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A diversidade sexual no ensino de Psicologia. O cinema como ferramenta de intervenção e pesquisa: El cine como herramienta de intervención e investigación

Sexual diversity in psychology training

La diversidad sexual en la enseñanza de Psicología: Cinema as a tool for intervention and research

Resumos

O contexto da formação em psicologia é tradicionalmente marcado pela patologização das performances de gênero e das sexualidades que fogem à matriz heteronormativa. A ausência da discussão sobre a diversidade sexual na formação em psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul motivou o projeto de pesquisa-intervenção aqui apresentado. O objetivo foi estimular o debate sobre a diversidade sexual utilizando o cinema como disparador de discussões em graduandos em psicologia, a fim de se compreenderem suas crenças e atitudes sobre a temática. As análises apontam para a resistência à discussão desta temática para além das abordagens tradicionais, as quais situam a diversidade sexual no campo da psicopatologia. No entanto, apesar da resistência, foi possível criar um espaço para a discussão que possibilitou ao corpo discente e docente refletir sobre o tema.

diversidade sexual; ensino superior; ensino de psicologia; cinema; intervenção


University training in psychology has traditionally been informed by pathological views on those sexual and gender performances not conforming to the hetero-normative matrix. This intervention and research project was motivated by the absence of discussion on sexual diversity within the undergraduate program in psychology at Federal University of Rio Grande do Sul, Brazil. The goal was to stimulate the debate on sexual diversity. Cinema was used as a trigger for undergraduate students to discuss and elaborate on their beliefs and attitudes about the topic. The results indicate resistance to discussions beyond the traditional approaches which situate sexual diversity in the field of psychopathology. However, despite that resistance, it was possible to create a space for discussion, which made it possible for teachers and students to reflect on the topic.

sexual diversity; Higher Education; Psychology Education; films; school based intervention


La formación universitaria en Psicología ha estado marcada por la patologización de las performances de género y de las sexualidades que escapan a la matriz heteronormativa. El proyecto de investigación-intervención que presentamos en este artículo se origina en la ausencia de una discusión sobre la diversidad sexual en la carrera de Psicología de la Universidad Federal de Rio Grande do Sul (Brasil). El objetivo fue estimular el debate sobre la diversidad sexual, utilizando el cine como disparador de discusiones entre estudiantes de Psicología, a fin de conocer y comprender creencias y actitudes sobre la cuestión. Los análisis señalan una resistencia a discutir acerca de esta temática más allá de los abordajes tradicionales, que situan la diversidad sexual en el campo de la psicopatología. Sin embargo, a pesar de esa resistencia se pudo crear un espacio para el debate que permitió, tanto a estudiantes cuanto a docentes, reflexionar sobre la temática.

diversidad sexual; educación superior; enseñanza de psicología; cine; intervención


ARTIGO

A diversidade sexual no ensino de Psicologia. O cinema como ferramenta de intervenção e pesquisa

La diversidad sexual en la enseñanza de Psicología. El cine como herramienta de intervención e investigación

Sexual diversity in psychology training. Cinema as a tool for intervention and research

Camila Backes dos SantosI; Ângelo Brandelli CostaII; Manoela CarpenedoIII; Henrique Caetano NardiIV

IGraduada em Psicologia, mestranda em Psicologia Social e Institucional -UFRGS, Porto Alegre, Brasil. camibackes@gmail.com

IIGraduado em Psicologia, mestrando em Psicologia Social e Institucional - UFRGS, Porto Alegre, Brasil. brandelli.costa@ufrgs.br

IIIGraduada em Psicologia, mestranda em Psicologia Social e Institucional - UFRGS, Porto Alegre, Brasil. manoela_carpenedo@yahoo.com.br

IVProfessor do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social e Institucional (PPGPSI) - UFRGS, Porto Alegre, Brasil. hcnardi@terra.com.br

RESUMO

O contexto da formação em psicologia é tradicionalmente marcado pela patologização das performances de gênero e das sexualidades que fogem à matriz heteronormativa. A ausência da discussão sobre a diversidade sexual na formação em psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul motivou o projeto de pesquisa-intervenção aqui apresentado. O objetivo foi estimular o debate sobre a diversidade sexual utilizando o cinema como disparador de discussões em graduandos em psicologia, a fim de se compreenderem suas crenças e atitudes sobre a temática. As análises apontam para a resistência à discussão desta temática para além das abordagens tradicionais, as quais situam a diversidade sexual no campo da psicopatologia. No entanto, apesar da resistência, foi possível criar um espaço para a discussão que possibilitou ao corpo discente e docente refletir sobre o tema.

Palavras-chave: diversidade sexual; ensino superior; ensino de psicologia; cinema; intervenção

RESUMEN

La formación universitaria en Psicología ha estado marcada por la patologización de las performances de género y de las sexualidades que escapan a la matriz heteronormativa. El proyecto de investigación-intervención que presentamos en este artículo se origina en la ausencia de una discusión sobre la diversidad sexual en la carrera de Psicología de la Universidad Federal de Rio Grande do Sul (Brasil). El objetivo fue estimular el debate sobre la diversidad sexual, utilizando el cine como disparador de discusiones entre estudiantes de Psicología, a fin de conocer y comprender creencias y actitudes sobre la cuestión. Los análisis señalan una resistencia a discutir acerca de esta temática más allá de los abordajes tradicionales, que situan la diversidad sexual en el campo de la psicopatología. Sin embargo, a pesar de esa resistencia se pudo crear un espacio para el debate que permitió, tanto a estudiantes cuanto a docentes, reflexionar sobre la temática.

Palabras clave: diversidad sexual; educación superior; enseñanza de psicología; cine; intervención

ABSTRACT

University training in psychology has traditionally been informed by pathological views on those sexual and gender performances not conforming to the hetero-normative matrix. This intervention and research project was motivated by the absence of discussion on sexual diversity within the undergraduate program in psychology at Federal University of Rio Grande do Sul, Brazil. The goal was to stimulate the debate on sexual diversity. Cinema was used as a trigger for undergraduate students to discuss and elaborate on their beliefs and attitudes about the topic. The results indicate resistance to discussions beyond the traditional approaches which situate sexual diversity in the field of psychopathology. However, despite that resistance, it was possible to create a space for discussion, which made it possible for teachers and students to reflect on the topic.

Keywords: sexual diversity; Higher Education; Psychology Education; films; school based intervention

A diversidade sexual no ensino de Psicologia. O cinema como ferramenta de intervenção e pesquisa

A temática da diversidade sexual entra mais fortemente na pauta de diversas esferas das políticas públicas a partir da publicação, em 2004, do programa "Brasil sem Homofobia". O programa nasce das discussões entre o governo federal e os movimentos sociais LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis-Transexuais-Transgêneros) e de defesa de direitos humanos, com o intuito de promover a cidadania e os direitos humanos (CNCD, 2004). Um dos braços do programa é o fortalecimento de instituições públicas na promoção da cidadania e no combate à violência em relação à discriminação homofóbica. A educação tem sido alvo de diversas ações nesse sentido (Nardi, 2008; Junqueira, 2009). No contexto do ensino médio e fundamental algumas iniciativas têm sido colocadas em prática, como a proposta de revisão dos livros didáticos Programa Nacional do Livro Didático - PNLD (Rios & dos Santos, 2009). A importância dessas iniciativas se dá uma vez que a não consideração da diversidade sexual no contexto educacional "afirma, reproduz e reforça as condições que permitem a existência e a continuidade da homofobia, ao passo que sua denúncia e combate [...] criarão condições para uma política educacional antidiscriminatória" (Rios & dos Santos, 2009:152).

Segundo dados da UNESCO sobre a juventude e a sexualidade (Castro, Abramovay & Silva, 2004), a homofobia está presente no contexto educacional do ensino fundamental. Poderíamos nos perguntar se o mesmo ocorreria nos meios universitários, em que diversas concepções teóricas e de senso comum coexistam, muitas das quais de caráter homofóbico e heteronormativo.1 1 . Por homofobia entendemos a "manifestação arbitrária que consiste em designar o outro como contrário, inferior ou anormal. Sua diferença irredutível o coloca em outro lugar fora do universo comum dos humanos" (Borrillo, 2000:3). Entendemos heteronormatividade como a norma que define a constituição da heterossexualidade como "natural" e também universal e normal e, "consequentemente, as outras formas de sexualidade são constituídas como antinaturais, peculiares e anormais" (Louro, 1999:17). Pesquisas têm apontado a relação de uma cultura homofóbica com altos índice de suicídio e de sofrimento psíquico entre gays, lésbicas, bissexuais e transexuais (Verdier & Firdion, 2003). A dinâmica do sofrimento deriva da incorporação pelos/as jovens da homofobia presente na sociedade, levando à construção de uma imagem negativa de si mesmos/as. Nesse ponto, como a psicologia historicamente se constituiu como campo de práticas e saberes que perpetuaram o caráter patológico das sexualidades ditas desviantes, acreditamos que é de fundamental importância o trabalho com futuros/as psicólogos/as. Sensibilizá-los/las quanto ao possível caráter heterossexista2 2 . O heterossexismo constituiu-se no modo pelo qual a heterossexualidade foi erigida como hierarquicamente superior moral, social e cientificamente às outras formas de exercício da sexualidade. da formação é essencial, visto que poderão atuar como potenciais perpetuadores/as da discriminação ou profissionais capazes de propor uma escuta atenta aos efeitos do preconceito na constituição dos sujeitos.

Segundo um estudo com 6.580 psicólogos/as norte-americanos/as que investigou as psicoterapias com gays, vieses homofóbicos e práticas terapêuticas inadequadas são comuns (Garnets et al., 1991). Os achados indicaram que mais da metade dos/as psicólogos/as entrevistados/as tem ciência de incidentes dessa ordem, incluindo casos nos quais os terapeutas definiam lésbicas e gays como doentes e, portanto, necessitando mudar a forma de viver sua orientação sexual. O relato de um terapeuta ilustra essa postura:

Eu estou convencido de que a homossexualidade é um transtorno de personalidade genuíno e não meramente um estilo de vida diferente. Todos que eu conheci socialmente ou como clientes eram uma "bagunça" psicológica. Eu penso que eles são simplesmente transtornos de personalidade narcísica, procure a descrição no DSM-III, é daquela forma que eles são (Garnets et al., 1991:969).

Contribuindo para a discussão, Lilling e Friedman (1995) também encontraram vieses homofóbicos em algumas práticas psicanalíticas. Segundo os autores, tais práticas sustentam um sutil, mas significativo preconceito relacionado a pacientes homossexuais, particularmente aqueles/as com quadro psicopatológico considerado grave. Será que diante das afirmações destes estudos podemos pensar que essas práticas se reproduziriam no contexto brasileiro contemporâneo?

No sentido de coibir tal tipo de prática, o CFP - Conselho Federal de Psicologia (CFP, 1999) estabeleceu normas de atuação no que diz respeito à orientação sexual. A partir da resolução 001/1999 fica vetado aos/às psicólogos/as o tratamento e as tentativas de cura da homossexualidade, uma vez que esta não é mais considerada uma patologia.

Camino & Pereira (2000), numa pesquisa a respeito da aceitação da Resolução 001/1999 por parte dos psicólogos/as e docentes brasileiros/as, encontraram que aqueles/as que atuam no campo da psicologia social e psicologia organizacional concordam que a dita resolução representa um avanço na Psicologia; entretanto, mais da metade daqueles que atuam na área clínica não a aceitam; ainda, o posicionamento mais resistente e preconceituoso foi encontrado nos/as docentes de confissão evangélica e entre psicoterapeutas mulheres.

Apesar de o preconceito por parte dos/as psicólogos/as estar presente no campo dos/as docentes e profissionais da psicologia em exercício, como aponta o estudo acima, outro estudo realizado com estudantes de uma universidade de João Pessoa, Brasil (Lacerda, Pereira & Camino, 2002) indica que estudantes de psicologia seriam os menos preconceituosos em relação a outras áreas do saber. Esta pesquisa investigou as representações sociais relativas à homossexualidade por meio de um survey, que buscou categorizar o nível de preconceito relativo à homossexualidade agrupando as explicações em: psicossociais, médicas/psicológicas e éticas/religiosas. Segundo este estudo, os/as estudantes de psicologia aderem mais fortemente a explicações psicossociais e seriam menos preconceituosos/as. De acordo com a classificação proposta pelo estudo, os/as preconceituosos/as "sutis" aderem a explicações médicas/psicológicas, predominando este posicionamento entre estudantes de medicina. Já os/as preconceituosos/as "flagrantes" se opõem a explicações psicossociais e aderem fortemente às explicações éticas/morais/religiosas - a este grupo pertencem os/as estudantes de engenharia (Lacerda, Pereira & Camino, 2002).

No sentido de explorar as potencialidades do cinema para disparar a discussão a respeito das sexualidades não-heterossexuais fora do campo tradicional da psicopatologia e verificar a aceitação dos/as estudantes de psicologia, propusemos o projeto que descrevemos abaixo.

O cinema como pedagogia cultural e forma de intervenção

Ao elaborarmos uma mostra de cinema seguida de comentários de debatedores/as e com suporte na leitura de artigos prévios, buscamos construir um processo de pesquisa seguindo os princípios teórico-metodológicos da pesquisa-intervenção. Para Rocha (2006), a pesquisa-intervenção consiste em pensar articuladamente a perspectiva teórica, as práticas de pesquisa e a intervenção, assim como a indissociabilidade entre o sujeito e o objeto do saber. O/A pesquisador/a, ao utilizar ferramentas de pesquisa, age sobre os sujeitos da pesquisa e sobre si mesmo ao propor a reflexão que constituirá o corpus de análise. Dessa forma, buscam-se compreender as formas de funcionamento do grupo-alvo da pesquisa-intervenção, assim como colaborar na construção de novas possibilidades de posicionamento das/os estudantes como sujeitos ativos do processo de formação; objetivo maior dos eventos. Assim, o/a pesquisador/a, bem como os sujeitos que participam da pesquisa têm um papel ativo e efetivo. Dessa maneira, buscamos, como pesquisadores/as, criar possibilidades para a produção de uma reflexão ética a respeito das formas de se compreenderem as sexualidades não-heterossexuais que perpassam as ações (e as omissões) dos/as participantes presentes nos encontros no que diz respeito à maneira como se movimentam em um contexto social específico. Nesta direção, buscamos agir sobre a formação em psicologia ao estabelecer uma estratégia de intervenção no que podemos chamar de currículo paralelo (o qual engloba as ações de extensão, pesquisa, eventos, participação em associações estudantis etc.).

Deu-se a escolha do cinema como forma de estímulo. Segundo Louro (2000), o cinema representa, na sociedade moderna, um importante agenciador pedagógico; ele, além de produzir identidades culturais, integra e interfere nas redes sociais que estão presentes nas formas como se apresentam as relações de poder que constituem as hierarquias do gênero e da sexualidade. Os argumentos e os personagens cinematográficos apontam, portanto, para formas de ser e viver, de produzir corpos e aparências. Dessa maneira, o cinema produz uma estética e uma ética3 3 . A definição de ética aqui é inspirada em Foucault (1994), ou seja, como a prática reflexiva da liberdade. De forma sintética podemos afirmar que a ética se refere às decisões que tomamos em relação à condução de nossas vidas e da forma como tentamos influenciar a conduta dos outros. Portanto, tem um caráter relacional que diz respeito às maneiras como deciframos e obedecemos, transgredimos ou buscamos transformar o código moral vigente em cada sociedade/cultura. O cinema é aqui tomado como um produto cultural que espelha, reproduz, transgride e/ou busca transformar a forma como as pessoas se relacionam com o código moral vigente em um determinado contexto social. Não estamos aqui trabalhando com as outras formas de tomar o cinema, as quais são múltiplas, por exemplo, como mercadoria ou como obra de arte. com condições de serem amplamente distribuídas e consumidas. Tendo em vista o caráter pedagógico do cinema e sua presença na cultura, utilizamos este recurso como intervenção, buscando proporcionar um debate a respeito das formas de viver a sexualidade e sua emergência enquanto categoria identitária, e como um produto/efeito de contextos histórico-sociais e dos jogos de verdade que o caracterizam (Siqueira, 2004). A escolha dos filmes se deu de acordo com a tendência apontada por Bessa (2007), buscando filmes que, mesmo que não abordassem diretamente o cenário LGBT (Lésbico, Gay, Bissexual. Transexual/Travesti), incluíssem formas de apresentação das sexualidades e dos modos de vida considerados fora dos padrões de normalidade heterossexual.

Compreendemos, ainda segundo Louro (2000), que os filmes destinados ao mercado de massa, na sua grande maioria - e principalmente até a década de 1980 - tendem a reproduzir a ótica dita universal ligada aos valores de uma cultura que sustenta uma primazia masculina, branca, heterossexual (e usualmente ocidental e judaico-cristã). Procuramos deslocar essa lógica heteronormativa a partir de uma mostra de filmes com temáticas potencialmente disparadoras de debate a respeito de valores naturalizados. Ao utilizarmos o cinema nesta perspectiva, visamos ampliar as possibilidades discursivas constituintes da hierarquia das sexualidades e, assim, colocar em evidência as relações de poder que, por vezes, determinam não o que é visto, mas justamente o que conseguimos ver (de Lauretis, 1991). Buscamos intervir na forma como o cinema age no interior do dispositivo da sexualidade e como este, ao mesmo tempo, pode vir a desafiar e/ou reforçar a norma heterossexual. Teresa de Lauretis (1991) afirma que a identidade de gênero e sexual do espectador está implicada e é construída (como autorrepresentação) na representação cinemática. Assim, a identidade de gênero e sexual não está só implicada no encontro do espectador com cada filme, mas também é construída, reafirmada, desafiada, deslocada ou transformada no processo de ver cada filme. O debate, nesse sentindo, mostra-se como uma estratégia interessante, pois promoveria:

Outra dinâmica de projeção-audiência, que descaracteriza a tradicional relação passiva e aumenta as chances de esclarecimento ou mesmo de germinação de dúvidas (existenciais ou não) que permitirão um prolongamento da exibição do filme a uma relação maior (engajamento?) com o que se consome em termos de imagem-representação (Bessa, 2007:275).

De acordo com Butler (2003), as "posições" sexuais (performances sexuais, citações4 4 . Por citação entendemos, segundo Butler (2003), o ato de fazer uso de enunciados a partir do que é possível ser dito, uma vez que a ordem discursiva que precede o sujeito define as suas condições de inteligibilidade. normalizadas ou não) são exercidas através de um jogo de repúdio e identificação, processo não-estático e sujeito a reiterações e modificações. Dessa maneira, ao exibirmos uma série de filmes que dão visibilidade às performances não-heterossexuais, nossa intenção foi expor as diversas expressões de prazer, de desejo e de sexualidade que, por vezes, são ininteligíveis somente no contexto da injúria e da condenação. Portanto, acreditávamos que as mostras de cinema e o posterior debate possibilitariam uma reflexão que contribuiria para a construção de uma ética marcada pelo respeito à diversidade e à alteridade das formas de ser e existir no mundo, especialmente, neste caso, no que tange à sexualidade.

A partir destas premissas, foram realizados cinco encontros na Faculdade de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul entre os dias 22 e 25 de janeiro e 11 de setembro e 9 de outubro de 2007. A divulgação foi feita no Instituto de Psicologia e nos meios de comunicação da universidade (website, jornal). Os encontros tiveram como ponto de partida a exibição de filmes com posterior debate guiado por estudiosos da temática e sugestão de artigos para leitura. O conteúdo do debate com os/as estudantes, assim como a repercussão no fórum de discussão na internet (grupo de e-mails oficial dos/as estudantes do curso de Psicologia) foram relatados em diário de campo e posteriormente analisados de forma a se compreenderem os processos de atribuição de sentido e a visibilização pelo cinema de performances não-heterossexuais. Os filmes foram escolhidos de acordo com grandes áreas temáticas que são expostas a seguir.

  • Identidade sexual: Escolhemos dois filmes que contextualizam as relações saber-poder interiores ao dispositivo da sexualidade no final do século XIX. O primeiro, Eclipse de uma paixão, de 1995, dirigido por Agnieszka Holland, apresenta a vida do poeta francês Arthur Rimbaud e sua relação com o também poeta Paul Verlaine, e a forma como a relação erótico-amorosa entre dois homens era tomada na época. O segundo filme, Wilde, de 1997, dirigido por Brian Gilbert, também ilustra os tensionamentos médico-políticos das práticas sexuais não-heteronormativas. Ambos os filmes relegam a um segundo plano as personagens mulheres, sobretudo as esposas, sendo que no caso de Eclipse de uma paixão a violência conjugal se faz presente. A posição social subordinada das mulheres no final do século XIX e sua objetificação são evidentes nestas obras. A eleição destes filmes foi motivada pela leitura que Michel Foucault faz no volume 1 da sua História da Sexualidade. O autor postula que o dispositivo da sexualidade é mobilizado em torno dos discursos médico e jurídico que tinham em vista a ordenação da vida em sociedade, tomando a população e o indivíduo (ao mesmo tempo) como foco da ação do governo. Essas posições sexuais no discurso não seriam somente posições, mas práticas instituídas de citações e reiterações no domínio jurídico. A incorporação de um dado sexo poderia ser então entendida como um tipo de citação da lei: uma reiteração da norma. Assim, a falha dessa citação poderia ser a condição mobilizadora de uma consequência punitiva, como se vê nos destinos dos protagonistas de ambos os filmes.

  • Territorialidades do desejo: A discussão desta temática girou em torno da constituição de espaços psíquicos e geográficos que possibilitavam, na década de 1950, uma prática desejante. O filme escolhido para exibição, Longe do Paraíso (2002), dirigido por Todd Haynes, conta a história da vida de uma mulher após ser confrontada com as práticas homoeróticas de seu marido como efeito de ter se aproximado afetivamente de um homem negro. Os dois eventos desencadeiam a violência do preconceito em uma pequena cidade norte-americana na década de 1950. O filme retrata a vida dupla dos homens homossexuais nesta década e a solidez do dispositivo da sexualidade que incorpora a imagem da família de classe média marcada pelo sexismo, o heterossexismo e o racismo. O filme foi escolhido por suscitar o debate em torno do "eu público" e do "eu privado" característicos desse período. Em Après Stonewall, le déplacement de la frontière entre le soi privé et le soi public, de George Chauncey, vê-se retratada a constituição da identidade homossexual baseada em uma dupla vida antes de Stonewall,5 5 . "Stonewall" designa um conjunto de conflitos violentos entre gays, lésbicas, bissexuais e travestis e a polícia de Nova York. Tive início no bar Stonewall, em 28 de junho de 1969. Este episódio é reconhecido como um acontecimento divisor de águas para os movimentos em defesa dos direitos civis de LGBT. período retratado no filme, e a imposição político-estética do "sair do armário" após Stonewall. Segundo o autor:

    Tais códigos e práticas devem ser considerados como meios de resistência para o policiamento diário da vida gay, na qual se permitia aos homossexuais: construir e manter um mundo escondido dos esforços da cultura dominante por erradicá-los; comunicar-se entre si permanecendo invisíveis aos estrangeiros hostis; e enfim, reterritorializar a cidade a fim de construir uma cidade gay, no meio (e muitas vezes sem o conhecimento) de uma cidade que impunha normas cada vez mais hostis (Chauncey, 2002:46, 47).

  • As sexualidades e o abjeto: Deuses e Monstros, de 1998, dirigido por Bill Condon, expõe os jogos de verdade que instituem, no contexto contemporâneo, a preferência pela juventude e a antipatia pela velhice. Vê-se no filme a dupla abjeção e a ininteligibilidade do sujeito velho inscrito em uma sexualidade não-heteronormativa. Próximo da proposta do filme está aquilo que Ricardo Iacub (2007) sublinha a respeito da representação abjeta da velhice. O autor refere-se às concepções médico-morais em que surge um novo imaginário sobre a velhice em conexão com a ideia do monstruoso.

  • Estética queer: A estética queer apresentada no filme Café da manhã em Plutão, de Niel Jordan (2005), visou desconstruir os conceitos naturalizados associados ao sexo biológico. No filme, a protagonista personifica uma performance que desestabiliza o emparelhamento corpo/sexo/desejo. Segundo Butler (2003), a diferença sexual não equivaleria à distinção entre as categorias homem e mulher. Estas categorias existiriam enquanto construtos sociais que seriam estabelecidas de acordo com a perspectiva da diferença sexual. O gênero é um construto social que figura como norma - norma esta que é problematizada ao longo do filme.

Um evento para "bichas e mulheres"

Percebemos diferenças importantes nas duas edições da mostra. Na primeira edição, realizada nas férias (22 a 25 de janeiro de 2007), houve uma participação ativa dos estudantes; ao contrário, ao longo da realização dos encontros da segunda edição (11 de setembro a 9 de outubro de 2007) houve um esvaziamento do público-alvo6 6 . O primeiro evento realizado durante as férias escolares teve um grande afluxo de público diverso que não faz uso da Universidade como espaço de frequência cotidiana (professores do ensino fundamental, profissionais de diversas áreas e estudantes de cursos variados). (os/as estudantes de psicologia) e um aparente desinteresse pela temática. Compreendemos esse fenômeno a partir dos comentários na lista de discussão on-line dos/as estudantes de psicologia da Universidade em questão (a qual serve como espaço de debate para tudo o que acontece na Universidade e da qual participa a maioria dos/as estudantes). Ali, eles/as relataram que se sentiam intimidados/as e/ou constrangidos/as em participar deste tipo evento. O que estará inscrito nessa suposta intimidação? O que será que isto diz dos saberes sobre as "sexualidades" que circulam no Instituto de Psicologia? Será que causa mal-estar tensionar a sexualidade heteronormativa, marcadamente influenciada por concepções psicanalíticas tradicionais e perspectivas desenvolvimentistas baseadas em padrões "típicos e atípicos", "neuróticos e perversos"?

Que evento é este, afinal? Um evento para "bichas e mulheres", dizia o testemunho de um participante, cuja potência enunciativa nos ajudou a construir algumas hipóteses sobre os efeitos por ele desencadeados. Assim, é importante pensar no arranjo curioso promovido pelo relato do estudante (mulheres e bichas), dado que ambas as performances de gênero e sexualidade eram associadas ao feminino e, de certa maneira, constituíam-se a partir de um discurso de desqualificação, apresentando-se como aliadas. Esse encontro, assimilando sexo e sexualidade ao feminino, pode ser compreendido como um momento de ruptura, no interior do território (o Instituto de Psicologia), com os saberes instituídos sobre a sexualidade.

O debate que se seguiu às projeções evidenciou a construção social do imaginário e das "verdades" sobre o sexo e a sexualidade. Tratar da sexualidade a partir de uma lógica da análise dos modos de subjetivação supõe produzir um deslocamento da posição de "mestre do saber" de "neutralidade científica" para aquela em que se pensam os efeitos da "verdade psicológica" sobre a vida dos sujeitos que se constroem no avesso da norma. A recusa à participação e ao debate e comentários que se evidenciaram ao longo da segunda edição da mostra podem ser pensados como uma afirmação da manutenção da dominação masculina e heterossexista no seio das práticas e dos saberes institucionais da psicologia. Nesta lógica, podemos afirmar que não é qualquer "mulher" e não é qualquer "bicha" que esteve presente nas mostras, mas sim aqueles e aquelas que se propuseram a desafiar o dispositivo da sexualidade e pensar em uma futura prática psi.

Nesse contexto, percebemos que não atingimos o público-alvo diretamente, houve uma repetição dos participantes dos eventos anteriores, numa espécie de retroalimentação ("mulheres e bichas" interessadas na discussão). Parece que esse evento não se dirigiu para aqueles/as que pretendíamos atingir, pois falou justamente para o público "mais informado" nessas questões, aquele que necessita de momentos como este para experimentar um sentimento de pertencimento e encarar o cotidiano do preconceito e a incompreensão. Será que o evento já nasce marcado para bichas e mulheres? E daí emergem o constrangimento e a inibição? Mesmo com o aparente fracasso da segunda edição, pensamos que o cinema se mostra como uma ferramenta potente no seu uso como demonstrador de possibilidades de existência mais plurais no que diz respeito à/ao sexualidade/gênero. Pode-se perceber isso na maneira como o filme em si é capaz de disparar constrangimento e inibição devido à sua temática. E, de certa forma, pela proposta do evento. Diferente da maneira como o cinema é tomado usualmente, numa sala escura, anônima, nessa proposta, quando se acendiam as luzes, os/as participantes não deveriam ir embora, pois eram convocados a participar da discussão sobre aquilo que se conseguiu ver. Solicitava-se uma agência por parte dos/as participantes, mais um fator que possivelmente causou inibição.

O último dia do ciclo foi cancelado em razão do pedido dos/as graduandos/as de utilizar o espaço para uma discussão sobre a presença da temática da sexualidade no currículo da graduação em psicologia da UFRGS. Houve uma discussão com professores/as, e a presença dos/as alunos/as foi grande, contrastando com o restante do evento. Entretanto, é necessária uma explicação para esta mudança de atitude, pois a modificação do programa sucedeu a um ato de violência simbólica cotidiana dirigida aos sujeitos não-heterossexuais e, coincidentemente, o espaço estava aberto para a fala. A movimentação por parte dos/as estudantes foi disparada por um evento discriminatório ocorrido no Restaurante Universitário, no qual duas alunas foram recriminadas pela segurança da Universidade. As estudantes fizeram gestos de afeto (troca de carícias) na fila do restaurante, algo corrente entre casais de estudantes heterossexuais, o que não é motivo de nenhuma intervenção. Para discutir os efeitos deste evento, houve o pedido para a utilização do espaço para a realização do debate. Pensamos na ampla participação dos/as estudantes como outra possibilidade de engajamento. Será que é mais "seguro" participar de um evento sobre sexualidade cuja gênese parte de uma "rede política" com seus pares e professores/as? Afinal, não eram somente mulheres e bichas que estavam ali!

A série de eventos propôs-se à reflexão ética sobre as performances de gênero e de sexualidade, no entanto, o tom imposto pelos/as participantes no último encontro mostrou-se mais próximo de uma abordagem higienista que visa buscar melhores manejos de como lidar com as sexualidades desviantes, como um problema a ser tratado de acordo com a lógica da psicologia enquanto ciência normativa. Fala-se muito sobre sexualidade em psicologia, mas quase exclusivamente a partir da normalização. Os/as participantes do debate neste último dia se sentiram constrangidos/as em falar sobre a diversidade sexual. Falavam de outras formas de exercício da sexualidade como "aquela coisa", "isso aí" - formas do "não-nomeado" que remetem à não-legitimação de práticas sexuais alheias a uma norma velada. O saber sobre a sexualidade no Instituto de Psicologia desta Universidade ainda está centrado numa sexualidade heteronormativa, o que pode nos mostrar as potencialidades de se abrirem espaços de fala buscando especialmente - o que pode até parecer ingênuo - outras formas de nomear as sexualidades não-heterossexuais.

Apesar desse impasse, não podemos negar a potencialidade do último encontro, pois nasceu justamente no rastro dos eventos anteriores. Enfim, mesmo com a torção da proposta inicial, pensamos que a intervenção feita através das mostras de cinema atingiu, em alguma medida, seu objetivo; a temática surgiu no âmbito universitário.

O desejo de um debate acerca das sexualidades que fosse além da lógica heteronormativa foi colocado pelos/as estudantes de psicologia, mesmo que ancorado nas discussões sobre o currículo e nas típicas reclamações de "por que não vemos a discussão sobre sexualidades ao longo do curso?". Entendemos tais questionamentos como um chamamento dos/as estudantes que, ao se sentirem despreparados/as para lidar com "aquela coisa" e "isso aí", reivindicam alguma lucidez a respeito deste tema, que se mostrou tão tenso. Assim, de alguma forma, os eventos sobre cinema produziram efeitos e possibilitaram incluir esta temática no Instituto de Psicologia de uma maneira mais coletiva, articulando, dessa forma, o desejo do pesquisador ao proposto pela pesquisa.

Acreditamos que, ao estimularmos a reflexão, nós a estendemos como produtora do debate a respeito da temática nas disciplinas que tratam da sexualidade no campo da psicopatologia ou do desenvolvimento, possibilitando intervir nos efeitos da normalização científica e de seu papel na produção da discriminação relativa à sexualidade ao longo do currículo. A partir dessa pesquisa-intervenção, em 2008 gestou-se a criação de uma disciplina eletiva denominada "Gênero e sexualidade nos modos de subjetivação contemporâneos" no departamento de Psicologia Social do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS. A disciplina tem sido oferecida semestralmente. Ela mantém a estratégia do uso de filmes e está disponível para matricula a todos cursos de graduação da Universidade, aos alunos que por ela se interessar. A procura de vários cursos, além do de Psicologia, tem sido importante. Este espaço mais plural tem sido avaliado como positivo, pelos estudantes que a cursaram e nas avaliações institucionais realizadas pelos estudantes de psicologia. Por fim, a disciplina também tem possibilitado que estudantes de outras áreas questionem em conjunto com estudantes da psicologia as formas com que se discutem as sexualidades não-heterossexuais e as relações entre sexualidade, cultura e história.

Referências bibliográficas

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Recebido: 21/julho/2010

Aceito para publicação: 04/fevereiro/2011

  • BORRILLO, D. 2000. L' Homophobie Paris: Presses Universitaires de France.
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  • VERDIER, É. & FIRDION, J-M. 2003. Homosexualités & suicide. Les jeunes face à l'homophobie Paris: H & O éditions.
  • 1
    . Por homofobia entendemos a "manifestação arbitrária que consiste em designar o outro como contrário, inferior ou anormal. Sua diferença irredutível o coloca em outro lugar fora do universo comum dos humanos" (Borrillo, 2000:3). Entendemos heteronormatividade como a norma que define a constituição da heterossexualidade como "natural" e também universal e normal e, "consequentemente, as outras formas de sexualidade são constituídas como antinaturais, peculiares e anormais" (Louro, 1999:17).
  • 2
    . O heterossexismo constituiu-se no modo pelo qual a heterossexualidade foi erigida como hierarquicamente superior moral, social e cientificamente às outras formas de exercício da sexualidade.
  • 3
    . A definição de ética aqui é inspirada em Foucault (1994), ou seja, como a prática reflexiva da liberdade. De forma sintética podemos afirmar que a ética se refere às decisões que tomamos em relação à condução de nossas vidas e da forma como tentamos influenciar a conduta dos outros. Portanto, tem um caráter relacional que diz respeito às maneiras como deciframos e obedecemos, transgredimos ou buscamos transformar o código moral vigente em cada sociedade/cultura. O cinema é aqui tomado como um produto cultural que espelha, reproduz, transgride e/ou busca transformar a forma como as pessoas se relacionam com o código moral vigente em um determinado contexto social. Não estamos aqui trabalhando com as outras formas de tomar o cinema, as quais são múltiplas, por exemplo, como mercadoria ou como obra de arte.
  • 4
    . Por citação entendemos, segundo Butler (2003), o ato de fazer uso de enunciados a partir do que é possível ser dito, uma vez que a ordem discursiva que precede o sujeito define as suas condições de inteligibilidade.
  • 5
    . "Stonewall" designa um conjunto de conflitos violentos entre gays, lésbicas, bissexuais e travestis e a polícia de Nova York. Tive início no bar Stonewall, em 28 de junho de 1969. Este episódio é reconhecido como um acontecimento divisor de águas para os movimentos em defesa dos direitos civis de LGBT.
  • 6
    . O primeiro evento realizado durante as férias escolares teve um grande afluxo de público diverso que não faz uso da Universidade como espaço de frequência cotidiana (professores do ensino fundamental, profissionais de diversas áreas e estudantes de cursos variados).
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      12 Ago 2011
    • Data do Fascículo
      Abr 2011

    Histórico

    • Recebido
      21 Jul 2010
    • Aceito
      04 Fev 2011
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