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Discurso de posse: uma análise das avaliações positivas

Inaugural speech: an analysis of positive evaluations

Resumos

Esta pesquisa tem como objetivo analisar o discurso de posse do atual Secretário da Educação de São Paulo, tendo como base teórica a Linguística Sistêmico-Funcional, (HALLIDAY; MATHIESSEN, 2004; e sua extensão), bem como o Sistema de Avaliatividade (MARTINS; ROSE, 2005), a fim de verificar a construção discursiva que se realiza por meio da categoria Atitude, mais especificamente dos recursos pertencentes aos campos semânticos do Afeto, do Julgamento e da Apreciação, bem como suas subcategorias. O objetivo central é, desse modo, identificar a atitude presente no posicionamento discursivo do produtor do texto em relação aos seus interlocutores, tendo em vista as avaliações positivas e as propostas apresentadas para o futuro.

Linguística Sistêmico-Funcional; Avaliatividade; Atitude; Discurso de Posse


This research aims to analyze the inaugural speech of the current Secretary of Education of São Paulo, based on theoretical Systemic Functional Linguistics, (HALLIDAY; MATHIESSEN, 2004; and its extension) and the evaluative system (MARTIN; ROSE, 2005), to verify the discursive construction that takes place through the Attitude category, specifically the resources belonging to the semantic fields of Affect Judgment and Appreciation, as well as their subcategories. The main objective is thus to identify the attitude present in the discursive positioning of the producer of the text in relation to interlocutors, in view of the positive evaluations and proposals for the future.

Systemic Functional Linguistics; evaluative; Attitude; Inaugural Speech


ARTIGOS

Discurso de posse: uma análise das avaliações positivas1 1 Trabalho de aproveitamento solicitado pela Professora Doutora Leila Bárbara, apresentado como exigência da disciplina "Análise de dados usando Linguística Sistêmico-Funcional e Linguística de Corpus".

Inaugural speech: an analysis of positive evaluations

Eva Pereira da Rocha

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo São Paulo - São Paulo / Brasil, litereva@hotmail.com

RESUMO

Esta pesquisa tem como objetivo analisar o discurso de posse do atual Secretário da Educação de São Paulo, tendo como base teórica a Linguística Sistêmico-Funcional, (HALLIDAY; MATHIESSEN, 2004; e sua extensão), bem como o Sistema de Avaliatividade (MARTINS; ROSE, 2005), a fim de verificar a construção discursiva que se realiza por meio da categoria Atitude, mais especificamente dos recursos pertencentes aos campos semânticos do Afeto, do Julgamento e da Apreciação, bem como suas subcategorias. O objetivo central é, desse modo, identificar a atitude presente no posicionamento discursivo do produtor do texto em relação aos seus interlocutores, tendo em vista as avaliações positivas e as propostas apresentadas para o futuro.

Palavras-chave: Linguística Sistêmico-Funcional; Avaliatividade; Atitude; Discurso de Posse.

ABSTRACT

This research aims to analyze the inaugural speech of the current Secretary of Education of São Paulo, based on theoretical Systemic Functional Linguistics, (HALLIDAY; MATHIESSEN, 2004; and its extension) and the evaluative system (MARTIN; ROSE, 2005), to verify the discursive construction that takes place through the Attitude category, specifically the resources belonging to the semantic fields of Affect Judgment and Appreciation, as well as their subcategories. The main objective is thus to identify the attitude present in the discursive positioning of the producer of the text in relation to interlocutors, in view of the positive evaluations and proposals for the future.

Keywords: Systemic Functional Linguistics; evaluative; Attitude; Inaugural Speech.

Introdução

Algumas das questões mais discutidas atualmente na sociedade em geral e na área da Educação estão relacionadas à qualidade do ensino e ao trabalho do professor, este em especial, no âmbito da escola pública.

Atualmente, o contexto educacional brasileiro vivencia um processo de transição, que na sociedade em geral e muitas vezes no âmbito da escola, recebe a nomeação de "crise da educação", como se esta "crise" pudesse ser considerada à parte das demais esferas da sociedade. Várias pesquisas, principalmente aquelas inscritas nas perspectivas histórico-sociais e por isso mesmo políticas, apontam para o cenário turbulento em que se encontra, não somente a educação de nosso país, mas a sociedade como um todo, conduzindo nosso olhar para a complexidade desse tempo, no qual estamos todos imersos.

Diante desse quadro, torna-se importante dizer que a análise deste trabalho se configura com base nas representações construídas em meu trabalho de especialização,2 2 "Eu educo porque..." um estudo sobre o fazer pedagógico (2007). que teve como objetivo analisar o discurso dos professores de uma escola da rede oficial de ensino no contexto de uma reunião de Planejamento Anual, com a finalidade de examinar como o professor percebe seu trabalho na ação pedagógica. Os resultados mostrados neste primeiro trabalho revelaram dados que contribuíram para o direcionamento aqui apresentado.

Tendo como ponto central o funcionamento da linguagem, bem como seu papel mediador nas relações estabelecidas entre o homem e o mundo, a presente análise insere-se na perspectiva teórica sociossemiótica da Linguística Sistêmico-Funcional. Desse modo, ao trazer o corpus em questão pretende-se lançar um olhar para as construções discursivas nele realizadas tendo em vista o posicionamento do produtor de texto em relação aos seus interlocutores, pelo entendimento de que se trata de um espaço favorável para se estabelecer um diálogo engajado entre política e educação. Nesse sentido, a proposta aqui pretendida tem como delimitação a categoria Atitude do Sistema de Avaliatividade, mais especificamente, os campos semânticos Afeto, Julgamento e Apreciação, nas ocorrências de avaliações positivas e propostas para o futuro, construídas no discurso de posse do Secretário da Educação do Estado de São Paulo, Paulo Renato de Souza.3 3 < http://www.paulorenatosouza.com.br/discursonoticia.asp?id=23>. Acesso em: 25 nov. 2009.

Fundamentação Teórica

A perspectiva hallidayana apresenta a língua como um sistema semiótico caracterizado pela aquisição de significado com base em escolhas linguísticas que se realizam orientadas pelo contexto de uso. Em relação à possibilidade de realização de outras escolhas, pode-se ter uma visão apropriada ou não de determinadas escolhas, tendo em vista seu contexto de uso, além da possibilidade de ter a língua como um instrumento de construção de significados em contextos diversos.

Na visão de Halliday (1985), um sistema semiótico implica possibilidade de escolha investida de significado em relação a outras escolhas que poderiam ter sido feitas. O que explica essa capacidade de construção de significados e realização de escolhas é o fato de a língua ser um código convencionalizado e organizado como um conjunto de escolhas, por possuir um "nível intermediário de codificação", a léxico-gramática.

Para Halliday (1985), os significados construídos são materializados nas orações e passíveis de verificação na descrição gramatical, daí a importância da análise textual. Assim, a léxico-gramática é responsável pela inserção dos significados nas orações, pois, ao se fazer uma escolha no sistema linguístico, o que se descreve ou o que se diz, adquire significado em oposição às escolhas que poderiam ter sido feitas.

Nesse sentido, tendo como norte a premissa de que a linguagem representa alguma coisa, a construção dos significados nas interações linguísticas do cotidiano é realizada de acordo com o contexto cultural e social em que ocorrem e permite o entendimento não só da qualidade dos textos mas também dos motivos que levam um texto a significar o que significa.

Na abordagem semântico-funcional, levam-se em conta duas dimensões: uma que se refere à descrição do sistema da língua, em que localizam-se os possíveis significados a serem construídos; e outra, voltada à descrição de como a língua é usada em diferentes contextos sociais para cumprir as metas culturais; aqui o foco é a função da escolha feita e os motivos pelos quais se escolheu aquele significado.

A língua como um sistema semiótico complexo enreda níveis variados de oposições que implicam em escolhas linguísticas e construção de significados nos quais estão envolvidos a atitude do falante e seu posicionamento. Assim, língua e contexto assumem um caráter de inte-relação em que as escolhas realizadas são orientadas pelo contexto de uso.

Desse modo, conforme a Linguística Sistêmico Funcional, as escolhas linguísticas são realizadas por conta de três significados indissociáveis, que realizados por meio da linguagem e estruturados simultaneamente, são classificados por Halliday e Mathiessen (2004, p. 64-105), como metafunções, quais sejam, a textual, a ideacional ou experiencial e a interpessoal. A metafunção textual é a responsável pela organização da mensagem, a ideacional ou experiencial, pela representação exterior e interior do mundo, da realidade e a metafunção interpessoal dá conta da interação entre os participantes da linguagem (HALLIDAY; MATHIESSEN, 2004, p. 106-167).

Nessa perspectiva, a língua enquanto sistema semiótico realiza-se no nível léxico-gramatical em que significados são construídos por meio de escolhas linguísticas orientadas pelo contexto de uso. Assim, é por possibilitar a criação de um quadro mental da realidade para compreender tanto os acontecimentos ao seu redor quanto em seu interior, que a língua é necessária ao ser humano.

O Sistema de Avaliatividade

Conforme nos sinaliza Vian Jr. (2009, p. 99), o posicionamento do produtor de um texto, seja oral ou escrito, pode ser evidenciado por diversos tipos de "avaliações" contidas no modo como a interação produtor-interlocutor é realizada e na maneira como o produtor "julga o mundo concebido". Tais avaliações são expressões que o produtor realiza no nível "léxico-gramatical" e dessa forma dão conta tanto da intensidade dos sentimentos expressos quanto dos "tipos de atitudes negociadas no texto".

Por meio da interação com o interlocutor e lançando mão dos recursos que a língua disponibiliza, o produtor de textos pode se posicionar, emitindo avaliações sobre pessoas, objetos, acontecimentos e tudo o que abarca as relações humanas. É nesse sentido que as avaliações expressas em um texto indicam a atitude do produtor em relação ao que expressa no nível semântico-discursivo, pois "(...) ao interagirmos, através de textos, sinalizamos para o nosso interlocutor nossas atitudes em relação ao que expressamos." (VIAN JR, 2009, p. 101).

É nesse sentido que o posicionamento do produtor de um texto pode ser observado por meio das avaliações presentes na interação produtorinterlocutor, que na construção discursiva realiza-se orientada pela relação que estabelece com o contexto de uso.

De acordo com Martin e White (2005), o Sistema de Avaliatividade é composto pelos campos semânticos do Engajamento, da Gradação e da Atitude, este último distribuído nos subcampos: Afeto, Julgamento e Apreciação, sendo que nestes campos podem ocorrer tanto avaliações negativas quanto positivas, conforme o quadro abaixo (VIAN JR., 2009, p. 105).

Segundo os estudos de Vian Jr. (2009, p. 99), o campo semântico do Engajamento, se relaciona à postura assumida pelo produtor do texto em relação aos seus interlocutores. Partindo da premissa bakhtiniana de que toda interação verbal é dialógica e toda interação é realizada em função de um para outro, além do aspecto sociocultural da língua e dos contextos de realização, o autor supracitado nos diz que nesse campo, realiza-se o discurso mais ou menos ampliado, com um nível maior ou menor de comprometimento.

No que diz respeito ao sistema Gradação, a avaliação pode ser amplificada ou reduzida, com discursos mais ou menos intensos, tendo-se então, a amplificação ou restrição dos fenômenos e sentimentos. Desse modo, a realização da gradação ocorre nos eixos de intensidade ou quantidade (Força) e de precisão (Foco) (VIAN JR., 2009, p. 105).

Conforme nos assegura Martin e White (2005, p. 92), há uma indissolubilidade entre signo e situação social e do mesmo modo, uma indissociabilidade entre texto-contexto, proposto pela gramática sistêmicofuncional, deixando clara a ideia de que as avaliações expressas nos textos dão conta da construção do posicionamento e atitudes do produtor em relação ao interlocutor.

Desse modo, para Martin e Rose (2005, p. 92-97), o Engajamento relaciona-se à perspectiva dialógica da linguagem, por englobar as diferentes vozes do discurso, bem como o diálogo que estabelecem com o interlocutor e a Gradação é responsável pela amplificação ou redução do tom discursivo, dando a ele maior ou menor intensidade.

O campo Atitude

Ainda tendo como base os estudos de Martin e White (2005, p. 45), o campo Atitude é um sistema da semântica discursiva e conforme mencionado, relaciona-se à expressão dos sentimentos e do seu conteúdo semântico, bem como abrange a semântica dos sentimentos expressos no texto, tendo como base os princípios filosóficos de ética, estética e emoção. Esse sistema está subdividido em três subsistemas: Afeto, Julgamento e Apreciação. Assim, a atitude que expressamos distribui-se por esses três campos como sentimentos institucionalizados. Para os limites do trabalho aqui apresentado, teremos como eixo norteador, o campo Atitude.

Ao subsistema Afeto, relaciona-se a expressão dos sentimentos ligados à emoção, ao coração, nos campos do gostar, do sentir. O Julgamento referese ao universo dos comportamentos, orientando-se pelas regras e pela moral estabelecida socialmente, enquanto a Apreciação refere-se ao valor atribuído socialmente ao objeto avaliado. Os subsistemas supracitados são subdivididos conforme se apresenta a seguir (MARTIN; WHITE, 2005, p. 42-91).

Conforme Martin e White (2005, p. 45-52), o subsistema Afeto divide-se em In/Felicidade, que abrange os sentimentos relacionados aos estados de felicidade ou tristeza; In/Satisfação, em que são expressos os sentimentos de conquistas e fracassos pessoais na busca de objetivos e In/Segurança, que envolve os sentimentos ligados à autoconfiança e à forma como as pessoas se relacionam com o meio e incluem os sentimentos de paz ou ansiedade que determinadas situações, locais ou companhias desencadeiam.

O subsistema Julgamento é dividido nos campos Estima Social e Sansão social, sendo que o primeiro subdivide-se nos recursos de Normalidade, Capacidade e Tenacidade, enquanto o segundo subdivide-se em Veracidade e Propriedade, conforme apresentado no quadro a seguir:

O campo Estima Social, presente mais frequentemente na oralidade, dá conta das avaliações orientadas pelo comportamento humano, tendo como norte a aceitação da sociedade e os ideais constituídos nas diferentes redes de afeição, estando em jogo os aspectos culturais nas expressões de valores comuns à comunidade ou sociedade e reforçando os laços sociais. Essas avaliações são mais frequentes na oralidade e acabam por reforçar os laços sociais criados entre as comunidades que partilham os mesmos valores (MARTIN; WHITE, 2005, p. 52).

O subcampo Normalidade relaciona-se às noções de comportamento pré-estabelecidas em contraste ao que se apresenta de modo diferente, fora do padrão estabelecido socialmente (MARTIN; WHITE, 2005, p. 52-56).

As avaliações que têm como base o potencial das pessoas, bem como a capacidade de realização com o que se comprometem a realizar, estão localizadas no subcampo Capacidade, relacionado ao que se coloca culturalmente como sucesso e fracasso em termos de realização pessoal. Os sentimentos ligados ao comprometimento das pessoas na realização ou solução do que foi proposto, relacionam-se ao subcampo Tenacidade.

Para uma melhor visualização da realização das avaliações no subcampo Estima Social, segue o quadro abaixo

Em relação ao campo Sansão Social, estão ligadas as avaliações que, relacionadas à civilidade e à religiosidade de determinada comunidade, são reguladas e estabelecidas por meio dos registros escritos e de documentos. A esse campo, estão relacionadas as regras de convivência, com vistas ao cumprimento das premissas religiosas que determinam os comportamentos aceitáveis moralmente (MARTIN; WHITE, 2005, p. 52).

A realização das avaliações deste campo está dividida em Veracidade e Propriedade. Como asseveram Martin e White (2005, p. 52-56), a primeira baseia-se nos julgamentos que têm como base a honestidade das pessoas e o quanto sinceras são e a segunda, nos julgamentos de questões ético-comportamentais, conforme se apresenta no quadro a seguir.

O subsistema Apreciação apresenta-se dividido nos campos Reação, Composição e Valorização. Em Reação, temos ainda as apreciações de Impacto e Qualidade. Importante dizer que a cada uma dessas subdivisões há uma metafunção correspondente e um tipo de processo mental desencadeado, conforme o quadro abaixo:

Às apreciações de Impacto, estão as reações provocadas por objetos ou fenômenos, em termos de captar a atenção dos seus destinatários ou interlocutores. Por estar aliada aos processos mentais de afeto, é preciso dizer que a emoção representada em uma Apreciação de Impacto tem como pressuposto a responsabilidade do fenômeno, dada pelo produtor do texto, ao surgimento desses sentimentos (MARTIN; WHITE, 2005, p. 56-58).

Quanto ao subtipo Qualidade, além de ter como premissa a responsabilidade do fenômeno como provocador desses sentimentos, os sentimentos expressos estão mais relacionados ao sentido de gostar (MARTIN; WHITE, 2005, p. 56-58).

O campo Composição relaciona-se diretamente com termos estéticos que estariam aliados mais à forma do que ao conteúdo, principalmente pela relação estabelecida entre a Metafunção Textual e as Apreciações de Composição. Aqui, temos os subtipos Equilíbrio e Complexidade, sendo que o Equilíbrio trata das avaliações que consideram a forma e como as partes de um texto se organizam para a estruturação do todo, enquanto a Complexidade engloba as avaliações nas quais estão envolvidas a facilidade ou dificuldade de compreensão e de leitura (MARTIN; WHITE, 2005, p. 56-58).

As apreciações do campo Valorização dão conta do valor atribuído socialmente ao objeto avaliado. Esse subtipo relaciona-se à cognição e à Metafunção Ideacional em que há uma maior preocupação com o conteúdo e com a relação intelectual entre as pessoas. Uma das questões que permeia essa apreciação é se valeu a pena participar de determinado fenômeno (ler, ouvir ou assistir).

Tendo como esteira a orientação hallidayana de que as escolhas linguísticas em um discurso são determinadas pelo contexto de uso na interação produtor-interlocutor, é que o Sistema de Avaliatividade apresenta-se como uma possibilidade de estudo da atitude do produtor do texto em relação a seu interlocutor, expressa nas avaliações presentes na construção discursiva.

A seguir, apresentam-se o corpus do trabalho, o processo de realização da análise, tendo como parâmetro a categoria Atitude do Sistema de Avaliatividade, bem como as categorias de análise semânticas geradas na análise.

Metodologia

Conforme supracitado, o corpus deste trabalho é formado pelo discurso de posse do atual Secretário da Educação de São Paulo. Essa escolha foi baseada na hipótese de que em sua construção - considerando os participantes da linguagem, bem como seu contexto situacional - haveria a presença de um número significativo de avaliações positivas. Assim, as perguntas que direcionaram a presente análise foram: 1) "Quais são as avaliações positivas presentes e quem é o responsável por elas?"; e 2) "Há propostas para o futuro e como elas se relacionam às avaliações?".

A análise foi realizada com base no texto do secretário que foi transcrito e disponibilizado diretamente do seu site, onde são disponibilizados vários outros textos.

Em um primeiro momento, a análise foi realizada por meio da organização das escolhas linguísticas que apontavam para a categoria Atitude do Sistema de Avaliatividade, para, em seguida, ter como parâmetro as expressões dos sentimentos que envolviam as avaliações positivas e negativas. Na sequência, foi realizada a seleção dos parágrafos de acordo com a observação dos campos semânticos Afeto, Julgamento e Apreciação, bem como seus subcampos.

A partir dessa seleção, em que já se observava as ocorrências da expressão de sentimentos positivos sobre os negativos no posicionamento do produtor em relação aos seus interlocutores e as ações desenvolvidas no passado, o processo da análise gerou duas categorias semânticas de base interpretativista, quais sejam: Sentimentos sobre si e Sentimentos sobre outro.

Constatou-se desse modo que, na categoria Sentimentos sobre si, o grande número de ocorrências de avaliações positivas, representadas pelos campos Apreciação [Valorização] e Reação [Impacto], Julgamento Estima Social [Capacidade] sobre as outras ocorrências, são realizadas, em sua maioria, por meio da apresentação de realizações passadas. Essa constatação conduziu à observação das avaliações negativas, em que os sentimentos expressos apontam principalmente para ocorrências de avaliações negativas, realizadas sob o campo semântico Julgamento Estima Social [Capacidade], Estima Social [Tenacidade] e Estima Social [Propriedade], realizadas sob um posicionamento que questiona toda ação que é ou foi alheia às ações desenvolvidas pelo produtor do texto. Quanto às propostas para o futuro, foram encontradas ocorrências somente nas avaliações positivas, nos campos semânticos Apreciação [Valorização] (01) e [Impacto] (02) e Julgamento Estima Social [Capacidade] (01), sendo que a maioria delas tem como base a continuidade de ações anteriores, indicadas ou desenvolvidas pelo produtor do texto.

No item seguinte, apresenta-se a discussão dos resultados obtidos, à luz do Sistema de Avaliatividade e das categorias semânticas e de interpretação geradas no processo de análise.

Resultados

Conforme exposto anteriormente, os resultados desta análise foram obtidos por meio das categorizações semânticas: Sentimentos de si e Sentimentos do outro, geradas a partir da quantificação das ocorrências positivas e negativas, orientadas pelas perguntas 1) "Quais são as avaliações positivas e quem é o responsável?" e 2) "Há propostas para o futuro e como elas se relacionam às avaliações?".

A análise revelou que no discurso em questão, houve predominância das avaliações positivas sobre as negativas, sobressaindo-se os recursos de Apreciação, contando com 20 (vinte) ocorrências de [Valorização] e 21 ocorrências de Reação [Impacto]. Ainda no que concerne às avaliações positivas, os recursos do Julgamento tiveram uma representação de 8 (oito) ocorrências de Estima Social [Capacidade], o que condiz com o predomínio de Valorização e Reação [Impacto] no posicionamento discursivo construído.

No que diz respeito às avaliações negativas, por sua vez, o campo semântico com alguma representatividade foi o Julgamento, contando com 24 (vinte e quatro) ocorrências, distribuídas entre os recursos Estima Social [Capacidade], Estima Social [Tenacidade] e Sansão Social [Propriedade].

Para um melhor entendimento, subsequencialmente apresentam-se alguns exemplos das categorizações realizadas na análise, seguidos de discussões.

Sentimentos de si

Na categoria Sentimentos de si, foi observada a presença de um grande número de ocorrências de avaliações positivas que, representadas pelos campos Apreciação [Valorização] e Reação [Impacto], Julgamento Estima Social [Capacidade] sobre as outras, apontaram para uma construção discursiva orientada principalmente pela apresentação de ações realizadas no passado. Assim, as escolhas linguísticas presentes na construção discursiva sinalizam a atitude do produtor do texto em relação a seus interlocutores e demonstram uma organização discursiva orientada pelas avaliações positivas. Coerente com o gênero discurso de posse, as avaliações positivas presentes na análise confirmam a perspectiva de que o discurso realiza-se de acordo com a relação estabelecida entre o produtor do texto e o contexto de uso. Neste caso, as avaliações positivas apontam para a construção de um posicionamento de autovalorização do produtor do discurso. Para ilustrar essa categoria, apresenta-se a seguir alguns excertos do discurso de posse analisado:

Conforme já mencionado e de acordo com os exemplos acima, as avaliações que constituíram o posicionamento discursivo no referido discurso de posse foram realizadas predominantemente pelos campos semânticos Apreciação [Valorização], Apreciação Reação [Impacto] e Julgamento Estima social [Capacidade], sendo que este último apresentou menos ocorrências que os dois primeiros. Tais avaliações têm como base o reconhecimento elogioso das ações realizadas no passado pelo atual secretário e por sua equipe, em detrimento de quaisquer outras que obtiveram sucesso na área da educação.

De maneira explícita, no discurso de posse em questão, há a predominância de um tom elogioso acerca das ações desenvolvidas no passado pelo produtor do texto trazendo à tona, na presente análise, a construção de um posicionamento em relação a seus interlocutores, organizado principalmente por um olhar retrospectivo em detrimento das ações realizadas no presente e das propostas para o futuro.

Assim, as medidas e implementações elencadas sinalizam para a percepção de que foram trazidas à tona para que não pairasse dúvida sobre a capacidade do secretário, bem como a de seu partido em relação à educação. Ao mesmo tempo, há ainda, na construção discursiva, a acentuação à valorização das ações realizadas na gestão anterior do atual secretário como ministro da educação, estratégia que, levando-se em conta o contexto de situação e os interlocutores envolvidos, já era previsível.

Em relação aos sentimentos relacionados ao campo semântico Afeto, foi constatado na análise um número inexpressivo de ocorrências, como se pode observar nos quadros a seguir.

Sentimentos do outro

Nesta categoria, encontram-se as avaliações negativas do texto que surgiram a partir da observação do predomínio das avaliações positivas. As constatações apresentadas acima conduziram à observação das avaliações negativas na construção do posicionamento discursivo, em que os sentimentos expressos apontavam para avaliações realizadas no campo semântico Julgamento Estima Social [Capacidade], Estima Social [Tenacidade] e Estima Social [Propriedade]. Assim, vê-se uma postura que questiona toda ação realizada por outras pessoas na esfera educacional e no âmbito da política. Para ilustrar e para uma melhor visualização, seguem alguns exemplos.

Nos exemplos acima, percebe-se na construção discursiva a organização de um posicionamento do produtor do texto sob uma ênfase à deterioração do cenário político brasileiro, bem como a acentuação de sua ineficiência e incompetência no tratamento do fenômeno da "crise mundial", construído por meio de um distanciamento discursivo na esfera da política. Assim, nesse posicionamento, as escolhas linguísticas revelam que são trazidos à tona os aspectos negativos, a fim de atrair a atenção e a cumplicidade do interlocutor para tal aspecto.

Vale observar que nessa categoria, ou melhor, na realização das avaliações negativas nesse discurso, não houve nenhuma expressão dos sentimentos ligados ao campo semântico Afeto.

No que se refere às propostas para o futuro, a análise revelou a presença de um número pouco significativo de ocorrências, apenas 4 (quatro) escolhas linguísticas realizadas somente na categoria Sentimentos de si e distribuídas nos campos semânticos Apreciação e Julgamento, conforme pode-se verificar a seguir em sua íntegra:

O que se observa de tais propostas, é que todas estão voltadas à continuidade das ações desenvolvidas pela secretária anterior, sem nenhuma menção à situação atual do sistema educacional do Estado, no que se refere à realidade concreta, ou ainda de propostas que contemplem as necessidade de reformulações das implementações anteriores, o que deixa implícita a ideia de incontestável sucesso das implementações realizadas na gestão anterior.

As escolhas linguísticas presentes na análise realizada pelo Sistema de Avaliatividade aqui desenvolvida revelam a construção de um posicionamento discursivo no qual mantem-se uma apologia ao sistema de avaliação e seus indicadores, bem como o enaltecimento à política de índices e premiações no sistema de ensino, em detrimento de uma discussão que considere ou aponte para questões pedagógicas e / ou de ensino-aprendizagem, levando-se em conta as condições em que a educação se estabelece. Dessa forma, o posicionamento construído aponta para a ideia de manutenção da situação atual do sistema de ensino do estado de São Paulo, bem como para a permanência do quadro atual em que se encontra a educação nesse estado.

Considerações finais

À luz da abordagem sociossemiótica de Halliday (1985) e Eggins (1994), em que a língua, orientada pelo contexto de uso, constrói significados e possibilita a representação da realidade com base na realização de escolhas linguísticas nas interações sociais, e do sistema de Avaliatividade (MARTINS; ROSE, 2005), em que as avaliações emitidas pelo produtor de um texto sobre a realidade e acontecimentos que o cercam revelam a atitude e o posicionamento adquiridos em relação a seus interlocutores, nesta pesquisa buscou-se analisar o discurso de posse do atual secretário da educação do estado de São Paulo, Paulo Renato de Souza, a fim de verificar o posicionamento construído no referido discurso de posse, tendo em vista as escolhas realizadas pelo produtor do texto em relação a seus interlocutores, e ainda as propostas apresentadas para o futuro acerca do tema discutido, qual seja, a educação.

Tendo como fio condutor e ponto de partida a língua como sistema semiótico em que estão envolvidos o falante e o contexto de uso, a presente análise buscou não perder de vista as realizações materializadas no corpus em questão e com igual valor, o contexto em que foi produzido.

Considerando que as escolhas linguísticas são responsáveis pela construção de significados acerca da realidade no processo de expressão do falante de acordo com o contexto de uso, e ainda que a atitude e o posicionamento do produtor de um texto em relação a seu contexto e seus interlocutores podem ser observados com base nos tipos de avaliações presentes nas interações estabelecidas entre produtor e interlocutor, a análise desenvolvida nesta pesquisa buscou responder às perguntas: 1) "Quais são as avaliações positivas presentes e quem é o responsável por elas?" e 2) "Há propostas para o futuro e como elas se relacionam às avaliações?".

O corpus para a análise foi coletado diretamente do site do secretário Paulo Renato de Souza, local em que estão disponibilizados vários outros textos.

Conforme apresentado no item Resultados, a análise foi realizada tendo como ponto de partida a organização das escolhas linguísticas que sinalizavam para a categoria Atitude do Sistema de Avaliatividade. Subsequencialmente a análise foi direcionada pelas ocorrências das expressões dos sentimentos que envolviam as avaliações positivas e negativas na construção discursiva. Assim, com base nas avaliações positivas e negativas realizou-se a seleção dos parágrafos, tendo como parâmetro a observação dos campos semânticos Apreciação, Julgamento e Afeto, bem como seus subcampos.

Realizada a seleção dos parágrafos, o processo da análise gerou duas categorias semânticas de base interpretativista, quais sejam: Sentimentos sobre si e Sentimentos sobre o outro que, conforme exposto anteriormente, revelaram a predominância das avaliações positivas sobre as negativas, nas quais sobressaíram-se os recursos de Apreciação, com 20 (vinte) ocorrências de [Valorização] e 21(vinte e uma) ocorrências de Reação [Impacto]. Os recursos do Julgamento tiveram uma representação de 8 (oito) ocorrências de Estima Social [Capacidade], o que condiz com o predomínio de Valorização e Reação [Impacto] no posicionamento discursivo construído.

Quanto às avaliações negativas, o campo semântico Julgamento, apresentou 24 (vinte e quatro) ocorrências, distribuídas entre os recursos Estima Social [Capacidade], Estima Social [Tenacidade] e Sansão Social [Propriedade].

O grande número de avaliações positivas encontradas na categoria Sentimentos de si, aponta para uma construção discursiva orientada pela autovalorização em que as escolhas linguísticas presentes na interação indicam um posicionamento discursivo voltado para o autorreconhecimento e para a autovalorização do produtor do texto em relação a seus interlocutores. Assim, a apresentação de ações realizadas no passado em detrimento do levantamento de questões que considerem o momento atual da educação paulista revela a atitude de obtenção de crédito ou confiança do produtor em relação a seus interlocutores.

Mantendo coerência com o gênero discurso de posse, as avaliações positivas presentes na análise confirmam a ideia de que o contexto de uso orienta a construção de significados realizados pelo produtor de texto, por meio das escolhas linguísticas direcionadas a seu interlocutor.

Conforme discutido no item Fundamentação Teórica, o Sistema de Avaliatividade é um sistema de construção de significados interpessoais em que um produtor utiliza-se de recursos semânticos para negociar emoções, julgamentos e avaliações no discurso.

Assim, enquanto o produtor expressa-se, interpreta os significados interpessoais sob os domínios interacionais da atitude, do engajamento e da gradação. Vale dizer ainda que, no domínio atitude, incluem-se os subsistemas afeto, julgamento e apreciação. Nesse domínio, a expressão de atitude revela uma postura interpessoal do produtor na interação, pois indica o objetivo de obtenção de resposta de seu interlocutor.

Tendo como base a perspectiva de língua como um sistema semiótico complexo que enreda níveis variados de oposições que implicam escolhas linguísticas e construção de significados nos quais estão relacionados a atitude do falante e seu posicionamento, nesta análise, língua e contexto assumem um caráter de inter-relação em que as escolhas realizadas são orientadas pelo contexto de uso.

No que se refere às avaliações negativas, a análise revelou que essas foram realizadas segundo um posicionamento de distanciamento discursivo em relação às questões políticas, no qual o produtor se exclui, sem mencioná-las.

No que concerne às propostas para o futuro, foram verificadas apenas nas avaliações positivas com ocorrências pouco significativas em relação ao todo do discurso. Vale dizer também que foram expressas de maneira pouco objetiva e tiveram como base a continuidade das ações já existentes na secretaria, sem menção à discussão ou reformulação das implementações mencionadas, deixando em aberta a ideia de sucesso de tais implementações

Percebe-se, desse modo, que na construção discursiva o tema em questão, qual seja, a Educação, entra em cena no discurso de posse a partir de um olhar retrospectivo, que por meio da expressão do produtor do texto, organiza-se tendo como base as avaliações positivas e a autovalorização do trabalho realizado no passado.

Dessa maneira e de acordo com o Sistema de Avaliatividade, a interação entre produtor e interlocutor no discurso de posse em questão é realizada tendo como orientação as avaliações positivas que, conforme as escolhas linguísticas realizadas no contexto de uso, apontam para um posicionamento e atitude, construídos principalmente pela autovalorização e pela obtenção de resposta do produtor do discurso em relação a seus interlocutores.

Recebido em 9 de junho de 2010.

Aprovado em 29 de setembro de 2010.

  • EGGINS, Susanne. An Introduction to Systemic Functional Linguistics. Trad. Sumiko N. Ikeda. London: Pinter, 1994.
  • HALLIDAY, M. A. K. Complementarities in Language Beijing: The Commercial Press, 2008.
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  • 1
    Trabalho de aproveitamento solicitado pela Professora Doutora Leila Bárbara, apresentado como exigência da disciplina "Análise de dados usando Linguística Sistêmico-Funcional e Linguística de Corpus".
  • 2
    "Eu educo porque..." um estudo sobre o fazer pedagógico (2007).
  • 3
    <
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      31 Mar 2011
    • Data do Fascículo
      2011

    Histórico

    • Aceito
      29 Set 2010
    • Recebido
      09 Jun 2010
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