED, 2001. 113p. reforça a análise, para ele "[...] No Sudoeste, foram a madeira e a pecuária as atividades mais dinâmicas, gerando uma tendência à proliferação de núcleos urbanos capazes de sediar as atividades de suporte a esses ramos da economia" (OLIVEIRA, 2001OLIVEIRA, D. de. Urbanização e industrialização no Paraná. Curitiba: SEED, 2001. 113p., p.35).

Todos os municípios do Sudoeste em 1960 apresentavam uma população rural superior à urbana. A população rural do município de Pato Branco era formada, por 41.248 habitantes, e por uma população urbana de 10.333 habitantes. Seu grau de urbanização era de 20% (IBGE, 1960IBGE, Inst. Bras. de Geog. e Estat. Censo demográfico - Paraná - 1960. Rio de Janeiro: IBGE, 1960. v. 1. Tomo 14.). Destacando que, Pato Branco era neste período, o principal núcleo urbano regional.

Francisco Beltrão pleiteava nesta década a posição de principal centro urbano do Sudoeste, possuía uma população rural de 50.507 habitantes, e uma população urbana constituída por apenas 4.989 habitantes e, seu grau de urbanização, atingia tão somente 9% (IBGE, 1960IBGE, Inst. Bras. de Geog. e Estat. Censo demográfico - Paraná - 1960. Rio de Janeiro: IBGE, 1960. v. 1. Tomo 14.).

A partir dos dados apresentados, podemos ponderar que Pato Branco, além de exercer uma centralidade de destaque através da especialização de seus serviços, possuía o maior grau de urbanização na região. Desta forma, percebemos a "hegemonia" desempenhada por Pato Branco, tanto no que diz respeito, a dinâmica demográfica como na dinâmica urbana. Vale ressaltar que, o Sudoeste somava apenas 12% de habitantes urbanos, o Paraná atingia 31% e o Brasil os 45%, ou seja, a região e todos os centros individualmente estavam muito aquém da taxa de urbanização Estadual e Nacional, isso é explicado por ser está uma região de colonização tardia e/ou recente.

A partir dos anos 1950, a função de "boca de sertão" (para usar a terminologia cunhada por Pierre Monbeig) transfere-se para Francisco Beltrão que, no decorrer da década mencionada vai se transformando em um importante centro coletor da produção rural e distribuidor de bens e serviços, tornando-se, portanto rival de Pato Branco. Entretanto, mesmo assim, segundo Corrêa (1970b)CORRÊA, R. L. Cidade e Região no Sudoeste Paranaense. RBG. v.32, n. 2, p. 3-155. 1970b. Disponível em <http://biblioteca.ibge.gov.br>. Acesso em 07/06/2007.
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os empreendedores de Pato Branco, constituídos principalmente pelos comerciantes vinculados ao comércio colonial de compra e venda de produtos, perceberam que Francisco Beltrão ameaçava a hegemonia que Pato Branco possuía e, visando a retomada do processo de "supremacia" regional, a saída encontrada pelos empreendedores foi à especialização de suas atividades. Contando para tanto, "[...] com a existência de um mercado em ampliação, tanto quantitativa como qualitativamente, graças à melhoria do nível de vida dos colonos [...] e à expansão do povoamento [...]". Um exemplo elucidativo refere-se ao caso, "[...] da firma O. N. Amadori & Cia Ltda., cuja origem remonta a fins da década de 1940, como firma de comércio colonial; em 1957, constituía-se em concessionário Ford [...]" (CORRÊA, 1970bCORRÊA, R. L. Cidade e Região no Sudoeste Paranaense. RBG. v.32, n. 2, p. 3-155. 1970b. Disponível em <http://biblioteca.ibge.gov.br>. Acesso em 07/06/2007.
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, p.131).

Também alguns comerciantes distribuidores, buscaram especializarem-se através de seus contatos com empresas de fora, o que foi parcialmente garantido pela expansão do mercado. O exemplo a ser destacado aqui, se refere, "[...] a firma DIVECAR, cujas origens remontam 1947, quando foi fundada uma oficina mecânica e comércio de autopeças: em 1959 transformou-se em concessionária Chevrolet [...]". E, logo no ano de 1968, as concessionárias da Ford e da Chevrolet constituíam, "[...] atributos funcionais exclusivos de Pato Branco [...]". Constituindo-se, portanto, no principal centro do Sudoeste, destacando que, neste centro urbano, estabeleceram-se "[...] com exclusividade na região, novas firmas de distribuição de bens e serviços (material dentário, em 1960, médicos de olhos, ouvido, nariz e garganta, em 1963, órgãos administrativos regionais de 1962 a 1967) [...]". A partir de sucessiva especialização, tornou-se possível, "[...] desligar o Sudoeste paranaense da órbita de influência de União da Vitória-Porto União, colocando-se sob a influência direta da metrópole regional, Curitiba" (CORRÊA, 1970bCORRÊA, R. L. Cidade e Região no Sudoeste Paranaense. RBG. v.32, n. 2, p. 3-155. 1970b. Disponível em <http://biblioteca.ibge.gov.br>. Acesso em 07/06/2007.
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, p.131-133).

Esta posição hierárquica conquistada por Pato Branco é atribuída à capacidade de seus comerciantes em tirar proveito da situação que possuíam num passado próximo, quando visualizaram que transformações nas relações sócio-espaciais no Sudoeste estavam em curso, e visando a obtenção de maior lucratividade, buscaram garantir a oferta exclusiva de produtos para a região e/ou na abertura de filiais de suas empresas em Francisco Beltrão e em outros centros do Sudoeste. O que possibilitou Pato Branco continuar como a principal centralidade do Sudoeste.

Os anos 1970 são marcados por uma maior dinâmica demográfica no Sudoeste, onde ganhou destaque o processo de êxodo rural. A rede urbana, neste período é formada por um maior número de centros urbanos, o que por sua vez, amplia seu grau de complexidade, decorrente, principalmente, da crescente demanda por bens e serviços, engendrada pelo acréscimo populacional. Porém, devido à economia do Sudoeste até a década de 1970, expressar um fraco dinamismo, fez Corrêa (1970b)CORRÊA, R. L. Cidade e Região no Sudoeste Paranaense. RBG. v.32, n. 2, p. 3-155. 1970b. Disponível em <http://biblioteca.ibge.gov.br>. Acesso em 07/06/2007.
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entender que as cidades da região constituíam uma rede do tipo padrão christalleriano, pois, a produção sudoestina, se alicerça pelo setor primário. Poucas cidades concentravam o comércio expedidor/distribuidor, bem como as atividades bancárias, os serviços de educação, saúde etc. De tal forma que, as relações na/da rede, preponderavam às interações terciárias, sendo reduzidos os fluxos do setor produtivo regional com a economia nacional/mundial.

De fato, o setor produtivo possuía uma reduzida dinâmica até os anos 1970, isso conforme os dados do Censo Industrial do IBGE que demonstraram que a industrialização regional era composta, sobretudo pelo setor madeireiro. Setor responsável pela geração de aproximadamente 73% dos empregos nas indústrias e angariou 70% de participação no valor da produção.

De acordo com o Censo Demográfico de 1970, o Sudoeste paranaense, totalizou 434.324 habitantes (IBGE, 1970IBGE, Inst. Bras. de Geog. e Estat. Censo demográfico - 1970. Rio de Janeiro: IBGE, 1970.). O que consequentemente, ampliou o grau de urbanização da região, situando-se em torno de 17%. Todavia, o grau de habitantes rurais ainda predominava, com 83%.

Nesta conjuntura, Pato Branco, com 15.420 habitantes urbanos, permanecia com o maior número de habitantes urbanos do Sudoeste e, seu contingente populacional rural era formado por 17.984 pessoas. Seu grau de urbanização somou 45% e apresentava tendências de sobrepujar a população rural ainda no decorrer da década de 1970 (IBGE, 1970IBGE, Inst. Bras. de Geog. e Estat. Censo demográfico - 1970. Rio de Janeiro: IBGE, 1970.).

Neste período, Francisco Beltrão, contabilizou 13.413 habitantes urbanos e 23.394 rurais e, seu grau de urbanização chegou a 36% (IBGE, 1970IBGE, Inst. Bras. de Geog. e Estat. Censo demográfico - 1970. Rio de Janeiro: IBGE, 1970.).

No que diz respeito à rede urbana estruturada no primeiro estudo sobre as Regiões de Influência das Cidades (REGIC), o qual foi denominado como Divisão do Brasil em Regiões Funcionais Urbanas, editado pelo IBGE em 1972, o centro urbano de Pato Branco possuía um nível de centralidade superior ao centro de Francisco Beltrão.

A rede de Pato Branco contabilizava 23 centros urbanos, lembrando que está somava Francisco Beltrão e os centros de sua rede. Essa rede contabilizou 80.157 habitantes urbanos, o que representava 17,96% de urbanização. Já a rede de Francisco Beltrão somou 16 centros e 51.866 habitantes urbanos, que perfaziam 16,05% de urbanização. Portanto, a rede de Pato Branco levava certa vantagem, em termos demográficos e em sua dinâmica de interações.

No final dos anos 1970 e durante a década de 1980, ocorrem transformações na rede urbana de Francisco Beltrão, através da instalação de empresas no setor de comércio e serviços, além de estabelecimentos industriais (neste setor ganha destaque a empresa SADIA, atual BRF).

O Sudoeste paranaense, conforme dados do Censo Demográfico de 1980, possuía 527.645 habitantes (IBGE, 1980IBGE, Inst. Bras. de Geog. e Estat. Censo demográfico - 1980. Rio de Janeiro: IBGE, 1980.). No entanto, sua população rural continuava superior à urbana. Foram contabilizados 356.822 habitantes rurais e 170.823 urbanos. O grau de urbanização regional atingiu 32,37% (enquanto o Paraná somou 58,93%).

Em 1980, Pato Branco, alcançou o grau de urbanização de 68,84%, através de seus 32.255 habitantes urbanos contra 14.598 rurais (IBGE, 1980IBGE, Inst. Bras. de Geog. e Estat. Censo demográfico - 1980. Rio de Janeiro: IBGE, 1980.). Francisco Beltrão, também atinge uma população urbana superior a rural, contabilizando 28.988 habitantes urbanos, frente aos 20.625 rurais, o que proporciona um grau de urbanização de 58,43%. Apenas estes dois centros da região conseguiram superar o índice dos 50% de urbanização; sete centros alcançaram índices entre 30 e 49% e os 15 municípios restantes ficaram abaixo dos 30% de urbanos (IBGE, 1980IBGE, Inst. Bras. de Geog. e Estat. Censo demográfico - 1980. Rio de Janeiro: IBGE, 1980.).

As modificações mais sensíveis na região se deram na dinâmica da agricultura e da indústria, pois no decorrer dos anos 1970 a modernização da agricultura ou a inserção do capitalismo na agricultura atinge o Sudoeste e, esse passa pelas transformações que já se desenvolviam em outras regiões do país e do Paraná. Crocetti (2012)CROCETTI, Z. S. Formação Sócio-Espacial do Paraná. 2012. 355f. Tese (Doutorado em Geografia). Programa de Pós-Graduação em Geografia UFSC, 2012. verificou que a partir dos "[...], anos 1970, a região passa a produzir também para o mercado externo, com o crescimento da cultura da soja. Com base na produção regional de grãos, estabeleceu-se também a criação de suínos e de aves e, atualmente, expande-se e moderniza-se a produção de leite" (CROCETTI, 2012CROCETTI, Z. S. Formação Sócio-Espacial do Paraná. 2012. 355f. Tese (Doutorado em Geografia). Programa de Pós-Graduação em Geografia UFSC, 2012., p. 120).

Nos anos 1970 existiam no Sudoeste 667 unidades fabris, que aumentam para 830 em 1980.

Em relação ao setor terciário, as cidades com maior grau hierárquico na região, ou seja, Pato Branco e Francisco Beltrão, com o aumento da população e a ampliação do mercado consumidor local, as "bodegas", foram aos poucos cedendo lugar às instalações modernas de autosserviços.

Já no REGIC editado pelo IBGE em 1987IBGE, Inst. Bras. de Geog. e Estat. Regiões de influência das cidades brasileiras. Rio de Janeiro, 1987., Pato Branco era denominado como Capital Regional no nível de centralidade, continuando a ter um nível de centralidade superior a Francisco Beltrão, que no momento foi denominado como Centro Sub-Regional. Este último centro polarizava 17 cidades em sua rede, no entanto, continuava sendo polarizado por Pato Branco, ou seja, este último centro além de polarizar 19 cidades, somava também os centros da rede de Francisco Beltrão. Destacando que Pato Branco continuou pertencendo à rede urbana de Curitiba.

A rede de Pato Branco se destacava, com uma urbanização de 53,86%, superior as estatísticas urbanas do Sudoeste que era de apenas 32,37%, mas inferir aos 58,93% de urbanização do PR.

A rede de Francisco Beltrão somava 13 centros urbanos e, apresentava 30% de habitantes urbanos, índice abaixo da região, do Estado e da própria rede de Pato Branco.

Todavia, a rede de Francisco Beltrão se destacava perante o número de habitantes urbanos, os quais somavam 94.322 pessoas, o que por sua vez, representava quase 2,5 vezes o número de habitantes das cidades da rede de Pato Branco.

No ano de 1983, ocorre a instalação de Nova Prata do Iguaçu (desmembrado de Salto do Lontra) e Pranchita (desmembrado de Santo Antônio do Sudoeste). Já, a última sede municipal instalada no Sudoeste na década de 1980 foi Sulina, que se desmembrou de Chopinzinho em 1989.

A partir do Censo Demográfico de 1991, verificamos que, o processo de urbanização do Sudoeste paranaense continuou ampliando-se a cada década. Esta publicação apresentou o total de 523.958 habitantes no Sudoeste, destes, 277.238 eram habitantes rurais e 246.720 habitantes urbanos. Por conseguinte, o grau de urbanização do Sudoeste atingiu a marca dos 47%, sendo que, apenas quatro municípios apresentaram taxas de urbanização superior aos 50% (IBGE, 1991IBGE, Inst. Bras. de Geog. e Estat. Censo demográfico - Paraná - 1991. Rio de Janeiro: IBGE, 1991.).

Em 1991, o município de Pato Branco apresentou uma população rural formada por 12.269 habitantes e uma população urbana constituída por 43.406. Seu grau de urbanização atingiu 77%. Francisco Beltrão contabilizou 45.622 habitantes urbanos e totalizou uma população rural de 15.650. Consequentemente, seu grau de urbanização elevou-se para 74%. Crescimento urbano que, de certa forma, já apresentava um razoável mercado consumidor para as mercadorias industriais.

Outro centro que se destaca em relação a população urbana é Dois Vizinhos, pois atinge os 43.406 habitantes urbanos, contra 18.065 habitantes rurais. Dados que, proporcionaram um grau de urbanização de 55%. Este fato, ganha relevância, entre outros, a partir da instalação do Frigorífico da Sadia S/A, o que por sua vez, gerou os primeiros impulsos de atração demográfica e de empresas para a cidade, ampliando assim, sua dinâmica urbana (IBGE, 1991IBGE, Inst. Bras. de Geog. e Estat. Censo demográfico - Paraná - 1991. Rio de Janeiro: IBGE, 1991.).

No ano de 1993, ocorreu a instalação de mais sete sedes municipais no Sudoeste (conforme figura 5), são eles: Bom Sucesso do Sul (desmembrado de Pato Branco); Saudade do Iguaçu (desmembrado do Chopinzinho); Boa Esperança do Iguaçu e Cruzeiro do Iguaçu (desmembrados de Dois Vizinhos); Flor da Serra do Sul (desmembrado dos municípios de Barracão e Marmeleiro); Pinhal de São Bento (desmembrado de Santo Antônio do Sudoeste) e Nova Esperança do Sudoeste (desmembrado de Enéas Marques). Destacando que, os últimos cinco fazem parte da atual rede de Francisco Beltrão (REGIC, 2008).

Figura 5
Desmembramento da Região Sudoeste do Paraná em 1993

As três últimas sedes municipais criadas no Sudoeste paranaense até o momento foram: Bela Vista da Caroba (desmembrado de Pérola do Oeste); Bom Jesus do Sul (desmembrado de Barracão) e Manfrinópolis (desmembrado de Salgado Filho), destacando também que, o município de Coronel Domingos Soares na região dos Campos de Palmas também teve sua instalação no ano de 1997. Portanto, desde 1997 estava formada a configuração municipal atual do Sudoeste paranaense, lembrando que para tanto, precisamos excluir os municípios localizados nos Campos de Palmas, ou seja, as municipalidades que estão fora da mesorregião Sudoeste, mesmo estas fazendo parte da gênese do Sudoeste, fazem parte de outra formação sócio-espacial, bem como de outra mesorregião (IBGE, 1990IBGE, Inst. Bras. de Geog. e Estat. Divisão do Brasil em mesorregiões e microrregiões geográficas. Rio de Janeiro: IBGE, 1990.).

No ano de 2000 a população total do Sudoeste decresce para 472.626 habitantes, contra os 523.958 habitantes registrados em 1991. Sua população rural também diminui significativamente, de 277.238 habitantes de 1991, para 186.192 habitantes em 2000. Porém, a população urbana continuou ascendendo passando de 246.720 em 1991, para 286.434 habitantes em 2000. Estes dados proporcionaram um grau de urbanização de 61% (IBGE, 2000IBGE, Inst. Bras. de Geog. e Estat. Censo demográfico - Paraná - 2000. Rio de Janeiro: IBGE, 2000.).

Entre os 37 centros urbanos do Sudoeste, 18 centros apresentaram um grau de urbanização superior a 50% e, os 19 centros restantes, não atingiram o índice de 50%.

Neste contexto urbano, a cidade com o maior grau de urbanização continuou sendo Pato Branco, que alcançou os 91% no ano 2000. Para tanto, sua população urbana neste mesmo ano, contabilizou 56.805 habitantes e seus habitantes rurais somaram 5.429. Já Francisco Beltrão, consegue ultrapassar todas as municipalidades, em relação ao total populacional. Com seus 67.132 habitantes é o município mais populoso do Sudoeste paranaense. Porém, sua população urbana ainda é menor que a de Pato Branco, totalizando em 2000, 54.831 habitantes, o que lhe fez ser o município mais populoso foi sua população rural, que somou 12.301 moradores, mais que o dobro de habitantes rurais de Pato Branco. Por isso, sua urbanização, totalizou apenas 81% (IBGE, 2000IBGE, Inst. Bras. de Geog. e Estat. Censo demográfico - Paraná - 2000. Rio de Janeiro: IBGE, 2000.).

No REGIC realizado em 1993, porém publicado pelo IBGE somente no ano 2000, a rede urbana estruturada pelo centro de Francisco Beltrão deixa de ser polarizada por Pato Branco e passa a ser polarizada pela capital do Estado do Paraná, Curitiba, que também polariza Pato Branco. Neste REGIC (2000b), Francisco Beltrão polariza 27 centros urbanos em sua rede e, Pato Branco polariza 24 centros. Estes dois centros possuíam o nível de centralidade Forte para Médio.

Pato Branco atinge os 91% de urbanização, uma taxa muito expressiva que faz com que este centro desempenhe uma dinâmica urbana em relação a suas atividades de comércio e serviços de grande valia para sua área de influência. E, mesmo não sendo está rede urbana nosso foco central neste estudo, podemos dizer que a centralidade de Pato Branco, mesmo perdendo razoável força, segundo o REGIC de 2000(um exemplo é que foi somente nesta pesquisa que o IBGE aponta que Pato Branco deixa de polarizar Francisco Beltrão), continuou sendo a mais dinâmica, no decorrer dos anos 1990, sobretudo, em relação as atividades urbanas, pois, este exercia a função de pólo universitário, médico-hospitalar, comércio de produtos mais sofisticados etc.

Já em 2000, Pato Branco, passou a destacar-se como um centro tecnológico regional, através de incubadoras de empresas de base tecnológica, saídas em sua maioria, inicialmente das pesquisas dos acadêmicos da UTFPR - Campus de Pato Branco e, que foram/encontram-se sediadas no Centro de Tecnologia Industrial do Sudoeste (CETIS), que é um condomínio industrial organizado em 1998 pela Copel; Laboratório Central de Pesquisa e Desenvolvimento (LACTEC); Prefeitura de Pato Branco e Governo Federal; com apoio do CEFET atual UTFPR.

Segundo o REGIC de 2000, após o centro de Francisco Beltrão, a centralidade de Dois Vizinhos (polarizado por Francisco Beltrão) apresentava-se como a mais dinâmica, pois conforme o Censo (IBGE, 2000IBGE, Inst. Bras. de Geog. e Estat. Censo demográfico - Paraná - 2000. Rio de Janeiro: IBGE, 2000.), somou uma população urbana de 22.382 habitantes e uma população rural de 9.604 moradores, atingindo um índice de urbanização de 69%.

A partir dos anos 1990, vamos verificar que os industriais e agroindustriais passaram a dominar a rede, domínio este iniciado nos anos 1980, mas que após os dois primeiros quartéis dos anos 1990 ampliaram suas participações no total de estabelecimentos e empregos. O setor terciário começou a se expandir nos anos 1990, mas, já nos anos 1970 existiam concessionárias de automóveis na região, muitas destas foram trazidas por aqueles que eram proprietários em Pato Branco e não queriam perder o mercado consumidor de Francisco Beltrão. Em 1972 teve início o Grupo Meimberg em Dois Vizinhos com a aquisição da Divel, concessionária Volkswagen, grupo que, atualmente possui a maioria das concessionárias de automóveis presentes nos centros da rede.

A partir das concessionárias vieram os postos de combustíveis, primeiro os da bandeira Petrobrás (BR) e à medida que aumentava os números de veículos, aumentavam os postos de combustíveis, que juntamente com as concessionárias ampliavam as interações na rede. Um dado interessante é que, desde aquela época (anos 1970/1980) os automóveis vinham direto das montadoras para Francisco Beltrão e/ou para a cidade sede da concessionária que havia realizado a venda, portanto, não necessitava passar por centros de maior hierarquia da rede urbana brasileira, até chegar, por exemplo a Dois Vizinhos. Deste modo, para esse setor, parte das proposições de Christaller (1966)CHRISTALLER, W. Central Places in Southern Germany. Prentice-Hall, Inc. Englewood Cliffs, 1966., não condizem, mas em relação a dinâmica da rede como um todo, as proposições apresentam certo grau de validação, pois existiam (como ainda existem) em centros de maior hierarquia, várias empresas atacadistas, responsáveis pela aquisição de produtos de empresas localizadas em centros de maior nível hierárquico e reexpedição destes para centros de menor nível hierárquico, o inverso também é verdadeiro.

A rede urbana de Francisco Beltrão, conforme o REGIC publicado em 2008, é formada pela cidade de Francisco Beltrão mais 24 centros e, é polarizada por Cascavel (figura 6). Francisco Beltrão e Dois Vizinhos possuem o maior percentual de população urbana, 85,43% e 77,67%, respectivamente (IBGE, 2010), além de serem os dois maiores centros da rede, de possuírem os maiores níveis hierárquicos (Francisco Beltrão, "Centro Sub-regional A" e Dois Vizinhos, "Centro de Zona A") e os que possuem o maior número de atividades industriais, de comércio e serviços.

Figura 6
Centros da Rede Urbana de Francisco Beltrão e Pato Branco

Já a rede de Pato Branco, a partir do REGIC (IBGE, 2008IBGE, Inst. Bras. de Geog. e Estat. Regiões de influência das cidades 2007. Rio de Janeiro: IBGE, 2008. 201p. Disponível em <http://www.ibge.gov.br/home/geociencias/geografia/regic.shtm>. Acesso em 12/10/2008.
http://www.ibge.gov.br/home/geociencias/...
), é formada pela cidade de Pato Branco mais 13 centros e, é polarizada por Curitiba. Pato Branco possui o mesmo nível hierárquico de Francisco Beltrão, ou seja, "Centro Sub-regional A".

A rede de Francisco Beltrão desenvolveu uma urbanização reduzida, pois seu patamar era de apenas 16%, em 1970 e evoluiu para 67,42% em 2010. Uma taxa de urbanização menor que a nacional (84,4%), menor que a do Estado (85%), menor que a do Sudoeste paranaense (70,23%) e menor que a da rede de Pato Branco (76,78%). Um fato que corrobora para que a rede possua um baixo índice de urbanização é que, dos 25 centros da rede, nove possuem maior porcentagem de população rural e seis possuem população rural na faixa dos 40% (IBGE, 2010).

Outro quesito importante a destacar ao leitor é a malha rodoviária atual presente no Sudoeste paranaense, até porque são por estas rodovias que ocorrem o deslocamento populacional e da produção e quanto mais qualificadas forem estas infraestruturas mais benefícios irão, por sua vez, trazer para o desenvolvimento urbano e regional.

Podemos considerar a maioria dos centros da rede de Francisco Beltrão e Pato Branco como cidades locais, aqueles que estão na confluência do rural com o urbano (CORRÊA, 2011CORRÊA, R. L. As pequenas cidades na confluência do urbano e do rural. GEOUSP, São Paulo, n.30, 2011.), sendo uma tarefa árdua diferenciá-los. Mas podemos dizer que, os dois principais centros de suas respectivas redes, Francisco Beltrão e Pato Branco, são cidades pequenas, que se apresentam em nível superior, devido sua dinâmica, podemos até considerá-la como estando no limiar entre a cidade pequena, propriamente dita, e a cidade de porte médio, mas que, sobretudo, trata-se de cidades regionais, pois possuem uma capacidade de organização e direção da vida regional. Já as cidades de Realeza, Santo Antônio do Sudoeste, Ampére e São João, por possuírem uma dinâmica demográfica e de atividades urbanas em expansão, também podem ser consideradas cidades pequenas (porém, em nível inferior as principais centralidades da rede), sobretudo, os três últimos centros, que possuem dinâmicas industriais consideradas e é através destas produções que se inserem na rede.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No decorrer deste trabalho verificou-se a formação sócio-espacial Sudoeste paranaense, bem como a formação da rede urbana de Francisco Beltrão e de Pato Branco e a gênese de suas respectivas cidades.

A formação sócio-espacial dos centros da rede (e do Sudoeste paranaense) calcada na pequena produção mercantil foi de extrema importância para o processo de ocupação e para suscitar a gênese das cidades e do processo de industrialização, vinculados a um pequeno comércio (as conhecidas bodegas) e artesanato local (produtor de utensílios domésticos e ferramentas), além das serrarias que vieram depois e ajudaram a limpar a área, liberando-a para produção. Deste modo, muitas atividades artesanais eram realizadas nos estabelecimentos rurais e até meados dos anos 1970-1980, ainda não tinham completado sua desintegração do campo, para se transformarem em atividades industriais (divisão do trabalho), explanação realizada por Rangel (1990)RANGEL, I. Introdução ao desenvolvimento econômico brasileiro. Rio de Janeiro: Bienal, 1990. 125p..

Os primeiros focos da vida urbana no Sudoeste paranaense surgiram junto às conhecidas regionalmente "bodegas" (comércios de secos e molhados). Ali, se reunião os moradores das colônias (pequenos proprietários rurais) e os bodegueiros, realizavam tanto transações com a população de toda a região, como os bodegueiros das áreas mais remotas, assegurando uma função regional. Portanto, o desenvolvimento dos centros urbanos, conjunturalmente, permaneceu conectado, às mais distintas necessidades do universo colonial.

As cidades locais que foram sendo instaladas passaram a desempenhar um papel fundamental no processo de ocupação do território. A presença de uma cidade representava como fato concreto a possibilidade de que as terras seriam ocupadas rapidamente. Cada cidade atendia, as necessidades básicas da população urbana e rural em termos de bens e serviços.

O processo de urbanização do Sudoeste paranaense ocorreu de forma gradativa, porém lenta. Atualmente, a taxa de urbanização regional atinge aproximadamente os 70%, ou seja, quando comparamos com outras regiões, ou mesmo com o Paraná e com o Brasil, verifica-se que, a taxa de urbanização na região é ligeiramente reduzida. Um fato que corroborou para melhor entender esta questão, diz respeito que, a região é formada por pequenas e médias propriedades rurais familiares, o que nos permite entender o porquê mais de 50% do número dos municípios possuírem índice de urbanização de até 60%, sendo que, grande parte possuem taxa de população rural acima da urbana.

Assim, a maioria dos núcleos urbanos estão na confluência do rural e com o urbano, o que representa um aspecto central em relação a rede urbana, já que a população destas localidades necessitam deslocar-se para Francisco Beltrão ou Pato Branco (que são cidades regionais) para obterem serviços médico-hospitalares, ensino médio e superior, além de buscarem mais opções de comercio e serviços.

Portanto, lançamos mão de um ferramental da categoria de formação sócio-espacial, que casa-se com a perspectiva da geografia histórica, pois procura realizar uma análise do processo histórico, buscando desvelar os pilares da organização/transformação espacial que decorre da unidade da continuidade e da descontinuidade. Assim, a geografia histórica é, fundamentalmente, um estudo geográfico sobre o passado, na essência é um estudo de geografia e não de história.

AGRADECIMENTOS

À Coordenação de Pessoal de Nível Superior (Capes) pela bolsa de estudos recebida por meio do Programa Nacional de Pós-Doutorado (PNPD/Capes).

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    2017

Histórico

  • Recebido
    01 Jul 2017
  • Aceito
    07 Ago 2017
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