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Caça aos homens disponíveis: corpo, gênero e sexualidade na biossociabilidade gay online

A la caza de hombres disponibles: cuerpo, género y sexualidad en la bio-sociabilidad gay online

Hunting For Available Men: body, gender and sexuality in gay online bio-sociability

Resumos

O artigo é uma reflexão que articula os conceitos de biossociabilidade, armário e sexualidade como forma de analisar os usos que vêm sendo feitos de sites de relacionamento voltados para homens gays na internet. A partir de dados produzidos através da observação participante em dois sites, procura-se apontar os modos emblemáticos de exibição e descrição dos corpos nos perfis de usuários, delineando novas significações para o "assumir-se" gay nesse contexto. Nesta biossociabilidade online, a metáfora do armário adquire novos contornos: criam-se situações de intensa visibilidade e exposição dos corpos e, ao mesmo tempo, de insidiosa vigilância acerca da discrição da sexualidade gay.

internet; sexualidade; corpo; biossociabilidade


Este artículo presenta una reflexión que articula los conceptos de bio-sociabilidad, closet y sexualidad, para analizar los usos que vienen haciéndose de sitios web de relacionamiento orientados a hombres gays. A partir de datos producidos a través de observación participante en dos de esos sitios web, se procura señalar los modos emblemáticos de exhibición y descripción de los cuerpos en perfiles de usuarios, indicando nuevos significados para el "asumirse gay" en tales contextos. En la bio-sociabilidad online la metáfora del closet adquiere nuevos contornos: se crean situaciones de intensa visibilidad y exposición de los cuerpos y, paralelamente, situaciones de insidiosa vigilancia sobre la discreción de la sexualidad gay.

Internet; sexualidad; cuerpo; bio-sociabilidad


In this article I use the concepts of bio-sociability, the closet and sexuality to analyze uses of gay social networking websites. Based on data produced by a participant observation in two cruising websites, I elicited emblematic modes of bodily exposure and self-description on online profiles. These indicate new ways of "coming out of the closet" in this context. Within this online bio-sociability, the metaphor of the "closet" gains new dimensions: it simultaneously creates situations of intense visibility and bodily exposure, and insidious surveillance regarding the discreetness of gay sexuality.

Internet; Sexuality; Body; Bio-sociability


ARTÍCULOS

"Caça aos homens disponíveis": corpo, gênero e sexualidade na biossociabilidade gay online1 1 Este texto é produto parcial de pesquisa da tese de doutorado intitulada Os meninos - corpo, gênero e sexualidade em e através de um site de relacionamento, defendida no Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em fevereiro de 2013. A pesquisa foi financiada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

"Hunting For Available Men": body, gender and sexuality in gay online bio-sociability

"A la caza de hombres disponibles": cuerpo, género y sexualidad en la bio-sociabilidad gay online

Luiz Felipe Zago

Doutor e mestre em Educação. Pesquisador vinculado ao Grupo de Pesquisa. Educação e Ensino da Saúde - EducaSaúde (UFRGS). Porto Alegre, Brasil. < luizfelipezago@gmail.com

RESUMO

O artigo é uma reflexão que articula os conceitos de biossociabilidade, armário e sexualidade como forma de analisar os usos que vêm sendo feitos de sites de relacionamento voltados para homens gays na internet. A partir de dados produzidos através da observação participante em dois sites, procura-se apontar os modos emblemáticos de exibição e descrição dos corpos nos perfis de usuários, delineando novas significações para o "assumir-se" gay nesse contexto. Nesta biossociabilidade online, a metáfora do armário adquire novos contornos: criam-se situações de intensa visibilidade e exposição dos corpos e, ao mesmo tempo, de insidiosa vigilância acerca da discrição da sexualidade gay.

Palavras-chave: internet; sexualidade; corpo; biossociabilidade

ABSTRACT

In this article I use the concepts of bio-sociability, the closet and sexuality to analyze uses of gay social networking websites. Based on data produced by a participant observation in two cruising websites, I elicited emblematic modes of bodily exposure and self-description on online profiles. These indicate new ways of "coming out of the closet" in this context. Within this online bio-sociability, the metaphor of the "closet" gains new dimensions: it simultaneously creates situations of intense visibility and bodily exposure, and insidious surveillance regarding the discreetness of gay sexuality.

Keywords:Internet; Sexuality; Body; Bio-sociability

RESUMEN

Este artículo presenta una reflexión que articula los conceptos de bio-sociabilidad, closet y sexualidad, para analizar los usos que vienen haciéndose de sitios web de relacionamiento orientados a hombres gays. A partir de datos producidos a través de observación participante en dos de esos sitios web, se procura señalar los modos emblemáticos de exhibición y descripción de los cuerpos en perfiles de usuarios, indicando nuevos significados para el "asumirse gay" en tales contextos. En la bio-sociabilidad online la metáfora del closet adquiere nuevos contornos: se crean situaciones de intensa visibilidad y exposición de los cuerpos y, paralelamente, situaciones de insidiosa vigilancia sobre la discreción de la sexualidad gay.

Palabras clave: Internet; sexualidad; cuerpo; bio-sociabilidad

Introdução: disponíveis para quê? Caçando quem?

O presente artigo propõe uma reflexão sobre a dinâmica da sociabilidade entre homens gays,2 2 Apesar de ser arriscado supor que todos os usuários dos sites se identifiquem como gays, opto por usar este termo porque os próprios sites de relacionamento se intitulam como "gays". usuários de dois sites de relacionamento na internet: o Manhunt e o Disponível.

O Manhunt (caça ao homem, em inglês) apresenta-se como um site de relacionamento internacional, sediado nos Estados Unidos, disponibilizando seus serviços em oito outras línguas, além do português. O Disponível é um site "genuinamente" brasileiro, sediado em São Paulo e existente desde 2003. Ambos têm tido participações nas maiores Paradas LGBT do Brasil, através do apoio na organização de festas e oferecimento de publicidade em suas páginas na internet - algo que, em troca, geralmente permite a divulgação dos nomes do Manhunt e do Disponível em carros de som e banners durante as manifestações ligadas às Paradas. Ambos os sites chegam a reunir mais de 86 mil usuários cadastrados; somente o Disponível informa que mais de 2,5 milhões de pessoas já tiveram cadastro no site, tendo sido trocadas mais de 600 milhões de mensagens.5 5 Informação publicada em http://www.infonetbusiness.com/web/?portfolio=disponivelcom; [Acesso em 22.02.2013].

Somados à participação do Manhunt e do Disponível nas manifestações políticas ligadas à afirmação das identidades gays, esses números tornam ainda mais relevante a análise da sociabilidade gay online oferecida pelos sites. Na descrição do Disponível, por exemplo, sua criação aparece vinculada à "demanda por um ambiente onde gays pudessem se conhecer, interagir e se encontrar para diversos objetivos, entre eles namoro, sexo e amizade".6 6 Informação publicada em http://www.infonetbusiness.com/web/?portfolio=disponivelcom [Acesso em 22.02.2013]. É possível supor que esses sites sejam planejados, oferecidos e usados por e para homens gays. São precisamente esses espaços de encontro e essa interação que serão caracterizados aqui como constituintes de uma biossociabilidade gay online.

A biossociabilidade (Ortega, 2005, 2006, 2008; Rabinow, 1999) é formada através de "critérios de saúde, performances corporais, doenças específicas, longevidade etc." (Ortega, 2008:42-43). Segundo Francisco Ortega, nesse contexto há a "criação de modelos ideais de sujeito baseados no desempenho físico" (2006:43), de modo que "identidades corporais" - aquilo que o corpo supostamente é ou o modo como se apresenta - se tornam ferramenta e veículo para a organização de tal sociabilidade. Mais adiante retomarei este conceito; por ora, é importante frisar que o corpo, seu desempenho, suas performances e sua aparência são os elementos constitutivos dos encontros e das interações oferecidas por ambos os sites. Essa sociabilidade enseja precisamente o "bios", isto é, que se organiza para as, e a partir das formas com que a materialidade orgânica dos corpos (especificamente de homens gays) se apresenta atualmente.

Articulando os conceitos de armário, para Eve Kosofsky Sedgwick (2007, 1990), sexualidade/corpo, em Michel Foucault (2006, 2003, 1984), e o de biossociabilidade, procura-se um contraponto à ideia lançada por Ortega de que "a sexualidade, que constituía elemento fundamental nas biopolíticas oitocentistas, ocupa um segundo plano na biossociabilidade contemporânea" (2006:43). Demonstrar-se-á que o dispositivo de sexualidade, tal qual pensado por Foucault, mantém-se atuante, com reforçados investimentos no controle dos corpos. Busca-se também analisar as novas correlações que se estabelecem entre as posições de estar "dentro ou fora do armário" (assumir ou não sexualidades não heterossexuais) e as implicações de tais correlações para essa biossociabilidade.

Por um lado, dada a exortação à exposição dos corpos presentes em ambos os sites, que estimulam os usuários a exibi-los com o objetivo de "conhecerem-se" e "interagirem" uns com os outros e, por outro, em função da exigência de discrição e sigilo em relação às sexualidades não heterossexuais demandada pelos próprios usuários, cabem as perguntas: qual é o estatuto do armário para a biossociabilidade gay online? Como gênero e sexualidade participam dessa biossociabilidade e com quais implicações?

Corpo e biossociabilidade através dos sites de relacionamento

Através do Manhunt e do Disponível, os usuários podem criar perfis online que são publicados e ficam visíveis para outros usuários, havendo a possibilidade de troca de mensagens entre eles. Nos seus perfis, os usuários publicam suas "estatísticas" (peso, altura, cor dos olhos, cabelo, raça/etnia, entre outras) e seus textos (em que podem oferecer uma autodescrição sobre seus desejos, disponibilidades, personalidades, temperamentos etc.). Além disso, fotografias também costumam ser publicadas nos perfis.

Figura 1


O foco dos textos e das fotografias que estão nos perfis online é o corpo, descrito, fotografado e publicado como se estivesse submetido a uma espécie de "totalitarismo fotogênico" (Sant'anna, 2005:66).7 7 Essa centralidade do corpo remete àquilo que Costa refere como cultura somática: "Nunca [...] havíamos imaginado que a forma corporal pudesse ser garantia de admiração moral" (2005:192). Segundo este autor, a "personalidade somática do nosso tempo" (2005:185) aposta plenamente nas sensações físicas que o corpo pode oferecer. "O truque da moral das sensações é fazer crer à maioria que a obediência à nova disciplina do corpo sempre traz vantagens e jamais atribulações" (Costa, 2005:194). A centralidade do corpo na sociabilidade nos sites Manhunt e Disponível pode ser compreendida como parte da história dos corpos. É possível assim perseguir na superfície de suas peles as condições que os fazem chegar até os sites, não só com suas marcas vistas a olho nu, mas com o volume denso com que ocupam o campo de visão e com as palavras que lhes fazem as vezes de legenda. Podemos pensar na história dos corpos como constantemente atravessada por relações de força que os constrangem a mostrar-se, a expor-se, a produzir mais vitalidade e mais energia. Isto significa que atualmente estamos sujeitos não mais a uma relação de controle-repressão do corpo, posto não mais ser apenas suficiente que o corpo seja "dócil" (Foucault, 2006a), ainda que a docilidade seja uma condição para o seu controle. Talvez subsista uma relação de controle-estimulação do corpo, muito mais insidiosa e contínua, muito mais positiva e produtiva (Foucault, 1984:147), e que essa relação de estímulo, incitação e controle aconteça em um contexto biopolítico, nos termos foucaultianos (Foucault, 2004, 2003, 1984).

Para que o corpo seja passível de exposição, ele precisa passar integralmente por um processo de investimento pelo biopoder, que não apenas produz os corpos, mas que, sobretudo, os faz circular e mover dentro da "paisagem biopolítica" (Hardt & Negri, 2006:43). Ou seja, os modos como os usuários encarnam seus corpos, presentificando-os através de imagens na dinâmica social dos sites de relacionamento gay, e as maneiras como os usuários se apropriam das possibilidades técnicas da internet para conhecer outros indivíduos articulam-se à biossociabilidade contemporânea. É produtivo salientar que nesse investimento biopolítico dos corpos publicados nos perfis online estão presentes marcas corporais que compõem tal biossociabilidade. Estes corpos ganham centralidade graças ao seu tônus muscular, à lisura da sua pele, à inexistência de gordura, ao relevo esculpido por meio de exercícios físicos - algo que institui "uma conotação 'quase moral', fornecendo os critérios de avaliação individual" (Ortega, 2006:44).

Na direção de reforçar a importância das práticas de cuidado do corpo como marcas indeléveis da cultura somática contemporânea, Ortega sugere que "agora o corpo e a comida tomam o lugar da sexualidade como fonte potencial da ansiedade e da patologia" (2006:43). Distanciando-se desta proposição, a reflexão aqui desenvolvida procura não seguir a ideia de que a sexualidade dos indivíduos está subordinada, na biossociabilidade, às práticas corporais que instituem novas patologias e novas anormalidades. Procura-se sublinhar precisamente as articulações profundas entre sexualidade e biossociabilidade na dinâmica social dos sites de relacionamento Manhunt e Disponível, no sentido de indicar que gênero e sexualidade estão imbricados no reforço do corpo como figura central para a sociabilidade que se encontra entre os usuários desses sites.

O corpo em circulação na biossociabilidade online do Manhunt e do Disponível não é mostrado nos perfis em sua integralidade. Apenas suas partes "relevantes" ou que "importam" são expostas, ao passo que outras são invisibilizadas. É recorrente nos perfis a publicação de fotografias de peitorais, abdominais, braços, glúteos e pênis. Em muitos desses perfis, as faces e as cabeças dos usuários não são tão intensamente expostas. Em geral, as faces são dissimuladas através de programas de edição de imagens, e as cabeças são simplesmente "cortadas" das fotos graças à angulação da câmera fotográfica. A invisibilidade das faces na biossociabilidade gay online não necessariamente significa que esta é uma parte que "desimporta", pelo contrário, a face é, sim, uma parte que "importa", mas cuja publicação em imagens nos perfis depende precisamente de intricadas relações entre o "armário" e a biossociabilidade contemporânea.

Determinadas partes do corpo - como o abdome, por exemplo - podem atender mais adequadamente às exigências da biossociabilidade, com seus imperativos de fitness e forma física (Ortega, 2005:155). Supostamente, não haveria nada mais material e visível que um abdome "sarado" (no sentido de "estar curado" ou sem gordura localizada) e definido para subscrever o pertencimento à biossociabilidade. Para descrever seus corpos, muitos usuários dos sites usam palavras como "atlético", "esportivo", "sarado", "malhado"; ou mencionam o "cuidado com o corpo", os "exercícios diários" como formas de atestar seu compromisso com a "saúde" e com a aparência "saudável".

Publicar fotografias em que aparecem somente abdômens, peitorais e braços trabalhados em exercícios de musculação, em que a cabeça é "cortada" do corpo, é uma operação que visa traduzir na carne as informações pertinentes sobre o corpo. É fazer do corpo, ou de algumas de suas partes, a encarnação máxima daquilo que é mais importante nos indivíduos. É exibir partes do corpo trabalhadas através do que Courtine considera "práticas destinadas a demonstrar uma integração às normas corporais em vigor, a fornecer um testemunho da comunhão com a cultura do corpo" em um contexto em que, segundo o autor, "O músculo é um modo de vida" (Courtine, 1995:85).

"Mostre a cabeça!": o que pode ser visível nos corpos?

A frase acima, publicada no Manhunt (figura 2), indica primeiramente ser comum que as cabeças dos usuários não sejam mostradas nos perfis e, em segundo lugar, é indício da interpelação à exposição do corpo inteiro nesta biossociabilidade online.

No regime intenso de visibilidade dos corpos na biossociabilidade gay online, as faces e as cabeças dos usuários estão geralmente recortadas, separadas, "divorciadas" de seus corpos; e esses corpos-sem-cabeça passam a encarnar com força as normas de seu tempo a ponto de se tornarem corpos-currículo.8 8 No contexto da biossociabilidade, o corpo torna-se o conjunto de saberes mais relevantes sobre aquilo que somos: o corpo é currículo, se tomarmos emprestado o conceito de currículo do campo da Educação (Louro, 2004; Silva, 1999). 9 Sigla que alude a "gays, lésbicas e simpatizantes". As faces podem se insinuar pelas fotografias, podem ser prometidas, deixando rastros em sorrisos ou em partes de olhos, mas não aparecem tão central e integralmente quanto o pênis, por exemplo. O que pode significar então que, neste regime de visibilidade, a face seja suprimida, recortada, subtraída dos corpos?

Sontag (2007) sugere que, na cultura ocidental, a separação de rosto e corpo é tal que compõe aspectos éticos, estéticos e morais. É como se a face contaminasse o corpo com a identidade. Por isso o Rosto, em maiúsculo, é um lugar de captura que não se resume à face: o Rosto é um mapa (Deleuze & Guattari, 1996:35). A face impregna-se em todo o corpo e, como um espaço dentro do próprio corpo, é capaz de atribuir e suturar nele uma identidade. No Ocidente, a face é talvez o espaço mais público do corpo e, justamente por isso, ela talvez esteja ausente em grande parte das fotografias dos perfis online. Nesse sentido, face e "partes íntimas" se mantêm em oposição, pois as últimas devem ser escondidas. Contudo, a face guarda relação estreita com as "partes íntimas", de modo que as "partes íntimas de um macho" são pré-condição para a existência e o reconhecimento da face "de homem". Ao mesmo tempo, ao olharmos para a face de alguém na rua, no trabalho, no trânsito, já supomos seu sexo. Isto porque a face supõe o sexo - a face precisa, necessariamente, corresponder e confirmar o sexo do corpo.

É na potência que a face tem de dizer quem é aquele corpo - potência de determinar sua identidade, sua história, seu nome - que se devem problematizar as condições que fazem com que as faces estejam ausentes dos regimes de visibilidade dos corpos que operam na biossociabilidade gay online. Concomitantemente, é preciso entender que, para os usuários, a ausência da face - que determinaria, de uma vez por todas, quem é aquele indivíduo - pode estar a serviço de um importante regulador da vida de indivíduos não heterossexuais, consubstanciado na metáfora "armário".

A discrição viril nos sites de relacionamento

Ao propor a metáfora do "armário" para analisar o conjunto de condições envolvidas na atitude de assumir-se gay ou lésbica, Eve Sedgwick (2007) sugere que a revelação da sexualidade não heterossexual vem carregada "pela atmosfera cada vez mais intensa das articulações públicas do (e sobre o) amor que é famoso por não ousar dizer seu nome" (2007:21). Ora, tornar a face visível nas imagens dos perfis online dos sites de relacionamento gay equivaleria a dizer o próprio nome, a assumir-se, a "sair do armário". E se, como lembra Segdwick, o "armário gay não é uma característica apenas de pessoas gays [...], para muitas delas, ainda é a característica fundamental da vida social" (2007:21). Estar dentro do armário (não se assumir) ou fora dele (assumir-se) são posições que, o tempo todo, são contabilizadas, medidas e pesadas. É nesse sentido que "há poucas pessoas gays [...] em cujas vidas o armário não seja ainda uma presença formadora" (Segdwick, 2007), apresentando-se, como sugere a autora, como um aspecto constitutivo das suas subjetividades.

Em vários perfis online, as categorias "discreto" e "discrição" emergem como expressões que contemplam, em alguma medida, "o lado de dentro do armário". Exigências de "posturas de homem", de "sigilo" e de "aparência de normalidade" são comuns nos textos publicados, como mostram os excertos trazidos abaixo, publicados em sete diferentes perfis de usuários do site Manhunt, visualizados e arquivados em agosto de 2011.

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Ao desenvolver observações na rede social Orkut e também nos sites aqui estudados, Braz já assinalava que "na grande maioria dos perfis cadastrados em tais páginas os usuários buscavam conhecer 'caras machos', com postura 'masculina', sem 'trejeitos' ou 'afetações'" (2010:132). Tal "hiperbolização" de gênero seria algo que valorizaria os homens gays - isto é, que os inscreveria em uma ordem "normal" de gênero masculino. Desse modo, entre os homens usuários dos sites de relacionamento, virilidade e discrição em relação à sexualidade não heterossexual estariam implicadas mutuamente, senão equacionadas em uma espécie de "discrição viril". É possível assinalar, nesse sentido, a correlação existente entre a biossociabilidade e a experiência das sexualidades não heterossexuais. Recortar, invisibilizar ou dissimular cabeças e faces se articularia com tal discrição viril, preconizada pela maioria dos usuários. Se o abdome é superexposto em imagens graças à biossociabilidade, a face permanece dentro do "armário".

Embora não seja possível associar tão diretamente as reivindicações de virilidade recorrentes nos textos dos perfis online ao "armário gay" - posto que muitos usuários se dizem "assumidos" e, apesar disso, ainda se proclamam másculos - aqui é fulcral explorar as correlações entre esses espaços mutuamente excludentes, estar dentro ou fora do "armário", com as afirmações de virilidade e masculinidade. Existe a suposição de que, uma vez fora do "armário", um homem gay "perde" sua masculinidade; ao passo que se continuar dentro do "armário", sua virilidade ainda estará resguardada. Vinculando essa formulação aos modos de exibição dos corpos na biossociabilidade gay online, é como se existisse a suposição de que as faces dos usuários, recortadas da integralidade dos seus corpos, estariam resguardadas do reconhecimento público, anônimas, como se assim estivessem dentro do "armário". Por outro lado, mostrando a face nas imagens dos perfis online, colocando a face para fora do "armário", revelando o "segredo" de ser gay, ganhar-se-ia um rosto público, uma identidade: o rosto do "homossexual".

Não obstante a relevância política da metáfora do "armário" para a constituição da afirmação das identidades sexuais,10 10 É importante assinalar, junto com Louro (2004), que a metáfora do armário foi muito importante para a constituição das políticas de afirmação das identidades sexuais que emergiram ao longo do século XX. A autora destaca a equação emblemática dos movimentos gays da década de 1970, "SILCENCE=DEATH", isto é, o silêncio de estar dentro do armário que significava a morte política dos indivíduos. Nessa direção, Louro sugere que, naquele momento, "o dilema de 'assumir-se' ou 'permanecer enrustido' (no armário - closet) passa a ser considerado um divisor fundamental e um elemento indispensável" para pessoas não heterossexuais envolvidas na afirmação política de suas identidades, de modo que, "para fazer parte da comunidade homossexual, seria indispensável, antes de tudo, que o indivíduo se 'assumisse', isto é, revelasse seu 'segredo', tornando pública sua condição" (Louro, 2004:32). é importante lembrar que, para Sedgwick: "Assumir-se não acaba com a relação de ninguém com o armário, inclusive, de maneira turbulenta, com o armário do outro" (2007:40). Nesse sentido, o armário é profundamente ambíguo: estar dentro ou fora dele, assumir-se enquanto gay ou permanecer "enrustido", nunca é um movimento único, unilateral, politicamente isolado ou culturalmente individual. Assim, é provável que a não exibição das faces nas imagens dos perfis online não dependa exclusivamente de uma decisão consciente dos usuários de permanecer dentro do "armário". A não exibição das faces pode também depender de uma complexa rede de (im)possibilidades políticas e culturais de mostrar os corpos. Retomando as características da biossociabilidade contemporânea, é provável que um usuário prefira mostrar seu abdome "sarado" e não sua face unicamente porque aquela é a parte mais "valorizada" de seu corpo, e não porque decidiu "espontaneamente" permanecer no "armário".

Contudo, não se pode deixar de assinalar que só é possível falar em "armário" no caso "de uma sexualidade particular, distintivamente constituída como segredo" (Sedgwick, 2007:30), ou como desvio de uma norma. É dessa sexualidade constituída como segredo ou como desvio que derivam algumas das condições que fazem com que as faces dos corpos estejam ausentes das imagens de perfis online. É somente em relação a uma sexualidade que precisa ser revelada que o espectro do segredo e da mentira permanecem em vigor.

A relação entre o "armário" e os princípios de estímulo e superexposição da biossociabilidade online deslizam: todos são chamados a se expor nos sites de relacionamento, mas muitos o fazem permanecendo dentro do "armário". Trata-se de um movimento de mostrar-se exacerbadamente através de textos sobre si e fotografias de si, preservando um "anonimato facial". É sujeitar-se ao princípio da publicação integral de informações sobre si sem, no entanto, dar todas as informações sobre si: um selecionar cuidadoso do que mostrar e como mostrar. Nesse sentido, reitera-se a observação de Miskolci segundo a qual "As relações iniciadas online misturam reaprisionamentos e liberações relativas, podendo gerar resistências ao velho dilema do armário e seu dualismo identitário" (2009:188-189).

A inteligibilidade produzida pelo dispositivo de sexualidade

Conforme se vê nos excertos de perfis trazidos anteriormente, os usuários escrevem em seus perfis online que procuram por outros homens que mantêm a postura de um "hétero normal" ou que têm "comportamentos hétero". Não é coincidência que esses usuários sejam frequentemente aqueles que não mostram a face em suas fotos, sob alegação de "discrição" e "sigilo". Este é o traço mais comum e abreviado de um processo de adequação à norma heterossexual pelo qual passam os indivíduos, sobretudo quando se trata de suas sexualidades. Tal processo de adequação à norma heterossexual, de fazer com que aparentem ser "normais", "como tudo mundo", pode ser analisado como um elemento privilegiado de regulação, que diz respeito à manutenção da coerência fictícia de sexo-gênero-sexualidade (Butler, 1993, 2008a).

Tal matriz heterossexual é simultanemante um processo contínuo de heteronormalização (Louro, 2004:17-80). Indivíduos não heterossexuais tornam-se "normais" graças à adoção de posturas, atitudes, comportamentos, conformações corpóreas atribuídos social e culturalmente às pessoas heterossexuais, expressos, sobretudo, na reivindicação de pertencimento ao sexo "macho", estratégia de anulação, apagamento ou discrição de uma sexualidade não heterossexual.

Aqui a sexualidade é formulada como um dispositivo, pois engloba um feixe heterogêneo de tecnologias políticas que se constitui, como propunha Foucault, em uma "grande rede de superfície em que a estimulação dos corpos, a intensificação dos prazeres, a incitação ao discurso, a formação dos conhecimentos, o reforço dos controles e das resistências [...] encadeiam-se uns aos outros, segundo algumas grandes estratégias de saber e de poder" (2003:100). Como dispositivo, institui e constitui jogos de verdade, realidades, corpos e subjetividades: os produtos mais reais do dispositivo de sexualidade são os próprios "sexos" que julgamos tão orgânicos e bio-lógicos (no sentido de "darem lógica à vida").

Os sexos masculino e feminino são produtos do dispositivo de sexualidade e, como quer Butler, reproduzidos performativamente, tornam-se critérios de inteligibilidade do humano: "é precisamente através de sermos sexuados que nos tornamos inteligíveis como seres humanos" (Butler, 2008b:91). Daí que as supostas realidades "macho" ou "fêmea" e os modos de viver adequadamente como homem ou mulher são instituídos pelo dispositivo de sexualidade. É segundo esta formulação que, segundo a autora, podemos "entender o terror e a ansiedade que algumas pessoas sofrem ao 'tornarem-se gays'", posto que o medo de perder o seu lugar de gênero ou não saber quem se é se dormir com alguém ostensivamente do "'mesmo' gênero" só existe em uma "ideia de que a prática sexual tem o poder de desestabilizar o gênero" (Butler, 2008a:xi).

Se é no fundo do nosso sexo que reside nossa verdade enquanto sujeitos, não é estranho que a) pênis sejam fotografados e publicados à exaustão em perfis online, já que essa porção orgânica do corpo seria supostamente aquela que carregaria a prova mais material do sexo "macho" de um corpo, e b) faces sejam excluídas ou dissimuladas de fotografias de corpos publicadas em perfis de sites de relacionamento gays, dado que a sexualidade não heterossexual desestabiliza a inteligibilidade que o dispositivo de sexualidade pretende produzir nos e para os corpos. As faces estariam confinadas ao lado de dentro do armário - faces não assumidas, faces enrustidas - ao passo que os pênis necessitariam ser colocados, metaforicamente falando, para o lado de fora do armário - pois sendo o núcleo dos sexos de "macho", eles precisam ser assumidos e exibidos o máximo possível.

Considerações finais: visibilidades e invisibilidades na articulação entre biossociabilidade e "armário"

O "armário" - e toda a gama complexa de relações que ele faz cintilar - é uma ferramenta para problematizarmos a política de exposição dos corpos nas redes de biossociabilidade online habitadas por homens gays. Se para alguns autores a internet teria "libertado" os gays do "armário" (Miskolci, 2009:172), o que se verifica é um refinamento do controle sobre seus corpos atuando através da incitação à exposição. A internet pode ser "um armário ampliado" (Miskolci, 2009), mas pode ser, igualmente, um "armário de vidro" para os "corpos-sem-cabeça", que se equilibram na corda bamba entre demandas de visibilidade fotogênicas e exigências de adequação à norma heterossexual, concisamente expressa na pergunta: "somente os viris e discretos serão amados?" (Carrara, 2005).

Sugere-se aqui que a dúvida ou a suspensão da estabilidade explicativa e descritiva do gênero produzida por práticas sexuais não heterossexuais (Butler, 2008a:xi) é condição para a exibição recorrente de imagens dos pênis dos usuários em seus perfis online, bem como condição para a afirmação de masculinidades superviris. Se a "realidade do gênero" desses corpos não estivesse suspensa, ou de certo modo interrogada, os pênis e as declarações de masculinidades superviris não estariam presentificadas tão densamente nos perfis online. A massiva presença dos pênis de corpos de "macho" através de fotografias exibidas nos perfis online é uma das tentativas de reconduzir o gênero masculino desses corpos à continuidade da matriz sexo-gênero-sexualidade perturbada pelas práticas sexuais não heterossexuais nas quais se engajam os homens habitantes do Manhunt.

Elementos da biossociabilidade gay online apontam para essa disputa de inteligibilidade que se dá em um âmbito que resgata o princípio geral do dispositivo de sexualidade: formar corpos adequadamente sexuados de acordo com a norma heterossexual. Homens gays que mostram as faces nos seus perfis são imediatamente colocados fora do "armário" e, estando fora dele, têm sua virilidade automaticamente questionada. Estar fora do "armário" coloca-os em perigosa proximidade da efeminação e de outras características de feminilidade, como se o lado de dentro do "armário" estivesse para a virilidade na mesma medida em que o lado de fora está para a efeminação. E nada mais temível para homems gays participantes da biossociabilidade online que a efeminação, ou seja, que haja o borramento das fronteiras entre a masculinidade e a feminilidade, que desestabiliza a coerência fictícia produzida pelo dispositivo da sexualidade. Com seus modos emblemáticos de superexposição dos corpos, a biossociabilidade entre homens gays nos sites de relacionamento não prescinde da atuação insidiosa do dispositivo de sexualidade, pelo contrário, remetem-se um ao outro, produzindo outras visibilidades e invisibilidades e, a reboque, outros processos de produção de subjetividades.

Sites consultados:

www.manhunt.net

http://disponivel.uol.com.br/web/

http://www.clam.org.br/default_home.asp

Recebido: 25/08/2012

Aceito para publicação: 02/02/2013

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  • 3
    3 Disponível em: http://manhunt.net e em http://disponivel.uol.com.br/web/ Tal reflexão é um recorte específico de uma observação participante desenvolvida nos dois sites entre julho de 2011 e fevereiro de 2012, período no qual foram arquivados perfis de usuários através do
    print screen.
    4 4 Nenhum apelido ou fotografia dos usuários será reproduzido(a) aqui, como estratégia de preservação do anonimato desses indivíduos e respeito ao uso de suas imagens. As implicações éticas do emprego desta metodologia serão analisadas oportunamente em outro artigo. Com isso, foi possível visualizar as fotografias publicadas nos perfis e também os textos criados pelos usuários para se descreverem. Durante a pesquisa observaram-se características da sociabilidade entre os usuários dos sites
    , que aqui serão apresentadas em parte.
  • 1
    Este texto é produto parcial de pesquisa da tese de doutorado intitulada
    Os meninos - corpo, gênero e sexualidade em e através de um site de relacionamento, defendida no Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em fevereiro de 2013. A pesquisa foi financiada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
  • 2
    Apesar de ser arriscado supor que todos os usuários dos sites se identifiquem como gays, opto por usar este termo porque os próprios sites de relacionamento se intitulam como "gays".
  • 3
    Disponível em:
  • 4
    Nenhum apelido ou fotografia dos usuários será reproduzido(a) aqui, como estratégia de preservação do anonimato desses indivíduos e respeito ao uso de suas imagens. As implicações éticas do emprego desta metodologia serão analisadas oportunamente em outro artigo.
  • 5
    Informação publicada em
  • 6
    Informação publicada em
  • 7
    Essa centralidade do corpo remete àquilo que Costa refere como cultura somática: "Nunca [...] havíamos imaginado que a forma corporal pudesse ser garantia de admiração moral" (2005:192). Segundo este autor, a "personalidade somática do nosso tempo" (2005:185) aposta plenamente nas sensações físicas que o corpo pode oferecer. "O truque da moral das sensações é fazer crer à maioria que a obediência à nova disciplina do corpo sempre traz vantagens e jamais atribulações" (Costa, 2005:194).
  • 8
    No contexto da biossociabilidade, o corpo torna-se o conjunto de saberes mais relevantes sobre aquilo que somos: o corpo é currículo, se tomarmos emprestado o conceito de currículo do campo da Educação (Louro, 2004; Silva, 1999).
    9 Sigla que alude a "gays, lésbicas e simpatizantes".
  • 10
    É importante assinalar, junto com Louro (2004), que a metáfora do armário foi muito importante para a constituição das políticas de afirmação das identidades sexuais que emergiram ao longo do século XX. A autora destaca a equação emblemática dos movimentos gays da década de 1970, "SILCENCE=DEATH", isto é, o silêncio de estar dentro do armário que significava a morte política dos indivíduos. Nessa direção, Louro sugere que, naquele momento, "o dilema de 'assumir-se' ou 'permanecer enrustido' (no armário -
    closet) passa a ser considerado um divisor fundamental e um elemento indispensável" para pessoas não heterossexuais envolvidas na afirmação política de suas identidades, de modo que, "para fazer parte da comunidade homossexual, seria indispensável, antes de tudo, que o indivíduo se 'assumisse', isto é, revelasse seu 'segredo', tornando pública sua condição" (Louro, 2004:32).
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      18 Abr 2013
    • Data do Fascículo
      Abr 2013

    Histórico

    • Recebido
      25 Ago 2012
    • Aceito
      02 Fev 2013
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